terça-feira, 20 de julho de 2010

42401 até 42500

001

Um espectro somente toma a casa
Vagando pelos ermos deste quarto
E quando da esperança morto e farto,
A vida noutra face já se embasa,
A morte se aproxima e tudo abrasa
Da fantasia além, decerto eu parto
E cada verso meu, hoje descarto
Na farsa onde o meu passo enfim se atrasa.
O risco consonante com a ermida
Legado deste tempo em discordância,
Apenas o delírio, esta distância
E a face decomposta e carcomida
Expressa o que deveras inda resta
Da mera garatuja vil, funesta.

002

Da mera garatuja vil, funesta
Apenas este olhar ainda vive
E quando noutro rumo alheio estive
Não vira nem sequer a mera fresta
O corpo apodrecido não contesta
Vazio de alegria ora me prive
A fria adaga agora o tempo crive
A morte noutra face já se atesta
Repercussões diversas, mesma história
E a sorte desprovendo, merencória
Resume o que inda tenho; mero ocaso,
E quanta vez eu cri ser mais plausível
Cerzir outro caminho aonde, incrível,
O olhar se perpetua em tal descaso.

003


O olhar se perpetua em tal descaso
Negando qualquer passo ou mesmo sonho,
Ainda sendo assim tosco e bisonho,
Da morte, não renego, ora me aprazo,
Ao cinzelar a vida em vão momento
Empedernida sorte se apresenta
E bebo da fatal e virulenta
Figura aonde; em treva eu me fomento.
Resulto de algum frágil caminhar
Por entre tempestades mais sombrias,
Porquanto tantas vezes fantasias
Delírios de outro rumo em calmo mar,
Esplêndidas manhãs? Não mais as vejo,
O tempo se transforma em tal negrejo.


004

A sombra do que fora algum instante
Aonde eu poderia ter em mente
O olhar que se transtorna de um demente
E nada se adianta; degradante,
Por mais ou mesmo até se eu adiante
A queda prenuncia e plenamente
Exposto ao mais temível se apresente
O mundo em turbulência doravante.
Escárnios costumeiros, mera sombra,
O fato de viver decerto assombra
Quem tanto se esvaída sem sentido,
O campo se desnuda em vil batalha
A sorte desairosa ora se espalha
A solidão precede o vago olvido.


005


Já não me bastaria acreditar
Somente nos erráticos anseios
E sei dos meus caminhos, vãos e alheios
Bebendo desta fonte a me fartar,
Aonde poderia divagar
Os riscos se apresentam nos meneios
E tanto me perdera em devaneios
A morte se tecendo devagar.
Crivado pelas ânsias de um momento
E nele; em descaminho dessedento
Mesquinha voz emana deste peito,
Amortalhado e pútrido perfaço
O tempo em solidão; procuro espaço
E em pleno turbilhão, enfim me deito.



006


Meu verso se formando neste caos,
Decifro os meus demônios corriqueiros
E tento desafios costumeiros
Tentando dias claros, mas são maus.
Ancoradouro ausente destas naus
E as flores apodrecem nos canteiros,
Em fronteiriços ermos, derradeiros
Momentos representam tais degraus.
Acréscimos de tempo? Mero sonho.
Exumo cada engodo, mas medonho
O vasto de meu ego se desnuda,
E a sorte com faceta mais cruel,
Derrama sobre mim o farto fel
Nem mesmo uma esperança inda me escuda.


007

Tentando decifrar qualquer momento
Esgoto os meus sentidos, ermo ou morto,
E quando se precisa de algum porto
O velho coração entregue ao vento,
Por vezes noutra senda ora me alento
E sinto mais que mero e tosco aborto,
Caminho tantas vezes longo e torto,
Traçando nos seus ermos, sofrimento.
Errático cometa vago só
A cada engano o peso desta mó
Estraçalhando o sonho em mil pedaços,
E os dias onde outrora pude ver
Sinais de algum segundo de lazer
São frágeis ilusões em dias baços.

008

Excêntricos, deveras os poetas,
E neles não se vê realidade,
A fantasia quando mais invade
Em frases mais diversas te completas,
E neste caminhar tu já repletas
O olhar em fusca ou mansa claridade,
Porém é necessária a liberdade
A vida não se faz em rumos, metas.
Nascendo por si só, meu verso vaga
E tenta qualquer luz, temor e adaga
Resiste aos meus anseios e sozinho
Adentra esta nascente sem pedir
E toma num instante o meu porvir,
Gerando ou destroçando qualquer ninho.

009

Dos erros mais comuns, o sonho dita
Os tantos virulentos dissabores,
E sei das primaveras sem as cores
E a sorte se apresenta em tal desdita,
No ouro de tolo, tento uma pepita
Esbarro nos meus vários desamores
E sigo sem sequer mesmo te opores
Aonde o sol jamais em paz reflita.
Explicações; não quero e não se dão,
Apenas o meu carma e a direção
Exposta em luz tão tétrica e sombria,
O olhar se perde além e nada vindo,
O tempo de sonhar agora findo,
Talvez inda me reste; a poesia.


010


Esgarço cada sonho em tom cruel,
Restauro vez em quando um canto quando
O tempo novamente desenhando
As nuvens mais escuras neste céu,
Arrebentando enfim bisonho véu,
O mundo num cenário mais nefando,
Sangria a cada instante derramando
O sonho sem destino, morto ao léu,
E sigo cabisbaixo pelas ruas,
Estrelas que desejo; raras nuas
Apenas meros tons de pirilampos,
Os fardos que carrego em tom soturno
A vida se negando a cada turno,
Invadem meus olhares, turvos campos.


