sábado, 8 de maio de 2010

32101 até 32150

32101

Repousa sobre as pedras o meu sonho
E bebe as tempestades corriqueiras
Quem teve na esperança tais bandeiras
Ao ver este momento atroz, medonho
Percebe quanto o gozo se enfadonho
Não deixa nem sequer velhas fronteiras
Palavras são deveras traiçoeiras
E nelas com terror me decomponho,
Perdido em noite insana vejo a sombra
Do quanto do passado ainda assombra
Quem busca a liberdade e sem receio
Há tempos mergulhara no vazio
E quando novo intento desafio,
O olhar procura a paz, mas segue alheio...


32102

Nas orlas destes mares caprichosos
Dos sonhos entre festas e terrores
Procuro mesmo quando tu te fores
Ainda novos tempos, majestosos,
Risonho caminheiro em andrajosos
Sabendo dos terríveis dissabores
Bebendo destes ritos tentadores
Encontra mais distante os prazerosos
Momentos onde pode acreditar
Na senda mais diversa a se mostrar
Desnuda realidade se apresenta
E toda a sorte perde a direção
Enquanto a vida trama em negação
O quanto dela sei vital tormenta...


32103

Perfumes tanto tenros quanto atrozes
Adentram minha sala e em tais aromas
Ainda que distante tu me domas
Ouvindo vivos sons, intensas vozes,
Os sonhos são deveras meus algozes,
E neles quando enfim nas mãos me tomas
Os corpos entrelaçam e se assomas
Desvendas destes ritos novas fozes.
Espelhos de nós mesmos entranhados
Vivemos com horror os malfadados
Caminhos entre pedras sem destino,
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando sobre ti ainda verso
No todo que se mostra me alucino...

32104

Pudesse ainda ouvir a cantoria
Dos pássaros distantes e não tendo
Sequer outro momento não desvendo
Ainda o que pudesse fantasia.
Assim a realidade distorcia
O quanto se pensara em estupendo
E agora noutro tanto não desvendo
Somente o mundo trama em heresia
O corte se aprofunda e nada resta
E vejo a cena amarga e mais funesta
Transido como fosse entorpecido
Apenas restará da minha senda
A sorte que deveras não atenda
Tornando o dia a dia sem sentido...


32105

Delicada figura entristecida
Deitada sobre a cama em cena amarga,
O quanto do prazer a vida larga
E deixa noutra senda esvaecida,
A sorte quando dita a despedida,
A voz de quem sonhara já se embarga,
Não posso mais viver o sonho à larga
E tento renovar a minha vida.
Mas como se te vendo desta forma
A morte com terror jamais conforma
Quem sabe quanto tempo foi feliz,
E tudo não passara de ilusão
Ouvindo novamente este senão,
Cenário que enlouquece me desdiz...


32106

Ao menos poderia ter a chance
De ver se renovar caminho enquanto
Apenas desvendando o desencanto
A sorte noutro tanto já se lance
E quando ainda em mim o sonho avance
E gere com terror e enfim me espanto
Ao tempo que virá eu me adianto
E tento novo rumo num nuance.
Perdido e sem saber da solução
Que ainda poderia, sigo em vão
E não conheço além das pedras e urzes,
Quisera pelo menos num segundo
Viver rara beleza em céu profundo,
E ter a sensação das belas luzes.


32107

Seu sonho faz sonhar quem tanto busca
Vencer os temporais com mansidão,
E quanto mais os dias mostrarão
A noite noutra senda sempre brusca
A sorte que deveras nos ofusca
E teima contra toda a direção
Naufraga a mais sublime embarcação
Tornando a minha vida opaca e fusca.
Resiste dentro em mim esta esperança
E quando ao mais profundo mar avança
A senda se proclama mais sublime
E tendo quem decerto me deseje
Porquanto noutro tanto já se almeje
Em ti o que se quer e mais se estime...

32108

Na boca tão pequena e sedutora
Em vivo carmesim, delírios traço,
E quando sigo o sonho passo a passo
Diverso do que ainda em trevas fora,
Percebo imagem clara e tentadora
E bebo cada gole quando faço
Do mundo a realidade em cada espaço
Traçando com minha alma sonhadora.
Vencer as mais diversas ilusões
E ter a cada instante as emoções
Nas quais e pelas quais a vida dita
A sorte mais feliz de quem se vê
No amor e não pergunta nem por que
Apenas usufrui sorte bendita...


