quarta-feira, 12 de maio de 2010

32501 até 32550

32501

Ao sentir a formosura
Desta rosa em meio às rosas
Noites claras majestosas
Onde a sorte se emoldura
No tormento, na amargura
Vejo as sendas caprichosas
E se tanto em luzes gozas
Desta vida em tal ternura
Brandamente quero o sonho
E deveras recomponho
Com beleza o meu viver
Tantas vezes pude ver
O cenário mais sobejo
Que em verdade sempre almejo

32502

Verso feito em alegria
Luz imensa transformando
O meu canto se moldando
Ignorando uma agonia
Tanta sorte me traria
Onde outrora em contrabando
Novo tempo desabando
Morte em vida, não teria.
Resta em mim outro momento
E deveras me apresento
Com ternura em raro encanto,
Amar traça a liberdade
E bebendo a claridade
A tristeza agora espanto.


32503

Pude crer que a vida traz
A quem tanto batalhara
Afinal a noite clara
E deveras feita em paz
Sendo assim, o passo audaz
Dominando esta seara
Não permite quem se ampara
Na verdade mais mordaz,
Poesia traça em luz
O quanto reproduz
A beleza de um instante
Seja sempre a minha amiga,
E decerto assim prossiga
Num cenário deslumbrante.


32504

Resta apenas o meu medo
Depois destas ilusões
E se ainda tu me expões
O sabor deste degredo
Cada dia mais concedo
Aos meus sonhos emoções
E tentando em direções
Desvendar cada segredo,
Poderei acreditar
Na pureza deste amar
Entre tantos que já tive,
Onde outrora imaginei
Hoje enfim eu decifrei
Quanto amor em mim revive.


32505

Não me deixo mais levar
Pelas ânsias de quem sente
Este gozo plenamente
Demonstrando em si luar
Quando tentei transformar
O meu mundo onde se ausente
Toda a dor, freqüentemente
Aprendi enfim a amar,
Sendo assim a vida traça
Com ternura enquanto passa
Deixa rastros mais felizes,
São benditos os meus dias
Quando imerso em alegrias
Olvidei as cicatrizes.


32506

Quanto amor eu quis
Noutro amor sincero
Onde ainda espero
Ser enfim feliz,
Mesmo um aprendiz
Tanto que venero
Outro sonho eu quero
Vivo por um triz,
Atos necessários
Dias temerários
Nada mais se teme
Barco solto em mar,
Sabe navegar
E conhece o leme...


32507

Sonetando assim
Em palavras mansas
Logo que me alcanças
Chego à Deus enfim,
Bebo do jardim
Entre as esperanças
Quando já te lanças
Farto sonho em mim,
Vivo em paz e sei
Cada norma e lei
Onde se apresente
Verso sobre o mar
E se tanto amar
Ser feliz somente...

32508

Já não vejo mais
Tantas heresias
Vivas fantasias
Mata os vendavais
E se agora o cais
Com prazer trarias
Novos claros dias
Tempos magistrais,
Riscos são ausentes
E se tanto sentes
O que também sinto,
Vivo quem pensara
Noutra cena escara
E o temor extinto.


32509

Jogo as minhas cartas
Mesas entre sortes,
E sabendo os nortes
Tu já não descartas
Ainda que partas
Ora me comportes
E se me confortes
Noites plenas fartas,
Sinto a luz que trama
Nova e rara chama
Onde se percebe
A beleza imensa
Tanta recompensa
Na sublime sebe.


32510


Da janela aberta
Coração se eleva
E jamais a treva
Que agora deserta
Em terror desperta
E se assim a ceva
Sorte mais longeva
Na palavra certa,
Vivo e sou feliz,
Nada mais desdiz
O que o sonho dita,
Resolutamente
Canto se apresente
Nesta voz bendita...

