segunda-feira, 18 de outubro de 2010

2015 até 3000

2015


Amor a traduzir felicidade,
Refulge em minha vida, raro brilho.
Não vê por certo, em nada um empecilho
Que o impeça de saber da claridade

Do dia que se faz em liberdade
Dourando cada passo deste trilho,
Reflete no meu peito este estribilho
Capaz de me trazer à flor da idade.

Ao velho transformado em um menino,
Amor faz seus milagres, todo dia.
Nos raios deste albor, eu me ilumino,

E canto, sem delongas, tal poder.
Amor nos ajudando a renascer,
Trazendo uma certeza em tal magia...

2016


Amor acende brasa na fogueira
Braseiro que me toma em forte chama,
Te ter sempre comigo, companheira
Esta alegria imensa de quem ama.

Além do que se diz, do que se queira
Amor é redentor e já me inflama
Incita a ter a sorte derradeira
De quem viveu sozinho e agora chama

Por doce criatura que me encanta.
Sorvendo gota a gota da meiguice
No verso que fizeste em que me disse

De uma emoção que aflora em força tanta
Meu coração é teu, isso eu não nego,
Sem teu amor, caminho triste e cego...



2017


Amor adentra a casa e desembesta,
Aprontando das suas toma conta.
Do quanto que em ternura já se empresta
Ao mesmo tempo deixa a gente tonta.

Por tantas que ele sabe e nos apronta
Verdade vai sumindo pela fresta.
Aos tempos mais inglórios se remonta
Em troca a fantasia sempre gesta.

Menino sem juízo, o tal do amor
Não deixa ficar pedra sobre pedra,
Quem o conhece bem logo se medra,

Porém nada resiste aos seus encantos.
Nas tramas que ele gosta de compor,
Eu fico aqui penando pelos cantos.



2018

Amor adolescente é tão gostoso
Ciúmes e vontades incontidas.
O dia a dia vai maravilhoso
As noites são por certo, mal dormidas.
Assim no nosso caso, prazeroso,
Ansiedade domina nossas vidas...

Eu vejo renascer uma alegria
Que traz ao mesmo tempo, uma tristeza
Querendo te encontrar, leda magia,
Em todos os segundos, com certeza.
Ah! Se eu pudesse, sempre te traria
Guardada junto a mim, ser tua presa...

Um coração batendo tresloucado,
Amor que nos tomou, desesperado...


2019


Amor além da borda deste pote
Causando inundação bagunça o peito.
Vivendo em poesia, doce mote,
Tempestuosamente dá seu jeito

Paixão que num momento, salta em bote
E invade sem perguntas. Satisfeito
Avanço a nossa vida até que esgote
Inesgotável senda aonde é feito

O mundo mais perfeito, sem maldades,
Sem medos ou pudores, sem pecados.
Teus olhos em meus olhos tão amados

São feitos de emoção e de vontades.
Artífices do amor em cada rima
Fazendo da paixão uma obra prima...



2020

Amor além do tempo, eternidade,
Parece que existiu sempre conosco.;
Após reconhecer a claridade,
Todo o passado morre, quase fosco.

Vivendo com total felicidade
O que tivemos antes, triste e tosco,
Mostrando que o amor, se de verdade,
Num ata com firmeza em santo enrosco.

No amor a sensação de cordilheiras
Gigantes em planícies debruçadas,
Palavras tão banais e corriqueiras,

Tornando-se no amor iluminadas,
Mistérios tão somente desvendados
Por olhos mais gentis, apaixonados...



2021

Amor alvorecendo uma alegria
Deixando a noite espessa para trás.
Rompendo uma esperança em claro dia,
A bruma da manhã, sereno traz.

Nos entrelaces, sonhos como guia,
Deitando esta emoção, imensa paz,
Beleza deslumbrante que irradia
Paisagem tão sublime satisfaz.

Magias do querer; do amor demais
Nossas peles se tocando, já se buscam
Tristezas, solidões assim se ofuscam

Nos brilhos mais potentes, matinais,
E toda dor do mundo a se perder
Distante deste nosso alvorecer...


2022

Amor alvorecendo
Uma alma antes soturna
Aonde a dor se enfurna
Num dia mais horrendo,
A sorte se tecendo
Depois de ser noturna
A dor antes diuturna
Aos poucos se perdendo.
E o tempo se anuncia
Em rara claridade
O quanto em sonho invade
Trazendo um novo dia
No amor que tanto brade
A imensa fantasia.


2023

Amor amigo, irmão e camarada
Que é feito de união e é solidário
Num mundo tão cruel e solitário
Demonstra numa voz unificada

Que a sorte já faz tempo foi lançada,
Porém homem ignaro e temerário
Se preocupou demais com campanário
Deixando esta verdade abandonada.

