sábado, 10 de julho de 2010

41101 ATÉ 41200

901

É duro acreditar em tal benesse
Que possa ainda um dia emoldurar
Nos olhos de quem busca o bem de amar
E o passo no vazio o tempo esquece,
O quanto pude além e não se tece
Jamais a vida trama outro lugar
E nesta dura estrada a divagar
O rumo num momento se esvaece.
Aprendo com a queda, mas bem sei
O quanto é necessária a nova grei
Que possa permitir algum alento,
No amor onde deveras me entregara
A solidão procria em dor e escara
E apenas o vazio; em mim, fomento.

902


Presumo ao fim de tudo alguma luz,
Mas sei quanto impossível ter certezas
E quando além dos olhos fortalezas
Apenas o vazio reproduz
E a fonte que pensara e nela eu pus
O canto mais audaz, raras destrezas
As sortes não seriam mais ilesas
Do amor somente agora vejo a cruz,
Teu corpo antes desnudo no meu quarto
Um sonho que deveras já me aparto
E sinto a solidão em tom feroz,
Quem sabe noutra vida ou noutro instante
O tanto que se fora se adiante
E mude a direção em nova foz.

903


O cheiro delicado de quem ama
A sorte mais sedenta de esperança,
O quanto no vazio ora se lança
E tenta até domar a insana chama,
O coração deveras já reclama
Ausência do que fora em confiança
E vendo a cada dia esta mudança
Esquece o que traçara em rara trama
Opacas luzes beijo em noite inglória
E tudo o que me resta na memória
Apenas saciando um vão fastio,
No amor que tantas vezes quis comigo
Somente se desenha o desabrigo
Perpetuando assim um duro estio.

904


Amante tresloucado e sem limites
Do tanto que pudera em juventude
A vida num instante tudo mude
E além de qualquer brilho agora omites
Embora destes sonhos necessites
O amor que se fizera em amiúde
Desenho perde o senso e não ilude
Matando as horas vagas e infinitas.
Resumos de um passado em tom feroz
Agora a seca adentra a minha foz
E o manto já puído nada traz
Bisonho este velhusco camarada
Perdendo o vendaval, tenta em lufada
O canto mais audaz, porém mordaz;


905


Espelhos d’água mostram esta face
E nela este Narciso desdentado
Agora noutro rumo maltratado
A cada nova ausência se desgrace,
O risco na verdade ainda trace
Apenas o terror, ledo legado,
Invés do pleno amor, um triste enfado
E nele a solidão deveras grasse,
Amante em ilusões, somente ausente
Marcando com terror o que inda sente
No pejo dissemina esta mentira
E aos sonhos mais felizes, porém mortos
Destroços devorando velhos portos
O barco no vazio então se atira.


906


Ascendo ao meu caminho em tom sombrio
E amor que tanto quis já não responde
O mundo na verdade tudo esconde
E gera tão somente o medo e o frio,
O quando ainda posso aqui desfio
E sem saber deveras nem por onde
Ainda que outro rumo; a vida sonde
Do labirinto perco o senso e o fio,
Do salutar desejo em mocidade
Agora ao mesmo tempo se degrade
E trace com terror o que é real,
O tanto se perdera em vã fumaça
Amor quando demais e o tempo passa
Resulta neste fado em tom venal.


907


Alheio às esperança que inda trago
O marco se transforma em cicatriz
O quanto na verdade já desfiz
E nega da alegria um mero afago,
A messe se transforma em duro estrago
O tanto que pensara ser feliz,
A vida agora eu vejo por um triz
Dos medos e receios eu me alago,
Num último gorjeio, a noite cessa
E mata o que pudera ser promessa
Deixando em desalento o tolo amante
A boca desdentada te apavora
A vida aos poucos perco; e vai embora
Cenário em tom sombrio e degradante.

908

Meus versos derradeiros não seriam
Aqueles costumeiros de ilusões
Ausentes nos meus dias erupções
As noites solitárias tanto esfriam
Somente os dissabores ora guiam
Marcando em discrepância as emoções
Invernos destroçando alguns verões
A pele como esta alma já se estriam.
Esgoto em vida alheio ao sonho agora
Mortalha invés de messe me decora
E o canto na verdade em tom agônico
Aonde quis um dia quase hedônico
Apenas se percebe mera farsa
E a vida a cada instante mais se esgarça.

909

Velhusco companheiro em voz sombria
Sarjetas de minha alma ora freqüento
E quando ainda sinto ao longe um vento
A noite na verdade já se esfria,
O canto se transforma em agonia
E assim deveras morto me apresento
O corpo que pensara mais sedento
Adentra esta seara e a vê vazia
Entregue aos dissabores nada mais
Os dias repetidos e venais,
Caricatura apenas do que há tanto
Sonhara com delírios e desejos
Agora nem sequer meros lampejos
Restando ao caminheiro o desencanto.

910


Do amor que fora o mote predileto
De quem se fez poeta e sonhador,
Um mero repentista, um trovador
Buscando a qualquer preço algum afeto
Apenas no vazio eu me completo
E bebo a cada passo o dissabor
Regido pelas ânsias de um amor
O aborto se transcende ao próprio feto
Embrionário sonho se negara
E gero enorme chaga, funda escara
No peito onde se quis bem mais outrora
A sede de viver? Agora esqueço
O amor se desenhou mero adereço
E a solidão atroz hoje devora.


910


Do amor que fora o mote predileto
De quem se fez poeta e sonhador,
Um mero repentista, um trovador
Buscando a qualquer preço algum afeto
Apenas no vazio eu me completo
E bebo a cada passo o dissabor
Regido pelas ânsias de um amor
O aborto se transcende ao próprio feto
Embrionário sonho se negara
E gero enorme chaga, funda escara
No peito onde se quis bem mais outrora
A sede de viver? Agora esqueço
O amor se desenhou mero adereço
E a solidão atroz hoje devora.

