quinta-feira, 29 de julho de 2010

43301 até 43400

001

Sempre te avança o passo quando tento
Encontrar outra vez quem já se fora,
A sorte se perdendo em sonhadora
Paisagem onde o canto é meu sustento,
Encantos variados num momento
Sorvendo a mesma estranha e tentadora
Vontade de encontrá-la. Redentora
Delícia que perdera em forte vento.
Mas quando encontro um rastro, logo some
Inútil caminhar e nada tome
Nas mãos senão tal sonho e mesmo assim
Apenas o ditame mais atroz
Deixando perceber os frágeis nós
Levando a minha história a um ledo fim.

002

Eu vejo estremecer as minhas bases
Enquanto desejava ao menos paz,
O rumo quando assim já se desfaz
E nele em cada dia mais audazes
Caminho que decerto tu desfazes
E tento caminhar, mas deixo atrás
Ainda quando fosse mais tenaz
Os erros são deveras contumazes.
Não pude nem devia discernir
O quanto de esperança num porvir
Apenas meramente adivinhado,
Sangrias refletindo a minha história,
A lua a cada ausência, merencória
O medo no meu rosto desenhado.


003


E apenas aparece enfim o medo
Aonde quis a sorte e nada veio,
Tramando a cada passo um tempo alheio
Ao quanto mais desejo e até concedo,
No olhar extasiado, o desenredo
Resumo de um passado aonde o anseio
Negado transformara em dor, receio
Labuta quando em gládio eu não procedo.
Insone lutador que meramente
Sorvera o quanto quis e à sorte mente
Enquanto ainda tenta novo dia,
Mas quanto mais feroz a correnteza,
Menor a resistência em fortaleza
E o fim, sem mais defesas se anuncia.

004


Com ânsia e com ardor a vida atenta
Aos erros costumeiros e ferozes
De quem se procurando; nega as fozes
E os rios se transformam; tez sangrenta,
Minha alma tão somente à dita enfrenta
E tenta caminhar entre os algozes
Delírios e perdendo-se entre atrozes
Angústias; afinal bebe a tormenta.
Escassos sonhos trago e sei que nada
Permite ao marinheiro a desejada
E tão querida e em paz, bela ancoragem.
O barco sem timão vagando enfim
Chegando ao que persisto e vejo em mim
Apenas como pútrida paisagem.


005

Falaste como quem já não mais quer
Nem mesmo ouvir a voz de um dia
Ainda noutro sonho poderia
Trazer alguma sorte, um bem qualquer,
Mas sei do quanto agora e em vão sequer
Eu possa penetrar na fantasia
Na qual a minha vida se perdia
Nas ânsias tão dolentes da mulher.
O corpo desejado, a bela senda
O olhar enamorado não desvenda
E bebe este vazio a cada não,
E o ritmo desairoso em passo amargo,
Meu sonho neste instante eu fujo e largo
Deixando para trás e aos que virão.


006

Pensar no teu amor ou mesmo até
Tentar acreditar onde se esconde
O manto da ilusão e não sei onde
Ainda possa ter sequer a fé.
O canto se perdendo e sei quem é
Aquela a quem a vida corresponde,
E quanto mais desejo, não responde
Já não enfrento mais qualquer maré,
Inverno transtornando o corpo enquanto
Minha alma em primavera busca o encanto
Perdido e sem saber do ancoradouro,
E mesmo que eu pudesse, inutilmente,
O mundo se apresenta e a sorte mente,
Matando desde o frágil nascedouro.


007


Não é sem fundamento o verso quando
Explode em desacordo e imprecisão,
Os dias mostram sempre o mesmo não,
E o canto num martírio se tornando,
Desta ínclita vontade não restando
Sequer qualquer promessa ou direção,
Errático caminho dita em vão
E a vida noutra história se marcando,
Ausente dos meus dias, o que outrora
Ainda em vã memória, o sonho ancora
Tentando transformar em nova meta,
Mas quando se percebe a realidade
Apenas o vazio então me invade
E a vida a cada instante a vejo infecta.


008

Com meus respeitos tento alguma chance
E nada se presume enquanto anseio
Seguindo a minha vida em tom alheio
O nada na verdade ainda alcance,
O sonho não passando de um nuance,
Enquanto a claridade em vão rodeio
O mundo perde a base e nada veio,
Somente este terror onde se lance
A vida noutra estada mais sutil,
O amor que desejara não se viu
Nem mesmo a menor sombra desde quando
O tempo; pouco a pouco o vi nublando
E o quanto desejei e nunca vinha,
Felicidade; eu sei, jamais foi minha.


009

Quem fez as setas mansas e sutis
Gerando desta dor um novo enredo,
E quando na verdade assim procedo
Encontro nos teus olhos o que eu quis.
Pudesse ser assim, mas por um triz
O manto se transforma em desenredo
E tento adivinhar qualquer segredo
Jogado nalgum canto este infeliz.
Espero novamente um dia alegre,
Mas sei quando a verdade o desintegre
E gere esta tormenta no final,
Esparso caminheiro, muita vez
O sonho se transforma; insensatez
Transborda num delírio sem igual.

010


Ao me ferir o peito em tal momento
Aonde nada pude e nem teria
Somente a mesma face da heresia
E nela sem saber eu me alimento
O quanto do desejo diz tormento,
A morte a cada passo se anuncia
E gera tão somente outra agonia
E resistir até, decerto eu tento.
Atento aos meus diversos dissabores,
Prossigo e busco até por onde fores
Os rastros que deixaste no caminho;
Esgoto em ti as últimas vontades
E quando me percebes, já degrades
Tornando o meu delírio então; daninho.

011

Ela ama outro caminho que não esse
E quando me percebo solitário
O quanto for sonhar; desnecessário
Delírio quando o mundo em vão tecesse,
Meu canto noutro encanto se perdesse
E nada mais seria temerário,
Mas quando me percebo e o mesmo vário
Delírio sem querer obedecesse.
Assim ao me perder em cada passo,
O rumo noutro rumo já não faço
Esparso sonhador dores respira
Sorvendo cada gota da mentira
Aonde poderia simplesmente
Viver o que se quer e enfim se tente.


