quarta-feira, 21 de julho de 2010

42501 até 42600

001

O amor, mesmo tardio vale a pena,
Acende a antiga chama há tanto imersa
Na sombra mais atroz e desconversa
A dor que tantas vezes me apequena,
Ao perceber assim última cena
No farto caminhar onde dispersa
A vida em tantos erros já submersa
E traz esta alegria que serena,
Uma alma tanto em medos enrugada,
Trazendo a claridade em erma estrada
E molda um sobejo amanhecer,
Somente este detalhe em juventude,
Porquanto na verdade tanto ilude
Fazendo este menino renascer.

002

As tantas noites vãs que freqüentara
Durante a minha vida em tez sombria,
Agora ao adentrar a fantasia,
Um novo desenhar já se prepara,
E mesmo quando falsa esta seara
Expressa algum momento de alegria,
Redime o que me resta em agonia
E um tempo mais suave, o sonho ampara.
Depois de tantos anos, solidão,
Hermético caminho da esperança
O passo, mesmo em vão ainda avança
E tenta noutra cena ser suave,
O sonho libertário feito uma ave,
Encontra no vazio a direção.


003


A morte que talvez inda se ouvisse
Na próxima estação, um mero engodo,
A parte traduzindo o turvo todo
E a vida se repete em tal mesmice,
O quanto da esperança ainda vice
E trace novo tempo além do lodo,
Enredo o meu delírio e assim explodo
Cenário aonde a dor somente visse.
Extraio num poema esta benesse
E o canto noutro fato estabelece
A remissão dos dias mais doridos,
Embora seja apenas meramente
Uma miragem tola que se sente,
Revive com ternura os meus sentidos.


004


Ao discernir além a claridade
Esbarro nos encantos mesmo quando
O mundo na verdade simulando
O quanto inda presumo em liberdade,
As rugas no meu rosto, este degrade
Deveras costumeiro e até nefando,
Traduzem os meus dias já nevando
Neste outonal delírio que me invade.
Acendo derradeira, esta fogueira
E nela a sorte mesmo traiçoeira
Ao menos me alentando num momento,
Permite que se tente nova senda,
Ou mesmo que não possa ainda estenda
Um caminhar suave onde eu me alento.


005


Herético demônio em dor contido,
Restando do que um dia acreditava
Somente este furor em tosca lava,
O passo na verdade presumido
Restaura a sensação noutro sentido,
Uma ilusão a vida semeava,
E o quanto da colheita não restava,
Valera pelo sonho pressentido.
Restando muito pouco ou mesmo nada,
A presa se demonstra acorrentada
Nos ermos da emoção mesmo bisonha,
E a tez em rugas tais, diversas cãs
Embora se permitam noites vãs,
O coração renasce e à toa sonha.

006


Desvendo dos meus tétricos caminhos
Os raros lumes quando me traria
A vida noutra face, em fantasia
Deixando os dias tolos e mesquinhos,
Por mais que se percebam tão daninhos
Excêntricos sonhares da alegria
Encantam no final último dia
Traçando o rumo em meio aos vãos espinhos.
Encontro refletido em tal espelho
O olhar de quem decerto eu assemelho
E risco cada fase desta vida,
Jogada pelos ermos de um passado
Aonde o sol se pondo em céu nublado
Encontra neste encanto uma saída.


007

Amor que temporão adentra o peito
De um velho caminhante sem destino,
E quando alguma senda determino,
O passo com certeza está desfeito,
E quando noutro encanto em vão me deito,
Tentando revolver velho menino,
Errante e num delírio me alucino
E a morte toma aos poucos todo o pleito.
Pudesse ainda crer na salvação
E tendo nos meus olhos o clarão
De quem se fez bem mais que sonhador,
Auspiciosamente a vida poderia,
Mas vejo a cada ausência esta utopia
Marcando em férreo tom o desamor.

008


Defenestrando o sonho mal consigo
Vencer os meus antigos dissabores
E tento cultivar ainda flores
Sabendo do vazio onde persigo,
Estando solitário, já nem ligo
E quando noutro rumo tu te fores
Verás o que me resta em tantas dores,
Porém um sonho tosco inda prossigo.
Acasos entre ocasos tão somente
O fim a cada passo se apresente,
E tento mesmo em vão dissimulá-lo,
O quanto quis liberto e sou vassalo,
O manto se desvenda em tal negrume
Aonde o passo alheio tenta e rume.


009

Reflito sem saber esta verdade
Porquanto tantas vezes me iludira,
A vida se prepara em cada tira
E toda a ingratidão deveras brade,
No quanto quis apenas liberdade,
E o mundo se transcorre em vã mentira,
O quanto já me dera se retira
E o passo no vazio se degrade,
Sem gládios nem batalhas, vou sozinho,
Esboço reações e nada vejo
Senão a mesma ausência de um desejo
Aonde no passado houvera um ninho.
Seara costumeira em tom venal,
O mundo se repete; sempre igual.


010


Joguete da ilusão; sou somente isto,
Resquícios de momentos mais felizes,
E quando se percebem velhas crises
Ainda no caminho em vão persisto,
Somente talvez mesmo se inda existo
Em meio aos meus delírios e deslizes,
Aprendo controlar as infelizes
Manhãs nas quais minha alma é mero cisto.
Antrazes entre velhas pestilências,
Não quero nos teus olhos tais clemências
Tampouco algum afeto sendo falso,
A porta escancarada em tom sombrio,
O quanto me restando em desvario,
A vida se prepara em cadafalso.


