sexta-feira, 25 de junho de 2010

38601 até 38700

1

Nos ermos onde teimo e inda palmilho
Os dias não seriam tão iguais
Pudesse novamente em rituais
Vencer a tempestade, crer no brilho
O amor não sendo após, este andarilho
Em climas mais diversos, sensuais
E quando eu te desejo é muito mais
Do pouco ou do vazio onde não trilho,
Dos empecilhos todos, vida alheia
O corte sem defesas não se anseia
Nem mesmo a virtual loucura inerte
Por onde tantas vezes vira o nada,
Nefasta realidade anunciada
Em doce poesia, o sonho verte.

2

Embora não perceba mais o quanto
A vida se transforma enquanto luto
Vestindo esta ilusão esqueço o luto
E vez em quando, fútil, mesmo canto,
Resumos de outros dias; não me espanto
E tento novamente ser astuto,
Porém a cada insânia, já reluto
E apaixonadamente rasgo o manto
Aprendo com a vida a cada queda,
E quando noutro sonho o passo enreda
Cedendo aos meus diversos devaneios,
Os dias; entrelaces sóis e brumas
Deveras com terrores tu te esfumas
Em olhos, descaminhos vãos e alheios.

3

E tento novamente ser feliz,
Após o nada haver senão a treva
O passo noutro rumo já me leva
E toda a realidade se desdiz,
No quanto muito embora em cicatriz
A sorte se mostrara em vaga ceva
Ainda quando além teimosa atreva
O parto sonegado em tom mais gris.
Vacâncias em diversos elementos,
Os sonhos em terríveis desalentos
Os medos acumulam ermos fartos,
Os risos derramados nesta sala,
Em solilóquio uma alma seda e cala,
Deitando as ilusões em vários quartos.

4

O fato de sonhar, escasso rumo
Por onde sou mutante e nada mais
Ourives do vazio sem jamais
Saber onde pudesse e mesmo aprumo,
Tomando a vida inteira, todo o sumo,
Acreditando em termos mais banais,
Vencido por sutis e originais
Delírios onde aos poucos me consumo.
Resvalo à realidade e tento ainda
A noite quando em lua se deslinda,
Mas sei da farsa feita em tal promessa,
E sinto em desvario o rumo atroz
Aonde poderia haver em nós
Caminho para o qual sonho endereça.

5


E vejo em todo instante outro cenário
No quanto eu desaprendo com a vida,
A porta sonegando uma saída
O passo se mostrara temerário,
Caminho traça em rumo imaginário
O vândalo sonhar, a despedida,
E quando noutra face vejo urdida
Seara em meu delírio, um lampadário.
Escusas e mentiras, velhas portas
Aonde na verdade mal suportas
Hermético delírio em tom cruel,
Residualmente adentro este não ser
E teimo contra a fúria, e posso ver
Além em bruma e incúria o tosco céu.

6


Esparsos passos traço em vaga luz,
Resumos de outras eras onde pude
Teimando contra a torpe juventude
No quanto insanamente já me opus,
O fardo carregado leva à cruz
E mesmo quando o tempo se transmude
Sem ter sequer o sonho que inda ajude,
À morte que virá fazendo jus.
Canais onde pudesse ter a messe
De acreditar no nada onde se tece
Saída para os fartos dissabores,
E sigo contra a força das marés
Atando estes delírios em meus pés,
Seguindo sem sentir por onde fores.

7

Nas ânsias em que tanto me entranhara
Resumos de outros dias infelizes,
Cevando entre terrores, tantas crises
A sorte desenhando vã seara,
O parto a cada ausência se prepara
E sei quantas verdades tu desdizes,
Os olhos são deveras toscos, grises
E o parto com certeza aborta a Vara.
Heréticos demônios me rondando,
O gozo da mortalha desde quando
O farto caminhar não mais teria
Sequer a menor sombra da verdade,
Aonde quis viver eternidade,
O sonho não passou de fantasia.

8


Singrar sem ter ao menos cais ou eira,
A vida não permite mais o sonho,
E quando novo tempo eu recomponho
A face não seria a verdadeira,
Aonde o que se quer já não se inteira
Bem como o meu delírio; aonde enfronho
Gerando este tormento que, enfadonho
Demonstra a turbulência derradeira,
Não pude ter em mim tal desvario
E singro com certeza à foz de um rio
Em corredeiras, medos e terror,
Assisto à derrocada deste invento
E quando outro delírio ainda eu tento
Percebo o velho sol sem brilho e cor.

9

E gero deste modo o que talvez
Jamais se poderia fosse além
Do pouco quando o sonho inda contém
Gerado por completa insensatez,
O quanto a cada ausência se desfez
E trama a realidade com desdém,
Gerando a discrepância aonde vem
O olhar com vaga sombra, lucidez.
Apresso-me a beber esta aguardente
Ainda quando o novo não se invente
Nem mesmo se aparenta outro caminho,
Desvelos, desafetos e desníveis
Os erros cometidos são incríveis
E neles o meu canto é vão, mesquinho.

10


O fardo de sonhar já não bastava
A quem se quis além do mero quando
O peso do viver nos demonstrando
A sorte noutra face, amarga lava,
Minha alma com certeza sendo escrava
O pranto a cada engano me tomando,
O gesto se transforma e em contrabando,
O coração audaz em fel se lava.
Apresentando enfim o que sou tento
Viver além do caos e desalento
Sedento de outro encanto onde não resta
Senão este vazio e nele entranho
O passo se mostrara em falso ganho,
Resumo de quem tanto me detesta.

11

O peso do passado toma tudo
E nada mais serei senão tal fardo,
Ainda que pudesse em vão retardo
O caminhar aonde me transmudo,
Sedento navegante segue mudo,
A cada passo enfrento novo cardo
E quando na verdade, enfim, aguardo
Momento terminal; já não me iludo.
Resumo de outras eras tão antigas
E mesmo quando à luz inda prossigas
Encontrarás as sombras que deixara,
A cena se repete e refletindo
O tempo mais amargo, porém findo,
Quem sabe amanhecer nesta seara?

12

E quando se percebe o meu passado
Jogado sobre as pedras, rochas, rocas
No quanto num momento me provocas
O rosto permanece em vão nublado,
Olhar neste horizonte acinzentado,
E nele se adivinham velhas tocas,
Recôndito desta alma agora tocas,
E o medo novamente desfiado.
Olhar para os penedos de minha alma
Deveras, não me aplaca nem acalma
Somente decifrando este vazio
Por onde em abissais penetro em vão
Naufrágio dominando a embarcação
E o quanto que me resta, desafio.

