quarta-feira, 26 de maio de 2010

34151 até 34200

34151

Partindo para as sanhas mais diversas
Entranho prados vários e procuro
Vencer esta emoção em árduo e duro
Caminho pelo qual jamais tu versas
As sortes quando amargas e perversas
Na essência do que tanto inda perduro
Vagando pela ausência a cada muro
Mudando todo o rumo das conversas
Esboço um passo e enceto outros cenários
E neles dias mesmo imaginários
São meras fantasias, nada mais
O quanto pude crer no meu anseio
Ainda que distante qualquer veio
Expressa os dias fartos e venais.

34152


Deixando a velha casa mesmo grata
Recebo em minha face o vento aonde
A própria liberdade já se esconde
Por vezes a verdade até maltrata,
Mas quando do passado se desata
O passo noutro tanto que responde
Com dor ou alegria gera a fronde
Deste arvoredo imenso em densa mata,
Assim ao renovar-me perco enquanto
O dia noutro tanto me agiganto
E sei da necessária provisão
Moldada a cada instante em minha vida
E quando se percebe construída
A história denotando outra visão.

34153

Mortal certeza rege cada passo
Por onde inda caminho em tez suave
E o vento do futuro sempre agrave
O quanto poderia, mas desfaço,
O canto se perdendo sem espaço
A vida sonegando qualquer nave
Não tendo mais pousada morre grave
Atando ou desatando qualquer laço.
Na minha vinda apenas por passagem
Terreno mais propício para onde se trajem
Os sonhos com ternuras e terrores,
Jamais eu viverei o quanto quis,
Mas mesmo neste instante sou feliz
Do corpo apodrecido penso em flores.

34154

Os ócios entre dias mais soturnos
Os olhos no vazio, a noite é vã
O quanto poderia na manhã
Rever os meus demônios noutros turnos,
Os passos muitas vezes são noturnos
E os cortes se preparam na malsã
Realidade atroz sem amanhã
Embora redentores bens diurnos
Aplacam pesadelos e renegam
Enquanto noutros tantos não sossegam
Os pensamentos vários que inda trago,
A morte se prepara na tocaia
E a cada novo dia que se esvaia
Recebo do final nefasto afago.

34155

Não posso envergonhar-me do que ainda
Se vendo nos momentos terminais
Esboça o que pensara ser a mais,
Mas toda a realidade em vão se brinda
E quando a vida atroz ora deslinda
Deixando noutros ritos germinais
Momentos que pudessem eternais
O etéreo caminhar já não se finda,
Esgoto esta nascente e por ventura
A morte quando em paz ceva e emoldura
Meu passo rumo ao farto desvario
Eu tento acreditar no que não creio
E sei quanto mais longe e mais alheio
Meu mundo noutro tanto em vão recrio.

34156


Separo-me do lar aonde um dia
A sorte quis benditas emoções
E quando novos tempos tu me expões
Realizado encanto já se adia,
O pouso noutra face mostraria
As sendas em diversas divisões
E nelas outros dias são senões
Gestados pela farta hipocrisia.
O medo de seguir ou ter nas mãos
O quanto inda pudessem ser os grãos
Dos quais a vida tece eterna senda
Assim cada mortalha que desvenda
O passo rumo ao farto se traduz
Na essência delicada aonde vejo
A sombra desdenhosa do desejo
Gerando no final angústia e pus.

34157

Dos poucos meses que inda restam vejo
As sombras de momentos mais cruéis
E sorvo delicados fartos féis
E beijo as velhas sombras do desejo,
O monte que pensara mais sobejo
Agora entre terríveis carrosséis
Mergulha nos anseios e em vãos papéis
Revertem os momentos num lampejo
Percebo quantas vezes fora atroz
O canto sem saber de alguma voz
Nem mesmo a foz dos sonhos poderia
Singrar com mansidão a turbulência
Gerada pela angústia ou inclemência
Tocando com terror nefasto dia.

