quarta-feira, 19 de maio de 2010

33301 até 33350

33301

A noite eterna dorme junto a mim
E bebe meus respiros finalmente
E quando o derradeiro se pressente
Retornando ao começo vejo enfim
Compartilhado encanto e sendo assim
O tanto que pudesse em penitente
Caminho noutro rumo não se ausente
E mostre este cenário sem ter fim,
Ao passo de que tanto fosse etéreo
O corpo novamente diz minério
Mistérios insondáveis da existência
Pudesse acreditar no renovado
Destino feito em fúria medo enfado
Ainda que se mostre em vã ciência.


33302

Ser filho da inorgânica verdade
Gerada logo após combinações
E nelas entre tantas direções
A que traduza a vida em realidade,
Somando com o sopro que ora invade
Composto das dispersas podridões
E nelas entre tantos vãos senões
Certeza do que agora se degrade,
E volte noutra cena, vida ou nada,
E toda história agora renovada
Porquanto desta morte me alimento
Enquanto alimentando com a morte
O mundo noutro espaço, ou nova face,
Assim do variável caminhar
Entranho novo tempo a divagar
Eterno renascer que em terra grasse.

33303

Aonde abandonara este reinado
Deixando como herança esta carniça
A vida com total, plena justiça
Já tem outro caminho bem traçado
E tendo em minha morte o abençoado
Momento aonde a vida plena viça
A sorte sendo mesmo movediça
Tramando o que já fora antes tramado
Eternas mutações prenunciando
O que talvez pareça mais nefando,
Mas ressurgindo após este aparente
Final transforma em cor mais coerente
Mortalha representa esta brandura
Na qual a própria vida se perdura.

33304

Cansado, nesta morte que ora provo
Refaço a caminhada em outra forma
E assim do quanto a vida me transforma
No luto simplesmente me renovo,
E todo o reviver quando eu aprovo
E sinto inevitável esta norma
Da qual a própria sorte nos deforma
Jamais eu poderia nem reprovo,
Por ser eternamente assim solúvel
O mundo noutra face é tão volúvel
E gera do já sido o que virá
Jazigo representa no nascedouro
E trama da mortalha este tesouro
Sabendo desde sempre o que sei já.


33305

Da espada em cortes vários, duo gume
Tramando a fonte aonde se sacia
A morte com suprema alegoria
Chegando deste abismo ao próprio cume,
Por quanto renovável me acostume
A ser imagem viva e até sombria
Do quanto a mesma história se recria
Apenas variando o antigo lume,
Não seja só retórico o que digo
Enquanto na mortalha vejo o abrigo
E dele se refaz a mesma senda
Aonde novo tempo se desvenda
Gerado pela ausência do presente
Totalidade então já se pressente.

33306

Meu corpo lasso mostra em tais relances
As variantes todas e se eu tento
Vencer a natureza do rebento
Aonde com teu luto já me alcances
A vida refletindo novos lances
E assim ao perceber que sou provento
E desta mesma face me alimento
Enquanto noutra tez, vários nuances
Matizes mais diversos da verdade
No quanto a cada dia se degrade
E ainda se refaça em dor e riso,
Sou éter e acredito ser preciso
A morte para a vida se fazer,
No túmulo percebo o renascer.

33307


Entrego-me sem luta ao vário luto
Aonde na verdade se repõe
O quanto a própria vida se propõe
E assim já sem defesas não reluto,
O que pareça ser deveras bruto
No quanto em morte a vida se compõe
Enquanto o corpo sempre decompõe
Apenas na verdade enfim permuto.
Audaciosamente sei do fim
E nele o recomeço do jardim,
Adubo feito em mortes, podridão,
E sei que sou escombro e mesmo escória
Ao fim do jogo sempre há tal vitória
Aonde se perfaz renovação.