13

Senão mesmo caminho em contraluz
Teimando nas incúrias da ilusão
Certeza de outros dias que virão
E neles o meu passo eu já não pus
O quanto da mortalha faço jus
E beijo a turbulência da estação,
Tentando novamente algum verão
Num invernal degredo em talho e pus.
Ferrenhos dias noites de abandono
E quando cada engodo desabono
Escrevo com as lágrimas a vida,
E sei desta penúria e sei por onde
A falsa realidade me responde
Tocando com terror cada ferida.

14

Na porta dos meus ermos nada resta
Sequer uma alegria, algum alento
E quando outro delírio ainda invento
Penetra a ventania em cada fresta
Realidade eu sei quanto é funesta
O medo não me traz discernimento
E quando em meu olhar o livramento
É toda esta certeza onde se atesta
A vida com completa competência
Não deixa e nem permite uma ingerência
Do pendular espasmo da vontade,
Arranco dos meus olhos qualquer sombra,
Nem mesmo este demônio em mim assombra
Enquanto a fantasia reina e invade.

15


Dos dias mais felizes vejo ainda
A mera sombra e nela se me entranho
O quanto da verdade nega o ganho
E o sonho com ternura teima e brinda,
Apenas realidade se deslinda
O mar que procura e tão tamanho
Enquanto a fantasia; agora estranho
No quanto no passado; fora infinda.
O tempo noutro tempo se desenha,
A sorte mais audaz; sei ser ferrenha
E nada se desdenha, nem o risco,
O passo rumo ao farto não mais traz
Sequer qualquer resquício de uma paz
É quando um passo em falso; ainda arrisco.


16



Do quanto quis estrelas nada vinha
Senão a mesma face desdentada
Da sorte noutra via perpetrada
Gerando muito aquém do que convinha,
A vida tantas vezes é daninha
E teimo contra a fúria deste nada,
Vencendo com terror a velha estrada
E nela cada curva me detinha.
O mundo diz cenários divergentes
Aonde com certeza ainda inventes
Saídas para as tantas discordâncias,
Somando os ermos nossos, vejo aquém
Do todo desejado e se convém
Seguir além do sonho em vãs estâncias.

17

Permito-me vagar onde pudera
Gestar qualquer domínio em claridade
E quando se percebe o que degrade
Encontro a mesma face da quimera,
O pranto a cada engodo destempera
E nega o quanto vi; realidade
À sombra desta espúria imensidade
Caminho procurando. Quem me dera!
Senzalas entre as tantas, se as cultivo
O olhar enamorado, pois cativo
Já não traduziria este horizonte,
Aonde na verdade em sortilégio
O quanto poderia ser mais régio
Deveras com terror nos desaponte.

18



A ausência de esperança ao fim de tudo
Não deixa qualquer luz, sigo sombrio
E quando alguma sorte desafio
Eu sei quanto em terror assim me iludo,
O porte do sonhar, jamais, contudo
Seria tão somente em desvario
Cenário aonde o risco teimo e crio,
Depois de certo tempo, quedo mudo.
O peso desta vida se mostrara
Além do que pudesse esta seara
Gestando outro caminho e não consigo,
Vencer os meus anseios nem terrores
E quando mesmo assim em desamores,
A dita se decifra em vão perigo.

19


Nefasta turbulência dita a sorte
De quem se fez aquém do quanto quis
E sei que na verdade a cicatriz
Negara da esperança algum aporte,
O beijo em desafio toma o norte,
O fardo em minhas costas, infeliz,
Um pária pelas ruas contradiz
Somente na aguardente se conforte.
De bar em bar a noite chega ao fim,
O rumo desdenhado de onde vim
O quarto em solidão; ermos que eu trago
E tomo da esperança mais um trago
Vestindo a fantasia inutilmente
Ainda que um cenário em paz invente.

20


A gélida presença deste nada
Transcorre em vagas luzes, sigo alheio
E quando do vazio me rodeio,
A sorte não permite nova estada,
Aonde se pensara vislumbrada
Apenas um momento em devaneio,
Seguindo solitário ainda anseio
Vencer a minha lida desdenhada,
Não creio nos momentos onde eu possa
Saber se esta alegria fora nossa
Ou mera fantasia e nada além.
O risco de sonhar já não comporta
Mantendo mais fechada enfim a porta,
O vendaval dos sonhos me detém.

21

Tentando ainda ter qualquer desejo
Depois da derrocada aonde dano
E sei que todo passo em desengano
Permite aquém do quanto inda prevejo,
O céu onde buscara em azulejo
Agora se moldando em novo plano,
Resumo de um vazio eu sigo insano
E teimo noutro rumo enquanto andejo.
Arranco cada espinho e tento além
Já nem a tempestade me contém
Esgarça-se o delírio em voz sombria,
O manto aonde quis já não me cabe,
E quanto mais o sonho em mim desabe
Decerto esta mortalha se tecia.

22


E bebo os mais terríveis dos venenos
Na boca desta estúpida quimera,
Aonde o que pudesse degenera
Matando os sonhos leves, mais amenos,
E quando se tentasse outros, serenos,
O risco de viver se destempera
E a morte se adornando em primavera
Deixando para além os dias plenos.
E resolutamente busco enfim
Cevar com alegria este jardim
Embora saiba bem do intenso inverno
E nele me adentrando sem defesas
Seguindo as mais terríveis correntezas,
Nos ermos da esperança não me interno.

23


Ourives da ilusão; a poesia
Apenas vende sonhos, nada mais,
E sei das sutilezas dos cristais
Aonde o meu caminho em vão porfia,
Gestando ou destroçando a fantasia
Cevando calmaria ou temporais,
O quanto se permite em novo cais
Embarcação enfim naufragaria.
O parto o preço o prazo a sorte e a dita
O quanto do sonhar se necessita
E grita ensandecido dentro em mim,
Se eu sou ou não pretendo ser poeta
A vida jamais sendo, pois completa
Permite alguma flor neste jardim...

24

E quando na verdade vejo o fim
E sei quanto pudera ser diverso
Do todo quando ainda desconverso
Escrevo a solidão e bebo enfim
O torpe caminhar e de onde vim
Apenas o meu sonho eu deixo imerso
E quando sobre o nada tergiverso
Meu prazo se desvenda, é sempre assim.
O fato de sonhar e me entregar
Bebendo cada gota do luar
Não deixa que se veja assim meu eu,
O todo aonde pude estar desnudo
Agora com certeza é vão, miúdo
E o pouco na verdade se perdeu.

