terça-feira, 25 de maio de 2010

34001 até 34050

34001

Ecologicamente estar correto
Pagar os meus impostos, ser leal
Seguindo o dia a dia sempre igual
No fardo e no carinho eu me completo,
Senzala se mostrando em predileto
Verão aonde em traje ritual
Mergulho na piscina de cristal
E bebo o mesmo açúcar, o mais dileto,
Um copo de cerveja um bar à noite
A moça me servindo em vão pernoite
Riscando cada dia assim do mapa
A vida passa e nada de surpresa
Levado pela infame correnteza
Até chegar ao fim, na fria lapa.

34002

Não posso me omitir, mas mesmo assim
Prefiro me calar perante ao fato
Se nele na verdade eu me retrato
Um rato do passado em botequim,
Bebendo deste farto e torpe gim
O beijo noutro tanto não resgato
E quando me percebo, um pardo gato
A noite se aproxima de seu fim.
Opaca realidade dita a norma
E nada do que passa a vida informa
Senão esta mortalha em riso e gozo,
Assim de tempo em tempo o temporal
Prepara mais um tombo, outro degrau
Final se aproximando majestoso?

34003


Encontro o mesmo bar onde se esconde
A ponte com passado e morto eu venho
Sentir o fundo corte, imenso e tenho
Ligando com a vida o velho bonde
Porquanto a cada passo não sei onde
Ainda se mostrara em vão empenho
O frágil caminhar ou desempenho
Tocado pelo quanto não responde
E sei que existe ainda em erma senda
Sem ter sequer quem queira ou chegue e atenda
O telefone chama e se repete
O fato costumeiro em tom nefasto
Enquanto do futuro já me afasto
Menino mais traquinas pinto o sete.

34004

Num beco sem saída a vida apronta
E sei do quanto posso ou mais pudera
O vento da soturna primavera
Brincando vez em quando faz de conta
A mesa noutro canto sinto pronta
E sei do vendaval que inda tempera
O corte quando muito regenera
A face desta espúria e velha tonta
Manhã por onde escapa a fantasia
Bebendo desta fonte que inebria,
Mascaro o que inda resta deste pote,
E teimo contra tudo e contra todos
Sabendo de armações, tantos engodos
Sem ter sequer aonde o bem esgote.

34005

Saveiros entre mares revoltosos
Apenas o meu cais não se apresenta
Assim ao enfrentar cada tormenta
Em dias mais difíceis pedregosos,
Meus medos em carinhos majestosos
Ou face sem disfarce se apresenta
E quando novo passo a vida tenta
Os dias nãos seriam enganosos.
Chafurdo no meu ego e busco ver
Retrato tão cansado e nele ter
Realidade exposta nua e crua,
O tempo coletando velhos danos
Mudando vez em quando antigos planos,
Porém a sorte volta contra e atua.

34006

Fazendo outro soneto eu tento ainda
Ver fatos entre sonhos e mentiras,
E quanto mais deveras tu me atiras
Maior a minha sorte e o tempo brinda,
Vencesse o que me resta e não deslinda
As vidas entre mortes, rotas tiras,
Mesquinharias tantas noutra miras
Aos poucos minha história já se finda.
Resolvo os meus problemas, bebo a fonte
E nela cada dia mais se conte
Até chegar ao quanto ou nada além,
A porta se fechando a cada passo
O vento aonde tento e me desgraço
Falar deste passado sempre vem...

34007

Jornadas entre trevas e fornalhas
As ondas de meu mar são mais imensas
E quando no vazio ainda pensas
Ou mesmo sobre o nada inda batalhas
Expondo as mais complexas cordoalhas
E nelas ou deveras recompensas
As sortes se traçando em vãs e intensas
Mordidas que deveras inda espalhas
Reveses costumeiros, dia a dia,
O porte da verdade não seria
Sequer a menor sombra do que sonho,
Eu tento vicejar o morto fato
Do qual a cada ausência me resgato
Regato aonde o corpo exposto ponho.


