sábado, 15 de maio de 2010

32801 até 32850

32801

Clareia dentro em mim
Luares e sertões
E quando me propões
Chegando deste fim
Traçando ao que vim
Destes vários verões
Se ainda em negações
Gestará no jardim
Roseiras entre espinhos
E por tantos caminhos
Vagando por estrelas
Dispersas neste vento
E enquanto me alimento
Eu consigo bebê-las.

32802

Posso começar
Do quanto termino
E nada domino
Sem nada cantar
Beber do luar
A sorte o destino
E se me fascino
Melhor nem tocar.
Violas, toadas
Manhãs alvoradas
E noites sem fim,
Sertões e luares
Aonde tocares
Verás de onde vim.

32803

Chegando ao descanso
Do passo que nada
A noite rendada
Na lua remanso
E quando me lanço
Procuro esta estada
Vacância na estrada
E nela já tranço
Riscando este espaço
Tragando o que traço
Restando sincero,
Vencer tempestade
Ainda sem grade
É tudo o que eu quero.

32804

Chegando mansinho
Depois da viagem
Bela paisagem
Em sonho adivinho,
Restara o carinho
Ou noutra engrenagem
Seguir estalagem
Bebendo este vinho.
Juntando ao que fosse
A sorte agridoce
O mundo redime,
E nada me ilude
Fatal juventude
Futuro suprime.

32805

Viver este desejo além da vida
E nele perpetua o pensamento
E tanto do querer eu me alimento
Achando a cada instante uma saída
Aonde se pensara em despedida
A vida traz agora este momento
E nele com ternura este provento
Aonde a própria sorte não duvida
Do quanto amor existe e nada teme
Nem mesmo a solidão ainda algeme
O peito enamorado em luz perfeita,
Não quero mais saber desta tristeza
O tempo recompondo sobre a mesa
A glória mais sublime e me deleita...

32806

Um sonho pelo menos merecera
Quem tanto desejou e nada havia
Mortalha que este tempo já tecia
E nela toda a história se perdera,
Porquanto cada sonho obedecera
Ao mais terrível medo em heresia
E tantas vezes morta a fantasia
Pavio se consome em frágil cera.
Rendido e sem saber onde chegar
Ausento do presente e sem luar
A noite sem estrelas nada traz,
O amor já se perdeu e resta apenas
Momentos em que ainda ao longe acenas
Traçando outro caminho feito em paz.

32807

A chuva despencando dentro em mim
Medonha esta friagem, noite afora
E quando a solidão ainda ancora
O mundo se perdendo é tão ruim...
Amor chegando aos poucos, triste fim,
O medo de viver já me devora
E nada em poesia mais se aflora
O tempo navegando atroz, e enfim
O todo se vestindo de vazio,
A noite amadurece em tal granizo
Quem teve tanto amor, hoje é preciso
Saber do quanto custa em prejuízo
Renunciar à vida, uma esperança?
Ainda mesmo ao longe, o sonho alcança...

32808

Infinda madrugada em neve e medo
O tempo se mostrando em dor e treva
Enquanto dentro da alma ainda neva
Apenas recolhendo o meu degredo,
E quando de outra forma em vão procedo
A sorte noutra senda não me leva
Apenas a saudade ainda enleva
E tenta subverter o velho enredo.
Manhã já poderia trazer luz
Canções entre momentos mais felizes,
Mas nada do que tanto ainda dizes
Reflete ao quanto o mundo nos conduz,
Viola refletindo num ponteio
O mundo em solidão que agora veio...

32809

Cantasse uma alegria pelo menos
Quem sabe mudaria esta estação
Inverno traduzindo outro verão
Ou dias mais suaves e serenos,
Mas sei quantos são duros os venenos
E neles sem saber da solução
Encontro novamente a podridão
E dela nem os sonhos mais amenos.
Ausente dos meus olhos primavera
Saudade devorando destempera
A vida e transtornando a caminhada
Permite tão somente este cenário
E nele cada verso temerário
Traduz o que ora vejo, eterno nada...

32810

Amor ainda persiste, ledo sonho,
Poesia bebendo da esperança
Em cada novo verso já me lança
Aonde um novo tempo em vão componho
E bebo do passado este medonho
Caminho feito em trevas e vingança
Assim enquanto ao nada em aliança
O tempo se desfaz e decomponho
Num passo mais atroz, dura verdade
Matando qualquer tom, sonoridade
Vasculho estes momentos e inda vejo
Distante no horizonte mais cruel
A sombra do que fora imenso céu
Do amor apenas tenho este lampejo.


