segunda-feira, 28 de junho de 2010

39006 até 39100

6

Enquanto muitas vezes eu pensara
Na sorte em tons suaves; traições
Das velhas e teimosas ilusões
De uma vida mais tranquila ou mesmo clara,
O tempo a cada dia se escancara
E nele aprendo sim, novas lições
E quanto mais diversas dimensões
A fantasia; alheia, desampara.
Realidade dita em tom sombrio
O mundo que ora adentro e aqui desfio
Das alegrias fúteis, nem sinais.
Os dias em tempestas e procelas
A falsa imagem torpe; tu revelas
Nas distorções de impuros, vis cristais...

7

Arcar com meus enganos e tentar
Vencer os dissabores próprios da alma
De quem sabe ao final o medo e o trauma
E ausente qualquer lume inda a buscar,
Alfonsina mergulha em vasto mar
Talvez este caminho gere a calma,
Já que na realidade nada acalma
Quem tanto se procura sem achar.
Algum sorriso a mais, nada adianta,
A fúria da verdade se diz tanta
E o corte aprofundado cala a voz
De quem se fez um dia mais audaz
E agora no final, já tanto faz,
Perdido e atado em finos, toscos nós.

8

Ouvir da consciência a voz imunda
E ver em claro espelho a realidade,
No quanto a própria vida me degrade
E mesmo a solidão em dor inunda,
Uma alma solitária e vagabunda
Não se prendendo mais em qualquer grade,
Porém se ausenta aquém da claridade
Nos ermos mais sombrios se aprofunda.
Procuro e não consigo ver o fato
Meu mundo na verdade ora retrato
E sinto se esvaindo qualquer chance
De ter após procelas a bonança
A voz que no vazio, ora se lança
Somente rumo ao fim ainda avance.

9

Quisera inda cantar o amor imenso,
A divindade feita em seios, pernas,
Erótico caminho em noites ternas,
Não digo que jamais eu nisto penso,
Mas sei o quanto agora ausente e tenso
Perdera esta ilusão sem ter lanternas
E quando noutra senda tu me externas
Momentos de alegria; eu não convenço.
Apenas me perdendo em tom sombrio,
O quanto inda me sobra hoje eu desfio
E sinto neste vão que eu me definho,
O fim do jogo traz a realidade
Ainda alimentando esta saudade
Invés de flor eu colho o vago espinho.

10

Organizando a vida em dores fartas
Jogado pelos cantos desta casa,
A fúria do passado não abrasa
Enquanto uma esperança; já descartas
Coloco sobre a mesa as velhas cartas
O tempo na verdade não se atrasa
Realidade torpe toma e não defasa
E sinto que ao final do jogo partas
E vejo nesta ausência o tom sombrio
De quem em realidade segue o rio
E deixa a podridão em plena margem,
Assim ao me perder em solidão
Somente a noite dita a direção
Domando até o final esta viagem.

11

Os antros mais escuros do meu ser
Somáticas verdades, não escapo
E quando vejo apenas tal farrapo
No espelho refletindo a se perder,
Ausente da esperança eu passo a ver
Somente o já puído e tosco trapo
O príncipe dos sonhos? Mero sapo,
A morte não tardando a me colher.
O vago sonho agora em tom amargo,
O rumo que eu buscara agora eu largo
E sinto a discrepância vida/sonho.
O tempo não perdoa e vejo apenas
Neste derradeiro ato, últimas cenas
De um drama tão banal quanto medonho.

12

Ao alegar apenas o que possa
Gerar alguma luz; vaga mentira
O mundo que me dera já retira
Prepara no final a cova e a fossa,
Resumo além do pouco que inda endossa
O passo rumo ao nada e cada tira
Traduz esta puída voz que ouvira
Resposta numa história antiga e nossa.
Macabras noites ermas, solitárias,
Apenas acompanho as procelárias
E os vagos das procelas mais presentes,
Perdoe se não vendo as ilusões
E nestas tempestades sensações
Das quais; a cada instante, mais ausentes.

13

Pudesse ainda ver o meu retrato
Em outra dimensão, seria bom.
A luz que se reflete em vão neon
Traduz o falso brilho onde desato
O mundo que eu buscara, sendo ingrato,
Amar já não seria mero dom.
Ausência de esperança, ledo som,
Vazio a cada instante vejo o prato.
A sobremesa morta sobre a sala
A voz que um dia houvera já se cala
E o tempo não permite algum nuance
De brilho aonde tanto procurava
Ainda perceber alguma lava
Desta torpe erupção ao nada alcance.

14

Ermidas entre os álamos de um sonho
Podados pela vida e nada mais,
Os ritos que me restam; funerais
E neles sem temores eu me ponho,
Aonde visionário inda proponho
E sinto quantas vezes tão banais
Os versos procurando apenas cais
Tiveram tal naufrágio, mais bisonho.
Mudando a direção desta viagem
A bússola sem norte me entorpece,
Uma ilusão aos poucos já fenece
Dos sonhos que eu tivera; uma bobagem.
Redundo neste vago que ora sou
Do todo imaginário; é o que restou.

15

Arcar com os temores costumeiros
E crer ser mais forte que a verdade.
A torpe e tão amarga realidade
Devasta o que sobrara em tais canteiros.
Os dias, na verdade, os derradeiros
O manto se transforma em veleidade
Sem nada ainda mesmo que me agrade
As ilusões são meros garimpeiros
E nada que se veja; em gema nobre
A face mais cruel hoje recobre
O olhar apodrecido de quem sonha
Não tendo outro caminho senão este,
A mera fantasia não me basta,
A vida em tais delírios fora gasta
E eu qual mera sombra, percebeste...

16

O caos se aproximando toma a casa
E aonde poderia algum alento
Apenas se vislumbra em sofrimento
O quanto a realidade já defasa,
O tempo na verdade nega a brasa
Espalha esta fagulha pelo vento
Enquanto uma saída, ousando tento
O risco se atocaia e não se atrasa,
A morte é messe clara e desejosa
Depois da vida amarga em andrajosa
Mortalha divisada aonde um dia
Tentara acreditar na fantasia
Canteiro que esperança cevaria
Não colhe mais sequer única rosa.