32109


O quanto faz sonhar teu belo rosto,
E tanto posso até saber divino
O amor no qual decerto eu me fascino
E sigo o coração agora exposto,
Vivendo sem saber de pressuposto
Momento aonde em trevas não domino,
Ainda sem dar tréguas meu destino
Deveras noutro tanto fora posto
E agora ao perceber esta bendita
E rara maravilha uma alma grita
E bebe esta seara abençoada,
Não deixe que se perca e nem desvie
Quem tanto com ternura desafie
A sorte noutra cena, degradada...

32110

São pétalas de sol que beijam face
Daquela a quem me faço amante e amigo
O amor que tantas vezes mais persigo
No quanto em alegria agora trace
O mundo sem temor, ainda passe
Vivenciando em ti querido abrigo
E vendo mais distante algum perigo,
Sem nada que devore ou inda embace
Persisto nesta bela caminhada
E sei da redenção de uma alvorada
Traçada com ternura e fantasia,
No amor que tanto quero e já me dou,
Vivendo cada dia que restou
A vida desta forma se recria...

32111

Eu quero falar
Dos sonhos felizes
Que tanto desdizes
Negando o luar
Pudesse encontrar
Embora em tais crises
Diversos deslizes
Sem nada a mostrar
A tal redenção
Melhor direção
E quando se vê
A vida sem nexo
Apenas reflexo
Do amor sem por que.

32112

Perdido caminho
Sem rumo, vagando
E sei mesmo quando
Percorro sozinho
E quando me aninho
No mundo cevando
O tempo mostrando
Embora vizinho
Do medo que trago
Viver sem afago
Não quero jamais
E tanto pudesse
Ainda a benesse
Sem ver temporais...

32113

Pudesse vencer
O amor sem promessa
E tanto sem pressa
Conter o prazer
Do quanto viver
Enquanto começa
A sorte se expressa
No teu bem querer
Gerando a saudade
Amor na verdade
Maltrata e conduz,
Diversa certeza
Vital correnteza
Que é feita de luz.

32114


Servindo a quem ama
A sorte promete
E quando arremete
Profusa tal chama
Não quero mais drama
Tampouco o confete
Amor nada vete
E viva esta trama
Que quando mergulha
Na fonte mais clara
Deveras declara
E tanto se orgulha
Da sorte bendita
Na qual acredita.


32115

Eu quero o carinho
De quem se fez tanto
Além de um encanto
Amor sendo o ninho
Vencendo o caminho
Que possa portanto
Gerar desencanto
Enquanto me aninho
No quanto se deu
Amor sendo meu
Também te entorpece
E assim noutra face
A sorte que grasse
Entoa tal prece.

32116

A vida e o punhal
A faca e o tormento
E quando apascento
Momento final
Subindo o degrau
Estrelas invento
E bebo este alento
Amor sendo a nau
Num porto seguro
O quanto procuro
Transcende à verdade
E tanto podia
Em noite que é fria
Dizer da saudade...

32117

Ainda a montanha
Distante do olhar
Na fonte a brilhar
A lua se entranha
E bebe esta sanha
Sedento vagar
Querendo encontrar
Quem tanto acompanha
Seara divina
E quando domina
A sorte não nega,
Assim a palavra
Traduz esta lavra
E nunca sonega.

32118

Tamanha verdade
Ditando a seara
Aonde se aclara
Amor que me invade
Sem ter qualquer grade
Vencendo me ampara
E traz sem escara
Vital qualidade
Vencido o terror
Expressa na flor
Além deste espinho,
E quando mergulho
Sem ter pedregulho
De Deus me avizinho.

32119

Sonhando com luzes
Vencendo os meus medos
Desvendo os segredos
Aonde conduzes
E tanto seduzes
Deveras degredos
Porquanto os enredos
No quanto reluzes,
E beijo teus lábios
Os dias são sábios
No encanto que trazes
A vida diz fases
Diversas, mas creio
No amor sem receio.

32120

Peçonhas diversas
Terrores sutis,
Amor contradiz
E quanto tu versas
As luzes dispersas
Unidas, feliz
Quem tanto mais quis
Nas ondas imersas
As tantas searas
Que agora declaras
E moldas em paz,
Assim sendo a vida
No amor se cumprida
Mais amores traz.

32121

O sol a prumo toma este cenário
E vejo reluzindo em teu olhar
Neste horizonte raro a me tomar
O quanto tanto amor é necessário,
Vencer a solidão, vago corsário
Depois de muitos anos navegar
E sinto tanto brilho a nos tocar
Fazendo deste sonho imaginário
Encanto sem igual e sendo assim,
Enquanto a tarde invade tudo em mim
Eu vejo mais possível ser feliz,
Apraza-me entender cada segundo
E desta claridade ora me inundo
Vivendo tudo aquilo que mais quis...