011

Restando muito pouco para o fim,
Olhando de soslaio vejo apenas
Do mar imaginário; turvas cenas
E sinto esta beleza alheia a mim.
O quanto pude crer e sei que enfim
As horas mais tranqüilas e serenas
Tomadas por vazios e condenas
Meu rumo ao mesmo nada de onde eu vim.
Cansado de lutar inutilmente
O tempo tantas vezes vem e mente
Marcando a minha face com as cãs
Precoces de quem tanto amou na vida,
E ao ver o seu caminho sem saída,
Percorre solitário; estas manhãs.


012

Esgoto-me ao sentir o quanto a sorte
Trouxera em tons diversos, medo e cais,
Ao mesmo tempo o caos em terminais
Delírios onde o nada se comporte,
E o quanto imaginara ser mais forte
E ter nos meus momentos outros mais
Dispersos entre os vários e venais
Anseios que tomaram o meu norte.
Ao crepitar em mim última chama,
O verso sem destino teima e clama
Pousando no meu vago alheamento,
Nas vastas ilusões onde procuro
Um porto ao menos claro ou mais seguro
Apenas dos vazios me alimento.


013

Alimentando a fera que resiste
E teima dentro em mim, último bote,
Sem ter qualquer presença que se note,
O olhar caminha ausente, ledo e triste,
O amor quando demais, eu sei persiste,
E o todo se perdendo agora esgote
E o risco de sonhar, nada denote,
O velho sofrimento, ainda em riste.
Egresso desta estúpida promessa
Aonde o passo em ermos já tropeça
E o tempo atropelando cada sonho,
Vacância se desnuda no meu peito,
E o verme que inda resta, satisfeito
Expondo todo passo onde me ponho.


014

Na carne, as unhas e as presas
Os meus olhos já cansados
Velhos dias demonstrados
Entre amargas correntezas,
Os delírios, as surpresas,
Sonhos vãos e embolorados
Tento crer em novos Fados,
Mas a vida em incertezas.
Aprendera com o fogo
Sendo inútil qualquer rogo
Só restando dor atroz
E o meu passo em descaminho,
Do final eu me avizinho;
Ninguém ouve a minha voz.


015

Expondo vísceras, sigo
Extirpando uma esperança
E ao vazio a voz se lança
Onde outrora quis o amigo,
O meu mar alheio e antigo
A saudade em vil fiança
Quando o vento vem e alcança
Entre as urzes eu prossigo.
Ao sentir o que talvez
Noutros tantos me refez
Em momentos mais diversos,
Acredito, embora veja
Nesta cena malfazeja
Os esgares tão perversos.

016

Dos trôpegos caminhantes
Nem as marcas sobre o solo,
Delirante, ainda assolo
O desenho que adiantes,
Passo a vida ou por instantes
Entre o medo, o risco e o dolo,
Outro tanto e se me imolo
Bebo falsos diamantes,
Recolhendo toscas prendas,
No final já não entendas
O meu vago desenhar
Pedras fartas, espinheiros,
Os meus versos derradeiros
Procurando o imenso mar.

017

Penetravam pelo sonho
Os arquétipos de antanho,
O meu dia outrora ganho
Hoje apenas decomponho,
E o que tento ou mais proponho,
Esboçando o mesmo lanho
Onde em trevas eu me entranho
Traço o passo em dor, medonho,
E o que resta deste fato
Na verdade não resgato
Retratando apenas isto,
O meu pálido delírio
Entre anseios num martírio,
Mas deveras não desisto.

018

Destruíam como dantes
Os meus sonhos mais audazes
E se tanto satisfazes
Vendo os cortes tão gigantes,
Ao sentir que me adiantes
Noutros tempos, velhas fases,
Perco o passo, ledas bases
Em anseios torturantes.
Ouço apenas o vazio
E decerto eu desafio
O meu passo rumo ao quando,
Mesmo envolto em tais neblinas
Onde os ermos; determinas
Continuo procurando.

019

Numa dantesca folia
Entre trevas, medos, ritos
Os momentos mais aflitos
Noutra face se acredita
E o delírio onde palpita
Resolutos e finitos
Caminhares entre mitos
Geram falsa e vã pepita.
Os cenários entre os prismas,
E deveras tentas, cismas,
Ranços duros de um passado
Onde o corte mais voraz
Permitira o que me traz
Um brilhante lapidado.


020


Riam-se falsários sonhos
Entre tantas ilusões
E deveras tu me expões
Outros dias enfadonhos,
Procurando por risonhos
Os momentos e os senões,
Tento novas direções,
Mas os passos são bisonhos.
Escravizo-me ao buscar
Noutro farto caminhar
Pelo menos um alento,
E se tanto o merecia,
Onde está tal fantasia,
Já jogada em forte vento.


021

Decepavas; maestria
No tratar em férrea fúria
Sem temer qualquer lamúria
A verdade não traria
Quem se fez em ironia
E propensa à tola injúria
Expressando sem penúria
O que fora fantasia.
Ergo os olhos para o além
E decerto já não vem
Nem sequer o mero e esparso
Delirar onde um poeta
Com certeza se completa,
Solitário, eu me disfarço.

022


Como fizeram bem antes
Os erráticos vadios,
Hordas, súcias, ledos, frios
E os meus dias; adiantes
Nele vivo por instantes
Os cenários mais vazios
E se tanto encontro os fios
Os meus ritos são farsantes.
Num herético desdém
O meu canto não convém
E retém apenas isto,
O vagar insensatez,
Onde a sorte se desfez
Minha morte eu mal despisto.

023

Cuspiam todas as faces
E sangrando sem paragem,
Onde sinto tal miragem
E deveras tu já traces
Os delírios onde grasses
Noutra sorte ou estalagem,
Ao sentir tal paisagem,
Presumindo os desenlaces.
Risco o nome do caderno
E os meus medos eu interno,
Nem respeito alguma agenda,
Que o vazio de um anseio
Noutro rumo segue alheio
Ao cenário que se estenda.