32511

Pensara no tanto
Pudesse lutar
E tendo o luar
Deveras encanto
Bebendo este canto
A sorte a tramar
Beleza sem par,
Deixando o quebranto
Levanto meus olhos
Ausentes abrolhos
Somente em tais flores
Canteiro formado
Matando o passado,
Seguindo onde fores.

32512

Percebo este brilho
E tento outra sorte
A vida é transporte
No qual ora trilho
E quando palmilho
Procuro este aporte
Que tanto comporte
Sem ter empecilho
Vencendo o temor
Vivendo este amor
Que tanto quisera
Momentos felizes
Na ausência de crises
Real primavera.

32513

Aonde desvenda
O passo mais firme
Amor se confirme
E tudo se atenda.
Porém sendo lenda
Prefiro eximir-me
Do que pressentir-me
Envolto em tal venda,
Recebo este gozo
Real majestoso
E nele me faço
Além do que outrora
Já nem se demora
Numa alma o cansaço.


32514

Somente pudera
Vencer o temor
Vivendo este amor
A sorte que é fera
Deveras tempera
Com ar sedutor
No quanto a propor
Jamais pensa, espera,
Assim reunidos
Os dias sentidos
Em luzes e paz,
Concebo o caminho
Jamais vou sozinho,
Amor me compraz.


32515


Ainda não vivo
O quanto tentei
Buscando esta grei
Num sonho cativo
Se assim sobrevivo
No vão me entranhei
Encanto busquei
E já não me privo
Da sorte bendita
Que amor acredita
E torna comum
Sem ter esperança
Ao nada se lança
Não resta nenhum...


32516

Minha alma cativa
Dos sonhos que tenho
Em total empenho
Assim segue viva
E quando se criva
Da noite em que venho
No quanto mantenho
A voz mais altiva
Recebo este vento
E a cada momento
De ti mais me encanto
E venço os meus medos
Adentro os segredos
E afasto o quebranto.


32517

Feliz, singular
Beleza que tens
E quando tais bens
Tomando o lugar
Aonde encontrar
E sei que tu vens
Distantes desdéns
Bebendo o luar,
Assim sendo a vida
Em ti concebida
Percebo o tamanho
Do mundo em que estás
Sorvendo esta paz
Nos céus eu me entranho.

32518

Ausente esperança
Depois desta luta
A vida reluta
E quando se alcança
A sorte não cansa
E tanto se é bruta
Apenas escuta
A voz que se lança
No quanto se erguendo
O mundo envolvendo
Com paz; sou sincero
Pudesse viver
Ainda um prazer
No bem que mais quero.


32519

Olhar sossegado
Notando as estrelas
Podendo contê-las
Vivendo o passado,
Riscando o trilhado
Querendo sabê-las
E ainda vivê-las
Tomando o telhado,
Teimando em vazios
Vencer desafios
É sempre complexo
Mas quando te vejo
No afã do desejo
Encontro neste nexo.

32520


Ao viver amor
Que tanto pudesse
Transformar em messe
O que foi temor,
Ao gerar a flor
Esperança tece
Coração conhece
Da emoção sabor,
E se nada resta
Pelo menos fresta
Posso adivinhar
Onde tanto quis
Ser bem mais feliz
Encontrei o amar...


32521

Aonde se fez tanta esta vontade
De ser ao menos mais que mero nada
Palavra com terror anunciada
No quanto em desamor tanto degrade,
Não pude contornar a ansiedade
Paragens mais diversas, invernada
A porta permanece então fechada
Deixando o velho sonho em vã saudade
E assim meu verso encontra o lenitivo
E permaneço aqui, deveras vivo
Apenas por cunhar tal porto além
Do fato mais real e mais palpável,
O tempo se mostrara interminável,
E nele este vazio se contém...