911



Perdendo o meu caminho vida afora
Durante tantas vezes vi no amor
A imagem de um supremo redentor
No qual a minha sorte mesmo ancora,
O tempo me provou e sem demora
O quanto se apresenta em dissabor
Nos ermos deste falso salvador
Hermético caminho nada aflora
Somente a solidão e neste intento
Apenas da ilusão eu me alimento
E sigo os rastros deste que seduz
E deixa qual falena imersa em luz
O peito de quem sonha; um vão poeta.
A vida no vazio se completa?


912

Um dia me ensinaste que a ventura
Da vida consistia em ter alguém
E quando a realidade toca e vem
Negando na verdade esta procura
A história lentamente me tortura
Do nada a cada instante sou refém,
A morte se aproxima e com desdém
A cada nova ausência se afigura,
Viver as ilusões de um falso amor
E crer na imagem torpe de quem tanto
Gerara num momento um raro encanto
Depois de estar envolto em tal torpor
Sentir no amor que tanto se queria
A reles, sem valor, bijuteria.

913


O quanto desta vida fora meu
E agora não se vê sequer a sombra,
Realidade doma e tanto assombra
Quem; rumo sem timão, no mar perdeu.
O manto quanto a messe descoseu
A noite na verdade não alfombra
De pedras e de espinhos minha alfombra
Abismo se traveste em apogeu.
E a queda anunciada há tantos anos
Em meio aos mais terríveis desenganos
No amor que se perdendo me levou
A angústia toma então este cenário,
Brumosa realidade em temerário
Caminho, o que decerto aqui restou.


914


Nos ermos deste velho coração,
A sorte em discordância dita o rumo
E quando pouco a pouco em vão me esfumo
O barco em infeliz navegação
Sabendo das procelas que virão
Já não conhece mais nem leme ou prumo,
Deveras da existência ausente sumo
Jogado sobre o solo, podre grão.
O amor que tantas vezes é sublime
E gera a fantasia que redime,
No entanto ao se esconder marcando em fogo
Tatua a minha pele em cicatrizes
E quando cada sonho tu desdizes
Percebo quão inútil prece e rogo.

915


Ocasionando a queda de quem tanto
Sonhara com palavras mais gentis
Distante do que um dia tanto quis
A vida se transforma em puro espanto,
E o mundo a cada dia em vil quebranto
Deixando sua marca, o céu é gris
Quem fora tão somente um aprendiz
Agora em desamor renega o canto,
E jaz entre espinheiros, pedregulhos,
Ausente uma esperança e sem mergulhos
Nos antros deste sonho, uma alma vaga
Invés da mão que tanto acaricia
O olhar em face amarga e mais sombria,
Trazendo traiçoeira a fina adaga.


916


Recluso dentro em mim em nada eu falo,
Apenas me escondendo da verdade
Aos poucos em total insanidade
Dos sonhos de um passado em vão, vassalo;
Ao ver o dia a dia então me calo,
E sinto quão amarga a realidade
Apenas o vazio que me invade
Pudesse num instante contorná-lo.
Mas sei quanto é cruel o dia a dia
E nada mais em mim eu cerziria
Senão esta mortalha em tom funéreo
O amor que um dia fora fonte e mina
Agora ao fim da história determina
Com a frieza imensa de um minério.

917

Percebo a minha vida se esvaindo
Na ausência de quem possa ter além
Do olhar endurecido num desdém
Quem sabe algum desejo mesmo findo,
O corte deste sonho eu já deslindo
E sei quando a verdade toma e vem
Do amor outrora mero e vão refém
Agora um passageiro se esvaindo
Nas brumas entre as trevas da existência
A cada novo dia a penitência
Transforma uma lembrança em vil galé
Há tanto já perdera o rumo e sei
Do quanto se tornara escusa a grei
Renego neste instante a própria fé.


918


Das plagas mais distantes ao vazio
O rumo em desolada tez eu vejo
E quando a cada instante noutro ensejo
Presumo o que me resta: o desvario,
Por vezes tão ingênuo eu desafio
Os ermos de um temível vão desejo
A morte que ora anseio e mais desejo
Talvez suavize em paz o torpe rio
Quem fez do amor um sonho e se perdeu
Pensando ter um mundo até só seu
No fundo nada leva, resta só,
Reduzo a cada passo em exclusão
O tempo que me resta e a solidão
Transforma a minha estrada em ledo pó.


919


Perdido e sem saber se existe ao fundo
Um túnel, mesmo luz quiçá um norte,
Caminho e já desfaço este suporte
Enquanto no vazio em me aprofundo,
Das dores e temores quando inundo
Esta alma sem ter sonho que a conforte
Desdéns desenham tétrica esta sorte
Um velho coração tão vagabundo
Alheio e sem ninguém, no amor inglório
Lunático terrível, merencório
Jamais percebe amor nem mesmo o roça,
O quanto no passado se fez sonho
E agora caricato e até bisonho,
Um histrião exposto ao riso e à troça.


920


Jazigo dos amores, tumular,
Esgoto em tez tão tétrica; vazio
O quanto ainda tento e desafio
Deixando mais distante algum lugar,
Um pária pela noite a trafegar
Singrando as ilusões em duro estio,
O corpo se estraçalha e no sombrio
Delírio nada resta, nem sonhar.
Amar e ter a paz que assim condiga
No cômodo caminho em voz amiga,
Um sonho tão comum e mais freqüente,
Mas quando a vida toma novo rumo
E aos poucos sem sentido já me esfumo
Apenas a mortalha se apresente.


