domingo, 30 de maio de 2010

34751 até 34800

34751

Em noites convulsas
Momentos ferozes
E juntos algozes
Dispersas repulsas
As horas avulsas
Os dias velozes,
As cenas, as vozes,
Demônios expulsas,
Mas quando persiste
A sorte mais triste
O riso a ironia,
O tempo devora
O quanto demora
A morte se via...

34752


Distantes tais plagas
Dos sonhos e ritos
Os dias finitos
As horas em chagas,
Os gozos afagas
E tentas em gritos
Momentos benditos,
Porém velhas pragas
As mesmas de outrora
O tempo devora
E o corte aprofunda,
Assim incerteza
Tomando em destreza
O quanto te inunda.

34753

Bravios tormentos
Sinceros caminhos,
Rendido aos espinhos
E neles os ventos
Gerar desalentos
Em dias mesquinhos
Resumos sozinhos
Olhares atentos,
E sei do que posso
Ou mesmo remoço
Remorsos à parte,
Meu barco outro fado,
O tanto do enfado
Que a vida reparte.

34754

Enquanto relutam
Caminhos diversos
Adentrando versos
E nada que escutam
Traduz onde lutam
Os beijos imersos
E tento universos
Nas forças que ocultam
Rendidas manhãs
E nelas afãs
São velhos proventos
Entregue sem rumo,
Aos poucos me esfumo
E sigo tais ventos.

34755

Dos dias horríveis
Horrenda paisagem
Aonde a ancoragem
Procura possíveis
Caminhos e níveis
Ou mesmo outra aragem
Segredo e bobagem,
Aonde impassíveis
Delírios e risos,
Vestindo outros sisos
Segregam os sonhos,
E sei do que possa
Ainda destroça
Os ritos medonhos.

34756

Desta escuridão
Que tanto me dás
Aonde se faz
A navegação
Dos sonhos de então,
Sem medo ou capaz
Do quanto tenaz
Vencer solidão.
E ter a certeza
De ver sobre a mesa
Servido em fatias
Os gestos incautos
Em pratos tão lautos
Que ora desafias.

34757

Das vãs penedias
Das rocas e medos
Os dias mais ledos
Por onde seguias
Tantas ventanias
Dizendo segredos,
Assim os enredos
Em novos recrias,
Restando sozinho
Quem tanto em carinho
Buscara outro alento,
Agora não tendo
Sequer já desvendo
Do sonho o provento.

34758

No quanto concentre
Meu mundo e vontade
Ou mesmo se agrade
O quanto me adentre
Esqueço do ventre
E busco a verdade
Fatal liberdade
E nela vou entre
Caminhos diversos
Ou mesmo dispersos,
Mas sempre ao que tento
Seguindo meu rumo,
O quanto consumo
Ou mesmo sedento.

34759

As horas profundas
As mãos solidárias
Sortes temporárias
Em grutas tão fundas
O quanto me inundas
Das tais procelárias
Manhãs necessárias
Em almas imundas.
Resumo a palavra
E nela esta lavra
É feita dos sonhos,
Porquanto pudera
Saber da tapera
Ou ritos bisonhos.

34760

Tantas agonias
Palavras ao vento,
Vital sentimento
Que agora esvazias
E sentes sombrias
Delícias, provento
De um novo tormento
Aonde recrias
Os sonhos venais
Fartos temporais
Ou velhas senzalas
E assim me entregando
Ao quanto ou no quando
Ainda não falas...


34761

Ventanias diversas
Adentram meu sonho
E quando componho
Ainda conversas
E nelas se versas
O fato enfadonho
Num ato bisonho
Nas sombras imersas
De um dia feroz
Ou mesmo sem nós
Atando o passado
Gerando desvios
Adentrando rios
Negando este fado.