33308

Pudesse ser romântico e gerar
Ainda um sonho ou mesmo a fantasia,
O verso noutro tom já se faria
E nele derramando algum luar,
Mas quando me percebo a naufragar
Sem ter sequer a sombra da utopia
Verdade a cada ausência se anuncia
E perco os devaneios devagar,
Falasse de ternura e de paixão,
Mentisse e palavra e coração
Mas sei quanto seria falso o verso,
E tento imaginar outro planeta,
Porém quando em vazia se arremeta
Meu canto se mostrara mais diverso.


33309

Nas tantas ilusões que alimentara
Porquanto a vida faz de algum poeta
Imagem bem diversa ou incompleta
Moldando com loucura uma seara,
Mas quando a realidade desampara
E o verso se mostrando como a seta
Usando a realidade como meta
A noite em tais neons se faz bem clara,
Mentindo ou mesmo até já me omitindo
Meu verso que pudera ser mais lindo
Não deixa qualquer sombra da verdade,
Não quero me iludir, mas se me ilude
A vida noutra face em juventude
O mundo por si mesmo me degrade.

33310


Já não suportaria a realeza
Dos débeis caminhares vida afora,
O quanto do vazio me devora
Não tendo outro caminho, em incerteza
A vida na verdade não mais preza
Quem tanto poderia e desde agora
Riscando cada rua se demora
E tenta adivinhar qualquer beleza.
Surpreso com meu ato eu desafino
Coloco toda a culpa no destino
E sei que na verdade é só falácia,
Jamais existirei, mas não desisto,
Falando sobre tudo aquilo, ou isto,
Perdoem pela torpe e insana audácia...

33311

A par do que pudesse ser um barco
Vagando em noite escura, na amplidão
Eu vejo a mais comum constelação
E assim com meus defeitos eu sempre arco,
O tempo de viver embora parco
Não deixa que se veja a direção
E perco desde sempre a embarcação,
Usando da palavra como um marco,
Teimando ser poeta num país
Aonde se mostrara um infeliz
Caminho entre temáticas dispersas
Assim ao me mostrar um dom Quixote
Por quanto noutro encanto se desbote
Já não mais ligo enfim para conversas.


33312

Percebo cada curva do caminho
E nela se fazendo a capotagem,
Ao completar em paz minha viagem
Bebendo a solidão, incrível vinho,
No todo que procuro vou sozinho
E nesta solução sem ancoragem
Pudesse ter ao menos a coragem
De ter em minhas mãos algum caminho.
Procuro qualquer tom que ainda trace
O quanto se mostrara noutra face
E sei que não virá mais um momento
Sequer aonde tudo poderia
Vencer a mais sofrível heresia,
Porém sem tal freqüência não lamento.

33313

Ouvindo a voz do mar em noite escura
Sabendo do passado sem sereia
O temporal invade toda a areia
E nem sequer minha alma se procura,
Aonde com terror dita amargura
Nem mesmo este vazio me incendeia
Enquanto a realidade não pranteia
A face desnudada já me cura.
Mandando a poesia às favas tento
Viver ao menos paz em sentimento
E quando não pudesse ser assim,
Quebrando esta viola, tiro as cordas
E quando do passado inda recordas
Não quero mais saber da lua em mim.

33314


O pote se entornando a cada gole
E tudo se transcorre sem cansaço
Aonde poderia estar mais lasso
Verdade volta e meia tenta e bole,
Enquanto a fantasia não engole
Esgoto o meu caminho aonde eu traço
Vencendo a solidão, cruel espaço,
Sem ter sequer a lua que console,
Resisto quanto posso e mesmo assim
Na ausência ou na aridez deste jardim
Eu beijo a tempestade que me agrade,
E tento com ternura ser feliz,
Embora tantas coisas já desfiz,
Não resta do passado claridade.