011

Escuto a minha voz em meio ao nada
E tento refletir o que não era
Fortuna tão diversa destempera
E mata o que pudesse ser da alçada
Minha ânsia noutra face desenhada
E o coração aos poucos bebe a fera
E trama do vazio o que me espera
A morte a cada farsa desdenhada,
Pudores em sonhar? Não mais alento
E sigo a tempestade e enfrento o vento,
Mas sei deste cansaço dominando
E sinto o quanto perco enquanto invisto
No olhar sem direção e penso nisto
E as fantasias? Mortas. Turvo bando...


012




Profundo mar; aonde encontro a paz
Depois de tantas lutas sem descanso,
Apenas este abismo, quando alcanço
Algum alento ao menos já me traz,
As sendas mais escusas, num mordaz
Delírio de quem fora até mais manso,
O tempo perpetrando a dor e o ranço
O vasto do oceano satisfaz.
Quem sabe noutro instante eu poderia
Até tentar diversa sorte; a vida
Expressa em trauma e medo esta agonia
E deixa apenas isto e nada mais.
Da enorme fortaleza em mim erguida,
Somente restam poucos, vãos sinais.


013

Entre ondas turbulentas, levo o barco
E sei que no final não restaria
Sequer o amanhecer em claro dia,
Se as dores desumanas; sempre abarco,
O quanto imaginara e foi tão parco
O olhar se perde em tons de hipocrisia
Ao menos o que eu vejo, uma ironia
Com dissabores fartos, sei que eu arco.
O canto em tons sombrios e diversos,
A falta de carinho nos meus versos,
A velha melodia em tons tristonhos.
Vetustos caminhares ditam sonhos
E deles nem a sombra da esperança
Enquanto a vida ao léu, atroz, avança.

014


Os nossos pensamentos se perdendo
Envoltos em alentos e em detalhes,
E quando a realidade tu retalhes
Não vejo nada mais do que um remendo.
O quanto ser feliz não mais se vendo
Aonde não pudesse tanto falhes
E mesmo em dissabores tu batalhes
Tentando perceber um dividendo.
Olhares se esvaziam no horizonte
Sem nada nem sequer onde se aponte
A turbulência inclusa em turvas brumas,
E quando te procuro, não estás
Quem sabe no final, apenas paz
Já que para o vazio também rumas.


015


Um coração liberto em oceano
Jamais recuaria em tais procelas,
E quanto mais ferozes fossem elas
Audacioso olhar gestando um plano,
Mas quando a cada dia mais me dano
E apenas o vazio; tu revelas,
Adentro sem defesas ermas celas,
Num sofrimento tosco e desumano.
Erguendo o meu olhar buscando além
Do quanto ainda tento e nada vem
Somente as calmarias modorrentas.
Aonde poderia haver o amor,
Colhendo em duro estio o dissabor
Enquanto um mar diverso; em ti, enfrentas.

016


A brisa que nos toca ao fim da tarde
Já não comporta mais alguma luz,
E o lusco fusco imenso se produz,
Aonde a lua intensa o sonho aguarde,
Neste outonal caminho já retarde
O passo que ao vazio me conduz,
E o quanto desta inércia ora me opus
Num coração que nunca se resguarde.
Queria caminhar em passos fortes
E ter no anoitecer os novos nortes,
Mas nada se apresenta em tal fastio.
E a noite se aproxima sem sinais
Tão morna e pachorrenta. Os vendavais
Apenas nos meus sonhos inda crio.


017


As ondas que eu buscara em turbulência
Poéticas visagens, quem me dera.
O quanto do vazio já tempera
A vida sem sequer tais ingerências.
Marasmo toma conta em inclemência
E o risco do não ser toma e apodera
Se um dia imaginara alguma espera,
O dia a dia gera a impaciência.
Não quero esta masmorra tão sombria,
É necessária a luz e a fantasia
Mesmo no fim já próximo e banal,
Jamais imaginei na hibernação
O sonho aposentado em mero não.


018


Furores sobre pedras, duras rocas,
O mar que existe em mim sonha demais,
E quando gera falsos temporais,
A solidão a dois; vens e provocas,
Guardados mansamente, ledas tocas
Os dias se repetem; tão iguais
Sem ritos gigantescos, são formais
Enquanto para além já não deslocas.
E a vida se entregando a tal marasmo,
Aonde quis procelas, ventanias
Apenas tão somente mostrarias
O olhar apiedado num sarcasmo
Doloso e dolorido, nada além
Do caminhar seguro que a convém.


019


Se no passado além dos seus mistérios
A mocidade trouxe este caminho
De inércia e se mostrando mais mesquinho
Obedecendo aos trâmites, critérios.
Não quero a gelidez de tais minérios,
Melhor seria até o pleno espinho,
O quanto deste mundo é tão mesquinho
Em dias na verdade; quietos, sérios.
Ausência de momentos turbulentos
Na falta de diversos incrementos,
A morte se anuncia em redenção.
Queria muito mais do que este ocaso,
O tempo mais mutável; tanto aprazo
E ao fim a calmaria molda o vão.


020


Imensos mares; quis, pois timoneiro
E o tempo não me trouxe esta alegria,
A vida se ultrapassa e não traria
Sequer um passo além, bem mais ligeiro,
O dia a dia em traje costumeiro
Não tendo noutra face fantasia
Enquanto se desfaz no dia a dia,
A inércia toma conta por inteiro.
Esgarço sem caminhos meu futuro
Já não suporto mais e te asseguro
A vida em tons terríveis de rotina,
Quisera outra ventura, mas deveras
Apenas o marasmo; tu me geras
E a falta de emoção tanto alucina.