17

A morte em vida, tétrica assegura
A face mais escusa da verdade
E quanto mais entregue à saciedade
A vida penetrando em senda escura
A queda a cada passo se afigura
E nisto apenas nada ainda invade
O risco de viver? Vã realidade
E a fúria da esperança me tortura,
Ocasos entre caos e medos; somo
Apenas mais um rito em velho tomo
E capitulo ao vago desta luta
Há tanto já perdida e em tom sombrio
Alheio à derrocada inda porfio,
Porém a solidão é mais astuta.

18

O quanto pude outrora perceber
Depois de tantos dias em tormenta,
A voz deste vazio me alimenta
E deixa mais distante o quanto ver
Do pouco que me resta, talvez crer
Na fúria onde esta angústia dessedenta
E morto embora; eu busco quem alenta
Tentando vislumbrar um amanhecer.
Já não consigo mais fugir àquela
Noctívaga loucura onde se atrela
Meu único caminho, em ar atroz,
Do amargo pressuposto dito vida
Apenas a ilusão se vê provida
Enquanto a morte toma inteira a voz.

19

Perdido sem destino em vil seara
O corte, o porto, a morte e nada mais.
Os erros são medonhos desiguais
A porta há tantos anos se cerrara,
Vencido pela angústia desampara
A vida em atos frios e fatais
Gerando estas tempestas, vendavais
A morte se aproxima e me domara.
Restando muito pouco do que fosse
Além deste delírio onde agridoce
A trama se afigura mais banal,
Arcar com desengano e desenredo
E ter a cada encanto que concedo
O mesmo desempenho, sempre igual.

20

Olhando o que pudesse retratar
O mundo aonde um dia quis além
Do pouco ou mesmo nada que convém
Quem busca na esperança o seu altar,
Erijo dentro em mim vário lugar
Das plagas mais distantes, sigo aquém
E o frágil desempenho me detém,
Nem mesmo conseguira mergulhar
Nas velhas e tenazes ilusões,
Ausentam-se do olhar outros verões
E resta tão somente esta verdade
Na qual a morte entranha pouco a pouco
E quando vejo a face em vão treslouco
Nem mesmo um falso lume ainda agrade.

21

Ocasionando a queda após o fato
Aonde imaginara uma saída,
A sorte nunca mais seria urdida,
E aos poucos no vazio eu me retrato.
Amar e se prover em desacato,
Reúno dentro em mim cada partida
E sinto bem mais perto a despedida
Sanguíneas ilusões, morto o regato,
O vândalo capricho de quem busca
Sanando a realidade atroz e brusca
Ousando muito além da mera queda,
Meu passo em turvas áreas se daria
Enquanto mato em mim a alegoria
Caminho neste insano mar se enreda.

22

Alívios? Já não posso nem concebo,
O tempo de sonhar agora findo,
O gesto mais suave distraindo
O passo aonde o vento em vão recebo,
O todo na verdade não percebo
Ainda onde pudesse e mais não brindo,
O rumo noutra senda se fundindo
Gerando este temor tolo placebo.
Aporto aonde nunca mais pudera
E sei do destempero em primavera
Das flores que esperava dentro em mim,
As cores desbotadas pela ausência
Não tendo mais sequer qualquer clemência,
Aborto desde agora o meu jardim.

23

Negando qualquer luz aonde eu possa
Vencer esta terrível solidão,
Adentro a mais completa escuridão
E nada do que eu tente ainda endossa
O passo rumo ao quanto fosse nossa
A falta mais completa de atenção,
E sei das desventuras que virão
Enquanto a fantasia em mim se apossa,
Marasmos costumeiros deste outono,
Futuro que improvável desabono
Não deixa mais a crença redentora,
E quanto mais ainda outrora fora
Libertadora esta alma em luz imensa,
Menor, eu sei que resta em recompensa.

24

Percebo após a queda alguma luz
E tento desvairado prosseguir
Embora saiba bem que no porvir
Apenas restará tormenta e pus,
O decomposto corpo já faz jus
Ao quanto na verdade fiz sentir
Durante a minha vida e conseguir
Apenas um alento, o que eu propus.
Veracidade toma este ar nefasto
E quando me percebo ou já me afasto
Dos restos que inda digam a esperança,
Não tendo outro caminho senão isto,
Ainda quando insólito eu persisto
A minha voz sombra nada alcança.

25

Articulasse enfim algum momento
Aonde nada fosse tão inglório
O ritmo se mostrando merencório
Às vezes outra luz; teimando, eu tento
O todo se mostrara em sofrimento
E o risco se anuncia em ledo empório,
O vago caminhar tanto ilusório
Adentra em derrocada o pensamento.
Jogando esta toalha, não mais luto
Aonde imaginara mais astuto
Sou vítima somente dos anseios,
E quanto mais pensara em solução
Entregue ao dissabor, sem direção,
Percebo os meus delírios mais alheios.

26

Acrescentar à voz de quem pudera
Tentar anunciar o que não vejo,
Às vezes permeando algum desejo
Com toda a realidade, vã quimera,
O passo sem destino desespera
Recordo dentro em mim tal realejo
E nele o quanto ausente ora prevejo,
Mentira não ilude quem espera.
O manto descobrindo a realidade
Apresentando apenas vil cenário
Aonde poderia imaginário
Caminho sem destino ou a saudade,
Resumos de momentos mais cruéis,
Brilhosa fantasia? Tons pastéis.

27

Esqueço o que pudesse ser apenas
Um dia após o velho em nada feito
E quando solitário em vão me deito
As noites não seriam tão amenas,
E quando se mostraram tolas, plenas
O verso enamorado e não aceito,
O gosto anunciado ora desfeito
Revejo num instante as velhas cenas.
E delas não procuro alguma luz
Nem mesmo a que produza em contraluz
Especular caminho ou vão reflexo,
Depois de tantos anos, quedas medo,
Um mero caminhar; inda concedo
E mesmo assim ausente ou mais perplexo.