920


Jazigo dos amores, tumular,
Esgoto em tez tão tétrica; vazio
O quanto ainda tento e desafio
Deixando mais distante algum lugar,
Um pária pela noite a trafegar
Singrando as ilusões em duro estio,
O corpo se estraçalha e no sombrio
Delírio nada resta, nem sonhar.
Amar e ter a paz que assim condiga
No cômodo caminho em voz amiga,
Um sonho tão comum e mais freqüente,
Mas quando a vida toma novo rumo
E aos poucos sem sentido já me esfumo
Apenas a mortalha se apresente.

921


Num gélido caminho a vida traça
O passo de quem tanto quis alguém
E agora a solidão imensa vem
Tomando num instante a dita lassa,
E o sonho no vazio se esfumaça
O risco de sonhar? Mero desdém
A morte se aproxima e nela tem
O aspecto salvador da torpe traça,
Puindo pouco a pouco esta esperança,
Ao nada o que me resta já me lança
E trama no vazio o meu porvir,
Amante da ilusão e somente isto
Agora no final, enfim desisto
E sinto o meu caminho se esvair.

922


A lividez de um sonho se mostrando
Na face desdenhada de quem tanto
Buscara pelo menos ledo encanto
Quiçá um novo dia até mais brando,
Mas tudo se transforma desde quando
A vida noutro rumo ora garanto
E cada vez deveras mais me espanto
O todo que sonhara desabando,
Do amor, sequer a sombra, nada levo
O quanto imaginara inda longevo
Caminho em flóreo rito se desfaz,
Apenas se denota em vaga ermida
O que inda fora outrora mera vida,
E agora um velho espectro vil; mordaz.


923


A neve tão precoce adentra o olhar
De quem agrisalhado pela vida
Em pleno outono vê a despedida
Num invernal e duro caminhar,
Apenas poderia imaginar
Quem sabe no final, mera saída,
Porém a cada instante a despedida
Rondando a minha vida e a me tomar.
Egrégio da ilusão, um trovador
Nas ânsias mais audazes deste amor
Perdera qualquer rumo e sem seu cais,
Esgota pouco a pouco o que inda resta
Em tez amarga fria, vã funesta
E sorve sem rancor seus funerais.


924


Eclode da crisálida o vazio,
Aborto onde se fez apenas isso,
Um chão em lamaçal e movediço
A sorte se perdendo a cada fio,
O corpo em solidão no olhar esguio
O canto se transforma e sem o viço
Apenas resta em mim este amor mortiço
Mirando de soslaio, ressabio.
Carcaça da esperança carcomida
Nos ermos de um medonho sonho sigo
Não tendo no final o amor amigo
A porta se cerrando; tudo acida,
Esparsa voz ao vento sem resposta
Minha alma a cada instante; decomposta.


925


Paixão que se renega e já desfaz
Um reino imaginário, hoje avassala
E toma sem pensar o quarto e a sala,
A imagem dolorosa e mais tenaz,
Infaustos, Fausto serve a Satanás
O coração aos poucos nada fala
A solução a ferro, fogo e bala
Assim quem sabe possa haver a paz?
Do amor que não viera e não redime,
Este ar se escasseando trama o crime
E o gozo da mortalha se aproxima,
A serpe se afigura em solidão,
O passo se repete e sempre em vão,
Eternizando em mim o invernal clima.

926


Vulcânica erupção das ilusões,
Resgates deste sonho juvenil,
O sonho num instante em vão reviu
O quanto a vida nega e decompões.
Num execrável mundo em tais senões
Aonde quis um passo mais sutil,
Quem sabe o caminhar manso e gentil
Mudando com certeza as estações.
O amor que talvez fosse um porto, um cais
Agora se ausentando e nunca mais
Verei ancoradouro mais seguro,
Vacante coração em face escusa
A sorte se inda existe já não cruza
Caminhos onde a paz; quero e procuro.

927


O amor se traduzira indiferença
E o quanto pude crer já não se sente
Apenas solidão que impertinente
Renega qualquer sonho e mata a crença
Aquém do que deveras uma alma pensa
O sonho se esvaindo de repente,
O manto se transforma e um penitente
Vagando pela noite escura e densa.
Ocasos da esperança; nada vejo,
Somente o sofrimento a cada ensejo
Reinando sem defesas sobre tudo,
E quando em sonho apenas me transformo
No vago e inconsistente já deformo
E sigo sem razões, e assim me iludo.

928


Perpasso o meu olhar neste horizonte
E vejo a mesma tez amarga e vã
E busco qualquer luz noutra manhã
E nada além da bruma ora se aponte
O amor que poderia ser a fonte
Quem sabe noutro tempo em raro afã,
Porém a vida segue e tão malsã
Negando ao caminheiro a mera ponte,
Resumos de uma vida sem promessas
E nela com teus ermos me endereças
À sórdida loucura de quem tenta
Vencer esta explosão com calmaria
E o manto em turvas cenas se cerzia
Funesto caminhar em tez sangrenta.


929


Negando uma esperança a quem porfia
O mundo muitas vezes, mais ingrato
Transforma num escuso o bom retrato
E o canto na verdade em ironia,
O quanto resta em dor e hipocrisia
Aonde quis a paz de algum regato
O mar inunda tudo e enfim desato
O passo em tons doridos de agonia,
Mas quando o amor se faz talvez consiga
Gerar outra impressão bem mais amiga
E terminar o infausto do andarilho
Que tanto procurara simplesmente
A paz e sem ter nada a morte sente
No rumo em contra-senso onde palmilho.


930


O fato de sonhar já não cabia
Em quem se fez mortalha e nada mais,
Os olhos seguem ledos temporais
E a noite se promete mais sombria,
Velhusco coração empedernido
O frágil trovador em plenas rugas
E o quanto ainda havia vens e sugas
Tornando o meu caminho sem sentido,
Esgarço em tons nefastos, mas quem sabe
Um dia pelo menos a mortalha
Que aos poucos se prepara e em mim se espalha
A torpe hipocrisia enfim se acabe,
E reste apenas nada do que fora,
Uma alma tantas vezes sonhadora...


