quinta-feira, 10 de junho de 2010

36091 até 36100

1

Não posso mais negar
As tramas onde vejo
A sombra do desejo
Um manto a nos tocar
E quanto devagar
A lua em ar sobejo
Adentra este azulejo
E a sinto clarear
Caminhos onde a vida
Promessa mal cumprida
De quanto poderia
Já não mais se esboçando
Num tempo em contrabando
Sonega o próprio dia.

2

Da minha juventude
Distante noutra cena
A vida não acena
Enquanto em vão me ilude
Pudesse em plenitude
A tarde mais serena
E quando fosse amena
Domando o grande açude
Aonde se aludira
O passo em tal mentira
Ou mesmo num compasso
Diverso do que traço
E nele se interfira
A falta vã de espaço.

3

Assim mais tenebrosa
A vida quando traz
Aquém da imensa paz
Diverso desta rosa
Aonde majestosa
Pudesse ser audaz,
E quanto mais capaz
Maior e prazerosa,
A belicosa tarde
Ainda que se aguarde
Após a curva eu sinto
No todo onde pensara
A cura desta escara
O amor há tanto extinto.

4

Adentro tais borrascas
E nelas percebendo
O tempo se trazendo
Em duras, torpes lascas,
Enquanto vejo as cascas
E tento um novo adendo,
Mergulho no estupendo
Caminho em que descascas
As sortes mais atrozes
E busco em várias vozes
Intensa sintonia,
Porém se vou afônico
Um passo desarmônico
Deveras se sentia.


5

Pudesse levantar
Além deste horizonte
Aonde não se aponte
Sequer o meu olhar
Vislumbro este solar
E dele bebo a fonte
E quanto mais apronte
Não pude caminhar
Desvendo outro segredo
E sendo assim concedo
Risonha companhia
No todo mais tardio,
Ausência onde me guio
Destino se cumpria.

6

Sentindo aqui teu peso
No parto e na senzala
A boca nada escala
Somente este desprezo,
O quanto vou surpreso
Ou mesmo não se fala
Na porta, quarto e sala
Ainda assim vou preso.
Repenso cada passo
E quando um novo traço
Vasculho alguns sinais
Que possam me trazer
Além do meu sofrer
Os sonhos magistrais.



7


Aonde foi prazer
E sinto a descoberto
O passo em que me alerto
Ou vejo sem poder
O tanto onde não crer
Desvenda este deserto
E bebo em rumo certo
A luz do envelhecer.
Não pude contra tudo
E quando assim me iludo
Eu tento noutra face
A mão já sem tipóia
A queda não se apóia
Portanto me desgrace.


8


Quisera ter coragem
Para seguir além
Do pouco que contém
Diversa e falsa aragem
No tanto em que a barragem
Deveras não convém
Tramando noutro bem
O amor, qualquer bobagem,
No caos gerado em mim,
Princípio dita um fim
E traz em desafio
O verso mais audaz
E nele já se faz
Olhar audaz, sombrio.

9


Enquanto fora amor
Apenas o começo
Da vida sem tropeço
E nela este frescor
Aonde recompor
Aquém deste endereço
O amor que não mereço
A vida sem pudor.
Ousando novamente
O caos que se apresente
Traçado há muitos anos,
Dos dias costumeiros
Apenas os luzeiros
Dos velhos ermos danos.

10

O quanto se fez a arte
Na face mais diversa
E quantas vezes versa
Adentra em toda parte,
Na mão ou no descarte
A falta de conversa
Paisagem se dispersa
Ou nada mais reparte,
Senão a mesma farsa
Da noite mais esgarça
Do quanto não se via,
Vislumbro qualquer brilho
E tento enquanto trilho
A velha fantasia.

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