quinta-feira, 3 de junho de 2010

35271 até 35280

1

Na eternidade feita em luz e treva
O tempo não se mostra mais ativo
E quando na verdade sobrevivo
Ainda que esperança ao longe leva
Minha alma neste instante amarga e neva
Negando cada passo estou cativo
Do todo aonde tanto em dor me crivo
Deixando para trás o que se atreva
A ser diverso mesmo do caminho
Aonde perfilara e se mesquinho
Resume na verdade o que se fez
Do tempo mais atroz e vivo em mim
Restando muito pouco do jardim,
Aquém do que se fora em lucidez.

2

Se quando introspectivo cevo dores
E delas faço o mote preferido
No quanto tantas vezes fui ferido
Além do que decerto mais supores,
Resumo no vazio tais andores
E neles outro tempo em vão sentido,
Preparo o meu final, e sendo urdido
Gerando em abissais terríveis flores,
Não passo do vazio e neste tanto
Ainda busco a paz e sei, no entanto,
Que tudo não passara de promessa
De um sonho mais audaz e hoje se trama
Na sórdida impressão de falsa chama
Aonde cada verso ora tropeça.

3

Intraduzíveis olhos no horizonte
Buscando algum alento sempre aonde
O tempo noutra face já se esconde
E nada na verdade inda desponte
E quando a cada não mais desaponte
E o vento noutra fúria me responde
Do todo que julgara imensa fronde,
Apenas meramente frágil fonte.
E sei quanto pudera acreditar
Nas ânsias deste pouco a procurar
Caminho em sonhos feito e sempre ausente,
No amor sem mais valia, esta resposta,
A carne em frios cortes sendo exposta
Enquanto o coração ainda mente.

4

Imagens que pensara mais supernas
Entranham no horizonte em falsas luzes
E quando na verdade me conduzes
Sem ter sequer noção de tais lanternas
As fases mais difíceis logo externas
E beijo do vazio que produzes,
Os cortes entre abrolhos, várias urzes
Palavras que julgara ainda ternas
Agora maltratando quem se fez
Além de uma improvável sensatez
Risível companheiro do vazio,
E bebo deste sonho e compartilho
O tempo aonde ausente fonte e brilho
Negado caminhar, mais nada crio.

5

Um ar que imaginara mais fremente
Em força e luzes tantas, já não há
O todo se desfaz e mostrará
Apenas o retrato que ora mente,
No quanto deste sonho a vida ausente
Perpetuando em mim o que fará
A sorte desdenhosa desde já
E nela cada instante sei descrente,
O parto sonegado, a morte exclama
E vejo em cada olhar o mesmo drama
Por onde se escondera a estrela guia,
Assim desta mortalha que ora teço,
O peso do viver, mero adereço
A noite se mostrando amarga e fria.


6

Ainda trago em mim tal sentimento
Aonde pude mesmo acreditar
Que exista além da força do luar
O sonho em que mergulho e me alimento,
A seca sonegando algum provento
Percorro cada instante devagar,
E bebo do vazio a me fartar
Entregue sem resposta ao forte vento,
Tratantes horas mortas, nada após
O tempo se mostrara quase algoz
E alhures não verei felicidade,
Antevisão de dias mais felizes
E neles sem saber de medos crises
Apenas a ternura ainda invade.

7

Uma alma que mostrasse tal pureza
E nela a transparência de cristais
Vencendo os mais temidos vendavais
Mesmo quando se encontra a correnteza,
Não tendo neste fato uma surpresa
Sabendo dos teus medos ancestrais
Mergulho nos teus braço, peço mais
E tento com ternura e com destreza
Vencer os teus temores, mas aquém
Do quanto imaginara nada vem
Somente a solidão compartilhada,
O vento do passado vence tudo
E quando no presente inda me iludo
Eu sei que não terei nova alvorada.


8


A luz em harmonia toma a cena
Aonde no passado mais sombrio
O sonho até seria um desafio
No quanto a realidade me apequena,
Assim ao perceber quanto serena
A noite noutra fase sem estio,
Resumo o meu caminho e se recrio
A sorte noutra senda mais amena
Quem sabe colherei felicidade,
Ou mesmo algum caminho desagrade
O quanto se mostrara claramente,
O templo compartilho com louvores
E sei que na verdade aonde fores
O coração sem tréguas se apresente.

9

Perpetuando o rito em que procuro
Apenas o silêncio ou mesmo a paz,
No quanto o meu caminho é mais mordaz
E o tanto que mergulho em vago e escuro
Sabendo deste nada me amarguro
E sei do quanto a vida se é capaz
Na fome inesgotável já desfaz
Um tempo onde sonhara ser mais puro,
O fato de viver e de poder
Saber da incoerência me faz ver
Apenas esta sombra e nada mais,
Pudesse ter nãos mãos esta certeza
Do dia que deveras sem surpresa
Enfrente os mais diversos temporais.


10


Uma alma transparente e soberana
Rondando constelar imensidão
Sabendo desde sempre a direção
Aonde nada nega e não se ufana
Do tempo que em verdade tudo dana,
E molda sem sentido a provisão
E nela novos tempos não trarão
Sequer a menor sombra do que engana,
Compartilhar as trilhas e tentar
Vencer ou redimir cada luar
Nos brilhos mais prementes, necessários,
Sentindo a persistência deste sonho
E nele a cada instante me proponho
Vencendo sem perdão meus adversários.

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