021

Na luta mesmo quando no repouso
As tramas se concebem mais doridas
Ao penetrar nos âmagos das vidas
O sonho em algum canto eu tento e pouso,
Amargas ilusões, dura constância
Erráticas veredas quando entranho
Por vezes imagino qualquer ganho
Embora este temor em nova instância
Seguindo rumo ao fim, tentando ao menos
Vencer os meus terrores e sentir
Qual fosse esta esperança um elixir
Preconizando dias mais amenos,
Ao mergulhar e nada ter em troca,
A solidão em mim, enfim se aloca.

022

Humilhações diversas vida afora
Em êxtases sublimes, vãos medonhos
E quando penetrando em vagos sonhos
Uma ilusão deveras já se aflora,
E o tempo se desnuda e tenta, embora
Os dias possam ser mais enfadonhos,
E tento em meus alentos mais risonhos
Enquanto a realidade desancora.
Aprendo a navegar em tais procelas
E quando algum momento; em paz, revelas
Esboço qualquer mera solução,
E tento prosseguir contra a maré
E vivo tão somente por quem é
Descrevo a cada passo, a solidão.


023

Nossa existência traz em si dilemas
E neles busco alguma explicação
Sabendo dos momentos que virão
Talvez em liberdade tu não temas
Enquanto em mim somente tais algemas
Moldando a dura e turva sensação
Das tramas mais audazes, a emoção
E nela se transcorrem meus problemas.
Arestas a podar, a vida trama
E neste caminhar inerte drama
Esgoto cada cena em volta ao sono,
E trago ao meu olhar este fastio
E nele revolvendo o quanto crio
Gerado pela dor, pelo abandono.

024

Blindagens que esperança vez em quando
Prepara qual escudo a quem porfia
Moldando novo espaço e a poesia
Num sólido caminho se formando,
Por tanto que pudera e desando
O verso na verdade não traria
Sequer a menor sombra de alegria,
No manto mais escuro me tocando.
Resumos de momentos mais diversos
Adentram sem defesas os meus versos
E tentam tão somente alguma luz,
Mas tétrico fantoche eu me detenho,
Por mais que ainda lute, e sou ferrenho,
O resultado ao nada me conduz.


025


Quisera algum momento onde eu pudesse
Ao menos desvendar alguma estrada
Depois de tanto tempo em madrugada
Vazia sem saber de qualquer messe,
O passo na verdade não se tece
E molda a senda dura e abandonada,
A morte se aproxima na calada
E traz a redenção de mansa prece.
Olhando para os lados, vejo apenas
As tramas onde tanto me apequenas
E traças sem pudor o cadafalso,
Aonde quis um dia ao menos leve,
O passo no vazio não se atreve,
E as tantas ilusões, decerto eu calço.


026


Dos gozos variados, riso e pranto
Os dias se compondo em sordidez
O amor quando decerto se desfez
Trazendo a tez sombria onde garanto
O medo de seguir, o leve espanto,
A imensa solidão na insensatez,
E o quadro embolorado aonde vês
Retrato tão dorido em desencanto.
Esbarro nos meus erros e prossigo
Tentando adivinhar, nada há comigo
Senão as mesmas sombras de um passado
Marcado pelas dores e vergastas
E quando dos meus dias tu te afastas,
A mancha da mortalha é meu legado.



027


Quem poderia ao menos desvendar
As plagas mais atrozes, vida em vão,
E quando se aproxima outra estação
Cenário se transforma devagar,
O medo de seguir ou de ficar
A perda se traduz em solução
O caos gerando em nós a solidão
Rapina; eu sinto ao longe a revoar,
Detalhes destas vidas onde o tanto
Pudesse ser diverso, mas entanto
O mundo não transmite outro cenário
Senão a solidão e nela tento
Vencer o turbilhão, no imenso vento,
Porém perdendo aos poucos o estuário.


028


Os sonhos que me deste noutras eras
Puderam alentar cada momento,
Mas quando do não ser eu me alimento
Tentando prosseguir aonde geras
Somente a solidão, vivas panteras
Num bote mais aflito, em desalento,
Sementes do que posso em sofrimento
Marcando últimas cenas, primaveras.
Esgoto o meu caminho no non sense
E quando alguma luz inda convence
Vencido navegante da esperança
Ao léu sem rumo errático cometa
O quanto de alegria se prometa
No nada em resultado, a vida lança.

031

Segredos que esta vida nos esconde
E tento desvendar embora saiba
Do quanto na verdade ainda caiba
E nisto o coração já nem responde,
Marcado em tatuagem, cicatriz
Herdado de um passado tão sombrio
Por vezes novo passo eu desafio
E tento conseguir o que não fiz,
Mas perco minha luta e tão somente
O sonho se esvaindo sem sentido,
O amor há tanto tempo em tal olvido
Agora noutra face se apresente
E mostre a realidade deste outono,
Aonde no vazio eu desabono.

032



Falar das ilusões e amores vis
Que a vida gera e mesmo assim prossegue
Porquanto o coração jamais sossegue
E tenta imaginar bem mais que eu quis,
O risco de viver, e por um triz
O passo que a verdade já sonegue,
E o tumular anseio me carregue
Ao quanto em cada passo enfim desfiz.
Não peço e nem pudera num instante
Saber o que deveras se garante
No vago desenhar de um desalento,
E quando mesmo assim já não desisto,
O todo quando resta vejo nisto
Exposto sem defesas, solto ao vento.