34762

Do quanto serei
Ou nada seria
Vital serventia
Ditames de lei
Da qual não farei
Sequer alegria
Ou mesmo agonia
E tanto terei
Caminho disperso
Sem rumo e perverso
Na senda que busco
Vencer o tropeço
Ainda mereço
Embora tão brusco.

34763

Vasculho em teu céu
Momento que trace
Caminho ou embace
Vagar sempre ao léu
Diverso papel
Da vida no impasse
Que tanto inda grasse
Gerando outro fel,
E dele bebendo
As gotas sorvendo
Até que pudera
Saber do vazio
E nele recrio
O sonho, esta fera.

34764

A vida sem glória
O medo ferrenho
O quanto me empenho
Em gozo ou vitória
O tempo esta escória
E nela se tenho
Ainda não venho
Traçar da Memória
Um dito ou carinho
E sigo mesquinho
Até me fartar
Do medo ou do riso
Do tal paraíso
Diverso lugar.


34765

Dos bronzes e pratas
Dourada esperança
Aonde aliança
Deveras maltratas
E sei das ingratas
E quando se lança
Ao tanto em pujança
Destroças as matas
E quando revejo
O quanto desejo
Ou mesmo pudesse
Vencer meus tormentos
Bebendo tais ventos
Sem rumo e sem messe.


34766

Páginas vazias
Em medos e ritos
E neles os gritos
Em datas sombrias
E quando querias
Vencer infinitos
Outrora meus mitos
Ainda trarias
Nas sendas nos ventos
Em falsos lamentos
Ou mesmo no caos,
Gestando a promessa
Aonde começa
Terminam degraus.

34767

Os dias são meus
E quanto tocado
No beijo roubado
Nos versos ateus,
Assim sigo em breus
O quanto alegado
Permite o legado
Negando apogeus,
Resumo meu mundo
No quanto me inundo
Do tempo sem paz,
E assim caminhando
No tempo roubando
O quanto é capaz.

34768

O todo historia
Momento vulgar
E posso traçar
Assim novo dia
Ou tanto teria
O medo a rondar
A sala e o jantar
Que tanto esvazia
Nas sendas mais finas
E se desatinas
Propinas e medos,
Assim meus caminhos
Dispersos mesquinhos
Ausentes e ledos.

34769

Apaga-se a luz
E tento outro rumo
No quanto consumo
Ou mesmo conduz
Ao nada reluz
Ou tanto se esfumo
O beijo outro prumo
E quanto do pus
Que deste e cobraste
E nunca tal traste
Gerasse o começo
Do passo alegado
Do mundo vedado
E nele o que esqueço.

34770

Aonde estes feitos
Pudessem tramar
Um dia sem par
Ou tantos defeitos
Registros perfeitos
Do quanto teu mar
Ensina a remar
Os vários vis pleitos,
Somando o que somos,
Dispersos os gomos
Não temos mais sorte,
Apenas vislumbro
Enquanto deslumbro
Bem perto o fim, morte.

34771

Do quanto em versos sonho ou mais além
De tudo o que pudesse, imerso eu sigo
E tento a cada curva outro perigo
Embora saiba mesmo o quanto vem
Do pouco ou muito tento o que se tem
Seara desejada ou desabrigo
Apenas ao que quero e não me obrigo
Não brigo na verdade com ninguém,
E tento apaziguar quando possível,
Ou mesmo se pudesse quanto incrível
O mundo noutra face desvendado,
O versejar transcende à própria vida
E nele quando muito uma saída
Ou novo caminhar sendo enredado.

34772

Ainda que enfrentasse tempestades
Vencendo os meus diversos medos, tento
Saber da profusão do imenso vento
E nele cada fato em vis saudades,
Resolvo com terror desigualdades
Aonde vejo a vida num momento
E busco assim suave pensamento
E nele com certeza tanto agrades,
Mas sei do inconfundível caminhar
Em trevas quando ausente algum luar
E teimo contra a força das procelas,
Seguindo sem destino e sem descanso
Por vezes outro sonho ainda alcanço
E neles outros dias me revelas.

