terça-feira, 8 de junho de 2010

35811 até 35820

A estúpida presença de uma vida
Em mornas excrescências poderia
Trazer ao sonhador a alegoria
Já tanto sem sentido e em vão perdida,
Mas quando o próprio passo se duvida
E a noite permanece bem mais fria,
O quanto de verdade não se via
Desdita desta forma a ser cumprida.
Gerenciando um passo rumo ao nada,
No quanto vira ausente a renovada
Manhã que imaginara dentro em mim,
Preparo a cada dia os funerais
E sinto se aproxima o imenso cais
E dele tão somente vejo o fim.

Esgoto o meu caminho em ermo vago
E tento relançar a voz enquanto
Ao menos não cevara mais o encanto
E o tempo noutro tanto não mais trago,
Razões existem várias, mas o lago
Em aridez somente, não me espanto
Apenas se salgando no meu pranto
Porquanto em mera luz ainda afago
Os restos decompostos da existência
E bebo sem sequer querer clemência,
A morte não se foge dos meus olhos,
Canteiros entre tantos, solo agreste
E quando em luz terrível tu vieste
Sementes que cevaste? Só de abrolhos.

Pereço enquanto luto inutilmente
Tentando ainda ouvir a voz macia
Do tempo que deveras não seria
O quanto em realidade se apresente.
No vasto caminhar, olhar descrente
Ausente do que fora fantasia,
Seara em tom final já se cumpria
E o corte na raiz a vida sente.
Não posso me entregar aos fúteis passos
Nem mesmo me entranhar de tolos laços
E neles reviver cada segundo
Do todo se perdendo em voz amarga,
Aos poucos velha roupa já se larga,
E na mortalha gris eu me aprofundo.

4

Opacas tardes tomam o horizonte,
E nada mais teria deste brilho
Enquanto a realidade em brumas trilho,
Sem ter sequer a lua em que se aponte
Do nada com o nada a velha ponte
E quando sob os raios me polvilho
De uma esperança torpe, este andarilho
Secando na nascente qualquer fonte
O vandalismo escracho de uma ausência
E nele não se vendo competência
Que possa me mostrar algum futuro,
Do velho mais turrão que se apresenta
Na face tanto atroz quão violenta
Dos ermos de um final eu me asseguro.


5

Pereceria em mim qualquer resquício
Do quanto houvera há tempos noutra face
Ainda quando em vão meu tempo passe
Não quero desvendar tal precipício,
As ondas entre cordas desde o início
Aonde o pensamento já não grasse,
Resume a tentação em vago impasse
E dele se apresenta o precipício.
Aprofundando abismos e entranhando
Um abissal destino desde quando
Resumo de uma estúpida promessa,
A vida noutro tanto se amortalha
Adiantando ao corte, esta navalha
E nela a realidade já tropeça.

6

Acordos descumpridos pela vida
Apodrecendo os ermos que inda tenho,
No quanto em busca fútil o desempenho
Demonstra a falsa imagem distorcida
Percalços encarando na comprida
E imensa solidão e nela venho
Contendo o que pudesse e não convenho
Alimentando assim velha ferida.
O ponto de partida se desnuda
Na face mais atroz, dura e miúda
Do corte envolto em trevas, nada mais.
O corriqueiro dia se tempera
Na ansiedade amarga da quimera
Gestando apenas ermos vendavais.


7

A angústia de um viver sem resultados
Os dias repetidos, velha cena
Nem mesmo alguma luz inda serena
Os olhos pelos tempos maltratados,
Resultam na verdade vãos recados
Do quanto a sorte ampara e me envenena
Assim a torpe imagem concatena
Detalhes de outras vidas, meros fados.
Peçonha costumeira se entranhando
No quarto aonde durmo e vejo em bando
As rapineiras corjas mais vulgares
E delas o prenúncio deste infarto
E o sonho a cada passo eu já descarto
Ao destruir em nós, podres altares.

8

Alcovas do passado, lupanares
Entranham meus olhares e inda vejo
A solidão mordaz deste desejo
Diverso do que tanto provocares,
Navego por caminhos ermos, bares,
E quando alguma luz inda prevejo
No bojo do viver, mero lampejo
Aonde na verdade não tocares
Resulto de um vazio e tão somente
Restando o quanto posso e se apresente
Na face desdenhosa e mais sutil,
Matando esta promessa em raro aborto
E o quanto se pensara em algum porto
Apenas o vazio se reviu.

9

Parábolas diversas, lucidez,
O tempo não tramita em outros tantos
Negando a quem pudesse velhos cantos,
A sorte noutra senda se desfez,
E quando na verdade nada crês
Ourives da ilusão sei desencantos
E bebo os mais terríveis, ledos prantos
Tentando ainda ter esta altivez
A gélida presença de uma luz
Nefasta turbulência onde reluz
A ausência de esperança ao fim da estrada,
Permito-me vagar por ermos campos,
Do quanto quis estrelas, pirilampos,
Dos dias mais felizes, resta o nada.

10

Na porta dos meus sonhos nada trago
Senão mesmo caminho em luz sombria
E quando se percebe esta heresia
O peso do passado toma o lago,
O fardo de sonhar eu mesmo drago
E gero desta face o que podia
Singrar sem ter ao menos a sangria
Nas ânsias em que tanto em vão me alago,
Esparsos passos traço inutilmente
E vejo em todo instante mais ausente
O fato de sonhar, escasso brilho,
E tento novamente acreditar
Embora não perceba mais luar
Nos ermos onde teimo e inda palmilho.

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