25

A sorte noutra senda segue alheia
Aos passos onde tanto quis um dia
Gerar ou mesmo até não mais queria
O quanto do meu nada inda rodeia,
Fagulha de ilusões não me incendeia
Nem mesmo alguma lua se recria
Aonde a noite em mim morre sombria
A mente sem destino devaneia.
Resumo de uma vida se percebe
E teima e perambula em torpe sebe
Galgando este vazio aonde há tanto
O mundo se transborda no non sense
Sem nada que deveras me compense,
Ainda inutilmente teimo e canto.

26

Negando a quem pudesse alguma luz
E sei do meu caminho em turbulência
Aonde não havia coerência
Nem mesmo a sorte e a dita me seduz,
Negando cada passo enfim me pus
Cegando qualquer lume em penitência
Ao menos poderia haver clemência
De quem noutro momento, em contraluz.
Mas quando se adivinha o meu vazio
E teimo a cada verso e já desfio
O fardo carregado desde quando
O mundo onde pensara haver descanso
Agora com ternura não alcanço
E o vejo em realidade se nublando.

27


O tempo não tramita além do lodo
E gera incompatíveis caminhares
Aonde quis o sonho, já notares
Realidade imita o velho engodo,
Cerzindo este cenário em turva luz,
O fato de sonhar já não me basta
Imagem do passado agora gasta
Apenas o meu eu não reproduz,
Esgueiro-me decerto entre os demônios
E quando mais procuro alguma sorte,
Sem ter desta ilusão qualquer aporte
Resumo o meu caminho em pandemônios.
Na parte que me resta, o pouco ou nada,
A morte tão somente anunciada...


28



Parábolas diversas dias tais
Aonde se pintaram esperanças
E quando não resumes e te lanças
Procuras por tormentos desiguais,
E sei dos mais dispersos temporais
E neles perco os dias, confianças
Ao denegrir a vida em vãs pujanças
Os olhos se perdendo em maus sinais.
Rendido ao que inda possa haver em mim,
Não deixo qualquer sombra em meu jardim
Senão a morta há tanto dentro da alma,
O vento em discordâncias mais sutis,
E tanto na verdade já não quis
Nem mesmo a fantasia inda me acalma.

29

Apenas o vazio havia em mim
Depois desta terrível desventura
E quando a realidade se procura
Chegando pouco a pouco a um ledo fim
O todo ou mesmo o nada traz enfim
Realidade enquanto isto perdura,
Saber ou não viver decerto cura
O prazo não domina esta amargura.
Erguendo o meu olhar bebo horizonte
Ainda quando o sonho em vão desponte
Tramando outro cenário aonde eu pude
Singrar sem preconceitos mar imenso
E quando na verdade ainda penso
Procuro inutilmente a plenitude.

30



E o quanto se pensara e nada vinha
Seguindo em desalento a velha estrada
A franca e dolorosa derrocada
Gerando outra verdade, tão daninha,
E sei se posso ou não saber mesquinha
A porta aonde adentra o mesmo nada,
E tento e não concebo a punhalada
E nela a face escusa me continha.
Aplaco a minha dor em velha senda
E quando o mergulhar já não atenda
Sequer alguma angústia ou mesmo um sonho,
Eu vago sobre os ermos e termino
Aquém do quanto julgo em meu destino,
Gestando este caminho ao qual me oponho.

31


Matando esta promessa ensandecida
E não traçando alhures novo dia
Arcando com meu passo em ironia
Mergulho no que fora outrora urdida
A morte contrapõe, domina a vida
E nesta face expondo a hipocrisia,
O corte na verdade se previa
E nele sinto a frágil despedida.
Meu verso não transcorre sem ao menos
Sorver o que pensara em tons amenos,
Mas sei do torpe enredo aonde entranho,
E sei que sendo assim sempre me dano,
Bebendo em goles fartos, desengano,
Volvendo aos ermos vagos já de antanho.

32



Na face desdenhosa em que me escondo
O pasto se negando a quem pudera
Sentir o quanto a vida fora austera
E nisto novamente o vago eu sondo,
Aonde na verdade quis me opondo
Rendido ao quanto agora destempera,
Medonha e gigantesca, torpe fera
Em seu caminho teimo e em vão me pondo.
Escusas não resolvem desenganos,
Puídos desde sempre os velhos panos
Apenas o terror domina as plagas
Aonde em chagas ditas o futuro
E quando um lenitivo; inda procuro
Em turvas excrescências tu me alagas.

33


Restando o quanto posso depois disto,
Arcar com ermos tantos e seguir
Cevando no vazio este elixir
Por onde na verdade não resisto,
E sei o quanto em turbulência insisto
Cercando com terror o meu porvir,
Não tendo mais o quanto pressentir
A morte vez em quando inda despisto.
Não tento além da queda novo rumo
E visto este terror e me consumo
Na delicada face destinada
Ao vândalo cenário onde me inteiro
E sei do quanto fora verdadeiro
Traçando no vazio a velha estrada.

34


Resulto de um vazio aonde eu pude
Vencer os descaminhos mais cruéis
E quando sigo a vida em medos, féis
O passo se mostrara em amplitude
Cenário que adentrara sempre rude
Os ermos caminhares; são fiéis
E neles em verdade vendem méis
Enquanto o imaginário nos ilude.
Confundo-me decerto e não consigo
Sentir esta eminência e em tal perigo
Resulto do que um dia fora atroz,
O rio desabrocha-se no mar
E quando pude enfim enveredar
Realço com terror; antigos nós.

35

Aonde na verdade fora insólito
O corpo em emoção já se desfaz
Buscando finalmente alguma paz
Resumo o meu terror em tal monólito
Acrescentando o nada em persistência
O pranto não sossega e destempera
Edênico caminho dita a fera
Sorvendo tão somente a pestilência
Acréscimos; não tenho e sei do vago
Aonde se presume o nada ser,
Restando dentro em mim o anoitecer
E nele cada morte domo e trago.
A virescência nega outro matiz
Pluralidade em mim se contradiz.