34158


Ignoro o que virá em meus caminhos
E sei dos versos frágeis, a mesmice
Do quanto se pudera e já desdisse
Os ritos costumeiros e sozinhos,
Bebera avinagrados, fartos vinhos
E sei que cada verso uma tolice
E nessa condição o que se disse
Perdendo-se nos ventos, desalinhos,
Não quero os vãos aplausos no cenário
Aonde o dia mostro temerário
Meu honorário é feito num velório,
O corpo decomposto sobre a mesa
Apodrecida carne é sobremesa
Num ato mais feliz e merencório.

34159

Oculto entre os cadáveres do sonho
Resisto o quanto posso, mas bem creio
Saber do passo atroz ou mesmo alheio
Aonde o meu futuro recomponho,
Bebera cada gota e me proponho
Vencendo todo dia o mesmo veio
E nele se percebe este recreio
Por onde o tempo vejo mais bisonho,
Eclode-se em verdade o meu delírio
E bebo com prazer farto delírio
E sei do quanto posso em voz sombria,
Brumosa realidade dita a noite
Sem ter uma esperança que me acoite
Jamais verei nascer um claro dia.

34160

Buscando nos meus ermos a resposta
E nela se refaz o velho engodo,
O mundo que pensara como um todo
A vida repartindo em crua posta
Do quanto do viver ainda gosta
O medo de morrer refaz o lodo,
E o pendular caminho como um rodo
Varrendo uma esperança decomposta,
Não pude ter nos olhos outra cena
Uma alma quando a vida já apequena
Não tem outra saída senão esta
E o fato de perder cada momento
Aonde na verdade ainda tento
Rever cada palavra que me resta...

34161

Satisfazes decerto meus temores
Enquanto adentras fúrias onde outrora
A sorte noutra face sem demora
Pudesse transformar sorrisos, flores,
E ainda por diversos rumos fores
Gerando dentro em mim o que se aflora
Tomando desde sempre ou quanto agora
Em cenas mais doridas, velhas cores,
Esqueço dos pudores mais vorazes
E beijo tempestades onde trazes
Momentos mais felizes ou ferozes,
Escuto do passado velhas vozes
E beijo os meus espectros quando atento
E perco a cada dia o quanto invento.

34162

Correndo tantos mares entre as ondas
E delas aprofundo meus anseios
E sei dos velhos dias em receios
E neles outros tantos que inda escondas,
Não posso mergulhar porquanto rondas
Momentos entre tantos mais alheios
E sigo sem saber dispersos veios
Enquanto novas horas inda sondas,
Vestida pelo infausto de um alento
E nele com ternura este tormento
Adentra sem defesas coração
Corrijo os meus enganos com sinais
E tento ainda além ou muito mais
Vencer as tempestades que virão.

34163

Cortando mares versos ondas medos
E sei que não pudesse além do cais
Sentir outros momentos magistrais
Diversos os caminhos mortos, ledos,
E tento desvendar velhos segredos
Resíduos de um passado em tons venais
No quanto mesmo em fúria derramais
Os vossos caminhares ou degredos,
Reparo cada engano com novatos
E tanto refazendo em tolos atos
Os dias mais atrozes; acostumo
E creio ter benesse bem aonde
A fonte do prazer jamais se esconde,
Perdendo uma noção, estrada e rumo.

34164

Seguira meu caminho em novas margens
E deles não pudesse adivinhar
Segredos onde pude mergulhar
Depois de imaginar outras paragens,
Os tempos entre dores e viagens
O risco de perder e de sonhar
Seguindo cada trilha devagar
Procura pelas fozes e ancoragens,
Restando tão somente alguma luz
E nela cada fato reproduz
O mesmo e vago não por onde venho,
A vida não permite outro caminho
E quando neste pouco enfim me aninho
Percebo quão inútil meu empenho.