33315


Procuro novo amor pelo infinito
E tento desvendar qualquer mistério
Aonde poderia ser minério
E tento novamente novo grito,
Riscando cada sonho, sigo aflito
Pudesse ter caminho menos sério
E quando me pergunto sem critério
O peso do viver, diverso mito.
Restando cada instante do que um dia
Pensara ser suave a sorte urdia
Momento mais austero ou mais feliz,
Não pude ter a sorte aonde o tempo
Gerado pelo medo e contratempo
Não faço e nem percebo o que se quis.


33316

Buscando nas estrelas nossa cama
Riscando cada estrada rumo ao quanto
Amor pudesse desvendar e ainda canto
Enquanto a própria sorte se reclama
E a vida não refaz o velho drama
Condena-se deveras ao meu pranto
E quando na distância me adianto
A velha fantasia ainda chama,
Escrevo e tão somente por tentar
Vivenciar ainda algum lugar
Aonde a liberdade se apresente,
Por quanto poderia ser assim
O mundo se evadindo ora de mim,
Imagem de um momento em paz? Ausente...

33317

Amor que te prometo, mais bonito
Do quanto poderia ser aquele
Aonde toda a sorte já se atrele
E trace noutro sonho, este infinito,
Mergulho e quando mesmo tento ou grito
No todo que tampouco se revele
Destino se mostrando ainda sele
No vago caminhar, intenso mito,
Borbulha dentro em mim em lava e fogo
E sei que na verdade noutro jogo
O mundo se perdera sem um traço
Do quanto poderia ser ainda
E quando a realidade se deslinda
Não dou para o infinito mais um passo.

33318


Acende sem ter pressa, brasa e chama
Teimando em velhas fráguas do passado,
O verso noutro tanto abandonado
E a verdadeira face já reclama
Aonde se fizera turva trama
O medo se tornando em tal enfado
Gerando um canto vão desesperado,
Perfaz outro caminho, novo drama.
Resquícios costumeiros de quem vê
O mundo sem saber de algum por que
E segue sem destino rumo à morte
Quem sabe novamente ainda existe
Um tempo mais feliz aonde triste
Não vejo quem deveras me suporte.


33319


Amor que não permite mais meus erros,
Jamais reconhecendo alguma luta
E quando a solidão não mais reluta
E vejo bem mais próximos desterros,
Ainda cometendo em vários cerros
Os tempos onde tanta força bruta
Pudesse convencer uma alma astuta
E nela se traçar novos aterros,
Respiro e novamente busco a fonte
Aonde todo o canto já se aponte
E mostre a solução bem mais tranquila,
Por vezes solitário caminheiro
O passo sempre atroz e traiçoeiro
No amor que em fúria e ódio se destila.

33320



Pois sabe que de amar errei demais
E tudo não passou de falso brilho
Enquanto houvesse ainda um empecilho
Os dias não seriam mais normais,
Quebrando da esperança seus vitrais
Eu sigo sem destino este andarilho
E quando noutro tanto ainda trilho
Bebendo os meus fantasmas germinais,
Volvendo aos meus rincões velhas resenhas
E quando no futuro ainda empenhas
As senhas esquecidas não mais quero,
O fardo de sonhar custando tanto
E ainda se pudesse mesmo canto,
Embora saiba ser tão insincero.


33321

Escuto a minha voz em noite escura
E nada mais responde a quem reclama
Ainda não se vê deveras chama
Aonde toda a vida se procura,
O fardo se acumula e já perdura
No quanto poderia ser um drama
A vida novamente diz da fama
Da morte delicada e me assegura
O fim do caminhar em tanta estrela
Ainda já não posso mais revê-la
Nem mesmo isto eu pretendo, digo adeus,
E sei dos meus momentos mais felizes
Agora tão somente cicatrizes
Dos dias que pensara serem meus...