36

No bojo do viver alguma messe
Presume qualquer forma de esperança,
Ao menos o delírio já se cansa
E um novo amanhecer, o sonho tece,
O passo, a queda, alfombra que amortece
O manto desnudara em vã fiança
E o quadro; aonde outrora eu vi pujança
Agora outro vazio transparece.
Elevo minha voz ao quanto pude
E tento acreditar mais amiúde
No fato da vergasta me ensinar
Oclusas furnas ditam o meu rumo,
E quando nas clausuras me consumo
Sonhando com distante, e ledo mar.

37

E quando em qualquer luz inda me enrede
No vago de uma turva persistência
O amor não dita em regra a consciência
E até mesmo o caminho ainda impede,
O todo noutra face se concede
Gerando o dissabor em vã ciência
Aos poucos me domina esta demência
E o passo rumo ao anda não procede,
Enveredando ocasos dentro em mim,
O farto caminhar já diz do fim
E nele não percebo o sacramento
Deidades; tão diversas, procurara
E quando a vida fosse bem mais clara
Quem sabe outro desejo ainda invento?

38

Navego por caminhos mais herméticos
E tento acreditar noutro momento
Aonde e até quem sabe em provimento
Eu tenha novos dias, bons, proféticos,
Cerzira no passado em tons heréticos
O quanto agora em paz eu me oriento
E mesmo quando alhures inda invento
Os dias não serão deveras céticos.
Vislumbro a divindade quando creio
E tento novamente sem receio
Crisálidas dos sonhos, transparência,
Mas quando mais atroz realidade
O passo rumo ao tanto se degrade
E trame com terror mera excrescência.

39



Diverso do que tanto desvendara
Em lendas mais obtusas, costumeiras
Estrada; aonde em vão, tanto te esgueiras
Encontra a sua foz noutra seara,
Eclodem dentro em mim e se escancara
Imersa em dissonâncias traiçoeiras,
E nelas entre quedas e ladeiras
O mesmo caminhar me desampara,
Preparo-me afinal para a passagem
E tendo na mortalha esta hospedagem
Gerada pela mera vida em vão,
Depois de acreditar em ardentias
Agora na verdade só trarias
A quem se fez escravo, escuridão.

40

A solidão mordaz arranca enfim
O olhar; mais dessedento aonde um dia
Pudesse sem talvez tanta ironia
Gerar além do mero e vão festim,
Resumo o quanto posso e sei no fim
O passo aonde o tanto não recria
E o caminhar alhures se desvia
Perpetuando o medo que há em mim.
Parnasos entre sonhos e delírios,
Dos Eldorados mortos, tais martírios
Desenham tão somente estes penedos,
E sigo com terror além do quanto
O peso do viver trama o quebranto
Marcando com angústia meus enredos.

41



Entranham meus olhares outras cenas
E delas não percebo um só instante
Aonde o quanto pude e não garante
Deveras com terrores me apequenas,
Olhando de soslaio vejo apenas
O vândalo temor que me adiante
E molde a face espúria e degradante
E nela não se vêm mais amenas
As horas onde tanto quis um brilho
E quando no passado inda palmilho
Resumo o pranto em néctar, meu maná,
Egresso deste mar em abandono
Somente no passado ainda abono
O sol que nunca mais, pois brilhará.

42



Alcovas do passado; entranho quando
O risco de sonhar pudesse ser
Maior do que o melhor amanhecer
E nele meu delírio se moldando,
O farto desejar se transbordando
Transforma qualquer luz e no tecer
Percorre este cenário a fenecer
Mortalha noutro tanto desnudando,
O prazo determina o fim do jogo,
E quando se mostrara em mero rogo
O fogo envilecendo o meu olhar,
Pudesse ter a sorte de quem luta
E mesmo sendo a morte mais astuta
Procura no vazio, descansar.

43

Ao destruir em nós o quanto é rude
O manto mais atroz onde se tece
A dura realidade em vaga prece
Matando o que inda teimo em juventude
O passo rumo ao nada nunca mude
O verdadeiro trauma se obedece
Enquanto a poesia se esvaece
E tanto gere ocaso em atitude,
O marco mais atroz de um tempo turvo
Aonde a cada ausência não me curvo
E bebo esta verdade como estorvo,
E tento renovar, mas nada disto
Produz a fantasia aonde insisto,
Nos meus umbrais abertos, ouço o corvo...

44


E o sonho a cada passo desolado
Gestando outro caminho aonde um dia
O tempo na verdade em agonia
Transcorre sem saber se existe um prado,
Regendo os mesmos erros de um passado
Aonde com certeza nada havia
Somente o meu terror já poderia
Tramar novo destino, sonegado.
Apresso-me a sonhar embora seja
Esta alma mais atroz e mesmo andeja
Resulta de um terror tão costumeiro,
O parto traduzindo a morte além
Nem mesmo a fantasia me detém
O amor? É simplesmente este vespeiro...

45


Prenúncio de uma torpe invalidez
O sonho desalenta e desabona,
O quanto da verdade vem à tona
E nega desta vida a liquidez,
O rumo aonde tudo se desfez
O corte em incertezas abandona
E mesmo a sutileza não se adona
Aonde com terror mais nada vês.
Repare nesta lua avermelhada
Deitando já desnuda sobre a estrada
Tramita sobre as brumas e me traz,
O farto caminhar em noite opaca
Nem mesmo a fantasia ainda aplaca
O quanto de mim mesmo é tão mordaz.

46

As rapineiras corjas da ilusão
Riscando o céu em turvas excrescências
E delas meras luzes, coincidências?
Ou mesmo alguma cruz, novo senão.
Nefastas noites ditam desde então
As duras e tenazes virulências
Aprendo com terríveis inocências
Meus olhos outros dias não verão.
Eu sinto extinto em mim algum alento
E quando nova lua ainda invento
A claridade espúria me acompanha,
E a sólida presença da ternura,
Aos poucos noutro nível se amargura
A claridade esvai-se em vã montanha.

47


No quarto aonde durmo e tento crer
Na face mais suave em luz tranquila,
O quanto do vazio se desfila
E mata qualquer luz no amanhecer,
Verdade se desnuda e passo além
Tentando outro cenário que não este,
E quando em fantasia tu cedeste
O mundo na verdade nada tem,
Escassa lua dorme em porto alheio,
O cômodo caminho não mais traço,
Rendido a cada engodo neste espaço,
Apenas o vazio inda rodeio,
E cevo inutilmente esta ilusão
E dela nem as sombras se verão.

