quarta-feira, 23 de junho de 2010

38301 até 38415

1

Por vezes esperei
Apenas um momento
Aonde um raro ungüento
Trouxesse o que busquei
Não me desesperei,
Porém estando atento
Jamais o alheamento
Domasse e fosse lei.
E tento a cada dia
Viver o que seria
Um novo amanhecer
E após a ventania
Um sol claro inebria
E enfim o posso ver.

2

Tantas manhãs perdidas
Na busca por quem possa
Fazer desta palhoça
Em raras, mansas lidas
As cenas mais ungidas
Além de qualquer troça
Aonde o novo apossa
As ilusões perdidas.
O quanto pude então
Sentir a provisão
Do tempo renovado,
Tocando o velho chão
Mudando a direção
Dos ermos do passado.

3

Queria teu amor
E sei o quanto vale
O tempo onde se abale
O olhar conservador,
Mudando e quando for
Além do que resvale
O mundo não se cale
Permita ao sonhador
Um nobre caminhar
Em pedras a vagar
Alçando o muito além,
E quando imaginar
Beleza já sem par,
A dita, em luz contém.

4

A paz tão esperada
O tempo de sorrir
O vento a se sentir
Rompendo esta alvorada,
A vida anunciada
Domando o meu porvir
No quanto resistir
Ao vento em tal lufada,
Saber do sol imenso
E quando nele eu penso,
Resumo de uma história
Aonde nada tenho
Senão sonho ferrenho
Ausente da vitória.

5


Olhava para os lados
Na busca por talvez
Quem tanto em glória fez
E agora em seus legados
Permite novos prados
Em rara lucidez
E quando noutra vez
Os cumes vislumbrados
Das cordilheiras tantas
Aonde me agigantas
Ou mesmo me destroças,
Palavras que eu buscara
Em noite bem mais clara
Decerto não são nossas.

6

Mas a vida negava
A quem se deu inteiro
O olhar aventureiro
A sorte em fúria e lava,
Negando a imensa trava
E nisto, verdadeiro
Caminho derradeiro
Jamais se vislumbrava,
Agora após o nada
A curva mais fechada
Eu vejo a capotagem,
O tempo não perdoa,
Uma alma segue à toa
Sem ter uma estalagem.

7

Meus olhos procurando
Um cais após o caos
E após tantos degraus
O dia desnudando
Dos sonhos? Ledo bando
Quais fossem torpes naus
Em dias duros, maus
O rumo abandonando,
O pouco me restara
E quando esta seara
Tornada vã, vazia,
O sonho desampara
Enquanto se escancara
A dor que nos regia.

8

Não posso nem sequer
Pensar além da queda,
E nada que inda a veda
Nem gozo nem mulher,
Havendo o que se houver
A vida não segreda,
Enquanto se envereda
Numa ânsia se vier,
Roubando logo a cena,
Se nada me serena
Sirenas da ilusão
Em noite mais amena,
Em lua, clara e plena,
Meus olhos não verão.

9

Embalde, tantas noites
Vagara sem um rumo,
E quando me acostumo
Aos cortes dos açoites
Encontro uma saída,
Na morte ou no vazio,
E tento embora frio
A face em despedida,
Um rumo aonde outrora
Não vira nem a sombra
Do pálido que assombra
E tanto se demora,
Olhar para o que vem,
Saber: não há ninguém!

10

Quem dera te sentir
Ao menos num instante
No passo que adiante
E beba do porvir,
O canto a repetir
O dia deslumbrante
A voz já degradante
De quem procura ouvir
Ao menos melodia
Que tanto poderia
Satisfazer seu ego,
Em plena galhardia,
Ausente fantasia,
As sombras eu carrego.

11

Repetindo, a toda hora
Em eco e consonância
A vida em discrepância
Em mim não se demora,
O parto desarvora
O dia em tal estância
Gerando esta distância
Que aos poucos me apavora,
Pudera ainda crer
No quanto se faz ver
Em claridade intensa,
Ausente amanhecer
Tomando todo o ser,
Sem ter quem o compensa.

12

Meus olhos esperando
O tempo após a vida
E quando em despedida
O nada se moldando
Viver em contrabando
O quanto a sorte acida,
Ou mesmo dita a ermida,
Sonhos abandonando;
Perdido em meus caminhos,
Lapido tais espinhos
E gero nova adaga,
Os ritos mais mesquinhos
Os passos tão daninhos,
A morte assim me afaga.

13

Uma violeta resta
De todo este canteiro
Aonde por inteiro
Na liça onde se atesta
O coração em festa
Rompendo o verdadeiro
Caminho derradeiro
Sem ter sequer a fresta.
Aprendo com meus erros,
E sei dos meus desterros
E neles me aprofundo.
Vagando sem destino,
O canto de um menino
Um sonho vagabundo.

14

Mas quando enfim virá
O dia em que redime
O parto, o medo e o crime
E tudo desde já
Jamais se moldará
Um ar onde sublime
O tanto ainda estime
O pouco onde estará
O riso sonegado,
O dia desolado,
O medo mais constante
No passo nunca dado,
Errôneo este legado
Aonde se adiante.

15

Minha casa vazia
O tempo não perdoa,
A sorte tanto à toa
A morte ainda espia,
E vejo em ironia
Ainda houvera a boa
Presença que ora voa
E nega um novo dia,
Escrevo em desafeto
O rumo mais concreto
Não traça a melhor sorte,
O parto, a morte o feto,
O dia onde completo
O sonho não comporte.