32122

Ondeia sobre os vastos milharais
O vento num instante mavioso
E sinto quanto posso prazeroso
Viver momentos raros, triunfais,
Assim bebendo sempre quero mais
Do tanto que pudesse em fabuloso
Caminho aonde outrora um andrajoso
Vencido pelas ânsias desiguais
Agora se percebe vencedor
E tenta novamente em cada cor
Singrar este oceano em louros feito,
Assisto ao mais sublime dos anseios
E sigo sem temor diversos veios
No amor que agora sei ser meu direito.


32123

Em fulvas maravilhas teus cabelos
Tocando a minha pele, me envolvendo
E assim cada momento se tecendo
Deixando para trás os pesadelos,
E quando mais percebo ao recebê-los
O tempo dita em glória o dividendo
No qual se fez feliz este estupendo
Mergulho entre tantos raros zelos,
Assídua fantasia toma a cena
E quando a realidade em paz serena
Eu tento desvendar cada mistério
Do amor que em tanto amor se fez mais claro
E o gozo mais profundo eu te declaro
No encanto sem temor e sem critério...


32124

Andando pelos ares pensamentos
Vencendo estas distâncias nada teme
E quando a realidade perde o leme
Meu barco solto assim em mansos ventos
Deixando adormecidos sofrimentos,
Sem ter sequer a dor que ainda algeme
No quanto a fantasia dita o creme
Da vida em mais sobejos, bons proventos,
Resisto aos meus anseios costumeiros
E tento desvendar os traiçoeiros
Temores que inda restam sobre nós,
Até que vença sempre as corredeiras
E amando sem pudor, ledas fronteiras
Encontro finalmente em ti a foz.



32125

As flores dominando este canteiro
A primavera expressa em cores tantas
E quando com ternura tu me encantas
O mundo se mostrando verdadeiro
Caminho aonde tendo o mensageiro
Das luzes entre várias não espantas
E ainda com fulgor mais agigantas
No amor que se fez tanto este luzeiro,
Seguindo cada passo rumo à luz
Falena enamorada reproduz
No sonho cada gozo mais feliz,
E tento desvendar cada segredo
E quando ao farto encanto eu me concedo
Encontro o que deveras sempre quis...

32126

Tranqüilidade toma este momento
E nada mais do quanto fora em dor
Agora noutro tanto a se compor
E sendo teu amado eu me apascento,
Vencendo cada medo, sem tormento
Eu bebo o sonho e tento a ti propor
Caminho mais sobejo feito em flor
Expondo o coração entregue ao vento.
Realizando o sonho mais suave,
Sem nada que perturbe nem agrave
Desvendo os teus encantos lentamente,
E assim ao ser deveras teu parceiro
O amor como se fosse um jardineiro
Cuidando com ternura, mansamente...

32127

Não vejo outro cenário senão este
Aonde tudo pode ser assim
O quanto deste amor existe em mim,
E nele com certeza tu venceste
No todo que deveras percebeste
Vencido pela angústia traz enfim
O brilho que procuro e tendo ao fim
Além do quanto ainda se reveste
A sorte abençoando cada passo
E todo o meu caminho agora eu traço
Sabendo deste cais feito em carícia,
Do quanto já sofri e não pudera
Ainda acreditar em primavera,
Não tenho e nem quero mais notícia...

32128

Uma alma em tez suave se permite
Vencer com calmaria e com bonança
E assim quando deveras já se lança
Não reconhece nada nem limite,
E tudo o que decerto se acredite
Transcende mesmo ao gozo da esperança
Semeia com ternura e temperança
Porquanto até o medo amor evite
Não quero outro cenário e sei do quanto
Amor em luz sublime diz do encanto
Que tanto procurara no passado,
E tendo o meu olhar em ti agora,
O todo prazeroso que se aflora
Traduz o dia há tanto desejado.

32129

Olhando claramente tal paisagem
Desvendo estes sinais mais venturosos
E sei destes caminhos prazerosos
Perfaço com ternura esta viagem,
E nada se traduz por vã miragem
Ainda que se possam desejosos
Mergulho nos anseios majestosos
E tenho em teu sorriso tal visagem.
Pudesse ser assim a vida inteira
Amar e nada além desta fronteira
Que tanto pode dar felicidade,
Não tendo qualquer coisa por temer,
Vencendo com brandura e com prazer,
Ignoro nesta senda qualquer grade.