32811


Saudade vai chegando devagar
Batendo na minha porta ora me acorda
A vida de outra vida se recorda
E assim noutro momento quer morar.
Tomando este cenário a dominar
Rompendo do presente qualquer corda
O tanto que já fora e não concorda
Minha alma está cansada de lutar.
Vencer esta lembrança? Nunca mais
Apensa recomeçam vendavais
Sinais de tempos idos, mortos? Não.
O peso do viver vergando em mim
O quanto ora pensara estar no fim
Saudade traça a velha direção.

32812

Revolvo cada sombra do que eu fora
E tento desvendar cada segredo
E quando vez em quando eu me concedo
A cena do passado é tentadora,
E nada do que tenho em voz sonora
Permite qualquer trama e se me enredo
Voltando ao meu início atroz e ledo
A sorte não seria mais canora.
Vivendo sem domingos nem descanso
Aonde na verdade já me lanço
Num éter sem sinais de realidade
E tanto poderia ser disperso
O mundo noutro tom, mesmo universo,
Sem ter a poesia que me invade.

32813

Jogado pelas ruas simples pária
Não tendo mais sossego ainda busco
O quanto do passado fora brusco
A sorte do futuro é temerária
Vencer a solidão com luminária
Sabendo do meu mundo sempre fusco
Riscando este desejo tão velhusco
Sangrando outro oceano alma corsária
Vestindo de esperança que se fez
Apenas em completa insensatez
Bebendo a solidão que se percebe
Quem sabe noutra vida ou noutro instante
Um passo mais sublime se adiante
Ou mude este cenário, torpe sebe.


32814


Legado do passado já não tenho
E rasgo o coração, bebo o presente
E quando novo dia se pressente
Aumenta com certeza o meu empenho
E sigo o que deveras já convenho
Singrando este oceano que apascente
E vejo a tempestade, vã torrente
Apenas no vazio em que me lenho,
Escrevo cada verso e relembrando
O tempo que virá decerto brando
Diverso do passado em dor e pranto,
Não quero mais a sombra do tormento
E quando do futuro me alimento,
Felicidade volta e enfim, eu canto.

32815

Nos mistérios desta alma sem juízo
Sorvendo cada gota do que somos
Bebendo e devorando tantos gomos
Sem ter ou nem saber de prejuízo,
O passo para o nosso paraíso
E nele com certeza novos tomos
E assim diverso passo do que fomos
O mundo em bela tez é mais preciso.
Risonha tempestade em fúria e fogo
Assim recomeçando o velho jogo
Paixão após paixão a vida passa
E tudo que me resta na verdade
Viver sem ter temor, felicidade
Sabendo ser apenas vã fumaça...

32816

Solidão caminhando neste espaço
Bebendo cada gota do suor
Um mundo desejado bem melhor
Aos poucos sem ninguém em mim desfaço
E quando vou seguindo passo a passo
Sabendo desta estrada até de cor
O tanto que se vê sendo maior
Do que deveras penso ou mesmo traço,
Resume a cada instante a dor e o medo
E tanto nos vazios eu me enredo
Teimando contra tantos temporais,
Assim esta resposta solta ao vento
Tomando com terror o pensamento
Dizendo simplesmente: nunca mais.

32817


Espelho cristalino dentro da alma
Traçando melodias entre dores
E ainda se procuras pelas flores
A vida tão distante não acalma
Apenas o vazio diz da calma
E tanto poderia se inda fores
Buscar os dias riscos sonhadores
Embora reconheça cada palma.
Navego pelas ânsias do não ser
E tento mesmo assim qualquer prazer
E sei que nada além desta ilusão
Virá traçando sem coragem
O quando poderia em ancoragem
Naufraga o coração/embarcação.

32818

Anéis após Saturnos, beijos vãos
E rosno ao meu passado, cão insano
Coleto do que vivo e se me dano
Jamais imaginei recentes nãos,
E sendo os meus tormentos velhos grãos
Relento refazendo cada engano
E beijo o meu destino em soberano
Tormento onde pudesse ter irmãos
E sendo sonegada qualquer sorte
Rumando sem ter nada que conforte
Nem mesmo já suporte o passo atroz,
Restando do que eu quis apenas isto,
Certeza de viver e se inda existo
Em ti querida eu busco a minha foz.