033


Chorando quando a noite em solidão
Traduz o costumeiro desafeto
E quando do vazio eu me repleto
Singrando sem saber se inda virão
Momentos mais tranqüilos na estação
Aonde o tempo esgota; ledo feto,
E o sonho como fora um vago inseto
Vagando em qualquer luz e sempre em vão.
Escárnios que acumulo nesta ausência
O amor não se produz em penitência
E gasto todo o tempo procurando
Algum esteio aonde me apoiar
E sinto esta inclemência, par a par
Com todo o meu futuro duro e infando.


034


Perfume que de outrora me tocara
Trazendo em sordidez a face escusa
De quem se procurando não mais cruza
A sorte desdenhada em tal seara,
O passo quando a vida se prepara
E nele a solidão gera a confusa
Paisagem onde o nada se entrecruza
E a morte a cada dia se escancara,
Arcando com meus erros, tento além
E sei dos meus demônios quando vêm
Gestando este vazio por herança
E o prazo determina o fim da estrada
Depois de ledo termo resta o nada,
Aonde o coração calado avança.

035


Flutuas entre nuvens e percebes
As tantas ilusões em flóreas luzes
No quanto do possível reproduzes
Derramas fartos brilhos sobre as sebes,
E quanto mais amores tu recebes,
Ao mesmo tempo cevas novas urzes
E beijo este passado e me conduzes
Além do que decerto mais concebes.
Recebo o doce alento da manhã
E sei da minha angústia temporã
Arcando com amores outonais,
Os dias se mostrando em tons cinzentos
Apenas vejo em mim ledos momentos
Aonde desejara em vão cristais.

036


Num copo em brônzeos tons, eis a verdade
Desnuda e sem saber da fantasia
Que tanto vez em quando poderia
Dizer deste delírio que me invade,
O corpo nesta vil ansiedade
A sorte com certeza não se via,
E resta dentro em mim a poesia,
Mais alto o coração ainda brade,
Esboço deste tempo desbotado
E nele o risco sempre anunciado
Esbarra neste brindo farto à vida.
Na prática o que resta de nós dois
Sequer algum carinho cedes, pois
A dita desejada está perdida.


037

Beber desta saudade em copo farto
E ter a cada instante esta impressão
Dos dias onde os termos moldarão
Caminho pelo qual, decerto eu parto,
Por vezes noutro tanto não reparto
E bebo a mais dorida solidão,
Percebo em teu olhar a ingratidão,
E o coração; deveras já descarto.
Eu pude até pensar noutro momento
E crer ser mais possível novo alento
E tento ainda mesmo acreditar,
Vencer os meus fantasmas e demônios
Matando os mais prováveis pandemônios
Tocado pela prata do luar.


038


Aonde se deslinda esta infinita
Saudade nada resta após a queda,
O tanto que pudesse a vida veda
E gera noutro instante a mais aflita,
E quando alguma luz se necessita
E o passo sem calor já não me seda,
Tropel em vastos prados se envereda
Vagando em noite dura, tal desdita.
Arcar com meus erráticos caminhos
E ver mesmos cenários tão daninhos
Do quanto me origino do mergulho
Em águas turbulentas, ponte ausente,
Por mais que na verdade ainda tente
Resumo o meu viver em mero entulho.


039


Tristeza me inebria desde quando
Olhara para trás e não te via,
Assim apenas bebo a fantasia
E nela novo rumo transbordando,
O marco de uma vida se formando
E nele sem saber da hipocrisia
O quanto ainda mesmo em paz havia
Noutro momento aflora me inundando.
Amar e acreditar no sonho em paz,
E quanto mais se tente ser tenaz
O prazo se transforma numa algema,
Quem teima contra a fúria das marés
Levando a vida assim, e de viés
Sem ter mais solução, futuro tema.


040


Na cinzelada face desta diva
Fantástica beleza se apresenta,
Mas quando a vida atroz e virulenta
Do amor que tanto quero já me priva,
O olhar noutro caminho em voz ativa
Procura apascentar leda tormenta,
E assim ao prosseguir ainda tenta
E desta fantasia ora não viva.
Esgarces costumeiros do andarilho
E quando noutro rumo tento e trilho
Apenas o vazio se transforma,
E tendo deste não a fria forma
O sonho em tom sutil, nefasto brinde,
Aonde a sorte atroz já se deslinde.



41

Ofertas que eu te fiz de amor imenso
Imerso nas vontades mais sutis
E quando a vida nega ou contradiz
Do escombro que hoje sou, eu me convenço,
O sentimento atroz, porém intenso
A sorte se desenha em cicatriz
E o verso se moldando do infeliz
Caminho; aonde em nada me compenso.
Na pura sensação de amor que trago
E bebo da esperança cada trago
Vestindo a mesma dura fantasia,
A sordidez domina e nada vejo
Senão a mesma ausência em malfazejo
Delírio e nele o nada em se via.


42


Ao refletir em ti
O amor que nunca veio
O olhar em puro anseio
Decerto eu já perdi,
E tanto que aprendi
Deveras eu rodeio
Vagando em solo alheio
Buscando e nada aqui
Somente este senão
Aonde o coração
Jamais, pois poderia
Sentir algum alento
E quando em vão eu tento
É nova fantasia.


43


No resumir da vida
Depois da tempestade
O quanto se degrade
E mate uma saída,
Na sorte presumida
No risco onde se invade
O mundo em tempestade
Ausente uma guarida,
Esboço um passo além
E nada mais convém
A quem se fez assim,
Espectro de outro tanto
E quando desencanto
Eu sinto ali meu fim.