48


Peçonha costumeira num sorriso
Aonde imersa treva dita a norma,
E quando a realidade já me informa
Do passo desdenhando ou impreciso,
Negando o que deveras mais preciso,
O mundo noutra história se deforma,
E bebo do passado onde se forma
Apenas resultando o prejuízo.
Esgarças noites vagas, tão somente
Ainda que outro rumo a vida alente,
O medo não permite uma saída,
Enquanto houver um sonho talvez possa
Vencer a imensidão da turva fossa,
Porém sei desta morte pressentida.

49



Detalhes de outras vidas? Mero acaso,
O risco de viver não mais se esgota
Na face desdenhosa desta rota
E o tempo tem deveras certo prazo,
E quando na verdade já me atraso
E bebo a solidão onde se nota
Presença abandonada e se denota
O caminhar em pleno e turvo ocaso,
Gerando desde sempre este abandono
E nele me entranhando sem respostas
Olhando para as faces decompostas
Dos tempos mais terríveis, não em adono
Sequer da fantasia ou mesmo herege
O vago dentro em mim, o tempo rege.

50

Assim a torpe imagem desta vida
Derrama sobre mim a verdadeira
E espúria noite aonde a mensageira
Da morte se mostrara enfim urdida,
O quanto da verdade nos agrida
E mostre esta sonata, a derradeira,
À sombra de uma luz mais traiçoeira
O passo com certeza se regrida,
E tento enquanto busco soluções
Diversas das que agora tu expões
Num frágil caminhar em noite insana,
O templo desabando sobre nós
O olhar esvaecido e mais atroz,
Realidade após já não se ufana...

51

Do quanto a sorte ampara quem buscava
Depois de temporais, algum alento,
E quando reverter o tempo eu tento
A vida se esparrama em fúria e lava,
O todo quando muito me enganava
E o risco de viver em sofrimento
A porta se emperrando, sigo atento
E toda a realidade me empanava.
O verso sem destino, a voz sombria
Ao menos no futuro eu poderia
Sentir o respirar bem mais suave
De quem se fez amiga e companheira,
Mas quando a face espúria é traiçoeira
A sorte tão somente mais a agrave.

52

Resultam na verdade vãos recados
Os ermos entre as pedras, penedias,
As horas mais atrozes e sombrias
Os templos sutilmente destroçados,
Os erros cometidos, velhos fados,
A morte com certeza soerguia
Dos ventos do passado esta heresia
E nela novos rumos são traçados,
Ausento da esperança e sei, portanto
Inválida promessa onde garanto
Um passo pelo menos em firmeza,
O quanto restaria e já não trago,
O pendular delírio e nele o estrago
Demonstram quão potente, a correnteza.

53


Os olhos pelos lumes embaçados
Os dias não seriam mais iguais,
Apenas entre tantos maus finais
Lançando sem destino velhos dados,
Resisto o quanto posso e por legados
Encontro os mesmos ermos mais banais,
Revelo a cada dia sempre mais
Erráticos cometas desenhados,
Lamúrias entre dores, tanto levo
E rito feito em dor, duro e longevo
Sem nada que decerto inda amenize,
A vida se perdendo desde quando
O tempo noutro rumo se entornando,
Gerando a cada dia nova crise.

54

Nem mesmo alguma luz ou brilho eu sinto
Depois de ter entrado em tal seara,
A vida se demonstra e se prepara
Tornando o mero sonho agora extinto,
E quando na verdade não pressinto
Sequer um novo dia onde se ampara
O passo noutra face e demonstrara
A farsa pela qual, moldando instinto
Eu tento discernir um passo além
E como cada curva me detém
A estrada determina este final,
Dos sonhos entre tantas galhardias,
Apenas onde outrora te sentias
Agora um tom errático e venal.

55


Os dias repetidos; não mais quero.
O tempo não pudera ser assim
Retornar ao princípio de onde vim?
O quanto agora morro e sou sincero,
Vencer os meus demônios, inda espero
E tento navegar começo e fim,
O porto se distando mais de mim,
O olhar me devorando, atroz e fero,
Respiro um ar terrível e o abandono
Do qual a cada engano mais me adono,
Expressa este vazio que ora tenho,
O canto mais amargo em tom menor,
Delírio costumeiro, o sei de cor,
Também como este torpe céu ferrenho.

56


A angústia de um viver já não mais trama
A sorte de quem busca uma ventura,
O todo noutra face não perdura
Nem mesmo se mantendo acesa a chama
A vida repetindo o mesmo drama
E nela a face amarga e sei escura
No quanto do vazio me amargura,
A solidão deveras já reclama
E traz no olhar sombrio esta verdade
Porquanto a negra noite agora invade
Deixando qualquer luz além, distante,
O vento promissor agora ausenta
E sinto bem mais forte esta tormenta
Aonde cada passo se adiante.

57

Gestando apenas sonhos e vazios
Cerzindo merencória realidade
O tempo em turva face, falsidade
Turbilhonar caminho rege os rios,
E dentre tantos erros, desafios
Quem sabe no final, serenidade?
O mero desenhar em liberdade
Unindo com firmeza frágeis fios,
Assim a vida molda e se revela
Franqueia um passo aquém e nega a vela
O barco noutro porto, nova senda,
Sem nada que decerto ainda sane
O quanto do meu mundo morre em pane
Nem mesmo alguma bóia o tempo estenda.

58


Na ansiedade vivo à flor da pele
E crio com terror novas mortalhas
E quando a poesia ainda espalhas
Ao quanto nada fosse me compele
A voz ensimesmada onde se atrele
As velhas melodias, frágeis palhas,
E rendo-me nos campos de batalhas
No quanto esta nevasca me congele,
Vertendo em treva, neve e solidão,
Os dias com certeza não terão
Sequer qualquer momento em raro alento,
Por vezes inconstante sonhador,
Vagando nas entranhas, desamor,
Um dia mais tranqüilo; em vão, eu tento.

59

O corriqueiro verso poderia
Ao traduzir a vida de quem sonha,
Por mais que a própria sorte ora se oponha
O gesto repercute hipocrisia,
Aonde nada mais diz alegria
Decrépita ilusão se faz bisonha,
E o vandalismo então acerca e enfronha
Matando o quanto pode a fantasia.
Ineptos caminhantes; noite afora,
Apenas o terror inda decora
A dura paisagem enegrecida,
Irrito-me porquanto ainda pude
Teimar em mero passo, atroz e rude
Perdendo o que restara desta vida…

60



Do corte envolto em trevas vejo apenas
Recônditos que esta alma ainda oculta
E quando a realidade dita a multa
As horas não serão jamais amenas,
E tento cultivar em toscas cenas
O quanto da verdade não ausculta
Quem vive em rebeldia e à vida insulta,
Assim como também tu me apequenas,
Reveses são comuns, sei tanto disto
E quando após a luta ainda insisto
Revolvo os meus demônios e os desvendo,
O passo noutro rumo não se traz
E o quanto na verdade quis audaz,
Não passa simplesmente de um remendo.

