sábado, 15 de maio de 2010

32851 até 32900

32851

Ausência de esperança dita o rumo
De quem se fez tempesta em plena vida
E a sorte muitas vezes dividida
O peso dominando cada prumo
E tanto quanto posso me acostumo,
Porém realidade resolvida
Não tendo na certeza outra saída,
Sou mero, sou espinho, resto e fumo...
Alago-me do brilho das estrelas,
Difícil, mas consigo até contê-las
Nas mãos, nos olhos bebo este horizonte
E tantas vezes sonho com luares,
Ainda restam vagos ao tragares
Sem perceber co’a vida última ponte...

32852

Pudesse ter no olhar ainda o brilho
Do todo que pensara costumeiro
A sorte destruíra o verdadeiro
Momento em que esperança em mim polvilho,
E quando mergulhara em falso trilho
Restando a força imensa do luzeiro
No olhar de quem se fez meu derradeiro
Caminho pelo qual me maravilho,
Restando esta esperança, até quem sabe...
O todo já decerto eu sei desabe
E nada se fará depois do caos,
Riscara do meu mundo esta ardentia
E quando percebendo em ti me via
Voltando a despencar outros degraus.

32853

No fim desta viagem qualquer maio
Aonde poderia ter o fato
E nele com ternura se retrato
O tempo sincroniza este desmaio
E quando me percebo mesmo caio
E tento novamente outro regato
O risco que corremos em cada ato
Não posso nem deveras mais me atraio.
Atrelo-me ao teu sol, sou girassol
E bebo da tempestade e sei farol
Falena procurando alguma luz,
Além deste horizonte mais brumoso
Existe um novo rumo, caprichoso
Geléia traduzida em gozo e pus.

32854

Percebo que placebo ainda bebe
A tempestade em rota mais dispersa
E quando noutro tempo desconversa
Mal vê ou não percebe a torpe sebe,
Resumo em ventania o que pudesse
Herdar além do vago que me deste
E tendo o meu olhar dorido e agreste
Não resta nem a sombra da benesse,
Ainda que se fez audaz em mim
Viagem do passado no presente
No todo quando um pouco se apresente
Traduz a escuridão e molda o fim,
Astuciosamente a vida engana
E assim sem ter juízo já se dana...


32855

Alio-me ao vazio de onde invento
Vencer os meus difíceis caminhares
E quando percebendo e não notares
Do tanto ainda busco algum provento,
Resisto e se não fosse assim o vento
E nele os meus diversos lupanares
Riscando a poesia dos altares
Matando com ferrões o pensamento,
Ligando este não ser ao não seria
Aprendo a reviver esta agonia
Aonde se mostrara necessário
Caminho em turbulência é meu vagão
Descarrilada sorte, sem verão
Invento dentro em mim um relicário.

32856

Quando disseste o não sem perceber
Mataste qualquer coisa que ainda havia
Distante dos meus olhos, ventania
Aos poucos me traçando o desprazer,
Vontade de voltar e bem querer
Quem tanto desejei amar um dia
E assim sem ter no olhar a poesia
O mundo derrotado eu passo a ver,
Bebendo da ilusão, andando só,
Vagando pela praia, amor é pó
Levado pelas ondas, fria areia
Na noite sem a lua, sem recados
Os dias não serão ensolarados
Apenas solidão inda incendeia...

32857

Rendido sem defesas, presa sou
Do encanto aonde tanto me entreguei
Depois que no vazio mergulhei
O mundo noutro instante se tornou
Restolho simplesmente e nada mais
Vagando sem destino em noite escura
O olhar sem solução busca e procura
Envolto por terríveis vendavais,
Chorando em fúria e fogo sem destino,
Alquimista sem ter sequer cadinho,
Vivendo sem amor morto o carinho
Apenas cada engodo não domino
E volto aos meus tormentos, andarilho
Do mundo sem juízo que ora trilho.


32858

Não resta nem sequer o amor que há tanto
Pudesse transformar em gládio este momento
Aonde novamente desalento
E bebo em tenebroso duro manto
E quando noutra cena ainda canto
Catando estas estrelas busco e tento
Resquícios esmolares que inda invento
E nada mais importa, só meu pranto.
Ao peso deste nada me envergando
Resíduo de uma vida onde quisera
Apenas plenitude em primavera
Ou dia mais suave, calmo ou brando,
Porém quando me resta a mesquinhez
Diversa tempestade a vida fez.