024

Ladravam nessas orgias
Os meus antros mais mordazes
E se a vida traz em fases
Horas belas e alegrias,
Na verdade não terias
Nem sequer o que inda trazes
Ou delírios mais audazes
Perfilados, poesias.
Escutando este marulho
Onde em vão quero e mergulho
Abissais do pensamento,
Fossas, túmulos e covas
Nesta cena tu renovas
E em teus passos eu me alento.


025

Aproveitando este engano
Costumeiro de quem tenta
Mesmo em face virulenta
Procurar um novo plano
E se tanto assim me dano
Bebo a sorte em tal tormenta,
E a verdade desalenta
Ao puir diverso pano,
Esgotando o verso em vão
Nossos dias não serão
Mais felizes só por isso.
Entre tantas discrepâncias
As demências e inconstâncias,
Já retiram qualquer viço.

026


Repetiam os acordes
Velhos cantos do passado,
O meu passo desolado
E deveras não recordes
Onde tanto pude então
Perceber qualquer promessa
O caminho se endereça
Aos momentos que trarão
Tão somente este poente
Traduzindo em verso e dor,
O que fora refletor
E decerto se apresente,
Mais nefasta que esta vida
A saudade em vã ermida.

027


Cantadas nas tempestades
Raios tantos num trovejo
Muito além do meu desejo
Ao romper as frias grades,
No delírio onde te agrades
O final devera vejo
E se tento um benfazejo
Caminhar, bebo saudades.
Ergo um brinde ao que perdi,
E voltando agora a ti
Esboçando um novo trilho
Solitário em noite escusa,
Minha vida se entrecruza
Com o medo onde palmilho.

028

Criadas sem fantasia
As estâncias da emoção
Ditam rumo e precisão
Onde o passo não recria,
O meu canto poderia
Traduzir esta canção
E se tento mesmo em vão
Adentrar alegoria,
Nos esgares das saudades
Os meus dias quando invades
Disseminas tal anseio,
E o cenário reproduz
O que tento e já faz jus
Aos delírios que rodeio.

029

Matavam as esperanças
Os meus dias solitários
Onde os quis mais solidários
Em mais tenras alianças
A verdade não alcanças
E transformas temerários
Os delírios de corsários
Entre fúrias, cortes, lanças.
Resistira o quanto pude,
Mas me falta a juventude
E o meu medo reluzindo
Na saudade mais voraz
O meu passo já se faz
No vazio, o resumindo.


30

Anoiteciam o sonho
Quem deveras já não vinha
E a saudade sendo minha
Noutro fato a recomponho,
E se tento ou me componho
Tanto medo já continha
Quem decerto ainda tinha
Triste olhar, mero e enfadonho.
Perecendo enquanto pude
Ao moldar nova atitude,
Já não sou tão mais romântico,
E deveras neste cântico
Esboçando alguma sorte,
Solitário mar conforte?



31


Nesse sonho já vivido,
Em momentos magistrais
Quero muito e muito mais
Do que temos recebido,
O calor desta libido
Em divinos rituais
Desejando divinais
Caminhares do sentido,
Tua boca delicada,
Tanto amor; tenho pra dar,
A vontade de ficar
E seguir na mesma estrada
Bela e clara deusa lua,
Minha musa inteira e nua.

32

Abandonado num canto
Neste tênue desenhar
Da beleza a nos tocar
E decerto eu já me encanto,
Quero o amor, desejo-o tanto
E não canso de buscar
Céu imenso, extenso mar,
Mas em ti eu me agiganto,
E se tento algum momento
E deveras já me alento
Quando vejo com certeza
Tanto amor que nada cessa
Muito além de uma promessa,
Dos seus laços, mera presa.

33


Crendo que estava cansado
De lutar inutilmente
Contra a fúria da corrente
Neste todo desolado
O meu rumo, duro enfado
Inda mais quando se tente
Enfrentar impunemente
Esta dor, triste legado.
Caminhando sem destino,
O meu passo eu determino
No teu norte, minha guia.
E se tantas vezes sigo
Muito além de mero amigo,
Muito mais que poesia.


34


Renasceu, prá meu alento
Quem se fez tão radiosa,
No jardim sobeja rosa
Reina e doma o pensamento,
Onde outrora alheamento
A beleza majestosa
De quem tanto em sonhos goza
Novo amor, raro provento,
E se entranho tal caminho
Já não sou sequer mesquinho
Cada passo eu compartilho,
Qual falena hipnotizada
A minha alma em ti alçada
Na certeza deste brilho.


35


Na noite, na madrugada,
Nos anseios de quem tanto
Ao saber e te garanto
Como é bela a nossa estrada
E seguindo a revelada
Maravilha onde me encanto
Eu desejo e sem espanto
Cada passo em tal calçada,
Na calada, noite afora,
Coração em luz se aflora
E decora a rua inteira,
Na certeza de ir contigo,
Todo o amor eu já persigo
Nosso sonho; uma bandeira.

36

Sem luz de lua a brilhar
Sem desejo que desnude
Coração segue amiúde
Na vontade de chegar
E te encontro em luz solar
Clara em plena juventude,
O meu sonho então me ilude
E te segue sem parar,
O desenho em claridade
A beleza que me invade
O delírio mais atroz,
Dos meus dias mais felizes
Na verdade sempre dizes
Em suave e mansa voz.


37

Sem vida, sem canto, exposta
A saudade que domara
E na certa esta seara
Procurando por resposta
Aceitando esta proposta
Mesmo quando se declara
Muito aquém do que sonhara,
O meu peito não desgosta,
Versejando em voz tranquila
A minha alma ora desfila
Em cenário multicor
Na certeza que me guia
Deste amor tanto queria
Neste canto qual louvor.

