segunda-feira, 14 de junho de 2010

36741 até 36760

1

Das nuvens e das chuvas costumeiras
Beijando esta terrível realidade
Mostrando pouco a pouco o quanto invade
Uma alma em turvas águas traiçoeiras,
E quando muito além alças barreiras
E tentas impedir com tola grade
A vida em tons sutis de falsidade
Adentra estas defesas derradeiras.
Pudesse acreditar ainda haver
Após a tempestade algum prazer
Ou mesmo até descanso a um corpo lasso,
Mas quando se percebe além as brumas
Também com este tempo te acostumas
E tens do céu grisalho cada traço.

2

Da noite que te encontra em derrocada
Apenas meras sombras, nada além
E assim esta faceta te convém
Negando qualquer sol, torpe alvorada,
E a sorte há tanto tempo abandonada
Silêncio dentro da alma e o que contém
Transborda e me demonstra o ausente bem
De quem se imaginou, mas era nada.
O pasto na aridez do dia a dia
A farta mesa, apenas ironia
E o mundo desabando em minhas costas,
Perdera há muitos anos qualquer senso
E quando olhando em volta eu me convenço
As mesas entre as névoas estão postas.

3

Da vida que te trouxe eu não retenho
Sequer a menor sombra e se esvaindo
O quanto da verdade eu sinto findo
Mantendo em turbilhão vil desempenho,
Meu verso desnudando o quanto empenho
E tento, mal consigo, e enfim deslindo
O quarto em abandono interagindo
Com toda a sordidez de um ermo cenho.
Aprendo a defender-me? Tardiamente.
O mundo a cada ausência me desmente
E o nada se apodera do meu verso,
Pudesse acreditar, mas não consigo
E assim ao me entranhar em desabrigo
Também me sinto sórdido e perverso.

4

Das asas que carregas
Em tempos tão diversos
Meus olhos vão imersos
E seguem quase às cegas
Enquanto me renegas
E ditas com vis versos
Momentos mais dispersos
Também me desapegas.
Hermético? Não sou,
Apenas se mostrou
Na face de quem clama
Nefasta realidade
E quanto mais me invade
Maior; vejo o meu drama.

5

Tua vinda renasce
Uma alma sonhadora
E sabe o quanto fora
O campo em tal impasse,
E sei por onde grasse
Quem tanto encantadora
Na vida promissora,
O passo que se embace.
Jazendo atrás do sonho
Enquanto me componho
Das ânsias e das brumas,
Também ao mesmo tempo
Em mero contratempo
Ao longe tu te esfumas.

6

Vindas do coração
Palavras que me dizes
E sei das cicatrizes
Da torpe direção
E sei que inda virão
Decerto várias crises,
Porém dos céus mais grises
Enfim a solução.
Num átimo eu percebo
E assim em paz me embebo
Sorvendo a fantasia,
Além do que se tente
Maior ingrediente
Da mera poesia.

7

No livro de esperanças
Jogado pelos cantos
Após diversos prantos
Aonde ao fim te lanças
E tais desconfianças
Cevando os vãos quebrantos
Os dias – não sei quantos,
Por onde em guerra avanças.
Depois do caos gerado
O tom acinzentado
Voltando a dominar,
O espaço me sufoca,
Minha alma em turva toca
Procura outro lugar.


8

Quem dera em mansos versos
A vida eu propusesse,
Mas quando ausente messe
Apenas vejo imersos
Nos dias mais perversos
E tudo em vão se tece
É como nunca houvesse
Além, mil universos.
Profano cada passo
E tanto quanto faço
Desfaço e caço um rumo,
Aos ledos e vazios
Caminhos dos teus rios
Aos poucos me acostumo.


9


Beleza que encontrei
Nos olhos desta musa
Aonde o tempo abusa
E a sorte nega a lei,
O quanto imaginei
A vida mais confusa,
E gera dor e escusa
No passo em que entranhei
Verdades insinceras
E tanto quanto esperas
Também logo te omites
E além destes limites
As sortes não se vêm,
Tampouco espero alguém.

10

Quem dera conhecer
Os dias mais felizes
Após as cicatrizes
Da dor em desprazer,
Tomando corpo e crer
Que mesmo em vãos deslizes
Entregue aos céus mais grises
Eu possa amanhecer,
Vestindo a fantasia
Aonde se recria
Ao menos a ilusão
De um tempo mais suave
E nele, sem a trave,
Os passos que virão.