34165

Meus mortos carregando no meu peito
Andando de soslaio vejo apenas
As horas onde tanto me apequenas
E beijas com terror o quanto aceito,
O mundo noutro instante já desfeito
Não deixa que se vejam meras cenas
E quantas vezes penso em mais amenas
Palavras onde o tempo nega o leito,
Resisto a cada farpa ou pedregulho
E quando nos anseios eu mergulho
Retiro cada peça deste sonho,
Pudesse acreditar noutro momento
Enquanto um novo tempo ainda invento
Sorvendo deste vento mais medonho.


34166

Perder-se uma ilusão por entre as sanhas
Diversas de uma vida sem destino,
O quanto na verdade me fascino
Enquanto novos dias sempre ganhas
Eu vejo mergulhadas em montanhas
As luas em que tanto me alucino
Pudesse novamente ser menino,
Porém em atitudes tão estranhas
Seguir o meu caminho entrincheirado
Bebendo barricadas pela vida,
A fonte consagrada à despedida
O manto há tanto tempo destroçado,
Não deixo que se veja em meu olhar
Nem mesmo alguma luz inda a brilhar.

34167


Ultrapassando a vida como quem
Não deixará um rastro sobre a terra,
Aos poucos o caminho já se encerra
Enquanto a morte chega, doma e vem,
Não pude acreditar, pois em ninguém
A solidão enquanto assim se descerra
Permite que se veja paz e guerra
E nelas a esperança não convém,
Porquanto cada face se desvenda
Mudando com terror rompendo a venda
Eu vejo claramente o que me sobra,
O sino que distante ainda dobra
Traduz algum alento a quem se esvai
No quanto a vida doma, marca e trai.

34168

Dos sonhos tão somente a dura queda
Permite que se creia na verdade,
O medo quando muito nos degrade
Realidade eu sinto não mais veda,
Pagar com o reverso da moeda
Mordendo quem deveras já te agrade
Não passa de sutil diversidade
Da face em que a certeza ora se enreda,
Relendo cada frase do que dito,
O passo procurado no infinito
Intimando meus olhos ao vazio
Não creio na esperança e num eterno,
Assim matei meu Céu negando o inferno
Futuro que me resta é vão, sombrio.


34169

Fundada na esperança a crença e a fé
Permite algum alento e longe disto
Apenas existir porque eu insisto
Atado a cada dia em tal galé,
O quanto se buscara e sei até
Pudesse imaginar se inda persisto,
Apenas no vazio me consisto
E o vento me levando aquém da Sé;
Resido no talvez e neste fato
Incréu ou mesmo ateu se me retrato
Não posso ser culpado da descrença
Minha alma se inda existe e segue alheia
Nas ânsias do sombrio se recheia
E disto a cada ausência se convença.

34170

Riscando velhos climas onde um dia
Pensara primavera em pleno inverno,
E não acreditando num eterno,
A morte não promete mais sangria,
Esbarro no que possa ou mais queria,
E sei que sendo assim jamais hiberno,
No verso que inda faço em tom interno
Redundo num cenário, hipocrisia
Alego entre promessas mais venais
Momentos entre os tantos desiguais
Aonde a paz reinasse finalmente,
Mas quando me aprofundo na verdade,
Percebo no total a falsidade,
Porquanto mesmo em sonho uma alma mente.


34171

Descubro dentro em mim velhos litígios
E deles porfiando o tempo inteiro
No quanto sinto o vento derradeiro
Deixando pelo menos tais vestígios
Aonde no passado pude crer
Nas tantas emoções que ora desfazes
A vida se refaz em novas fazes
Deixando para trás o bem querer,
Nefasta e néscia luz aonde eu posso
Rever cada momento mesmo atroz,
E quando ainda penso em nossos nós
Eu vejo o quanto nunca fora nosso
O passo rumo à farta lua cheia
E o vento nega a sorte que rodeia.