28

Chegando ao vim da vida e nada além
Da morte se entranhando em minha pele,
Ao quanto do vazio já se atrele
O todo que em verdade não contém
Quem busca a realidade e segue aquém
Vencido pela angústia inda que apele
No vento mais atroz a sorte sele
E sabe os descaminhos muito bem.
Acréscimos de tempo? Para que?
O nada que deveras o tempo vê
Sagacidade mostra em tom nefasto,
Do rumo ora previsto em morte e dor,
O brilho deste imenso refletor
Do qual falena avessa enfim me afasto.

29

Aspectos divergentes desta senda
Aonde em contra-senso quis um brilho,
Por vezes sou tão frágil andarilho
Percorro aonde a sorte não se estenda,
E nada do que eu possa ainda atenda
Caminho pelo qual, às vezes trilho
E sinto a cada angústia um empecilho
O amor nunca passou de mera lenda.
Carrego discordantes realidades
E nelas por mais forte que inda brades
Os meus dispersos passos tramam nadas,
Ascendo às esperanças meramente
Por ter no olhar a fúria onde se mente
E nas brumosas sendas, alvoradas...

30

Amanso o coração apenas quando
Vislumbro a face escusa da verdade,
No todo se perdera a qualidade,
O mundo noutra face se mostrando.
Resumos de delírios renegando
O passo além do quanto em realidade
Viceja em teu jardim felicidade
E o meu há tanto tempo já secando.
Nesta árida noção de morte e vida,
Ainda mais distante uma saída
Resulto do que um dia pude crer
E tão decepcionado não sabia
Da angústia dominando o dia a dia
Restando tão somente, ora morrer.

31

O coração por vezes desumano
Não sabe discernir qualquer bondade
E tanto se mostrou diversidade
Aonde na verdade eu já me engano,
O risco de viver aumenta o dano
E nisto se percebe a realidade
Enquanto se desnuda em falsidade
Um ar por vezes claro e soberano,
Vestindo a fantasia que me cabe
Bem antes mesmo quando ora se acabe
O tempo de viver ou de sonhar,
Afasto-me da sorte e me abandono,
Restando no meu canto este profano
Delírio aonde tento caminhar.

32

Embora a piedade se apresente
No olhar, mesmo o mais fero, é tão factível
E quanto mais se encontra em impossível
Caminho pelo qual freqüentemente
Vislumbro a realidade onde se tente
Vencer a discordância noutro nível,
O peso do viver torna implausível
Por mais que outra saída uma alma invente,
O mero penitente, um pária atroz
Não sabe da clemência qualquer voz
Apenas já se vê discriminado,
Sarjetas que freqüento; quase roto,
A vida se resume neste esgoto
Aonde quase nunca sou lembrado.

33

Talvez em caridosa mão me digas
O quanto possa haver; libertação,
O tempo noutra espúria dimensão
Traduz as velhas ânsias tão antigas,
Enquanto na verdade desabrigas
E negas novos dias que verão
Além da mais completa podridão
O corpo se entranhando em vãs lombrigas,
A morte é meu caminho e sem saída
Não quero a caridade presumida
No olhar que se enojando busca apenas
Perdão pelos seus erros, nada mais,
Prefiro os meus demônios pontuais
Do que a falsa luz onde serenas...

34

Esbarro nos meus tantos desenganos
E sinto bem mais próxima a verdade
O corte prenuncia a realidade
Puindo o que restara destes panos,
Acumulando em vida tantos danos,
Pressinto este vazio onde degrade
A mansa face escusa, liberdade,
Mentiras destes seres dito humanos.
Pereço nas entranhas das espúrias
Noctívagos demônios sem lamúrias
Penúrias entre as almas, lamaçais,
Não quero o teu perdão, não necessito,
Prefiro caminhar pelo infinito
Colhendo meus espectros nos astrais.

35

A vida em oceanos, noutro fato,
Resume-se deveras na nascente
E sei quanto é difícil ter em mente
A dimensão exata de um regato,
E quando a realidade enfim resgato
O todo que pensara ultimamente
No vago caminhar já se apresente
Não sendo e só por isto mais ingrato,
O prato não sacia, mas me basta
Imagem poderosa, agora gasta
Restando esta verdade em tom menor,
Aonde imaginara muito além
A velha carapuça diz e vem
Marcando o que ora sei e já de cor.

36

Pudesse a imensidade de um momento
Trazer ao dia a dia, mas não posso
E sei do quanto outrora fora nosso
E agora se mostrando e não mais tento
Vencer em calmaria o sofrimento
E quanto mais relute; eu mais endosso
O vasto caminhar e não me aposso
Sequer do que pudesse em provimento.
Ausento dos meus versos a esperança
E quanto mais o vento me balança
A morte se aproxima e impunemente
O verso se transforma e nada sigo
Aonde procurara algum amigo
A própria realidade me desmente.

37

As tábuas já não dizem salvação,
Naufrágios dentro em mim não mais permitem
Sequer outros caminhos e limitem
O passo noutra senda ou direção,
Momentos tão diversos me trarão
Consumos onde mesmo se acreditem
Nas tantas heresias; não evitem
Sabendo mais distante algum verão.
Ocasos perfilando dia a dia,
A morte na verdade até seria
Um lenitivo ou mesmo um porto manso,
Mas quando sobrevivo eu já me perco
As dores e os temores fecham cerco
E nem tal privilégio agora alcanço.

38

O afeto soberano de quem tanto
Um dia desejei e já não vem,
A porta se entreabrindo, mas ninguém
Apenas o vazio trago ao canto,
E sei e até quem sabe mais garanto
O duro sortilégio que tão bem
Um dia procurara, mas aquém
Deste temor intenso, resta o pranto.
Amenizar a fúria desta vida,
Há tanto sem ao menos a saída
Que possa me fazer crer no futuro,
Apenas cancerígeno caminho
Mostrando cada olhar frio e mesquinho
É tudo o que decerto ora depuro.

39

Consolos entre os medos e os medonhos
Delírios não mais bastam, sigo alheio
E quando novo rumo; inda permeio
Vagando pela incúria dos meus sonhos,
Os olhos mutuamente em enfadonhos
Carinhos na verdade não anseio,
Perdera esta noção em turvo veio
E apenas entranhando tons tristonhos,
Arranco dos meus dias mera sombra
E o quanto ainda existe mata e assombra
Delimitando o passo ou renegando
Ocasionando a morte quando eu pude,
Mas sei que a vida agora em perigeu
Demonstra este passado e se perdeu
No quanto já não vejo a juventude.