32522

O tempo que é senhor, pai da razão
Ditando algum futuro onde pensara
Diverso caminhar e hoje se aclara,
Ou traz à claridade a escuridão,
Do tempo em contratempo, a direção
No tanto a se mostrar comum ou rara
Ao mesmo instante trama queda ou vara
Remonta na inconstância à uma estação
Viver cada momento como fosse
A imagem traduzida em agridoce
Gestando a própria vida, risco e sorte,
Não tendo rédeas segue libertário,
Do renovar-se eterno e necessário
Renegando o existir enfim, da morte.

32523

A cada aniversário perco e ganho
Seara incontestável da existência
E traça com ternura ou imprudência
Diversidade trama hoje o de antanho
E quando em mais um ano assim entranho
Certeza se mostrando em mais prudência,
Aonde se pensara onipotência
Aumenta e se aprofunda cada lanho,
Comemorar ou mesmo lamentar
Constantes mutações de amor e treva
Entrego-me ao vazio ou quando ao todo
Procuro disfarçar, suave engodo,
Porém o tempo aos poucos já me leva...

32524

A voz que não se cala em poesia
E tenta disfarçar ou conceber
Enquanto muitas vezes diz prazer
No desprazer deveras já se cria,
E quando com palavras eu tecia
O quanto acreditara perceber
Gerando assim diverso ou mesmo ser
Aonde se mostrasse em rebeldia
A face abandonada do que eu fora,
Mas sei que desde então nada se faz
Além do olhar sobejo ou mais mordaz
Desta alma tantas vezes sofredora,
Renasço enquanto morro em cada verso
Do todo que amealho eu me disperso.


32525

Olhos ermos procuram por um sol
Aonde ainda pudesse ter certeza
Da vida em sua forma e em tal leveza
Tocando o seu caminho sempre em prol
Do quanto poderia e mesmo tento,
Aceito deste jogo suas regras
E quando com terrores desintegras
Gestando o que pudesse ser meu canto
Vestindo as ilusões não mais teria
Sequer a menor sombra do que outrora
Ainda vivo em mim ronda e devora
Tornando a caminhada bem sombria.
E o sol jamais surgindo no horizonte,
Por mais que o meu olhar, vazio aponte...

32526

Encontro essa riqueza que deixei
Durante os meus momentos mais cruéis
E bebo ainda assim os fartos féis
Gerados pelo anseio, e se entranhei
Perpetuando a treva que me deste
Erguida em patamares mais sutis
Aonde no passado ainda eu quis
O todo na verdade não reveste,
E sigo contra a fúria natural
De quem se fez mutante e quer o sonho,
Além do mesmo vão eu me proponho,
Arcando com escadas, sei degrau,
E a queda se aproxima, mas não fujo
Persisto, um pária podre, imundo e sujo.

32527


Em meio aos arquipélagos, atol
Somente sem saber deste horizonte
E não concebo mais sequer a ponte
Que possa libertar, torpe arrebol,
Assino a cada tempo outra alforria
E gero escravidões onda pensara
Da velha liberdade, mas amara
A sorte quando feita em serventia
E tento novamente disfarçar
Usando de poemas, desafetos,
Pudessem sonhos meus medonhos fetos,
Mas quando me concebo e sem lugar
Aborto outra esperança e ainda busco
Enquanto sei do fim, espúrio e fusco.

32528

Ilha aonde pensava ser o rei
Há tanto abandonada em mar imenso
E quando no passado ainda penso
Percebo tanto quanto mais errei,
Resolvo a cada tempo outro dilema
E nada se resolve plenamente
Portanto a vida sempre volve e mente
E nada do que ainda queira tema
Riscando pouco a pouco a minha pele
Aprofundando o corte, nada vem
E sigo da alegria muito aquém
Enquanto a novo rumo se compele
O sonho, mera face em desvario
E nele cada engano desafio.

32529

Minha boca ansiosa beija o nada
E sangra com terríveis ilusões
E tanto quanto posso em expressões
Traçando desde cedo outra fornada
De sonhos, desenganos, erros tantos
Falência da emoção torpe e vulgar,
Aonde poderia me encontrar
Apenas realçando tais quebrantos
Ofusco o caminhar em pedras feito,
E tendo esta certeza nada impede
O quanto do prazer não se concede
E em tantos espinheiros eu me deito
Cercado pelas sombras do passado,
Apenas o vazio é meu legado.


