domingo, 25 de julho de 2010

42901 até 43000

1

Por que não sei falar dessa maneira,
Do jeito que tu falas ou até
Ousando no caminho por ter fé
No amor sem ser a sorte corriqueira,
O tanto que ser ou mais não queira,
O rumo se desvia e sei quem é
Traçando outra vertente sigo a pé
Minha alma se cansando, esta estradeira.
Procuro algum alento ou mesmo um rumo,
E quando sem segredo desaprumo
Meu passo em discordância gera o fim,
Escapo vez por outra da armadilha,
Mas quando a sorte ausente ou maltrapilha
O sonho faz estragos dentro em mim.



2

Usando os verbos vagos, virulentos,
Ou mesmo alguns princípios discordantes
Enquanto qualquer brilho me garantes
Meus dias não seriam mais atentos,
Esqueço da verdade seus proventos
E bebo tais sutis e alucinantes
Caminhos entre tantos, por instantes
Exposto aos mais terríveis, toscos ventos.
Encontro esta verdade quando busco
E tanto poderia em lusco fusco
Apenas discernir um verso a mais,
Mas tramo inconseqüente outra desdita
E quando qualquer sonho necessita
Os dias são deveras mais banais.

3



Ao Poeta do Amor

Estava folheando algumas páginas
Leituras tantas de ofertas variadas
Poemas, crônicas, contos, diversos
Estacionei encantada nos teus versos

Dezenas entrando como enxurrada
Dum repentista de arte aprimorada
Amor, emoção enviando na palavra
Talento nato, herança do pai, a lavra

Peguei papel e tinta no teclado
Rabiscos enviei simples sem rima
Aos poucos lendo tudo ritmado
Aprimorei os versos e fiz-me sina

No mestre do soneto do amor e canto
Mais de quinhentos duetos de encanto

sogueira

Feliz dia do escritor Marcos Loures
Obrigada pela parceria

O quanto de um amor gera em ternura
O sonho mais audaz, ou mesmo quando
A vida noutra face se mostrando
Tramando o que decerto se procura,
Encontro dos dilemas minha cura
E tento vez por outra me enganando,
Um caminhar em paz suavizando
O que esta vida traz em amargura.
O verso permitindo refazer
Em meio ao mais terrível desprazer
O encanto em madrigais de antanho e agora.
Diversas serenatas dentro da alma,
A poesia sim, tanto me acalma,
Até quando a verdade vil devora.

4




Fui embora, mas voltei
Meu lugar é do teu lado
Sem você nada mais sei
Coração fica amuado.
Esse gosto de pecado
Essa gostosa euforia
Só junto a ti, meu amado.
Certo era, eu voltaria!


Ana Maria Gazzaneo

Um sonho se completa noutro sonho
Perpetuando a mágica da vida,
E quando se percebe a despedia,
O dia se mostrar mais enfadonho,
Um novo amanhecer; quero e proponho
Ousando na palavra assim urdida,
E tendo esta certeza concebida
Num ato mais feliz, em céu risonho.
Prenunciando o gozo mais gentil,
Além do que deveras se previu,
A vida renascendo em cor sublime,
Um ermo caminhar por certo tempo
Embora gere muito contratempo,
Na bela poesia se redime.

5


Sim,
é apenas minha lágrima
escorrendo pelo rosto,
a limpar esta mágoa ...
(Olhos de Boneca)



Deságua em cristalina e dolorida
A fonte em farto brilho, dor e pranto,
Enquanto novo tempo eu te garanto
Renasce esta esperança em nossa vida,
A mágoa tantas vezes pressentida,
E nela se transforma em vão quebranto,
Mas quando esta quimera enfim espanto,
A sorte se presume ressurgida.
Qual fosse um diamante, o lacrimejo
Traduz a plenitude quando o vejo
Do amor imaculado e mais perfeito,
Superna realidade após o medo,
A ti no mesmo tom eu me concedo
E neste raro amor, em paz me deito.

6



No caminho colhemos frutos
Suculentos e doces
A saciar nossa fome e sede,
Sou tua fruta saborosa
Suga-me...Devora-me...

Regina Costa



Desfrutando do imenso e raro gozo
Ascendo a mais sublime perfeição,
Meu corpo no teu corpo em provisão
Momento sem igual e majestoso,
Exprimo com ternura o caprichoso
Caminho pelo qual dias virão
Traçando a mais perfeita direção
Mesmo quando se vê tão tortuoso.
Podendo então sorver cada momento
E nele com fartura me alimento,
Cerzindo o bem supremo que extasia
Hedônicos delírios percorridos,
E neles exaltamos os sentidos
Orgástico delírio em fantasia.

7

Flauta Doce...


Olhei com fascínio...
Pupila dilatada,
Pele úmida e eriçada,
Completamente hipnotizada,
Extasiada...

Grandiosa Obra de Arte,
Presente da natureza!

Diante dos olhos
Ereta, gotejando e ávida;
Enquanto contemplava,

Desejava...
Desejava...
Desejava...

Pude sentir
A intensidade, o volume e a amplitude;

Senti...

A boca se aproximar, lentamente,
Os lábios encostar, ternamente,
Emudecida fiquei...

A provar o sabor,
Deliciando-me!
Intermitentemente...

Traduzi tua partitura integralmente,
Entoando o mais belo ato,
Melodia e harmonia,
Espaço intermediário,
Entre
O real e o simbólico,
O possível e o imaginado,
Constelado no céu da boca,
Ressonando uma música
Tão santa quanto profana,
Sinfonia inspirada em tua
Flauta Mágica,
Arte dos sons,
Lirismo derramado...
REGINA COSTA


Desvendo com suave mansidão,
Entranhas delicadas, belas locas,
E quando assim desnuda me provocas
Sabendo do final em erupção,
Ao mesmo tempo bebo esta amplidão
Enquanto o barco adentra em meio às rocas
E ancora no delírio destas tocas
Nesta úmida loucura a sensação.
Espasmos pós espasmos, contraindo
Num êxtase sobejo, doce e lindo,
Arfante caminhada rumo ao Éden
E os gozos quando gozos mais concedem
Perpetuando assim neste sacrário
Além de qualquer tom imaginário.