40

Não ter profundidade aonde um dia
Teimara contra a sorte ou mesmo quando
A face novamente transudando
Hermética e loquaz, vã fantasia,
Organizado passo? Quem diria
No pântano que trago simulando
O verdadeiro ocaso me inundando
Transcorre em ar de pura hipocrisia.
O gesto mais audaz; não pude ter
E quando me percebo a perecer
Nas ânsias de um caminho em turbulência,
Do manto mais sublime e já puído
O verso noutro tanto sem sentido
Demonstra o que inda resta: esta excrescência.

41

Meu passo se arrojando no non sense
Das várias amplitudes desta vida
A queda anunciando a despedida
Ou mesmo de um futuro me convence,
O tanto se perdera onde pertence
A porta de chegada é de saída
Assim a morte aos poucos sendo urdida
No quanto em voz tenaz o fim se adense.
Acordo quando vejo refletindo
Medonho caminhar por onde brindo
Mortalha já tecida em tom nefasto,
O manto discordante da alegria
Aos poucos na verdade se puía
Enquanto da esperança eu já me afasto.

42

Fechar o meu olhar às dores tantas
De um mundo aonde muito me entranhara
É como sonegar a imensa escara
Se nela a cada ausência mais garantas
As duras persistências e te espantas
Com toda a pestilência da seara
Aonde a morte molda cada clara
Verdade pela qual já desencantas.
Não tento reverter o quão sombrio
É mero caminhar em desvario
E sigo sem defesas, tão somente
Vestindo este temor sob medida,
Perdoe meus enganos, meus engodos,
Os versos que inda fiz, olvide todos,
Visão tão deturpada de uma vida...

43

Amargos caminhares sob luas
Diversas entre brilhos divergentes
E quando respirar decerto; tentes
Além da realidade continuas,
Vertentes discordantes seguem nuas
E nelas com terror ainda sentes
As dores mais comuns e tão freqüentes
Enquanto em falsas luzes tu flutuas.
Vencido pelo medo de viver
O pouco do que aprendo passo a ver
Num ato mais sombrio que real,
Não passo desta farsa em tons escusos
Os dias são deveras mais confusos
Jamais bebi do meu mel se verto em sal.

44

Meu ser se contradiz a cada ausência
E nego o que pudesse haver em mim,
O fato de sonhar demonstra enfim,
O quanto se perdera em afluência
Diversa da que gera uma clemência
Ou mesmo faz brotar nalgum jardim
O medo de viver porquanto assim
O tanto do que eu reste em virulência,
Não quero esta ingerência nos meus atos
Os dias são decerto mais ingratos
A quem se deu em sonho e não sabia
Da vera persistência do vazio
E quando do nefasto ainda espio
O tom real eu bebo hipocrisia.

45

O todo mais atroz, mero ou convulso,
Porquanto em mim resido em desvario,
Se o medo ou a verdade desafio,
Não posso mais conter um mero impulso,
Do quanto em realidade sigo avulso
Tentando acreditar e propicio
Um risco além do quanto eu teima e crio
Mantendo com firmeza inútil pulso,
O mar já não sacia quem quis mais
Que meros e diversos temporais,
Pois conhecer enfim a liberdade
É ter esta incerteza de um futuro
E quanto mais o sonho eu te asseguro,
Deveras é pior a realidade.

46

Os filhos que a ventura trouxe a mim,
Os olhos no futuro, uma alegria.
Porém a realidade ora desfia
E mostra esta inconstância em meu jardim,
Seara tão bonita, mas enfim
O quanto na verdade é fantasia
A sorte noutra face mudaria
E o tempo discordando trama o fim.
Renunciando assim à primavera
O todo noutro mundo se eu pudera,
Mas sei do quanto inútil tal desenho
E vejo em derrocada o passo quando
O tanto num vazio se formando
Da herdade que eu buscara e não contenho.

47

Caminhos cor de rosas, flórea senda?
Não pude acreditar em fantasias.
O quanto deste pouco me trarias
Sequer o meu desejo ainda atenda,
Realidade dita tal contenda
E nela se perdendo em ironias
As horas mais atrozes e sombrias,
Amor já não seria mais que lenda.
O parto prenuncia a morte quando
O risco noutra face transbordando
Inundações diversas dentro da alma,
Há tanto desejei uma saída,
Mas quando vejo inútil minha vida,
Nem mesmo a poesia inda me acalma.

48

Estranhas flores tomam o jardim
Aonde estas daninhas foram tantas
E quando noutra senda me garantas
Apenas representam o meu fim.
O vaso se quebrando dentro em mim,
As mãos cariciosas, duras mantas,
As horas são dispersas, mas se cantas
Percebo a falsa imagem de onde vim,
Paragem em paisagens tão diversas
E quando muito além ainda versas
Procuro refletido o meu semblante,
No mar de hipocrisia que ora adentro,
Olhando o meu retrato, estou no centro
Qual fora um tosco e podre navegante.

49

Outrora imaginara mais augustas
As cenas que em verdade não são,
Somente agora vejo a dimensão
Das torpes ilusões, tolas, vetustas,
E quando a fantasia ainda custas
A ver onde pudera a diversão,
Tecendo este vazio em amplidão
As dores se anunciam mais robustas,
Incrustas com teus dentes, finas garras,
E quanto mais cruel ainda agarras
Roubando em tal sangria esta esperança,
A morte me rondando não permite
Que ultrapassasse em paz algum limite,
E o som neste vazio ora se lança.

50

Reverdecesse em mim a primavera
Depois deste outonal caminho aonde
A sorte na verdade não responde
E apenas vivencio esta quimera,
Por mais que outro caminho o sonho sonde
A morte sem defesa é o que se espera,
O rastro mais sublime da pantera
Nem mesmo agora a vida torpe esconde.
Pereço enquanto luto ou mesmo tento,
E sei quanto redime o sofrimento
Se resolutamente ainda vira
O olhar manso e suave de quem sonha,
Porém quando a verdade é mais medonha,
Colhendo em meu canteiro, vã mentira.