38

Que se possa então assim
Mergulhar sem mais saber
Dos desmandos do prazer
Do cenário onde enfim
Dessedento o amor em mim,
E bebendo o teu querer,
Na verdade passo a ser
O princípio, o meio e o fim,
A vontade de tocar
Os teus lábios, devagar,
E num beijo, enamorado,
Perceber esta alvorada
Dominando toda a estada
Novo tempo ensolarado.


39


Meu Deus, afaste o tormento,
Deste tanto desamor
E permita nova cor
Onde o canto ainda alento,
E se eu sigo sempre atento
Dos teus sonhos, refletor,
O delírio diz calor
O teu nome solto ao vento,
Nada mais eu poderia
Do que ter em claro dia
Este sol que tu me trazes,
Os meus passos nos teus passos,
Dias calmos, mesmo baços,
Em delírios tão audazes.


40

Não me deixe mais seguir
Sem destino como outrora
A vontade onde se ancora
Renegando algum porvir,
No delírio a presumir
Outro tempo sem demora,
O cenário que apavora
Não consigo discernir.
Vendo mais do que inda pude
O bradar da juventude
Que alimentas quando vens,
Mas quando tão solitário,
Sem caminho, itinerário
Os meus sonhos são reféns.


41

Quero viver o momento
E negar algum caminho
Onde siga mais sozinho
E em verdade busco e tento
Libertário pensamento,
Muitas vezes mais mesquinho
E se tanto em ti me aninho
Alivio o sofrimento,
Prosseguindo nesta senda
Onde amor já se desvenda
E se tente muito além
Do que outrora fora em nós
Muito mais que tênue voz
E o delírio em paz contém.

42


Quero essa vida da forma
Que vier e nada temo
Quando em ti eu já me algemo
O meu mundo se transforma
Coração agora informa
Atravessa e cria um remo
Navegando onde me extremo
E mais nada nos deforma,
Ao sentir tua presença
A vontade tão imensa
Já não cabe dentro em mim,
E o que resta deste espaço
Na verdade tento e traço
Tendo amor como o meu fim.

43


Não permita o pesadelo
Da terrível solidão,
Ao sentir esta emoção
Meu amor, posso vivê-lo
Com carinho e tanto zelo,
Sei das dores que virão
E mudando esta estação
Enredado em teu novelo,
Descaminhos; desconheço
E não posso mais tropeço
Caminhando sempre em frente,
O meu rumo junto ao teu
Na certeza concebeu
O que quer e mesmo enfrente.

44

Não deixe mais para trás
O que tanto havia em ti
E se um dia conheci
Noutro tempo satisfaz,
E o desejo mais audaz
Que decerto eu percebi
No caminho onde senti
Finalmente o amor em paz.
Revivendo a minha história
Trago apenas na memória
Outro tempo onde infeliz
Procurava melhor sorte,
Sem amor que me conforte,
Quem no mundo já bendiz?

45


Corte o fio, liberdade,
E permita novo passo
Onde quero sei e traço
No carinho que me invade,
Céu luar rua e cidade,
Na verdade outrora lasso
Hoje audaz meu rumo eu faço
Da maneira que me agrade,
Demarcando em ti limites
E deveras necessites
De outros dias tão iguais,
Ao saber desta presença
Deste amor que nos convença
Sonho sonhos magistrais.


46


Não pode recomeçar
Quem deveras não sabia
Deste amor em fantasia
Desnudando-se ao luar
E se eu posso trafegar
Entre a noite e o pleno dia
Quando imerso na alegria
Não me canso de lutar,
Espreitando na tocaia
Quem deveras não mais traia
Ou decerto inda maltrate,
Neste jogo sem derrotas,
Quando amor sobejo notas
No final dá sempre empate.


47

Essas aves libertárias
Entre as outras rapineiras
Espreitando traiçoeiras
Dos caminhos; adversárias
As vontades temerárias
Ou deveras tu te inteiras
Das loucuras derradeiras
Noites vãs e imaginárias,
O teu corpo junto ao meu
O meu mundo se esqueceu
E hoje vive o teu; somente
Quem decerto sabe a vida
Neste encanto é percebida
O delírio que a alimente.


48


Não deixe de novo, agora,
O caminho que pudera
Ao traçar a nova espera
Outro tempo se decora
E deveras vai embora
Solidão, dura pantera,
E se tanto ainda é fera
Minha noite desarvora,
Sigo o passo de quem ama
A vontade dita a trama
E o meu rumo em teu prossegue,
Sem temores nem disfarces
Sem sequer saber se esgarces
Plenitude se consegue.

49


Pelos tantos dias quando
Eu pensara ser feliz
E a verdade contradiz
Novamente em mim nevando,
O meu peito se tornando
Deste encanto um aprendiz,
Viva chama em chafariz
De prazeres se entornando.
Resistindo ao que vier
Neste corpo de mulher
Encontrei a redenção,
Um cenário tão bonito,
Neste encanto onde acredito
Dias claros se trarão.

50


Pelos corpos,que lá fora
Apodrecem solitários,
Dias velhos são corsários
Deste canto onde demora
A saudade e desde agora
Novos rumos solidários,
Entre dias temerários
Solidão já não se ancora,
O caminho leva a ti
E decerto eu percebi
Solução que tanto quis,
E se tenho junto a mim
Quem sonhei, eu digo enfim,
Que no mundo eu sou feliz.