32859

Sem mares nem caminhos morta a praia
À venda o que talvez fosse coberta
A vida sem momentos descoberta
E nela cada aplauso vira vaia,
Resisto enquanto a lua já desmaia
E bebe desta dura e vã coberta
A porta que pensara ainda aberta
Deserta em solidão, porquanto traia
O passo de quem fora mais audaz,
E agora na verdade tanto faz
Apenas desistindo do combate,
Levado pelo vento sem destino,
O quanto do que fora cristalino,
Aos poucos solitário, ainda abate...

32860

Amar sem ser amado, e mesmo assim
Jamais desistiria desta luta,
E quando o passo ainda em vão reluta
Tentando descobrir qualquer jardim,
Arranjo em desdém medonho disfarce
E nada do espelho ainda responde
Quem tanto fizera sem ter nem por onde
E neste não ser decerto se esgarce,
Ao menos poderia ser sincera
Quem rasga sem querer e me domina,
Secando qualquer fonte ponte e mina
Sem nada que este encanto ainda gera
Empresto-me ao nada e bebo o futuro
Emblemática noite em céu tanto escuro...


32861
Abrindo o coração já nada tenho
Apenas esperança e nada mais
E quando se mostrassem meus cristais
E deles com ternura o farto empenho
Vencido pela insânia de onde venho
Sabendo tão distante qualquer cais
Exposto aos mais terríveis e anormais
Caminhos entre senhas me contenho.
E risco cada vez mais teu espaço
E sei que deveras quando eu traço
O rumo se proscreve noutro vão,
Se todos fossem assim o mundo então
Seria bem diverso, até pior
Mas sei deste cenário até de cor.


32862

Velhas quinquilharias dentro em mim
Vasos quebrados, lutos e tristezas
Negando qualquer sorte somos presas
E nunca deveria ser assim.
Restando a cada olhar outro jasmim
E dele seus perfumes e belezas
Ainda enfrentam duras incertezas
Matando pouco a pouco bebo o gim
E quando me inebrio em garras, gorros
Ainda mais distantes os socorros
Mortes e nascimentos volto a ter
Do tempo em temporal ou rebeldia
Da antiga previsão nada se urdia
Clarões entre diversos? Nada a haver.

32863

Vacilo a cada passo rumo ao fato
De ter minha emoção exposta aqui,
Não importando mais o que senti
Tampouco esta mortalha que retrato,
E nada traduzira este regato
Aonde cada dia eu soergui
Do mundo que jamais eu conheci
Exposto sem delírios, sigo ingrato.
Das farpas costumeiras, cada trama
E nela se realça quando chama
O fardo do viver insanamente,
Por ser tão inconstante nego o tempo
E beijo com prazer o contratempo
Rompendo sem sentir cada corrente.

32864

Reinando sobre o nada o pensamento
Coroa de vazios o meu rumo
E quando novamente busco e assumo
Bebendo a cada engano o desalento
Ainda noutro tanto quero e invento
O bêbado sonhar, ledo consumo,
Quebrando o derradeiro, último prumo
Não dando ao meu amar prosseguimento.
Lamento não resolve nem adia
A solução mais mórbida e tardia
Gerada pela angústia já resume
A falta de esperança de costume
E nela desabando sonho e casa,
O tempo em contratempo nunca atrasa.

32865

Amar e ter nas mãos outro caminho
Disperso navegante em noite inglória
A sorte poderia noutra história
Beber desta esperança, nobre vinho,
Mas quando me percebo sem teu ninho
O quanto de minha alma merencória
Traduz o que se vê, resumo e escória
Do pranto e do tormento, um vão vizinho.
Um dia ao menos claro e branco
Um canto onde se veja e seja franco
A sorte redimindo cada engano,
Mas quando me percebo e nada vem
Voltando para a vida sem ninguém
Acumulando apenas dor e dano.

32866

Menina bem pudesse ser diverso
Caminho em que imagino festa e gozo
E assim se tanto fosse pedregoso
O tempo noutro canto não disperso,
Ainda invalidez tomando o verso,
O mundo noutra face caprichoso
O fundo se apresenta majestoso,
Nada dizendo enfim deste universo
Aonde traiçoeiras luzes vejo
E tanto busco o rumo ao deus dará
E tento descobrir agora e já
Momento sorridente ou novo ensejo
Vagando pelas luas entre tantas,
Ouvindo estas estrelas também cantas.