33322

Jargões de um tempo aonde quis possível
Vencer com calmaria a penitência
E não sabendo mais desta inocência
Que ainda se pensara ser incrível,
O mundo derrotado noutro nível
Encontra no final a providência
E tendo da esperança esta ciência
Pensara noutro tempo ser plausível,
Mas quando a morte toma toda a cena
O quanto ainda possa e não serena
Reduz o meu caminho ao mesmo nada
Aonde perfilara este vazio
E tento enquanto mesmo desafio
Vencer esta partida desolada...

33323


Tantos tons repetidos pelos usos
Dos dias entre trevas e sonatas
E quando noutro tanto me maltratas
Percebo com certeza tais abusos,
E os dias serão sempre mais confusos
As noites em terror jamais tão gratas
Ao mesmo tempo vejo estas cascatas
E nelas diferentes, vários fusos,
O beijo amaldiçoa e não redime,
E quando se perfaz de um sonho o crime,
Resumo noutro verso o que eu queria,
De tantos sortilégios convencido,
O mundo noutro tanto resolvido
Gerando a mais sofrível fantasia.


33324

Porquanto tanta dor já se acumule
No peito de quem quis ao menos ver
O mundo noutra face e em desprazer
Apenas o vazio se estimule,
Bebendo cada gole deste bule
E nele nada posso até saber
O pantanal costumo reviver
Ainda que o terror venha e cumule
O passo de quem fora mais audaz
E sabe da verdade em que se faz
O resto da canção, agora ausente,
Gestando a tempestade onde pudera
Viver a derradeira primavera
Hiberno mal o frio se pressente.

33325

As ninfas entre rios, mares, praias
E os ventos das manhãs tocando a pele
Assim ao quanto quero me compele
O levantar suave destas saias,
Mas nada do que dizes quando saias
E tentes contornar o que congele
Minha alma noutro tanto não se atrele
Nem mesmo ainda quando tu te espraias,
Residualmente eu vejo este cenário
Embora saiba sempre temporário
O canto em que mergulho meu vazio,
Chapadas e montanhas, mares, vales
E tanto quanto ainda teimes, fales
Mantendo o meu caminho mais sombrio.


33326


Amando quem quisesse ou poderia
Traçar alguma luz, mesmo que insana,
A voz enquanto toca e desengana
Gerando noutro tanto esta heresia
Na qual a solidão dita a alegria
E trama a serenata mais profana,
O peso do viver jamais empana
Profunda e mais superna fantasia.
E sei do quadro exposto em falsa tela
Na sensação dispersa se revela
A face sem caráter deste amor,
Risível tal bufão, torpe figura,
Do quanto nada vale se assegura
Gestado num momento de terror.


33327

Adentro a madrugada em poesia
E tento disfarçar o que suporto
E quando a realidade ainda aborto
Audaciosamente se recria
A face mais escusa em sintonia
E nela com terror aqui aporto
E quando ao meu passado eu me reporto
O tempo novamente já se esfria,
Mereço alguma chance? Nada disto,
O peso pelo qual ainda insisto
Vergando com terror o que pudesse
Vencer a tempestade sendo calmo,
Minha alma se percebe em velho salmo
E tenta renovar a antiga prece.


33328


Ainda sem saber do quanto deve
Viver quem não consegue outra paragem,
Revivo a cada ausência esta miragem
E dela este relance bem mais breve,
No quanto um passo em falso a alma atreve
Bebendo com ternura nova aragem,
O coração buscando uma ancoragem
Já sabe do caminho agora leve,
Poeiras estrelares, ventos tais
E neles outros dias magistrais
Em meio aos meus temores contumazes,
E sei que se ainda fosse mais comum,
Do todo que desejo sem nenhum,
Ao menos o vazio tu me trazes.


33329

Olhando para estrelas mais distantes
Buscando cada raio aonde eu possa
Viver esta ventura tua e nossa
Momentos do passado fascinante,
E quando no vazio te adiantes
Mergulho no passado em dor e fossa,
O quadro decomposto não remoça
Tampouco dias claros e brilhantes,
Espero qualquer chance e não mais creio
Ainda sigo assim quem sabe alheio
Ao todo que inda agora eu profetizo,
Aonde houvesse lua ou mesmo sol,
Tomando com horror todo arrebol,
Apenas resta em mim frio e granizo.