Eu te amo, minha amada, minha amiga.
E sabes que caminho junto a ti.
O sonho que em meu peito já se abriga

É o mesmo que carregas, percebi
Que assim, chamando amor/fraternidade
Espelho a refletir amorizade...


2024


Amor amortalhado em cada praça,
Vendido nas esquinas e motéis.
O jeito que se dá já não disfarça
Secando em amargura, velhos méis.

O mês que se passou, ano que vem,
O tempo nada muda, só repete
Nos olhos refletindo este ninguém
No fio da navalha ou canivete.

Jogada nas senzalas, a esperança
Estritamente cega não vê nada.
Matando no princípio, a temperança
Em mão sem ilusões já desarmada

O quanto que sonhamos... idiotas
Amor já capotando em novas rotas...



2025


Amor ao mesmo tempo rugindo, urge
E forja algum momento de ilusão,
E quando a fantasia em vão ressurge.
Eu perco num instante a direção.

Num beco sem saída, o que me importa?
Se é torta a minha vida, ou se é correta.
Abrindo com certeza nova porta
Eu teimo com visão tosca, poeta.

Sereno é tudo enfim que mais desejo,
A torta de maçã, e a maçaneta
Dizendo que virá tal benfazejo,
Sem ter necessidade de luneta

A luz que tanto guia quanto ilude,
Por mais que amor traduza outra atitude...



2026

Amor ao se entranhar dentro de mim,
Tomando todo espaço passa a ter
Imagem refletida de meu ser,
A flor que justifica este jardim.

Não quero que se murche, pois assim
A vida não teria o que viver,
Matando o que há de ti, melhor morrer,
Tu és desde o princípio, o todo e o fim.

Mergulho no insondável de minha alma,
Abismos que percorres; frias sebes,
Do quanto em poesia ainda bebes,

Do amor que me atormenta e que me acalma.
A bela e corrosiva cicatriz
Que enquanto me tatua; faz feliz...



2027


Amor ao traduzir felicidade
Permite um novo sonho, nova estrada,
Meu canto irá buscando a liberdade
Na trilha desta noite enluarada,

Não temas, pois te quero de verdade,
Embora no caminho uma emboscada
Maltrate quem deseja claridade
Tramando uma esperança sufocada.

Amor que em alegria se transforma,
Mudando num momento sua face,
Trazendo para o peito uma reforma

Já sabe do que quer e bem deseja,
Que o tempo, velho algoz, assim se passe
Levando ao paraíso que se almeja...



2028

Amor assim demais, inesgotável,
Sentido tanta dor de amar assim.
Amar-te muito além do suportável
Numa loucura intensa sem ter fim...

Amor que não carece explicação,
Rasgando todo o peito, bela adaga.
Explode um transtornado coração,
Minha alma sem ter medo, amor afaga.

Amar até que a dor venha, bem forte,
Sem tréguas, sem juízo, te querer.
Além da fantasia, além da morte,
Quem ama assim, demais, não vai morrer.

Se um dia, tu te fores, meu abrigo,
Minha alma, com certeza, irá contigo!


2029


Amor assim faminto e desejoso,
Nos toma e nos devora, num segundo.
Encharca nosso sonho em cada gozo,
Num toque delicado e mais profundo.

Teu corpo tão macio e tão sedoso,
De todo este prazer em que me inundo
Mostrando quão ardente, assim fogoso,
Amor que nos tomou, maior do mundo...

Num ardoroso encanto, uma magia,
Que sabes, ser mais forte, amiga amada.
Envolto em loucas asas da alegria

Deveras tão gostoso e sensual,
Fazendo cada noite desbravada
Inesquecível, quase que imortal...

2030

Amor assim faminto
Invade o pensamento
E quando um sonho eu tento,
No tempo então me sinto
Cerzindo além do extinto
O dia sem tormento,
Vagando o sentimento
E nele em paz me tinto.
Ousando noutro passo
Vencer o que desfaço
Traçando em luz sobeja
O quanto mais feliz
Pudesse e a vida quis
Bem mais que se deseja.


2031

Amor assim, bandido e vagabundo
Que engana e faz promessas, logo esquece,
Se foi delicioso num segundo,
Ajoelhando esquece toda prece.

Vagando solitário pelo mundo,
Uma outra teia, cedo vai e tece
Se dá pra qualquer um já se oferece
Fenece mas renasce mais profundo.

Vivendo da aventura e do desejo,
Mal vejo já se entrega noutra esquina,
De todos sentimentos, tenho pejo

De tantas desventuras, sedução,
Ao ver tua nudez eu me alucino,
E deito no teu corpo o meu perdão...