34008

Levado pelo vento da esperança
Girando o catavento da emoção
No porto mais diverso, a solidão
Ao mar imenso e vago já se lança
Resolvo cada fato nesta lança
E beijo sem destino ou direção
A frota se perdendo sem timão
Nem mesmo resta a sombra da lembrança
De um dia mais feliz ou mesmo quando
Bebera neste cálice nefando
A paz que desejara e nunca vinha,
Cobrando no silêncio a minha morte
O quanto do vazio me comporte
Traduz a produção da fútil vinha.

34009

Quisera ter de vós ainda o gozo
Na boca espumas tantas; rios ritos
Os dias não seria mais finitos
Nem vossa maravilha o majestoso
Brinda em tempestade este espinhoso
Desejo aonde teimo contra os gritos
Insanos dos defuntos, velhos mitos
E neles outro dia caprichoso.
Resisto às novidades, ancião
Meu peito não tem vaga pro futuro
E quando no cenário vão procuro
Vestir a mesma face do bufão,
Erguendo ainda um brinde ao que pudesse
Servir-vos, com certeza me apetece.

34010

Em tantas estelares maravilhas
Ourives dos segredos mais diversos
Ao ter nas mãos os olhos teimo em versos
Falando das antigas armadilhas
E quando novamente ainda brilhas
Rezando pelas mãos de outros imersos
Vergando sob o peso dos dispersos
Sonhares percebendo mesmas trilhas
E nelas se perfaz a caminhada
Percorro inutilmente a madrugada
E tento vislumbrar possível cais,
Mas quando se percebe ausente aurora
O fardo sobrepesa e me devora
Do sol que imaginara, nem sinais...


34011

Acaricia o tempo, coração!
Jogado pelos cantos vai em frente
E tenta conseguir, mesmo freqüente
O passo rumo em nova direção
O boteco da esperança, solidão
O fardo da existência sempre agüente
E tanto quanto possa ainda tente
Vencer as diferenças da estação
O medo de sonhar, deixa de lado
O quanto se pudesse noutro prado
Vestir as emoções de um tempo bom,
Resista aos mais diversos pensamentos
E tente contornar os tantos ventos
E aumente se possível sempre o som.

34012

Viver o que pudesse em dia a dia
Deixando os sortilégios para trás
E quanto mais procuro mais desfaz
O peso do que possa a fantasia,
O jeito é contornar com melodia
O passo mais terrível e ou mordaz
Assim sendo cruel, porém tenaz
A morte de viés o tempo adia,
Cerrados entre sonhos vasos, versos
E neles prosseguindo entre dispersos
Caminhos na procura por descanso,
Pecado é mergulhar neste vazio
E quando mesmo busco ou já recrio
O tempo mais feliz sequer alcanço.

34013

Renovo a cada dia o fato e o fardo
E sei o beijo amargo do que fora
No tempo mais audaz a sofredora
Manhã buscando sempre o mesmo cardo,
O passo na verdade até retardo
E tento nova fonte sonhadora,
Uma alma sem juízo e pecadora
A cada nova sorte outro petardo,
Abaixando esta guarda nada vem
Perdendo sem saber deveras trem
O vento sem proveito, a sorte é grande
Sevícias costumeiras, dores pranto
E quando novo tempo tento e canto
O mundo sem saber busca e comande.

34014

Boiando como fosse costumeiro
Jorrar entre estas pútridas verdades
E tanto quanto possa inda degrades
Rompendo este caminho assim me esgueiro
E venço com terror cada porteiro
Tentando destruir diversas grades
Dos sonhos já não tendo variedades
Além dos velhos tantos mensageiros
Façamos do presente outro momento
Aonde com destreza teimo e tento
Vencer os meus antigos temporais,
E sei que muito além se inda pudesse
A sorte desdenhando qualquer prece
Premissa de outros velhos carnavais.