44


Colar que perolado
Trazia no teu colo,
As sombras quando assolo
O tempo mais nublado
As marcas, meu passado,
O amor em puro dolo,
A maciez do solo,
O risco anunciado,
E nada mais teria
Quem tanto em poesia
Vencera o próprio medo,
E um verso mais audaz
A vida ainda traz,
Porém não me concedo.


45

Em lágrimas e brilhos
Eu tento refletir
O amor que sem porvir
Não sabe mais seus trilhos
Os dias, empecilhos
E neles presumir
O quanto te sentir
Ou nada em estribilhos,
Estrelas mais luzente
E quando me apascentes
Em voz suave ou terna
Amar e ter nas mãos
Além dos vários nãos
Saudade que me inferna.

46


Resumo no teu passo
O quanto quis e nada
A sorte desejada
O dia amargo e baço,
Quando impreciso eu traço
Além a mera estrada
Por vezes desolada
E nela sem espaço,
Rumando sem destino
Enquanto determino
O fim e tão somente
O olhar já se perdendo
A vida em vão remendo,
A morte se apresente.


47


O quanto fui feliz
E tanto imaginei
A sorte nesta grei
E o tempo contradiz,
Expresso onde se quis
O corte não busquei
Amor quando entranhei
O fim em dor prediz.
Esgoto o passo e tento
Ainda algum alento
O vento não permite,
O pranto em dor e queda
Caminho que se veda
Em ti mostra o limite.


48


De todas estas sortes
Que a vida me traria
Quem sabe esta alegria
Aonde me confortes
Tramando em dias fortes
A lúdica euforia
Ou mesmo a melodia
E deixe além os cortes,
Resisto enquanto posso
E sei do mundo nosso
Após o temporal,
A vida traz em si
O quanto conheci
Por vezes, bem ou mal.

49


O sonho que se fala
A sorte desenhada
Na fúria anunciada
Amarga esta vassala,
E tanto ora me cala
Quem teve; desdenhada,
Sabendo deste nada
Ou mesmo me rara gala,
O manto se desfaz
E o todo mais tenaz
Não deixa nem a marca
Do quanto concebi
E sei não vira em ti,
E a sordidez abarca,


50

As folhas desta planta
Há tanto amareladas
Desenham as estradas
Aonde me garanta
A sorte que se espanta
E gera em degradadas
Imagens desoladas
O quanto desencanta.
E tento ainda ver
O sonho em bel prazer,
Imagem discordante
Do todo que se trama
E marca em dor e drama
O dia doravante.



51


O sonho desfolhaste
Matando a primavera
E logo se tempera
A vida em tal contraste
Gerando o que negaste
Enquanto degenera
O amor de quem me dera
Fortuna em vão desgaste.
Resumo de uma vida
Há tanto prometida
E nunca demonstrada
Do tanto que te amei
E enfim só levarei
O duro e fátuo nada.


52

O quando de sonhar-te
E nada mais conter
Gerando o desprazer
O amor em outra parte
No quanto não reparte
E sem o merecer
Jamais mostrando ao ser
O sonho em paz e em arte.
Descarte tão somente
E quando me apresente
Em tal caricatura
Retratos de uma vida
Há tanto já perdida
E nada mais procura.


53

O quanto andara cego
Vagando em noite escura,
O amor quando tortura
Nos mares que navego
E quando a ti me entrego
E nisto em tal procura
O passo se assegura
No nada onde trafego.
Apego-me ao cenário
Deveras temerário
E tento nova sorte,
Mas nada se apresenta
E a vida mais sangrenta
Sem ter quem a conforte.


54


Não tendo mais razão
A vida segue assim,
O todo dentro em mim
E o nada em direção,
Apenas mostrarão
As ânsias de um jardim
E sei enquanto eu vim
Do dia sempre em vão,
Restando da promessa
A queda se endereça
Ao nada mais profano,
E quanto mais te quis
Deveras infeliz
Aos poucos eu me dano.

55


Tu que na verdade expressa
O todo que busquei
Da vida, nova lei
Qual fosse uma promessa
E quando se endereça
Ao tanto e já sonhei,
Amor que em vão sondei
Às vezes dito em pressa
Projeta no futuro
Um porto mais seguro,
E a nau talvez consiga
Depois de tal procela
Aonde já se sela
A história em firme viga.


56


Não vejo nada além
Do quanto quis um dia
E sei que merecia
Somar o que não vem,
O coração desdém
A morte em agonia,
Tropel da fantasia
Aonde nada tem,
Somando cada passo
Em vago me desfaço
E o laço não se trama,
Crivando em mim a dor
O velho sonhador,
Revela a inerte chama.


57

Amar e ter no olhar
O brilho que redime
Num ato mais sublime
Vencer e vicejar,
Mas quando sem luar
A sorte não estime
Nem mesmo já se prime
Por belo caminhar,
Apenas resta o fim
E nele sei de mim,
Um mero trovador,
Vagando em tênue luz,
Se ao nada ele conduz
De que vale este amor?

58


Um livro onde desvendo
O sonho mais audaz,
A vida não se faz
Sequer mero remendo,
Os cantos não atendo
E o passo mais tenaz
Num dia tão falaz
O risco em dividendo,
Presenciando o fato
O amor onde resgato
Ao menos a vontade,
Depois de tanta luta
Somente se desfruta
Da dor de uma saudade.


59


A mesma vida tentas
E novamente eu sigo
Trazendo aqui comigo
As horas mais sangrentas
Em noites turbulentas
O corte mais antigo
O amor; já não prossigo
E nele me atormentas,
Lamento apenas isto
E sei que inda persisto
Por ter ao fim um sonho,
Decerto nada falo,
Dos ermos o vassalo
Traduz passo medonho.