2032


Amor atemporal, eterno rei,
Não tem sequer medidas nem limites.
Amada, em teu carinho eu me encontrei
E peço, por favor, nisso acredites.

O rumo que por tempos procurei,
Depois de tantos erros e palpites
Por tanto que no mundo eu vasculhei,
Por isso é que te peço, amor, me fites

E diga com teus olhos, belos sóis,
Aquilo que, decerto tanto eu quis.
No mar em que vivia, sem faróis,

Distante do que sempre desejara.
Contigo, minha amada, estou feliz
Por essa sensação divina e rara

2033

Amor badala sinos na cabeça
Tomando todo o corpo neste instante
Não deixa que a maldade prevaleça
No mundo em que se fez mais delirante.

Impede que sem rumo se enlouqueça
E faz de nossa estrada um diamante
De rara maravilha onde se teça
A sorte que queremos radiante.

Vencendo qualquer medo ou intempérie
Amor é feito o gozo da alegria
Destrói toda a tristeza muda a série

De todos os desgostos, maldições,
Refaz em lindas cores todo dia
Envolto nos carinhos das paixões...


2034


Amor bate no peito em tique taque
Fazendo disparar o coração
Guardando as proporções, mesmo de araque
Neste tumulto imenso, a confusão.

Lembro-me das histórias do almanaque
Profusas em delírios da paixão,
Agora que percebo tomo o baque
Mas sigo meu cantar em devoção.

Maria se fez festa, boca e teta,
Berrando o bom cabrito toma assento.
Amor hora marcada na ampulheta

Matou o passarinho da esperança.
Mas deixe que a saudade é como um vento,
Depois faz tempestade na lembrança.


2035


Amor bateu na porta, coração...
Chegou mineiramente, deu as caras...
Depressa dominou nem ouviu não.
Cuidou dessa ferida, das escaras...

Bagunçou totalmente minha casa.
Não deu tempo sequer de perguntar,
Acendeu emoção, também a brasa.
Agora tanto amor tomou lugar...

Vivendo totalmente sem ter freios,
Envolto na loucura da paixão,
Não tenho nem mais tempo p’ra receios,
Amor arromba a porta, coração...

Mas viver sem amor, sem arriscar?
É como ter o mar e não nadar...

2036


Amor bateu na porta, de mansinho
Em forma de palavras e de sonhos...
Depois, sentindo a força do carinho
Nos trouxe novos dias, tão risonhos...

Eu quero em nosso amor, puro encantado,
Trilhar cada momento, passo a passo,
Agora que por ti sou bem amado,
O mundo vai se abrindo, ganho espaço

E sinto a maciez de tua boca,
Beijando calmamente meu desejo.
A vida que antes triste, surge louca
Sofreguidão intensa a cada beijo...

Tu és a namorada que sonhei,
Viver só ao teu lado, a nova lei...

2037

Amor bebe e provoca esta tempesta
Bendita solução que eu procurava,
Invade, incendiário uma floresta
Vulcânica emoção, ardente lava.

Não tramo outra saída nem pretendo,
Esgares do passado são sombrios.
Olhar tão vigoroso já revendo
Os dias melancólicos, vazios.

Mas quando vejo enfim, o rosto belo,
Daquela que se fez a solução.
O amor que tanto quis ora revelo
E deixo transbordar inundação.

Sorriso tão matreiro de um moleque,
Amor chega e domina, abrindo o leque.


2038


Amor bem junto a mim, nos calcanhares
Colado à minha pele, tatuagem,
Nos olhos de quem vê; simples miragem,
Fazendo do teu corpo, meus altares.

Do jeito mais sutil que tu sonhares
Eu juro que estarei, mesma viagem.
Embora não te queira minha pajem
Estou contigo em todos os lugares.

Não quero simplesmente confiança
É necessário além de uma aliança
Entranhar a presença em cicatriz.

Ser teu e tão somente viver isso,
Amor é muito mais que compromisso,
Somente desse jeito eu sou feliz...


2039


Amor canto em lirismo tão profundo
Fazendo a gente logo suspirar
Vontade de pegar-te e num segundo
Com todo meu carinho acalentar

Desta paixão imensa eu já me inundo
E sinto em profusão que é bom amar.
Um sentimento nobre corre o mundo
E traz pra minha cama, este luar

Em forma de morena deslumbrante
Que deita do meu lado e me namora.
Eu quero aqui ficar a todo instante

Não vá sair querida, fique agora
Do lado de quem tem amor gigante,
De quem em realidade já te adora...


2040


Amor caricatura tem futuro?
Pergunto se talvez nada virá
Olhar que penetrante traz escuro
Resiste e não me leva a Xangrilá;

Do riso que prometes ser jocoso,
O mar mal navegado perde porto,
Porém se navegar o pleno gozo,
Depois de tantas noites vou ser morto.