34015

Arcando com enganos cada vez
Que tento procurar felicidade
Eu sei do quanto possa e já degrade
O mundo onde deveras nada vês
Porquanto se fazendo em altivez
O gesto mais profano em qualidade
Diversa da quanto mais te agrade
Passado neste instante tu revês
E sabes muito bem a conseqüência
Do passo dado em fúria ou eloqüência
Mordendo cada dia do futuro,
E assim entre botecos e aguardentes
Os dias se mostraram mais urgentes
E o todo na verdade te asseguro.

34016

Escudos que criaste por reflexo
Quixotes disparando disparates
E quando noutro tanto me retrates
Perdendo cada verso qualquer nexo,
Eu sigo e sei apenas ser anexo
Ao quanto desejara e não contrates
Nem mesmo se pudesse em teus resgates
Vencer o meu antigo e vão complexo,
Eu tento discernir diversidade
Aonde cada dia desagrade
Quem tenta e não consegue nada além
Do medo ou do repente noutro tanto
E quando se buscasse sem encanto
Apenas o vazio ainda vem...

34017

A sina se repete vez em quando
E tudo refletindo este vazio
E nele quanto tempo desafio
Bebendo cada sorte ou sonegando
O gesto noutra face se mostrando
E todo o meu caminho até recrio
Vencendo o contratempo ou mais vadio
O velho coração se transtornando.
Vontade de chorar e não sabendo
O quanto desta vida diz adendo
Ou mesmo prejuízo quando vem
Separação refaz o sofrimento
E quando em agonia quero e tento
Ausente de meus braços, sem ninguém...

34018

Convulsas emoções a noite traz
E tento novamente alguma luz
E sei que a tempestade se produz
Aonde imaginara mais audaz,
Se eu quero e se procuro alguma paz
O jeito é caminhar em contraluz
Vencendo cada passo aonde já me pus
E sei quando a verdade ora desfaz
Bebendo cada gole vida afora
O tempo em nova face me devora
E mostra a morta cara da saudade,
Ainda se eu pudesse acreditar
Nos raios enganosos do luar,
Só sei que no final a morte invade.


34019

Resisto o quanto eu posso e sempre engano
O tempo com verdades e mentiras
E quanto a cada passo tu retiras
O vento com seu ar cotidiano
No tanto se mostrando o mesmo plano
Ao qual sem perceber queres e atiras
Diversa sincronia em iguais miras
E assim a cada passo eu já me dano.
Não tendo mais por que saber do fim
Nem mesmo algum romance até chinfrim,
Viola se prepara em despedida,
Bordões bordando sons em diapasão
Aonde poderia um coração
Se nada resistira desta vida...

34020

O canto que louvasse a voz macia
E nesta tempestade ou sorte além
O todo que deveras me convém
O tempo noutro tempo sempre adia,
O vento com certeza não sabia
Do quanto cada dia nada tem
Ou mesmo sem saber se existe bem
Eu tento vencer esta agonia
E dela contatando morte e pejo
Além deste cenário que ora vejo
Eu tento desfiar verso por verso
O manto mais sagrado da emoção
Amor tocando fundo o coração
E nele muitas vezes me disperso.


34021

Correndo assim tanto perigo
Quem tenta e desafia o coração
Tentando disfarçar a solidão
Gerando novamente desabrigo
Às vezes procurando não consigo
Buscando inutilmente a solução
E tendo no meu peito esta canção
Aonde sem saber teimo e prossigo
Vagando pelas ruas, lua nua
E tanto quanto a vida continua
Desnuda maravilha se aproxima
E tento embora saiba ser complexo
Beber este caminho estando anexo
A perplexa beleza muda o clima.