931




Não quero dedicar
Somente o verso triste
Sabendo que inda existe
Ao longe algum luar
Aonde me entregar
No sonho que persiste
E sigo além e em riste
Talvez a divagar,
Mas sinto esta promessa
Do amor que se endereça
Ao passo mais além
E volto a ter a fé
No quanto ser quem é
O amor que ainda vem.


932


Buscando sem ter bases
Apenas por saber
Do quanto possa ter
Ainda se te atrases
A vida em novas fases
E nisto algum prazer
Depois do anoitecer
A lua tu me trazes,
Resulto deste sonho
E nisto me proponho
Bem mais do que ao infausto
Já não quero o vazio
Se amor é desafio
Jamais foi holocausto.

933



Vivendo o que pensava
Durante tantos anos,
Em medos desenganos
O mundo em fúria e lava,
Agora já notava
O brilho em soberanos
Desejos nestes planos
Aonde escancarava
A sorte mais tranquila
Aonde o sol desfila
E gera esta alvorada
Razão para esperança?
Nascer esta criança
Há tanto; desejada.


934


Desejo que forjara
No coração sutil
E quando ali se viu
A vida bem mais clara
A sorte audaz e cara
O corte outrora vil
Agora em tom gentil
O amor já nos prepara
E traça em alegria
O quanto em novo dia
Pudesse dar certeza
De um farto e lauto insumo
Que agora em paz consumo
E toma a minha mesa.

935

Não quero te falar
Das tantas inverdades
Guardadas nas saudades
Sem sol e sem luar,
Restando a divagar
No quanto ainda agrades
Diversas realidades
Ou mesmo o navegar
Por mares tão diversos
E neles os meus versos
No amor encontram cais,
E deixo esta vertente
Do sonho que inclemente
Não quero nunca mais.

936


A vida sem você
Não tendo mais sentido
O amor em ledo olvido
O sonho não se vê
E tento algum por que
Embora resolvido
E em versos redimido
No amor o sonho crê.
E dessedenta então
Mudando a direção
Do vento dentro em mim,
Marcando com sorrisos
Os dias imprecisos,
Ausente um torpe fim.



937


Eu quero poder ser
Além do companheiro
Talvez o derradeiro
Num raro e bom prazer
Um cúmplice e querer
O tanto do canteiro
Que mostre o verdadeiro
Caminho a se vencer,
Em ti e neste tanto
Enquanto a dor espanto
Imerso em consonante
Desejo rumo além
No amor que nos contém
E penso a cada instante.


938

Que trama cada sonho
No sonho refletido
E nisto concebido
Um ar bem mais risonho
No tanto que me ponho
O mar constituído
Nas tramas presumido
Um canto onde proponho
Além de meramente
O quanto já se sente
Deveras muito mais,
Numa constante luz
Em ti se reproduz
A própria essência, o cais.

939


Dormindo do seu lado
Em sonhos tão diversos,
Porém os meus imersos
Nos teus, num desejado
Desenho já traçado
Além dos universos
Jamais sendo dispersos,
Um rumo pareado,
Cerzindo esta união
E nela se verão
Caminhos tão iguais
Embora em liberdade
O amor tanto me agrade
Em almas geminais.

940

Eu quero seu perfume
Roçando a minha pele
No todo que se atrele
Além do quanto rume
Meu passo em tanto ardume
Deveras me compele
E nisto se revele
A sorte em mesmo lume,
Vestindo a tua tez
O quanto já se fez
É pouco e quero além
Se um dia em despedia
Além da própria vida
O amor inda nos tem.

941



Na doce maciez
Do sonho em que me entranho
A cada passo um ganho
E nisto também vês
O olhar em lucidez
O rito outrora em lanho
Agora em bem tamanho
Além do que mais crês,
Cerzindo em ti minha alma
Uníssona, me acalma
E traz felicidade
O porto além do porto
E mesmo após já morto
O amor ainda invade.


942

Os dedos conhecendo
Caminhos já sabidos
E tanto percorridos
Num rumo que estupendo
Aos poucos vou revendo
E quando resumidos
Em todos os sentidos
O amor nos comovendo,
O pranto, o medo o orgasmo
O olhar sedento e pasmo
O risco; eu já não vejo
E quando além desejo
E nunca mais me privo
Do amor amo e cativo.


943

Invadem sua pele
Suores e rubores
Vagando sem temores
No quanto já se atrele
E assim amor nos sele
E leve aonde fores
Cerzindo em novas cores
O manto em que revele
Esta absoluta sorte
E nela se comporte
Além dos próprios seres
Imersos neste instante
Bem mais que um diamante
Se assim tu o perceberes.

944


Eu quero ser esta ave
Liberta em migração
E nesta imensidão
A vida sem entrave
O quanto nada agrave
Nem mesmo mostrarão
Os dias, solidão,
No coração a nave
Que possa além do mar
Deveras nos levar
Num mesmo e bom desenho,
No amor que nos guiasse
A vida sem impasse
É tudo o que eu contenho.


945


Adentra nessas matas
O sonho bandeirante
E sente a cada instante
Aonde me arrebatas
As sortes em cascatas
Vibrando delirante
Caminho onde adiante
O passo onde reatas
O rumo em mesma face
Por onde que eu grasse
Contigo ali eu vou
Um servo? Não, nem amo,
Do árbol diverso ramo
Que amor em paz gerou.

946

O canto que em meu canto
Ecoa e se renova
Coloca sempre à prova
O passo que adianto
Tentando além do tanto
A lua sempre nova,
Vagando em cada trova
E nela não me espanto
Com medos sem sentido,
O amor reproduzido
Na própria natureza
Uma iguaria rara
Que a vida nos prepara
E serve em lauta mesa.