60


Eu sei que tudo passa,
A vida se repete
E o quanto mais promete
Deveras é trapaça.
O risco se esfumaça
E o verso, vão confete,
Ao tempo não compete
Sequer a velha praça.
E traço com palavras
O quanto ainda lavras
E teimo no vazio,
Bisonha criatura
A sorte desfigura
Ao nada eu me desvio.

61

Vieste, em favor divino
Para quem tanto te quis
E me fazendo feliz
Na verdade eu me fascino
E procuro o cristalino
Caminho aonde se quis
E decerto por um triz
Volto a ser quase um menino,
Bebo em ti felicidade
E se tanto amor agrade
A quem mais amou na vida
A verdade seja dita
O caminho necessita
De firmeza e de guarida.

62


Para um velho sonhador
Que se fez enamorado
Tendo sempre lado a lado
O caminho encantador
Percebendo em teu amor
O desejo anunciado
E se tento outro legado
Bebo em ti a bela flor
E deveras colibri
Novamente eu descobri
A razão para viver
Se o meu mundo já perdia
Ao sentir esta alegria
Encontrei raro prazer.


63

Que de novo, vai no sonho
Mais feliz quando se sente
Novo amor e mais freqüente
Raro verso onde componho
Horizonte e nele ponho
O delírio iridescente
E porquanto se apresente
O meu canto mais risonho,
Tantas vezes percebi
Todo amor que vive em ti
E jamais o negarei,
Sendo teu e disto certo
Sofrimento enfim deserto
E clareio a turva grei.


64



Vivendo esse novo encanto
Onde outrora havia a dor
Este velho sonhador
Noutro fato me agiganto
E se bebo e te garanto
O caminho em bela cor
Meu cenário em teu louvor
Com primor eu tento e canto,
Resumindo a minha vida
Noutra sorte concebida
Ermos deixo para trás,
E o delírio sendo exposto
Onde vejo o belo rosto
Tanto sonho satisfaz.


65

Traz esperança bendita
O meu verso quando faço
Procurando um leve traço
Deste amor que se acredita
Desenhando em infinita
Senda o quanto cada espaço
Perpetrando e não desfaço
Desta luz em nova dita.
O meu canto se aproxima
Do teu rumo e traz em rima
A alegria mais audaz,
Verso em plena maravilha
E deveras já se trilha
O caminho em tanta paz.

66

Nos teus olhos, nesse tanto
Desejar a cada instante
Este amor que se agigante
Nele um passo eu teimo e canto,
Versejando em raro manto
Onde a sorte se adiante
E transforme doravante
O que quero e não me espanto,
Esboçando reações
Onde quero e já me expões
Bela luz e dela bebo
Cada gota mais feliz
Neste sonho onde mais quis
Receber o que percebo.


67

Agradeço-te, querida
Pelo brilho deste olhar
Nele posso adivinhar
A beleza desta vida,
E se tento outra saída
Num diverso caminhar
Encontrando a divagar
A saudade mais doída
Um tentáculo tocando
O meu mundo outrora infando
Novamente refazendo
Deste duro e vão remendo
A sobeja maravilha
Onde amor em paz palmilha.

68


Minha vida, entardecer,
Num outono mais diverso
E se tento a cada verso
Entoar algum prazer
Sinto amor ao merecer
O que nele vejo imerso
E se em ti meu universo
Feito em raro e bom prazer,
Beijo a luz que tu refletes
E no todo me arremetes
Esboçando em tal cenário
Claridade sem igual,
Neste amor consensual
Onde outrora temerário.

69

Já não cabia esse dia
Depois mesmo quanto quis
Dos amores, aprendiz
E gerando em fantasia
Todo o bem que mais queria
E cevando onde feliz
Quero além e peço bis
Desta tanta melodia,
Gestações de sonhos trago
E se tanto neste afago
Eu mergulho em claridade,
Outro mundo não coubera
Onde a sorte diz quimera
E a saudade me degrade.

70

Ressurgir a luz enquanto
Eu buscara em ti somente
Este amor que se apresente
E se tento é novo encanto,
O caminho eu te garanto
Ao gestar bela semente
Tal amor ora freqüente
O cenário em raro canto.
Já cansado de sonhar
E de nada mais tocar
Senão medos e ilusões,
Ao sentir a luz tão farta
Deste sonho não se aparta
O que agora em paz expões.

071


No cansaço dessa lida,
Tanta sorte eu desejei,
Mas amor em sua lei
Preparara a despedida
E se tenho repartida
A vontade onde busquei
Ou deveras me entranhei
Na saudade desta vida
Outra parte eu concebi
E soubera então em ti
O caminho mais atroz,
Meu amor já não se vendo
E se traça este remendo
Perco o rumo, e mato a foz.

072


Outros cantos conceber
Quem pudesse acreditar
No vazio a desenhar
E nefasto bem querer
Onde tanto merecer
O delírio de sonhar
E procuro desvendar
O que nunca pude ver,
Apresento em verso e cruz
O delírio onde me pus
No caminho mais dorido
E se tenho esta vontade
Mergulhar nesta saudade
Já não faz nenhum sentido.


073

Sonhei um sonho por onde
Novo sonho sonharia
Quem procura a fantasia
E decerto não responde
Onde mais o sonho esconde
E transforma em agonia
E transcorre novo dia
Nele todo o sonho sonde.
E deveras sendo assim
Procurando dentro em mim
Qualquer luz onde ilumina
A verdade mais atroz
No caminho dentro em nós
Determina a minha sina.