Morrer deste prazer que me ofertaste,
É quase que morrer em alegria.
Porém se teu prazer fizer-me traste,
A noite em tempestade cala o dia.

Não faça desse amor caricatura
Envolto em agonias da ternura...


2041


Amor cevando amor traz alegria
Esquece toda a dor de uma saudade.
Recebe mais amor a cada dia,
Refaz em nossa vida, a mocidade.

Eu tenho em teu amor mais que sabia,
Além do que sonhara de verdade.
É tudo que; bem sabes, eu queria,
Amor que é feito em paz, felicidade...

Por isso não se esqueça, amada minha,
Que a vida nos atou em laço forte.
Minha alma junto à tua se encaminha

À plena eternidade, sem temores,
Te quero bem além da própria morte.
Pra sempre vou viver nossos fulgores...


2042

Amor chega e domina, abrindo o leque
Tomando assim de assalto a minha vida.
Não deixa que esta fonte agora seque,
Fartura nos seus seios prometida.

Emprego minha voz, alço infinitos,
Não quero mais qualquer caricatura
Do quanto que se fez em nossos ritos,
Lotando os meus caminhos de ternura.

Brandura procurada e desejada,
Fortuna que não canso de querer.
Nas mãos tu tens a sorte anunciada,
Forrando meu destino em teu prazer.

Não peço mais desculpas, nem as quero,
No bem de nosso sonho eu me tempero.


2043

Amor chegando manso em noite clara
Habita um coração outrora triste.
Palavra que sensível se declara
Mostrando esta alegria que persiste.

Viração feita em vento já prepara
Um mundo onde esperança inda resiste
Falar do amor sincero, jóia rara
Temática que na alma sempre insiste

Meus versos não se cansam de um amor
Que tantas vezes dói, mas é remédio
Deixando bem distante a dor e o tédio

Forrando um peito sempre sonhador
Com mãos tão delicadas, em carícia
Entorna em minha vida esta delícia...


2044



Amor com seus dois gumes, morde e assopra,
Falcão que sobrevoa cada ninho,
Enquanto me domina já me alopra,
Soprando o vendaval sem burburinho.

Qual fora um opiácio que me dopa
Entrando pelas veias, toma a mente.
Das árvores percebe em cada copa
Acesa fantasia da semente.

E beijo a tua boca nem percebo,
Sereno vem chegando manso e farto,
O gozo permitido num placebo
Dos braços e dos lábios não me aparto.

Escrevo num diário meus enganos
Adio sem ter data, velhos planos...


2045

Amor como um clarão relampejando,
Cortando escuridão da solidão
Se faz em sentimento desde quando
Nos toma e nos decora sem perdão.
Queimando fartamente em fogo brando
Provoca vez em quando uma erupção...

Aí, fazer o quê? Seguir seu passo
Deixando o pensamento bem liberto
Voltando pra morena, quero abraço
Desde o momento alegre em que desperto
Depois de tanta luta e do cansaço
Morena quero estar aqui, bem perto

Dos olhos mais bonitos que já vi,
Vem logo não compensa estar aí..


2046

Amor como um estranho, vai embora,
Não deixa mais recados, nem avisos.
Aonde borbulhavam meus sorrisos
Estupidez jorrando desde agora.

O vento que levou já se demora,
E deixa mais distantes e imprecisos
Caminhos derrapantes muito lisos
Capotando o desejo, dando o fora.

Esquálida figura, uma esperança
Na sombra do abajur ainda dança
E formando este espectro, garatuja.

Caricatura simples irrisória,
Dois corpos numa cama tão inglória
Perdendo, quem me dera, a noite suja...


2047


Amor contaminando me imuniza,
Porém, o sem juízo coração,
Sentindo novamente amena brisa
Transforma logo em vasto furacão.

Enquanto um velho amor mal agoniza,
A fonte se refaz em turbilhão,
Na cor de teus olhares se matiza
Vibrando intensamente de paixão.

Assim neste ir e vir, a vida passa,
As cinzas se refazem sem fumaça
E tudo volta sempre à estaca zero.

E quando uma alegria se revela,
O amor vem surgindo sem seqüela:
E volta, destemido, mas sincero...


2048

Amor contra razão em luta inglória
Não deixa nem sequer restar algum
Vestígio de quem fora merencória,
Vencendo par em par aumenta o zoom

E mostra quanto amor é soberano,
É força mais vital, indiscutível,
Vibrando sua força, sem engano,
Com seu poder intenso e infalível.

Ao perceber o fim desta batalha,
Razão já se perdeu em tempos idos,
No corte sorridente da navalha,
Amor vai dominando meus sentidos.