8

É que perdi meu tempo, uma bandeira,
Nos ermos mais profundos e sombrios,
E quando aceito assim os desafios
A vida noutra face já se esgueira,
E quanto mais eu sonhe ou mesmo queira
Os olhos percorrendo tais vazios,
Esboçam reações, adentram rios,
E tentam cada queda ou corredeira,
A sorte na verdade contradiz
E gera ao mesmo tempo a cicatriz
Que trago tatuada no meu peito,
Meu verso em discordância vez em quando
Noutro caminhar se demonstrando,
Gestando este vazio quando eu deito.


9

Desfraldada por sobre os excrementos
A sorte desmembrando passos duros
E quanto mais entranho em tais apuros,
Os dias ditam velhos sofrimentos,
E neles outros tantos negam ventos
Os sonhos não serão sequer maduros,
Meus passos noutro escasso tentam muros,
Porém enfrentam dores, desalentos.
Erguer o meu olhar e ver além
Do quanto muito pouco se retém
Na vida deste mero sonhador,
Presumo cada traço do que outrora
Pudesse e na verdade me apavora
Herdando dos meus sonhos, desamor.


10

De quem tentou ferir sem dar sequer
A menor chance mesmo de defesa,
Da vida sendo assim, a mera presa,
O corpo em desalento se aprouver
E venha com firmeza o que vier,
Já não mais gerará qualquer surpresa,
Porquanto minha vida, dura e tesa,
Não sabe do destino o que se quer.
Ressalto em descaminho um passo quando
O mundo em terremotos desabando
Desabonando o sonho de quem tenta
Singrar mesmo oceanos mais pacíficos,
E os dias não serão mais tão magníficos
Restando para mim dor e tormenta.

11

A quem amara, em todos os momentos
Independentemente do que tanto
A vida se mostrara e não garanto
Sequer menores sonhos, provimentos
Assim ao erigir mais pavimentos
Aonde com certeza o desencanto
Penetra e deixa à vista em todo canto
Somente os meus terríveis sofrimentos,
Amar e ter talvez alguma chance,
Enquanto em teimosia já me lance
Sem ter sequer aporte ou nada enfim;
O manto mais escuro da saudade
Gerando este temor que desagrade
O que inda resta vivo dentro em mim.



12


A vida me ensinando a cada dia
O quanto posso ou não tentar ainda
Depois da fantasia agora finda,
O sonho sem defesas não recria
Um mundo feito em paz e em harmonia
Ao qual a própria sorte em paz já brinda,
No tanto que desejo e sei ainda
Maior esta vontade em alegria.
Utópicas montanhas, cordilheiras
Demonstram na verdade o que mais queiras,
Porém a vida dita em precipícios
As quedas mais temidas e ferozes,
E somos com certeza tais algozes
Na imensa podridão de nossos vícios.

13

Eu vou correndo sempre, mas por quê?
Já não consigo mais sentir a sorte
Que vez em quando vem e até conforte
Enquanto a realidade nada vê,
Quem tanto se procura e já não crê
Apenas se expressando em dor e morte,
Desconhecendo algum- se existe- norte
Olhando para o nada se revê.
Especular caminho em ostracismo,
Ainda sobre rocas, medos; cismo
Tentando ter ao menos um destino,
Esbarro nas arestas pontiagudas
E quando necessito; não ajudas,
Neste vazio; opaco, eu me azucrino.


14


Quis tragar melodias e senzalas,
Levando para frente esta promessa,
Ao quanto posso ser e se endereça
Ainda quando aquém tu já te calas,
Os ócios mais tenazes; avassalas
E nisto a vida mostra a mesma pressa,
No resto que inda tenho recomeça
Tentando perceber supernas galas;
E graciosamente num sorriso,
No sonho mais tranqüilo eu me matizo
E vejo algum sinal de vida enquanto
O passo cambaleia e se enreda
Causando da esperança a dura queda;
Mas quando caio em mim; eu desencanto.


15

Não pude mais conter esse chicote
Que ainda vergastando as minhas costas
Apresentaste assim como respostas,
Atocaiada fera, vil coiote,
Aonde quer que o sonho teime e bote
Já não aceitas mais velhas propostas
E as cicatrizes tantas; vejo expostas
Mesmo que ninguém sinta e sequer note.
Aprendo com a farpa e com a adaga
E quando esta mortalha ora me afaga
A frialdade invade o meu outono,
Enquanto em tais arestas teimo e piso,
Minha alma se inundando em tal granizo,
Um gélido delírio em abandono.


16


Mas as costas lanhadas onde sinto
As tantas dores toscas de quem vendo
A vida como fosse algum remendo,
Um passo sem destino cego instinto
Cumprindo o meu caminho, quase extinto
No quanto quis um dia me perdendo,
O manto se destroça e não desvendo
Sequer algum traçado e ousado eu minto.
Presumo o fim da história em tal sangria,
O corte me estraçalha dia a dia
A pútrida verdade não sonega
Excêntrico e tão pálido delírio
Transcende ao próprio dolo e em tal martírio
Minha alma se expressando muda e cega.

17

Não me deixam sinais ou cicatrizes
Os tantos e diversos vis caminhos
Imerso entre meus ermos mais daninhos
E neles tantas vezes contradizes
Os sonhos que pudessem ser felizes,
Mas sei quando se fazem tão mesquinhos,
Já não comporta em mim senão espinhos
Agrisalhando a sorte em seus matizes.
Esboço reações, um ledo engano,
E cada vez que tento mais me dano,
Espúria criatura ora se afasta,
Nos íntimos momentos solitários
Apenas os demônios solidários
Desta alma tão cansada quão nefasta.