34022

Saudades maltratando o velho peito
Agarra nos meus pés, procuro a paz
E quando novamente o vento traz
Enquanto com terrores não aceito
Eu busco na amizade o antigo pleito
E dele cada passo mais audaz,
Seguindo a noite em fúria tanto faz
Apenas quero o sonho satisfeito,
Chorando no teu ombro, companheiro
O mundo que pensara e busco inteiro
Na ausência de clemência nada tem.
E tento pelo menos um alento
Ausente dos meus olhos; teimo e tento
E volto para casa sem ninguém...

34023

Menina aonde encontro o meu futuro?
Não posso me furtar à fantasia
A solidão deveras tanto adia
O passo sempre dado num escuro.
Eu bebo esta emoção e te asseguro
O medo na verdade é companhia
Sangrando no meu peito em agonia
Tocando bem no fundo, amor eu juro.
Menina poderia um grande sonho
E nele cada verso que componho
Mantendo esta fantástica ilusão
Gerada pela sorte de quem ama
E sabe discernir problema e chama,
Deixando no passado a solidão...

34024

Falando deste amor que eu quero tanto
Beijando a fantasia aonde eu possa
Sem ter a porta aberta para a fossa
Traçar esta emoção na qual eu canto
E tento novamente e assim, portanto
O mundo se mostrando quanto endossa
A sorte que se tem de ser tão nossa
A vida se gerando sem quebranto,
Pudesse ainda ter esta esperança
E nela cada dia mais avança
Bebendo esta delícia em corpos nus,
Deixando que se entregue tão somente
A vida na verdade toma e mente,
Mas quando num amor, reflete a luz.

34025

Vestindo a solidão, velha trapaça
Encantos procurados pelos cantos
Gerando tão somente desencantos
O tempo na verdade se esfuma,
E quando me lembrando beijo e praça
Os olhos se atormentam buscam tantos
Momentos entre luzes sem espantos
E assim a minha vida, inteira, passa.
Mergulho no passado e te procuro
O quanto deste porto foi seguro
E o tempo destruiu inteiro o cais,
Felicidade agora não mais vem
Buscando dentro em mim seguindo aquém
Dos dias tão diversos, magistrais...

34026

Procuro a companheira em terra e serra
O beijo da morena me sacia,
Mas quando me percebo em fantasia
Apenas o vazio já descerra
A porta da esperança o tempo emperra
O corte se aprofunda e não traria
Sequer a menor sombra ou melodia
E tanto te desejo, e queres guerra.
A morte se mostrando ao fim da cena
O quanto do passado me envenena
A sorte noutra face diz do quando
Amor não mais pudera segurar
Perdendo esta vontade devagar
O tempo tão somente amor negando.

34027

Pudesse acreditar noutro momento
Palavras entre tantas, a paixão
Renega qualquer sonho e a solidão
A cada nova ausência eu alimento,
Pudesse novamente novo vento
Pudesse ser além da ingratidão
Pudesse ver em ti a solução
Procuro e só encontro o desalento.
O amor não se mostrando por inteiro
O sonho que buscara vai ligeiro
Não deixa menor sombra, já se esquece
E todo o pensamento busca a paz
Amor que tanto tento e se desfaz,
Ao menos se este encanto enfim, pudesse...


34028

A lua sobre o mar em noite imensa
A sorte se mostrando noutra face
E quanto mais feliz o sonho eu trace
Mais longe dos meus olhos, recompensa
No amor quando demais a gente pensa
E tenta convencer qualquer impasse
Porquanto a própria vida nos desgrace
A morte na verdade não compensa,
Mas quero a liberdade neste amor
Aonde se pudesse lua e mar
Quem dera noutro tanto te encontrar
Mergulho neste encanto sedutor
E tento mesmo inútil um alento
Que cesse totalmente o sofrimento.

34029

Perdendo a cada instante rumo e prumo
Tentando novo encanto onde não tem
E vejo-me decerto sem ninguém
Os erros tão comuns por certo assumo
E quando ainda tento e me acostumo
Ao caos e nele vejo o teu desdém
O beijo na verdade não contém
Sequer uma emoção e não me aprumo,
Pudesse acreditar em teus carinhos
Os dias não seriam mais sozinhos,
A vida se moldando em outra cor,
Mas quando a realidade toma a cena
O quanto em solidão doma e apequena
Uma alma sem caminho em desamor...

