terça-feira, 8 de junho de 2010

35891 até 35900



Onde o tempo se escasseia
E a verdade não se aflora
A vontade é de ir embora
E seguir em rota alheia
Vendo ao longe o que incendeia
E deveras não demora
Lua plena em vão decora
Barco além de cais e areia.
Sigo ao léu e pouco importa
Se decerto eu sei da porta
Ou tampouco saberia,
O meu mundo não se tece
Nesta voz nem obedece
Viva face em rebeldia.

2


Meu coração qual cigano
Não permite um só descanso
Quanto mais ao longe avanço
Bem maior seu desengano,
E se tanto assim me dano,
No caminho me esperanço
E prometo algum remanso
Mesmo quando sigo insano.
Resultando disto tudo
Nova senda aonde iludo
O que fora mais feliz,
Fato sempre corriqueiro
Sem as rédeas eu me esgueiro
Vou fazendo o que bem quis.

3


Os meus cantos são bem pobres
Neles nada mais verás
Senão isso e quando audaz
Outro rumo não encobres,
Os que tanto foram nobres,
Mas ausente qualquer paz
Noutro passo sou capaz
De viver o que recobres
Com ternura ou malfadada
Noite imersa neste nada
Onde pude sem estrela
Navegar em tom sombrio,
E hoje quando bebo o rio
Busco em vão sempre revê-la.

4

Nas espumas flutuando
O meu barco rumo ao cais,
Enfrentara vendavais,
Mas o tempo agora é brando
Andorinhas. Belo bando
Velhos dias? Nunca mais.
O que teimo em siderais
Sobre mim já desabando,
Reza a lenda que quem sonha
Mesmo em tez dura e medonha
Permitira a fantasia,
Mas sem sonhos, nada sei
O vazio dita a lei
Nem a sombra se desfia.

5

Da peçonha mais atroz
E do gozo soberano
Nada vejo nem me engano
Escutando a tua voz,
O que um dia fora em nós
Hoje eu sei e se me dano
Vou puindo o velho pano
E rompendo frágeis nós.
Ouço a voz da tempestade
Tanto agride quanto agrade
Quem se faz em dor e treva,
A minha alma está perdida
Nestes ermos desta diva
Onde o vento não me leva.

6

Minhas mãos andam cansadas
De teimar em solo duro,
E decerto inda procuro
Noites claras desvendadas,
Mas as sendas desoladas,
No caminho mais escuro,
O que tanto me amarguro
No correr das madrugadas
Não merece um só momento
De alegria ou pensamento,
Resto só, problema meu.
O que tanto desejara
Noutra face, outra seara
Por ser meu já se perdeu.

7

No teclado vejo urdida
Esta cena aonde eu possa
Mesmo envolto em riso e troça
Desvendar mera saída
E se tanto foi pedida
Nova face em que se endossa
O caminho se destroça
E não trama luz em vida,
Sobras mesmo do que tanto
Desejei e se me espanto
Nada vendo nem o porto,
O meu mundo sem juízo
Acumula em prejuízo
Da esperança um mesmo aborto.

8

Nas entranhas do meu mundo
Outro tanto se previra
E sem ter certeza ou mira
Dos teus ermos já me inundo
E sabendo vagabundo
Coração ao longe atira
A certeza ou a mentira
Neste olhar onde aprofundo
Outro caos gerado em mim,
E persisto até o fim
Nesta luta sem sucesso,
Quando vejo a minha face
Noutro espelho se desgrace
Mesmo insano, recomeço.

9

Ao saber do quanto pude
Nem medindo cada passo,
Se decerto ainda grasso
Longe mesmo a juventude
Procurando outra atitude
E se teimo num compasso,
A verdade não mais traço,
Quanto a vida sempre mude.
Riscos tento, mas prossigo
Noutro rumo em desabrigo
E se teimo nada vem,
Quantas vezes procurara
A manhã em luz mais clara,
Mas só vejo o teu desdém.


10

Pecadores? Sei que não
Quando amor nos atracando
Toma este ar outrora brando
Ruma em nova direção,
Deixa ao léu a solidão
E o caminho decifrando
Onde e tanto, como e quando
Percebera o mundo em vão.
Sou apenas o passado
E o futuro destroçado
Já não vejo e nem pudera.
Onde outono agora toma
Sou bem menos nunca soma,
Viva em mim fria quimera.

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