947

A mando dessas mãos
O coração vagueia
E bebe enquanto anseia
Além dos tantos vãos
Após diversos nãos
Percebe na sereia
A lua agora cheia
Ciganos artesãos
Delírios de um poeta
Que em ti já se completa
E sorve todo o mel
Do amor onde bendiga
A sorte imensa e amiga
Num argentino céu.

948


Sabendo cada canto
Aonde poderia
Além da fantasia
Traçar o seu recanto,
O amor quando garanto
Invade a noite fria
E traz esta ardentia
Na qual eu quero tanto
A frágua que incendeia
Deitando em plena areia
Cevando este caminho
Seara majestosa
Enquanto a vida goza
De Deus eu me avizinho.


949



Penetra, mansamente
Os ermos vãos e furnas,
As ânsias que diuturnas
Dominam cada mente,
O amor jamais desmente
E trama em mais soturnas
Loucuras onde enfurnas
E bebes plenamente.
Perambulando em ti
O quanto eu me embebi
Do sonho, na verdade
Transcende ao próprio amor
E faz nascer a flor
No pólen saciedade.

950

Amada que te quero
Além da própria vida
A sorte presumida
Num tempo menos fero,
O quanto sendo assim
Bem mais do que pudera
Eterna primavera
Em mágico jardim,
Resumos de promessas
Enquanto no passado
O sonho acalentado
Agora em paz, professas,
Ascendo ao mais superno
E chego além do eterno.



950

Amada que te quero
Além da própria vida
A sorte presumida
Num tempo menos fero,
O quanto sendo assim
Bem mais do que pudera
Eterna primavera
Em mágico jardim,
Resumos de promessas
Enquanto no passado
O sonho acalentado
Agora em paz, professas,
Ascendo ao mais superno
E chego além do eterno.

951


Fazendo dos meus dias
Além do que pensara
Tomando esta seara
Aonde mais querias
Vencer as agonias
No encanto onde se ampara
A vida e se prepara
Colheita em alegrias
Assisto ao quanto pude
Viver em plenitude
Na imensa cordilheira
Andina maravilha
A sorte agora trilha
E bebe a vida inteira.

952


No amor de quase tudo
O quanto em liberdade
Alçando enquanto invade
O canto e não me iludo,
O sonho e nele eu mudo
O rumo e a realidade
Campônio na cidade
Por vezes quase mudo,
Hermético? Nem tanto
Apenas eu me espanto
Com toda a imensidão,
Do amor que rege a vida
E dita a despedida
Marcando esta estação.

953



Que acalma e já delira
A dádiva divina
E nela me fascina
A sorte onde se atira,
O quanto ouvindo a lira
Poética e ladina
A tez alabastrina
A vida noutra mira.
Ascendo aos meus encantos
E busco pelos cantos
Lavrar com meu rastelo
O mundo onde pudesse
Quem sabe esta benesse
E tento ou já revelo.

954


Não sabes quem eu sou?
Também que importaria...
Apenas trago o dia
Ou bebo o que restou,
Resumo onde passou
A sorte em agonia
Ou tanto poderia
Negar e se inda vou,
O coração cigano
Deveras se eu me dano
O corte é todo meu,
Amor já não concebe
Sequer domina a sebe
Aonde se escondeu?

955


Os sonhos que me dás
Na lua sertaneja
Que tanto mais deseja
Além da mera paz,
O passo mais audaz
Na frágua que se enseja
O coração troveja
E assim se satisfaz,
Cavalgo em noite imensa
Tropéis no quanto pensa
E reina em meu castelo
A dama em verso e sonho,
Em púrpura componho
E em nada enfim revelo.

956


Os erros que talvez
Já nada me disseram
Ou mesmo desesperam
E matam onde vês
O corpo e já se finda
Além desta memória
O quanto quis em glória
E nada veio ainda
Somente a lua e trama
Na noite o que este dia
Jamais demonstraria
Em tênue e frágil chama,
Amar e ter no olhar
Inteiro o céu e o mar.

957


Esperam minha amada
As fases desta lua
Deitando imersa e nua
Nos ermos desta estrada,
A noite iluminada
O sonho em ti cultua
A deusa que flutua
E segue em madrugada
Galopa esta esperança
Aonde ao longe alcança
Estrelas em tropel,
E o tanto que pudera
No amor além da espera
Domar o próprio céu.


958


Namoro, na verdade,
O tanto da ilusão
Aonde o coração
Aos poucos já degrade
E o quanto disto invade
Cerzindo a negação
Marcando com senão
Ausente claridade,
Medonha face exposta
No olhar de quem se gosta
O amor por vezes traça
O rumo em desvario
E sigo neste rio
Em dor, em riso e em Graça.

959


Se bem que sempre expus
A minha face enquanto
Aos poucos me adianto
E tento ver a luz,
Cenário que produz
Ainda além tal manto
Alpendre onde eu me espanto
No corte em contraluz,
Amor amortalhado
Já não traduz mais nada,
As ânsias do pecado,
O risco que se assume,
A noite antes nublada
A lua sobre o cume...


960


Andando por poemas
Aonde pude outrora
Falar do que devora
Romper velhas algemas,
A sorte dita emblemas
O medo desancora
O amor já foi embora
E leva além seus lemas.
Olhando para trás
O quanto ainda traz
Da noite dentro em mim,
Versando sobre o vago
Em ânsias eu me alago
Regando este jardim.


961


A lua redentora
Depois da tempestade
Surgindo enquanto invade
Esta alma sonhadora
A vida sempre fora
Além da realidade
E nem sequer saudade
Em tez dominadora
Ainda se percebe
Na ausência desta sebe
Porquanto enfim vieste
Tornando mais suave
O coração esta ave
Num canto rude e agreste.