51

Meu poeta
Contigo quero sempre muito mais,
Pensar em ti me incendeia,
Lascivas imagens me invadem,
Fazendo-me desejar
Tudo de mais intenso e envolvente,
Passear minha língua quente por teu corpo,
Beijar-te com furor,
Chupar, lamber, engolir...
A cavalgar lentamente,
Sentindo você todo em mim,
Doces sussurros, torpes gemidos,
Unificados,
Extasiados,
Saciados
Em nosso sonho de amar...
REGINA COSTA

Ao sentir tua nudez
Nesta noite enluarada
Nossa fúria saciada
Em completa insensatez
Todo amor que a gente fez
Adentrando a madrugada
Preconiza uma alvorada
Muito além do que tu crês,
Desenhando em tatuagem
No teu corpo esta viagem
Um sedento navegante,
Num orgástico caminho,
Já não sigo mais sozinho
Cada gozo me agigante.


52
Irrecusável Convite
Terça,
Teatro Rival,
Cinelândia,
Samba de Raiz da melhor qualidade!
Desejei tanto que estivesse ao meu lado
Que até pude senti-lo, gostaria de
Capturar a luz do teu olhar,
Sentir o timbre de tua voz,
O calor do teu abraço,
A temperatura do teu desejo,
O sabor do teu beijo;
Sonho com o dia em que sairemos
Pelas noites cariocas,
Sem pressa, sem medo, sem juízo,
Se emocionar com o pôr-do-sol no Arpoador, e depois
Continuar...
Amar, amar, e de novo amar, mais e melhor...
REGINA COSTA

Nos anseios mais vorazes
Noite afora sem pudor,
O carinho diz amor
E no amor amores trazes,
Ao sentir o quão audazes
Os caminhos desta flor,
Um instante em teu calor
Onde além queimando abrases,
Resumindo a noite inteira
Num só ato, mais feliz,
Do teu lado eu sempre quis
Tanto gozo que se queira
E sem nada mais temer,
Teu prazer é meu prazer.

053

Apodrecem no quintal
Estes frutos onde um dia
Tanta sorte buscaria
E deveras tendo o mal,
A saudade em voz venal,
Nos teus olhos, poesia,
No meu sonho eu poderia
Neste instante sensual,
Mas a vida se arremete
No vazio e não promete
Qualquer coisa além da dor,
E talvez ainda seja
No futuro a benfazeja
Fruta enquanto é bela flor.

54

Esquecidos nas esquinas
Os meus passos; não prossigo
E se vejo algum abrigo
Noutro rumo determinas,
E deveras velhas minas
Onde tanto sorvo o antigo
Desenhar que inda consigo
Entre luzes cristalinas
Ao andares espalhaste
Tantos brilhos num contraste
Com as sombras que hoje eu trago,
Meu amor bem que pudera,
Mas a vida molda a fera
E não resta nem o afago.

55

“Errei no vão percurso dos meus anos”
Vi meus enganos em atritos com os acertos
Alguns vetos me trancaram tantos planos
Desenganos e venturas e eu dando jeitos.

Imperfeitos, os erros rasgavam os planos
Mas pelos anos fui feliz em vários pleitos
Com amuletos combati os desenganos
Puritanos meus acertos em tantos feitos.

Defeitos! Sou feliz por ter alguns
Comuns ao ser vivente e mortal,
Mas no total meus dias não são ruins
Da vida eu não posso falar mal.

O tempo passa assim tão derrepente
Que não da para deixar de ser contente.

Josérobertopalácio


Os dias onde tanto procurei
Quem sabe algum momento após a queda,
A dita na verdade o rumo enreda
E neste caminhar errei a grei,
O tanto quanto pude e desejei
O risco noutro fado se degreda
A sorte no vazio se envereda
E todo o delirar não desfrutei,
Restando muito pouco dentro em mim,
A fúria se aproxima em ledo fim,
E o gesto incoerente de quem ama,
Galgando em passos turvos o não ser,
Aonde quis um claro alvorecer
A vida não manteve acesa a chama.


56

Nas roças na capital,
Nas cidades tão pequenas
Na verdade me serenas
Onde o bem decifra o mal,
O delírio sensual
Entre as noites mais amenas,
E se tanto me condenas,
No final é tudo igual,
Passo feito em concordância
Nosso amor com elegância
Desfilando em noite mansa
E somando o quanto quero
Na verdade, mais sincero
Outro campo em paz se alcança.


57

Já não quero tantas celas
Para os sonhos mais audazes
E se tanto ainda os trazes
No caminho em que revelas
Bebo sortes bem mais belas,
E com elas tantas fases,
Meu amor; logo refazes
Em sublimes, raras telas.
Desvendando o passo quando
Outro tanto deformando
Meu caminho rumo a ti,
O desejo mais feliz
Na verdade sempre o quis,
Mas não sei se mereci.

58


Nem quero mais funeral
Destes sonhos onde um dia
Ao viver em alegria
Fiz do gozo um ritual,
Navegando, a nossa nau
Novo porto encontraria
E se sabe em serventia
Do delírio no final
Expressando em mar suave
Outro tanto que se agrave
Nem por perto inda se vê
Minha amante companheira
Minha vida em ti mais queira
O caminho em seu por que.

59



Desnudamos um ao outro
Com volúpia e com ternura,
Descobrindo em cada toque
Senhas que nos provoque,
E nesse ato, em atos
Desatinos,
Mudamos nossos destinos...
Regina Costa

Ao sentir-te nua e bela
Diva em noite ensandecida
Misturamos nossa vida
No delírio onde se atrela
A vontade agora sela
E permite uma saída
Onde amor rebenta a cela,
Nada além do majestoso
Caminhar em torporoso
Desatino enquanto eu pude
Decifrar a maravilha
E decerto a vida trilha
Em sobeja magnitude.