61



Na face mais atroz da realidade
Especular anseio, este ditame
Aonde na verdade sempre clame
A fúria onde meu ermo já degrade,
Resumo a preterida liberdade
E os sonhos se perdendo em tolo enxame,
O corte profanando quem reclame
A porta se encerrando atrás da grade,
Já não me importa mais saber nem como
Se o quanto não me resta já não domo,
Esboço esvoaçante sonho além,
Mas quando sou refém da fantasia
O sonho mais atroz ora regia
A vida aonde o nada me detém.

62

O ponto de partida ou de chegada
A mesma estrada mostra este cenário,
Aonde caminhar é necessário
A morte noutra face desgrenhada,
Resumo o meu caminho em quase nada,
Dos sonhos meramente um vão corsário,
O rumo desenhado, imaginário,
A porta se mostrara mais cerrada,
Acréscimos de dias, meses, anos,
Somente aumentariam velhos danos
E o todo se transborda inutilmente
Sem ter qualquer paragem vou em frente
Ousando mesmo quando em desenganos,
Ao passo em que o vazio se apresente.

63


Alimentando assim a mesma cena
Aonde encerra a peça, ato final,
O termo noutro tempo é desigual
E quando muito a vida me envenena,
O parto sonegado, a morte é plena
O fardo carregado, outro sinal,
O vento manso agora é vendaval,
Realidade apenas me condena,
Ordenações diversas desta vida,
Percorro sem saber de uma saída
O velho interminável labirinto,
E quando imaginara alguma chance
Ao nada enquanto a vida além avance,
O sonho em redenção, agora extinto.

64


Contendo o que pudesse em noites vis,
O risco de sonhar já não atinge
Vencer com ironia a velha esfinge
E tentar muito além do que mais quis,
Aprendo a caminhar e por um triz
A dor que na verdade ora nos tinge
Enquanto a realidade oculta ou finge
Adentra em puro escárnio a cicatriz.
Alpendres dos sobrados, velhos ermos
E quantas vezes teimo sem mais vermos
Sequer a direção por onde siga
A tralha desta vida envilecida
Preparo a cada ausência a despedida,
Tentando preservar; do sonho, a viga.

65



E imensa solidão gerando o caos
Resulto do que um dia fora a mais,
E tento em cantos vários germinais
Um cais aonde aportem velhas naus,
Os dias com certeza são bem maus
E nisto quebro os sonhos, meus cristais
Navego sempre envolto em vendavais
Já não percebo escada e nem degraus,
Alheio ao que inda possa me gerir,
O mundo desconhece algum porvir
Transito no passado e meramente
Açoda-me o quem sabe e o nunca enquanto
Ainda ensimesmado ora me espanto
Ao menos este espelho nunca mente.

66


Percalços encarando quando tento
Vencer os meus demônios e não sigo
O rumo aonde outrora em vão perigo
Bebera imensamente o sofrimento,
E resto além do parto em desalento
A provisão negada, o que persigo
Não deixa mais sinal, vivo e consigo
Apenas desvendar alheamento.
Organizando o passo rumo ao vão,
Sementes se espalhando em torpe grão
Germinações jamais serão visíveis
Aonde se esboçara este deserto,
E quando este delírio; esqueço aberto,
Os passos são deveras implausíveis.

67



Demonstra a falsa imagem este espelho
E nele retorcida realidade,
O peso a cada dia, mais idade,
Nos ermos do passado eu me aconselho,
E quando com espúrios assemelho
Tocado pela vã senilidade,
A morte pouco a pouco ora me invade,
E o olhar entorpecido; agora engelho.
Resvalo nos medonhos; onde eu passo
E perco esta noção de tempo/espaço
Quedando muito além do que pudera,
Esgoto as minhas forças, sigo exausto,
Aonde se pensara em raro fausto
Infausto dominando; grã quimera.

68

No quanto em busca inútil vida afora
O passo se permite mais um pouco,
Não tendo mais saída eu me treslouco
Enquanto a realidade me devora,
Alheio ao que inda possa me permito
Vencido caminheiro em noite escusa,
A mão que sobre o peito se entrecruza
A gelidez espúria do granito,
O rito, o mito, o ocaso, o nada além
Apócrifo cenário doma o vasto,
E quando em solidão não me contrasto,
Apenas a esperança me contém
E alheio ao que inda possa haver e errático
Somente um tolo ser, torpe e lunático.

69

Apodrecendo um pouco a mais e além
Do quanto ainda quis e mesmo um dia
Gerando dentro em mim melancolia
Apenas a mortalha me retém,
O vago caminhar e disto eu bem
Há tanto noutra face moldaria,
Marcado por fatal hipocrisia,
O rumo se desvia e nada vem,
Olhando para trás a tua imagem
E nela como fosse uma miragem
Reflexo de minha alma se espelhando,
Assim intensamente desnudado,
O corte a cada dia anunciado
Errôneo delirar se desvendando.

70


Acordos descumpridos meramente
Pudessem transcorrer com mais audácia
E quando se percebe tal falácia
A vida noutro instante também mente,
Açodam-me tratados onde um dia
Pudesse acreditar numa esperança
E quando no vazio; a alma se lança
Encontro o teu olhar em sincronia.
Reparos que esta vida pode enquanto
Resumos deste verso são venais,
Espalho pelos cantos, os astrais
E novo dia em mim; vejo e me espanto.
O quanto na verdade é mais sublime,
Dos erros e pecados não redime.

71

E nela a realidade diz o quando
O manto se transforma e me recobre
Um passo mais audaz ou mesmo nobre
Enquanto o mundo eu sinto revelando
A face realística em nefando
Aspecto aonde o todo se descobre
E o prazo se extermina com o dobre
No velho campanário derramando.
Apresentando a ti minha mortalha
E nela cada traço onde se espalha
A antiga virulência desta vida,
A dita não redime nem constrói,
O tempo tantas vezes já corrói
E me prepara enfim pra despedida...