51

Um sofrimento amargo e sempiterno
Domando a realidade nada deixa
Senão esta impressão de vaga queixa
Aonde o dia a dia não externo,

O farto caminhar já não sacia,
Nem mesmo me matar; falta a coragem
Ainda busco ao longe uma ancoragem
Embora a noite esteja mais sombria,

O vasto desejar me fez poeta,
A vida não me cabe nem eu nela,
O frágil desenhar onde se atrela

A sorte tantas vezes incompleta.
Arranco dos meus olhos este brilho
E vagamente alheio à sorte eu trilho.

52

Humilho-me ao saber quanto sou fútil,
O todo se esgarçando plenamente
A luta que previra já desmente
O quanto imaginara ser mais útil.

Jogado pelas ruas, pária ledo,
Demarco território com meu sangue
E bebo a podridão de um mero mangue
Aonde em fantasias me concedo.

Jorrando dentro da alma a podridão,
O passo rumo ao nada se traçara
Tornando mais real a funda escara
E nela sem certeza e duração

O manto desvendado traduzira
Apenas o vazio em tal mentira...

53

As almas se estremecem neste vão
E quando me pergunto sem respostas
Aonde novas sendas; creio expostas
Se nada nem os sonhos mostrarão

O todo se perdera em ilusão
Lanhando com terror as minhas costas,
As ânsias entre tantas decompostas,
Garante a morte em turva geração,

Expresso em tom nefasto o que ora sinto,
E sigo o ritual mesmo sabendo
Que esta alma se desmancha em vão remendo

Enquanto o passo além; percebo extinto,
Mesquinhos dias marcam o meu canto,
E quando vejo o espelho, eu só me espanto.

54

Descendo pelo abismo aonde um dia
Sonhara com meu porto e nada houvera
Senão a face escusa da quimera
E a morte na verdade não se adia,

Mergulho nesta farta hipocrisia
E tento caminhar; adentro outra era
E sei que na verdade não se espera
Nem mesmo algum momento em ironia.

Rescaldos de minha alma em sortilégio,
O amor? Jamais seria o quanto régio
Sonhara ou mesmo até pensara outrora,

A fúria dessedenta-se em meus sonhos
Gerando ares terríveis e medonhos
E neles o vazio me devora.


55

Aonde procurara algum tesouro
Ou mesmo este momento que alentasse,
A sorte noutra senda ainda grasse
E busco o mais sutil ancoradouro,

E quando na verdade não me douro
Nos ermos do vazio tentando a face
Mais clara do que tanto me desgrace,
O mundo mata em pleno nascedouro.

Ancoro o pensamento em cais alheio,
E bebo a tempestade e se a receio
Não deixo de lutar, porquanto vivo.

Mas sei quando o final se aproximando
As esperanças mero contrabando
Deixando no passado um ser cativo.

56

Mistérios que se mostram versos, sonho.
E neles este espaço em tons alheios
E quando mostro em riscos, devaneios
O tanto quanto posso inda componho.
Não vejo a realidade onde eu proponho
Sabendo desde já dos meus anseios
E tento incomparáveis, raros veios
Mergulho neste mar em ar medonho.
Enfronho-me nas ânsias de quem tenta
Vencer as variações desta tormenta
Sedenta madrugada não traduz
Opaco caminhar de quem já sabe
O quanto deste mundo não lhe cabe
Tampouco espera ainda facho e luz.

57

Em inefáveis sonhos mergulhara
Levando para além o pouco que
Resiste e na verdade não se vê
Bem como a sordidez desta seara,
A morte; muita vez eu vejo amara,
Mas quando se percebe este clichê
Aonde cada fato se revê
E ao fim sem solução já se prepara,
Jogado nas estantes de uma vida
Há tanto sem sentir-se perecida
Heréticos caminhos apontando
O fim do quanto outrora quis crisálida
A sorte se desnuda quase esquálida
Gestando o que inda resta em ar nefando.

58

Aéreos pensamentos, Edens tento.
E sigo sem saber desta atitude,
No quanto a própria luz já nos ilude
Bebera sem sentir o duro vento,
Aonde se acenara em sofrimento
O todo com certeza em plenitude
Impede que o caminho se transmude
Gerando tão somente o desalento,
Arcar com desventura e desengano,
Enquanto dia a dia eu já me dano
Esgarço último pano que inda resta,
Final do jogo e perco sempre e vejo
Aquém do que pudesse algum desejo
A claridade exposta em frágil fresta.

59

Aonde se infecunda fez a vida
Amortalhando o quanto de esperança
Ainda nos meus ermos já se lança
Rompendo o que pensara ser ungida.
A manta que recobre esta ferida
No fundo perpetua o corte e a lança
Fiel desregulado da balança
A sorte se prepara em despedida.
Não tendo outro caminho senão isto
E tento enquanto possa ou mais desisto
Do vértice medonho em apogeu,
Esgoto o meu destino em vagos planos
Acumulando apenas desenganos,
O quanto ainda havia se perdeu...


60

Diáfana ilusão tomara a cena
Aonde na verdade não sacia,
E vejo com terror tal ironia
Enquanto a vida às vezes me serena,
No quanto a queda fere e se apequena
Uma alma em dura face, alegoria,
Resulto do passado e a cada dia
Distante desta lua que eu quis plena,
Esgarço-me decerto enquanto tento
Sentir da provisão um manso vento
Ou mesmo outro cenário, mas não tenho
Senão este delírio tão ferrenho
E nele com terror sorvo o futuro
Aonde apenas morte eu asseguro.

61

Fulgindo em ar etéreo, o pensamento
Vagando por espaços; bebe astrais
E quando se pensara muito mais
Apenas em vazios me alimento,
O quanto do meu sonho fora ungüento
Em ritos mais constantes ou iguais,
Depois de certo tempo; originais
Delírios se transformam; sofrimento.
Rescaldos deste vago caminhar
Por entre estrelas, sendas luminosas,
E quando em dores fartas antegozas
As sombras que virão ao fim da tarde,
Não tendo mais sequer onde desfira
O pensamento ausente fonte e mira,
Somente a morte enfim, o tempo aguarde.