34172

Vivendo a plena ausência de esperança
Pereço enquanto ainda vejo além
A luz que na verdade já não vem
Nem mesmo ao longe acende ou tanto alcança
Quem fora no passado uma lembrança
Regalos encontrara no desdém
E sabe do que tanto não contém
A vida sonegando esta aliança
Esgarçam-se os diversos nós aonde
O medo na verdade não se esconde
E trama alguma luz, mesmo distante
Porquanto cada face tem seu modo
E nele quando muito ainda açodo
O fato que resiste degradante.


34173

Misteriosamente a vida trama
As ondas entre vários temporais
E sei do quanto pude ou muito mais
Mantendo desairosa a intensa chama,
E o quando cada passo se reclama
Do medo entre os meus ermos vendavais
Vagasse por espaços siderais
E tantas vezes beijo apenas lama,
Carpindo cada ausência da esperança
Ainda tendo olhar em fria lança
Aguardo sorrateiro qualquer erro
E sei do quanto posso traiçoeiro,
E quando nas entranhas eu me esgueiro
Espreito a cada instante o teu desterro.

34174

Tremera por momentos entre tantos
E neles não se vira senão isto,
O fato aonde às vezes eu persisto
Progride em turvas luas, desencantos,
E bebo dos meus ermos, vários prantos
E na verdade enquanto em vão desisto
Resido no final, e se inda existo
As sortes descerrando velhos mantos.
Acordo entre os chacais e disto orgulho
Sabendo do meu passo em pedregulho
Resisto ao que pudesse ser maior,
Porém a solidão se esvai no fato
Aonde se deveras me maltrato
Percebo o desalento e o sei de cor.

34175

Procuro inutilmente novos dias
Entrando nos meus ermos mais profundos,
E sei das variáveis destes mundos
Por onde na verdade não mais guias
E teimas com terríveis heresias
Mordazes caminhares vagabundos
E quando olhares turvos, moribundos
Gestando mais distantes fantasias
Escavo dentro em mim alguma forma
E quando a realidade me deforma
Engodos são comuns a quem se dera,
E sei o peso amargo que sonega
E a vida continua atroz e cega
E dela se refaz viva quimera.

34176

Pudera em heroísmo acreditar
Nas ansiosas noites solitárias,
Palavras muitas vezes solidárias
Escondem o punhal, não vou negar,
E quantas vezes vi deste luar
As faces mais terríveis, temerárias
As sortes de quem ama, procelárias
Enganam em brumoso caminhar
Percalços entre tantos sobressaltos
E os dias são deveras mais incautos
A quem se procurara em liberdade;
Amordaçado canto nada trama
Senão a mesma ausência em torpe chama
Na qual cada caminho se degrade.

34177

Respeito minha dor e muito além
Não suporto sequer algum sorriso
Que venha com terrível prejuízo
Por pena, por carinho ou por desdém,
A ponte derrubada em si contém
O passo mais atroz e mais preciso,
Não posso e nem concebo outro juízo
Diverso do que a vida em si já tem,
Reparo nas estrelas imortais
E bebo dos meus erros terminais
Voltando aos germinais engodos quando
O mundo noutra face se fizera
E sei da solidão, vaga pantera,
Aos poucos meu caminho já traçando.

34178

Dos erros juvenis que ora repito
Não quero mais sinais e nem o afeto
No qual por tantas vezes me completo
Gerado pelo encanto, infausto mito,
E quando de mim mesmo até omito
O fardo que carrego, velho inseto,
O medo de viver sendo incompleto
Além do que pudesse inda permito,
Mas quando a negação se faz presente,
Ausente dos meus olhos o que sente
Uma alma em tão tenaz voracidade,
Arrisco-me a sonhar? Ledos enganos,
Os dias entre tantos geram danos,
E nisto vejo a face da verdade.