34030

Não posso mais sequer acreditar
No encanto que procuro e não sei mais,
Exposto aos duros dias, velhos ais
Ausente de meus olhos a vagar
O sonho sem caminho onde encontrar
Os beijos que recebo são venais
Pudesse navegar, mas sem o cais
Que faço neste imenso e turvo mar?
Clemência pelo menos o que busco,
Porém o passo dado em vão, tão brusco
Não deixa qualquer sombra, sigo assim
Apodrecido em vida, o sofrimento
Tomando cada instante e quando tento
Percebo a minha história está no fim...

34031

Sedento de ilusão meu peito busca
Apenas vislumbrar a lua mansa
E quando novamente já se lança
Encontra solitária em brumas fusca
O beijo da mulher a sombra ofusca
Resíduo resta ao longe na lembrança
E tudo o que eu quisera não se alcança
A vida se mostrando amarga e brusca,
Ainda nada tendo em minhas mãos,
Os dias repetindo seguem vãos
E tento a solução, mas nada vem
Pudesse acreditar em ser feliz,
Mas quanto mais desejo e mais eu quis,
O amor só me trazendo o teu desdém...

34032

Doçuras entre sonhos, teus afagos
Os dias rondam sóis em praia e luz,
Mas quando a tempestade reproduz
Procelas invadindo mansos lagos,
Os tempos que eu julgara serem magos,
Ainda mais distante desta cruz
E nela todo o sonho que inda pus
Gerando tão somente mais estragos.
Riscando cada dia, nada resta
Procuro alguma noite em luz e festa,
Mas quando se percebe a solidão
Eu tento disfarçar com a canção
Que tanta maravilha ao sonho empresta,
Apenas paliando. É tudo em vão...

34033

Deliciosamente nua vem
A dona dos meus olhos, minha pele
Ao farto deste anseio me compele
Dos sonhos e delírios muito além,
O vento do passado não convém
Ao nada simplesmente já me atrele
E quando esta menina se revele
O verso se mostrando em farto bem.
A vida que era triste, num momento
Tocada por ternura e sentimento
Transforma toda a dor em plenitude,
Que seja sempre assim a vida inteira
E nada da saudade ainda queira
Fazer com que este encanto agora mude.

34034

Das flores espalhadas pela casa
Lembranças de um momento mais feliz,
O tanto que se foi e nada quis
Senão a mesma sorte aonde embasa
A morte reacende cada brasa
E toda a fantasia contradiz,
Na ausência de esperança a cicatriz,
O passo rumo ao tanto já se atrasa;
Não deixe sem cuidado a tua vida
A cada nova ausência a despedida
Tecida pelas ânsias de um amor,
Pudesse acreditar noutra vontade,
Porém a poesia logo invade,
Gerando este poder transformador.


34035

A vida na janela vai passando
O tempo não tem tempo de parar,
E a gente se imagina a caminhar
Por ruas mais tranqüilas, tempo brando,
Mas quando esta saudade vem tomando
Tornando sem sentido este lugar
Vontade de voltar e mergulhar
Aonde o mundo houvera transbordando.
Aborda-me a esperança leda e triste,
O quanto deste encanto não persiste
Desisto e nada tendo sigo em vão
Descrenças e fantasmas morte em vida
A cada dor que volta sendo urdida
Nas ânsias resolutas da paixão.

34036

A vida se entregando ao grande amor
Sem medo sem juízo e sem promessa
Do quanto a cada passo recomeça
Diversa maravilha a se compor,
Pudesse este poder, o redentor
Sem nada que em verdade ainda impeça
Ou pregue no futuro alguma peça
Vivendo tão somente este calor,
Amar e ser feliz é o que me basta,
Porquanto a vida fora mais nefasta
Agora nesta luz que eu imagino
Bebendo claridade a cada instante
O mundo nos teus braços deslumbrante
Mudando para sempre o meu destino.