62

Levanto o meu olhar além da fonte
E bebo a sensação de frágil nexo,
O todo me deixando mais perplexo
Sem ter sequer aonde já se aponte,
O verso na verdade em horizonte
Nefasto se mostrara desconexo,
Resumo o que pensara ser reflexo
No todo onde talvez exista a ponte,
Macabra face exposta aonde um dia
Pudesse imaginar e não veria
Sequer a menor sombra do que sou,
De todos os demônios desta vida,
Apenas a verdade é percebida
Somando cada escória e nela estou.

63

Ausente dos meus olhos, castidades
Resvalo nesta impura sensação
Do corte em mais perfeita podridão
E nele com terror também degrades,
Ao menos não terás nem mais saudades
Do quanto em face escusa se verão
Os dias onde pude em precisão
Matas as ilusões e falsidades,
Negar o meu caminho e ser também
O quanto em inverdade se contém
Risível companheiro do passado.
O roto desvendar hoje puído
Não sabe discernir qualquer ruído,
E morro a cada infausto, amordaçado.

64

Meu verso não tem alma, é morto já
E sendo assim afasto o que pudesse
Ainda transmitir qualquer benesse
Sabendo do que tanto negará
A vida desde quando mostrará
A face realista onde se tece
A fúria aonde o medo não padece
Sequer do quase ausente e mudará.
O tanto que pensara ultimamente
Agora em mão terrível se desmente
Negando a própria luz que inda tivera
Riscando desta agenda qualquer data
Aonde a sorte venha e me arrebata
Abrindo no meu peito esta cratera.

65

O pólen que polvilhas pela vida
Pudesse até gerar nova esperança,
Mas quando a morte chega e tanto avança
Encontra a minha luz desprevenida,
Resumo o meu passado na avenida
Aonde a tempestade ora se lança
E o pêndulo sonega esta balança
Deixando para trás sem despedida
A fonte aonde um dia a mocidade
Bebera inusitada e vil saudade
Dos ermos de um momento mais atroz,
Maduro e quase mesmo apodrecido
O que resta de mim morre no olvido
Ninguém escuta mais a minha voz...

66

Cinzel em alabastros te tecendo
Imagem fabulosa, mas distante,
No quanto amor deveras nos garante
O mundo não conhece em dividendo,
O quarto de dormir ora desvendo
E nele a lua entranha fascinante,
Alabastrina deusa num instante
Enquanto o coração vai se perdendo.
Nos ermos da ilusão, bebo afinal
E tomo este cenário em triunfal
Caminho aonde eu possa ver o dia
Nascendo dentro em mim, embora morto,
Gerando em fantasia um manso porto
Aonde na verdade nada havia.

67

Os astros desmanchando em raros brilhos
Adentram as janelas de quem sonha.
A face da ilusão clara e risonha
Bebendo com ternuras tais polvilhos,
Mas vejo na verdade os empecilhos
E a senda onde se teima e se componha
Transforma-se e deveras mais medonha
Penetra as emoções em torpes trilhos.
Resulto deste misto de esperança
Com toda a sordidez da realidade,
Porquanto cada luz que ainda invade
Ao menos o sentido ainda alcança,
Percebo quanto inútil fora o fato
De um dia mais sobejo e tão ingrato.

68

O quanto é fecundada esta ilusão
Por vários medos, riscos e ternuras
Aquém do que decerto inda procuras
Não vejo mais sequer ainda um grão.
Os dias do futuro mostrarão
Apenas as verdades e torturas
Com ânsias dolorosas e amarguras,
Deixando em treva e medo esta estação.
Resido no que um dia acreditara,
E sendo tão vazia esta seara,
Sementes não fariam diferença,
Meu mundo já perdido há tantos anos,
Colhendo tão somente desenganos,
Não há ceva qualquer que inda compensa.

69

Ardentes ilusões? A vida é mera
E nada mais terei senão vazios,
E quando procurara em desafios
A sorte na verdade nada gera,
Somente o passo além se destempera
E mortos os caminhos, desvarios,
Aonde quis outrora riscos, rios,
O medo se espalhando degenera;
O risco de sonhar? Já não alento,
Bebendo cada gota em sofrimento
Apeno-me ao saber do quanto é rude
O mundo sem descanso ou mesmo luz,
E o quarto se expressando aonde eu pus
Alheia e sem remédios, juventude...

70

Se eu posso crer no quanto é luminoso
O rito mais sensível onde eu busco
Embora saiba sempre em lusco fusco
O tempo que julgara desejoso.
O rumo na verdade perigoso
Aonde o passo além se mostre brusco,
Qual fora um indefeso e vão molusco
Em meio ao território pedregoso,
Apenas me defendo e nada mais,
Embora as ondas sejam desiguais,
Os ermos de minha alma em tal abismo,
Prenunciando assim cada naufrágio
Tentando me esquivar deste contágio,
Vagando solitário em vão eu cismo.

71

O gume desta adaga em noite fria
O olhar extasiado de vingança
A mão à jugular agora avança
Promessa de rancor, plena sangria,
O tempo na verdade não se adia
E aonde houvera outrora confiança
Agora este sorriso com pujança,
A morte onde este amor celebraria
O fim o ocaso a noite a madrugada
Não restará decerto agora nada
E o pouco que inda vejo em sangue esvai
Enquanto a lua além avermelhada
Prepara uma manhã ensolarada
O brilho de teus olhos, ledo, trai.

72

Sinistro este sorriso que ora, pasmo
De antigos tons outrora sensuais
Lascívia se demonstra e muito mais
Do quanto poderia um mero espasmo,
Quebrando qualquer clima de marasmo,
Arranca com a fúria, docas, cais
E teima em seus diversos rituais
Em explosões fantásticas de orgasmo,
Sarcasmos entre insanas gargalhadas
Das noites do passado tão veladas
Agora esta erupção sem mais sentido,
Irônica e medonha tez brumosa
Que com o meu pavor, ainda goza
Qual fosse este cenário divertido.