33330


Amando sem saber sequer do vento
E não podendo andar em temporais,
O verso se mostrara em faces tais
Gerando ainda assim o desalento,
No quanto poderia ou mesmo invento
Sabendo tão distante porto e cais
Esboço novos dias e banais
Caminho me mostrando o sofrimento.
Ao ponto de partir e não voltar,
Toando bem ao longe devagar
Sonatas entre sons maravilhosos,
E os dias poderiam ser melhores
Assim ao se sentir fartos suores
Espinhos destroçando velhas rosas.

33331

Quem tanto neste sonho se perder
E crer noutro risonho tempo esboça
A face desdenhosa e em plena troça
Jamais conseguirá se perceber,
O quanto do caminho eu pude ver
No todo quando a vida não endossa
Caminho sem destino, a sorte roça
E bebe em desatino algum prazer
Negar a minha face noutra enquanto
Ainda me mostrasse em tolo canto
Resolvo a cada ausência as minhas teimas,
E vestes com terríveis faces turvas
Enquanto as esperanças inda curvas
E noutra madrugada tentas, queimas...

33332


Nas asas deste amor mais envolvente
A face carcomida da verdade
No pouso que deveras desagrade
Ainda noutro tanto se aparente
Momento mais audaz já não se sente
Diverso que tento em claridade
Apenas mergulhar na liberdade
O quanto do viver não mais ausente.
Jogado sobre as pedras, nada sinto
E o todo que pudera ainda extinto
Mesquinharias geras com sorrisos,
Acumulando a vida sem resgate
No todo que porfia onde combate
Os dias serão sempre em prejuízos.

33333


Verá que encontrará no mesmo ser
Dicotomias tantas e tenazes
E quantas vezes mesmo te desfazes
Ao festejar apenas desprazer,
O parto sonegado pode ter
Momentos mais doridos ou mordazes,
A vida se refaz e nestas fases
Já não consigo mesmo conceber
O corte incomparável desde quando
Meu mundo no vazio se formando
Promete este arremesso rumo ao nada,
De um lírico sonhar já nem pedaço
E quando novamente eu me refaço
A história que eu vivera degradada...


33334



A boca que mordendo, sangra e mente
Mostrara noutra face mais risonha
E agora ao quanto pode e se proponha
Não deixa que se veja sequer dente,
O corte se aprofunda em minha mente
E toda a velha senda mais bisonha
Translúcida verdade é tão medonha
E quanto mais se quer vejo descrente.
No tétrico caminho aonde pude
Perder o que restara em juventude
A morte se aproxima e sendo impune
Sorriso amortalhado dita o rumo,
Aos poucos no vazio se eu me esfumo
A vida nega ainda prumo e lume.


33335

Não mais que certas coisas na lembrança
Ainda poderia imaginar
Quem sabe das loucuras do luar
E a cada nova trama outra mudança
Vestindo inutilmente esta aliança
Rasgando o que pudesse decorar
Morrendo sem defesas, devagar,
O peso destruindo esta balança
Acasos entre casos, não mais quero
E sei que tanto posso ser austero
Sinceramente mordo qualquer isca,
A sorte noutra face desmembrada
Traduz a imensidão do mesmo nada
E toda esta esperança se confisca.


33336

Guardei do que desprezo; me deixaste;
A sombra mais atroz que inda pudesse
E tendo todo o nada se oferece
Apenas o vazio por contraste,
Não passo deste mero e vago traste
E quando a realidade nega a messe,
O peso do passado fortalece
O quanto representa este desgaste.
Um néscio caminheiro do vazio,
O pântano que existe ou mesmo crio
Sinal da realidade que se toma
Brumosa madrugada em luz sombria
Ao menos sonegando a poesia
Deixando-me decerto em medo e coma.