32819

Lembrando do passado velha tralha
Resolvo ver apenas o momento
E tanto quanto pode o pensamento
Ainda vez em quando se atrapalha
Arrisco qualquer corte de navalha
Arisco como sempre o sentimento
E nele se deveras eu me alento
Ainda sinto o peso da cangalha.
Vestindo esta emoção velhusca e chata
A vida noutra vida me arrebata
E bate sem saber se quero a dor.
Resolvo com palavras, lavras velhas
E quando noutras cevas tu te espelhas
Eu risco arisco o brilho desta flor.

32820

A solidão que devorasse o sonho
Negando a quem procura outra manhã
Tramando com terror o velho afã
No passo sem caminho atroz medonho,
E quando novo dia me proponho
Certeza se tornara até malsã
E a vida esta sujeita temporã
Mergulha no vazio e não me oponho.
Senzala cultivada e convivida
Aonde se quisera mera vida
Ardências sonegando qualquer brilho,
Eu sendo caminhante do vazio,
Gerado pelo incrível desafio
Apenas a tormenta assim polvilho.


32821

O canto se demente ou tão absurdo
Que nunca permitisse nova senda
Enquanto na verdade não atenda
Deixando o coração qual mudo e surdo,
Bebendo do legado em sofrimento
Ainda tento a folha sem outono,
Mas quando vejo o nada e me adono
Quem sabe no final velho tormento
Vermelhos olhos dizem do horizonte
Sem lua sem o sol vazio e morto
Aonde se pudesse qualquer porto
Aonde se tentasse qualquer ponte
Apenas o cenário se esvazia
Assim se refazendo todo dia.

32822

Esporas entre facas, foices, gado
O medo não podia ser diverso
E quando neste tanto sou disperso
Apenas o vazio trago ao lado,
Restando o que pensara acalentado
E nisto vou tramando outro universo
Usando qual provento vento e verso
Riscando sem saber o velho enfado;
Peçonha destilada em cada olhar
Na morte começando a terminar
Caminho discordante, mas real,
Houvera novo tempo dentro em mim,
Mas vejo a solidão e chego ao fim,
Naufrago de propósito esta nau.

32823

Análises de tempos mais modernos
Aonde o próprio dito morre aos poucos
Em gritos mesmo opacos quase roucos
Dizendo dos antigos, velhos ternos,
Rasgando a camiseta e o paletó
Vibrando em sintonia com o vento
E quando mais procuro estar atento
Retorno sem querer ao mesmo pó.
Divinas heresias noites mortas
E ainda se vendo assim as portas
Por onde transportas sem medida
O quadro anunciado no passado,
Negando qualquer momento enfadado
Traçando sem caminho a mesma vida.

32824

Ainda que pudesse dizer não
Aonde nada trama nem o fim
O quadro desabado mostra em mim
A falta de sentido e direção
Enquanto novos tempos me dirão
Do quanto já sobrou neste jardim,
Ausência do sonhar mostrando assim
A imensa e degradante solidão,
Restando deste medo que me deste
O solo mais dorido e sei agreste
No quanto deteste este degredo
Vencido por ser tanto ou pouco mais
E quando do vazio me entornais
Em vossos desandares me concedo.


32825

Retrato em branco e preto na gaveta
De uma alma que se mostra mais urgente
E nisto cada vez que se apresente
O tanto do pecado se cometa,
E nada do que ainda me arremeta
Podendo usufruir do incandescente
Caminho onde mergulho e mesmo tente
Vencer este legado, outro planeta,
Estando em consonância com engodos
E tanto poderia velhos lodos
Ou limos que inda vejo se apontando,
Mas tudo se reverte em solitário
Desejo que pensara solidário
Traçado dia a dia em voz e bando.

32826

Restituindo o tempo a quem se dera
Além desta medida e sem limites
Ainda que no tanto não habites
Mortalha se moldando em vã quimera
Assisto à derrocada e sem espera
Buscando qualquer rumo que acredites
Vasculho o meu passado e sem palpites
Revejo tão somente a mesma fera.
E teimosia mostra a direção
Do mundo sem certeza e sempre em vão
Largado pelos cantos desta casa.
A morte se aproxima e diz do fardo
E nele compreendendo cada cardo
Apenas vasculhando, nada atrasa.

