sexta-feira, 4 de junho de 2010

35461 até 35470

1

Apenas um velho anjo
Reparte em asas vãs
As sombras das manhãs
Diversas neste arranjo
Ao quanto em heresia
Pudesse a vida ser
Mostrando outro querer
Aonde não havia
A sombra inusitada
Do anjo decaído
E quando sem sentido
Não sobra quase nada,
Somente este holocausto
E nele um farto fausto.

2

Aonde uma sereia
Pudesse desfilar
Desnuda e devagar
Por sobre a clara areia
A sorte que incendeia
Rendida a tal luar
Entranha sem pensar
E mesmo quando alheia
Arcando com futuro
Em passo onde procuro
O fim da longa estrada
Nos ermos do que fora
Minha alma sonhadora
Agora abandonada.

3

No quanto ainda tornas
À lápide afinal
Intenso funeral
Aonde tu retornas
E bebes quando entornas
A face mais venal
E nela o ritual
No qual em dor adornas
Assisto aos meus velórios
E bebo os mais inglórios
Caminhos do porvir,
À terra de onde vim
Retornarei enfim,
E morto irei servir.

4

A mão da bela fada
Há tanto em urzes, calos,
Adentrando os embalos
Da noite abandonada
A sorte desejada
Não resistindo em talos
Tão frágeis nos regalos
Da manhã desolada,
O tempo se transmuda
A sorte agora muda
E o coração se alheia
Bebendo esta seara
E nela se declara
A morte que incendeia.

5

Num ritmo alucinante
O fato consumado
As ânsias do pecado
O olhar claro e brilhante
No todo que agigante
O fardo desvendado
O corte anunciado
Ainda fascinante
A morte após a queda
O tempo nada veda
E traz nesta constância
Os ritos mais banais
Em partos, funerais
Espúria concordância.

6

Sentindo o teu perfume
E tendo em minhas mãos
Os dias vários vãos
E quanto me acostume
No todo que se esfume
Encontro os mesmos nãos
E rendido aos teus chãos
Voltando a ser estrume
Esboço a realidade
E quanto da saudade
O tempo não concebe,
O mundo se renova
E quando à toda prova
Inútil minha sebe.

7

Ainda sem fulgor
A noite em lua morta
Fechando a minha porta
O céu já nem tem cor
O quanto em desamor
Sem nada que conforta
Ainda assim comporta
Ao menos leda flor,
Resumo a minha senda
No pouco que se estenda
Nas mãos entrelaçadas,
E o peso da esperança
Em tal desconfiança
Em tramas reveladas.

8

Desta única rainha
O quanto pude ver
A morte num prazer
Que tanto lhe convinha
História sendo minha
Espalha-se e o saber
Do fato de um querer
Aonde não se aninha
O sonho mais audaz
E nele não se faz
Sequer o brilho enquanto
O mundo se moldara
Na face mais amara
Em turbilhão, quebranto.

9

Vagando este universo
Em meio aos temporais
Bebendo muito mais
Do que meu simples verso
E sigo e me disperso
Dos dias mais iguais
E bebo dos fatais
Caminho onde imerso
Não sou sequer a sombra
Do quanto ainda assombra
Quem busca a solução
Resgato tão somente
Da morte esta semente
Vital renovação.

10

Horríveis temporais
Em noites mais sombrias
No quanto me trarias
Eu bebo muito mais
Ausentes os cristais
Diversas pedrarias
As sortes, heresias
Os vagos funerais
E o passo rumo ao nada
Aonde minha estada
Feroz não mais se veja
E assim após o corte
Apenas resta a morte
E que sempre assim seja.

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