33337


O vento que trazia essa mudança,
Jogado pelos ermos do passado
E neste quadro amargo ou desvendado
Ainda no momento em que se lança
Resgato qualquer forma de aliança
E teimo contra tudo, sonegado
Caminho aonde bebo o já traçado
Vazio pelo qual a voz alcança
O fim de cada história ou recomeço
E sei quanto demais tal adereço
Vestido por bufões, nada diria
Capacho do que um dia fora amor?
Já não consigo o canto redentor
Nem mesmo quero ainda esta alegria.


33338




Se avança rebentando uma fina haste
O passo rumo ao pútrido final,
Colosso que entra em cena terminal
Ainda que a verdade sonegaste,
O peso do viver não mais desgaste
O quadro sem saber de outro degrau,
Risível caminheiro em temporal
Pereço quando o rumo me negaste.
Partícipe do sonho mais audaz,
Escrito nas estrelas, no infinito
E quando ainda tento e mesmo grito
Ninguém me escutaria, e tanto faz,
Restando tão somente esta vergasta
Que o tempo com terror ainda gasta.



33339


Isento dos percursos da paixão
Não vejo mais a sombra do que um dia
Vestida com sofrível fantasia
Negara qualquer chance ou direção,
E vejo desta vida ou senão
E nela toda a sorte não recria
O mundo feito em fardo ou agonia
Vagando sem saber sequer do chão,
Escuto a voz sombria desta noite
E tendo em minhas mãos, a dor e o açoite
Esbarro no caminho já traçado,
E beijo cada instante que virá
Sabendo da alegria aqui ou lá,
Tentando vencer sempre meu enfado.


33340



Escrevo meu futuro em teu passado.
E sinto que não posso mais singrar
Os oceanos torpes nem pensar
No vaso há tanto tempo já quebrado,
A música se ouvindo lado a lado,
A sorte molda ainda algum luar,
Mas tudo foi mudando de lugar
Até já não se ver qualquer traçado
Do mundo desenhando em utopia
A porta na verdade trancafia
E gesta apenas dor onde pudera
Vestir com delicada precisão
Mostrando novo rumo ou intenção
Apascentando em mim ternura e fera.

33341


Dançando nas esferas, céus e luas
Vagando sem destino este cometa
Aonde a minha sorte se prometa
E bem mais forte sempre vens e atuas
Palavras delicadas, minhas tuas,
Diversa da verdade em que se veta
A senda desejada e se arremeta
Deixando estes sinais em plenas ruas.
Resisto o quanto posso, mas eu sei
Do todo que decerto eu entranhei
Em cada parte exposta, vida e corte,
E assim sem medo ou pejo eu me preparo
Sem saber de mais aporte ou anteparo
Tornando mais suave a minha morte.


33342

Não consigo pensar mais no que possa
Viver esta alegria se não vens
E quando esta saudade toma os bens
Uma alma sem destino não remoça
Sabendo da vontade tua e nossa
E nela se perdendo bondes, trens
Os dias entre faces não convéns
E me convences do vazio aonde roça
A pele com ternura em faca e adaga,
Ao mesmo tempo luz entranha a chaga
E o formato não resiste ao que pudesse
Sentir outro momento mais feliz,
Enquanto a realidade já desfiz
Não resta mais sentindo em qualquer prece.


33343

Falenas procurando no luzeiro
O brilho suicida em que se entranham
E quando noutra face pensam ganham
O tempo se mostrara derradeiro,
Assim ao me encontrar aonde inteiro
O peso do viver aonde lanham
As facas costumeiras e me arranham,
Eu beijo este cenário aventureiro
E sei do que pudesse ser diverso
Do mundo aonde tento e me disperso
Usando cada verso como uma arma,
A porta se fechando atrás de mim,
Negando cada instante de onde vim
Mudando totalmente rumo e carma.