962


A minha namorada
Vestida de promessa
Aos poucos me professa
A sorte anunciada
E trama outra jornada
Enquanto recomeça
Sem medo ou mesmo pressa
A vida em mansa estrada,
Lavrando assim meu solo,
Se às vezes eu me assolo
No fundo vou tranqüilo
Vagando em claridade
Nem nuvem mais invade
O campo onde desfilo.

963


Se esconde por detrás
Do monte, a lua imensa
E nisto se convença
A vida em tom audaz
Que tanto já se faz
O quanto recompensa
E logo não compensa
E volto à dor tenaz.
Mas quando em ti estou
O tanto que raiou
Da argêntea maravilha
Presume nova senda,
E o tempo em luz se estenda
Na lua que polvilha.


964

Amor de um sertanejo
Mineiro coração
Não quer mais solidão
Apenas o desejo
Do sonho aonde eu vejo
O tempo em viração
E adentro o meu sertão
Nascente onde trovejo
Em verso e serenata
A sorte mesmo ingrata
Trazendo na tapera
A moça mais bonita
Meu sonho se permita
Viver em primavera.


965

Viola ponteando
O peito se apaixona
E nada mais se adona
Do canto demarcado,
O sonho abençoado
A sorte é minha dona
E nada me abandona
Nem mesmo o meu passado,
Vestindo a fantasia
De quem já poderia
Em lua e em belo sol
Trazendo em poesia
O amor que mais queria
Da vida, o meu farol.


966


Liberto coração
Penetra qualquer mata
E segue sem bravata
A lua é direção
E nela desde então
O quanto me retrata
Na fonte em serenata
A voz desta canção
Ouvindo o sabiá
O amor me mostrará
O encanto mais sutil,
E assim nos ermos da alma
A vida já se acalma
No sonho onde se viu.

967

A vida sem cabresto
Em liberdade agora
No sol que se demora
O amor em cada gesto
Aprumo e agora empresto
A voz ao que se aflora
Do peito sem ter hora
E o gozo em paz; atesto
Morena mais faceira
A sorte que te queira
Também vai me querer?
Nas ruas da cidade
Apenas a saudade
Eu pude conhecer...


968

Bebendo este aguardente
Que tanto me inebria
O amor em noite fria
Quem sabe se apresente
E mude totalmente
A vida tão vazia
Que nunca poderia
Traçar esta nascente,
A mina já secando
A seca destroçando
Inteira a minha lavra
O amor que já se foi
Rumino feito um boi
Dos sonhos? Nem palavra...

969


A lua tece em teias
Diversa maravilha
Amor tomando a trilha
Enquanto me incendeias
Trazendo sempre cheias
As luas onde brilha
A sorte em armadilha
Que tanto tu receias,
E tento esta ciranda
A moça na varanda
O coração dispara
O tempo passa e nada
Apenas desejada
A noite imensa e clara.


970

Carrego no bornal
Estrelas onde pude
Viver a juventude
E agora muito mal
Resumo o meu passado
No canto mais cruel
E bebo deste fel
Do amor abandonado,
Pressinto o fim da estrada
E tento ainda ver
Além no amanhecer
E sei que não há nada
Somente a velha sombra
Do amor que tanto assombra.


971

Mergulho no riacho
Em noite enluarada
Quem sabe a desejada
Estrela enfim eu acho,
A lua em cada facho
Permite iluminada
Além da própria estrada
Tocando cada cacho
Cabelos da morena
Que ao longe a vida acena
E traz esta esperança,
Porém luar se esconde
E amor já nem sei onde
Ainda a vista alcança?

972

Preparo com o arado
O solo pro plantio
O amor eu desafio
E bebo o abandonado
Caminho desolado
E sei que é pleno estio
E tento além do rio
Um novo e manso prado,
Quem dera se pudesse
A vida se tropece
Nos passos de quem tenta,
Mas sei que nada disto
Existe e se eu insisto
Desdita é mais sedenta.


973


O coração ponteia
As cordas da viola
E bebe desta esmola
Na lua sempre cheia
O amor quando rodeia
E traz noutra sacola
A estrela e não decola,
Do nada se recheia
Uma alma abandonada
Nos vagos do sertão
E assim meu coração
Seguindo a mesma estrada
Não vendo quase nada
Nem rumo ou direção,
Procura a sua amada...

974


Um repentista apenas
Um trovador que sonha
E traz sempre risonha
Uma alma e nas pequenas
E poucas, raras cenas
Ainda se proponha
A ter o que componha
E logo me envenenas
A vida é mesmo assim
Começo, meio e fim
E nada repetindo,
O amor que tanto eu quis
Nem mesmo por um triz,
Meu tempo já partindo...


975

Morena cobiçada
A moça sabe bem
Do amor quando ele vem
E muda de calçada,
A noite abençoada
O gosto de outro alguém,
Mas quando este desdém
Deixando desolada
Uma alma dolorida
Cansada de lutar
Nem mesmo este luar
Transforma a minha vida
E o canto sem destino
Causando o desatino.

976


Perdoa se eu chorar
A vida é mesmo assim,
Não tendo mais jardim
Não quero cultivar
Sequer saber luar
O tempo chega ao fim
Voltando de onde vim
Não tendo mais lugar,
O amor que não me quis
O sonho mais feliz,
Apenas pesadelos,
Pudesse da morena
Tocar boca pequena,
Mexer nos seus cabelos...


977

Sabiá na janela
Chamando para ver
O claro amanhecer
Que amor tanto revela
E penso sempre nela
E nisto o meu prazer
De tanto bem querer
Cavalo arreio e sela
Galopo no infinito
Do amor que necessito
Até pra própria vida
Pudesse sabiá
Mostrar onde estará
A sorte prometida...