72

Adiantando ao corte em guilhotina
Olhando mansamente o que me espera,
O farto caminhar dita a quimera
E o passo na verdade determina
O fim que quando muito nos ensina
E nada do que eu possa desespera
Apenas noutra face regenera
O quanto do meu mundo se extermina,
Vencido em tal consórcio, vida e morte,
Secando qualquer fonte e sem aporte
Sedento este andarilho vê seu fim,
O franco atirador, o olhar escuso
Enquanto tais limites; sei que eu cruzo
A liberdade bebe tudo em mim.

73


A vida noutro tanto reconduz
Ao mesmo patamar aonde um dia
O todo no vazio se exprimia
Bebendo cada gota desta luz.
E quando à fantasia enfim me opus
Seara se mostrando mais sombria,
Crivando o meu olhar em agonia
Sorvendo da esperança gozo e pus.
Olhando mansamente para além
O todo na verdade me convém
E sinto derrubado este cenário,
O vandalismo esgota qualquer fonte
E quando para o nada o passo aponte
O sonho se mostrando necessário.

74

Resumo de uma estúpida vivência
Aonde o tempo quis razoavelmente
Um novo amanhecer e nada sente
Quem sabe deste sol em inclemência.
O amor quando da luz toma ciência
Rondando o meu passado frente a frente
Resulta no vazio continente
E o contingente gera a decadência.
Cotidianamente ensimesmado
Caminho pela vida rechaçado,
O vasto sonho agora é mero esboço,
Nem mesmo algum resquício deste todo,
Esgoto o meu delírio em limo e lodo,
Teimando em solidão, eu me alvoroço.

75

Um abissal destino se transcorre
Nos ermos de minha alma enquanto eu luto,
O olhar por vezes sendo bem mais bruto
O coração transborda em pleno porre,
E nada do que resta inda decorre
Do vago ensinamento e se reluto,
Pudesse na verdade ser astuto
Enquanto a fantasia ao longe morre,
Organizando a fuga em turbulência
Dos dias entre trevas, a ingerência
Açoda quem pudera acreditar
Num passo rumo ao tanto que não tenho
O olhar alheio em tolo desempenho
Jamais adivinhando se há luar.

76



Aprofundando abismos eu mergulho
No caos em absoluta sincronia
E quando se percebe um turvo dia,
Bebendo cada gole com orgulho,
Os ermos de minha alma eu não vasculho
Tampouco novo tempo poderia
Singrar além do sonho a poesia,
Sabendo a cada queda um pedregulho.
Searas ilusórias; não mais levo
O tempo não seria enquanto cevo
O farto dos meus medos neste rumo,
E quando mais audaz fosse o meu passo,
O olhar ao penetrar por ledo espaço,
Traduz o quanto posso e não presumo.

77

E dele se apresenta o nada enquanto
Eu teimo em heresias e inda vejo
A sombra do que fora o meu desejo
Errática ilusão já não garanto,
E teimo desde quando e como e quanto
O fato de sonhar mudando ensejo,
Deveras noutro rumo me azulejo,
E sei do teu olhar, mero quebranto,
Eu necessito apenas um segundo
E assim deste não ser se tanto inundo
Vacância de ilusões gerando o peito,
Pereço e busco ao menos um alento,
E quando a realidade além eu tento
Por sobre estes colchões de prego eu deito.

78


Resume a tentação aonde outrora
Pudesse adivinhar um bom momento
E quando esta ilusão; em mim fomento
A própria realidade desancora
O tempo em tal fastio se demora
E bebo a goles fartos, sofrimento
E quando algum instante ainda tento,
A falta de esperança desarvora,
O passo reticente, o vago esgar
Em luzes tão diversas, mar adentro,
Somente no passado eu me concentro
Cansado deste inútil labutar,
Olhando para trás somente vejo
A fúria desigual em tosco ensejo.

79


Aonde o pensamento já morria
Pereço como fosse um passarinho,
Audaciosamente quis um ninho
Aonde nem em sonhos poderia
Matando o alvorecer de um claro dia,
O rumo, se inda existe, eu sei mesquinho,
Mergulho nos meus ermos e daninho
Não resta dentro em mim mais fantasia,
Amortalhando o passo aonde eu tento
Vencer a solidão, raro provento
Alheio aos descaminhos; não contenho
Sequer a menor parte da emoção
E sei que noutros tempos surgirão
Momentos num aspecto mais ferrenho.

80


As ondas entre cordas, olhos, sonhos
Os ramos destroçados deste arbol,
O tempo demonstrando em girassol
Resumos de outros dias enfadonhos,
Entranho por diversos e bisonhos
Delírios procurando em réstias sol
Lutando meramente sempre em prol
Do quanto imaginara mais risonhos,
Erguendo à própria vida, então um brinde
Sem nada que decerto inda deslinde
O velho caminheiro assim se esgota,
Aonde no passado quis a messe,
O passo sem destinos ora tece
Em tolo desespero a velha rota.

81


Não quero desvendar o quanto é falso
O rito desumano e desconexo,
Olhando de soslaio vou perplexo
Mergulho neste imenso cadafalso,
A cada amanhecer outro percalço
O rústico delírio já sem nexo,
E tento apenas ver mero reflexo
Vagando atrás da vida em vão encalço,
Açoda-me o vazio da esperança
E nisto sem certeza o mundo lança
A velha face pútrida e desvendo
Da rota cordoalha dentro em mim,
O sórdido caminho leva ao fim
Ousando a cada passo outro remendo.

82

Ainda quando em vão procure ao menos
Singrar novos destinos e não creio
Senão nos dias fartos, sigo alheio
E bebo em tua boca tais venenos,
Os riscos na verdade são pequenos
Maior que o próprio mundo é meu receio
E sei o quanto é duro sem recreio
Acreditar em tempos mais amenos.
Ouvira a voz sombria do abandono,
E quando o dia a dia desabono
Rendido pela imagem refletida
Em distorcida cena, nada a mais,
Encontro dentro em mim os vendavais
Aonde já perdera a luz e a vida.

83


Do quanto houvera há tempos dentro em mim
Já nada mais encontro, resta o frio,
E quando além do cais ainda espio
As sombras do que fosse algum jardim,
Rendido à fantasia sigo assim
O meu olhar decerto atroz, sombrio,
O canto noutro rumo desafio,
E sinto este perfume de jasmim,
Festins anunciando uma vitória
Embora a minha lua merencória
Deitando no horizonte, sem o brilho
Aumentam meus tormentos, pois enquanto
Ainda noutra face me agiganto
Apenas o nefasto em mim palmilho.