60


Nessa noite em que a lua
É testemunha do nosso
Amor em combustão,
Quero massagear-te
Com meu corpo,
Com os fluidos e suores
De nossa ensandecida excitação e
Falar ao teu ouvido o quanto
Fez-me fêmea em nosso
Ritual de sedução...

REGINA COSTA

Aos delírios, meus anseios
Numa entrega delirante
Tanto amor a cada instante
Sinto agora os rijos seios,
E decerto em devaneios
Onde o sonho se adiante
E transforme doravante
Meu caminho sem receios,
Percebendo o quanto queres,
A rainha entre as mulheres
A deidade mais audaz,
Novo gozo em noite imensa
Todo amor já se compensa
Quanto mais amor se faz.


61
Falar da noite e do dia,
Entre tantos sonhos vejo
Meu amor mais benfazejo
Onde a sorte se faria,
Noutro rumo a fantasia
E deveras neste ensejo
O caminho mais sobejo
Outro brilho mostraria
O que tanto quis agora
E decerto em paz aflora
O delírio sem igual,
Neste canto em tal promessa
O meu mundo recomeça
Doce e raro ritual.

62
Deste açoite e de Maria
Noutra face mais sutil,
Tanto amor o sonho viu
E se adentra em alegria,
O que um dia poderia
Produzir cena gentil,
O meu passo se previu
No cenário em fantasia,
Ergo o olhar e vejo além
Do que tanto nos contém
Passo manso em noite clara,
A verdade se semeia
E trazendo em lua cheia
Este encanto se escancara.

63

do acoitado sonho em paz
adentrando aonde a festa
o meu mundo já se empresta
onde o tempo satisfaz
e se mostra mais audaz
o que outrora em tez funesta
o caminho em glória gesta
o delírio mais tenaz.
Ao sentir esta alegria
Tanto amor já se faria
E transforma qualquer glória
Renascendo em cada abraço
O desejo que inda faço
Muda sempre a nossa história.

64
perdido, despedaçado
onde tantas noites; quis
dos caminhos aprendiz
esperança é meu legado,
o cenário desenhado
nele traço e peço bis,
o meu mundo; geratriz
do que trago lado a lado,
poderia ser assim
desvendando de onde eu vim
o cenário mais audaz,
o meu canto em tom suave
liberdade diz desta ave
que em bel canto a vida traz.

65
Ao falar de nada mais
Do que tanto desenhava
A saudade nega a trava
E desdenha os temporais,
O caminho em magistrais
Desenhares onde agrava
O cenário mais sombrio,
Onde amores desafio
Num momento aonde eu possa
Reviver a vida nossa
E também felicidade
No final em claridade
Entro em horizontes onde
Minha sorte em paz responde.


066

Onde tudo em paz; inundo
E desenho outro cenário
Neste canto imaginário
Coração mais vagabundo
Vasculhando inteiro o mundo
Noutro canto necessário
Meu amor velho corsário
Neste olhar doutro oriundo.
Vago em ritos consonantes
E se tanto me garantes
Claridade aonde eu pude
Desenhar em lua mansa
O que tanto a sorte alcança
Em completa magnitude.

067

Vaga além do que eu pudera
Ao cerzir em manso passo,
O que tanto quero e traço
Noutro olhar se destempera
O cenário aonde espera
A verdade doma o espaço
E se tanto em sonhos faço
Disfarçando esta quimera
Onde pude num instante
Procurar e doravante
Nada encontro senão isto
O caminho mais audaz
O meu passo se perfaz
E decerto nisto insisto.


068

Seu moço, minha tristeza,
Expressada em solidão
Novos dias me trarão
O vazio sobre a mesa,
Onde o canto em alma presa
Prenuncia outro senão
O delírio desde então
Sorve inteira a natureza,
A minha alma se apresenta
Nas entranhas da tormenta
E penetra enquanto eu tento
Resumir em verso e canto
E se agora em paz me encanto
Sigo alheio ao sofrimento.

069

Vem desse amor acabado
O delírio do não ser
E pudesse algum prazer,
Mas vivendo do passado,
O caminho sendo errado
Mal permite perceber
O que tanto quis saber
Noutro rumo desenhado,
Ébrio em tons audaciosos
Encontrando finos gozos
Nos olhares mais sedentos,
Enfrentar a minha face
Onde o nada já se trace
Perpetrando sofrimento.


70


Perdendo esta caminhada
Nos erráticos desejos
Onde tanto qui ensejos
Variáveis bebo o nada
Ao sentir a velha estrada
Pela ausência onde azulejos
Traçam dias mais sobejos
Procurando outra alvorada,
A certeza de um momento
Onde o tanto inda fomento
E presumo o bom final,
O meu canto se tropeça
Nesta ausência de promessa
Pressentindo no vazio a torpe nau.

71

Me resta somente dor,
Do que tanto quis outrora
Outro passo desancora
E o caminho em sofredor
Desenhar negando a cor,
Onde tanto se demora
O que tange e me decora
Sem ter nada ao que me opor,
Expressando em luz a vida
Tantas vezes dolorida
E por sonhos redenção,
Procurando em cena escusa
O que tanto se entrecruza
Mudando tal direção.

72


Tanto sonho desprezado
Pela vida em solidão,
Novos tempos não trarão
Da esperança algum traçado,
Vejo o céu iluminado
As estrelas que virão
Ao formar constelação
Neste astral já desenhado,
O poeta se repleta
E deveras predileta
Caminhada se traduz
No que tanto poderia
Em sobe fantasia,
Refletir a imensa luz.
73

Não pudera imaginar
Outro instante mais feliz,
E o que tanto agora fiz
Desenhando este luar
Onde um dia a decorar
O caminho aonde eu quis
Navegando por um triz
Enfrentar diverso mar,
Um mineiro em tom sombrio
Quando desce o imenso rio
Procurando este oceano
Das montanhas tece a foz
E o caminho mais atroz
Gera o vago onde me dano.