18


Traduzindo seara tão diversa
Daquela que pensara ser só minha,
O quanto deste nada me convinha,
Deixando a vida amarga e mais perversa
Uma esperança tosca se dispersa
Enquanto no vazio; alma se alinha
E tendo esta certeza má, daninha
Quem vê cena tão torpe; desconversa.
Escracho pária eu sigo em noite escusa,
Somente este fantoche agora cruza
Com vermes tão iguais no mesmo esgoto,
E o pântano que habita dentro em mim,
Tramando cada passo até o fim,
Demonstra o caminhar esparso e roto.

19

Em busca da saída; nada vejo
Somente os meus demônios corriqueiros,
E tanto são leais e companheiros
Cobrindo com as garras meu desejo,
A cada passo eu sinto o mesmo ensejo,
E os dias são diversos espinheiros,
Os passos não prosseguem mais ligeiros
Nem mesmo num vão verso inda verdejo.
Esparsas fantasias já são mortas,
Fechando para mim últimas portas,
O fim se aproximando em puro tédio,
A morte talvez seja um bom remédio,
E embora por estradas vagas, tortas
Eu finalmente sinto o seu assédio.


20


Talvez queiras viver felicidades;
Lacaio desta turva negritude,
Minha alma na verdade não se ilude.
Ainda que esperanças (tola); brades
Viver as mais cruéis fatalidades
Morrendo a cada passo onde transmude
Horrenda e caricata juventude
Aguarda atrás das finas, frias grades.
Nublada tarde diz de um ego tolo,
Meu sonho sem local aonde pô-lo
Esbarra nos heréticos esgarces,
Esgares por resposta? Não aceito.
Eternamente eu sigo insatisfeito,
Ainda quando o tédio em vão disfarces.


21


Vitais nocivas fraquezas
Onde vejo se espelhando
O retrato outrora brando,
Mas imerso em tuas presas,
Qual repasto sobre as mesas,
O meu tempo se esgotando
Pouco vou me devotando
Tento contra as correntezas
Impossível caminhar
E tentar qualquer lugar
E viver em paz, somente.
Neste olhar indiferente
De quem tanto quis amar,
Vejo a fúria francamente.

22

Fosse este ato de furor
Numa atroz sinceridade,
Outra vez mais me degrade
Esta imagem furta-cor
Se eu pudesse sonhador
Conhecer a liberdade
Reviver a claridade
Onde existe o dissabor,
Sem algemas nem correntes,
E talvez quando pressentes
O final, a derrocada,
O meu passo sem valia
Traduzindo o dia a dia,
Trague sempre o mesmo nada.

23

Na mistura mais sagaz
Entre tantas que pudesse,
Não conheço uma benesse
Que este desamor nos traz,
Ao viver e crer na paz,
O meu mundo agora tece
Outro rumo e já se esquece
Do passado tão mordaz,
Passo novo em nova vida,
Num olhar sem despedida,
Urdo o tempo que vier,
E bendigo a minha sorte,
Pois em ti a luz conforte,
Já não temor sequer.

24

Tantas sombras eu andei
Procurando algum afeto,
O meu rumo se completo
Negaria qualquer lei,
E se um dia quis ser rei,
Hoje apenas me deleto
E talvez um novo feto
Noutro tempo nascerei.
Redimindo cada engano,
Se deveras eu me dano
Quem me dera se talvez
Noutra face, noutra vida,
Encontrasse uma saída
Que decerto se desfez.


25

Adentrando o pensamento
Qual falena busca a luz
A verdade reproduz
No meu passo outro momento
Onde ainda teimo e tento,
Mas o farto não conduz
E se tanto eu já me opus
Hoje resto, um excremento.
Navegasse em mar tranqüilo,
Mas decerto hoje desfilo
Entre as águas turbulentas,
Ao gerar em mim a ponte,
Novamente desaponte
Quando as ondas; mais aumentas.


26

Às avessas renascendo
O que outrora fora paz
Navegando em mar mordaz
A esperança é mero adendo,
E tão pouco recolhendo
Deste tanto que ora traz
O caminho mais audaz
Entre tantos, revivendo
Representas o futuro
Quanto mais em tempo escuro,
Teu olhar farto irradia,
Num prelúdio em melodia,
Entoando o que procuro
Vejo em ti; sabedoria.

27

Nesta vida já sem-nexo
O meu canto se esvaindo
Onde quis, outrora lindo
Um caminho mais complexo,
E reparo, tão perplexo
O desejo se extraindo
De tão pouco resumindo
Um banal, torpe reflexo.
Na expressão tão mais comum
Na verdade sou nenhum
Onde quis ser talvez algo,
O meu canto lacrimeja
E deveras malfazeja
A minha alma agora salgo.

28


Nestas lâmpadas eu tento
O meu guia onde não sigo,
E carrego o desabrigo
Onde encontro o desalento,
O meu manto em tal perigo,
Noutro passo mais sangrento,
Quando muito virulento
Farsas; visto. Fato antigo.
Vasculhando estas gavetas
Onde agora tu prometas,
Olhos fixos no passado,
Mas encontro algum sinal
Do que fora bem ou mal
Vejo tudo embolorado.


29

Num cambaleante passo
Tento às vezes prosseguir
E não tendo mais porvir
Em vazios me desgraço,
Onde outrora quis ou faço
O meu verso a conduzir
A verdade sem sentir
O destroço a cada espaço.
Laços rotos, abandono,
No final me desabono
E me perco totalmente,
Poderia num instante,
Mas se o nada me garante,
Nem o todo ora desmente.


30

Quando a vida volve a ser
Tão diversa do que um dia
Muitas vezes bem queria
Quem se fez em padecer,
Resumindo o apodrecer
Em tão torpe vilania,
Procurando uma harmonia,
A mortalha eu sei tecer,
Vagamente lembro quando
O meu mundo transmudando
Noutra face tão nefasta,
O meu passo sem destino,
Onde quis ser um menino,
A rapina hoje repasta.

31


Um deserto que percorro
Quando vejo em meu olhar
Outro igual a reparar
Sem saber sequer socorro,
Como fosse já sem forro
Numa chuva a se mostrar
Quanto é frágil desvendar
Dos delírios; cada jorro.
Numa farta hipocrisia,
Teu olhar me mostraria
A face real da vida,
Onde o início precipita
Senda outrora mais bonita
Hoje apenas vã; perdida.