012


Havia-a em minhas mãos, mas a perdi
Assumo os meus erráticos anseios
E sei dos dias mortos, velhos veios
Levando para além o que há em ti.
Estúpido farsante eu me embebi
Nos ermos e em caminhos tão alheios,
E quando mais atrozes devaneios
O mundo mais distante enfim, daqui.
Apresentando agora este falsário
Delírio tantas vezes necessário
Até para quem sonha e busca a paz,
Enquanto em discordância a vida passa,
O amor que se pensara esta fumaça
Ao longe noutra senda se desfaz.


013


Quando triunfou esta vontade
De poder ter nas mãos outro momento
E sendo assim deveras meu fomento
O amor já não traria o quanto agrade,
Resumo cada passo no que invade
E toma sem sentir o pensamento
Gerando tão somente o sofrimento
Porquanto sem limites, e alto, brade.
Meu dia se transforma e nada aguarde
Sabendo que afinal é muito tarde
Meu canto se perdera noutro rumo,
E o tempo nevoento deixa marcas
E quando em mar suave agora embarcas
Apenas na tormenta eu já me escumo.


014


Da antiga ingratidão que ainda trago
No olhar e dentro da alma, simplesmente
Meu mundo se transforma e quando ausente
Dos dias e dos sonhos este afago,
O quanto desejara e em dor alago
As margens e mergulho inutilmente
Buscando cada fato que apresente
Acumulando apenas tal estrago.
Respiro um ar tranqüilo quando eu creio
No amor onde se encanta e sem rodeio
A vida transformando a cada instante
O quanto poderia haver e nada
Resume dentro em mim a mansa estrada
Que um dia quis comigo e o tempo espante.



015


Algemas que forjei e não havia
Sequer qualquer promessa de união,
As horas noutra face mostrarão
Somente o quanto resta em fantasia,
O dia se transforma e da euforia
Eu vejo tão somente a negação
E tento imaginar a solução,
Porém qualquer promessa a vida adia
Esboço mal traçado e caricato
Sequer um bom momento; inda resgato
Imerso nestes duros temporais,
E quando uma resposta se precisa
Palavra se perdendo em plena brisa
Traduz o que eu pensara: nunca mais.



016


Não devo procurar quem me alente
Nem mesmo algum momento de alegria
E quando a minha sorte poderia
Viver eternidade plenamente
O risco de sonhar já se apresente
E trace com terror e rebeldia
O quanto deste encanto ainda havia
E deixa meu olhar qual penitente.
Preparo última queda e não me esqueço
Do quanto doloroso tal tropeço
Escadaria abaixo, medo e infausto,
Restauro esta verdade, mato o sonho
E assim a cada dia decomponho
Ausento deste estúpido holocausto.


017

O fim da dura pena em solidão,
Gestando outro terror a cada instante
O sonho muitas vezes delirante
Explode novamente e dirá não
O canto sem proveito, a solução
Mergulha no vazio e doravante
Ainda quando muito tente e cante,
O fato se resume; imprevisão.
Ascendo ao mais complexo dos altares
E logo quando ali tu te sentares
Verei às quantas anda a minha vida,
Lutando para apenas ser feliz,
O quanto do impossível sonho eu quis
Já não deixa que eu veja uma saída.


018

Devo lutar, mas vejo que afinal
O risco de sonhar se entranha em mim,
Gerando novamente este estopim
Numa explosão sem par, dura e fatal,
Arcar com cada engano é natural
Ainda precisava ver o fim
Trazendo dentro da alma o quanto enfim
Pudera acreditar ou menos mal.
Mergulho neste mar em turbulência
O amor não mais concede uma clemência
E gesta apenas outra tempestade,
O quanto quis e nada pude ter
Somente os dissabores de um viver
Que a cada novo dia mais degrade.


019



Vejo que à proporção do quanto eu quero
Já nada mais condiz com este fato
No qual a sanidade enfim resgato
Tentando pelo menos ser sincero,
O sonho mesmo amargo, duro ou fero
Revela a solidão deste regato
E o passo a cada dia não resgato
Somente o fim dos sonhos eu espero.
Restando muito pouco do que outrora
Deveras se resiste me apavora,
Já não consigo mais ouvir a voz
De quem se fez além de meramente
No quanto a realidade se apresente
O amor desfaz antigos, firmes nós.


020

Quando os prazeres tecem ilusões
E nelas eu sacio cada verso,
Meu mundo se transforma e já disperso
Delírios entre tantas profusões
De sonhos e terríveis emoções
Ousando mergulhar neste universo
E quando mais nos ermos vou submerso
Deveras mais desnudo tu me expões.
Rescaldos de uma vida onde talvez
Houvesse qualquer messe e se desfez
Deixando para trás qualquer caminho,
Enastro-me deveras no vazio
E quando a realidade desafio,
Percebo quanto sou frágil, sozinho.


021

Cresce a minha aflição a cada dia
Somente pela ausência de esperança
Enquanto o tempo além ainda avança
O sonho se perdendo em agonia,
O amor que eu tanto quis, mera utopia
Reside meramente na lembrança
E aonde se fizesse temperança
Realidade atroz me consumia,
Aguardo um novo tempo, mas sei bem
Que apenas o vazio ainda tem
A força dominando todo verso
E o tanto quanto eu quis e nada existe,
O velho coração não mais persiste
E a voz sem mais sentido, além disperso.


022


O mesmo amor que me enche de ternura
Durante tanto tempo se perdendo
Enquanto prenuncia-se um remendo
Totalidade em sonho; amor procura.
O quanto desta vida me tortura
Nesta insegura face obedecendo
A tempestade eu sinto me envolvendo
E a paz que imaginara não perdura.
Arisco sentimento, o tal do amor,
Esbarra vez em quando e o dissabor
Atropelando o sonho dita o fim,
E enquanto se anuncia nova sorte,
Ainda que tão pouco me conforte
É tudo o quanto existe vivo em mim.


023

Do gosto da alegria, nada resta
Apenas o retrato amarelado
Dizendo de outros tempos, do passado
Aonde só se vê a tênue fresta
O todo quando ao nada já se empresta
Meu rumo sem destino, destroçado,
O vento que pensara abençoado
Prenunciando em mim nova tempesta.
Restauro a fantasia, mas não posso,
O quando desta vida sou destroço
E tramo uma saída onde não tem.
Depois de tanto tempo solitário
O canto desta feita é necessário,
Mas sei que é da verdade muito aquém.