978


Meu verso enamorado
Não cansa de chamar
Quem tanto quis amar
Agora pro meu lado
Mineiro apaixonado
Olhando pro luar
E neste desejar
O tempo enluarado,
O mar que não conheço
Amor seu endereço
Jamais também eu vi,
E quando imaginava
Uma onda forte e brava
Levou você daqui.


979


Um trovador que canta
Pensando na morena
Que longe nem acena
O tempo desencanta,
E a sorte que eu quis tanta
Apenas me envenena
Viola já se empena
A vida então se espanta
E nada mais consola
Nem mesmo esta viola
Guardada dentro em mim,
Ponteio uma saudade
A noite vem e invade
Estio no jardim.


980

Telhado de sapé
O olhar sem horizonte
Nem mesmo a velha ponte
Agora resta em pé,
O quanto tive em fé,
Mas seca a minha fonte,
Apenas medo aponte
Buscando tanto e até...
Deitando sob a lua
O sonho já flutua
E bebe cada estrela,
Aonde se escondeu
Se amor jamais foi meu
Como é que posso vê-la?


981

Eu amo e na verdade
O tempo não produz
Nem mais a velha luz
A dor agora invade
E diz desta saudade
Do tempo onde não pus
O sonho em medo e cruz,
Cadê felicidade?
Em cada trova eu tento
Falar no pensamento
De quem jamais eu vi,
O amor não tem escolha
E logo se recolha
Aonde eu me perdi.

982


Fazendo da esperança
A cama aonde eu deito,
Quem sabe sendo aceito
No fim por quem avança
E sabe a confiança
Do amor que insatisfeito
Procura qualquer jeito
De ter esta aliança,
O medo em meu olhar
A noite sem luar
O sonho se perdendo,
A vida terminando
O coração em bando
A morte corroendo...

983

Devora uma paixão
Os ermos de minha alma
E nada mais acalma
Nem mesmo mostrarão
Olhares, direção
O tempo gera o trauma
Ainda tento em calma,
Mas vivo em erupção,
Restando do passado
O sonho desdenhado
O passo rumo ao nada,
Amar e ter em mente
O quanto se apresente
Em voz já destoada.


984

Hercúlea fantasia dita a messe
De quem se fez além de mero sonho,
No quanto em tal desenho eu me componho
E a vida na verdade já me esquece,
O passo rumo ao nada e a vida tece
O olhar agora tétrico e medonho,
Nas sendas do vazio ora me enfronho
E o rumo se inda existe não confesse.
Heréticas manhãs em turbulência
O amor ao renegar a florescência
Aborta a própria vida, estéril campo
Na fátua fantasia um ermo apenas
Ao longe em voz sombria tu me acenas
Estrela na verdade um pirilampo...


985

Egresso de outras eras; sigo em vão
Restando em labirintos meu caminho
Um Minotauro aguarda mais mesquinho
Nem Ariadne traz a solução
Os ermos de minha alma, solidão,
O parto renegado e vou sozinho
Fugazes esperanças, ledo ninho,
Apenas os restolhos sobrarão
Aonde houvera vida, vejo escombros
A sorte pesa e lanha sobre os ombros
De quem busca somente alguma paz.
Onírico cantor ensandecido,
O amor se perfazendo em vago olvido,
O sonho tão somente, um incapaz.


986


Amor nobre mosaico em tons diversos
Em multiforme face se desnuda
No quanto muitas vezes nos ajuda
Ou mesmo em tais infernos vãos imersos,
E tendo em si assim os universos
Por onde a fantasia nos acuda
Ao mesmo tempo poda e gera a muda
Os polens pelos céus seguem dispersos,
Ao aspergir sublime maravilha
Às vezes o temor também polvilha
E traz dicotomias inerentes,
No farto e no tão pouco nos redime,
Erótico caminho, um deus sublime
Aonde a divindade enfim pressentes.


987


Falar do amor em suas faces várias
Tentando desnudar este menino
Se tantas vezes nele eu me alucino
Em noites doloridas, solitárias.
Porém noutras diversas, solidárias,
O rito se mostrando cristalino
E neste verdejar esmeraldino
As ondas inclementes, temerárias,
Esgota-se em si mesmo o tal do amor,
E nele vejo sempre grã sabor
Perpetuando a vida sobre a Terra,
Nefasto e muitas vezes redentor,
No verso este lamento ou meu louvor,
A vida em mil facetas ele encerra.


988


Dos ermos de um grotão ao mais sublime
Castelo em ouro feito; rege o amor
E neste mesmo ser que é multicor
A vida muitas vezes se redime,
Mas quando em turbulência gera o crime
E traz no olhar desdém medo e rancor
Um fato que em si mesmo é provedor
Além do quanto a vida ainda estime.
Esgarça-se e deveras regenera
O amor é caça, presa, dono e fera
Um déspota voraz, um libertário.
E tento discernir neste mosaico
Caleidoscópio em ar claro ou prosaico
Um mal raro e sobejo, e necessário...

989


Na faca, no punhal, unhas e dentes
Nos lábios e carinhos, nos domina
E quando muitas vezes me alucina
Amor ditando em si; clarividentes
Momentos onde nunca transparentes
Esboça e já renega qualquer mina,
A fúria que deveras determina
O quanto aonde e o tanto que inda sentes,
Eclético fantoche, este bufão,
Um tanto em ironia, ou precisão,
Resume uma existência ou a renega
Soberba divindade além do Olimpo
Caminho em discordância turvo ou limpo
Essência que nos guia, embora cega.