73

A noite em brumas desce grises mantos
E trás em cada olhar a reticência
Da fera que em completa imprevidência
Espalha seu terror por ermos cantos,
Os olhos de ironia, vis quebrantos
A morte se tornando a referência
De quem sem ter qualquer vã indulgência
Transforma meros risos em espantos.
Medonha e caricata a voz sombria
Tomando toda a cena se irradia
E torna a vida agora em aridez
A noite dentro da alma imita a vida
Não tendo mais após qualquer saída,
Meu rumo no vazio se desfez.

74

A névoa toma todo este horizonte
E espalha em arrebol o frio e o medo,
Enquanto nos teus braços eu me enredo
Bem antes que algum sol além desponte,
Tentando da esperança qualquer fonte
E neste bom mergulho eu já concedo
O passo aonde um dia fora ledo
Criando com futuro imensa ponte.
Mas quando me levanto e não estás,
Ausente dos meus braços; vejo a paz,
E a turbulência dita o amanhecer,
A bruma se espalhando dentro em mim,
Ausente florescência no jardim
O olhar sem horizonte, a se perder...

75

Olhando a cordilheira além do vale
Imaginando apenas liberdade,
Porém se dentro da alma tenho a grade
Aonde esta verdade não se cale,
O tempo dissimula e desembale
A sorte noutra face em realidade
Traduz o quanto fora em falsidade
E impede que algum sonho ainda embale
A vida de quem tanto se deu conta
Da solidão aonde a morte apronta
Tocaias entre tantas traições,
E vejo esta sedenta angústia quando
Meu carcomido mundo desabando
As cordilheiras são meras visões...

76

Olhando a lividez de teu olhar
Percebo esta frieza alabastrina
E a fúria que deveras te domina
Agora noutra estância a se mostrar
Subjugando teu ódio a divagar
Além do quanto a vida nos destina,
A fera em ânsia imensa e feminina
Adentra pouco a pouco, devagar,
Tentando qualquer fuga, nada alcanço,
Não resta nesta casa algum remanso
Domínio sem defesas sobre tudo
A pálida figura se enrubesce
À vítima talvez reste uma prece,
Porém mero e indefeso, não me iludo.

77

Vestida em ânsias tantas vens e toma
O quanto ainda em mim pudesse haver
De qualquer mera sombra de um prazer,
Ausenta-se decerto qualquer soma,
E o medo que em verdade teima e doma,
A morte a cada instante eu posso ver,
Resumo o verso em nada e passo a crer
Na entorpecida ausência deste coma,
Afásico demônio reina sobre
O quanto se escondera e já descobre
Rendido nalgum canto, nada resta
Senão a vaga fresta da esperança,
Bastião que esta terrível fera alcança
Com sua gargalhada mais funesta.

78

A lua se banhando em tons diversos
A noite se ultimando merencória,
Aonde resta leda e vaga história
Os dias não refletem mais meus versos,
Meus olhos nos meus ermos vão submersos
Ferrenha realidade dita a escória
E nada mais carrego em vã memória
Senão passos alheios e dispersos,
Navego pelos mares onde antanho
Ainda percebera qualquer ganho
E agora entre os sargaços nada vejo;
Colhendo tão somente a ingratidão,
Os dias mais nublosos mostrarão
Inúteis os meus últimos desejos.

79

Das lavas entre as fúrias de um vulcão,
Apenas a fumaça ainda sinto
Deste espetacular cenário extinto
Não tenho nem sequer menor visão,
Os dias do futuro me trarão
O verso onde em verdade teimo e minto,
O corte profanando onde eu pressinto
A morte após tempestas de verão.
Invalidez domina cada frase
E a vida se permite enquanto atrase
A queda inconformada do meu sonho,
O manto se discerne em tom grisalho
E quando além do medo e dor, espalho
Olhar vacante e turvo, este ar medonho.

80

Concentro o meu caminho neste hermético
Delírio aonde possa ter em mente
O quanto da verdade já se ausente
E quis mesmo decerto em tom profético,
O passo em descaminho quase herético
Resulta desta incúria de um demente,
No tanto ou no tão pouco ainda sente
O risco de um anseio ora acinético.
E pasmo não percebo as mutações
E nem sequer percorro as dimensões
Do novo apresentado para mim,
E numa inglória noite em tom sombrio
Granizo adentra em mim e não recrio
Após a tempestade outro jardim.

81

Na flor mais olorosa o amor que um dia
Pensara em perfeição, raro e sobejo,
Porém não fora mais que algum lampejo
Aonde a sorte dita hipocrisia
O pouco que restara e eu não sabia,
Amortalhando assim qualquer desejo,
No fim da tarde; apenas o que eu vejo
É tempestade e o tempo escurecia,
Vacância aonde outrora houvera tanto,
E tento imaginar, mas não garanto
Sequer um mero alento ainda em mim,
O manto em brumas feito dita a sorte,
E sem nada deveras que o conforte
O amor em tais perfumes chega ao fim...



82

Na dança, uma promessa que inconstante
Não deixa qualquer sombra de esperança
E quanto mais o tempo além avança
Ou mesmo a fantasia me garante
Um ritmo sensual ou lancinante
O medo de talvez qualquer mudança
Gerando este vazio em temperança
Herança que carrego doravante,
Numa inconstância além da que eu pudera
A morte se apresenta e molda a fera
Num salto atocaiada e em vaga espreita.
A festa terminando e nada levo,
O quanto imaginara ser longevo
Num fim extasiante se deleita.

83

Amor quando sincero pode até
Vencer as variantes de uma vida,
Mas quando sobre base mal urdida
Prepara cada algema atando ao pé,
Correntes tão inúteis, vil galé
Aonde se pensara na saída,
A morte se anuncia e a despedida
Ainda quando houvesse alguma fé
Desenha a sua face e nada além
Do quanto em dor e medo me contém
Resume a realidade mais atroz,
O passo rumo ao nada se mostrando
O tempo pouco a pouco já nublando
Calando o que restara em minha voz.

84



Espero por teu colo embora creia
Que nada se fará conforme eu sonho,
O mundo aonde um dia quis risonho,
A lua se escondera e não mais cheia,
O corte da tenaz, suave teia
À queda sem defesa eu me proponho,
Cenário na verdade tão medonho
Apenas a mortalha me rodeia.
Vagando por estâncias mais sombrias
Depois não pude ver sequer os dias
Aonde algum solar caminho engane,
O passo traduzido medo e pane,
A fantasia mata o quanto em mim
Ainda poderia haver no fim.

