sexta-feira, 18 de junho de 2010

37401 até 37420

1

Adentro os meus dispersos pensamentos
E tento vez em quando vislumbrar
Aonde eu poderia derramar
Olhares entre fúrias, medos ventos,
E sei dos meus prováveis desalentos
Enquanto ainda cismo de tragar
Trazendo no meu peito inteiro o mar,
E dele sei procelas e tormentos.
Percorro este infinito num segundo
E quando nos teus sonhos me aprofundo
Percebo não existe qualquer luz
Aonde eu possa ainda ver mais perto
O amor que imaginara haver desperto,
E nada do que eu busco inda reluz.

2

A porta esta cerrada e nada mais,
O quanto fui disperso e poderia
Viver a mais sublime fantasia
Agora não encontro nem sinais
Dos dias entre cores divinais,
E morta desde já tal utopia
A fúria se percebe em ventania
E os tempos se repetem são iguais.
Aprendo com meus erros, mas persisto
E sei do quanto ainda sinto e insisto
Depois de ter tentado abrir a porta,
Já não conheço a sorte que eu buscava
Minha alma se perdendo, tola escrava,
Esta esperança atroz, o tempo aborta.


3

Mesquinharias tantas; percebi
Na vida entre temores e promessas
Aonde na verdade tu tropeças
O rumo noutra face já perdi,
E sei do quanto sofro estando em ti,
E as horas se transformam e confessas
Erráticos caminhos recomeças
Deixando para trás o que eu senti.
Abandonando o barco noutro rumo,
O todo que pudesse não consumo
E vibro a cada instante mais feliz,
Embora na verdade saiba bem
Que apenas o vazio me convém
Enquanto a realidade contradiz.


4

Qual cinza de um cigarro pelas ruas,
A vida não pudera ser diversa,
E quando a fantasia se dispersa
Apenas muito além vil, continuas,
E sei que tantas vezes mal atuas
E nada deste encanto se conversa,
A morte noutra face eu vejo imersa
E ali talvez perceba minhas luas.
Resisto ao fato mesmo percebendo
Que o todo na verdade se perdendo
Não deixará sequer a menor luz,
E teimo contra a fúria inusitada
Assim ao perceber longe a alvorada
Um passo sem firmeza me conduz.

5

Ouvir a voz do tempo e acreditar
Nesta possível sorte que não veio,
Ainda dos meus dias vou alheio
Tentando nova forma de buscar
Aonde poderia me entranhar
Sem ter somente angústia, dor, receio.
E tanto imaginara ser o esteio
Da casa que ora vejo derrubar.
O mundo em discordância não permite
E neste caminhar sem um palpite,
Vagando em plena noite um pária eu sou.
Escombros do que fora uma ilusão
Meus passos se perdendo, e a direção
Jamais outro delírio me mostrou.

6

Ocasionando em mim o medo quando
O tempo se transforma e nada faço,
Seguindo a realidade passo a passo,
O todo que imagino se tomando
Em ares mais terríveis, sou nefando
E bebo deste mar que ora desgraço,
E quando mais audaz eu me esfumaço
Ferida cada vez se aprofundando.
Eu quis acreditar e não podia,
A morte com terrível sintonia
Demonstra o que deveras inda resta
De quem se pensou muito e nada veio
Somente o meu olhar, duro receio,
Imagem se formando mais funesta.


7

Percebo a minha cruz e não reajo,
O todo se perdera e nada além
Do brilho mais insano se provém
Traçando este vazio que ora trajo,
E quando em heresias teimo, ultrajo
O parto sonegado sabe bem
Do quanto nada resta nem convém
E desorientado então eu ajo.
Não pude ver a sombra do que um dia
Pensara ser maior e não sabia
Ser vil ou mesmo opaco, e tento ainda,
Vencer os meus demônios, não consigo,
E quando me percebo sendo o abrigo,
A morte com ternura, a sorte brinda.

8

Apenas um velhusco e nada mais
O olhar senil não sabe a diferença
Da sorte que traria recompensa
Tampouco crê em lendas magistrais,
Das ânsias do passado, nem sinais
Tomado pela angústia da descrença
Seara agora frágil, porém tensa
Em desavença dita os rituais,
Abandonando o sonho, não resisto
E morro na verdade em que inda insisto
Tentando desvendar algum segredo.
O passo rumo ao nada, repetido,
O mundo noutra senda percebido,
E o coração vazio segue ledo.


9

Tu és a luz e eu sigo em tom sombrio,
A primavera inverna o meu outono,
No olhar feito em temor, ledo abandono,
O coração agora morre frio,
E apenas o que resta eu esvazio
Da morte tão somente já me adono,
Incrível consolar com medo e sono,
O quanto se pensara. Desvario.
Perdoe se talvez um dia eu quis
Tentar imaginar ser mais feliz,
Tu tens no teu frescor beleza rara,
Porém minha alma agora envelhecida
Morrendo acompanhando a minha vida,
Invés de claridade, ceva a escara.

10

Olhando para trás vejo e realço
O coração audaz do aventureiro
E quando da verdade não me esgueiro
Percebo tão somente este percalço,
O quanto agora sigo já descalço
O sonho não se mostra corriqueiro
O dia a dia mata, traiçoeiro
Gerando noutra senda um fundo falso,
E o cadafalso espera o fim da tarde,
Assim também meu mundo ledo aguarde
Apenas este inverno terminal,
Pudesse acreditar ainda em mim,
Mas quando me aproximo mais do fim,
Sentindo derradeiro este degrau.