074

Desse tempo já passado
Entre tantas direções
A que agora tu me expões
Mostra a dor, velho legado,
O meu canto desolado
Em diversas expressões
Ao traçar novas canções
Preparando o mesmo enfado,
Traduzindo do meu ego
O caminho onde carrego
Minha cruz pesando tanto,
Vejo apenas no final
O delírio sensual
Onde amor; quero e garanto.


075


Por onde eu nunca passei
Nem também pude saber
Das entranhas do querer
E sequer a mesma lei
Onde o verso eu desenhei
Com vontade e com prazer
Sem tentar no amanhecer
Este amor que desenhei.
Fato mesmo necessário
A quem tenta ser corsário
Saqueando uma ilusão,
O meu dia se desnuda
Nesta face e perde a muda
Acordando o coração.


076


Nem nunca mais ou talvez
O caminho feito em queda
Na verdade já se veda
A quem tenta em lucidez,
Outro olhar e nele vês
O desenho onde se enreda
Outra face da moeda
E deveras se desfez.
Mergulhando em teu mar
Aprendi o que é amar
E depois eu esqueci
O meu barco naufragando
Neste sonho desde quando
Encontrei meu mar em ti.

077

O que perdi no caminho
Muitas vezes procurava
Neste mar, mas onda brava
Traduzindo este daninho
Desejar que sei mesquinho
E se tenho alma escrava
O delírio não me lava
Nem protege de outro espinho,
Visto assim cada mortalha
E o meu verso não se espalha
Nesta palha fogo em chamas,
Mas pudesse num repente
Outro amor, inda que atente;
Mas insistes e não chamas.

078

Nessa busca sem sentido
Pela vida inteira sigo
E se tenho um ombro amigo
Já não trago outro perdido,
O meu barco em vago olvido
O delírio está comigo
E se o passo desabrigo
Noutro encanto presumido.
Risco o nome de quem amo
E se perco qualquer ramo
A verdade não resumo,
Caminhando contra a sorte
Sem ter nada que suporte,
Perco em ti meu norte e rumo.


79

Por essa noite perdida
Já não vejo outra manhã
A verdade se malsã
Traduzindo a minha vida
Preparando a despedida
A palavra morre vã,
Ao morder esta maçã
Outra parte foi mordida,
Vejo em ti esta metade
E se tento a sorte invade
Bebo à farta o meu desejo
E tropeço nos teus passos,
Os meus dias foram lassos,
Mas agora a messe eu vejo.


80


Pelo nunca mais ter tido
O que tanto desejara
Ao entrar nesta seara
O meu passo é resumido
Nas entranhas da libido
O desejo se escancara
E te olhando cara a cara
O meu canto faz sentido,
Esperando algum alento
Onde tanto quero e tento
Sabiá nesta janela
Vai cantando sem parar,
E vontade de te amar,
Neste canto se revela.


81

Passava ruas estreitas
Na procura desta a quem
O desejo sempre vem
E a verdade nem espreitas,
E se tanto te aproveitas
Do carinho sem desdém
Deste amor, mero refém
Entre sonhos te deleitas,
Quero estar em teu caminho
O desejo diz do ninho
Onde tanto pude crer,
O meu mundo no teu mundo
E decerto em me aprofundo
Nas searas do prazer.


82

Encruzilhadas sem rumo
Tantas quantas eu tivera
Ao saber da longa espera
Na verdade, busco e aprumo
O meu passo e me acostumo
A vencer qualquer quimera
Muito além do que se gera
Ao beber inteiro o sumo,
Sendo assim ora prossigo
Sem temer e vou contigo
Onde o mundo se apresente,
O meu canto mais audaz
A verdade sempre traz,
Mesmo quando o mundo mente.


83


Tremendo em passo sombrio
Tantas vezes percorri
Sendo além ou mesmo aqui,
Coração já tão esguio
Ao sentir o imenso frio
Aos teus braços recorri
E sentindo assim em ti
O que tanto desafio,
Beijo a sorte e não desdenho
Onde eu sigo mais ferrenho
Sem temer qualquer impasse,
Basta apenas o caminho
E saber jamais sozinho
No delírio onde se grasse.

84


A vida perdendo o senso
Nada mais eu pude então
E saber que inda virão
Outros dias, mesmo tenso
No final eu me compenso
Ao sentir com precisão
Tanto amor, farta emoção
E dos fatos me convenço.
Espreitando na tocaia
Quem deveras sempre traia
E traduza noutro salto,
Meu caminho quando assalto
Esperança mais audaz
Alegria, enfim me traz.


85

Nesse sonho que sonhava
Caminhando sem paragem
Observando esta paisagem
Onde a sorte o tempo lava,
O percurso sem a trava
O delírio, a sabotagem
Novo amor em capotagem
Nele o canto mergulhava,
Sinto assim em luz e glória
O sabor desta vitória
Feita em brilho consonante,
Sem temer qualquer dilema
Meu amor no teu se algema
Vai liberto doravante.


86

Percebi tantas senzalas
No meu ermo mais profundo
E vagando pelo mundo
Adentrando casas, salas
Onde tanta luz exalas
Entre os olhos eu me inundo
Deste sonho, um giramundo
Presumindo quando falas
Das histórias mais felizes
E se tanto contradizes
Os meus passos; nada vem.
Outro tempo em nova face
Coração deveras trace
E encontrando enfim meu bem.


87


Mal percebia a verdade
De quem tanto se procura
A vontade mais segura
Com certeza sempre agrade
E rompendo algema e grade
O meu canto de ternura
Sem te ter tanto amargura
E traduz mera saudade.
Vejo além do que pudesse
E se tento esta benesse
Rumos vários, dias tais
Onde tudo se primando
Pelo amor suave e brando
Em cenários magistrais.