34773

A estrela d’alva surge em claro céu
E toma este cenário em tal magia
Aonde cada sonho desafia
Seguindo como fosse um carrossel
De cristalina fonte, raro véu
E nele cada dia mostraria
O tempo mesmo quando a sorte adia
Tornando a fantasia mais cruel,
Cenário aonde tanto posso e quero
Um ato mais sutil, porém sincero
Gerado pelo amor e nada mais,
Assim traria em mim sempre entranhados
Após os dias turvos e nublados
Decerto a maravilha dos cristais.

34774

Cantores da esperança na janela
Os pássaros trazendo esta presença
De quem uma saudade mor, imensa,
Aos poucos cada dia se revela,
No todo quanto muito o tempo atrela
A voz que plenamente me convença
Da sorte que se faz agora intensa
E nela a manhã surge bem mais bela,
Vivendo esta real felicidade
Deixando no passado a tempestade
Agora posso ver o quanto deve
A vida ser suave e mansa como
O sonho que deveras bebo e tomo,
Tornando uma alma aflita bem mais leve.

34775

Descendo sobre as flores, claridade
Do sol que surge atrás destas montanhas
E assim ao me mostrares raras sanhas
O amor sem ter limites já me invade,
Podendo vislumbrar tranqüilidade
Aonde no passado as horas ganhas
Em trevas e terrores, mais estranhas
Geraram na verdade fria grade,
Arrebentando assim estas correntes
No quanto te desejo e também sentes
Vontades com ternura e com alento,
Podendo então sorver esta alegria
O mundo como um sol tanto irradia
Tomando em magnitude o pensamento.

34776

Não quero mais as queixas costumeiras
Nem mesmo as dores fartas do passado,
O amor quando demais e demonstrado
Acende dos meus sonhos as lareiras
Empunho com fervor estas bandeiras
E deixo a solidão, passar ao lado
Resulto no que tanto quis gerado
Nas ânsias e nas fúrias lisonjeiras
Não quero traiçoeiras vozes, frágeis
Nem mesmo dedos trágicos nem ágeis
Apenas calmaria de um prazer
Que possa contornar o sofrimento
E dando ao meu sonhar prosseguimento
Não deixe mais o medo me envolver.

34777

Porquanto a solidão percorre os ares
E deixa como um rastro este lamento,
Nas ânsias mais vorazes, sentimento
Gerando na esperança seus altares
E posso a cada dia se tocares
A pele com ternura e envolvimento
Viver a sensação que ora alimento
De ter em minhas mãos fartos sonhares,
Assim ao me entregar completamente
Sem ter sequer o medo que desmente
O tempo não mais conta, sou eterno,
E vivo esta brandura e nela traço
O rumo que desejo, galgo o espaço
Matando o quanto fora em mim inverno.

34778


Crisálida dos sonhos, esperança
Gerando a liberdade em borboleta
A vida como fosse algum cometa
Ao mais sublime céu, ora me lança
E quanto mais assim o extremo alcança
Além do que decerto se prometa
Enquanto neste tanto me arremeta
Causando no meu peito esta mudança,
Gestando o que pudesse libertário,
Momento muitas vezes necessário
A quem deseja enfim poder viver
Em toda plenitude a sua vida,
Sagrando com ternura esta saída
Que é feita nos teares do prazer.

34779


O orvalho transpirando em cada folha
Manhã em sol sublime se fazendo
Momento inesquecível e estupendo
Aonde cada imagem se recolha,
O tempo noutro tanto gera o farto
E bebo deste mundo sem pensar,
Deveras tanta coisa e me entregar
Deixando para trás o que descarto,
Vagando em teus espaços constelares,
Singrando etéreos mares infinitos,
Os dias com certeza mais bonitos
Por onde com ternura me levares,
Assim eternamente enamorado,
Nos sonhos os meus sonhos entranhados.