32827

Guardando estes pedaços do que fomos
Vestindo as ilusões, a hipocrisia
Há tanto noutro encanto se daria
Matando pouco a pouco riscos, gomos.
Vestígios de um momento sem discórdia
Rezando sobre os temas mais comuns
E vejo novamente os meus nenhuns
E morro em tal terror, viva mixórdia.
Lamento após lamento nada vem
E o farto se mostrara muito ou resto
E quando na verdade já não presto
Bebendo gole a gole o que contém
O copo espatifado de cristal,
O sonho num estado terminal.


32828

Nas ondas tenebrosas do que tento
Ainda na verdade em direção
Ao medo sem juízo ou mesmo em vão
O peso do passado é violento.
E quantas vezes fere o sentimento
Negando o meu destino em distração
Morrendo quando busco algum verão
Levando esta palavra solta ao vento.
E beijo sem saber a morte quando
Olhando para o quadro desabando
Na sala nas janelas e bistrôs
Os sonhos da esperança camelôs
Residem no que nunca mais virá
Matando onde pudera desde já.

32829

Chamando o que pudesse de festança
Aonde nada mais se vê nem causa
A vida prometendo qualquer pausa
Apenas ao final decerto lança
Descalço meus caminhos pelas tantas
Diversas emoções e nela crio
Ainda do meu mundo o desafio
Enquanto noutro tanto te agigantas
Estrelas entre estrelas nada mais
E assim sem tango, rango e sem segredo
A posse sonegada nada traz
Senão a mesma cena tão mordaz
No encanto enquanto tento e me concedo.

32830

Vibrando cada som do quanto pude
Morrendo em saudades e soluços
A vida noutros momentos mais ruços
Matando o que pensara em atitude,
Resinas congruentes, novas cenas
E tanto me maltratas quando ris
Deixando mais contente este infeliz
Gerando noites claras, mais amenas,
Num porto sem descanso e sem cansaço
O quanto poderia e nunca vira
O tempo não engana em alvo e mira
E assim ao sonegar-me eu já desfaço
A chance de escapar com galhardia,
Mas resta ainda em mim a poesia...


32831

Fazendo do meu peito a serenata
Aonde nada lua nem pudera
Vestindo a solidão mesma quimera
Que tanto acaricia quanto mata
A porta sempre aberta não retrata
Nem mesmo o que pudesse regenera
O vandalismo em mim somente impera
Enquanto a fonte molda em tez ingrata
A noite açoita em vento e tempestade
E quando mais ainda se degrade
Não deixa nem sequer qualquer jazigo
E tento vez em quando ser feliz,
Mas quando este cenário já desdiz
No passo mais afoito enfim prossigo.


32832

Procuro sem defesas um escudo
E tento nada além deste vazio
E quando mesmo assim me desafio
Por vezes noutra cena até me iludo,
Mas quando no passado me transmudo
E vivo sem saber do quanto em fio
Pudesse este rastilho que ora crio
E tanto poderia, mas sou mudo.
Levando a minha vida sem saber
Do quadro desenhado e em teu poder
Riscando cada frase após a velha,
A morte bebe em gotas podre mangue
E quando me restar exausto e exangue
A fronte do que fora se assemelha.


32833

Indefinidamente busco o quanto
Ainda se procedo desta forma
A vida que me maltrata sempre informa
Do resto abandonado em cada canto,
Perfaço com meu verso o desencanto,
Mas sei que não me importa qualquer norma
Apenas o vazio em que transforma
A fronde destroçada num recanto.
Em discos voadores, lendas, rasos
Os olhos procurando mil acasos
Ocasos dentro em mim agora vejo
E nada do que fora simples mente
Promete ou se amortalha de repente
E muda com furor cada lampejo.



32834


Caminhando sem saber sequer destino
Bebendo a sordidez deste cigarro
A morte a cada dia mais escarro
E incrível que pareça eu me fascino,
Aonde se mostrasse cristalino
Nas ondas do vazio já me agarro
E quando do não ser tento e desgarro
Perdendo o meu domínio, desatino.
Percebo este non sense de onde venho
E cada vez que ainda fecho o cenho
Retorno aos miseráveis caminhares
Aonde tantas vezes procedia
A sorte sem saber da hipocrisia
E nela com terror novos altares.