34179

Não quero mais estorvos nem pretendo
Vencer os meus acordes em sonância
O quanto a vida trama em tolerância
Pudesse transmitir algum adendo,
E quando os meus enganos eu desvendo
Gerados pela intensa discrepância
O corte se anuncia e na vacância
Do sonho novo enredo vira adendo
De um tempo em que bisonho mergulhara
A sorte noutra face mais amara
E o vandalismo explode sem sentido,
O peso do sonhar vergando tanto
E quando incontestável sonho canto,
O todo que buscara vai perdido.


34180

Não quero esta inconstância em luz sombria
Tampouco beber água que não seja
Aquela aonde a vida se poreja
E traz ao menos paz, clara alegria,
O resto se perdendo em sintonia
Diversa da que outrora mais sobeja
Pudesse e mesmo quando já não seja
Real o meu retrato em fantasia
No tumular anseio que inda resta
Não vejo mais sequer a menor fresta
Por onde a luz pudesse ainda ver,
E assim ao me mostrar inteiramente
Minha alma tão somente se apresente
Nas ânsias mais audazes do morrer.

34181

O mundo que é rival das esperanças
E traça com enganos passos onde
Pudesse cada luz em mesma fronde
Gerar ao fim dos tempos alianças
E quando no vazio tu me lanças
No quadro sem fronteiras já se esconde
O corpo quando a vida não responde
Ao quanto mais querias e inda avanças
Apraz-me perceber quanto vazio
O tom em que decerto ora desfio
Realidade atroz que me legaste,
Dos charcos mais comuns aonde adentro
A força inutilmente e em vão concentro
Sabendo a cada dia outro desgaste.

34182

Não temo a tempestade e me acostumo
Nas várias e terríveis vagas quando
Ao mesmo tempo entranho e penetrando
Perdendo o que pudesse ainda em rumo,
No todo que perfaço não aprumo
O passo em verso e mesmo desabando
O engodo noutro tanto realçando
O peso do caminho quando espumo
Numa alva areia a força da procela
O barco da ilusão sem saber vela
Acossa simplesmente o caos imenso,
E quando noutra senda mergulhara
A sorte ao mesmo tempo desampara
Do vago que restara me convenço.

34183

Cumprindo o meu dever a cada dia
Escrevo com palavras o que sinto,
Embora eu saiba há muito estar extinto
O sentimento aonde poderia
Singrar sem ter limites fantasia
E nela beber cada gota, eu minto
Porquanto noutra face onde me pinto
Percebo a velha e amarga melodia
Dos ermos entre tantas dores, farto,
E quando me entranhando assim eu parto
Por ledos descaminhos desconexos
Eu sinto quanto possa acreditar
No verso sem progresso e mergulhar
Distante dos retratos, vis reflexos.

34184

Buscando dentro em mim qualquer alento
Aonde nada houvera senão isto
A face desdenhosa em que resisto
E mesmo bebo em goles o tormento,
No quanto vez em quando me apascento,
Ou mesmo incontestável já me desisto,
O passo rumo ao nada se eu despisto
Não tendo nem mais força eu bebo o vento,
E lego-me ao vazio e me comprazo
Da vida sem ter luz sequer, no ocaso
Do peso aonde um dia pude crer
Reparo cada engano noutra face
E quando mais além meu mundo trace
Distanciado estou de algum querer...

34185

Jamais eu pude ousar um novo passo
Por entre as mais complexas ventanias
E quando noutra face tu trarias
O quanto na verdade me desfaço
Realço cada engano noutro traço
E bebo as mais complexas fantasias
Sabendo do que tanto pude outrora
A rede preterida me devora
E o corte se profana quando exposto
Tomando com furor inteiro o rosto
Jogado nestas jaulas da esperança
O medo não pudesse ser diverso
E quando sobre o tempo ainda verso
Apenas o vazio inda me alcança.