32530

Num momento julgava-me farol
E até por ser na vida complacente
Tentando o que ditasse a minha mente
Bebendo cada rastro do deus sol,
Julgara novo passo libertário
Quando em verdade mais me aprisionava
Não via nos meus pés galés e trava
Enquanto acreditara ser corsário
Agora ao perceber a fria algema
Da qual já não consigo me livrar
E vendo toda a insânia a penetrar
Meus olhos, desvendando tal dilema
Pudesse ter enfim a abolição,
Porém me entranho mais na escravidão...


32531


Como é cruel, Meu Pai, a dura lei
Imposta pelos homens no Teu nome,
E quando a realidade já se assome
Não tento novo rumo e nem terei
Sabendo da constância em que se dá
A fonte inesgotável: vida e morte
Ainda que o futuro não comporte
O quanto se pretende mostrará
A forma inusitada em amor feita
E quando em liberdade eu Te sentir
Usufruindo em paz deste elixir
Minha alma no Teu passo, satisfeita,
Diversa da que impingem sobre mim
Negando alguma entrada em Teu jardim.

32532


Agora vou sozinho, um girassol
Bebendo desta fonte inalcançável
Ainda que se fosse imaginável
Rendido à maravilha deste sol,
Não pude discernir qualquer momento
Aonde a vida fosse mais perversa
E quando sobre o mar imenso versa
E neste caminhar eu sempre tento
Erguendo o meu olhar, vasto horizonte
E tendo em direção mais soberana
No amor que nunca trai, jamais engana
Porquanto mais sobejo já desponte,
O quanto dos meus dias em frangalhos
A vida revivendo em novos talhos.


32533


Dourados os caminhos que passara,
Quem tanto quis a sorte e nunca veio
Mostrando a cada ausência o devaneio
Gerando escuridão nesta seara,
A fonte iluminada da esperança
E dela se traçando esta alegria
Moldura pela qual já se traria
O olhar aonde o todo não se alcança
Avanço em meio aos tantos temporais
Sabendo do final engalanado,
Arisco navegante do passado,
Ao ver e perceber possível cais,
Já sabe timoneiro comandar
O sonho sem sequer poder parar...


32534

Inebriei-me, tonto, mas passou
Assim como um cometa em minha vida
Percurso noutra senda, a despedida
Traçada desde quando se encontrou
O rumo em meio aos vários sentimentos
E neles entre tantos outros nãos,
Errôneo caminhante, dias vãos,
E após o terminar, mais sofrimentos,
Não quero ser apenas degradável
E ver o mundo em teias mais diversas,
E quando noutro tanto tu dispersas
Morrente coração incontrolável
Não tendo outra saída se deforma
Mutável sensação, medonha forma.


32535


A jóia que dispunha; viva e rara
Perdendo com o tempo qualquer brilho,
E tanto quanto posso ainda trilho
A noite em luz sombria e nada aclara
A sorte semeada noutra senda
A morte se aproxima e nada faço,
Seguindo a solidão em rito e traço
O passo rumo ao nada não se emenda
E vendo a face escusa neste espelho,
Restando poucas horas, poesias
A cada novo instante mais ferias
E a vida se mostrara em frio engelho,
A imagem retratada, carcomida
Traduz mais fielmente a minha vida.


32536


Depois desta tormenta, sobrou nada
Além destes escombros, minha vida.
Resulto do quanto apodrecida
Moldara a noite em vaga madrugada,
Atormentado eu passo em negação
O quadro se dissolve em tez sombria
E quando noutro mar mergulharia
Sem ter sequer ainda a sensação
Da pútrida verdade que se expõe
No quanto cada verso nada trama
A morte sem sentidos já me chama
E o pensamento aos poucos decompõe
Lavrando este cenário em turbulência
Perdendo pouco a pouco esta existência.