32


Meu olhar quando tateia
E procura cada espaço,
Deste todo ainda baço,
Pelo menos devaneia,
Lua nova, antiga ou cheia
Descansando em seu regaço
Refazendo cada passo,
Onde o nada inda permeia,
Pirilampos dentro em mim,
Percorrendo até o fim
O cenário em trevas feito,
Quando sinto a tua pele,
Ao delírio me compele,
Mas, sozinho hoje eu me deito.

33

Onde quis seda e veludo,
Pedregulhos simplesmente,
O caminho não desmente
Mesmo quando em vão me iludo,
Neste fátuo vejo tudo
E se tento estar contente,
O delírio impertinente
Deixa o coração mais mudo.
Arremedos de ilusão
Onde outrora quis paixão
Tão somente este vazio,
Meu olhar se perde quando
Outro rumo desenhando
Muda a foz do antigo rio.


34

Minha vista tão cansada,
Um presbíope ancião
Procurando a direção
Encontrando o mesmo nada,
A saudade desfraldada
Quando viva sensação
De momentos que virão,
Mas ao fim, a debandada.
Resumindo este universo
Onde à toa cismo e verso,
Esperando algum alento,
Num cenário agora baço,
Sem noção de tempo/espaço,
Caminhar; ainda tento.

35

Um oásis poderia
Transformar este cenário
Do deserto imaginário
Uma nova fantasia,
Mas a vida negaria,
Vendo em mim um adversário
Tão sutil, desnecessário,
Resumindo em ironia,
Este vândalo caminho
Onde sândalo quisera
Presumindo a dura fera,
Do não ser eu me avizinho,
E mergulho sem defesas,
Entre as garras, frias presas.

36

A minha alma não suspeita
Desta queda inevitável
Onde quis um solo arável
O vazio vira seita,
Quando o fim não mais se aceita
Outro tétrico e intragável,
Mesmo até já descartável
Toma a cena e se deleita.
Restaurar o que está morto,
Renascer após o aborto,
Mero feto em desafeto,
No que tange ao ser poeta,
O meu verso se repleta
Onde em paz eu me deleto.

37

O caminho sendo incerto
E deveras mais sofrido
Já não faz qualquer sentido
Quando o rumo, enfim, deserto,
Mas se tanto inda desperto
Neste sonho feito olvido,
Outro fato consumido,
Não concebo e nem me alerto,
Ao quitar o que persiste,
Num delírio tosco e triste
Eu deveras me esvaíra,
Todo o sonho fora em vão,
Outros dias mostrarão
Cada verso foi mentira.

38

Uma luz já bastaria
A quem tanto quis promessas
E sem ela tu tropeças
Mesmo no clarão do dia,
Onde há sorte a ventania
Expressando em medos, pressas,
Caminhar ora às avessas
Nova dita não traria.
Esgotando cada chance
Ao vazio já se lance,
O meu passo mais sutil,
Num errático delírio,
Comungando em tal martírio
O que outrora enfim se viu.

39

Concebia a caravana
Em tropel, corcéis diversos,
E vagando em universos
Onde a sorte não profana,
A minha alma já se engana,
E também errôneos versos,
Quando espúrios e submersos
A matilha faz campana.
Campanários da ilusão
Dobram sinos por quem ama,
Derradeira, ultima chama
E mais nada resta após.
Sendo assim, mergulho e ledo
Noutra forma não procedo,
Só vislumbro falsos nós.

40

Quando em súbita visão
Expressaras com temor,
O que tanto em desamor
Aprouvera desde então,
Resolvendo este senão
Tento apenas recompor,
O meu mundo em clara cor,
Quando bebo escuridão,
Aversões aos meus engodos,
Adentrar por vários lodos,
Revelando este ar sombrio,
Um errático e medonho,
Quando às vezes teimo e sonho,
Meramente desafio.


41

Neste tempo sem espaço
Outro tempo poderia
Revelando à luz do dia
O que à noite já desfaço,
Temporal que em eu traço,
Tempestade em euforia
Nesta atemporal teria
Contratempo passo a passo,
Num espaço tão diverso
No compasso aonde verso
Faço errático poema,
Mas num traço discordante
Lassos dias, num instante
Rompo laços, tiro a algema.

42

No vértice deste sonho
Um momento mais cruel,
Ao alçar longínquo céu,
Outro véu; em mim componho
Um corcel claro e medonho,
Ouço a voz e sorvo em fel,
O meu passo mais fiel
Calabouço eu não reponho.
Extraindo cada ponto
Pouco a pouco enfim me apronto
E penetro esta amplidão,
Vago sem saber se há rumo,
E deveras se me esfumo,
Outros mundos surgirão.


43


Ao descer nem sei escada
Nem por onde nem se quando
Outro sonho deformando,
Num momento sem parada
A minha alma alvoroçada
Ou no tétrico e nefando
Quanto mais se estou nevando
Preparando outra geada.
Esboçando em variáveis
Os meus ermos intragáveis,
Explosões em vendavais,
Não se vendo mais estorvo,
Alimento em mim o corvo
Neste etéreo: nunca mais.


44

Já não mais me encontrarei
Nem procuro algum detalhe
Onde a sorte me retalhe
Mude logo a senda e grei,
Tanto tempo eu esperei
Na verdade cada entalhe
Permitindo o que se espalhe
Dominando fosse lei,
O resumo em fumo e luz
Ao vazio me conduz
E não deixa sequer rastro,
Vagamente sou poeta,
Noutra cena se completa
O cenário onde me alastro.

45


O que fora e não se faz
Ascendendo ao mais sobejo,
Ao final nada mais vejo,
Queda dura e tão mordaz,
O cenário se sagaz
Impedindo algum desejo
Resumindo em tal negrejo
Este passo outrora em paz.
Reparando a cada ausência
O senão em anuência
Afluências no estuário
Onde a sorte se transporta
Ao abrir do mar a porta,
Imagino-me um corsário.

