terça-feira, 15 de junho de 2010

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1

Sorvendo cada gota
Por mais que me apeteça
Aonde esta cabeça
Pudesse estar mais rota
No todo onde amarrota
O quanto não se esqueça
E sendo o quando teça
Mudando a velha frota
Dos sonhos e das vagas
Arcando com as chagas
Comuns e tão banais
Se eu tenho dentro em mim
A paz deste jardim
Prefiro os vendavais.

2

O tempo em Ipanema
As formas da garota
A sorte sendo rota
Ainda teima em tema
E quando em paz algema
Bebendo cada gota
Ainda que remota
Mineiro, mas da gema
Tocando no barzinho
Num gole deste vinho
Chamado de saudade
Meu verso não se cala
E quanto mais se embala
Encontra a liberdade.

3

O rito em risco e fato
O corte, a corte, o pranto
E quanto mais me espanto
Eu como deste prato,
E nada se desato
Gerasse o que ora canto
Ausente do quebranto
Ou mesmo do contrato
Ascendo em libertário
Delírio de um corsário
Saqueio o sentimento
E tento num bolero
O quanto ainda eu quero
Da vida em bom provento.

4

Prazeres em prazeres
Olhares mais sutis
E tento além do quis
Comer nestes talheres
Aonde tu quiseres
Ou tanto se desdiz
Do peso este infeliz
E nele se puderes
Passado diz futuro
E tento em salto escuro
Resumos do que fui,
Bebendo a minha sorte
Encontro quem conforte
Enquanto a casa rui.

5

Cada minuto sem
O quanto pude ou tive
Vivendo ou sobrevive
Andando sem alguém
E nada quando vem
Transforma o que se prive
No pouco aonde crive
O gozo de outro bem
Carinho? Solidão
Verdade sem senão
Fagulhas de outras eras,
E assim são meus desvios
E neles desafios
Aonde nada esperas.

6

Não vejo o tempo além
Nem mesmo o quis, quintal
Resumo no varal
O amor que nunca vem,
E beijo outro ninguém
Num velho ritual,
O corte bem ou mal
Transcreve sempre bem,
Também não poderia
O dia em agonia
A fantasia aborta
E vendo a realidade
Aonde nada brade
Arrombo cena e porta.

7

Vencido cavaleiro
Andantes fantasias
E tanto mais querias
Do velho cativeiro
Acendo o meu isqueiro
Enquanto me irradias
Com tons e poesias
O gosto corriqueiro,
Aporto mares luas
E vejo cenas nuas
Das velhas tempestades,
O corte não me entranha
E quanto mais estranha
Enfrento as velhas grades.

8

Batendo no meu peito
O quando de Brasil
Ou mesmo em varonil
Caminho já desfeito
Se tanto ou não aceito
O gozo mais sutil
A sorte se previu
Tomando corpo e leito,
O parto não reparto
O corte não me ilude
Ausente juventude
O jeito é ter no quarto
A mera sensação
Ausente de um verão.

9

Centavo após centavo
Eu pago cada conta
E quanto mais se apronta
Das ânsias não me lavo
Somente ser escravo
Da lua audaz e tonta
E nela se remonta
O gosto feito em cravo,
O fardo em cardo feito
Enquanto me deleito
Aceito a desventura
E tento novamente
Por quanto a vida mente
E a senda é mais escura.


10

Levando a vida assim
Ao farto cardo enquanto
Bebera o desencanto
Tramando outro jardim
No todo ou mesmo o fim
A faca que ora canto
Adentra em qualquer canto
E gera o até que enfim.
Resulto do que fora
Outrora sonhadora
Uma alma em desventura,
Mas logo recupero
Se eu sou claro e sincero
A vida é mais escura.

11

O peso me envergando
O dia não traria
Sequer a fantasia
Ou mesmo um tempo brando,
O couro se negando
Etérea confraria
E nela a melodia
Aos poucos me pesando,
Entranho o meu passado
E tento outro recado
Aonde não resgato,
Do rio que pensara
Em noite bela e clara
Ao menos um regato.


12

O velho caminheiro
Espada sempre em riste
Aonde inda persiste
Vagando em espinheiro
No todo em que me inteiro
No olhar cansado e triste
O quanto inda resiste
Mexendo no vespeiro,
Justiça social
O bem longe do mal
Abrigos mais diversos,
E sei do quanto posso
Fazendo teu o nosso
Desejo em cantos, versos.


13


Os olhos doentios
Os medos mais constantes
E quanto mais espantes
Eu bebo tantos rios
E sei dos desafios
Olhando por instantes
Os dias navegantes
Rondando velhos fios,
Aprendo com o todo
E sei do quanto em lodo
Revolvo o meu passado
O tempo não traduz
Ainda corte ou luz
Só sei que ando pesado...


14

Cadenciando o nada
Aonde o nada dita
A porta se acredita
Há tempos emperrada,
No jogo desta estada
E nela esta maldita
Vontade se permita
Na senda sonegada
Vagando sem destino
O quanto me fascino
Problema é todo meu,
Do todo imaginário
Nem mesmo o necessário
Ainda se rendeu.

15

Jogado pelas ruas
Andando sem a sorte
Que tanto me comporte
Enquanto continuas
E bebo, belas nuas
Sereias onde o corte
Impede qualquer norte
E nunca mais atuas.
A noite em tantos gozos
Caminhos caprichosos
Relíquias ou resquícios?
Só sei o quanto tenho
Do vago desempenho
Beirando precipícios.

16

A porta do futuro
O porto do passado
O corte apresentado
O chão ausente ou duro,
No tanto onde perduro
Encontro o meu legado
O dia sendo herdado
No passo em que amarguro
O fardo do viver
O medo de saber
O quanto se promete
Depois do nada ou menos
Em dias mais amenos
A sorte, esta pivete...

17


Dançando a noite inteira
Nas luas e nos bares
Enquanto profanares
É minha esta bandeira,
Na greta já se esgueira
Procuro outros altares
E beijo os desvendares
Alçando esta ladeira
Lareiras incendeio
E quando mais receio
O fogaréu me doma,
Do nada gero a soma
E nela me permito
Amor quase infinito.

18

Olhando em teu olhar
Reflexos destes meus
Aonde houvera adeus
Aprendo a navegar,
O tempo a imaginar
Além dos ermos breus
Cenários mais ateus
Gostoso lupanar,
Nos seios da morena
Quadris, e tudo acena
À fonte prazerosa,
E mesmo entorpecido
Na fúria da libido
Despetalando a rosa.


19

Olhando para quem
Pudesse ser assim
O vento diz em mim
O quanto já contém
E sendo o seu refém
Não tendo mais o fim
Bebendo do jardim
E nele sei também
O parto repartido
Adentro tal tentáculo
A vida, um espetáculo
Sem rumo nem sentido
Danando algum oráculo
O tudo é permitido.

20

Convenço-me do fato
De um dia após a sorte
E tanto me comporte
No quanto me retrato
Gerando em desacato
O dito sonho forte
Procuro enfim um norte
Aonde não reato
O passo rumo ao todo
E nada deste engodo
Pudesse permitir
O gozo incomparável
Ou mesmo impenetrável
Amargo do elixir.

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