32835


Litígios conhecidos dentro em mim
Poetas e momentos tropicais
Vencidos adentro temporais
E teimo em reviver cada jardim,
Aonde se mostrasse querubim
Apenas Satanás e nada mais,
Rendido aos meus momentos terminais
Eu bebo este caminho e sei que o fim
Terá proximidade do começo,
Vencido sem saber se isto mereço
Apenas concordando, o que fazer?
Relíquias que conservo, servo da alma
Ainda nada tendo nem a calma,
A morte talvez diga algum prazer.



32836

A mesma sinfonia abandonada
Por quanto poderia ser diversa
E nela novamente esta conversa
Levando simplesmente ao mesmo nada,
Resoluto caminho em tola estrada
E bebo a sorte amarga ou mais dispersa
E quando no vazio a voz se versa
Traduz a morte há tanto anunciada
Sem plêiades sem lua sem sertão
O fardo costumeiro desde então
Repete outro momento e diz do quadro
Mordendo levemente uma canela
Uma alma se transtorna e se revela
Deixando tudo fora deste esquadro.

32837


Vivendo cada ausência, simplesmente
Não tendo mais opções eu sigo alheio
E quando a solidão deveras veio
Tomando o meu caminho nova mente
Moldada pelo fardo que somente
Sementes espalhara por recreio
E tudo o que mostrara sem receio
Agora nem o tempo mais desmente,
Vencido companheiro do passado
O quarto totalmente demarcado
Por chamas, tramas, lamas, dramas, amo;
E as honras da viagem são funestas
E quando no final ainda emprestas
A faca pela qual o sonho eu tramo.



32838

Mortalha concebida no labor
Seara onde se espalha o torpe grão
Vingando cada passo, solidão
Tratando com ternura o desamor
E nada mais pudesse se propor
Transcorre sem sentido a geração
O vento sem destino em direção
Contrária ao que pensara no sol-pôr
Bebendo a morte em cena degradante
A faca se afiando a cada instante
Mordendo sem querer a mesma isca
Quem sabe na verdade nada teme
E bebe do terror medula e creme
Não sabe do segredo quem se arrisca?




32839

Nevando do que fora algum momento
E tento ser além de amenos vãos
E quando os meus olhares são irmãos
Dos quanto poderiam pensamento
Vivendo desta forma reinvento
Mordendo sem saber antigos grãos
E nada do que pensam cevam mãos
Dispersa produção de um alimento
Fugacidade diz do desafio
E quando noutro tempo desafio
O peso do viver que ainda trago
A morte sorridente se apresenta
E vejo este sorriso da sedenta
Qual fosse um derradeiro e bom afago.


32840

De tantos carnavais em luas turvas
Bebendo a fantasia, esta aguardente
Por quanto noutro tanto ainda tente
Vencer as horas duras sempre curvas
Esqueço do que fora ou mais pudera
E tendo o desafio em madrugada
A morte em cada taça mergulhada
Verdade sem saber mostrando a fera
Há tanto adormecida e me entranha
Qual fosso pedregulho, ou vão penhasco
E quando do pedaço simples casco
Traduz o que eu quisera ser montanha,
Arrisco o desconsolo da canção
E vejo que o viver foi todo em vão.

32841

Bebendo cada gota do veneno
Aonde mergulhaste nosso caso
Sabendo do momento sem ter prazo
E nele cada engano me sereno
Vestindo o que pensara mais ameno
Preparo para o fim, busco este ocaso
E quando no vazio enfim me aprazo
Recebo cada gole e concateno
Caminho entre caminhos mais diversos
Restando a solução dos velhos versos
Quem sabe madrugada e bandolim?
Mas nada do que tenho restará
Nem mesmo a voz o tempo calará
Resume todo o pouco que há em mim..


32842

Arrisco em alçapões viver a glória
Do quanto nada trama e nem pudera
Restando o que deveras degenera
Ou muda a correnteza desta história
Buscara finalmente uma vitória
E nada do que tento em primavera
Ainda molda a sorte ou me tempera
A lua quando vem é merencória.
E se não fosse assim, pobre de nós,
A faca traduzindo cada algoz
Redime da verdade inalcançável
E tanto posso ou não saber do peso
E nisto com certeza sigo preso
Vencido pelo amor; ser intragável...