990

Presume-se no amor a redenção,
Mas quando se transforma em dor e farpa
Gestando este penhasco, dura escarpa
Impede o que se quis navegação,
Por outras vezes dita sua norma
E traça em benfazeja caminhada
Na flórea maravilha de uma estrada
O amor tanto destrói quanto reforma,
Espúrio e ao mesmo tempo tão magnífico
Edênico ou hedônico é capaz
De provocar a guerra e sela a paz,
Não tendo em sua essência um ar pacífico,
Desnuda enquanto cobre em pedraria
E dana ao mesmo instante além nos guia.


991

Apaziguando enquanto se porfia
No fio da navalha, a mansidão,
O amor em seu sutil diapasão
Gerando ou destroçando uma harmonia,
E nele se pressente a sinfonia
Tramada pelas cordas, coração,
Por vezes ao cevar em duro chão
Florada sem igual já colheria.
Resumos de promessas e mentiras
Verdades contrafeitas, relativas
Imagens adoradas e cativas
Um prisma iridescente, na verdade
É feito em divindade demoníaca
A fonte desejosa e afrodisíaca
Que em tal torrente inusitada nos invade.


992


Usando da palavra, meu cinzel
Em alabastro vário tento aqui
Compor o que talvez não percebi
Num rumo convergente inferno e Céu
Ousando na esperança este corcel
Singrando o que jamais eu conheci
Chegando num instante ou não a ti,
O tempo se desnuda bom, cruel.
A marca em cicatriz de um desamor,
Sorriso imaginário de quem ama,
E vence ou mesmo perde, mas na trama
Não teme e se mostrando ao seu dispor
Imagem e semelhança de um bom Deus;
Mas sabe ser satânico no adeus.


993

Movendo a própria vida desde quando
O gênese se fez de qualquer forma,
O amor um ser mutante que transforma
E segue pela vida transmudando,
Cenário às vezes calmo suave e brando
Enquanto a convergência dita a norma,
Mas quando em discrepância se deforma
E o todo num instante desabando.
Motivo de diversas desventuras
Ao mesmo tempo trama em mais seguras
Paisagens a beleza em primavera,
No outono do viver, eu me concedo
Ao procurar na essência este segredo
Que a cada geração se regenera.


994


Aprendo a cada instante ao ver além
Do quanto caberia no horizonte
Se amor é na verdade início e fonte
Do todo que o universo em si contém
Por vezes num olhar, duro desdém
Ou noutra face; a luz que em paz aponte
Da Terra ao mais etéreo, sendo a ponte
Trazendo no seu bojo o mal e o bem,
Atrelo-me aos seus vários caminhares
E quando perceberes e notares
Envolta pelas teias do menino
Erótico desejo em frenesi
Tentáculo diverso, eu me prendi
E neste emaranhado me alucino.

995


Dos ermos solitários, das ermidas
Aos antros, lupanares, meretrizes
O amor entre os seus tons, vários matizes
Comanda e dita o rumo de tais vidas,
No quanto necessitas e duvidas
Esparsas violentas, loucas crises
E logo após em sonhos contradizes
E ao útero materno já regridas.
Na paz e na mortalha reina em glória
No quanto traz a vida em sua história
O amor nos transformando por inteiro
Um déspota gentil, um ente à parte
Enquanto acumulando já reparte,
Mas sempre com seu ar mais traiçoeiro.


996


Ausento-me de ter um julgamento
Apenas retratista em miopia,
O amor perfeito eu sei ser utopia,
Mas sei também do imenso envolvimento
E nesta essência rara eu me alimento
O quanto a cada instante ele me guia,
E gera a solitária fantasia
Tomando ora de assalto o pensamento.
Apraza-me e também já desespera
Beleza traiçoeira da pantera,
Neste risco inerente eu me sacio.
E tento a cada verso desenhar
As várias faces loucas de um amar
Na turbulência plácida do rio.


997


No granular da vida desde o início
O amor gerando além a eternidade,
E traz a dor em plena liberdade
Deste apogeu ao vasto precipício,
O amor é na verdade um santo vício
Que traça a mais sublime insanidade,
Gestando e já parindo a claridade
Também na turva face um santo ofício.
Escravizando ao tempo em que liberta,
O vândalo, este pária sem juízo,
Condena ao terrível Paraíso
Enquanto me alimenta já deserta,
Oásis neste mundo em tez sombria,
Ao mesmo tempo em luz, dor e agonia.


998


Dos bíblicos caminhos ao futuro
Metamorfoses várias presumidas
Mutantes emoções ditando vidas
No porto em ruínas tento o mais seguro
Enquanto nesta estância eu me perduro
Somente não suporto tais ermidas,
Gestando em tons diversos, resumidas
Histórias ultrapassam qualquer muro.
Imenso e sedutor deus e demônio
Domínio da razão e em puro hormônio
Escravo que fascina e nos cativa,
À sombra deste ser onipresente
O quanto se reluta e não se sente
Uma alma para o eterno sobreviva.





999

No canto mais audaz ao mais sombrio,
Restaurações diversas de um momento
Aonde se percebe em desalento
Futuro como um nobre desafio,
Do labirinto às perco o fio
Saída para tal? Não alimento,
Tampouco vejo ali este incremento
Que possa garantir colheita, estio.
Esbarro nos seus ermos e me vejo
A mera conseqüência de um desejo
Gerando; do desejo, outro viver
Eternizando assim a nossa história
O amor em sua luz farta vanglória
Onisciente sabe o seu poder.


1000


Completo mil sonetos sobre amor,
E sei que no final pouco aprendi
Do todo se esbocei retrato aqui
Eu na verdade um vão contemplador,
Por mais que tanto sinta o seu sabor
O quanto nesta vida consegui
Tentando conceber mal percebi
Deveras seu real, farto valor.
E tenho uma certeza ao terminar
Somente nada sei e ao caminhar
Por entre labirintos sem saídas
Jamais eu poderia traduzir
Nem mesmo se o bom Pai já permitir
Que eu viva muito além de cem mil vidas.

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