34037

Amar quando demais é dor e canto
E neste paradoxo em que ora estou
O quanto do meu sonho inda restou
Traçando a cada dia outro quebranto,
O vento se dilui e assim me espanto
Sobrando muito pouco do que sou,
E o quadro aonde a vida se embaçou
Tecido pelo medo em raro encanto;
Pudesse todo amor trazer a paz
E quando na verdade satisfaz
Amar sem ter limites, faz tão bem,
Mas quanto mais desejo algum instante
Aonde cada sonho se agigante
Apenas solidão, ainda vem...

34038


Vazia noite traz o temporal
E quando se percebe a solidão
E nela cada dia outro senão,
Porém se preparando este punhal
Alçando mansamente algum degrau
Encontro nesta vida a solução
E dela bebo cada nova direção
Ancoro nos meus sonhos, amor nau,
Viuvez de uma esperança? Longe dela!
O quanto do prazer já me revela
O gozo insaciável de uma noite
Aonde nada venha senão luz
Enquanto o mesmo tempo reproduz
A vida noutra face em que se acoite.


34039

Não quero mais saber do quanto esgota
A força da paixão insaciável
O rumo noutro tanto navegável
Bebendo cada instante gota a gota,
O peso do passado te amarrota?
O fardo te parece insustentável
Num mundo muitas vezes mais amável
Imagem de uma vida amarga e rota.
Apenas quero a doce insensatez
Do amor quando em amor, amor refez
Vibrando com total sinceridade
Sem medo do que seja tempestade
Assim enquanto o sonho agora invade
Vivendo desta forma em que me vês.

34040

Cadenciando o passo rumo ao farto
Bebendo cada gole desta vida
Sem medo sem juízo e sem partida
O tempo noutro tempo não reparto,
O fato de sonhar adentra o quarto
E toma sem saber toda a guarida
A sorte desta forma sendo urdida
Traçando com beleza o gozo e o parto.
Eu sei quanto é preciso navegar
Sorvendo inteiramente o imenso mar
Sentindo a claridade em pleno céu
No amor que sem pecado e sem saudade
Agora com ternura toma e invade,
Deixando uma tristeza ao largo, ao léu...

34041

Revejo entre os meus ermos e guardados
Alguns instantes mesmo de ilusão
E neles aflorando esta emoção
Ditando com certeza rumos, fados,
Os olhos muitas vezes embotados
Trazendo à tona toda a tradução
Das loucas discordâncias da paixão
E nelas outros dias enlaçados
Resumo em versos vozes e palavras
Os tempos em distintas, várias lavras
Gerando desprazeres ou loucuras
E tento após saber do fim da tarde
O quanto do que resta ainda aguarde
Ou mesmo o quanto disto me asseguras.


34042

Respondo à voz do vento com sorrisos
E sei dos dias tanto mais complexos
As nuvens entre luas e reflexos
Dos sonhos e momentos imprecisos.
Mergulho nos meus tantos prejuízos
E busco noutros dias alguns nexos
E sei dos meus tormentos mais perplexos
Tramando dias vários e concisos.
Abrindo esta janela vejo apenas
Os olhos onde tanto me envenenas
Enquanto me serenas noutra esfera,
Assim ao se mostrar dicotomia
O passo aonde a luz deveras guia
A treva de minha alma já tempera.


34043

Houvesse alguma flor nesta manhã
Tocada pelos raios deste sol,
E quando nada vejo em arrebol
A fonte se negando, ora malsã,
As flores do meu peito noutro afã
O gesto que pensara outrora em prol
O fardo de seguir sem ter farol,
Certeza de saber da vida vã,
E fosse um colibri ou nada além
Do medo de viver quanto contém
Ausência de carinhos, frio e espinho,
Não posso reviver cada momento
E assim quando me afasto em vão eu tento
Resgate de outro tempo, e vou sozinho...

