sábado, 5 de junho de 2010

35521 até 35530

1

O quanto em mim sou água
E disto sei tão bem
Do todo onde contém
Noutro mar já deságua
Inútil, pois a mágoa
E nela se convém
Saber o que também
Traduz em fúria e frágua.
A vida não comporta
Fechar e abrir de porta,
Apenas se escancara
Ao sol que na verdade
Queira ou não queira invade
Numa manhã mais clara.

2

Desta fonte jorrada
Enchente e inundação
O quanto do verão
Traduz esta jornada,
E nela anunciada
As horas que verão
A nova sedução
Ou velha destronada
Assim se renovando
Em ar puro ou nefando
Apenas posso ver,
E quando se percebe,
No fundo a mesma sebe
Igual também prazer.

3

Tão parco quando grande
O quanto mais importa
É ter aberto a porta
É nela que se expande
O tempo e já demande
O quanto mais aporta
E sendo reta ou torta
A vida não desande.
Chegar à magnitude
E ter o quanto ilude,
No fundo ser poeta,
É renovar-se inteiro
Manter vivo o luzeiro
Alma nunca completa.

4

As tumbas e os velórios
Eu sei e até garanto
Ao vê-los não me espanto
Nem os sentindo inglórios
Nem mesmo merencórios
No quanto deste pranto
Pudesse noutro tanto
Trazer novos empórios.
É certa a caminhada,
Começo meio e fim
Por isso mesmo eu vim,
Do nada volto ao nada,
Porém de alma lavada
Renovo este Jardim.

5

Aonde houvesse flores
Existe a primavera,
No quanto ainda espera
Ou mesmo quando fores
Verás que dissabores
Temperam. Tudo gera
Do quanto degenera
Somos renovadores.
Poeta é libertário
Um mal tão necessário
Acalentando sonho
E mesmo se tristonho
Permite que se tente
Estar além, presente.

6

As horas sempre novas
O coração senil,
No quanto não as viu
Adentra noutras provas
E quando me reprovas
Por ser mais juvenil
Não vês o quão gentil
Evitar tolas sovas.
Já bastam minhas rugas
E quanto assim tu sugas
O pouco que inda existe
Com teu olhar mais triste,
Não vês quanto é preciso
Sorrir no Paraíso...

7

O quanto ainda sonho
Embora seja claro
Que o todo não declaro
Senão velho bisonho,
Permite o que proponho
Em tom suave e raro
Mantendo vivo o faro
Invés deste enfadonho
Caminho repetido
Ladainha ou gemido,
Que tanto já escutei,
A morte sendo certa
A porta estando aberta
Prepara nova grei.

8

Do quanto encontrarás
Ainda vivo em mim
Apesar do estopim
Ausente mesmo a paz,
No todo sou capaz
E chegando ao meu fim,
Dizendo se aqui vim
Algo maior me traz,
A mão de quem oferta
Deveras sendo aberta
Permite um belo aceno
Do amor gerando amor,
E se assim sempre for,
O dia surge ameno.

9

Vagando sobre o solo
Em tons grises eu vinha
Até que foste minha
Sem culpa medo ou dolo,
No novo então me assolo
E bebo desta vinha
Aonde se continha
Presença de algum colo,
Renova-se a esperança
Enquanto o tempo avança
E deixa para trás
A velha persistência
Desta invernal ausência
Na face atroz, mordaz.

10

O meu olhar lavado
Nas lágrimas da vida,
Agora na saída
Vislumbra um novo prado
E o vejo alvoroçado
Julgara enfim perdida
A sanha mais pedida
O tempo anunciado.
A morte pode vir
Não a temo nem quero
E sendo mais sincero
Aprendendo a partir
Eu aprendo a viver
Sentir e dar prazer.

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