E tórrido ostentando a sensação
Incontrolável sina da paixão...


2049

Amor correndo o risco
Em mãos entrelaçadas,
Vivendo tão arisco,
Em frases formuladas,

No canto em que me arrisco
Descalço nas calçadas,
Amar, colher petisco
Em bocas mais molhadas.

Não fecho mais a porta
De um louco coração,
O medo não me importa,

Eu quero a sedução
Da noite que se aporta
No cais desta paixão...


2050


Amor cortando em postas faz cratera,
Se espera o que não vem, jamais virá;
Menina quase ingênua vira fera
As garras vão expostas.. chega já
Mostrando mais espinho em primavera
Do que perfume. Novo patuá.

Retoca a maquiagem mostra os dentes,
Prepara para a caça em arco e flecha,
Hormônios vão à toda, são prementes.
A porta da esperança que abre e fecha
Entregue aos seus desejos bem mais quentes;
Cabelos coloridos, mecha a mecha...

Assim a noite passa, a boca roda,
De boca em boca, bote, ronda e moda...


2051

Amor cuticular, guerrilha e gládio...
Esfomeado, come a própria amante,
Devora não deixando nem estádio,
É força que não cansa, delirante...

Temores desse amor:lítio, vanádio,
Verborragicamente está diante
Do que demonstrará notícia e rádio.
Me jogará ao chão: forte bastante...

Amor cuticular, estranhas unhas...
Coração decoravas com venenos...
Os medos e os saldos são pequenos

Tacanhos os lugares onde punhas
Os barcos naufragados nos serenos...
As luas e os vermes, testemunhas...

2052


Amor da minha vida, que bom ter
Teus olhos em meus olhos, espelhares.
Sabendo conhecer em ti meu ser
Trazendo p’ro meu quarto, tais luares.

Amor de minha vida tão sozinha.
Espero que te faça mais feliz,
Por tanto tempo quis que fosses minha
Em todos os meus dias sempre quis...

Vieste salvadora como a praia
Que o náufrago deseja como em sonho.
Peço-te que jamais da vida saia,
Não quero mais viver tão enfadonho.

Só peço meu amor se eu, imperfeito,
Te ferir, me desculpe, eu sou sem jeito...


2053


Amor da minha vida; magoaste
Quem tanto desejou estar contigo
Causando no meu peito tal desgaste
Matando todo o sonho que persigo.

Meu canto, num momento tu levaste.
Viver sem teu amor? Já não consigo.
Uma esperança enfim, logo roubaste
Deixando o coração em desabrigo.

Só peço que devolvas para mim
Aqui que tomaste sem sentir,
Meu mundo desabando chega ao fim,

Não guardo meu amor, sequer revolta
Mas venho nestes versos te pedir:
Traga o meu coração, aqui, de volta...



2054

Amor da minha vida, o derradeiro,
Felicidade traz em cada verso,
Unindo corações, um bandoleiro,
Liberto percorrendo este universo,
Mostrando todo o bem, um feiticeiro,
Atando o que já fora, assim, disperso.

As luzes que se entornam nesta estrada,
Denotam a beleza do farol,
Vislumbro a mais brilhante madrugada,
Promessa do mais forte e claro sol,
Espalho nossos sonhos na calçada,
Perfume que se espalha em arrebol.

Tomando assim as rédeas desta senda,
Amor tantos caminhos, já desvenda...


2055


Amor de divinal propriedade,
Caminho sem temer cortes profundos.
Mascaro essas surpresas da saudade
Vivendo em meu amor, diversos mundos...

Meu coração se veste de desejos,
Refaço cada passo, não disfarço;
Tropeço e me levanto, peço beijos.
Meu grito; não reprimo, solto esparso.

Nas trevas que deixei, cedo, p’ra trás,
As brumas que vieram sorrateiras,
Nesta alvorada plena, encontro paz,
As luzes se rebrilham, verdadeiras...

As flores vão brotando devagar,
Perfumes nos jardins... Tão bom te amar!


2056


Amor de minha vida, Musa bela,
Que trouxe a mansidão tão necessária
A sorte que eu pensara temporária
Agora, eternidade de uma estrela

Que é Lua, em perfeição e se revela,
Mulher que um dia eu tive, imaginária
Apenas num momento, como a tela
Tecida na ilusão. Dor temerária

Tomara a minha vida antes de ti,
Agora que percebo, conheci
E não era somente um sonho bom,

Eu agradeço a Deus pelo presente
Que ao pecador insano ele consente,
Mostrando a maravilha em raro tom...


2057


Amor de turbulências e desejos.
As noites que trouxeste em agonia.
Procuram-se nas bocas tantos beijos
Depois a madrugada cai tão fria...