34044

A sorte em teus rocios despejada
Marcando cada dia desta vida,
Se cansas ou se alcanças a saída
Depois de certo tempo vejo o nada,
A antiga companheira, madrugada
Porquanto se quisesse ser urdida
Nas tramas da emoção, mas distraída
Não deixa que se sinta outra alvorada.
E quando não refeita a sensação
Morrendo a cada instante desde então
Servindo de repastos à saudade
A velha rapineira de costume
Aonde cada amor assim se esfume
Negando qualquer tom ou claridade.

34045

De todos os maiores sonhos tento
Veicular a vida em luz e porto,
Mas quando me percebo semimorto
Exposto aos vendavais do sentimento
Restando tão somente o desalento
A vida se perdendo num aborto
O dia com seu ar temível, torto
Em pleno pesadelo, sofrimento.
Distâncias entre pontos mais distantes
No quanto ainda teimas e adiantes
O mundo se perdendo em fardo e dor,
Provar as heresias e os amargos
Dos dias entre dores, vãos embargos
Traçando ao fim de tudo o decompor...

34046

Sob o claro momento em lua cheia
O verso se faz manso e num instante
A sorte que pensara atordoante
Agora doutro sonho se recheia,
Galgando a poesia que incendeia
Mudando este cenário, se agigante
A vida noutro sonho fascinante,
E tanto quanto posso a luz rodeia,
O amor gerando assim tal frenesi
E nele com certeza me perdi
Vivendo sem limites a paixão,
Riscando do meu mapa a solidão
Encontro a luz guiando a direção
Do todo que encontrei amor em ti.


34047

Perceba a cada toque a poesia
Da noite incomparável que nos tem
Outrora num vazio e sem alguém
Que ainda me trouxesse companhia
O vento com terror a vida urdia
E a cada abismo imenso outro desdém,
E nele o mesmo corte, sinto bem
A sorte noutra face se esvaia...
Ocasos entre nuvens, tantas brumas,
E quando em novos dias tomas rumas
As velhas luzes sinto se apagando,
O medo transbordando este cenário
E o que era no princípio imaginário
Agora um quadro rude e até nefando...

34048

Olhando para trás vejo o vazio
Ausência de canções, um passo em falso
E quando este percurso diz percalço
O tempo se renega e sem rocio
A velha noite estende um ar tão frio,
E busco quanto mesmo eu me descalço
Dos dias mais felizes noutro encalço
E em versos doloridos sou sombrio.
Porquanto em outra gente algum sorriso
Ou mesmo um novo templo se mostrando,
Pretextos para a morte demonstrando
Tormenta em mar insano, e eu me matizo
Nas trevas, brumas, medos, temporais
Sabendo não virás, amor, jamais....

34049

Alimenta-me o sonho, mas não posso
Seguir em temporais a minha sina,
E quando a própria ausência determina
O quanto não consigo, o medo emposso,
E tanto sem seguir o verso endosso
E morro sem sentido, foz e mina,
O aborto da esperança desatina
E tento renascer e em dor me acosso.
Dos escuros caminhos contumazes
As trevas entre grises ventos trazes
Granizos destroçando uma esperança.
O caos gerado então persiste em mim,
O tempo se moldando e já sem fim
Às ruínas da emoção sonho me lança...

34050

Eu quero desvendar cada segundo
Do amor que me comporte ou me transporte
E leve para além da própria morte
E neste instante me aprofundo
Girando o coração aonde inundo
Meu mundo de canções e mudo a sorte
Aonde cada dia me conforte
Um velho coração mais vagabundo
Rondando cada estrela já se guia
Nas tramas entre luzes, fantasia
E o beijo mais audaz da moça eu quero,
Vivendo finalmente a paz intensa
E nela cada ausência se compensa
Num dia em teu carinho, mais sincero...

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