84

Pereceria em mim o quanto outrora
Pudesse ainda haver em luz suave
E quando na verdade já se entrave
O passo no vazio se demora,
O farto desejar sem ter nem hora,
O coração esguio, feito uma ave
Vagando por sombrios mundos, nave
Minha alma em sacrifício se decora,
Restando a quem pudesse imaginar
Ainda um mero fato e num olhar
Espio os meus fantasmas e mergulho
Sabendo deste nada que me espera
A porta se entreabrindo eu vejo a fera
Do todo que edifico, sou entulho.


85

O rio deslizando
O tempo passa além
E mansamente vem
E tanto quanto ou quando
O tempo desfiando
Do gozo muito aquém,
Negando o que também
Pudesse destoando,
Resumos de uma vida
Aonde a despedida
Alheia-se da foz,
Resgate da nascente
No quanto ainda tente
Voltar o amor em nós.

86



O vento em assobio
O tempo nunca pára
O coração dispara
Em louco desvario,
E quando desafio
Adentro esta seara
Aonde se declara
O amor além do frio,
Vagando em noite imensa
O quanto recompensa
O sonho em tuas mãos,
Depois de tantos erros
Somando os meus desterros
Os dias não são vãos.

87


A mata vorazmente
Entregue à fúria humana,
O quanto se profana
E à morte se apresente
Qual fosse algum demente
Em força quase insana
O mundo desengana
O todo que aparente,
Riscando deste mapa
O verde que inda encapa
Este cenário gris,
O rude caminheiro
Encontra no espinheiro
O quanto atroz já quis.

88


Aguarda a noite plena
Quem tanto não sacia
Com toda a fantasia
A sorte não acena
Além do quanto ordena
E gera a hipocrisia
O tanto poderia
Ser mais que alma pequena
No caos entre tormentas
Deveras me apascentas
E tento renovar
Com ânsia desigual
O rito original
Entrego-me ao luar.

89


Os sapos, as corujas
Os medos sombra e treva
De tantos, mera leva
Em mãos sempre mais sujas,
Enquanto inda não fujas
O pouco que se ceva
Demora e a vida neva
Gerando garatujas,
Resvalo no passado
E tento outro futuro,
O passo neste escuro
O tempo é desolado,
O medo do presente
Deveras consistente.

90

De rio, tanto amor
Descendo em corredeiras
E quando tu te esgueiras
Roubando toda a cor,
O céu sem esplendor
As sendas carpideiras
Em dores costumeiras
Sem ter um redentor,
Mortalha em rara teia
E o nada nos rodeia
Gerando este vazio
Uma esperança morta,
O sonho fecha a porta,
E seco vejo o rio.

91


Nas pedras, nos remansos
Montanhas verdejantes
Aonde tu te espantes
Em ares bem mais mansos,
Os dias, velhos ranços
Somando os degradantes
Delírios e rompantes
Sem tréguas nem descansos,
Do todo sou o nada
Redimo a velha estada
Em casa alheia e tento
Domar antigo instinto
E quando o fim pressinto
Adentro e bebo o vento.

92

A terra se enamora
Do todo aonde um dia
Pudesse a fantasia
Sem tempo e sem ter hora
Saber do quanto agora
Amante melodia
O mundo enfim recria
Numa ânsia que o devora,
Resumo em verso e canto
O quanto sei, garanto
Depois outro momento
Aonde possa ter
Além de algum prazer
A paz que busco e tento.

93

Rios, matas... Meu sonho
É ter a plenitude
Ainda que se mude
O rumo onde proponho
Um dia mais risonho
Ou mesmo em atitude
Gerando a juventude
E neste intento eu ponho
O gozo invés da dor
O riso redentor
O canto aonde eu possa
Fazer da minha lida
Não mesmo a despedida,
Mas a palavra NOSSA.

94



Sozinho na procura
De quem possa ajudar
E sei quando singrar
O mar em tal loucura
Vagando com ternura
Ou mesmo devagar
Tentando divagar
Encontro em mim a cura
Dos males onde embebo
O sonho além placebo
E o risco de talvez
Perder o quanto resta
Da pouca e mera fresta
Por onde inda me vês.

95

A vida me traz medo
E sei quanto inda tenha
Em noite mais ferrenha
Alheia ao que concedo,
E quando me enveredo
No pátio aonde venha
Vencido enquanto empenha
Minha alma noutro enredo,
Restando pouco ou nada
A vida desejada
Já não se vê por perto,
O quanto fora meu
Agora se perdeu
E o rumo enfim deserto.

96


Dois olhos graciosos
Delírios da mulher
E seja o que vier
Os tempos valorosos
Em ritos fabulosos
Fazendo do qualquer
Além do que puder,
Caminhos majestosos.
Depois de tantos anos,
Em dívidas e danos
Enganos e promessas
Adentro do teu lado
O céu iluminado
No amor que me confessas.

97

Claridade do amor
Ourives de ilusões
Aonde tu me expões
O ritmo salvador
Gerando a cada flor
Diversos, bons botões
E neles os sertões
Distantes ganham cor.
Eu tento adivinhar
O rumo e me entranhar
Nas ânsias de quem sabe
O amor que nos conquista
E tanto não resista
Ao todo onde se cabe.


98

Acordo em teu olhar
Depois de tantos medos
E sei dos dias ledos
O canto a procurar
Encanto a nos tomar
Dourando os meus segredos,
Resulto dos enredos
E bebo o teu luar,
Vergando sob o peso
Caminho agora preso
Nas nossas emoções
E sei do quanto eu quero
Jamais seria fero
Se o amor queres e expões.

99

Navego o meu futuro
Nas rendas do presente
E quando se pressente
O solo menos duro,
O amor que agora juro
No quanto se aparente
Olhando frente a frente
Encanto enfim maduro,
A minha mocidade
Aonde o nada invade
Mergulha no passado,
E quando em meu outono
O medo eu abandono
O amor vem ao meu lado.

100

Recuso imitação
O tempo não diz nada
A sorte desejada
Os dias mudarão
Histórias desde então
E tento na alvorada
Seguir a mesma estrada
E nela a direção
Do canto enquanto eu possa
Vencer o medo e a fossa
E ser além de tudo
O risco sempre aceito
E quando enfim me deito,
Decerto eu não me iludo.

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