16

Poeira se acumula
Nos ermos de minha alma,
E quando busco a calma
A dor espúria gula
Devera já me engula
E nada mais acalma
O tempo em dor e trauma
Nem sonho mais simula.
Ouvir a voz do vento
E tanto quanto tento
Respostas? Não consigo.
Alheio ao desalento
Bebendo o sofrimento
Enfrento o desabrigo.

17

A vida se mostrando
Além do quanto pude,
Ausente juventude
O olhar quieto moldando
Um dia desde quando
O passo mesmo ilude
E quanto duro e rude
O mundo deformando.
Olhando para trás
O quanto fora audaz,
E agora não concebo
Sequer o que se faz
Num ermo onde tenaz
Dos nadas eu me embebo.

18

Como um raio solar
Adentrando o meu quarto
Olhando já reparto
Vontade de sonhar,
Cansado de buscar
Ainda quando parto,
O olhar agora farto
Procura algum lugar
Aonde poderia
Sentir a fantasia
Rondando o pensamento,
E quando surge o dia
Imerso em agonia
Saída inútil; tento.

19


Das noites que pensei
Aonde houvesse a luz
Ao nada me conduz
O sonho onde entranhei,
Verdades; mergulhei
E tendo em contraluz
A imagem desta cruz
Que ainda carreguei,
Restando muito pouco
Do quanto em passo louco
Mesquinhos dias traços,
E quando quase rouco,
Deveras me treslouco
Olhares morrem lassos.

20



Das lutas incessantes
Dos dias tão iguais,
Diversos funerais
Aonde me adiantes
Os erros mais constantes
Espaços siderais,
E quando em atos tais
Pudesse por instantes
Sentir esta esperança
Que ao nada já me lança
E morta a cada ausência
Permite tão somente
O quanto se apresente
Em dura virulência.

21

Pretendo certo dia,
Depois da tempestade
O quanto em realidade
Jamais se poderia
Viver em sintonia
Com tudo que me agrade,
E nada da verdade
Aos poucos sorveria,
Restando esta promessa
Aonde se endereça
O nada após o nada,
A vida não traduz
Sequer réstia de luz
Seara abandonada...

22

Viver a sensação
Dos medos e dos sonhos
Em dias enfadonhos
Ausência de verão
Os olhos me trarão
Somente tais bisonhos
Caminhos mais tristonhos
Sem rumo ou direção,
Aporto no vazio
E sendo assim, recrio
Do verso outra falácia,
Imenso e turvo estio
E nele o desvario
Traduzes por audácia.

23

Meu lar abandonado,
Seara aonde um dia
Pudesse em alegria,
O quarto hoje mofado,
O tempo derrotado
E nada mais teria
Sequer esta euforia,
O vento mais gelado.
O rumo sem destino,
No passo não domino
Paragem, auge e queda,
O nada se envereda
Nas ânsias deste ser,
O risco mais urgente
Ausência se apresente
E mata o alvorecer.

24

Na vida sem amor
Momentos de fastio,
O nada em desafio
O céu perdendo a cor,
O tempo em vaga dor,
Olhar que ora desfio
O mundo onde recrio
O passo a decompor;
Esqueço das promessas
E quando recomeças
Encontras o que um dia
Pudesse e não confessas
Aonde me endereças
O rumo se perdia.

25

Espero teu chamar
E nada escuto e então
Sem ter a diversão
De quem se fez amar,
Pudesse acreditar
Nas ânsias que virão
Olhares não verão
Nem mesmo a luz solar
Eu bebo deste absinto
E quanto a dor eu sinto,
Problema é todo meu,
O sonho estando extinto
Nos ermos eu me tinto
Meu mundo se perdeu.

26

Do que tínhamos, vida
A sorte não permite
A luta sem limite
Seara já perdida,
O quanto não duvida
Quem tenta ou acredite
No parto e até palpite
Na forma mais ungida
Aonde se percebe
Beleza nesta sebe
Primaveril cenário,
O vento em discordância
A lua noutra instancia
O passo temerário...

27

Sobraram as lembranças
De dias mais diversos
E quando nos meus versos
Os sonhos; sempre alcanças
Diversas temperanças
Caminhos mais dispersos
Roçando os universos
Nas pontas destas lanças
Ao menos pude crer
Num raro entorpecer
E ter no olhar ao menos
Momentos mais suaves
Aonde os sonhos, aves
Vagassem céus amenos.

28

Centelha que esqueceste
Nos ermos deste vão
Aonde em procissão
O tempo mais agreste,
No quanto não vieste
Ou mesmo não virão
Olhares, provisão,
Ainda que deteste
O ranço, o risco, a prece,
O todo se obedece
À regra universal,
E assim ao me sentir
Sem medo e sem porvir,
Desfilo o bem e o mal.

29

Amor tão delicado
Olhando para trás
O quanto não se faz
Ou muda este legado,
O risco abençoado
O passo mais audaz
A vida não compraz
Nem mesmo o seu legado,
O chão se abrindo em mim,
O pouco de onde vim
Permite alguma luz,
E nisto sem destino
Nem mesmo me domino,
A sorte não reluz.

30

Andávamos felizes,
Imersos na ilusão
E sei que não terão
Olhares cicatrizes
E quando contradizes
Momentos desde então
Os rumos mostrarão
Apenas os deslizes,
Cerzindo do passado
O tombo, o passo errado
O canto em vã promessa,
Quem teve abençoado
O risco anunciado
No sonho já tropeça.

31

O melhor desta vida
É crer noutro cenário
Aonde o temporário
Permanecendo acida
E toma esta guarida
Além do necessário,
O rumo se é contrário
Permite outra saída?
Olhando o meu retrato
E sendo mais ingrato
Resumo deste nada,
Em fúria ou derrocada,
Orvalho sobre o mato,
À luz desta alvorada.