024


Cobrindo com profunda sombra aonde
O tempo se mostrara mais cruel
Tomando cada espaço deste céu,
O sol já não se vendo além, se esconde,
O quanto desta tarde corresponde
À minha vida e sei qual meu papel,
Agrisalhados tons no escuso véu
E quando clamo alguém, nada responde.
Mesquinhos dias dizem desta sorte
E nada mais decerto aqui comporte
Senão este vazio dentro da alma,
Amar e acreditar em nova messe,
Enquanto o céu deveras se escurece,
Apenas esta brisa; além me acalma.


025


Mortal melancolia toma em fúria
O espaço aonde quis felicidade
E quando este terror, na vida invade
Gerando tão somente a vã penúria,
O tempo reproduz a dor e a injúria
O manto se transforma e já degrade
Enfrento sem defesa a tempestade,
Um vendaval emana-se na incúria.
Arcando com as hastes. Sem sustento
Ainda a salvação ao longe eu tento,
E espreito; atocaiado, alguma luz
Que possa clarear este caminho
Marcado pelo medo e tão daninho
E nele toda a sorte que propus.


026

Unindo enquanto fico muito aquém,
Os laços que pudessem me trazer
A força inesgotável de um querer
Aonde na verdade, nada tem,
A vida se percebe em tal desdém
E quantas alegrias; pude ver
Durante a caminhada e o desprazer
Tomando cada passo me detém.
Angustiadamente vejo a tarde
E nada na verdade que se aguarde
Senão este tão gélido delírio
De quem se acostumando com o ledo
Caminho feito em trevas e me cedo
Somente ao mais brumoso e vão martírio.


027


Ao ver-te carinhosa em rua imensa
Expressas outra face bem diversa
Daquela enquanto a vida fora imersa
Nas nebulosas noites, dor intensa.
O quanto deste passo não convença
A quem conhece bem a tão dispersa
Imagem desta atroz dura e perversa
Realidade aonde nada vença.
Somente este fastio dita o rumo,
E quando me anuncio em desaprumo
O canto em discordância segue alheio,
E embora sonhador, o quanto leve
A vida num momento frágil, breve
Apenas esta sombra que rodeio.


028

Como neste infeliz caminho a vida
Trouxesse esta desdita costumeira,
E mesmo quando a sorte não mais queira
Apodrecendo o passo, sem saída,
A cada madrugada a dita urdida
Nas ânsias desta dor mais corriqueira
O risco de sonhar mata a bandeira
E deixa em carne viva esta ferida.
Resulto deste infausto e nele busco
Um dia que eu pudesse; menos brusco,
Seguir os meus princípios, ser feliz,
E o corte se aproxima da raiz
Matando o que restara em esperança
Enquanto a noite em mim, domina e avança.


029


A vida é desditosa para quem
Procura alguma luz; mesmo distante
Aonde cada passo se adiante
Encontro o que deveras não contém
Esbarro nos meus erros e ninguém
Presume novo rumo doravante,
E a queda se aproxima em inconstante
Desejo e dele a vida segue aquém.
Acordo e quando vejo retratado
No olhar de quem amei; o meu passado
Marcado pelas rugas, pelas cãs,
Encontro estas respostas que procuro
Num tempo doloroso e mais escuro,
Mostrando desde agora as sortes vãs.


030


Porém quando adiante o passo e tente
Buscar novo caminho vida afora,
Verdade em tom sombrio me decora
E o tempo se mostrando impertinente,
O fardo onde o nada se apresente
Vergando cada passo, desarvora
E deixa meu destino sem ter hora
Sequer, marcando em dor o quanto alente.
Apresentando a ti meu rumo opaco,
Somente a solidão, bebo e destaco
Raiando em tez brumosa neste céu
E dele nada vindo senão isto
Mergulho no passado e não resisto
Ao turbilhão atroz, duro e cruel.



031

O quanto é perigosa a caminhada
E nela se percebe esta armadilha
Enquanto a solidão, amor palmilha
Depois de certo tempo resta o nada,
E a sorte desta forma desenhada
Prepara a queda enquanto não partilha
Exposto a mais cruel, venal matilha
Minha alma se percebe destroçada.
Registro em todo engodo, um novo dano
E quanto mais decerto eu já me engano
O risco de viver somente aumenta
Explodem sensações, as mais horrendas
E quando na verdade nada entendas
Palavra que me dizes, virulenta.

032



Quando passa suave e mansamente
Aquela que pudesse desenhar
O quanto é necessário e bom amar,
O coração se volta novamente
E bebe desta vida e a paz que sente
Permite claramente se entregar,
Galgando neste instante além do mar
Invade o pensamento, plenamente.
Ausento da esperança quando sinto
O sonho noutro sonho sendo extinto
E morro um pouco mais longe de ti.
Porquanto a minha vida só pudera
Saber neste delírio a primavera,
Percebo o quanto agora envelheci.


033

Com teu jeito em tão nobre poesia
Encontro além da mera realidade
A fantasia plena que me invade
E novo ser decerto geraria,
Mas quando se presume em utopia
O tanto quanto a vida desagrade
E traça noutro tom esta verdade
Matando qualquer luz que ainda havia.
Espelho na tormenta a dor desta alma
E nada com certeza; ainda acalma
A vida de quem tanto desejara
Apenas um momento em paz enquanto
A sorte se transforma e assim me espanto
Ao ver em mim a turva e vã seara.


034

Procuro a inspiração aonde o nada
Persiste e transbordando em ilusão
Traduz as dores fartas que virão
Tornando sem sentido cada estada
Minha alma nesta fúria desenhada
Embrenha-se em temido turbilhão,
E vejo muito além a solução
Vagando sem destino; leda estrada.
À parte quando eu pude ter nas mãos
Momentos de esperanças artesãos
E olhares mais tranqüilos; mas a vida
Prepara; atocaiada um novo bote,
E sem ter nada além, tudo desbote
Trazendo invés de glória, a despedida.