31130


Perpassam-se terrores quando vejo
O quadro desenhado no passado,
Agora noutro tempo encaminhado
Ainda bebo a sorte em azulejo,
E tendo saciado este desejo
Seguindo com quem amo pareado,
Não posso desprezar este legado
E assim novo momento em paz prevejo,
Recebo com carinho cada frase
Porquanto tanto sonho não atrase
O passo que procuro rumo ao sonho,
E quando me percebo sonhador,
Entregue às variáveis de um amor,
Um tempo mais feliz inda componho...

32131

Não tento outra vida
Nem busco outro sonho
Se tanto reponho
História perdida
No quanto duvida
Quem pode e proponho
Um tempo risonho
Sorte distraída
Vencendo o temor
Ainda do amor
Querendo caminhos
Os dias doridos
Se tanto perdidos,
São sempre sozinhos...

32132

Um templo, a Natura
Que tanto pudesse
Ter sonhos em messe
E assim se perdura
Quem tanto procura
Um sonho em que tece
A vida obedece
Imensa brandura
E quando se quer
Sobeja beleza
Não quero ser presa
De um medo qualquer
E ter finalmente
O que me apascente.

32133

Com fé se tentando
Momento sobejo
Além do desejo
Deveras tomando
O sol inundando
Um mundo eu prevejo
Em claro azulejo
O tempo mudando
A sorte semeia
Sorrisos e cantos
E assim tais encantos
Na lua que é cheia
A vida renasce
Em serena face.

32134

E se arregimenta
Amor noutro tanto
Deveras o encanto
Não deixa a tormenta
A paz se apresenta
E molda meu canto,
Pudesse, entretanto
Enquanto se tenta
Saber do futuro
Que cedo procuro
Vencendo o meu medo,
A vida seria
Em paz e alegria,
Sem dor nem degredo.


32135

Em meu pensamento
Vivendo esta glória
A luz merencória
Jamais num momento
De tal sofrimento
Mudando esta história
Amarga memória
Não tendo provento
Saber serenata
A sorte se é grata
Traduz a alegria
E vejo sensato
Caminho cordato
Em tal fantasia...


32136

O amor não traduz
Apenas a sorte
E muda meu norte
Enquanto reluz
E sendo esta luz
Deveras bem forte,
Tanto me comporte
No fundo conduz
Ao mar de emoções
Aonde me expões
Momentos felizes,
Não quero levar
Além deste amar
Ledas cicatrizes.

32137

Pudesse vencer
Os medos e os riscos
Os dias ariscos
Sorvendo o prazer,
Enquanto o querer
Traçando obeliscos
Jamais em confiscos
Pudesse verter
O quanto se quer
Do amor que vier
E nele se erguendo
Um templo sobejo
Assim eu prevejo
Viver estupendo.

32138

Amar sem medidas
E ter a certeza
Da imensa nobreza
Tomando tais vidas,
Aonde sofridas
Deveras riqueza
E tanto se preza
Assim as feridas
Que ensinam viver
Nem sempre o prazer
Traduz a verdade
E a sinceridade
Bem mais se apresenta
Na dor, na tormenta.

32139

O quanto dizia
Da sorte quem tanto
Sabendo do espanto
Que gera a agonia
Toma a cercania
E quando em quebranto
O medo eu garanto
Também traça o dia
E quando se vê
Além do por que
Eu posso pensar
Na luz que se entrega
E mesmo alma cega
Aprendendo a amar...

32140

Não temo mais morte
Nem temo a alegria
No quanto porfia
Nos torna mais forte
E assim tal suporte
Tem a serventia
E traz garantia
Que quando comporte
A dor e a beleza
Vital correnteza
Na qual se recobre
Uma alma se eleva
No meio da treva
E resta mais nobre...






32141

Verdugo de mim mesmo, sem futuro
Não tenho mais saída embora tente
E quando me pensara mais contente
Apenas a verdade em tom escuro,
Pudesse adivinhar o que procuro
E ter noutro momento que apascente
O quanto desta vida em penitente
Caminho muito aquém, onde amarguro.
Eu quis e poderia acreditar
Num tempo mais feliz onde sonhar
Pudesse traduzir realidade,
Mas quando vejo assim o meu passado
E sinto que o terror foi meu legado




32142

Resumo de fatal encenação
O mundo se mostrara em tez dorida
Assim ao procurar uma saída
Nem sempre novos dias brilharão,
E vejo desta forma a dimensão
Desta tormenta há tanto decidida
E sendo quase fútil minha vida,
Ausente dos meus olhos o verão.
Resisto no posso acreditar
E tento novamente até lutar,
Embora saiba bem do quanto resta,
Somente vejo a luz em mera cena
E quando mesmo assim nada serena,
Do imenso que tentara, apenas fresta.