32

Consigo ser feliz
E quero estar além
Do quanto me convém
Ou mesmo um dia eu quis,
Vivendo por um triz
A sorte quando vem
Resume noutro alguém
O passo este aprendiz,
Esgoto esta ilusão
Nas ânsias de um verão
Que nunca poderia,
Sabendo desde então
Do passo sempre em vão
Da noite amarga e fria.


33

Mas, tantas tempestades,
Durante o pouco quando
O mundo desarmando
As honras em degrades,
Ainda em claridades
O quanto se moldando
O risco se tornando
Em mim vãs qualidades,
Eu tinha e poderia
Saber da noite esguia
Ou mesmo do que tento,
Mas quando imerso em nada
A porta escancarada
Permite o imenso vento.

34

Com todo esse meu mundo
O quanto não se faz
Sequer sendo capaz
De ter no olhar profundo
Certeza deste imundo
E tanto mais tenaz
Delírio aonde a paz,
Moldasse o vagabundo
Cenário aonde tento
Vencer qualquer tormento
E crer noutro final
Famélica ilusão
Rara demonstração
De um tempo magistral.

35

Os olhos; lacrimejo
E sei do quanto é vago
O rumo e nele alago
Com ânsias meu desejo
E sinto a cada ensejo
O manso que inda trago,
E rendo em tolo estrago
O encanto em raro pejo,
Ouvir a voz de quem
Procura e nada vem
Somente a solidão,
Esqueço o que contém
Dos sonhos um refém
Busca a libertação.


36

As dores retornaram,
E nada mais carrego
Senão dentro deste ego
As luzes que cegaram
Os partos se negaram,
O medo onde navego
O coração tão cego,
Os dias não mostraram,
Eu quis acreditar
No pouco a me tocar
E tanto poderia
Singrar mares diversos
E sem ter mais meus versos,
Inútil fantasia.

37

Amor é sentimento
E nada me consola,
O medo onde se assola
O gozo em desalento
E quando mesmo tento,
O sonho não decola,
O risco aonde atola
O parto em provimento,
Mereço alguma chance?
No quanto não me lance
Encontro finalmente
A queda em precipício
E sei que desde o início
Quem ama sempre mente;.

38

Ao mesmo tempo vejo
O quanto acreditara
Em noite bela e clara
Aonde em tal ensejo
O coração latejo
A porta se escancara
Vislumbro esta seara
E nela me azulejo,
O mundo não se traz
Nem mesmo teima em paz
Se o verso fora duro,
Além do que inda tento
Seguindo a voz do vento,
O passo neste escuro.

39


Se temos ou não temos,
Os dias que virão
Nas sendas de verão
Ou mesmo nos perdemos
Enquanto percebemos
Diversa dimensão
Total sofreguidão
Aonde cevo os demos,
E levo para além
O quanto não contém
Quem tanto poderia
Sentir a luz suave
E ser conforme uma ave
Liberta à luz do dia.

40

Amar é simplesmente
Saber do quanto pude
Ou mesmo esta atitude
Aonde teime e tente
No passo impertinente
A dura juventude
Bebendo o que se ilude
No nada aonde invente
Um porto mais além,
E sei que não convém
Ao velho o desatino,
Embora bem no fundo,
O peito vagabundo
Procura ser menino.

41

Que por ele remoço,
E sei quanto se deu
Jamais seria meu
Somente este destroço
E quando ainda eu posso
O todo se perdeu
E nada em apogeu
Decerto ainda endosso.
Eu vejo além do cais
Os dias temporais
Os medos mais constantes,
E quando noutra senda
O nada mais atenda
Em ermos me agigantes;


42

Procuro o teu olhar
Além de onde se aponte
Na linha do horizonte
Vontade de chegar
Aonde em céu e mar
Pudesse crer na fonte
Ainda que desponte
Aos poucos, devagar,
Restando dentro em mim
O quanto sei sem fim
Promessa itinerante
O medo se adiante
Destroce este jardim,
Em palavra aviltante.


43

Doçura de teus lábios,
Caminhos onde eu sinta
A dor decerto extinta
O rumo em astrolábios
Vagando em tal certeza
De um porto aonde exista
A sorte tão benquista
E imensa correnteza
Acendo dentro em mim
Um lume inigualável
Um tempo imaginável,
Porém morto o jardim
A dissonância envolve
E o mundo se revolve.

44


Promessas de luares
Aborto da esperança
Aonde o não se lança
E nele tu notares
Diversos vãos lugares
A voz sem confiança
E nada inda afiança
O quanto procurares
A morte o vento e o frio,
O rumo em que desfio
O passo em erma senda
E nada mais se atenda.

45

Tantas vezes sonhei
Na busca por um canto
Aonde sem espanto
Gerasse o que busquei,
E quando me entranhei
Nas ânsias do quebranto
Em nada me agiganto
E morro onde vaguei
Brumosa noite fria
E nela a fantasia
Não traça mais o brilho,
E sendo desta forma
O passo se deforma
E a morte enfim, palmilho.

46



A vida prometeu
Um novo tempo aonde
A sorte não responde
E o quanto resta é breu,
O coração ateu
E nele perco o bonde
O sonho em vão se esconde
E tudo escureceu.
Olhando para trás
O tempo não mais traz
Semente em solo claro,
Vergando ao peso imenso
Do sonho eu me convenço
E enfim me desamparo.