035


Meus sonhos tão convulsos noite afora
E o nada se trazendo por resposta,
O quanto desta sorte me desgosta
A morte em plena vida me devora,
E quando o meu caminho desarvora
Apenas sonegando esta proposta
O corte deixando alma agora exposta
Vontade de ficar e de ir embora.
Marcando com tenazes unhas, garras
Ainda quando busco e não desgarras
Adentras; furiosa, cada encanto
E o nada após o sonho em vão, garanto
Expresso no vazio a realidade
E nela este tormento que inda invade.


036

Tornando sem conforto a minha vida,
Apreende com as garras cada passo,
E tanto poderia, mas desfaço
A estrada noutra idêntica, partida.
E sei do quanto pude e se duvida
O caminhar expressa e sei do escasso
Desenho aonde o nada tento e traço
Ausência a cada instante presumida.
Resplandecente noite do passado
Agora vejo o céu frio e nublado
Neste outonal delírio aonde o canto
Destroça qualquer messe que inda venha,
Moldando cada instante aonde embrenha
Somente o quanto resto em desencanto.

037


Restando mera sombra do que um dia
Pudesse ainda haver dentro de mim,
O todo se perdendo e neste fim
O mundo se transforma e não traria
Sequer a menor sombra de alegria,
Desdéns são costumeiros; sendo assim
Apenas discordância e nisto eu vim
Sondando qualquer luz e nunca havia.
Acreditar no sonho? Que tolice.
O próprio dia a dia me desdisse
Deixando a cicatriz marcada aonde
Um grande amor pudesse imaginar,
E sei da desventura e sem lugar
Meu mundo no vazio ora se esconde.

038


Um triste viajante dos seus dias
Encontra meramente disfarçado
O quanto se pudesse do passado
Viver ainda ledas fantasias,
Desvendo cada passo onde trarias
Os olhos neste tom abençoado,
Mas quando me percebo e desolado
As horas quando muito são sombrias.
Repare neste instante solitário
E saiba deste encanto necessário
A quem se fez poeta e agora vê
A vida sem sentido mais nenhum,
Meu canto se disfarça e é tão comum
Passar sem nem sequer saber por que.

039


Resta um momento morto aonde eu quis
Viver apenas isto: uma ilusão
Enquanto amanhecera sem razão
Meu pranto noutro canto, um infeliz,
A sorte a cada instante contradiz
E sei dos meus tormentos que verão
O canto em dissonância e desde então
Cevando dentro em mim a cicatriz,
Nefasto caminheiro do não ser
Aonde poderia haver prazer
Se nada é permitido; a quem mais sonha
Por isto é que me entrego ao abandono,
E a cada novo dia desabono
Fortuna tão atroz, leda e medonha.


040

Morrer e ter somente esta incerteza
Do quanto ou se deveras devo ainda
No nada após o tanto onde se finda
O rio sem saber da correnteza,
Dos sonhos mais heréticos sou presa
E quando a realidade assim deslinda
O pânico domina e a sorte brinda
Com todo este sarcasmo em sutileza.
Esparso caminhante sabe bem
Do nada que deveras sempre vem
Depois de anunciada tanta festa
Há pouco além de apenas um jazigo
O sonho mais feliz que inda persigo,
Já não traduz sequer o quanto resta.



041


As ilusões tão frias e venais
Entranham dentro da alma de quem sonha
E quando a face escusa da vergonha
Derrama sobre nós; perversos sais
E quanto mais além tu já trais
Percebo a cada passo aonde eu ponha
Esta expressão dolosa e até medonha
E nela meus destinos entre os ais.
Aprendo um pouco mais a cada instante
De um mundo na verdade degradante
Acostumado à dor e ao temerário
Delírio de um não ser aonde um dia
O quanto de emoção se fantasia,
Porém ledo destino é vão corsário.

042


Lavrado coração em ferro e medo,
O quanto deste dia já não vejo
Aonde poderia algum ensejo
Trazer esta ilusão, nada eu concedo,
Apenas aprendendo desde cedo
A dor invés de sonho e de desejo
Assim o meu caminho malfazejo
Expõe a cada passo o desenredo,
O mundo se mostrando sem remédio
A mera fantasia gera o tédio,
E o pânico permite apenas isto,
Retrato em tal desordem construído,
O tempo se perdendo em dor e olvido,
E quando busco a paz, logo eu desisto.

043


Revelo a cada instante em voz tranquila
O quanto possa mesmo ser diverso
Do quadro mais complexo e perverso
E nele cada passo se desfila
Aonde a realidade não perfila
E bebo este caminho mais disperso
Gerado pela ausência e nisto eu verso
Moldando a discrepância em mera argila,
Destoa deste sonho o meu desejo
E quando novamente eu me revejo
Ausente da esperança mais sutil,
Errático delírio se mostrando
E nisto se perdendo desde quando
O mundo noutra face se reviu.

044


A dor quando ultrapassa algum limite
E deixa se notar o quanto ausente
Do olhar este delírio onde se sente
O mundo que pudera e se acredite,
Vencer o mais temido delimite
O canto aonde o mesmo é pertinente,
E sendo desta forma o mais potente
Delírio onde tudo se permite.
Quem sabe noutro rumo a vida possa
Gerar além do medo a própria fossa
E nela num mergulho desumano,
À cântaros presumo novo engodo
E bebo deste sonho em torpe lodo,
E aos poucos sem destino, enfim, me dano.


045


Hei de beber no cálice que imundo
Traduz a minha vida em ato inglório
E quanto mais deveras merencório
Caminho e nele vejo o fim do mundo.
Pudesse acreditar por um segundo
E o todo se transforma em meritório
Delírio aonde o canto provisório
Expressa a realidade e ali vou fundo.
Num ato delicado ou mais gentil,
O mundo desabando quando viu
Apenas o meu fim e nada tenho
Senão a mesma face em dor e tédio
E sem saber sequer se algum remédio
Permita algum delírio ou mesmo empenho.

046


Acaso se inda houvesse alguma chance
De um dia bem melhor para quem ama,
Mantendo mansamente acesa a chama
Aonde o meu caminho tente e alcance,
O todo se mostrando num nuance
A vida renascendo em mesma trama,
Permite o quanto quero e se reclama
Do todo que perdera e ao fim me lance.
Esgarço o passo e nisto nada vejo
Senão tal mesmo infausto de um ensejo
E nele sem permuta, resto alheio.
Tentacular delírio me embotando,
O mundo se permite mais infando
Enquanto esta ilusão, torpe eu rodeio.