32143

Buscando pela vida, claridade
Jamais imaginei tanto terror
Vivendo sem saber o que é amor
Apenas o temor ainda invade
E nada do que possa eu mesmo agrade
Restando um peito amargo e sonhador,
Aonde se fizera agricultor
Cultivo se perdendo em tempestade.
Outrora resoluto, agora em nada
Apesar de sonhar, a madrugada
Transporta tão somente o pesadelo,
Momento mais feliz? Aonde existe?
Persisto um caminheiro sempre triste,
Amor; eu não consigo mais revê-lo...

32144

E sinto que o terror foi meu legado
Nas ânsias mais cruéis, cenário em treva
E quando o coração ao longe leva
A sorte se mostrando em vil enfado,
Nem mesma da esperança algum recado,
Apenas o vazio já se ceva
E quando imaginara quem se atreva
O risco de sonhar, abandonado.
Tentara ser feliz, quem sabe quanto...
E ainda quando eu teimo, o desencanto
Tomando o pensamento não permite
Que a sorte se aproxime, pois jamais
Pude lutar com tantos vendavais,
A vida ultrapassou qualquer limite...

32145


Cansado das derrotas nas pelejas,
Não pude e nem tentei outro caminho,
E sendo assim prossigo mais sozinho
Diverso do que tanto ainda almejas,
Recebo este terror e se trovejas
Não vês o quanto dói e sem carinho,
Perfaço a minha estrada e me avizinho
Da morte enquanto ao longe alma negrejas.
Servindo de alimária e de repasto
Assim quanto mais posso mais me afasto,
Mas tudo não traduz a liberdade,
Amar e ser apenas sonhador
Morrendo sem saber do bem do amor,
Porquanto bem mais alto o sonho brade...


32146


Dormindo pelas ruas da cidade
Sem ter qualquer provento, nada disto,
Ainda tão somente em vão persisto
Embora nada trague saciedade,
Vencido pelo quanto a claridade
Diverge do meu passo e não desisto,
E quando me revejo e assim me disto
Do amor que tantas vezes se degrade,
Não pude ter nas mãos além do nada,
E ao ver se perder sempre esta alvorada
Nas brumas costumeiras, vivo só,
Do quanto poderia ser intenso
A cada ausência tua me convenço,
Do amor que imaginei nem mesmo o pó...

32147


Nas pontes, velhas fontes, nas Igrejas
Qualquer lugar aonde descansar
Depois de tanto tempo relutar
Bebendo das estrelas mais andejas,
Searas entre luas sertanejas
E quanto mais distante do luar
Tentando novamente emoldurar
Meu mundo com as cenas mais sobejas
Não pude e nem talvez ainda possa
Aonde busco sorte vejo a fossa
E toda a realidade me maltrata,
A sorte nunca fora minha amiga
E quando a mesma dita desabriga
Percebo quanto a vida é vã e ingrata.


32148

Servindo de isca viva nas caçadas
O encanto que tentara em amor pleno
Agora se mostrando tal veneno
E dele novas rotas alteradas,
Pudesse desvendar em tais estadas
O quanto da alegria em vão aceno,
Mas tudo que pensara ser sereno
Não traz senão as dores em lufadas,
Vestindo o velho luto costumeiro
O amor que tanto quis ser verdadeiro
Falsário tão somente e nada mais,
E agora que me perco sem saída
Aonde se pudesse nova vida,
Se os dias em verdade são iguais?


32149

Jamais sobreviver, levantar prumo
E crer noutro momento feito em luz,
Se ao nada cada passo me conduz
Bebendo desta sorte amargo sumo,
Aos poucos com terrores me acostumo
E até quem sabe a fúria já seduz
O fardo de viver ao qual me opus
Trazendo sobre os olhos névoa e fumo.
Ainda poderia crer deveras
Que a vida não teria tantas feras
Nem mesmo aterradora face exposta
Acendo o meu cigarro e tiro um trago
O amor já se mostrara em tanto estrago
E a vida sem ter vida nem proposta...

32150

Adormecido em pedras e sarjetas
As horas não passavam de ilusão
E a cada novo tempo o mesmo não,
Assim como se fossem vis cometas,
E tanto quanto ainda me prometas
Não sabes das desgraças que virão
E tento descobrir sabendo em vão
Aonde com teus sonhos me arremetas.
Resisto ao mais sofrível dos caminhos,
E tanto posso ver somente espinhos
Assim nestas daninhas meu canteiro
Morrendo pouco a pouco sem cuidado,
O amor há tanto tempo maltratado
Agora num cenário derradeiro...

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