34780

O quanto do passado já se esfuma
Nas ânsias de um prazer sobejo e raro
No amor que tanto quero e te declaro
Minha alma intensamente busca e ruma,
Dos tantos diademas deste céu,
Esbarro em teus anelos, minha amada,
A sorte se mostrando assim traçada
Redime qualquer erro, nega o fel
E tento em ares fartos novo dia
Aonde tudo aquilo que eu pudera
Gestando novamente a primavera
A morte vai sem graça e já se adia,
Assim eu posso enfim dizer do quanto
O mundo me entranhou em raro encanto.

34781

Resisto o quanto posso, mas no fim
O tempo resoluto sempre vence
Não tendo quem deveras me convence
Do quanto é necessário ter em mim
As raras provisões de algum jardim
Tocado pelo medo e por non sense
No quanto muitas vezes não se pense
O quadro se desenha sempre assim,
Eu pude acreditar em novos dias
E até mesmo sonhar com sintonias
Diversas das que agora tento em vão,
Mas quando acordo e vejo solitário
O amor sempre distante e imaginário
Traçando um rumo ausente em direção.

34782

Perpetuando o sonho que inda traga
A sorte mais airosa ao fim da tarde,
Por mais que tanto tempo em vão se aguarde
Apenas aprofundo a imensa chaga,
E quando a realidade não afaga
Sem ter defesa alguma que resguarde
Nem nada que esta morte vã retarde
A dor invade logo toda a plaga,
Resisto o quanto posso, mas percebo
Do quanto pouco ou nada já me embebo
E vivo sem saber sequer se ainda
Permite-se o luar a quem se dera
A solidão adentra; imensa fera,
E apenas o vazio se deslinda.


34783

Meu verso se aproxima do que tanto
Pensara ser possível, mas bem sei
Que nada deste pouco inda terei
Sorvendo a cada passo o desencanto,
E quando incontrolável sonho canto
Vestindo de bufão, eu mergulhei
Nos antros mais imundos desta grei
E nela coletando dor e espanto,
Resumo uma existência no vazio
E quando ainda em paz eu desafio
Os ermos de uma inútil persistência
Encontro por resposta o mesmo não,
Aos poucos vou perdendo o que foi chão
Restando para mim viva inclemência.

34784


Adentro os ermos frágeis da ilusão
E tento, inutilmente, novo dia,
A sorte uma inconstante companhia
Negando qualquer sonho, embarcação,
Pudesse pelo menos direção
E ver o que talvez já não veria
Não fosse a mais terrível fantasia
E nela sem carinho ou provisão,
O tempo renegando melhor sorte,
A vida sem ter nada que comporte
Presume tão somente esta falência
Dos velhos pensamentos já malditos
E os dias entre duros erros, ritos,
Gestando a mais completa incoerência.

34785

Arranco o que restara da raiz
De um sonho que incrustado não deixara
Sequer uma impressão real e clara
Na própria realidade que desdiz,
O quanto poderia ser feliz
E o medo a cada instante se escancara
A porta plenamente se fechara
E o todo se transforma e contradiz
O mundo não pudera ser diverso
E quando tento inútil, fútil verso
Apenas resta em mim o nada ser,
Ausência de esperança toma a cena
O mundo quando muito me envenena
Deixando no passado algum prazer.


34786

Olhando para o fundo do meu ser
Em atrativos saltos dentro da alma
Vagando sem destino, tanto acalma
Quanto devora e mata algum prazer
Perdido nos meus ermos sem mais ter
A direção decerto onde o trauma
Proclama e conhecendo cada palma
Do vago em que procuro me esconder,
Visíveis os penhascos, penedias
Enquanto vozes fúnebres sombrias
Espalham hinos tantos, versos soltos,
Olhando para mim reflito o quanto
Pereço em dor imensa e desencanto
Nos mares que ora entranho mais revoltos.