047


A morte, este resgate aonde eu tente
Ao menos encontrar a minha paz
Do quanto nesta vida fui capaz
No fato de ser mesmo impertinente
E quando se mostrara plenamente
O enredo noutra via se desfaz,
Gerando o descaminho mais mordaz
E nele me envolvendo, inconsciente.
Apresentando aqui meus derradeiros
Espinhos tão comuns nestes canteiros
E deles nada tendo senão isto,
Resgate de uma vida em vã promessa
O passo logo além já se confessa
E nele sem saída e em vão, desisto.


048


Mergulho no vazio que me deste
E dele nada trago, vou sozinho
E quando na esperança ainda alinho
O tempo noutro fato se reveste,
O manto mais atroz e mais agreste
Cobrindo cada passo e me avizinho
Da morte, derradeiro e sacro ninho
E nela toda a messe já se investe,
O carma se aproxima do seu fim,
E arranco o que restara então de mim,
Medonha face exposta e agora nua,
Marcada com dorida realidade
Pressinto a dor que enfim tanto degrade
Enquanto o meu dilema ainda atua.

049


Angustiado tento outro sentido
E nada se fazendo aonde um dia
Apenas se mostrara esta heresia
De um mundo mais cruel e desvalido,
Resumo de outro tempo percebido
E nele cada passo não traria
Senão tanto problema e sentiria
Meu mundo sem respaldo, consumido.
Esgoto mais um tempo e nada vindo,
Ao menos onde outrora quis infindo
Cenário se transforma neste instante.
E o marco; mais audaz, ainda vejo
Tomando com terror o meu desejo
E a morte se mostrando fascinante.


050


Cansado de lutar já não consigo
Vencer os meus fantasmas e me entranho
Num mundo dolorido e tão estranho
Aonde não se vê nenhum amigo,
O corte se transcorre e enfim persigo
Meu mundo noutro mundo em perda ou ganho
E quando este tormento sem tamanho
Expõe o meu caminho ao desabrigo,
Amortecendo a queda, uma ilusão
Traduz os dias frágeis que virão
E mostra a realidade mais atroz,
Cerzindo em violência o dia a dia
O todo noutra face não veria
Deixando na distância a minha voz.



051



Durante qualquer tempo ainda quis
Pensar e ter a sorte de viver
Além do que pudesse ao bel prazer
Julgando num instante ser feliz,
Mas quando o mundo mostra a cicatriz
E nela sem sentido passo a ver
O dia que julgara a se perder
O tanto quanto possa é chamariz
Da morte sem sentido e nem razão,
Olhando para trás só vejo o não
E bebo da cicuta quando tento
Vestir uma emoção bem mais airosa
E o todo se transforma enquanto glosa
A vida sem sequer um provimento.



052

Estúpido e venal; apenas creio
No trágico final da torpe vida
Aonde a sorte em dores fora urdida
O manto se aproxima do receio,
E sigo tão somente opaco e alheio
E nada desta luz é percebida
Marcando a cada traço outra ferida
E a morte sem defesas, eu rodeio.
Esgoto cada chance em ledo fato
E sei do quanto possa e não resgato
A vida de outra forma senão esta
E o tanto se perdendo no tão pouco,
E olhando sem sentido, quase um louco
Apenas a mortalha inda me resta.


053

Somente me restando então a morte
E nela e dela sorvo cada gota,
A sorte noutra face semi-rota
E o peso que meu corpo não comporte,
Agarro alguma chance, mais sei bem
Da incrível virulência desumana
E o passo no vazio já se dana
E dele nada vejo e nada vem,
Ouvindo dentro em pouco esta palavra
Que tantas vezes tive vida afora,
Somente esta ilusão ainda aflora
Algoz já sem destino, o medo lavra
E deixa preparado meu calvário
Além do que julgara necessário.


054


Marcado a ferro e fogo em carne viva
Não tendo outra saída senão crer
No passo e nele apenas posso ver
A face da incerteza, desmedida,
Resumo tão atroz desta partida
Morrendo a cada instante sem saber
Do todo que virá sem merecer
Somente preparando a despedida,
Exausto caminheiro trilho em vão,
Vagando sem destino ou direção,
Cerzindo cada passo com a dor,
E quando mergulhei no cadafalso
O olhar mais desejado fora falso
E apenas traduzira o dissabor.


055


Encontro o meu cadáver quando tento
Sentir alguma sorte e sei talvez
Que mesmo quando nisto tudo crês
O mar quando se sente é violento,
O passo para o nada, sempre lento
Olhar aonde um dia em altivez
Pudesse perpetrar em sensatez
Agora me condena ao sofrimento,
Alheio ao quanto pude e não teria
Senão a mesma face aonde um dia
O canto eu jamais pude discernir.
O prazo se esgotando sem defesa
Da sorte em vã quimera, mera preza
Apenas prosseguindo sem porvir.



056

Nefasto caminheiro do abandono,
Marcando o meu destino sem tentar
Ao menos noutro estilo caminhar
Enquanto do vazio enfim me abono,
Olhando para trás o tempo clono
E arisco sem saber onde parar,
A morte talvez possa aliviar
O todo sem destino em ledo sono.
Escuto a voz sombria dentro em mim
E gero este demônio quando, enfim
Expresso com ternura alguma prece
Presumo esta quimera dita vida,
E quando já me vira sem saída,
Meu rumo no não ser ora se tece.



057


O canto em discordância, o medo intenso
E quando sem destino a minha ausência
Gerando a cada passo a impertinência
Apenas do não ser eu me convenço
E sei o quanto posso embora tenso,
Jogado nalgum canto em penitência
A vida não teria mais clemência
E o mar aonde adentro agora, imenso,
Sem horizonte algum, percebo quando
O mundo noutro tanto se traçando
E nem mais um sinal do quanto pude
Viver ou desejar quem sabe a luz
E quando o coração já não seduz
A própria realidade nunca ilude.