47

Amor que traz carinho
Não posso mais sentir
As dores no porvir
Um rumo mais daninho,
E quando me avizinho
Momento de partir,
Sem nada mais ouvir
O tempo é mais mesquinho,
Crepúsculos desta alma
A morte enfim me acalma
E sinto esta presença
Suave e doce quando
Há tempos se criando
A falsa imagem, tensa.

48

Amor que traz aurora
A quem pudesse ver
Depois do anoitecer
O sol onde se aflora
A sorte não demora
E traz em tal prazer
Desejo de se ter
Ali aquém agora
Sem prazos, vida segue
E quando se consegue
A sorte em alvorada,
As nuvens do passado,
Um tempo desolado,
Na senda agrisalhada.

49

Desmaia no luar
Os olhos sonhadores
E quando ainda fores
Tentando desvendar
O passo sem pensar
Ainda nestas cores
Tampouco noutras flores
Matando este sonhar,
Verás o meu estio
E quanto mais vazio
O mundo se arremete
Ao fim inesperado,
O corte inusitado
Em tudo se promete.

50

A mão que acaricia
O olhar não mais pudera
Vencer esta quimera
E tanto nega o dia,
Ausente fantasia
O passo destempera
E tudo degenera
Na mão quieta e vazia,
Olhando o meu retrato
O quanto me desato
E nego alguma senda,
Diverso do que outrora
A vida não se ancora
Nem sonhos mais atenda.

51

Não quero o sofrimento
Nem mesmo a falsa luz
Aonde se produz
Aquém do provimento
O quanto ainda tento
E nada em contraluz,
O medo ao qual me opus
O dia em tal lamento,
O risco de sonhar,
O gozo do luar
O medo se apresenta
E tento mansamente
Enquanto se apresente
Ao longe tal tormenta.


52

Na ausência da mulher
Que tanto quis um dia,
O olhar não fantasia
Ainda o que se quer,
Vagando sem qualquer
Ternura ou garantia
Da luz onde podia
Sorver o que vier,
Em verso ou mesmo em prosa
A sorte caprichosa
O tempo não mergulha
Nas mãos de quem já sonha
Enquanto já se oponha
E o nada em si vasculha.

53

A verdade da vida
O gozo mais atroz
O quanto ainda em nós
Trouxesse a despedida,
O vento, outra partida,
O gesto mais feroz,
O quanto já sem voz
Aguardo nova lida,
Olhando para os lados
Os dias mal traçados
Divisas não concebo,
E quando mais feliz
O todo que se quis
Enfim em ti percebo.

54

Ao mesmo tempo inteira
O canto em tal promessa
E quando já sem pressa
A vida em costumeira
Vontade não se esgueira
E tudo recomeça
Enquanto se endereça
E segue esta bandeira
O gozo sem galés
Libertos nossos pés
O passo segue além,
Mas quando do vazio
Já nada tento ou crio,
O medo me retém.

55

Me trazes tanta mágoa
E nela nada faço
Ocupo o meu espaço
Aonde já deságua
A sorte noutra face
O rumo ensandecido,
O gozo pressentido
Aos poucos me desgrace
Negando algum sorriso
O corte se aprofunda
E tanto quanto imunda
Uma alma em impreciso
Caminho leva ao nada
Na sorte anunciada.

56

No doce olhar de quem
Já sabe mais que tudo
O quanto ora me iludo
E sou de ti refém
O gozo quando vem
E toma sem escudo
Deixando quieto e mudo
O coração de alguém
Não deixa qualquer sombra
Aonde o medo assombra
E gera a tempestade,
Mas quando em tom brumoso
O tempo caprichoso
Aos poucos se degrade.

57

Quantas vezes na guerra
Os sonhos destroçados
Os dias malfadados
A sorte em vão se encerra
O mundo se desterra
E vejo desolados
Os rumos mal traçados
Além de qualquer serra,
O canto se sacia
Na morte e na agonia
Na fúria de um punhal,
O olhar mais agressivo
E quando eu sobrevivo,
Erguido bem ou mal.

58

Trincheiras diferentes
Caminhos, barricadas
Palavras desejadas
E nelas te apresentes
Ou mesmo já pressentes
As sortes desenhadas
Em ânsias desoladas
Olhares mais dementes,
O corte se aprofunda
Na face mais imunda
De quem tanto porfia,
Mortalhas que apresento
Enquanto em desalento
Eu vejo o turvo dia.

59


As armas mais diversas
Os dias vão alheios
E quando em tais anseios
Também além tu versas,
No quanto desconversas
E teimas em recreios
Ou mesmo noutros veios
As noites mais dispersas,
As horas dolorosas
Aonde quis as rosas
E nada mais terei
Senão a dor intensa
E mesmo que se pensa
O todo em ti verei.

60

Jamais nos esconderam
Os dias quando a fúria
Gerando tanta incúria
Em riscos se perderam
Olhares se estenderam
E neles a penúria
Sem medo e sem lamúria
Aos poucos reverteram
Caminhos mais precisos
E tempos onde os sisos
Pudessem permitir
Um novo amanhecer
Embora em desprazer
Eu veja o meu porvir.

61

Palavras mal usadas
Sentidos variados
Os cortes, os recados
As facas afiadas,
As ânsias barricadas
Os olhos desvendados
Momentos já passados
E as vestes desfiadas,
O quanto pude enfim
O mundo sem jardim
O risco de sonhar,
Mas nada inda me toca
A vida enfrenta a roca
E perde o rumo em mar.

62

São armas que no fim,
Não deixam mais sinais
E aonde quis bem mais
O tempo morto em mim,
O corte eu sei enfim
E bebo os vendavais
Sabendo destes tais
Delírios de onde eu vim,
Resumo o meu vazio
No tempo onde desfio
O verso em atitude,
Não deixo para trás
Sequer o mais audaz
Caminho em que me ilude.