32867

Meu mundo por um beijo e nada mais
Vencido há tanto tempo sem saber
E quando percebera o quanto ser
E tanto poderia ser demais
Aonde se mostrara este jamais
E nele se confirma o desprazer
Gerado pela angústia do querer
Buscando tão somente um manso cais.
Vivendo o que se fora além do nada
Bebendo cada gole da alvorada
E nela traduzindo estrelas guias
Meu mundo por um beijo, eis o proposto
E quando a vida traz frio e desgosto
Por outra estrada eu sinto, prosseguias.

32868

Canários e sorrisos, lavras, sendas
Visionário sonho bebe a fantasia
E quando nada havendo desafia
Além do que se vê, imensas vendas,
Já sei o quanto negas, nunca atendas
E deixas para trás esta alegria,
Mas anda sobre nós o amor que guia
E nele novos traços, pois desvendas
Contendas e batalhas do passado,
Ainda vejo em vivo tom lembrado
Nos medos e caminhos solitários,
Por isso olhos macios no horizonte
No quanto amor ainda reine e aponte
Serão fundamentais e necessários.

32869

Cantar sem temer luzes ou mais trevas
Morrendo sem saber do fardo ou gozo,
Assim eu poderia em fabuloso
Momento mais diverso do que levas,
E quando destruíste tantas cevas
O trato em desafio caprichoso
Mesquinhos caminhares, mas teimoso
Desafiando as noites mais longevas
Procuro descobrir tesouro ou mina
E quando esta vontade me domina
Emana a fantasia em cada verso,
Distante do farol, da noite escusa
O amor quando se faz usando, abusa
Ao mesmo tempo é santo, bom, perverso...


32870

Pudesse caminhar em tal terreno
Aonde esta planície mostraria
Além da mais diversa fantasia
Um tempo mais suave, até sereno,
Vendendo cada gota do veneno
No qual a sorte tanto mudaria
Cenário degenera e em agonia
Eu vejo este caminho, agora pleno.
Numa infinita fé, a redenção?
Ainda sem caminho ou direção
Eu bebo do perdão e com franqueza
Amor em liberdade sobrevive
E tanto se mostrasse e me cative
Gerando com ternura uma certeza.

32871

Nadando em mar difícil, proceloso
Buscando qualquer porto que conforte
Assim ao se traçar dispersa sorte
Ao fim do meu caminho, um andrajoso
Mergulho no vazio e caprichoso
Sabendo tão distante qualquer norte,
Percebo cada vida em seu suporte
E morto mesmo assim, voluptuoso
A porta se fechando e sem retorno
O mundo que bebera em frio ou forno
Agora se mostrando sem futuro,
E nisto refletindo todo verso
Ainda que pudesse, mas perverso
Caminho preparado árido e duro.

32872

Não pude ser feliz, e bem tentei
Adeus já repetido noutras vezes
E quando as solidões traduzem reses
O vento se espalhando noutra grei
Diverso caminhar eu bem tentara
Seguindo cada passo da esperança
E assim ao perceber ao nada lança
Quem tanto desejei noutra seara,
E sendo desamparo o meu provento
No fim da minha vida ruga e dor,
Aonde poderia me compor
Bebendo quem me dera algum alento,.
Atados entre medos, cordoalhas
E nelas sem saber tu me agasalhas.

32873


Voltando ao precipício que me deste
E nele tantos pélagos e abismos
E quando se percebem cataclismos
A redenção se embebe em dor e peste,
No quanto muitas vezes tu vieste
E nestes caminhares otimismos
Vencidos pelos medos, novos sismos
E o conviver se torna mais agreste,
Negando alguma luz a quem se dera
Bebendo a solidão, velha quimera
E nada além do cais o caos, o medo,
Resisto e vez em quando inda sorrio,
Mas sei que a cada passo o desvario
Trará a quem amara este degredo.


32874


Seguindo este navio sem destino
E tanto poderia, mas não tenho
Sequer esta certeza e nada venho
Falar em tom maior, eu desafino.
Restara do passado mera sombra
E não criara mais porto seguro
E quando ainda insano em vão perduro
O mundo novamente ronda e assombra,
Negar a realidade? Nunca mais!
Peçonha entre venenos mais distintos
Assim os meus momentos sem instintos
Condenam aos meus fardos terminais.
E pude perceber sem ter caminho
O vento noutro canto e em desalinho.

