sábado, 5 de junho de 2010

35501 até 35510

1


A minha juventude já perdida
Ocasos se aproximam; nada mais
E o quanto poderia transtornais
Minha alma em labirinto sem saída,
Uma esperança ao menos sendo urdida
Talvez silenciasse os vendavais,
Mas quando me percebo em rituais
Dispersos, só preparo a despedida.
Reparo neste céu primaveril
E o tempo incontrolável, seu buril,
Apenas aumentando sulcos, medos,
E o dia se enfadonha e neste inverno
O quanto inda queria não externo
E os pensamentos morrem; torpes, ledos.

2

A vida tenebrosa não deixara
Sequer se perceber a claridade
Do dia que inda teima e quando invade
Tornando esta manhã imensa e clara,
A morte pouco a pouco se prepara
Numa faceta nova que degrade
Deixando para trás a mocidade
E apenas o vazio desampara.
Um velho solitário, suas cãs,
A ausência dentro em mim destas manhãs
Na agrisalhada vida que me resta
A imagem do passado se distando
Minha alma a também sinto enfim nevando
Do sol não se adivinha a menor fresta.

3

Imerso nas borrascas da existência
Aprendo a navegar quer ou não queira
Assim a vida mostra uma maneira
De poder se entregar à convivência
E embora muitas vezes providência
Jamais se mostrará, tal mensageira
Da dor em ânsia atroz e corriqueira
Não tem de um aprendiz menor clemência.
Olhando para trás mal adivinho
A mansidão ingênua que o caminho
Em temporais desfez e não deixara
Sequer a menor sombra do que fora
A minha juventude sonhadora,
Agora tão distante e mais amara.

4

Minha alma atravessada
Procura algum descanso
E quando não alcanço
Sequer uma alvorada
A vida sem estrada
Do dia outrora manso
Ao mais sutil me lanço
A sorte desejada,
Por vezes tão distante
E quando me adiante
Preparo a própria queda,
Assim o tempo atroz
Eleva sua voz
E uma esperança veda.

5

Em dias tão brilhantes
O sol toma o cenário
O quanto é necessário
Amor que me adiantes
Os passos fascinantes
Num tempo imaginário
O corte duro e vário,
Aspectos deslumbrantes
Da vida ensimesmada
E agora na partilha
Jamais serei uma ilha
Há tanto abandonada
Diante deste pélago,
Quem dera um arquipélago?

6

Diversos tantos sóis
Ditando esta manhã
No quanto de malsã
Ausência de faróis
Impede os girassóis,
Porém na temporã
Paixão, que embora vã
Desfaz velhos atóis,
Encontro uma saída
E mesmo sendo urdida
Nas tramas da ilusão
Talvez inda redima
E mude até o clima,
Quem sabe outra estação?

7

A chuva dentro em mim
Ausência de esperança
Ao quanto já se lança
Inútil meu jardim,
Resolvo e tento enfim
Enquanto o tempo avança
Voltar minha lembrança
E estar longe do fim
Que agora se apresenta
E mostra quão sedenta
A morte pode ser,
Restando alguma luz,
Apenas contrapus
Na falta de prazer.

8

Desastres costumeiros
No dia a dia tenho
E quando fecho o cenho,
Momentos derradeiros
Adentro os espinheiros
E tento enquanto venho
E sei que não convenho
Em tais desfiladeiros
Tentar alçar além
Do quanto me contém
E cala a minha voz,
Sabendo-me distante
A face da farsante
Esta esperança atroz.

9

Restando muito menos
Do quanto imaginara
O sol já se prepara,
Em tons bem mais amenos,
Os dias vêm serenos
A noite bem mais clara
E tudo o quanto ampara
Distando dos venenos
Mas sei ser passageiro
Cenário venturoso
Após o raro gozo
O vento derradeiro
Assola este sobrado
Na base, destroçado.

10

Olhando o meu jardim
Em lírios, dálias, rosas
As sortes caprichosas
Domando o que há em mim,
Preparo para o fim
Em noites pavorosas
E embora tão dolosas
Explicam ao que vim.
Refeito do fastio
E quando inda recrio
Um mundo mais suave
Minha alma libertária
Embora procelária
Eleva-se qual ave.

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