34787

Vazios os meus vários caminhares
Por tantas heresias, sonhos, mitos,
E quando me percebo em tão finitos
Diversos e terríveis vãos lugares
Porquanto ainda tentas desvendares
Em meio aos funerais antros bonitos,
Os vários descaminhos são descritos
Conventos entre gozos, lupanares.
Disperso em tantas formas e facetas
Dicotomias, rotas, paralelas
Bem pouco do que vês inda revelas
Na previsível rota de cometas.

34788

O quanto possa ser assim obscura
Uma alma entranha em ermos mais diversos
E quando se percebem tão dispersos
Invalidando enfim qualquer procura,
O tanto visto em tom gris numa escura
Faceta diz bem pouco dos meus versos
E neste emaranhado estão imersos
Delírios traduzindo mal e cura,
Expresso muito pouco do que sou
E neste rastro perdes a passada,
A fonte há tanto tempo desviada
Do quanto nada ou sombra aquém restou.
E traduzir-me envolto em falsos mantos
Não cabe nem em todos os meus cantos.


34789

Ao contemplar-me vejo em várias faces
A mesma que este espelho diz mosaico,
Um tanto quanto audaz ou mesmo arcaico
Gerando a cada passo mais impasses
E quanto algum perfil diverso traces
Perceberás ao fundo um ser prosaico
E quantas vezes crente ou noutras laico,
Imagem distorcida logo embaces,
Enquanto esta mortalha teço e sonho,
Ainda alguma luz teimo em risonho
Caminho mais diverso do que possa,
Assim neste não ser ou tentar ver
O todo se traduz no desfazer
Relevo em cordilheira abismo e fossa.

34790

Suprema vacuidade toma o quanto
Pudesse ser ainda além do caos,
E vejo quando ascendo tais degraus
A queda preparada em desencanto,
Um fútil tartamudo me agiganto
Ou vejo entre distantes, ermas naus
Caminhos ora bons, porém tão maus
Gestados pelo anseio ou pelo espanto.
Um prisma em diversa sincronia
Hermético e deveras transparente,
Ainda que consiga o que se sente
No fundo incontrolável fera vive
Nesta inconstância atroz e mansidão
Destoando de um vão diapasão
Herdando tão somente o que eu cultive.


34791

Contemplação talvez seja o caminho
Que possa traduzir um pouco ou mais
Dos meus diversos mares, vendavais
Nos ermos da batalha onde me aninho.
O ser que solidário é tão sozinho
Apenas um a mais entre animais
Ou tanto noutros fatos rituais
Bebendo da expressão real do vinho.
Sanguíneo e temerário, pacifista,
O quanto de mim mesmo não se assista
Nem queira se sentir ou perceber
Transcende ao que pudesse ser real,
Constantemente sendo desigual,
Na cristalina imagem do meu ser.

34792


O quanto me contemplas e te vês
Imagens tão diversas, mas iguais
E nestas velhas fontes espectrais
A vida traz em si velhos porquês
Ao me sentir em plena insensatez
Esbarro nos meus ermos ancestrais
E vendo tais imagens ou a mais,
Do quanto na verdade outra se fez.
Envolvo-me nas tramas e um refugo
Do todo renegado quando alugo
Um pouco do que sou em outro ser,
Negar minha existência é mais freqüente,
Mas quando em versos traço o que se sente
A fruta começando a apodrecer.

34793

Olhando dentro em mim vês tua face,
E assim ao se mostrar em plenitude
No quanto a cada instante se transmude
Ou mesmo noutro tanto se desgrace
O rumo gera sempre algum repasse
E nele nova senda ou atitude
Viver além do quanto já não pude
Amarga realidade onde se trace
O todo em voz sombria, mas real;
E quanto neste espelho te percebes
Adentras por entranhas, duras sebes
E bebes deste imenso e tão venal
Assustada tu foges, se recolhe
Enquanto o teu eu turvo vês e colhe.