46


Em diversas sensações
Outras tantas; imagino
E se tento um cristalino
Caminhar onde me expões
As temidas ilusões,
Ou meu verso em desatino,
Rebrilhando, perco o tino
E não tenho outras opções,
Sigo espástico e me calo,
Quando deste tom vassalo
Expressões dispersas; bebo,
Do remédio em amor próprio,
Um caminho vago e impróprio,
Meramente algum placebo.


47


Já não posso me incluir
Nesta cena aonde outrora,
O caminho desancora
Degenera algum porvir,
E se tento presumir
O que possa ou já devora,
O saber sem ter nem hora
Se assenhora do existir.
Esboçando um passo além
Do que tange ou me convém,
Tinjo em rubros os meus dias,
Viperina sensação
De uma espreita em precisão,
Com furores me trarias.


48


Se já não bastasse o fato
De não ter e não saber
O que possa acontecer
Quando a morte; em mim resgato,
Ao sentir farto maltrato
De quem tanto quis prazer,
Passo mesmo a perceber
Mundo atroz temido ingrato;
Cinzelando novo sonho,
Mergulhando desde antanho
Nesta insânia, nada resta,
Perecíveis ermos vãos
Os meus passos tecem nãos
Do futuro? Sequer fresta.

49


Sem haver qualquer traçado
Dentro ou mesmo fora em mim,
Desafeto trago ao fim
Do caminho mal tramado,
Ermo passo, desolado,
Chego ao trágico que enfim
Acendendo este estopim,
Restaurando o meu legado.
Esgarçando cada fato,
No puído me retrato
Sem resgates, sou retalho,
Quando busco algum instante
Tão diverso doravante,
No vazio então me espalho.

50


Sem noção sequer do que
Poderia se diverso,
O meu canto ora disperso
E deveras não se vê
Nem tampouco o que se crê
Transformando o mais diverso
Ou gestando este universo
Onde a morte se prevê.
Caos em mim, mera constância
Outro tanto em vaga estância
Estancando esta sangria,
Mas no fundo, problemático,
O meu canto tão errático
Não conhece a poesia.

51


De ponta-cabeça o mundo
Onde a voz já não se escuta
A verdade sendo astuta
No passado onde me inundo
Ou no quanto me aprofundo
Gera a força atroz e bruta,
E se tanto inda reluta,
Ermo sonho, um vagabundo.
Represando o que pudesse
Na certeza da benesse,
Outra luz se entornaria,
Mas resumo cada instância
No vazio da inconstância
Deixo ao canto uma agonia.





52


Se eu pudesse me mover
Ou talvez até pensar
No caminho a desvendar
Noutro passo esmorecer,
E quem sabe recolher
Cada traço do luar
E bebendo inteiro o mar,
Salgando meu bem querer.
Lastimando cada queda
Onde o nada ora envereda
E domina por inteiro,
Ouso até buscar quem trace
No meu mundo nova face,
Num cenário costumeiro.

53


Já não sei sequer meu nome
E quem sabe não faria
Nem tampouco em ironia,
Furioso mar consome
Quem deveras tenta e some
O mergulho na agonia
Produzindo a alegoria,
Mas não mata a minha fome.
Presunçoso? Não, somente
Do caminho que se ausente
Feito um pária sem destino,
Desenganos que acumulo
O meu passo não é chulo
Nem ao vago eu me destino.


54


Tal qual fosse um pendular
Desengano em tons diversos
Vou ousando nestes versos
Tento até qualquer lugar,
Onde eu possa desvendar
O que trazem universos
Se complexos e perversos
Tons submersos ao luar.
Sem respaldo nada faço,
Erros tantos, cada passo
Desviado sem ter nexo,
E medonha garatuja
Face torpe, tosca e suja
Do meu ego algum reflexo.

55

Morto o corpo jaz na sala
E não vejo algum velório
Onde tanto fui simplório
Quando a voz, em paz se cala.
Alma tosca e até vassala
Num caminho merencório,
Percorrendo o mar inglório
Mergulhando em rasa vala,
Escorraço corriqueiro,
Num terrível, vil canteiro
O meu passo se acostuma,
Se a minha alma pensou tanta,
A verdade desencanta,
No final vaga ou nenhuma.


56


Esqueço-me no horizonte
Mirando o que nunca vem,
O Passado diz tão bem
Do que desde o além se aponte
Ao morrer na própria fonte
O riacho não contém
Sem as águas vou também,
Sendo inútil qualquer ponte,
E cansado de cismar
Mesmo tom, igual lugar
Espreitando o que jamais
Poderia haver enfim,
Pois se até dentro de mim
Morto mar. Ausente cais.

57



Devaneio vez em quando
Na procura por talvez
O que há tanto se desfez
Noutro rumo navegando,
O vazio me tomando,
Onde agora já não vês
E o que vendo não mais crês
Um fantoche se entregando
Ao não venha, ao deus-dará
E percebo não virá
Qualquer luz além do nada,
Precedendo ao passo em vão,
Como sempre o mesmo não
Desenhando a falsa estrada.


58

O que posso percorrer
Se jamais houvera um barco
Com naufrágios tantos, arco
Neste mar ao perceber
Outra ausência a me tolher,
A vontade em tom tão parco,
Desamor gerando um marco
Destroçando enfim o ser.
Resplandece além o sol,
Mas sem nada no arrebol
Tão somente o vago em mim,
Cego eu sigo sem sentir
Se deveras há de vir
Ou em paz descanse, enfim.

59

Desde quando o ser ou não
Poderia ser diverso
Do ditame de algum verso,
Sem destino ou provisão?
Risco espaços, bebo o chão
E prossigo tão submerso
Nos instantes que disperso
Desconverso e volto ao vão.
Cãs somente o quanto trago,
Cão em busca de um afago,
Mas no fim eu me acostumo.
O cenário é sim, reflexo
E se tento estar perplexo
Do cevado sou resumo.