Rolamos nossas camas separadas
Esperas e torturas nos maltratam.
As noites quando estão enluaradas
Tanta pureza mostram e retratam...

Mas longe de teus olhos vou, querida
Passando a noite em claro, recordando,
A noite que queria mal dormida,
Somente nosso amor iluminando...

Ó Meu Deus, responda por favor
Até quando a tormenta nesse amor?


2058

Amor de verdade
Percebo em momentos
Onde adversidade
Negando os ungüentos

Sem prosperidade
Já traz sofrimentos,
E com amizade,
Mostra-nos bons ventos.

Por isso querida
Eu sei que me gostas,
Curando a ferida

Lanhada nas costas;
Tua mão ungida
Em mim sempre apostas..


2059

Amor de verdade, caminho cumprido
Sentindo o vento manso da emoção
Embora tantas vezes repartido
Ainda sinto forte, o coração.

Batendo em descompasso vez em quando
Num alvoroço expressa o quanto quer
Por mais que inda perceba desabando
Deitando sobre os braços da mulher

Que às vezes foi rainha, noutras bruxa
Nas ondas deste mar vai e retorna
Enquanto a solidão por vezes puxa
Retorna da tempesta em água morna.

Mas vence no final e se deleita
Terçã nossa paixão, lembra maleita...


2060

Amor desabrochando em flor tão rara
Perfumes espalhando no jardim,
Além do que pensei, do que sonhara
Invade e toma conta assim de mim.

Meu coração ao vê-la já dispara
E bate em descontrole, é sempre assim,
A vida que se fora tão amara
Promete uma doçura, até que enfim...

Meu peito, passarinho se engaiola
Numa felicidade sem igual.
Minha alma libertária já decola

Se isto parecer paradoxal
É desta forma louca o meu amor
Cativo inda quer ser libertador...


2061


Amor desalinhando a minha mente,
Bagunça o coração. Estardalhaços.
Deixando o pensamento em mil pedaços,
Transforma a vida inteira, plenamente.

Assim mal eu te vi, estava crente
De que mergulharia nos teus braços.
Seguindo qual um cão todos os passos
Da dona dos meus sonhos, qual demente.

Vencido pela deusa brônzea e nua,
Sem paradeiros a alma já flutua
Dos rastros deste amor, virou sabujo.

Às vezes tolamente, inda me insurjo
Tentando desviar o meu destino.
Que faço se contigo eu me alucino?

2062

Amor desesperado que me doma,
Vontade de saber divino gosto
Da boca que faminta já me chama,
Beleza que conheço no teu rosto,

O teu perfume doce de jasmim,
O toque de teu corpo me inebria,
O beijo mais gostoso, prometido,
No amor que me domina e me vicia,

Expondo em cada verso uma loucura,
Trazendo para mim felicidade,
Eu quero te encontrar, e te dizer
Do amor que nos assola, de verdade...

Senão a noite trama em negação
Tristeza dominando o coração...


2063

Amor deveras rude
Maltrata quem sonhava
Além do que já pude
Jamais imaginava

Que assim a juventude
Sozinho eu terminava,
Que Deus me dê saúde
E a vida sem ter trava.

Querência deste amor
Que toma e não me larga,
A voz de um sonhador,

No peito assim me embarga,
Amor tem seu valor,
Em vida dura, amarga...


2064

Amor Divino em Cristo que encontrei
Não permitindo o mal que nos conturbe
Por certo tanto amor nos deu o Rei
Impede que a tristeza nos perturbe.

Vivendo em pleno amor sem ter pecados,
Ao homem dedicou a vida inteira.
Deixou a todos nós os Seus recados
Mostrando como a vida é verdadeira.

Na cruz com que sofreu o sacrifício
O símbolo do amor foi demonstrado.
Lutar pelo perdão, o Seu ofício,
A todos pleno amor, glorificado.

Perdoe pelos erros cometidos,
Meus rumos, nos Teus braços, decicidos


2065


Amor diz louva-deus tesão e morte
Ao mesmo tempo ri, depois deplora
Na louca sensação de cada corte
Teu corpo já desnudo, amor explora

Amor que dominando fauna e flora,
Prepara a nossa queda sem suporte,
Depois vem gargalhando e vai-se embora.
Deixando a direção à própria sorte.

Promessas foram feitas tão somente
Para serem quebradas. O amor mente
Com toda caradura. Isto é cinismo.

As juras que disseste para outrem
Agora em nossa cama caem bem...
E ainda vem falar: falta lirismo...


2066

Amor do qual jamais alguém suspeita,
Perfaz novo trajeto em minha vida.
Há tempos que eu ficando numa espreita
Tentara vislumbrar uma saída

Minha alma que em tua alma se deleita,
Demonstra história agora decidida,
Versando sobre a glória em que se deita
A sorte magistral em paz tecida.