32537

Vazio o coração agora vou,
Rasgando algumas cartas outras lendo
E assim o meu passado revivendo
E nele esta mortalha se moldou,
Riscando cada espaço em luz sombria
Tenaz pudesse ainda crer no quanto
O mundo se mostrara em novo encanto
Enquanto a realidade não surgia
Portanto o desencanto ainda tinge
O peito em tal quebranto que não posso
Viver cada momento ainda nosso,
E sei da fúria intensa desta esfinge,
Erijo cada altar em nome alheio,
E sigo sem saber o que inda anseio.

32538

Buscando te encontrar, senda dourada
Aonde não pudesse ter senão
A turbulência em dor sem direção
Depois de tanta luz, agora é nada.
Emana-se do olhar um raro brilho,
E cega-me porquanto quando invade
Mudando qualquer tom da realidade
Esboça noutro passo um empecilho,
Crateras vão se abrindo no meu peito
E tanto pleiteara alguma luz
E sei que este vazio reproduz
Metáfora que ainda creio e aceito
Lavrando com a mão férrea tal solo,
Da imensa ingratidão eu já me assolo.

32539

A vida, caminheira em esperança
Jogando as velhas cartas sobre a mesa
Marcadas pela dor nova incerteza
Enquanto a sorte cede ou já se cansa,
Negando o que pudesse ser ainda
Momento em paz sublime, eu sigo alheio
E tanto poderia, mas não veio
Manhã onde a emoção enfim deslinda
Cravejo em esmeraldas e rubis
O pantanal que tanto freqüentei
Se alguma reação inda esbocei
O mundo noutra face não me diz
Somente da verdade sei um traço
Porquanto no vazio ao menos, grasso.

32540


Traduz-se em divinais formas e brilho
O quanto pude crer e nunca vinha
Verdade jamais fora amiga minha
E quando tendo um passo em queda humilho
Esmiuçando assim o que inda resta
Do todo já desfeito pelo tempo,
Somente a cada engodo e contratempo
Ao qual o caminhar em mim se empresta
Lavando o meu olhar em tal tristeza
Restando muito pouco para quem
Sabendo do vazio em que se tem
A velha tradição de caça e presa.
Peçonhas inoculo quando tento
Vencer em paz a dor e o desalento.

32541

Trazendo no seu bojo uma esperança
A vida poderia ser tranquila,
Mas quando a sorte em trevas já desfila
E sinto mais distante a temperança
No quanto do vazio ora se alcança
A morte com terror reduz à argila
O fato de sonhar a dor destila
E trama com audácia a fina lança,
Vestindo de ilusões eu pude ver
Além do que pudesse alvorecer
A treva costumeira e sei aonde
O fardo mais pesado se aproxima
E nada do que tanto mude o clima
Aquém deste tormento em que se esconde.

32542

Depois de tanta dor me maravilho
Ao ver meros resquícios de um segundo
No qual com toda insânia me aprofundo
Moldando em vã ternura manso trilho
Gestado pela angústia, nada vinha
Senão a realidade mais cruel
E quando o mundo mostra em carrossel
Verdade que foi tua e agora é minha,
Tecendo esta mortalha o que me resta
Expressa a solidão e tudo traz
A face mais atroz, por ser mordaz
Aponta com terror imensa aresta
E nada mais consigo senão isto,
E assim sem ter saída, eu já desisto.


32543


Com olhos que iluminam canto e dança
A sorte se mostrara traiçoeira
E quando a realidade enfim se esgueira
Ao nada costumeiro a vida lança
Medonha sempre fora a minha face
E atrozes caminhares rumo ao vão
E nada do que tanto poderão
Os dias noutro tempo em que desgrace
Mecânicas diversas desta vida
Audazes caminhadas pelo encanto
E sobram meus momentos, desencanto
Traçando tão somente a despedida
Amar e ser feliz? Futilidade?
A sombra da ilusão já não me invade...