33344

A sorte muda instantes e trafega
Por ruas entre esquinas botequins,
E quando se perdendo os meus jardins,
A vida renegando alguma entrega,
No pouso aonde tento e se sonega
Os meios revivendo velhos fins
Pudesse acreditar em querubins
Mas a alma continua sempre cega.
Não posso mais ouvir sequer a voz
De quem se perde e busca noutros nós
O desenlace tolo em desengano,
Resisto o quanto eu posso, mas retrato
A vida noutro instante ou mesmo fato
Gerando tão somente perda e dano.


33345


Legando qualquer sorte a quem se fez
Ao menos um poeta, um sonhador,
O fardo que carrego em trama e dor,
Não pode mais gerar a sensatez
E quando se perdera a lucidez
O gesto deste insano sofredor
Mudando todo o céu, furtando a cor,
E nele o que pudesse em altivez;
Assim ao penetrar no meu passado
Vestindo o mesmo terno amarrotado
E dele se fazendo rotas cenas,
A morte não renego e até seduz,
Aonde noutra face vira a luz,
As sombras se mostraram vis, apenas.

33346

Conforme esta coberta que me trazes
O mundo não traria outra alegria
E o vento dissipando a fantasia
Permite madrugadas mais mordazes,
E sinto sobre mim velhas tenazes
Cortando a minha pele em agonia
E tudo o que restara ou restaria
Não deixa que se vejam novas fases.
O dia anunciando esta tristeza
E nela cada gole sobre a mesa
Deixando demarcado dentro em mim
A fonte não se cansa e não se alcança
A morte do que fora uma esperança
Desfaz qualquer florada em meu jardim...


33347

Bebendo deste copo em tons amargos
Os versos não seriam mais felizes
E quantas vezes tanto nada dizes
E geras solidões cruéis embargos,
Os dias que pensara bem mais largos
Gestando as mais antigas cicatrizes
Tocados pelas pernas em deslizes,
Resistem inda velhos tolos cargos,
E sei do quanto posso ainda crer
Matando esta alegria eu posso ver
A face mais medonha da verdade
Que ainda sem defesas toma a cena
E quando a realidade se faz plena
Até o próprio sonho desagrade.


33348


Não pude conceber a festa aonde
A porta se trancara há tantos dias,
E quando se pensara em melodias
O mundo noutro tanto já se esconde,
E o peso do viver não me responde
E deixo para trás as alegrias
Matando com terror alegorias,
Perdendo desde sempre trem e bonde.
A face mais audaz da realidade
Entranha e me desarma e desagrade
Aquele que se faz em noite vã,
Procuro algum sinal do que pudesse
Viver outro momento ou mesmo a messe
Servindo de alimária sem manhã.


33349


A banda dos meus sonhos noutra banda
Gerando contrabando da esperança
E quanto a realidade toca e dança
Nem mesmo esta saudade já desanda,
E posso acreditar enquanto se anda
Vagando sem destino em aliança
E tudo o que deveras já se alcança
Não justifica mais qualquer demanda.
Escrito neste lume pirilampo
No tempo que virá já não acampo
E bebo este enfadonho caminhar
Restando qualquer sorte aonde um dia
Pudesse acreditar e não viria
Tampouco qualquer sombra do luar.


33350

Jogando pelas ruas corpos mortos
Nada tendo senão este retrato
E quando outro homicídio enfim contrato
Gerando novos dias velhos portos,
Os cantos se acumulam seres tortos
E neles cada dia dita o fato,
Renego a mansidão deste regato
Gestando dentro em mim novos abortos
E sei deste vazio em noite escura,
A bala desferida me assegura
O quanto poderia ser ainda
Melhor realidade em faca e farpa
A vida noutra senda velha escarpa
A face do que somos se deslinda.

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