32875

Marqueses e cenários sombreados
Dizendo dos momentos mais felizes
E tendo sobre a tenda tais marquises
Os dias não seriam mais domados,
Regendo os mesmos erros meus reinados
Mas nada do que ainda queiras, dizes
E mortas entre cenas velhas crises,
Os cortes se anunciam noutros fados.
Enfadonha manhã em solidão
E nela a bruma entorna em direção
Ao sol que jamais vira tão sombrio,
Redime cada engano? Nada disto,
E apenas por saber que ainda insisto
O tempo permanece amargo e frio.


32876

Dançando em corda bamba a vida segue
E quanto mais percebo mais atroz
Ninguém escutaria ainda a voz
Por mais que o coração inda navegue
Cerzindo a cada passo o que renegue
E sigo sem saber se existe foz,
Nadando contra a fúria, sou algoz
Do medo que jamais nada sossegue,
E tento em teimosia matinês
Aonde nada ainda o sonho fez
E quero este cenário refletindo
Platéias mais diversas, o abandono
Traçando cada passo, cão sem dono,
O mundo noutro canto repetindo.

32877

Vagando em noite fria estrela ausente
Por bares e sonhares, nada vejo
Ainda qualquer coisa outro lampejo
E morro sem saber viva semente,
A porta do futuro não se sente
E nela não se vendo o que ora almejo
O peso do viver noutro ensejo
A cor desta manhã não me apascente.
Resido no passado e disto eu tento
Vencer o que pudera em vão provento
O pensamento livre e libertário,
Algemas em violas? Nada disso
O quanto do meu canto ora cobiço
Jamais se mostraria temerário...

32878

Abraçando o caminho em pedra e espinho
Não pude contornar outro sentido
E o mundo em desafio ledo olvido
Traçando apodrecido e tosco vinho,
Mal navegando eu sei que se faz sozinho
Quem tanto se pensara concebido
Nas hordas deste mundo mais dorido
E tanto no que pude ainda aninho
Se resoluto eu busco a solução
O medo escancarado em aversão
Transcende ao que pudera ser assim,
E morro a cada noite em falso brilho
Vagando do passado ainda trilho
Servido de alimária, em botequim.

32879

Bebendo cada gole da esperança
Mordaz ou mesmo rota em rotas tantas
E quando noutro tempo te levantas
E assim o meu caminho a dor alcança
Alavancando o dia em tal vingança
Gerando com terrores velhas mantas
As horas mais felizes agigantas
E nelas sem saber o quanto espantas
O peso de um passado que não trago,
E bebo a insanidade deste estrago
E riscos vou correndo quando vivo
Brincando com palavra e sentimento
Do nada de onde venho me alimento
Portanto ainda sou servo e cativo.

32880

Dançando em noite imensa a boemia
Gerando a cada instante estrelas várias
E ainda se mostrara necessárias
Belezas onde o tempo se recria
E gera a cada mesa a fantasia
Visões que tanto podem temerárias
Mas traduzindo novas luminárias
Aonde a própria vida se recria
Filosofias tantas num boteco
E quando no meu peito bebem eco
Traduzem soluções sempre mutáveis
E a plebe noutra face mais burguesa
Vomita em perdigotos sobre a mesa
Risíveis estes pares de notáveis.

32881

Caminho em busca do vazio
Corsário coração meu comandante
Buscando a solução a cada instante
Bebendo o que deveras desafio
E se ainda não me guio
No caminho mais suave e deslumbrante
Descobrindo nos teus olhos diamante
Esqueço o que pesara e me recrio,
Embora já tardio me abençoe
Quem tanto dentro em mim ainda ecoe
A voz mais desejada e necessária
Percorro inconseqüentes mares, teimo
E sei das discrepâncias de algum cais
E vejo a transparência dos cristais
Ensandecido sonho aonde em paz me queimo.

32882

Vieste redentora ao fim da tarde
E tendo este caminho em luz sombria
Ainda nos teus olhos percebia
O quanto esta mortalha inda retarde
E mesmo que o vazio já se aguarde
Renovas com ternura a fantasia
E vivo novamente esta alegria
E nela todo o sonho que se guarde,
Vestindo em luzes frágeis, mas divinas
Com toda a provisão tu me fascinas,
Embora o tempo seja mesmo curto
Cada momento vale a eternidade
Por isso amor jamais renegue e brade
Ausência traduzindo imenso furto.