32843

Ferido pelo quanto imaginara
Do tanto quando pude ou muito menos
Assíduo companheiro dos venenos
Gestado pelo amor, velha seara
Que enquanto se promete desampara
E trama sem carinho seus serenos
Os dias se transformam, são pequenos
E o corte se aproxima de uma escara
A sorte se escarrando em minha face
E nada do que tento o tempo grasse
Além deste vazio e tolo ninho,
Recolho os meus pedaços, sigo em frente
E quando novo tempo se apresente
Verá que continuo mais sozinho...


32844

Resisto aos temporais anos vividos
Em meio aos mais completos desafios
E tanto já perdera rumo e fios
Em frios caminhares desvalidos,
Assim noutros momentos, divididos
Caminhos entre sombras, mortes, frios
O solo se fartando dos estios
E neles os demônios percebidos,
Mas o tempo nada nega e traz a cena
Amortalhado passo rumo ao fim,
E tento disfarçar, num verso, enfim,
Porém a solidão somente acena
E mostra a sua face carcomida
Traçando sem disfarces minha vida.



32845

Jogado qual semente em ventania
Os grãos se perdem da raiz
E quando me pensara mais feliz
A sorte noutro instante mostraria
A fonte que desaba em agonia
E trama a realidade por um triz
Marcada com o ferro, fogo e giz
O porte se desanda da harmonia
E o peso de sonhar deveras custa
E nisto cada farpa mais robusta
Adentra sem defesas corpo e mente,
Nada tendo dos meus olhos
Apenas os jardins plenos abrolhos,
Realidade vejo e não mais mente...


32846

Asilo dentro em mim desesperanças
E nelas vejo a face mais atroz
De quem se fez amiga amante e algoz
Deixando-me antever diversas lanças
E quando mais os êxtases alcanças
Maior a fúria e nela calo a voz,
O rio sem caminho teima em foz
E a sorte renegando as alianças
Vencidas pelo tempo me retrata
A face mais nefanda e mesmo ingrata
Risonha tempestade degradante,
Explode num momento sem dilemas
E sei que na verdade nada temas
Sabendo do teu rumo em diamante...


32847

Correndo entre canteiros a criança
Que eu fora agora morta em negação
Rendida sem saber da solução
Vestida com terror a sorte avança
E dita a cada instante esta aliança
Mortalha se mostrando a direção
De quem se planejara desde então
E agora na metade já se cansa.
Enfurno-me em misérias costumeiras
Aonde no passado vi roseiras
Agora nada tendo, nada vem...
O mundo poderia ser melhor,
E vale cada gota do suor,
Mas como prosseguir sem ter ninguém?

32848

Não tendo mais saudades e sem tê-las
A sorte modifica cada passo
E quando o futuro ainda traço
Olhando sem saber para as estrelas
Marinhas ou celestes, tanto faz,
O passo que buscara nada trama
E ainda do passado vivo o drama
Mordisca furioso e mais tenaz.
Riscando qualquer nome, meu ou teu
A cena relatada sem sentido
O mundo que eu queria, dividido
Aonde quis a luz, eu bebo o breu,
E morro enlouquecido sem saber
O quanto poderia ainda ser.

32849

Navego sem princípio pelo fim
Gestando sem saber o imenso abismo
E quando solitário ainda cismo
Vencido caminheiro, bebo em mim,
Resíduo do que fora, outra verdade
Nefasto e caricato, gargalhando
Do mundo pouco a pouco desabando
E nele toda a fúria que inda brade
Diversas gestações falsa esperança
Abortos repetidos, morte em vida
Cenário preparando a despedida
Aonde passo a passo a vida avança
E tinge com grisalho todo o céu
Transtorna e sem defesas, morto o véu.


32850

Ausência de esperança dita o rumo
De quem se fez tempesta em plena vida
E a sorte muitas vezes dividida
O peso dominando cada prumo
E tanto quanto posso me acostumo,
Porém realidade resolvida
Não tendo na certeza outra saída,
Sou mero, sou espinho, resto e fumo...
Alago-me do brilho das estrelas,
Difícil, mas consigo até contê-las
Nas mãos, nos olhos bebo este horizonte
E tantas vezes sonho com luares,
Ainda restam vagos ao tragares
Sem perceber co’a vida última ponte...

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