32544

Percebo-te num claro e belo trilho
E nada do que possa parecer
O quanto se mostrara e pude ver
Sabendo o coração velho andarilho,
E tanto polvilhara em doce e fel
Residualmente tento algum sorriso,
E sei do que deveras mais preciso
Vagando sem destino e quase ao léu,
Invariavelmente a vida mente
E trama variáveis onde eu quis
E tanto poderia ser feliz
Se ainda percebesse plenamente
O peso do viver que lanha as costas
Porém já não escuto nem respostas...


32545

A luz desta esperança já te alcança
E tenta disfarçar a imensa dor
Aonde se mostrasse o sonhador
E nele qualquer forma de aliança
Depondo contra a fúria desumana
Errático planeta não retorna
E quando a solidão em mim entorna
A própria negação já desengana
Arrasto-me deveras tão cansado
E tento respirar serenidade,
E quanto mais eu lute, mais degrade
O vândalo caminho destroçado
Aonde perfilara em cada verso
O todo noutro tanto já disperso.


32546

Num lago, fino amor, de mãe e filho
A imensa placidez que tanto eu quis,
Agora mais distante ou infeliz
No quanto inferno em vida já palmilho
Pereço a cada ausência da esperança
Mortificada face derrotando
O quanto imaginara ser mais brando
Na ponta em que se afie cada lança
Resisto, muito embora saiba vão
O passo dado noutro provimento
E quando inutilmente ainda tento
Os dias novamente não trarão
Sequer a menor sombra do que eu quero
E assim morrendo agora cego e fero.

32547

Quimeras e disfarces, falsos medos
Lavrando em minha pele cicatrizes
E quando mais comuns os meus deslizes
Maiores os temores, meus segredos,
Arcar com desenganos nunca é fácil
E sei do desespero de quem tenta
Viver após a luta violenta
E teima em ter a vida em paz e grácil,
Restando tão somente este vazio
Aonde nada mais se pode ver,
Risonho e perecível entardecer
E nele a noite em trevas eu desfio
Do outono pouco resta e se me inverno
A vida se transforma num inferno.

32548


Os mágicos delírios de mulher
Domando quem se fez amante e sabe
O quanto do viver já não me cabe
Havendo com certeza o que inda houver,
Resisto muito embora saiba quanto
É doloroso o passo depois disto,
Porquanto na verdade sempre insisto
Cevando a cada passo o desencanto,
Mesquinharias ditam o que um dia
Ainda poderia ser diverso,
E sendo sempre assim tão triste o verso
A morte se aproxima e não se adia,
Audaciosamente pude então
Saber da mais completa ingratidão.


32549

No fundo, desvendando-se segredos
Aonde quis apenas poder ver
A luz de um improvável renascer
A sorte se perdendo entre meus dedos,
Não vejo mais a cena e num reflexo
Domínios tão dispersos não consigo
E lego o meu caminho ao desabrigo
Embora a cada instante em genuflexo
Procure tão somente este perdão
E sei sofrível passo que inda possa
Trazer além do quanto a vida em troça
Esboça qualquer treva em reação
Assim ao se mostrar inconseqüente
A vida nega o brilho novamente.

32550


Nos mares, nas montanhas cessas fúria,
E geras esta paz que tanto quero,
Mas sei quanto o destino se faz fero
Gerando a cada passo outra lamúria
Na trama desenhada desde quando
O tempo se mostrara face a face
E tanto ainda em dor a vida grasse
E mostre o que se quer duro e nefando
Nevando dentro em mim vejo este inverno
E nada posso contra esta incerteza
Lutar e perceber a correnteza
E dela se trazendo um vento terno,
Ao menos me traria este acalento,
Mas nada se resolve enquanto eu tento.

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