63

Ferem-nos e maltratam
Os tempos mais sutis
E quanto não se quis
Dos cortes que desatam
Olhares se arrebatam
Gerando a cicatriz
E quanto mais feliz
Os dias desacatam
O passo rumo ao quanto
Pudesse em desencanto
E nada mais teria,
Somente o quanto pude
Ausente plenitude
Vencer o novo dia.

64

Depois de tantas lutas
Cansado desta lida
A sorte construída
Em fúrias mais astutas
E quando tu relutas
Ou mesmo se duvida
Da sorte sem guarida
Das noites vagas, brutas
Eu tento acreditar
No quanto do luar
Ainda se irradia,
Morrendo sem paragem
Bebendo desta aragem
Ausente fantasia.

65

Mas, como viciado
No corte e no punhal
O dia desigual
O mundo desvendado
O passo o velho dado
As mesas no quintal
As roupas no varal,
Resíduos do passado,
O corte se apresenta
A vida é violenta
E o nada se transforma
E toma do presente
O quanto se apresente
Em dura e justa forma…

66

À distância daquilo
Que tanto quis um dia
A vida poderia
Dizer quanto destilo,
E vejo se desfilo
A morte em heresia,
Vivendo a fantasia
E nela vou tranqüilo,
Vestindo a mesma roupa
Aonde não se pouca
Sequer deste puído
Caminho aonde eu possa
Rever a queda e a fossa,
Ouvindo um vão ruído.

67

A noite que retorna
O dia não concebe
E invada casa e sebe
E quando a vida entorna
A morte se concerne
No vago deste nada,
A morte anunciada
Em passo onde se interne
O rumo mais atroz
Negando qualquer cais
E tento muito mais
Do quanto coube à voz
Resumo de uma vida
Há tanto em despedida.

68

Amor que se transforma,
Gerando turbulência
Ainda esta excrescência
Em dura e fria forma,
Não tendo regra ou norma
Tampouco em providência
A luz de uma clemência
Do nada ainda informa,
E risco o nome quando
Outro já desenhando
Concentro o passo além
E sei desta mortalha
No quanto se batalha
Ou nada mais convém.

69

Depois de tanta guerra,
O dia se anuncia
Em ânsia mais bravia
Ou tudo em vão se encerra,
O corte não descerra
Sequer a fantasia
E nela esta heresia
Alçando a velha serra,
O peso de viver
O sonho a se tecer
O fardo que carrego,
O mundo não se dá
A quem pudesse já
Seguir em rumo cego.

70

Procuro me aninhar,
Jogado sobre a areia
E quando se incendeia
A noite em tal luar,
Vontade de sonhar,
Mas nada me rodeia
Senão a voz alheia
De quem pudesse amar,
O riso, o risco, o farto
E quando me descarto
Não sobra nem metade,
O quanto bebo o vento
Invés de algum alento
Mata a felicidade.

71

Velhas embarcações
O mesmo vendaval
O tempo é sempre igual
E nele tu me expões
Dispersas soluções
O bem adentra o mal
E o risco em nível tal
Não deixa mais opções
Mergulho no meu mundo
E quando me aprofundo
Encontro a mesma face
Aonde o todo grasse
Mundana realidade
E tudo desagrade.

72

Os ventos e tufões,
Olhares mais além
E o nada sempre vem
Discerne as dimensões
Dos dias em visões
Diversas das que têm
Quem busca por alguém
Imerso em negações.
Isolo-me, porquanto
Ainda tento e canto
Vagando sobre o nada,
O mundo se transcorre
E o quanto me socorre
Impede outra alvorada.

73

Um coração vazio
Olhando para o vago
Aonde não afago
E sinto o imenso frio,
A vida mal espio
E sei do quanto alago
O mundo que ora trago
Em tempo mais sombrio,
Brumosa vida bebo
E quando me percebo
Aquém do que pudesse,
O tempo desarvora
A sorte vai embora
Não resta uma benesse.

74

Esmola pelas ruas
O olhar de quem se fez
Além da lucidez
No ausente em que cultuas
As mortes raras, nuas
E quanta insensatez
O tempo em altivez
Estrelas já flutuas
E morres no além mar,
O mundo a desabar
A falta de horizonte
Aonde nada tenho
O medo mais ferrenho
Ao vago não me aponte.

75

Deseja desfrutar
O dia mais suave
E quando mais agrave
Procuro algum lugar
Aonde descansar
E tendo em mim tal ave,
No quanto sinto a trave
Ou tento desvendar
Caminho mais diverso
Aonde me disperso
E verso sobre o vão,
O passo sonegado,
O risco adivinhado
Ausência de emoção.

76

Prometido nos sonhos
Diverso sol e lua
E quando continua
Em ares mais medonhos,
Adentro em enfadonhos
Caminhos pela rua,
E nada mais atua
Sequer dias risonhos,
Orquestro uma saída,
A vida percebida
Entranha este non sense,
Nem mesmo uma palavra
Aonde o não se lavra
Deveras me convence.

77

Seus desejos, porém
A vida não sacia
Talvez pudesse um dia
Enquanto se convém
Liberto ou vil refém
Em tanta fantasia
Vestir a alegoria
Sorvendo um raro bem,
Algum momento após
A queda em tom atroz
O risco de viver,
O medo se aprofunda
Uma alma vagabunda
Aguarda sem saber.