11

Meu corpo envelhecido, a tez sombria
O olhar entre estas brumas já não sente
Sequer alguma luz, e sendo ausente
Não posso mais saber se existe dia.
O todo na verdade não se adia,
No quanto do meu nada se apresente
E morro, mas persisto em tom dolente
Embora saiba ser uma heresia.
O túmulo me aguarda e me redime,
No olhar de quem talvez ainda estime
Penalizada face se desenha.
Mas quanto mais a morte me domina,
Ao mesmo tempo corta e já fascina
No nada ou no bastante que ela tenha.


12

Andando pelas ruas noite afora,
Quando ocasionalmente encontro a luz
O meu olhar disperso reproduz
A mesma forma aonde se decora,
E toda a fantasia não se aflora
Deixando qual resquício o mero pus,
E sendo assim um novo recompus
Aonde o meu caminho foi embora.
Aprendo os teus sinais e sei tão bem
Que apenas o vazio me convém
Deixando como herança esta mortalha,
O verso não se cala nem se finge
Tampouco quero ser enigma e esfinge
Nem a ilusão um campo de batalha.

13

Não temo mais a morte e a necessito,
Assisto aos derradeiros dias meus
E preparando apenas este adeus,
O tempo de sonhar, sei tão finito.
O quanto poderia haver em rito
Não quero, pois meus dias são ateus,
Tampouco me importando luzes, breus,
Apenas na mortalha eu acredito.
Jogado sobre a cama, um corpo inerte,
Uma alma se inda existe se converte
Nesta terrível face moribunda,
E quanto mais pressinto o meu final,
A paz, incrivelmente pontual
Qual fosse tempestade agora inunda.

14

Meu tempo se passou e nada tive
Somente o dissabor de ter vivido.
O corpo há tanto tempo sem libido,
Nem mesmo uma esperança vã contive,
Quem desta forma apenas sobrevive,
Não deve ser sequer ainda ouvido,
Mas tento conceber e entorpecido
Minha alma com a morte já convive.
Herméticos caminhos procurei,
E tanto vasculhara a turva grei
Até me perceber em nada e pó.
Nasci e volto ao nada deste jeito,
Não tendo nem sequer qualquer direito,
Apenas descansar em paz e só.

15

Afasto-me do sonho onde pudera
Acreditar num dia mais feliz,
O olhar se mostra em dura cicatriz
Jamais apascentando qualquer fera,
E quando no vazio se tempera
O todo que deveras ontem quis,
Não posso nem mereço o sonho em bis,
A porta se fechando, nada espera.
Olhando para trás não levo nada,
Nem mesmo outra esperança é desejada.
Resíduos de uma vida, mera escória
O todo se perdendo desta forma,
Porém uma alma rude se conforma
E faz desta mortalha uma vitória.


16

Apenas conseguiste destruir
O quanto ainda havia em mocidade,
Numa alma que deveras se degrade
Deixando para trás até porvir
Não posso e nem desejo resistir
Enquanto a dor vazia já me invade,
Não tendo nem mais luz ou tempestade,
Vivendo por viver, até sair
De foco e não saber de mais caminho,
Jamais me imaginara tão mesquinho,
Mas não levo saudades nem tristeza,
O quanto fora nada ao nada volta,
Sem medo sem paixão e sem revolta,
Levado pela forte correnteza.

17


Envelhecido vejo neste espelho
O olhar que até pensara jovial,
Mas quando se percebe o desigual
Caminho aonde em vão eu me aconselho,
O tanto se mostrara e se ajoelho
Tentando algum instante ritual,
A vida determina bem ou mal,
E apenas do vazio me assemelho.
Jogado sobre as rocas e os penedos,
Não levo para além sequer os medos,
Somente este não ser e te agradeço
Por sonegares luzes a quem sonha,
Realidade eu sei dura e medonha,
Porém já não suporto um adereço.


18

Em solilóquio tento nova fase
Após a vida nada me faria
Saber do quanto inútil fantasia
Por mais que a realidade ainda atrase
No fundo não passando de uma frase
Nem mesmo a dura sorte desafia,
E quando mais distante da utopia
Mais firme embora inútil tenho a base.
Descanso sob as pedras finalmente
E sei do quanto a vida me amortalha
No fio afiado da navalha
Ali se vê decerto o que se sente,
Afoito caminheiro agora morto,
Encontra finalmente um manso porto.


19


Não quero a juventude de teus passos,
Nem mesmo esta cruel jovialidade
Apenas o caminho se degrade
Deixando para trás inúteis laços
E os dias tão medonhos, meros, lassos
Agora no final, tranqüilidade,
Sabendo mais distante a tempestade
Aguardo o meu final em ledos traços.
Esqueço de qualquer luz e mergulho
Cevando com ternura o pedregulho,
Meu companheiro eterno, o camarada,
E dele faço espelho deste pouco
Restando a quem se sabe quase um louco
Fadado ao desengano, ao mero nada.


20


Meu passo não teria outro destino,
Somente a morte pode dar a messe
De quem a cada passo teima e tece
A face da mortalha e me fascino
No brilho do vazio, onde ilumino
O mundo quando vejo ou já se esquece
A pestilência é tudo o que merece
Quem nesta vida ceva o desatino.
Adeus e nada mais eu quero ouvir,
Sangrando em cada poro, o meu porvir
Inexistente face tão obscura,
Do todo imaginário, nada tenho,
E quando ainda um sonho eu já desdenho,
Eu sei desta moléstia, a morte é cura.

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