058



Desculpe qualquer zelo aonde um dia
A vida não traria novo rumo,
E quando aos poucos perco e assim me esfumo
O manto na verdade desfaria
O canto que procuro; o de alforria
A morte tomaria logo o prumo
E assim a cada engodo; inteiro, o sumo
Minha alma sem defesas sorveria.
Incauto passageiro deste nada
A sorte noutra face degradada
Aprendo com a dor, mas mesmo assim
O todo se dilui enquanto eu posso
Viver o que inda resta, e sou destroço,
Meu mundo se aproxima então do fim.



059

Presumo cada passo e mesmo quando
A queda se anuncia não me canso
E tendo o coração deveras manso
Pressinto o meu caminho desabando,
Os dias mais doridos, ledo bando
E nada do que possa ainda alcanço
Procuro tão somente algum remanso
E desta forma então irei remando,
Enfrento estas marés do dia a dia,
O mundo noutro instante poderia
Trazer em benefício aonde eu vejo
Caráter tão diverso do que outrora
A mente desejava e não demora
Expressa o quanto aquém disto eu prevejo.




060



Estrídulos diversos; noite em medo
E tento descobrir qualquer razão
Sabendo desta vida agora em vão
E mesmo assim decerto eu me concedo
E bebo do silêncio e sem segredo
O mundo não transporta a solução
E até nos novos tempos que virão
O risco de sonhar trama o degredo,
Desértico delírio e nele eu passo
Seguindo mansamente passo a passo
Até chegar ao fim da velha fase,
E quando se anuncia o meu tormento
Deveras outra fúria enfim enfrento
E a vida da verdade se defase.


61


Aumenta-se o tormento quando eu vejo
A face desdenhosa da verdade
E o quanto a cada ausência se degrade
Vivendo a realidade a cada ensejo
O dia dolorido e malfazejo
Aonde se vislumbra a tempestade
E quando este terror agora invade
Estendo no meu passo este negrejo
Pudesse acreditar noutro momento
E nada mais teria senão isto
E quando a minha sina; em vão despisto
Restauro nos meus egos o tropeço
Quem sabe novamente ser feliz
E nisto desejar o quanto eu quis
E ter além da glória este adereço.


62


Se eu deixo de dizê-lo, o verso ecoa
E traça outro demônio dentro em mim,
Depois de resumir meu mundo ao fim
Procuro insanamente esta canoa,
Palavra que em verdade já destoa
E gera a mansidão e diz do fim
Sorvido a cada gole deste gim
Embrenho no vazo e além revoa
O quanto se aproxima do real
Num êxtase sublime e sem igual,
Demonstra para mim a nova face
De um mundo aonde outrora poderia
Cerzir em alegria esta utopia
E nela a luz bendita ainda grasse.


63


Menino passarinho, coração,
Traquinas já não tendo mais juízo
E quando neste encanto enfim matizo
Renasço com a força de um verão.
Meus olhos adivinham desde então
O todo desvendo em Paraíso
E assim nesse jardim aromatizo
No incenso mais suave, a redenção,
Favor quase divino ao fim da senda
Meu canto nesta glória já desvenda
O sonho não seria um adereço,
E tendo o teu olhar, mesmo tardio
A minha primavera em paz recrio
E mesmo se não vens; eu te agradeço.

64

Meu canto; no passado solitário
Sem tanto aonde encontre uma ancoragem
Agora me entranhando esta vontade
Aonde o peito aberto é necessário,
Meu passo com certeza temerário
Encontra na ternura esta abordagem
E segue sem temor; rara viagem
E nela o sonho dita o itinerário
A vida permitindo então esta aula
Trazendo a suavidade nela a Paula
Reinando sobre os sonhos outonais
Permite que se enfrente os vendavais
Tomando defesas a minha alma
E quando o teu sorriso em paz me acalma
Expressa o quanto desejo e mais.

65

Quis a sorte aonde um dia
Andarilho coração
Já cansado desde então
Nada enfim conseguiria
Bebe a tramas mais vazia
E decerto a sensação
Rescendo à podridão
Noutra face se veria,
O meu rumo em tons sombrios
Os meus cantos desafios
E nefasta a realidade
No jazigo da esperança
A palavra não alcança
Tão somente se degrade.


66


Alcançar qualquer lugar
Onde um dia imaginara
A beleza imensa e rara
E nada vendo a me traçar
Outro canto onde escutar
A palavra que escancara
E traduz além da escara
A certeza de um luar;
Mas cansado de promessa
O meu passo recomeça
E não vendo qualquer porto,
O que fora fantasia
Noutra face se esvazia
Esperança enfim aborto.

67

Aguardando o fim da vida
Nada tenho e nem teria
A verdade mais sombria
Outra estrada já perdida,
A palavra resumida
Onde outrora uma alegria
Tantas vezes poderia,
Mas resume a despedida,
Ouço a voz do meu passado
Neste tempo desolado,
Num herético caminho,
Entre tanto pedregulho
Na verdade se mergulho
O que encontro é mais daninho..


68


Esquecendo que outros dias
Poderiam ser diversos
Entre tantos mais perversos
Meu caminho; não farias
Morro em sonhos, fantasias
E são torpes os meus versos
Neles sirvo em agonias
Os retratos mais fiéis
Destes dias tão cruéis
Onde tento a redenção,
Num errático percurso,
Entre as pedras teimo e curso
E amortalho o coração.


69

Esquecendo qualquer passo
Onde outrora vira a luz,
O vazio reproduz
Um cenário torpe e baço,
Quando além teimo e refaço
Este espaço em contraluz
O delírio gera o pus
E traduz o meu cansaço,
Navegante sem destino
Quantas vezes mal domino
O desejo que inda resta,
O medonho navegar
Em espúrio e tosco mar
Sem ternura ao vão se empresta.


70


Nesta adaga em que este gume
Expressara esta vontade
Onde o todo já degrade
E no fim a vida escume
E traduz como em costume
A temida iniqüidade
Esta pútrida verdade
Onde o mundo agora esfume,
Retratando a raça humana
O meu verso enfim se dana
E permite este vazio
Nele a face degradada
Condenada ao mesmo nada
Traz somente o vento frio.




71

Envergonho-me de ser
Desta raça mais voraz
E o caminho sempre traz
Ermo fardo em desprazer
E ao me dar a conhecer
Se também eu sou mordaz,
O delírio agora faz
O sofrível percorrer
Nesta espúria realidade
Onde o tempo desagrade
Quem se fez além de tudo,
A verdade não se trama
E o que fora outrora chama
Noutro rumo não mais mudo.