78

Amar trará os ventos
Aonde pude ver
O raro anoitecer
Em tais procedimentos,
A vida em desalentos
O quanto quero crer
E busco anoitecer
Bebendo em sortimentos
Diversos a ilusão
E quando não verão
Sequer olhares tais
Porquanto a fantasia
Gerasse em harmonia
Tormentos abissais.

79

Um sonho acalentado
No pantanal que entranho
Aonde em perda e ganho
O fato desolado
O rumo desvendado
E nele sempre estranho
O corte se é tamanho,
O manto desmembrado,
Enluarado céu
E nele sigo ao léu
Incrédulo poeta,
O medo me sacia
E tanto em heresia
A vida me repleta.

80

O mundo é tão pequeno
Aos olhos de quem sonha,
A face mais bisonha
O gozo do veneno,
O risco mais sereno,
O porte em luz medonha,
Ainda que se oponha
No fundo sigo pleno,
O cândido caminho
Já tanto vi mesquinho
E nada mais produz,
Senão seara turva
Aonde em medo e curva,
Ausente a plena luz.

81

Loucura apaixonante
No rito mais suave
Aonde se destrave
O quanto do inconstante
Caminho onde agigante
O passo sem a nave
O corte dita a trave
E morto doravante,
Bebendo a sordidez
E nela se inda vês
O rumo mais audaz,
O parto dita o nada
E a morte anunciada
Trará enfim a paz.

82

O brilho se reflete
Na ausência deste olhar
Aonde pude arcar
Com quanto me compete,
A sorte, este pivete
Não cansa de lutar
E quando desvendar
O rito onde complete
O passo mais nefasto
E dele se me afasto
Eu vejo a sombra apenas
E quando me alucinas
Deveras velhas minas
Em fúrias envenenas.

83

A dor de não amar
O cômodo caminho
A sorte dita espinho
O mundo em vago altar
O quanto a procurar
Em canto tão mesquinho
Do nada me avizinho
Nem mesmo pude achar
O rumo e a direção
Enquanto não virão
Olhares penetrantes,
E nestas heresias
Ainda me trarias
Cenários vis, farsantes.

84

Espero alucinado
O dia que não veio,
Seguindo mais alheio
Sem ninguém ao meu lado
Porquanto ainda brado
Ou tento um novo anseio
As sendas que permeio
O risco anunciado,
O parto não teria
Sequer esta alegria
Aonde nada além
Do quanto pude crer
Agora a esvaecer
Apenas dor contém.


85

Abelha-mel que adoça
O mundo de quem tenta
Vestindo esta sedenta
Loucura quando a fossa
Deveras já se apossa
E toma e me atormenta
E nada mais alenta,
Somente a fúria endossa
O passo desvairado
O rumo aonde dado
O corte mais profundo,
A senda num delírio
Expressa este martírio
E nele sigo imundo.

86

No mel desta colméia
A sorte poderia
Trazer uma alegria
Mudando a velha idéia,
Porém uma alma atéia
Mergulha e não recria
Sequer esta heresia
Aonde em assembléia
Vencido pelo medo
Ao qual quero e concedo
Um passo rumo ao farto,
E quando me aprofundo
Nas ânsias deste mundo
Do sonho eu me descarto.

87

Enigma que me educa
E tanto maltratara
A vida semeara
A noite em arapuca,
A sorte me machuca
E nada da seara
O vento roça a cara
E toca a minha nuca
Em arrepios tantos
Os dias seus encantos,
Porém falsa promessa,
Depois do vendaval
A farsa sempre igual
Deveras recomeça.

88

Desejo de deslumbre,
E tento mais um pouco,
Ainda mesmo louco
Aonde se vislumbre
O corte o fim a morte
O passo rumo ao nada,
Subindo a velha escada
Apoio não suporte,
O beijo desarmado
O pântano que adentro
E quando me concentro
O vento anunciado
Jamais, pois se aproxima
Mantendo o fero clima.

89

Na picada feroz
De quem nesta tocaia
Decerto sempre traia
E dita em dura voz
O corte mais atroz,
E nada descontraia
Aonde já desmaia
A lua dentro em nós,
Eu quero e tanto estimo
Enquanto encontro o limo,
Buscando um só momento
Equilibradamente
A vida me desmente
E traz o sofrimento.

90

Carinho de guerreira,
Olhando de mansinho
Quem tanto quis carinho
E agora sem bandeira
Desfila a verdadeira
Noção do raro espinho
Em dia mais daninho,
A porta derradeira
A velha charqueada
A lua desnudada
E nada do que um dia
Pudesse ainda haver
Depois do desprazer
Que tanto me angustia.

91

No verso que lhe faço
O medo se escancara
Olhando cara a cara
O passo enfim desfaço
E tento enquanto traço
O beijo, a boca amara,
A sorte, outra seara
O risco toma espaço,
E o vasto que já fora
Uma alma sonhadora
Agora em tempestades,
No tanto que inda resta
A face mais funesta
E nela vejo grades.

92

Beijando e me mordendo
A morte é mais sutil,
E quanto não se viu
O olhar em duro adendo
Revolvo este remendo
E busco ser gentil,
Porém se repartiu
O mundo me envolvendo
Nas tramas mais doridas
E nelas outras vidas
Não deixam que eu perceba
O quanto ainda resta
Saindo agora desta
Em nova se conceba.

93

Amante desejada
A morte se cultua
E quando agora atua
Tomando a madrugada,
A parte decepada
A face escura, a lua,
Ausência desta rua
Mortalha na calçada,
A bala, o tiro, a mira,
A vida se retira
E sigo alheio a tudo
Do medo que pudera,
Já nem mesmo quimera
Deveras teimo e mudo.