74

A saudade desse amor
Onde um dia procurava
Mesmo em onda bem mais brava
Este porto acolhedor,
Cultivando cada flor
Entre a senda onde cevava
Esperança emoldurava
Um cenário sedutor,
Ao sentir esta promessa
O meu passo se endereça
Aos teus braços e sacia
A vontade mais audaz
E deveras satisfaz
Esta enorme fantasia.


75


Nasci nas Minas Gerais
Montanhosas sendas onde
O meu sonho já se esconde
Entre pedras e cristais,
Poderia muito mais,
Mas a vida perde o bonde
E o vazio me responde
Em momentos desiguais,
Rendo ao farto desenhar
A vontade de chegar
Cada encontro uma partida,
E se perco a direção,
Noutros rumos se verão
Os caminhos dessa vida.

76

No meio desse sertão
Entre medos e terrores
Espalhara então as flores
Primavera em profusão,
Mas no fundo sei que não
Encontrei senão ardores
E diversos dissabores
Onde quis a solução,
Esse errático fantoche
Que se expõe ao teu deboche
Resumindo em verso o fato
Exprimindo em tom atroz
O que resta dentro em nós
E decerto eu não resgato.


77

Seu doutor, não posso mais,
Caminhar contra a vontade
Do que diz felicidade
Em momentos desiguais
Encontrando enfim o cais
Após tanta tempestade
O meu passo desagrade
Quem queria muito mais
Expressando em verso e canto
O que tanto desencanto
E gerasse nova senda,
Onde apenas solidão
Dita a sorte e se verão
Quem deveras não me entenda.


78

Me dói a recordação
Deste tempo aonde um dia
Imergindo em fantasia
Poderia em previsão
Encontrar a solução
Que tampouco se faria
Noutro campo em agonia
Desolando o meu verão.
Um amor mesmo tardio
Nestes versos eu desfio
E desenho outro momento,
Onde bebo a solidez
Do que tanto se desfez
Em terror e sofrimento.

79


Daquela moça morena,
Que se fez enamorada,
Cada sorte desenhada
Outro rumo já se estenda
E não quero mais contenda
Onde fiz a minha estada
Vejo em ti esta alvorada
Nela a sorte se desvenda,
Ultimando o verso em paz
A verdade sempre traz
O sonhar mais desejado,
E se quero cada passo
No delírio aonde eu traço
Deixo além qualquer enfado.


80

A minha bela pequena
Que por tanto tempo eu quis
Coração velho aprendiz
Onde tanto se serena
Na verdade em lua plena
Faz o verso mais feliz,
E se quero ou sempre fiz
O meu passo aonde acena
A verdade em luz suave,
Sorte agora vira a nave
Que me leva à eternidade,
No meu passo mais audaz
A saudade sempre apraz,
Coração que em paz invade.


81

A foto que me restara
De quem tanto desejei
Num momento desenhei
E traduz a jóia rara
Onde a vida agora clara
Expressando o que sonhei
Esgotando em si a lei
Que o amor teima e prepara,
Seguiremos em conjunto
E se tanto agora ajunto
O meu passo junto ao teu,
Meu caminho feito em glória
Ao mudar a minha história
Nos teus rumos se escondeu.

82

Foi embora sem deixar
Sem um rastro pelo menos
E os meus dias mais amenos
Já perdidos neste mar
Onde tento desvendar
Os anseios e venenos,
Dias ermo, loucos plenos
E o diverso caminhar
Entre medos mais constantes
E decerto me garantes
O final em luz sombria
A saudade perfilando
Já não traz o sonho quando
Entro errática agonia.

83





Nada mais do que saudade,
De quem tanto desejei
E se tanto imaginei
Noutro olhar, sinceridade
O que tanto desagrade
Na verdade vira a lei,
E o meu canto não mais brade
Onde outrora uma amizade,
Com delírios desenhei,
E o caminho para o nada
Desenhando a dura estrada
E traduz a solidão,
Esgotando em descaminho,
O meu verso mais mesquinho
Dita em mim a ingratidão.

84



Como é que posso ficar
Se deveras já não resta
Do meu sonho a mera fresta
Nem tampouco algum luar,
Bebo a sorte a divagar
E procuro o que me gesta,
Ao sentir a dor funesta
De quem tanto quis amar,
Esgotando o verso em vão
Os meus dias não trarão
Outro brilho senão esse
No caminho desenhando
O que resta do passado
Nem o sonho mais merece.


85

Sem lembrar tanta maldade
De um amor que não se fez
E decerto a insensatez
Cada passo ainda invade,
E pudera em liberdade
Ver o que inda não mais vês
E se tanto em lucidez
Bebo os raios da verdade,
O delírio se traçando
Onde quis um passo brando
E a saudade não permite,
Tanto amor se destempera
E gerando esta quimera
Ultrapassa algum limite.

86


Daquela que tant’ amei
Nem sinais eu posso ver,
O meu mundo em desprazer
Aprendi e vencerei
Adentrando em torpe grei
O meu manto a se perder
O caminho a perceber
Aonde foi que tanto errei.
Espreitando muito além
O que sei já não mais vem
E tampouco poderia
Traduzir em verso manso
O caminho aonde alcanço
A sobeja fantasia.

87


Prá onde foi? Eu não sei
Quem pudera sanear
Os meus erros a vagar
E traçar mais mansa a grei,
Se nos ermos mergulhei
E tentei até chegar
Onde os raios do luar,
Noutra face desenhei,
O meu verso sem remendo
No vazio se prendendo
Aprendendo desde então
A seguir aonde posso,
Desvendar o sonho nosso
Numa tarde de verão.