34794

Mosaico aprofundando vários seres
Dos quais somos pedaços mal unidos,
E deles entre tantos revolvidos
Caminhos nos trazendo tais poderes,
E quando se percebem ao viveres
Insofismável rede de sentidos
Os tantos egos nestes envolvidos
Permite quando atenta te saberes.
Mas sei quanto é difícil enfim se ver
Desnuda plenamente e sem defesas,
Assim enquanto somos fera e presas
A imagem distorcida do meu ser
Encontra em fantasia algum abrigo,
No sonho salvador que assim persigo.

34795


Ao veres sem disfarces teu retrato
Talvez consigas crer que a liberdade
Embora tantas vezes desagrade
É mais do que algum sonho, e se desato
Os nós onde se vendo o real fato
Transcendem ao possa a claridade,
No quanto de nós mesmos nos invade
Demonstre o quanto sou decerto ingrato.
Repete-se afinal a filogênese
Na nossa própria essência, embriogênese
E somos do universo um pouco ou tanto,
Em ti me vejo em vago ou plenitude
Imperativo ter, pois atitude
E sendo assim de nada mais me espanto.

34796

Do sangue derramado sobre a Terra
A praga se espalhando em dor e morte,
Assim do deus dos Céus a dita, a sorte
Por toda a natureza dita a guerra,
Traído por quem tanto amara encerra
Ainda mesmo sendo imenso e forte,
Não pode contornar terrível Norte
E em própria criação já de desterra,
Negado pelo deus do próprio tempo,
Ao se entregar em duro contratempo
Urano quando em Cronos não espera
Dos filhos que gerara; a traição
Tornando o seu caminho agora em vão
Alimentara em vida, a imensa fera.


34797

O deus deve adorar quem o venera,
Assim a própria essência em divindade
Permite a magnitude que ora agrade
Senão nem a deidade mais tempera,
Também deve temer-se a imensa fera
No quanto tanto mate e já degrade
Nisto se faz vital felicidade
Gerada pelo ardor, pela quimera.
Andando em solilóquio, nada vale
A vida de quem dista-se do vale
E isola-se do mundo numa ermida,
A voz já se calando sem valia
É como um sol imenso alheio ao dia,
Na claridade nunca percebida.

34798

O sábio que se cala e se reprime
Não tendo mais valor que o mero inseto,
O quanto no fastio me completo
Tampouco mostrará o quanto estime,
A voz que na verdade nada exprime
Não tendo que escute; ledo veto,
É como se matasse desde o feto
Gerando este vazio, quase um crime,
Oprime-se o pensar e assim se vê
O mundo cada vez mais sem por que
Silenciando a voz do que inda pensa,
A humanidade então se torna opaca
A sede do saber jamais se aplaca
Porquanto a cada dia é mais intensa.

34799

Tentasse repartir o que se aprende
Durante a longa vida ou mesmo quando
Um novo amanhecer imaginando
Do coração audaz já se desprende,
Quem tanto ao nada ser deveras rende
Ou mesmo noutra face se entregando,
Permite o reviver do mais nefando
E aos mãos para o vazio, sempre estende.
Por isso é necessário que a partilha
Demonstre quanto inútil ser uma ilha
Deixando para trás embarcações,
Por mais que te pareça uma tolice
Ouvir e perceber quanto se disse
Talvez demonstre novas direções.

34800

Ao recolher dos ermos desta vida
O todo que acumulas e não dás
Demonstra-te decerto um incapaz
No quanto a plenitude repartida
Permite se atentar para a saída,
Quem sabe desta forma já se faz
Um mundo mais tranqüilo aonde a paz
Não seja uma palavra vã, perdida.
Exploda-se do tanto que aprendeste
Arrebentando assim contida veste
E desnudando estúpido bufão,
Somente o que se fala e distribui
Melhora e quanto mais assim se flui
Dias sublimes, pois então virão.

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