32883

Minha alma buscaria algum tesouro
Aonde nada havia sequer ilha
E tantas vezes sonhos já palminha
Tocando sem saber tal sorvedouro
E neste prematuro ancoradouro
Enquanto a dor decerto ainda pilha
Flagrante caminhar vira armadilha
E mata uma esperança em nascedouro,
Resisto aos teus encantos, mas me aposso
Do quanto poderia ser mais nosso
E assim em egoísmo não entrego,
E solitariamente em nada creio
Seguindo aos meus desejos mais alheio,
Qual fora mesmo vendo, mudo e cego.

32884

Longínquo este dobrar do velho sino
Trazendo esta notícia em que se espera
O fim ou renascer da primavera
Desenho terminal de algum destino,
E quando se pensara de menino
O pouso noutra senda não mais gera
Na forma desenhada degenera
E mesmo assim evito o desatino,
O dobre dominando o campanário
E sei o quanto este ato é necessário
Refaz a velha estrada e reacende
Luzeiro que se apaga dia a dia,
A morte quando vem e se recria
Um círculo completo a vida atende.

32885

As cinzas dominando o entardecer
Em nuvens mais espessas, noite escura,
Assim ao terminar leda procura
Entendo como fosse o renascer
Da morte feita em cores, posso ver
Realidade atroz em que assegura
Além desta colheita com fartura
A crença de um provável reviver,
Alimentando enfim uma incerteza
Da qual a se mostrar ainda presa
Uma alma já não mais consegue a paz
E quando se revolta ou mesmo aceita
No fundo ao fim da tarde ora se deita
E o resultado eu sei que tanto faz.


32886

Os cimos do arvoredo quando em vento
Dançando em novos ritmos, natureza
E assim ao se pensar outra surpresa
Retrato do que eu fui já reinvento
E mesmo sendo às vezes mais atento
Já não consigo ir contra a correnteza
E tendo no final fatal leveza
Do fardo que carrego me alimento.
Equânimes caminhos ida e vinda
O tanto poderia ser ainda
Além destas montanhas, vales, quedas.
Mas quando me renegas minha volta
Ao mesmo tempo gera esta revolta
Quando esperança em mim teimando, vedas.

32887

Lua embevecida
Toma todo o céu
Beijo cada véu
Em sorte decidida
Gerando outra vida
Vital carrossel
Assim seu papel
Desenha cumprida
E tanto pudera
Vencer o que espera
Quem não a conhece
Da luz que ora espalha
Verdade amealha
E gera esta messe.

32888

Sinto e consentes
Momentos audazes
A vida diz fazes
E nelas prementes
Destinos urgentes
Ou tanto falazes
E quando me traze
As garras e dentes
Explode a vontade
De ter liberdade
E nada pudera
Conter a ilusão
Que em pleno sertão
Inunda-se fera.

32889

Encontro o passado
Na face do quanto
Pudesse em encanto
Ditar o traçado
Mas logo moldado
Nas mãos deste pranto
O beijo; entretanto,
Com gozo e bem dado
Promete outra sina
Que tanto domina
Quanto desenfreia
Assim a proposta
Espera a resposta
E finge-se alheia.

32890

Encontro meu Deus
Nos olhos macios
Ingênuos em fios
Distantes do adeus
Momentos que meus
Vitais desafios
E risco os estios
Vencendo estes breus
Legados diversos
Traduzem os versos
E deles tentando
Notícias e ritos
Além de infinitos
Sem eira nem quando.

32891

Vestígios do que fora há tempos sonho
Uma alma sem alarma já se alarma
E quando a realidade me desarma
O quadro que anuncio eu sei medonho,
Mil locas entre tocas, eu componho,
A sorte não seria doce carma
Nem mesmo o poderio em frágil arma
Expressa o que tentara e não reponho
Do manto já sagrado da esperança
Vestindo qualquer face decomposta,
O peso do viver vergando o dia
E nele nada mais já se veria
Além do que se vira por resposta.