88


Voltava pras mesmas falhas
Depois destas, reticente,
O delírio se apresente
Onde à toa tu batalhas,
Entre facas e navalhas
O meu rumo não freqüente
Coração pela tangente
Quando a fúria assim espalhas,
Esgotando o passo em vão
Tento nova direção
E recebo amor em troca,
O meu canto, este canário
Bebe o tempo necessário
E em teu peito ora se aloca.


89

Os olhos tristes de quem
Ao buscar qualquer estância
No final por inconstância
Bebe apenas o desdém,
Tanto amor o peito tem
E se tenta a discrepância
Vejo em ti tal elegância
No caminho aonde vem,
Visto agora a fantasia
E persigo o que eu queria
Neste olhar mesmo tristonho,
Quantas vezes eu mentira,
Mas amor quando se atira
Noutro rumo, eu te proponho.


90

Voavam sobre meu rosto
As falenas fosse luz
E meu passo reproduz
O que tanto agora exposto
Traduzindo a contragosto
O cenário feito em cruz
Ao amor fazendo jus
Já não sendo enfim imposto.
Resultado da promessa
De quem tanto se confessa
E deseja outro momento,
Vendo em ti o que mais quero,
Meu amor sendo sincero
Neste instante em paz me alento.


91


Devoravam cada fato
Os olhares mais cruéis
E sorvendo fartos féis
O meu mundo não resgato
E se tento ou me desato
Onde outrora carrosséis
Procurando nos dosséis
O carinho sem maltrato,
Esgotando assim o dia
Eu deveras poderia
Ter a sorte mais diversa,
E o meu canto em voz comum
Procurando por algum
Desejar aonde versa.


92


Formas, paladar e tento
Outro tanto quando posso
Sendo assim somente nosso
Este amor que sei atento
Ao tomar o pensamento
Neste fato já me aposso
Deste sonho aonde endosso
Meu caminho num momento,
Talvez possa ou mesmo creia
No que tange à voz alheia
Recolher nova estação,
Visto as tramas desta teia
Onde o amor tanto incendeia
Em diversa direção.


93

Nos fraques ou nos trambiques
Outros egos satisfeitos
E se invadem tantos leitos
Ao formarem alambiques
Noutros fatos, velhos diques
Marinheiros tentam pleitos
Já não sei dos meus direitos
Onde o passo além; estiques.
Visto a tez deste abandono
E se quero ou desabono
Tanto faz e tanto fez,
Pouco importa na verdade
Este amor que se degrade
Transtornando a lucidez.


94

Um sorriso de bom moço
Já não serve para tal,
Céu imenso, sol e sal,
Coração dita alvoroço,
E se esqueço ou mesmo tento
Preservar qualquer começo,
Na verdade este tropeço
Produzindo o desalento.
Riscos fartos, erros tantos
E no fundo pude ver
Nos teus olhos desprazer
E decerto os desencantos,
Mas amores são assim,
O princípio dita o fim.


95

No fundo todos vêm
O que um dia no horizonte
Traduzisse o quanto apronte
O cenário de um desdém
Deste amor, mero refém
Procurando qualquer fonte
E te sinto ora defronte
Ao desejo que inda tem,
Coração bem traiçoeiro
E se tramo outro canteiro
Jardineira foi embora,
Ao sentir a primavera,
Meu amor já não espera
E deveras, me devora.


96

Cardápios da mesma estirpe
Novo tempo não traria
A quem tenta em poesia,
Mas a vida logo extirpe,
Ao seguir o passo enquanto
O meu mundo se previsse
Nos cenários da mesmice
Ou se tanto quanto encanto
Bebo apenas a verdade
E jamais quero a mentira,
Onde a sorte já me atira
Sorvo intensa liberdade,
E se mostro a face exposta,
Noutro canto esta resposta.


97

Nas bandejas, a cabeça
De quem tanto um dia eu quis,
Ao sentir e por um triz
Muito mais do que mereça
O que nada te ofereça
Ou vencendo e ser feliz,
Mergulhar em mar tão gris,
Mas decerto eu não me esqueça.
Eu te quero ou não, mas tento
E persisto estando atento
Aos momentos mais audazes,
Desta lua em brilho farto,
Coração em paz reparto,
Quando o amor em paz me trazes.

98

Dos sonhos que tive outrora
Pouca coisa inda revivo,
E se tento ou não cativo
A vontade já se aflora
E bebendo sem demora
Do que tanto em paz me crivo,
Da cantiga não me privo,
O meu peito em ti ancora.
Escapando deste fato
No momento onde resgato
O que um dia foi além
Da verdade ou da esperança
O meu passo não se cansa,
Quando o teu sigo também.

99

No meu sonho que pudera
Ser diverso do que trago
Onde bebo inteiro o lago
Apascento esta quimera,
Outra vez amor espera
Quem deveras diz afago,
E se tento em ti me alago
Ou quem sabe degenera.
Quero o gozo mais atroz
Coração ditando a voz
De quem tanto quis saber
Dos anseios onde eu veja
Toda a sorte mais sobeja
Mergulhando em teu prazer.


100


No pesadelo d´agora
Outros fatos refletindo
O caminho mais infindo
Onde a sorte não demora,
O saber sem ter nem hora
Ou se mostra às vezes lindo,
Vejo a morte me sorrindo,
Sigo assim a vida afora.
Não aceito outra versão
E bebendo o mesmo não
Esgotando o verso em si,
Meu caminho nos teus braços,
E deveras sem cansaços
Paraísos; descobri.

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