34186

Não posso mais temer o ver além
Da ausência de horizonte onde o jazigo
Que há tanto em provisão rara persigo
E agora com ternura sinto, vem,
Apenas não concebo mais desdém
Aonde poderia algum perigo
E tendo como apenas meu castigo
A furiosa ausência aonde tem
O olhar mais desdenhoso da verdade
E quando se refaz necessidade
Eu bebo desta amarga provisão,
Ameaçando a vida com a adaga
A cada ausência vejo imensa chaga
E nela se aproxima a podridão.

34187

Revendo a velha casa aonde um dia
Pudera acreditar felicidade
Eu tento mesmo quando a morte invade
Sorrir embora viva esta ironia
Da vida em tão tenaz dicotomia
No quanto a cada ausência se degrade
O fato de sonhar diversidade
E nela beber farta e vã sangria,
Resumo o versejar noutra falseta
E assim a corte mostra a mais completa
Realidade ainda quando atroz,
Retrocedendo o passo rumo ao nada
Escondo dentro em mim a paliçada
Aonde o meu caminho esconde os nós.

34188

Anteponho meus olhos sobre a cena
Final do que se fez outrora em vida,
E sei da falsa imagem pervertida
Aonde cada ausência se apequena,
O porte do que fora e me envenena
Atrocidade dita a despedida
Na morte noutra vida sendo urdida
Ou mesmo no vazio em voz mais plena,
Resumo-me no vão e nada disso
Do quanto ainda possa movediço
Cobiço senão ter este cenário
E nele sorvo a porta sem saber
Do quanto ainda pude recolher
Além do que já fora imaginário.


34189


Cadáver da esperança se insepulto
Não deixa que se veja muito além
E sei do quanto ausente me contém
Restando tão somente amargo vulto
E sinto quanto muito num tumulto
O porte desdenhoso aonde vem
A morte discernir de um novo bem
Ainda que se faça reza ou culto,
Eu teimo contra a fúria do vazio
E bebo cada fato em desafio
Não tendo mais escolha, brindo ao fim,
E sei que na verdade o que inda possa
Além da imensidão da escura fossa
Regar com sangue e pus o teu jardim.

34190

Expulso do que fora uma esperança
Navego pelos antros mais cruéis
E bebo dos vadios carrosséis
Ainda quando morta a temperança
Lembrança do vazio já se lança
Ao fato destes fardos vagos féis
E neles entre os dias infiéis
Apenas a certeza toma mansa
Manhã dos olhos turvos de quem sonha
E sei quanto a verdade mais medonha
Assanha os pensamentos tão pequenos
De quem não saberia discernir
Sequer a ausência plena de um porvir
Bebendo dos engodos, seus venenos...

34191

Um tempo mais feliz já não assiste
Ao quanto poderia e não mais creio
E quando a cada passo sigo alheio
O velho coração ainda em riste
Porquanto sem saber teima e resiste
Seguindo os meus tormentos, ledo veio
Não posso mergulhar no quanto anseio
E sei que no final, resumo triste,
Eu bebo o meu veneno costumeiro
Aporto noutro cais e vou ligeiro
Perpetuando assim a luz sombria
Na qual e pela qual nada resume
Enquanto a velha dor já de costume
A sorte caprichosa, a morte adia.


34192

A face muda a cena quando vês
O resto do que sobra de minha alma
O peso transbordando nega a calma
Gerando a cada passo a estupidez
E sei que na verdade não mais crês
Nem mesmo na incerteza que me acalma
A vida gera assim o imenso trauma
E sigo sem saber noutros porquês
Ocaso do que fora fantasia
Mergulho no passado e nada havia
Senão mesmo cenário em dores feito
E logo do que tanto perseguira
Ainda mais distante desta mira
E nela o meu caminho não aceito.

34193

Pudesse acreditar nos vários céus
E neles ter ainda algum alento,
Mas quando se percebe sem provento
Os dias entre toscos fogaréus

Os olhos bebem fartos dos incréus
Caminhos em que tanto teimo e tento
Seguir cada momento que alimento
Servido noutros tantos sem tais véus

E risco cada nome do passado
Deixando o meu cenário abandonado
Bebendo sempre à farta e se inebrio

Minha alma deste amargo e tão vazio
Cenário feito em treva e nada mais,
E agora sorvo apenas vendavais.