Revelações dos búzios e das cartas
Dizendo quanto eu posso ser feliz
Desde que deste amor jamais apartas

Vivendo além de apenas um momento,
Tornando a minha vida menos gris,
Teu rosto não me sai do pensamento!


2067



Amor domina sempre cada passo
Que damos nesta vida, companheira.
Distante de teus olhos, mal disfarço

Saudade que se mostra tão inteira.
Vem logo, vem me dar o teu abraço
Antes que a noite surja, derradeira...

Delícias; com certeza, nosso vício.
Os beijos; santuários divinais.
Não veja nosso amor qual precipício,
O quero e cada vez desejo mais...

Na fome de teus beijos me sacio.
No gosto desta boca sedutora.
Meu mundo sem teus versos, tão vazio.
Querer-te, uma alegria sedutora!


2068

Amor é bem gostoso escondidinho,
Assim como quem finge que não tem
De leve, vem chegando de mansinho,
Bobeia a gente fica sem ninguém.

Por isso se eu me gabo do carinho
Que um dia nós trocamos, veja bem
Chuvisco quando cai devagarzinho
Alaga o coração, quando amor vem.

Se eu sonho com teus sonhos todo dia,
Se sonhas com meus sonhos, o que faço?
O peito sem juízo noticia

Depois toda a cidade vai saber,
Querida não sonegue o teu abraço,
Fofoca? Todos gostam de fazer...



2069


Amor é bicho cheiroso
Perfumado de lavanda,
Tão matreiro e tão dengoso
Por qualquer coisa desanda

Vai ficando melindroso
Me deixando na varanda,
No seu modo caprichoso
Coração pesa de banda

E faz sempre uma arrelia
Estrupício verdadeiro,
Desancando a poesia,

Vai mudando logo o cheiro
O que cheirava fedia,
Do mel sobrou só vespeiro...


2070


Amor é bicho danado
Que nos doma, e nos maltrata
Coração apaixonado,
Bebe o leite, esconde a nata.

A paixão que me arrebata
Enterrando o meu passado,
Invadindo toda a mata,
Sem juízo e sem pecado.

Faz a festa no meu peito,
Bagunçando este coreto.
Vem brincando do seu jeito,

Mas no fundo eu me repleto
Sendo amor nosso direito,
Quero amor assim, completo...



2071


Amor é bicho solto e sem tardança
Faz toda uma bagunça no meu peito,
Moleque sem vergonha, uma criança
Maltrata e assim gargalha, satisfeito.

Faz do meu coração uma piorra,
Rodando em carrossel, estardalhaço.
E sei que ninguém venha e me socorra,
Deixando-me com cara de palhaço.

Maria foi pra feira comprar fruta,
No sonho de Maria eu não me encaixo,
Amor faz reboliço em força bruta,
Não quero mais ficar cara de tacho.

Mas assim que eu desisto este danado
Já traz Mariazinha pro meu lado...



2072

Amor é carne e sonho, pão e vinho...
Desejos incontidos, com afeto...
No jogo de ternura e de carinho,
Somente com loucura está completo.

Por medo de seguir indo sozinho,
Amar; meu sentimento predileto,
Buscando noutro amor fazer meu ninho,
Somente sendo assim eu me repleto.

Ao mesmo tempo quero ter teu beijo
E ter a calmaria do depois,
Meus olhos nos teus olhos... Quando vejo

Já mergulhei intenso na emoção,
Neste querer imenso de nós dois,
Nas tramas do querer... Da sedução...

2073

Amor é chama viva, intermitente
Que ao mesmo tempo cura e me magoa,
Uma emoção terrível embora boa,
Na redenção divina, penitente.

Um sentimento nobre e persistente
No peito de quem ama sempre ecoa,
Minha alma num segundo já revoa
Castelos que queremos só da gente.

Vencido pela força deste amor,
Encontro a solução de meus problemas,
Ao mesmo tempo aumentam meus dilemas

Tornando a calmaria em pleno horror
Amor me conduzindo faz perder
O rumo da tristeza é o do prazer..


2074

Amor é com certeza uma saída,
No duro labirinto da existência.
Quem tem amor percebe que esta vida
Não é assim somente penitência.
Cabeça, com certeza segue erguida,
Mantendo em nosso amor, pura inocência.

Olhando o meu passado vejo o trilho
Por onde tantas vezes me perdi.
O peito que sonhava; um andarilho,
Deságua na esperança e chega a ti.
O quanto que em meus sonhos, sinto o brilho
Depois de tanto tempo que perdi.

Prevê depois da curva desta estrada
Estrela matutina, já raiada...