94

Vasculha por destinos
Diversos do que outrora
A sorte desancora
E dita desatinos,
Os olhos são meninos,
A face me devora
O rito sem demora
Dobrando os velhos sinos,
O peso do viver
Vergando em minhas costas
Os lanhos, tantas postas,
Respostas que adivinho,
Enlutado delírio
Ascende a tal martírio
E nele vou sozinho.

95

É manto que me caça
Mortalha mais venal
E nela o sideral
Desejo de fumaça
Realça enquanto enlaça
O rito terminal,
Aonde o bem e o mal,
Entregues à tal traça
Não posso mais sentir
O quanto sem porvir
Pudesse adivinhar,
Arisco caminhante
Em passo degradante
Cansado de sonhar.

96

Amor tão mavioso
Na bela juventude
Enquanto nos ilude
Ao fim é pavoroso,
Tempo tempestuoso
E nisto tudo mude,
O corte aonde eu pude
Sonhar com majestoso
Desejo sonegado
O corte anunciado
O medo me deforma,
E bebo do veneno
Enquanto me apequeno
Em mera e justa forma.

97

Pacto que fiz com Deus,
Pudesse ser diverso
Do quanto trago em verso
E bebo os dias meus
Alheios, pois ateus
Adentro em tal perverso
Caminho e me disperso
Em meio aos fartos breus,
Não deixo qualquer rastro
E quando em vão me alastro
Não tenho outra saída,
Perdera há tantos anos
Em meio aos desenganos
O que restara em vida.

ISAURA

98

A flama que regia a minha vida
Agora se extinguindo em mero ocaso
O tempo na verdade dita o prazo
A sorte muitas vezes corroída
Ausência de esperança pressentida
O tanto quanto busco e não aprazo,
O risco de viver não vem ao caso,
A morte se aproxima da guarida,
Eu vejo este retrato em tom sombrio
E quando ainda teimo ou desafio
Esbarro na verdade, mesmo dura,
O todo se desfaz num mesmo instante
E nada do que eu tente me garante,
A solidão deveras não se cura.

99

Desejo onde se ateia o passo além
Não dita a realidade, mata o sonho
E quanto mais o mundo eu decomponho
Da vida que sonhara sigo aquém,
Olhando de soslaio, em tal desdém,
O vago caminhar ora medonho,
E nada do que possa ainda enfronho
Vazio dentro da alma me contém,
E quando novo tempo eu necessito
O mundo que pensara mais bonito
Degrada em ar sombrio a realidade,
Do todo num instante mais atroz,
Jamais se imaginara ouvir a voz
Que inutilmente e torpe ainda brade.

100

O quanto de alimento sirvo aos vermes
E nisto se refaz a vida enquanto
Ainda noutra face me adianto
Em dias mais cruéis, vagos e inermes,
Os tantos caminhares, nada além
De insólita verdade em contraluz
O corpo se transforma em podre pus
A rapineira sorte me convém,
O fardo carregado há tantos anos,
Os dias mais brumosos doravante
Enquanto este vazio se garante,
Somente beberei os desenganos
E sendo assim cruel o meu destino,
Envolto nestas trevas me alucino.

101

O rumo há tanto tempo destruído
O olhar sem ter sequer algum alento
E quando outro caminho eu busco e tento,
A morte se revive e é decidido
O passo noutro tanto em desmedido
Delírio vivo em torpe sofrimento,
O parto sonegado o desalento,
O medo novamente pressentido,
Herege caminheiro do futuro
O dia aonde adentro e em vão procuro
Resumos de outro tempo, eu sigo alheio,
E quanto mais reluto, mais entregue
Quem sabe no final eu me sossegue
Matando qualquer turvo devaneio.

102

O quanto é desolada esta seara
Aonde no passado houvera brilho
E quando na verdade ainda trilho
Buscando outra manhã nada se aclara,
Mergulho no vazio e se prepara
A morte onde decerto eu me polvilho,
Quem fora no passado um andarilho
Agora cada ausência desampara,
Amortalhado rumo sei, portanto
E quando na verdade desencanto
Eu tento perceber alguma luz,
Mas nada do que possa ainda haver
Permite um claro e manso amanhecer
Somente a turbulência se produz.


103

A sorte preferida? Não detenho
O dia não trará qualquer festim,
A morte agora viva dentro em mim,
No olhar bem mais atroz duro e ferrenho,
E quando outro caminho de onde venho
Permite que se tente um novo fim,
O mundo se mostrando sempre assim
A cada novo passo eu me detenho.
Desvendo estes mistérios mais comuns
Os erros costumeiros, sei de alguns
E nada dos meus ermos apresento,
Olhando pra mim mesmo nada aponte
Senão este vazio aonde a fonte
Esboça tão somente o desalento.


104


O mundo dos meus versos segue isento,
E quando ninguém ouve a minha voz
Porquanto tantas vezes sei atroz
O corte não renega o pensamento,
Ainda quando inútil passo eu tento
Buscando acreditar em velhos nós
O rito se transborda e nesta foz
O parto se transcorre em sofrimento,
Carcaça da ilusão aumento enquanto
Ainda em solilóquio teimo e canto
Rasgando o próprio peito e me desnudo
Aonde no passado fui complexo
Agora sem destino estou perplexo,
Porém em falsos brilhos não me iludo.

105

Montanhas, cordilheiras, planos, rios...
Os mares mais distantes deste olhar,
Cansado de teimar e de lutar
Envolto nos diversos desvarios
Os dias com certeza mais sombrios
O canto sem ninguém a me escutar
A morte aproximando divagar
Desvenda o longo tempo em tais estios,
Não pude discernir qualquer razão
E sei dos dissabores que virão
Tomando por inteiro cada verso,
E quando me concentro, nada tenho,
O olhar em frágil luta e desempenho,
Aos poucos no vazio eu já disperso.