72


Esperando alguma luz
Onde a sombra doma inteira
E a verdade não se queira
Quando à sorte eu já me opus
O meu barco eu contrapus
Ao que fora uma bandeira,
A minha alma timoneira
Ao caminho não faz jus.
Vivo então residualmente
E o meu mundo se desmente
Noutra face mais sombria,
Morte tanto me redime,
E por mais que ainda estime
Outro sonho eu não teria.



73


Ansiolíticos diversos
Entre tantos que inda pude
Ao traçar esta atitude
Nela os ermos; vejo imersos
E momentos mais dispersos
Na certeza nada mude
Amortalho a juventude
Bebo dias mais perversos,
Só restando o tumular
Desejado caminhar
Entre as flores e os espinhos,
Os meus dias sobre a terra
A verdade logo encerra
Foram todos vãos mesquinhos.


74


Caminhando contra a fúria
Deste imenso vendaval
Dia vejo e sempre igual
Cada passo nova injúria
E deveras na penúria
Aguardando o funeral
Alma vaga em tolo astral
Bebe as sendas desta incúria
Amordaço a minha voz
E percebo em frágeis nós
O que um dia quis mais forte,
Sem ter nada desde quando
O meu canto deformando
Cada sonho em vão aborte.


75

Expressando a invalidez
De um satânico caminho
Quando sigo em tom mesquinho
O meu canto se desfez,
Realizo a cada vez
O mergulho em vago espinho
E se tanto desalinho
No final já nada vês.
Bem pudera ser diverso
E se tanto ainda verso
Sobre as pedras, nada resta
A não ser esta incerteza
Dominando a correnteza
Numa face desonesta.


76


Eu se nada represento,
Também nada mais queria
Tão somente esta heresia
Vil ditame em sofrimento,
Enfrentando em mim o vento
Numa noite etérea e fria
O meu passo se esvazia
Nada resta em pensamento,
Num mosaico multicor
Apresenta-se este albor
E deveras sigo assim,
Prenuncio a queda quando
O meu mundo se tornando
Tão igual, começo e fim.


77

Presencio a minha queda
E cercado pelos tantos
E temidos desencantos
O meu passo então se veda,
E a verdade se envereda
Pelos dias, geram prantos
E se ainda quero encantos
Ilusão já não mais seda,
Apresento esta mortalha
Quando ao vento a voz se espalha
E ninguém escuta o brado,
Vate alheio em torpe lira,
O meu canto já se atira
Num momento desolado.

78


Expressando em tom atroz
O meu canto discordante
Onde a vida não garante
Nem sequer o logo após
A mortalha dentro em nós
O meu canto deslumbrante
Meu delírio me adiante
E se embrenhe em tom atroz.
Acenando com o fim
Onde tudo dentro em mim
Não pudesse ser complexo,
Caminheiro da esperança
Quanto o nada vendo alcança
Persistindo enfim perplexo.


79


Esgotando o verso em paz
Demoníaca figura
Onde o nada se aventura
Num momento mais tenaz
O caminho ora desfaz
E gerando esta amargura
Mesmo quando não tortura
A verdade nada traz,
Resumindo o quanto pude
E moldando outra atitude
Tento embora já me canse,
Deste encanto imaginário
Tão somente o necessário
Desnudando algum nuance.


80

O meu mundo se perdendo
Noutro rumo tão igual,
Neste passo mais venal
O desejo diz remendo,
E o caminho mais horrendo
Entranhando este fatal
Onde o sonho diz final
Do que um dia percebendo,
Vago alheio ao quanto pude
E se tento tal magnitude
Atravesso o descaminho
Resoluto caminheiro
Entre pedras, e espinheiro,
Persistindo assim, sozinho.



81


O meu verso sem guarida
O meu sonho desenhado
Nos medonhos do passado
Nova sorte resolvida
Onde outrora houvera vida
E somente este legado
Noutro passo desolado
Traça a sorte desmedida,
Resoluto enquanto eu posso
E sabendo ser tão nosso
O sertão que agora entranho
O meu passo sem destino
Na verdade determino
Onde outrora houvera ganho.



82


Respondendo como pude
Aos meus erros costumeiros
Entre tantos espinheiros
O meu passo já se ilude
E deveras juventude
Não traduz os derradeiros
E intocáveis; mais useiros
Em completa magnitude;
Quanto mais pudesse ver
O mais belo amanhecer
Sem as nuvens, brumas fartas
O cenário se transforma
Em temida e turva forma
E dos sonhos tu me apartas.

83



Se encarcero o pensamento
Onde tanto quis liberto
O meu canto não desperto
Mesmo quando o sonho eu tento,
E domino o sofrimento
No delírio onde me alerto
E deveras já deserto
Entregando o canto ao vento,
Nada pude contra a fúria
De quem sabe da penúria
Contumaz de quem espera
Muito além do mero trilho
Onde insano inda palmilho
Revivendo esta quimera.

84

Num louvor a quem se fez
O cordeiro em sacrifício
O meu manto em santo ofício
Não permite a sensatez,
O caminho estupidez
Onde outrora a cupidez
Impedira o precipício
Mas demônios mais modernos
Em tais galas, finos ternos
Expressando o dia a dia
Engalana enquanto engana
E o meu mundo em tez profana
Morre envolto na heresia.

85


A certeza de outro norte
Muitas vezes não permite
Qualquer sonho nem palpite
Onde o passo se comporte,
O delírio doma a sorte
E o que fora e não limite
Inda mais quando se grite
Na incerteza não conforte,
Venço assim os dissabores
E por onde tu te fores
Flores vejo em raros tons
Dias ledos do passado
Num jardim anunciado
Traz em nós sobejo dons.

86


Ouvir a voz dorida e merencória
De quem se fez alheio e num momento
Desvia o próprio rumo de uma história
Enquanto noutro fato me alimento,
Pudesse acreditar numa vitória
E ter a cada passo o sentimento
Aonde na verdade busco e tento
Singrar este oceano e crer na glória
A vida se presume desta forma
O passo mais audaz tudo deforma
E gesta dentro em mim o pesadelo,
Meu canto sem sentido e sem promessa
A cada novo fato recomeça
E não consigo mais seque detê-lo.