60


Este vácuo aonde aflora
O daninho costumeiro,
Erro farto no canteiro,
Qualquer cor já foi embora,
A certeza sem demora
A incerteza e o jardineiro
O fatal e corriqueiro
Derradeiro desarvora.
Chego tarde, reconheço,
E no fim sem adereço
A mortalha é simples qual
Vida leda em terra alheia,
Nem saudade me rodeia.
Facilita o funeral.


61

Coração, a velha esfinge
Já cansada de dilemas,
Entre curas ou algemas
Muitas vezes teima ou finge,
E se tanto já se tinge
Quanto mais deveras temas,
Noutros dias, outros temas,
Mas decerto não me atinge,
Sou deveras tão volúvel
E se tentos ser solúvel
Nada trago em minhas mãos,
Nem passado nem futuro,
Sobre o imenso e tosco muro,
Entre os sins, erijo os nãos.

62


Qual se fosse transparência
A alma nua segue enquanto
Procurando em qualquer canto
Reproduzo esta aparência,
No que diz conveniência
No final, nada garanto,
Nem sorriso e nem quebranto,
Talvez trague a incoerência.
Vasto mundo dentro em mim,
E no fundo nada enfim
A não ser o que reflito,
Amor talha na mortalha
E no fim quando se espalha
Este incerto é ledo mito.

63

Das pirâmides ao caos,
Dos abismos aos solares,
Entre tantos ao buscares
Já não vês velhos degraus,
Ouso até vagar em naus
Por dispersos, vis lugares
E se tento noutros bares,
Dias toscos, rudes, maus
Enfrentando o meu espelho,
Neste nada me aconselho
E atropelo o meu caminho,
Se deveras fui errático,
Jorro em gêiser, mas sou prático
Se eu prossigo, estou sozinho.

64

Tão diverso este perfil
Do avatar que trago além
Sei somente se convém
Se deveras já nunca viu
Ou no quanto sei ser vil,
Mas disfarço e muito bem,
Nada em mim, tento e contém
Finjo até ser mais servil.
Passo a passo sigo ao vento,
E deserto quando tento
Algo mais que a própria queda,
Por vagar em desencantos,
Vasculhando tantos cantos,
O caminho ao fim se veda.


65


Um abismo imensurável
Nada além do costumeiro,
Ergo o olhar e sei do inteiro
Mar deveras navegável
Quantas vezes, mais saudável
Das palavras, garimpeiro,
Lapidando o verdadeiro
Ou traçando imaginável
Perco o tempo, ganho a vida,
Mas decerto vai perdida
A palavra lavra em mim,
Dos cinzéis e dos buris
Tantas vezes nada fiz
A não ser teimar jardim.




66

Paro quando eu perceber
O que nada mais resiste,
Se em verdade o sonho insiste,
Volto mesmo a descrever,
Sou metáfora do ser
E permito ser mais triste,
No que tange e não existe
Sou mortalha e me tecer.
Esquecendo do que um dia
Fosse apenas fantasia
Eu me sorvo em cada verso,
Bebo em cálice venal,
Mas no fim sou desigual
Do que sou e ora disperso.

67


Se eu pudesse soterrado
Entre as pedras do caminho
Quando fiz aquém o ninho,
No final, ledo passado,
Vento quando desvairado
Muitas vezes sou daninho,
Noutra mero e tolo espinho,
Tantos dias, sempre errado.
Nestes trâmites percebe
A verdade noutra sebe
E recebe o que não veio,
Cada frase solta ao vento,
Se eu pudesse, quando eu tento,
Ser além de devaneio.

68


Sob a luz da lua cheia
O meu tanto quase nada,
Atropela a velha estada
Mariposa, a luz rodeia,
Esquecendo a dor alheia
Vago em noite constelada,
Na certeza garimpada
Onde a morte não anseia,
Esgotar o mar em mim,
Tantas águas e no fim
O desértico poema,
O meu carma eu sobreponho
Num prismático e medonho
Caminhar que nada tema.



69


Uma enorme fantasia
Marca o dia onde pudera
Ao beber em mim a fera
Outra fera se recria,
Na mutante alegoria
O que jaz em primavera
Noutro rumo destempera
E me espera dia a dia,
Ecos tantos semeando,
Num arquétipo nefando
Roseirais já não florescem,
Os meus passos entre fartos
Representam velhos partos,
Torpes ecos obedecem.

70



Varro em mim o que inda sobra
Da tangência ou queda plena,
Na verdade não se acena
Nem espreita fera ou cobra,
O passado se recobra
Na vontade se serena
Ou se tanto me envenena
Noutra face se desdobra,
Abro em mim os vãos umbrais
E se tento ou nunca mais
A colheita diz semente,
No final de cada fase,
O que tanto vague e atrase
Noutro rumo se consente.


71

O cadáver me procura
Em noites frias, turbulentas
Quando além do que apresentas
Bebo em goles a loucura,
O meu tempo não tem cura
E deveras são sangrentas
As palavras virulentas
Quando busco a vã ternura.
Esgotando o que talvez
Inda alheia tu não vês
E jamais tu sentirias,
Percebendo o que reflito,
Meu cadáver vai aflito,
Faz das noites, todas, frias.

72


Barcos, naus em rio imenso,
Ou quem sabe noutra foz
Estuário em mesma voz,
Quando em ti querida eu penso,
Na verdade me compenso
Ao não ser o teu algoz,
E repito em velhos nós
O que outrora fora tenso.
Num jazigo ou neste leito,
Minha herança eu sempre aceito
Decomponho a cada morte,
Esgueirando de mim mesmo,
Quando tolo me ensimesmo,
Qualquer cais, pois me conforte.



73


Numa vaga e tão difusa
Expressão coloquial,
O diverso vendaval
Onde a sorte se entrecruza
Com a vida mais confusa,
E deveras bem ou mal,
Vago espaço sideral
Quando o charco em mim abusa
Disfarçasse qualquer ato
E se tento ou já desato
No final restando alheio,
O meu fado em qualquer nota
Pouco a pouco se denota
O que alhures, devaneio.