106

O mundo em sua face verdadeira
Apresentando a dor a cada passo
E tento novamente ou me desfaço
Ousando na esperança, vã bandeira,
A queda prenuncia outra ladeira
E o risco destroçando cada espaço
Aonde na verdade se ameaço
A faca adentra a pele e é mais ligeira,
Aprendo com a fúria deste olhar
E tanto desejei até sonhar,
Mas nada se demonstra além da morte
Quem sabe dessedente esta ilusão
Galgando o que pudesse ser então
Um dia onde deveras me conforte.

107

Olhando este retrato amarelado
Jogado na gaveta da lembrança
O quanto do já morto agora avança
E sinto o meu olhar tão desolado,
O passo no futuro revelado
E o corte gera enfim desconfiança
Penetra mais profundo a fina lança
E sempre a morte eu sigo lado a lado,
Repasso o quanto fora em tez sombria,
O dia na verdade desafia
A lenda dos enganos mais profanos,
E sigo sem defesa por aí
Vencido desde quando percebi
Apenas velhos erros, fartos danos.

108


Ouvindo a velha e tola melodia
Aonde se dizia de um futuro
Que tanto imaginara e não procuro
Enquanto a vida tece esta heresia,
O mundo na verdade não traria
Sequer o que percebo e não me curo,
O manto se moldando agora escuro,
A noite se apresenta mais sombria
Olhando bem de perto o que talvez
Gerasse qualquer fato e se desfez
Na meritória queda de quem sonha,
A vera consciência dita o rumo
E quando na verdade eu me acostumo
A face desenhada é mais medonha.

109

Espreito o que virá e sei do nada
A voz dita o quebranto aonde anseio
O tanto que deveras nunca veio
E nega qualquer senda desejada.
A porta sempre esteve enfim cerrada,
O meu caminho eu sigo em devaneio
E quanto mais dos medos, vou alheio
Palavra entre verdades disfarçada,
O pranto não sossega quem pudera
Saber da dura angústia, esta quimera
E já se desespera inutilmente,
O coração atroz nada resume,
O quanto procurara à toa um lume
Enquanto a própria vida me desmente.

110

Ocasionando a queda de quem tanto
Acreditara em si e agora sabe
Que tudo o quanto quer sempre desabe
E molde novo rumo em desencanto,
Imagem de um passado mais feliz,
É mera fantasia, nada vejo,
E quanto mais a sombra enfim desejo
O mundo na verdade nada diz,
Acendo outro cigarro, a morte sonda,
E o manto se desnuda e mostra apenas
As horas onde tanto me apequenas
O abraço sem defesas da anaconda,
Aprendo com a dor, mas sei no fundo
Do quanto sou deveras mais imundo.

111

Olhando assim de banda, vejo a face
De quem já poderia e nunca veio,
O meu olhar envolto em devaneio
Aonde no vazio o tempo grasse
E a cada amanhecer mais se desgrace
Resisto ao que pudesse e sem um meio
Encontro outro delírio e não anseio
Sequer quem meu caminho ainda trace.
Obedecendo ao medo de sonhar,
Meu horizonte aonde pude achar
A mera fantasia gera o caos,
Pudesse imaginar um porto um cais,
E quando me percebo, nunca mais,
Terei em minhas mãos, os barcos, naus...

112

Olhando para trás já nada vejo
Sequer a menor sombra do que um dia
Pudesse ser além da alegoria
Realidade feita em raro ensejo,
Mas quando sou refém deste desejo
A sorte na verdade não daria
Senão a mera sombra da ironia
Uma emoção desenha um vil lampejo.
Orgásticos delírios? Nunca mais,
As brumas assomando rumo e cais,
O olhar ensimesmado se renega,
E o cálido alimento se desfaz
No passo aonde a vida mais mordaz
Permite a caminhada austera e cega.

113

Arcando com meus dias mais doridos
E sendo sempre assim alheio a tudo
Enquanto na verdade não me iludo
Tocando com terror velhos sentidos,
Os dias entre tantos repartidos
O passo que ora dou sendo miúdo,
O manto se desvenda e me desnudo
Em dias tão comuns e divididos,
Olhando para trás nada mais tenho,
O medo dominando o amargo cenho,
A bruma se transforma em temporal,
Pudesse imerso em tantas ilusões
E nelas desvarios tu me expões,
Ao menos ser um pouco racional.

114

Aprendo com a dura realidade
Na faca e no punhal, cruel adaga
E quando se apresenta a imensa chaga
O passo no vazio ainda brade
E o medo gera a tal ansiedade
Aonde com certeza a vida vaga
E o peso do sonhar decerto draga
O que pude pensar felicidade,
Ausento do futuro e me apresento
No corte mais cruel, cedendo ao vento
E vejo num relance o quanto pude
Singrar em ilusões a falsa imagem
Do quanto agora vejo ser miragem
O que restou da minha juventude.


115


Não tenho mais o olhar em horizonte
Diverso do que tanto acreditara
Vazia totalmente tal seara
Aonde nada mais eu sei se aponte,
O pranto a cada dia gera a fonte
E nela a sorte eu sei ser bem mais rara,
O manto que deveras semeara
Agora noutro rumo não desponte
Senão este vazio que sou eu
O mundo com certeza se perdeu
Restando esta mortalha que ora visto,
Não posso ser além do que sou e isto
Não deixa qualquer sombra sobre mim,
Enquanto me preparo para o fim.

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