32892

Erguendo dentro em mim velhas esfinges
E delas desenhados seus enigmas
Aonde no passado vis estigmas
Agora não percebes ou mais finges
E tinges de ilusões os dias quando
Acordas com ternura e não me agrides
Assim talvez deveras já duvides
Do tempo noutro tempo se formando,
Audaciosamente digo não
E bebo da esperança gole a gole
Porquanto o dia a dia já me engole
As noites mais açoites não verão,
E sei da liberdade e do seu custo,
O preço a se pagar jamais é justo

32893

Vieste neste meu anoitecer
Traçando com teus brilhos minha história
E quando a lua surja merencória
O quanto do carinho e do prazer
Num outro caminhar pode verter
Mas tenho-te decerto na memória
E posso adivinhar em ti a glória
Que tanto quis um dia conhecer;
Vieste e me trouxeste nova aragem
O barco em terminal vil ancoragem
Agora com coragem tenta um sonho,
E mesmo que não seja além do cais
Momentos onde existes, magistrais
E neles o perdido em mim reponho...


32894

Amor tem destas coisas sopra e morde
Depois fazer alardes, para que?
No fundo neste sonho não se crê
Por mais que o dia a dia me recorde
Açodam-me diversas emoções
E tento disfarçar ou mesmo luto
E quando se vestindo em claro luto
Do quanto nada posso e tanto expões
Aonde esta mortalha em mim tivera
Grisalhos tons ditando a fantasia
O amor noutro momento nasceria
Gerando a juventude e a primavera,
No olhar quase outonal, o fim se vendo
Porém uma alma nova renascendo.


32895

Embora temporã fruta se veja
E nela mais sabor eu acredito,
O tempo que me resta é tão finito
A vida inda somente relampeja,
Mas quando me entregando de bandeja
Pensando noutro tempo mais bonito
Repito a eternidade, em mesmo mito
Ainda quando a vida se negreja.
Não quero acreditar e não consigo
Vencer o meu constante desabrigo
Com mansidão exposta num olhar
Felicidade, ocaso de minha alma?
O vento terminal que tanto acalma
Jamais eu poderia imaginar.

32896

Redimes com ternura meus tormentos
E beijas com palavras o meu ego,
Ainda no vazio se navego
Percebo a mansidão dos velhos ventos,
Mas busco com loucura tais momentos
E tento prosseguir e já me entrego,
Porém a palidez que ora carrego
Expressa discordantes pensamentos.
Viver e não pensar no que se tece?
Ao velho coração nunca obedece
Quem sabe as artimanhas e armadilhas,
O fogo nos teus olhos, teu sorriso
Embora tão tardio um paraíso
Na justa intensidade em que tu brilhas.

32897

Soterrado por tantos tempos idos
E neles outros dias não veria
Quem sabe conservar a fantasia,
Mas sabe controlar os seus sentidos
A noite em profusão, loucos gemidos
Agora será mansa ou mesmo fria
E tanto renovar-me bem queria
Rever elos decerto já perdidos,
Alheio ao que pudesse ser enfim,
Somente por saber deste jardim
A vida traça cores mais viçosas,
Ao acordar dos sonhos, trevas tantas
E quando me percebes não te espantas,
As sortes são deveras caprichosas...

32898

No todo que pudesse ainda haver
Um resto de emoção tomando tudo,
E quando no passado ainda iludo
Não posso meu futuro converter
E sei que pouco tempo hei de viver
E nada mais deveras inda mudo
Usando a fantasia como escudo
Jamais conseguirei, pois reviver
Momentos onde a sorte semeara
Tocando com furor rara seara
E agora não prossigo em tal relento
O amor tardio tem sempre dois gumes
E quando pouco a pouco te acostumes
Terás como uma herança o sofrimento.

32899

Abandonado barco neste porto
Deixando o que vivera em oceanos
Assim ao se mostrarem tantos danos
Restando tão somente o desconforto,
No todo imaginário viro aborto
E os dias seriam mesmo desumanos
Se ainda perfizesse novos planos
Porém se para a vida eu sei já morto
Intentos não seriam confrontáveis
Com toda a realidade em nua face
E ainda que ilusões o tempo grasse
Os ermos que virão inevitáveis,
Saber do encanto raro em que me entrego
E não ver nada além é morrer cego.

32900

Infielmente busco algum destino
Imerso nas diversas tentações
E nelas encontrando direções
Aonde com certeza me alucino,
O tanto que pudesse já domino
Ou beijo novamente tais verões
Sabendo das diversas estações
O pouco vale o templo cristalino?
Oásis redimindo a caravana,
Mas como esta miragem tanto engana
De uma água mais potável, o veneno
E assim se fosse outrora tentaria,
Porém a noite apaga a luz do dia
E morre com terror neste sereno...

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