74


Fosse um barco abandonado
Neste cais sem previsão
Nem sequer se inda virão
Outros dias, mesmo enfado,
O caminho deste gado
Entranhado em divisão
Esquecendo algum senão
Mesmo quando anunciado.
Restaurando o meu engodo,
Resumindo em dor e lodo
Cedo quando passo em branco
Dia a dia sorte tenta
Ou deveras segue lenta,
Quando em queda me desanco.



75


Infiel ao meu caminho
Num estio costumeiro,
Onde quis qualquer canteiro
Já não posso, sou mesquinho,
E se tanto vou me aninho
Neste céu em vão tinteiro,
Agrisalho o tempo inteiro
E revolvo rosa e espinho.
Na incerteza de ouro ou nada,
A verdade garimpada,
Não lapido e já me aquieto
O cascalho em pó e lama,
Não importa quem me chama,
Sou o mesmo, torpe inseto.



76


Se eu seguisse sempre a pino
O meu passo em consonância,
Quem percebe a militância
Onde tanto me alucino,
Já não sabe do menino
Que a mortalha em discrepância
Mata aos poucos na inconstância
Deste tosco e vão destino.
Expressões diversas; tento
E se tanto sigo atento
Não reparo queda e corte,
Anuncio o fim do jogo
E se tenho ainda em rogo
Morto apenas, me comporte.


77

No descaso caso venha
Veja o fim quando se expõe
No passado decompõe
E teimando em pouca lenha,
A verdade não se emprenha
E o futuro não compõe
O que agora ao medo opõe
Se não sabe chave ou senha.
Lacra o passo, nega o rumo,
Mas no fim eu me acostumo
E presumo qualquer dita,
Sou meu ermo e não me engano,
Quando olhando o velho dano,
Nem reparo necessita.


78


Quando lanço ao velho mar
Estas prendas, morte e riso,
Projetando o mais preciso
Ou disperso navegar,
Timoneiro a procurar
Outro tempo ou Paraíso,
Mas no fundo o prejuízo
Toma tudo a divagar,
Esgueirar em meio às ondas
Onde agora tu me escondas
Sem respostas o que tento.
Mar imenso em tez sombria,
Mas procela desafia
Este olhar jamais atento.


79


Entre velas ondas proas,
Olhos vagos no horizonte,
Presumindo quem aponte
Onde a sorte; ainda arpoas
Noites claras, belas, boas
E o meu passo em vaga fonte,
Cada engano desaponte
A versão que agora entoas.
Gestos fartos ermos ledos,
E se tento outros degredos
Dos segredos, procissão,
Um marujo acostumado,
Neste tanto mareado
Descobrindo a diversão.

80


Num frescor sem paralelo,
A manhã renasce após
O desando feito em nós
Ou no caos que em mim revelo,
Outra vez, novo castelo,
A incerteza dita voz
Semeando a sombra atroz
Onde outrora quis mais belo,
Afastando alguma sombra
Busco além qualquer alfombra,
Mas no fim o quanto resta
Traduzindo em pedra e espinho,
Pouco a pouco eu me definho,
Este sol, já não diz fresta.


81

Sorvendo a eternidade desta noite
Aonde cada passo poderia
Trazer quem sabe a vida em alegria
Ainda quando o sonho nos açoite.

Espaço o tempo alheio ao sentimento
E sei o quanto eu sou, por vezes mórbido,
Mas não seria ausente, ou até sórdido
Apenas o caminho; ainda eu tento.

Contemporaneidade dita normas
E nela se percebe ou mesmo não,
Os ermos onde os dias traçarão,
Enquanto, mais sutil; nada transformas.

Bebendo do passado em lua nova,
O mundo é tão igual. Mas se renova?


82


Vejo a morte desde cedo
Num ditame e não escapo,
Na verdade este farrapo
Noutro vago eu me concedo,
E cerzindo o meu enredo
Onde apenas vejo o trapo,
Principesco e tosco sapo
Nada resta no que tange,
Mesmo quando o tempo esbanje
Na procura por respostas
Sendo as marcas destas presas
Nestas costas mais obesas,
O que enfim desejas, gostas.

83

Na brevidade do instante
Feito em vida, ou quase tanto,
O que posso e não garanto
Noutro modo se adiante,
O meu sonho, um ruminante,
Versa quando em vão quebranto
A passada eu adianto
Num cenário atordoante.
Investindo neste nada,
A minha alma destinada
A não ter senão infaustos,
Já não quero um novo grão,
Mesmo quando se farão
Tais escusos holocaustos.


84

Outra vez em solidão
Tento ao menos qualquer face
Onde a vida ainda trace
Mero alento ou mansidão,
Caminhando sempre em não,
Se em meus sonhos inda grasse
No que tanto já desgrace
Este torpe turbilhão,
Sou errático e; portanto
Cada passo onde adianto
Nova queda prenuncia,
Sendo assim e mesmo até
O destino diz quem é
E o que trama a fantasia.

85


Vez por outra tento em risco
As veredas mais estranhas
Onde mesmo as que ora entranhas
Noutro tempo não arrisco,
E o que tento em paz; confisco
Mergulhando em novas sanhas
Ou teimando nas montanhas
Face idêntica do disco,
Esgueirar pelo passado
E tentar outro recado
Mesquinhez? Talvez ou não.
Sinto o verso quando o nego,
E o vagar traz em nó cego
Desviando a direção.

86


Adentrar cada alameda
Onde pude ou nada disto,
Mesmo esgar e não resisto
Quando o nada se proceda,
Ou quem sabe esta vereda
Trame o quanto em vão insisto,
Respirando e assim, existo
Novo rumo eu me conceda.
Estuário mais diverso
Ainda quando em mim eu verso
Procurando por talvez
Outra sebe onde descanse,
Mas sequer mero nuance
Do que em mim ainda vês.

87

Sedas entre rendas; vejo
E se tento algum disfarce
Condenado ao quanto esgarce
Mergulhando em vão negrejo,
Sou deveras malfazejo
Onde tento e não disfarce
E gerando novo esgarce
Bebo o fim que não prevejo,
Ascendendo ao quanto eu pude
Nada trago aonde pude
Ilusões são costumeiras,
Sem saber se eu posso ou não,
Vibro a cada sensação,
Mesmo quando outra tu queiras.


