domingo, 20 de junho de 2010

37801 ATÉ 37820

1

A vida traduzida na crisálida
Pudesse também ter a face humana,
E quando se pensando soberana
Gerando esta figura vã e esquálida
Aonde deveria ser mais cálida
Ao próprio companheiro já se engana
E assim por sobre a terra se profana
Na imagem mera anêmica, vil, pálida.
Sugando o que puder; draga infernal
Fazer da mortandade um ritual,
O latrocínio em várias dimensões,
Matando a própria mãe que o amamentara
Na Natureza a chaga, enorme escara,
Aos poucos se alastrando expiações.

2

Na busca de um deus bom ou vingativo,
Ousando ser um mero caricato,
Na face mais cruel, duro retrato
De um ser além de tudo imperativo.
No olhar adulterado, audaz e vivo
Ao mesmo tempo lúbrico ou ingrato,
Se desta imagem torpe eu me desato,
Não quero ser do vago um ser cativo.
Negando esta existência em prepotência
Aprendo a perceber a virulência
Dos donos do pecado e do perdão,
A sórdida figura em divindade,
A quem em tanto lucro sempre agrade,
Transforma este seu deus em ganha-pão.

3

Nem deuses nem demônios; nada existe,
Apenas a vontade feita em vida,
A face mais espúria que é vendida
Transforma a natureza bela, em triste,
O dedo indicativo, sempre em riste
Negando a cada passo uma saída,
E assim nesta mentira sendo urdida,
Riqueza de bem poucos se consiste.
Igrejas, ministérios, são vendetas
O que salva seu deus, vivos capetas
Enriquecendo a podre sacristia,
E vejo desolado tão cenário,
Por vezes num olhar mais temerário,
Risível esta farsa: HIPOCRISIA.

4

A mão tão corrosiva de quem pune,
O olhar enclausurado da mentira,
Enquanto à vida, a morte já prefira
Pensando ser deveras quase impune,
Também vendendo a face de um imune
Demônio que deveras nos retira
Vendendo a falsa imagem de uma pira
Num círio ou num cortejo, nos desune.
Do tanto que se vende por aí
Medonha e tão imunda garatuja
A mão que te abençoa, eu sei ser suja
Enquanto te afagando, ludibria,
Roubando dos mais frágeis e indefesos,
Depois saem risonhos sempre ilesos,
Abutres divinais: santa ironia.

5

Ouvindo a voz que afaga e assim perdoa,
Não vês a caradura do canalha,
Enquanto a podridão ali se espalha,
A corja se enriquece e ri à toa,
Vendendo para o eterno esta canoa
Há tanto desolada e sempre falha,
Unidos pela mesma cordoalha
A voz de um ser tão torpe sempre ecoa.
Vivendo sempre às custas do demônio
Gerando sem sentido um pandemônio,
Herdando deste saque, o que puder.
Da falsa imagem sorve cada gota,
A face da mentira, extensa e rota,
Dragando qualquer lucro se vier.

6

Desmoronando a Terra em atos vis,
Os crápulas vendendo esta potência
Aonde não havia esta ingerência
Fazendo desta mãe o que se quis,
No olhar mais temerário do infeliz,
A falta de carinho e de decência
Enquanto gera apenas inclemência
A vida se levando por um triz,
E assim ao desdobrar a realidade
Ainda vendem podre divindade,
Que possa perdoar esta canalha,
Não quero e não suporto mais teu deus,
O rei das trevas gera em nós seus breus
E a fúria insaciável ora se espalha.

7

De heróis e de bandidos estou cheio,
Cansado desta estúpida vendeta,
A cada passo um nobre se acometa
Ousando perpetrar no mesmo veio,
E quando busco a paz e nada veio,
Somente a solidão, mero cometa,
Aonde a realidade se prometa
Desta horda mais imunda, algum recreio.
Apunhalando a mãe que inda o sustenta
Em nome de um senhor, mero e vulgar,
Fazendo da miséria o seu altar,
A podre espécie turva e violenta
Se redimindo em hóstias, rezas, missa
Olhando nada vê, prossegue omissa.

8

A cada esquina vejo um milagreiro
Ou mesmo um dono etéreo da verdade,
E assim esta canalha tudo invade,
Olhando mais voraz para o dinheiro.
E quando desta corja enfim me esgueiro,
Não basta ter real sinceridade,
Algum outro imbecil mais alto brade
E tenta aprisionar livre cordeiro.
Não faço parte algum de rebanho,
Se eu penso, é fato raro e sinto estranho
Por vezes por um cão ameaçado.
Não compro nem perdão, nem o pecado,
Não quero ser assim iluminado,
A morte encerra perda, dano ou ganho.

9

Igrejas e vendinhas, botequins,
Motéis ou armarinhos; tanto faz
O olhar do mercenário é sempre audaz,
Não importando meios, mas os fins.
Vendendo bugigangas, querubins,
Só peço que me deixem, pois em paz,
Do pensamento eu sei e sou capaz,
Não quero esta cambada de chupins.
Pastores, padres, putas, feiticeiros,
Atrás dos deuses nobres, os dinheiros,
Enriquecendo às custas da alma otária
Os juros que prometem noutro além,
Deveras na verdade sempre vem
É só saber da tal conta bancária.

10

Ocasionando a dor aonde um dia
Pudesse acalentar com mansidão,
A fúria desolada de um leão
Esconde-se na tola sacristia,
Javé, Ogum, Tupã, em rara orgia,
Dividem com certeza o mesmo pão
No olhar mais desejoso o sacristão
Na face mais cruel da fria harpia.
Cevando sem labuta, o lucro vem
Olhando com seu ar, raro desdém,
Produto muito fácil de vender,
Usando da trapaça em ameaça
A corja sem limites doma e grassa
E mostra em falsidade este poder.