85



Embora verdadeiro o canto meu
Já não traduz o quanto quis outrora
A voz noutro cenário desarvora,
E o todo há tantos anos se perdeu,
A sorte renegando este apogeu
Na fúria que deveras apavora,
O medo de seguir o mundo afora,
A derrocada agora em vão se deu.
No peso de sonhar e nada ter,
No amor aonde um dia pude ver
O beijo enamorado desta morte.
Resulto do passado e nada trago
Sequer um meigo afeto, um doce afago,
Somente esta mortalha me conforte.

86


Não venha me dizer
Do quanto poderia
Talvez alegoria
Ou mesmo desprazer
No pouco que saber
O fardo em heresia
A morte em sintonia
O não amanhecer.
Em alvoroço eu tento
Vencer o sofrimento
E sei que nada tenho
Somente este remendo
E nele me detendo
O mundo é vão, ferrenho.

87



É que paixão não deixa
Seguir contra as marés
E sei por quem tu és
E nada mais se queixa
Somente se desleixa
E vejo além das fés
Os dias de viés
Sem mais cada madeixa
O peso de sonhar
O corte devagar
Prepara o fim do jogo,
E quando isto acontece
Nem reza, nem a prece
Sequer pedido ou rogo.

88


Ser plena como quero.
Ou nada mais além
Do quanto me detém
Por ser ou não sincero,
O mundo tanto é fero
E gera outro desdém
Enquanto a morte vem
E toma um tom austero,
Vestida em rara gala
A sorte me avassala
E nada deixa após,
Eu sei que sou começo
Deveras o tropeço
Também serei a foz.

89

Mas eu posso dizer
Do nada que carrego
Do mundo este nó cego
Que teimo em percorrer
Cenário onde o prazer
Por vezes eu navego,
Mas quanto mais me entrego
Decerto a me perder,
Resumos de outros cantos
Caminhos e quebrantos
Mortalhas mal tecidas,
E vindo de onde eu vim
O bote dita o fim
Dos ermos destas vidas.

90

Pois em todo esse jogo
A sorte não deteve
E quando aqui esteve
Depois de tanto fogo
Mergulho nestas águas
E nelas me entranhando
O tempo bem mais brando
E nele já deságuas
As ânsias e os pudores
Cenário mais diversos
Ousando com meus versos
Ainda quando fores
Pensar ou mesmo até
Reavivar a fé.

91



Em toda a minha vida
Marcada por senões
Diversas divisões
A sorte já perdida,
Pressinto sendo urdida
Depois destes verões
Mortalha; aonde expões
A cruz, chaga e ferida.
No vago que me resta
Quem dera qualquer festa
Apenas por saber
Vencido ou vencedor,
Nas teias de um amor,
Eu tive algum prazer.

92

Agora, a primavera
Depois de tanto frio
No sonho onde recrio
A vida que se espera
Domando queda e fera
O passo eu desafio
E embora em desvario
O nada me tempera,
Resumo a vida quando
O mundo derramando
Os ermos do que um dia
Pudesse ser maior
Se nada sei de cor,
Só resta a fantasia.

93


A dor, antiga fera,
Não deixa mais em paz
Quem tanto fora audaz
E agora nada gera
Enquanto em vaga esfera
O mundo se desfaz
E nada satisfaz
Quem tanto ou pouco espera,
Restando dentro em pouco
O passo quieto e louco
De quem se fez além,
O manto se recobre
Em lã suave e nobre,
Porém nada contém.

94



Total felicidade?
É mera fantasia
Aonde nada havia
O resto desagrade,
O passo outra cidade
A rua a ventania
Gerando a hipocrisia
Matando a liberdade,
Adeus às ilusões
E nelas não repões
Sequer os velhos passos,
Dos dias que pensara
A vida bem mais clara
Apenas olhos lassos.

95

Teu mundo um paraíso
Aonde eu dessedento
O quanto sei do vento
Ou mesmo em prejuízo
Resulto onde matizo
E nisto em sofrimento
Amor seria ungüento?
Não sei e nem preciso.
Apenas vejo aqui
O quanto me perdi
Do todo do passado,
Gestando com a lavra
O medo da palavra
O corte anunciado.

96

Deserto, na savana
De um coração alheio
Procuro qualquer veio,
Porém a sorte dana
E quanto mais engana
Maior; sinto o rodeio
Em tolo devaneio
A noite é soberana,
Mas quando a queda vem
E nada mais, ninguém
Traduz alguma sorte,
O peso de viver
A angústia toma o ser
E nada mais conforte.


97

Um leão corre solto
Aonde pude olhar
Depois de tanto amar,
Em mar, luar revolto,
O corte o sobressalto,
O medo o dia após,
O rio perde a foz,
A sorte não ressalto
Resvalo ao descaminho
E sei quanto inda possa
Da messe nunca nossa
Do canto mais mesquinho,
E morto em vida tento
Vencer o alheamento.

98


Um céu pleno de anil,
O manto em dor e medo,
O quanto me concedo
O parto não mais viu
Sequer algo gentil
Aonde fora ledo
E tento outro degredo
Além do que se ouvi
Em ermas noites vãs
E sei quando as manhãs
Jamais enfim veria
Encontro em tal cenário
O manto temerário
Turvando o novo dia.

99

Um peito enamorado
Vasculha dentro em si
O todo que senti
E não tendo ao meu lado,
Num risco anunciado
A morte eu bebo aqui
E tudo o que perdi
Já diz do meu legado,
O vasto procurar
O nada a desejar
Somente a liberdade,
O passo neste fosso
O mundo? Nada endosso
Nem mesmo o que me agrade.

100

Buscando na floresta
O olhar de quem um dia
Vestira a fantasia
E agora já se empresta
À cena mais funesta
E nela esta heresia
Aonde poderia
E nada mais me resta
Somente o frio e o medo
E o passo onde o degredo
Anunciando o fim,
Escolhe dentre tantos
Os dias, desencantos
A morte em meu jardim.

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