88



Minha Tereza era linda,
A rainha audaciosa
Nos seus olhos bela rosa
Primavera se deslinda,
E a saudade não se finda
Segue sendo majestosa,
Muito embora tenebrosa
Resistindo em mim, ainda.
Cirzo em versos e promessas
O caminho onde endereças
Os meus sonhos mais audazes,
Esse prazo determina
O que tanto dita a mina
Onde o brilho enfim me trazes.

89

Bonita como uma flor,
Ao reinar na primavera
Meu amor tanto te espera
Num delírio redentor,
E deveras onde for
O que tanto já nos tempera
A certeza regenera
Velho e morto beija-flor
Expressando em poesia
Muito além do que eu podia
Redimindo cada engano,
Solitário navegante
Onde quer que se adiante
Sem teus passos eu me dano.

90


Eu guardo no peito, viva
A presença mais feliz
De quem tanto outrora quis
A minha alma então cativa
Dos teus olhos já se criva
E gerando por um triz
O caminho aonde eu fiz
Minha voz sobeja e altiva,
Serenatas da esperança
Onde o passo quer e avança
Lança além deste infinito
O meu canto em voz tenaz
Tanto amor me satisfaz
Quanto mesmo o necessito.




91

A foto que me restara
De quem tanto desejei
Num momento desenhei
E traduz a jóia rara
Onde a vida agora clara
Expressando o que sonhei
Esgotando em si a lei
Que o amor teima e prepara,
Seguiremos em conjunto
E se tanto agora ajunto
O meu passo junto ao teu,
Meu caminho feito em glória
Ao mudar a minha história
Nos teus rumos se escondeu.

91

A foto que me restara
De quem tanto desejei
Num momento desenhei
E traduz a jóia rara
Onde a vida agora clara
Expressando o que sonhei
Esgotando em si a lei
Que o amor teima e prepara,
Seguiremos em conjunto
E se tanto agora ajunto
O meu passo junto ao teu,
Meu caminho feito em glória
Ao mudar a minha história
Nos teus rumos se escondeu.

92

Ao entrar nos meus delírios
Encontrara a mera senda
Onde o passo não se estenda
Entre balas e martírios
Ouço além das barricadas
Explosões entre fuzis,
E se um dia fui feliz
Hoje vejo barricadas,
As senzalas que inda trago
E decerto vejo a sorte
Que deveras não comporte
O meu mundo em manso afago,
Resumindo a minha história
Nesta face merencória.

93

Na lembrança, na retina,
O momento mais feliz
Que a verdade contradiz
E transforma em dura sina,
A palavra determina
O que o coração não diz
E se tento um aprendiz
Esvaindo toda a mina
Não se aponte soluções
E deveras tu compões
Os teus passos sobre o resto
Do quem um dia fora paz
E decerto agora traz
O vazio em que me atesto.

94

Daquela doce menina
Que se fez enamorada
Já não resta quase nada,
A verdade determina
Quando a vida nos ensina
E tramando nova estada
Onde tanto desolada
Caminhada em vão termina,
Bebo cada fantasia
Neste sonho onde eu podia
Ter o olhar mais manso, mas
A verdade se traduz
Nesta ausência em farta cruz,
E o jamais me satisfaz.

95

Foi-se embora prá não mais
Quem durante a minha vida
Percebera uma saída
Entre os tantos vendavais,
Dias claros divinais
E deveras despedida
Traça a sorte mal urdida
Onde ausente porto e cais,
Os meus dias se perdendo
Nada vejo em dividendo
Tão somente a dor feroz,
Resumindo noutro verso
O que tanto quis imerso
E não sinto mais a foz.

96

Nunca mais saber por que,
Nem tampouco se podia
Entranhar em alegria
O que o coração não vê
O amor quando se crê
Muito além da fantasia
Novo encanto me traria
Num delírio se revê
Cada passo mais audaz
E se nele satisfaz
Quem se fez agora forte,
Tendo em mim esta certeza
Já não vejo mais surpresa
Neste passo que conforte.


97
Tudo deixando prá trás
Nada trago em abandono,
E se em ti eu já me abono
Busco apenas mera paz,
O caminho mais tenaz
Entre tantos, quero e clono,
E deveras mesmo em sono
O meu verso é mais mordaz,
Santifico o amor que é nosso
E se agora o passo endosso
Encontrando em ti o brilho,
Nada mais se perderia
E talvez em novo dia
O meu canto ora polvilho.

98

Levando meu bem querer
Para o nunca mais pudera
Encontrar a primavera
E cevar qualquer prazer,
O que tanto espairecer
Entre nuvens, vida gera
E o caminho se tempera
Neste claro amanhecer,
O meu verso em consonância
Já não vê qualquer distância
E te encontra mesmo além,
A palavra nos redime
E se encontro em ti sublime
Caminhar o meu contém.

99

Tereza moça maldosa
Que deveras destruindo
O que outrora fora lindo
Desdenhando o verso e a prosa,
No caminho a majestosa
Maravilha que deslindo
Dos meus ermos foi saindo
E se torna fabulosa,
Mas a vida tem das suas
E se tanto em mim atuas,
Noutra face me desdenhas,
Deste amor por mais sofrido,
O meu passo resumido
Já não sabe sequer senhas.

100

Espinho num pé de rosa
Meu amor não se sacia
Nos ermos da fantasia
Cena às vezes dolorosa,
A verdade se olorosa
Transmitindo em alegria
Gera além desta utopia
Uma estrada radiosa,
Bebo em ti raro perfume
E se tanto agora rume
Quem se fez bem mais que um sonho,
No meu canto se viceja
Esta sorte benfazeja
Que em amores eu componho.

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