11

É claro que existira alguma imensa
Potência atrás da eterna criação,
Negar esta verdade? Claro que não.
Porém não vejo pena ou recompensa.
Eternidade após? Espúria crença
Pior vejo a fatal negociação
Ousando no pecado e no perdão,
E disso com certeza não convença.
Em convenções diversas o escolhido
E o gado em vara curta vai tangido
Levado para onde se quiser,
Que deus deixara em terra um advogado?
Eu peço ser enfim, excomungado
Por um ser tão estúpido e qualquer.

12

A velha jogatina se eterniza,
Há tanto se acredita no chicote,
E sei que desta serpe vem o bote
Aonde a realidade se matiza,
E quando na verdade a vida é brisa
Pecado ou heresia, tolo mote,
Que a cada novo dia se desbote
Remota e caricata a face avisa,
Peçonha neste olhar de quem se pensa
Ou mesmo busca apenas recompensa
Num ato mais insano que real,
A vida determina nova vida,
E desta realidade, sem saída,
Não vejo um novo ou raro ritual.

13

Com ágio gigantesco se cobrando
Aquilo que jamais o pertencera,
Do círio da ilusão espúria cera,
O quadro se repete e sempre infando.
O tempo noutro tempo transbordando,
Jamais desta falseta se esquecera,
Quem tanto lucro em vida recebera
Ainda nos herdeiros vai lucrando.
Mentiras e falácias sobre a mesa,
E usada esta palavra com destreza
O cão que rosna estúpido mentor
Negociante em hábil caradura,
Aonde a eternidade se perdura
Desolação gerando o desamor.

14

São santos, igrejinhas, tais oradas,
Mercados em formatos mais diversos,
Reinando sobre todos universos
As orações vendidas ou cobradas.
As farsas entre tantas demonstradas,
Rebanhos sob as varas vão imersos,
Depois seguem seus rumos e dispersos
Recomeçando as fúrias desvairadas,
Após uma semana em novo culto,
Repete-se este cenário incauto e inculto
E arrependida a corja de joelhos
Os olhos do terrível mercenário,
Este ir e vir promete um honorário
Vendendo mais castigos que conselhos.

15

Assim a desolada face eu vejo
De quem se pensa além da vida espúria,
E quando sinto o olhar, frágil lamúria
Percebo na verdade o seu desejo,
Perdão num raro brilho, outro lampejo,
Depois voltando à vida em tal penúria,
Repete vez em quando a mesma injúria
Aproveitando após, um mesmo ensejo.
Enquanto o seu pastor, gado fiel,
Cegando com palavras, duro fel,
Promete em vara curta o seu castigo,
A turba agradecida e agraciada
Sentindo novamente liberada
Voltando ao ritual, comum e antigo.

16

Afaste-se de mim, demônio em vida,
Não quero ter o olhar que se alimenta
Da fúria, do holocausto e da tormenta
Na face mais venal e apodrecida,
Seara que foi dada é repartida,
E a fome com certeza mais fomenta
A face desta escória violenta
Por uma divindade torpe ungida.
Não quero tua unção, pois já me basta
Realidade turva, suja e gasta
Aonde não se vê qualquer cordeiro,
Ao lobo que devora seu irmão
Já não darei qualquer satisfação,
Sequer verá com fome o meu dinheiro.

17

O lucro que se vê na louvação
É sujo e mais canalha que o da puta.
A face mais suave, a mais astuta,
E nela se permite a podridão,
Fazendo da mentira o ganha-pão
Além do que se teima e já se escuta,
Abutre vai sugando da labuta
Vendendo qualquer forma de oração.
Ao evangelizar de bolso cheio,
O olhar da espúria súcia ora rodeio
E vejo noutra face Satanás,
Padrecos e pastores, seres vis,
Em honorários torpes, são gentis,
Mas; por favor, me deixem, pois em paz.

18

Durante algumas noites, devaneios
Vagando por lugares mais bonitos
Tentando desvendar os infinitos,
Os olhos sobre as nuvens vão alheios,
E faço das paisagens meus recreios,
Além de quaisquer pesos, cortes, mitos,
Deixando para trás dias aflitos,
Procuro noutras sendas, novos meios.
Mas quando volto à dura realidade
A fala de um canalha já degrade
Amaldiçoa a mim e a toda gente,
Pedindo um honorário por vingança
Assim à mesma plaga já se lança
Com olhos de pedinte prepotente.

19

Nas mãos que vendem dores e terrores,
Chantagem se mostrando costumeira,
Ousando do perdão como bandeira
Pintando a vida em turvas, grises, cores,
Invés de perpetrar raros amores,
Usando da mentira a interesseira
Matilha pelos cantos já se esgueira
Sem ter sequer disfarces nem pudores.
A podridão em forma de vingança
Ao bolso do imbecil a mão avança
E rouba o que a labuta produzira
É fácil enriquecer e desta forma,
A corja insatisfeita se transforma
E vende como límpida a mentira.

20

Desolação traduz o sentimento
De quem tentara crer num novo dia,
E quando a podridão em heresia
Gerando com terror seu provimento,
Se às vezes de algum sonho eu me alimento
A mão desta horda imunda tudo adia
E vende muito caro o que seria
Apenas o aplacar do sofrimento.
Afasta-te de mim, ó Satanás
E deixe este cordeiro enfim em paz,
Não use desta imagem em ameaça,
Não posso me conter frente à trapaça
E se queres saber, o amor se faz
De graça devolvendo o que é de Graça!

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