88


Apresento a tão sonhada
Noite aonde nada vira
Senão ermos da mentira
Tantas vezes dando em nada,
Onde quis mais orvalhada
A verdade se retira
E negando brasa ou pira
Farsa feita e bem tramada
Ouso até pensar no alheio
Quando o meu passo não veio
Expressando a morte em mim,
Vasculhando esta gaveta
Outro fato me arremeta
Ao cenário de onde eu vim.

89

Azulejo o passo em rumo
Aos meus tantos e diversos
Expressares quando em versos
Tolamente eu me resumo,
Procurando essência e sumo
Dos meus erros mais dispersos
Noutros tantos já submersos,
No final acerto prumo.
Esgueirar queira ou não queira,
Estopins; acendo quando
O meu canto derramando
Traz em si; a verdadeira
Face escusa, mas voraz,
Que o passado vivo traz.



90

Tantas quantas eu pudesse
Ansiedades simplesmente
No talvez quando se mente
Omitindo qualquer prece,
No vazio a vida esquece
E traduz mera semente
Onde fora plenamente
Qual demente se enlouquece,
Nesta insânia contumaz,
Quanto mais constante a cena
Outra idêntica condena
Ao caminho que não traz
Quem deveras fora tanto,
Hoje apenas desencanto.


91

Pela escada rumo à queda
Um degrau em discordância
Vida passa e sem instância
O meu passo o tempo veda,
No vazio se envereda
E buscando uma constância
Onde houvera mera estância
E bem sei; apenas seda.
Sedas entre teus cetins
Sonhos traçam ledos fins
E os enganos refletindo,
O que tanto quis, disperso,
Busco o prumo quando verso,
Mas sei quanto o tempo é findo.

92


Nestes rios, sangue, veias
Outros tantos, confluência,
Vendo já sem ingerência
O que ainda em vão rodeias,
Luas claras e permeias
Com fatal incongruência
Ao transtorno e penitência
Providências são alheias,
Cedo enquanto no horizonte
O futuro nada aponte,
Tão igual ao que vivemos,
Neste fátuo caminhar,
Ir e vir céu e luar,
São deveras frágeis remos.


93

Cordilheiras dentro da alma
Em condores, lhamas, Andes
E diverso se desandes
Noutra trama diz do trauma,
Onde nada mais acalma
Nem torturas e desmandes
Hoje sigo em sonhos grandes,
Mas conheço a mera palma,
Resta apenas o retrato
Tantas vezes tolo e ingrato,
Resgatando o já não sido,
O mergulho em tais montanhas
Traduzindo estas entranhas
Noutro fátuo, vago olvido.


94


Das nevascas e geleiras,
Onde outrora vira a cena
Que jamais pensei serena
E desfaz velhas bandeiras,
Nestas horas corriqueiras,
A verdade leda e plena,
Muda quando a minha pena
Em teclado tu mais queiras,
Caminhar em cardo e farpa,
Mergulhar de cada escarpa
Escapar quase que imune
Aos que tange ou me interessa,
Tanto tempo em vã promessa,
E o futuro o velho pune.


95



Destas tantas umidades
Fantasia em aridez,
O que tanto já não vês
Noutro espaço ainda invades,
Rompo em mim algemas grades
E tentando em lucidez
Caminhar a insensatez
Mesquinhez, realidades.
Expressões diversas; sinto
Quando tento novo aprumo,
Mas da América eu resumo
O vulcão agora extinto,
Que no fundo em lavas lava
A sua alma sempre escrava.


96


Por planetas meros rastros
Dos medonhos antes quando
Tal formato se moldando
Não deixara sequer lastros,
Onde quis em alabastros
O meu ermo cinzelando
No final se desolando
Os destinos sem seus astros.
Na vidência de um cigano
Turbilhão em que me dano
Novo fato, mesma cena,
Na incerteza do que tenho,
Outro mundo, mesmo empenho,
À guerrilha se condena.


97


Varre a terra onde passara
Esboçando risos, medos
E se tanto sei de enredos
Navegando em vã seara,
O meu canto se prepara
Onde cismo sem segredos
Dias fátuos, tempos ledos,
Outra voz se desancara,
Carpideira de plantão,
A mentira em previsão
Nega a queda do que é morto,
Olho e vejo este reflexo
E mirando mais perplexo
Presumindo cada aborto.


98


Uma arma que se empunha a cada cena
Outra desnuda enquanto o carrossel
Vestígios desta pólvora no céu
Apenas à verdade se condena,
Ardente caminhar, tola sirena
Bebendo em goles fartos o cruel
Desenho feito em sonhos de papel,
Ousando nesta mesma tosca arena.
Escaravelhos dizem do que resta
Nesta iguaria tanto desonesta
Servida em funerais, minha alma cede,
E o verde se esgotando a cada passo
Cenário aonde o ledo e mero traço
Ainda que a verdade morra ou vede.


99



Ninguém pode sequer colher o farto
Desejo em vã colheita quando tento
Vencer o caminhar contrário ao vento
E deste desenhar eu já me aparto,
Tomado pela essência deste parto
Aonde vejo o tênue, mas sangrento
Delírio desejado em provimento
E o todo noutro errático eu reparto,
Esboço bem mal feito do que assumo
E sigo contumaz, ledo resumo
Do frágil suicida em tantos nãos,
Expresso ou mais confesso um erro quando
O todo noutro par compartilhando
Restaura a invalidez de torpes chãos.


100


Pastoreando a sorte em dissabores,
Aonde pude outrora crer num fato
Resgate do que em nada já retrato
Seguindo sem prenúncios onde fores,
Anunciando a queda em fátuas flores
Bebendo este insalubre e vil regato,
Escasso caminhar; sei e constato
Os cernes mais medonhos, grises cores.
Errante bandoleiro vago à toa,
E sinto quanto mais em mim ecoa
A voz em discordância tão sutil,
Esparsos dias sinto quando ateio
O manto desnudando o passo alheio
Ao quanto de mim mesmo não se viu.

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