34194

Ainda adentro turvas meras águas
E nelas coaduno com meus medos
Palavras tão cruéis meros degredos
Aonde as fantasia tu deságuas
E sei das profusões de intensas mágoas
Nefastas madrugadas, vãos enredos,
E tanto poderiam senão ledos
Arcar com os terrores feitos fráguas
Incendiando as almas mais atrozes
E sei dos meus caminhos mais ferozes
E neles alimento a imensidão
Na sórdida presença do vazio
E quando sob os olhos tanto estio
Aguardo as chuvas mansas que virão.

34195


Jamais felicidade ainda apraz
Quem sabe discernir medo e tempesta
Ainda vejo aberta qualquer fresta
Por onde a solidão seja tenaz
Pudesse retornar tempos atrás
E o mundo não teria a menor festa,
A boca se emprestado ao que não presta
E a face mostraria em tom mordaz
O quanto da verdade se fez vã
Na falta de esperança e de manhã
A porta se cerrando e não socorra
Sobrando ao caminheiro tão somente
O fardo que deveras se apresente
Moldando a cada dia esta masmorra.

34196

A vida esta madrasta não pudera
Traçar outra alegria em tom suave
E a cada passo a vida bem mais grave
Gestando com terror farta quimera,
O quanto apenas toma e agora espera
No dia em tenebrosa voz se crave
A morte como fosse doce nave
Deixando para trás temível fera
O porto desejado não havia
Somente a face amarga e tão vazia
De quem se fez outrora em mansidão,
E sei o quanto vale cada ausência
O corte profanando esta clemência
E o medo reina em toda esta amplidão.


34197

O quando poderia ser apenas
Momento mais tranqüilo agora trama
A fúria que deveras traz da lama
O fardo aonde agora me envenenas
E beijo do passado mansas cenas,
Deixando mais distante qualquer drama,
O corte se aprofunda e já reclama
Enquanto no presente concatenas
Mortalhas entre tantas heresias,
E quando prometias alegrias
Mentiras tão somente e nada mais,
Os olhos no passado, no horizonte
A morte com terror somente aponte
O fato terminal em tons venais.

34198

Inválido caminho para o qual
Tentara ainda ver algum alento,
E quando do vazio me alimento
O mundo se mostrando sempre igual,
O fardo que carrego em ritual
E nele a dor deveras meu provento
E quando inutilmente me apascento
A vez de uma esperança é gutural,
O carma não se mostra em tom diverso
E assim cada alegria eu já disperso
Vivendo apenas isto, o fim temido,
O cândido momento em alegria
Apenas de mortalha serviria
Qual fosse um derradeiro e vão gemido.

34199

Desterro-me nos vãos de uma esperança
E nela nada tenho senão isto
Ainda a cada passo mais insisto
Enquanto este vazio agora alcança
Uma alma feita apenas de lembrança
E sei que no final cedo e desisto,
O dia onde sonhara ser benquisto
Ao fogo deste inferno já me lança
A porta se cerrara para o eterno
E nada do que posso ainda externo
Senão esta sombria realidade,
A morte se assemelha à redenção
Bebendo com total sofreguidão
Apenas este horror que me degrade.

34200

Odioso caminhar entre espinheiros
Deixando lacerada a minha pele
Ao quanto do vazio em compele
O dia entre os mortais e derradeiros
Caminhos mais atrozes, costumeiros
E neles cada ausência já se atrele
Enquanto à dor fatal a vida sele
Meus olhos para além dos corriqueiros
Cenários entre tantos, pois bem sei
O quanto desta morte eu entranhei
Negando alguma chance a quem se fez
Além desta mortalha que tecera
A sorte mais venal e embrutecera
Meu passo com temor e insensatez.

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