87


Abrindo o peito exponho o quanto pude
E nada mais se traz senão tal medo
E quando novo canto me concedo
Marcando em tom atroz a juventude
A sorte na verdade não ilude
Espalho ao quatro ventos o segredo
E sei que condenado a vão degredo
A dor apresentando em magnitude
Esboça qualquer erro e não conserta
Minha alma estando sempre mais alerta
Já não condiz com tudo o que quisera
Nesta explosão venal, o quanto resta
Adentra firmemente pela fresta
Alimentando assim toda a quimera.


88

Perdoe por te amar, já não consigo
Vencer os meus anseios, e me afasto,
O coração exposto a tal repasto
Extrai de cada sonho o desabrigo
E quando na verdade assim prossigo
Erguendo o meu olhar, em ar nefasto
O meu delírio agora enfim já gasto
Restando dentro em mim o que persigo,
Antigos vendavais a vida enfrenta
E bebo a dolorida tez sangrenta
E nela não percebo outra saída
O quanto se permite um sonho além
Do quanto ainda resta e mesmo vem
Marcando em dissonância a minha vida.


89


Ecléticos caminhos, rumos tantos,
E neles os prováveis erros quando
A vida se transforma e desnudando
Apensa tão somente os desencantos
Procuro os meus sinais e pelos cantos
O todo noutra face desmembrando
O dia que pensara bem mais brando
Agora entranha em si dores e prantos
Acendo outro cigarro e desta forma
A vida noutro engodo se transforma
Mesquinharias tomam o cenário
E o quanto imaginei em rara luz
Apenas ao vazio me conduz
Num passo sem juízo e temerário.


90

A fonte se secando aonde um dia
Pudesse haver fartura e nada vejo,
O coração decerto malfazejo
Enquanto a realidade não se adia
Esgoto o meu caminho em poesia
E aproveito assim a cada ensejo
Narcotizando o sonho em heresia
E nada do que eu quis mais poderia
Senão a mesma face de um desejo
Vergada sobre as dores mais constantes
E quando novo rumo me garantes
Esboço com meus versos outro fim,
A morte se transforma em redenção
Meu mundo sem sentido e provisão
Expressa da mortalha este estopim.



91


O talvez seja impossível
A quem tanto quis e nada
Da vontade demonstrada
Deste sonho incoercível,
O meu mundo perecível
Onde houvera a caminhada
Traz a noite constelada,
Mas também o inconcebível
Depois disto, resta o fardo
E o meu passo; então retardo
Volto ao mesmo precipício
Que cavara com meus pés
E se tenho minhas fés
As renego desde o início.


92


Sordidez; somente eu visto
Nos momentos onde eu pude
Realçar em atitude
O que tanto trago disto,
Caminhar onde resisto
E matando a juventude
Onde cada passo ilude
E o final ora previsto
Residindo em meus versos
Tantas vezes mais dispersos
Outras; cegos e clementes
Ao cerzir a vida então
Entre as ânsias do senão
Pouco; vês e nada sentes.

93


Da mortalha condizente
Com meus últimos sinais
Entremeio os funerais
Com a força da semente,
O passado se consente
Entre tantos vãos sinais,
E deveras logo esvais
O que resta e fora gente.
Esbarrando nos meus erros
Revolvendo meus aterros
Nada encontro, senão isso,
Um terreno movediço
Onde a sorte não se ancora
Só a certeza de ir embora.



94



Rastejante serpe eu creio
No que tanto quis um dia,
E ao sentir esta agonia
Bebo as sendas de um receio,
Entranhando em devaneio
Cada dor é poesia,
E o que tange não podia
Traduzir ao quanto veio,
Esbarrando no meu ego
A cangalha que carrego
Em tons vários e indecentes
Onde tanto quis liberto
O cenário que deserto
Nele; o fardo tu pressentes.


95

A mortalha que há em mim
Noutra face se exporia
E transcende à fantasia
Morro em paz; mato o jardim,
O que tanto fui ao fim
De um momento aonde urdia
O cantar em agonia
E o meu cais; ausente enfim.
Hoje um mero sonhador
Adentrando espúria dor
Nada leva senão isto
O cenário mais atroz
E decerto existe em nós
O final que aquém assisto.


96



Já não posso mais sentir
Nem os ermos nem certezas
Onde tento em vãs surpresas
Perceber o que há de vir,
Cada engodo presumir
Nas espúrias correntezas
As verdades, meras presas
Do que eu posso concernir.
Abandono o passo e morto
Sem saber se existe porto
Realçando os meus demônios
Não nasci para o convívio
Se esta morte for alívio
Nela os ricos patrimônios.


97


Esboçando qualquer luz
Onde a treva se transforma
Em ditame regra e norma
Noutra bruma reproduz
O que tanto me conduz
E deveras me deforma
Gera além da própria forma
O que tanto contrapus.
Mero náufrago do tempo
Em terrível contratempo
O meu cai já não percebo,
Vivo apenas deste errático
Desenhar em senso prático
Cada fonte que recebo.

98

Espreitasse na tocaia
Quem eu sinto não veria
E se entranho a fantasia
O caminho já se traia,
Ao perder noção, sem praia
Vou me expondo à ventania
Minha noite escassa e fria
Outra noite em leda praia,
Mesquinhez, ditame humano
E se tanto eu já me dano
Coração persiste em paz,
Vez por outra me exaltando
No final retorno brando
Já não sei ser nem audaz.


99


A matilha me rodeia
É deveras natural,
Menos bem ou até mal
A certeza devaneia,
A minha alma segue alheia
Ao que pude ou sempre igual
Desejar e ver sinal
De outro tempo em nova teia.
Sigo errático caminho
E se tanto ali me aninho
Nada tenho contra a sorte
Nem tampouco pude crer
Num tão claro amanhecer
Onde o sonho me suporte.


100


Sou errático e por isso
Na verdade incoerente
E o que tento e já se ausente
Traduzindo em movediço
Caminhar onde cobiço
Pelo menos inda tente
Perceber o inconseqüente
Delirar em baço viço,
Os meus dias são iguais
E se os tenho tão banais
Nada resta do que eu quis,
O meu passo se perdendo
Onde outrora fui remendo
Hoje resto este infeliz.

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