11

Que encharca tua noite
Em luzes soberanas
Enquanto desenganas
E tramas no pernoite
Apenas teu açoite
E assim tanto profanas
E mesmo se te ufanas
Não tendo quando acoite
Em verso ou fantasia
A vida não teria
O sonho que alimenta,
Depois de tantos erros
Sangrias e desterros,
Além vejo a tormenta.

12

Que traz toda a pureza
Nos olhos, disto eu sei,
Errando tempo e grei
A vida diz surpresa
A sorte gera a presa
E nisto me entranhei,
Vagando além errei
E não tenho destreza,
O verso inutilmente
Ainda mesmo tente
Num átimo mudar
A direção dos ventos,
E em tantos sofrimentos
Não resta nem sonhar.

13


Nossas manhãs, cetim
Na cama em bons lençóis
As luzes e arrebóis
O tempo chega enfim,
Depois do quanto em mim
Havia em vãos faróis
Somente os meus atóis
E agora o teu jardim.
Ao ver viva a esperança
Meu sonho já te alcança
E tenta pelo menos
Em dias mais serenos
Vencer os meus temores
E sem jamais te opores.

14

Amor que sempre invade
E nada deixa atrás
Gerando e já desfaz
Imensa tempestade
No quanto que degrade
Ou mesmo inda me traz
Jamais se satisfaz
E rompe qualquer grade,
No bojo dos meus dias,
Imensas fantasias
Senões e medos tantos,
Buscara em luz serena
A vida mais amena.
Apenas desencantos...

15

Porquanto inda tivesse alguma chance
Ao menos de tentar felicidade,
Apenas vejo o vulto da saudade
E nele estava vontade em vão se lance
Inútil tentativa que esperance
A vida feita em dor e falsidade
E quando inconseqüente o peito brade
Tristeza o quanto resta ao meu alcance.
Vencido e tão cansado desta luta
Aonde nem sequer a voz se escuta
De quem se imaginara mais potente
No todo que inda resta, mera sombra
O pouco se inda sobra já me assombra
Por mais que alguma luz eu; tolo, tente.

16

Saber dos meus receios e tentar
Singrando as ilusões algum remanso
Distante deste passo onde me lanço,
Ausente qualquer luz, sigo a vagar.
Ao menos um lampejo de luar,
Ou mesmo um dia calma, ameno e manso,
Jogado sobre as pedras, sem descanso,
Sem norte ainda teimo em procurar.
Restando muito pouco do que outrora
Havia e sendo assim, a morte escora
E trama esta presença a cada instante,
Qual mera sombra teimo em brumas tantas
E quando mais sutil ainda espantas
Sem ter sequer um brilho, sigo avante.

17

Ocasos dentro da alma de quem sonha
E segue contra a fúria das marés
E sendo tão somente por quem és
A vida não seria tão medonha,
Mas quando a realidade em mim se enfronha
Atando mãos e pés, torpes galés
Olhando meramente e de viés,
Sem ter sequer um lastro onde me ponha.
À parte teimo em luta torpe e vã
Tentando alguma luz, incauto afã
Por onde se porfia inutilmente,
Ainda que a verdade se apresente
A falta mais completa de amanhã
Impede qualquer passo que inda eu tente.



18

Andorinhas, pardais
Enfim a manhã nasce,
Após a noite trace
O dia em cores tais
Aonde estes cristais
Moldando em nova face
O tanto que se grasse
Em luzes magistrais,
Mas dentro em mim a bruma,
A sorte não se apruma
A vida não tem jeito,
Pudesse algum momento,
Mas quanto mais eu tento,
Em trevas eu me deito.


19

Nas árvores louvando
O dia que amanhece
Além ouvindo em prece
Um canto ameno e brando
E assim teimo louvando
Sem sonho onde tropece
Amor não mais se esquece
Nem mesmo desde quando
Perdendo a direção
Traçando em rumo vão
A mera pestilência
E tendo esta certeza
Envolto em tal beleza
Na clara florescência.

20

Plena satisfação
Buscara desde quando
A vida se negando
Tramando esta ilusão
Do dia mero e vão
No olhar duro e nefando
E sempre sonegando
Qualquer mera emoção.
Vagando desta forma
O mundo me deforma
E sem saída ao menos
Entranho noutras sendas,
E sem que enfim me atendas
Os sonhos são venenos.

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