2075


Amor é como faca de dois gumes,
Tramando uma alegria que entristece
Espinho que se encharca de perfumes
Pragueja simplesmente em cada prece.

Cegando num escuro de tais lumes
Amor não tem juízo e sempre cresce
Nas dores que lhe servem como estrume
Teimoso, nosso amor não obedece.

E faz de suas leis, as artimanhas,
E faz de seus segredos, nossa sina.
Se em todas as derrotas é que ganhas

As sanhas de um amor não têm limites.
É dono da verdade cristalina
Amor nunca aceitou quaisquer palpites...


2076

Amor é como nódoa que não sai
Por mais que a gente tenta, nos entranha,
Se eu bobear, fincou pé, nunca vai
Embora e deixa a vida entregue à sanha

Que assanha enquanto o nervo se contrai,
Cupim que ao derrubar uma montanha,
Se a gente num momento se distrai
A queda que se faz fica tamanha

Assim nada sustenta, e ruí depressa,
Azeda o dia a dia, traz jiló,
Depois não adianta nem compressa

A chaga se aprofunda numa escara,
Amor é sem limite e não tem dó,
Escarra enquanto lambe a minha cara...


2077


Amor é como um hino em estribilho
Fazendo da saudade cada tom.
Seguir o seu caminho, fogo e brilho
Às vezes nos parece ser tão bom.

Querendo estar contigo eu compartilho,
Ecoa no meu peito o mesmo som.
E sigo passo a passo, todo trilho,
Pois tenho uma certeza deste dom

Que atou os nossos rumos pela vida.
Um sonho – ser feliz, lugar comum.
Dois caminheiros valem bem mais que um

Ajudam a se achar uma saída
Amiga, vem comigo em noite infinda,
Assim bela manhã já se deslinda...


2078


Amor é como um vaso de cristal
Se não tivermos tudo se desanda.
Não quero um prazer simples e carnal.
Amar e ser feliz, coração manda...

Às vezes me perdendo no caminho,
Sentindo ser cruel a solidão,
Da rosa perfurando-me um espinho,
Trazendo bem feliz uma emoção.

Amar é demonstrar uma harmonia
Que mostre quanto a vida vale a pena.
Não quero ter somente a fantasia,
A sorte que me guia sempre acena.

Vou vivendo em total monogamia,
O amor que a vida enfim, já bendizia...


2079


Amor é do meu barco, o capitão,
Que a sonhos tão diversos se oferece,
Às vezes machucando o coração
Trazendo uma tristeza em dura prece

Em outras demonstrando uma emoção
Querendo ser feliz, logo padece.
Amor não deixa nunca que a razão
Domine, e deste jeito dores tece.

Quem tantas vezes teve num amor
O timoneiro sabe do que digo.
Perder qualquer noção, não vê perigo

Só sabe quando enfrenta algum naufrágio,
Uma alegria então gera o pavor,
Mostrando quanto o barco é sempre frágil...



2080

Amor é doce sonho em que me enlaço,
Um simples repentista sabe bem
Que à noite me entregando, mal disfarço
Vontade – estar contigo – logo vem.

E tendo uma ilusão em cada passo,
Eu sei quanta beleza um amor tem.
Às vezes desta vida, andando lasso,
Espreito da janela e vejo alguém

Andando em solidão calçada afora
E vejo o meu retrato, tempos idos
Que em sonhos e delírios esquecidos.

Quem sabe tanta dor, percebe agora
No canto de uma deusa imaginária
A sorte-companheira solidária...


2081



Amor e dor? Terrível rumo e rima,
Sereia que se dá em preamar
Toando uma cantiga de ninar
Mexendo com desejos, doce estima.

O bem que em fartas luzes sempre prima,
Avança em minha cama devagar,
Depois de tanto tempo divagar
Mudando com vontade aquece o clima.

Expresso em cada verso mais ardor
Versando sobre o frágil, franco amor,
Redime os meus pecados, salvação.

Finalizando assim, o meu soneto,
Nos braços de quem amo e me arremeto
Encontro a mais sublime perfeição...


2082

Amor é fantasia que me aquece
Esquece quem falou tal heresia.
Se a prece se renova a cada dia
A noite vai sombria e se escurece.

O peito não quer mais, desobedece,
E o jeito é caminhar sem fantasia
E mesmo quando o fim já se anuncia
É como se em verdade nada houvesse.

Sou gris e meretriz; um fato rude
Derrama muito além, mas nunca pude
Falar sem ter a máscara que esconde

A face verdadeira do poeta.
Sem alfa não vislumbro sequer beta
Procuro meu retrato e não sei onde...


2083




Amor é feito em paz, amada minha,
Decerto assim promete ser gostoso,
Ciúmes, na verdade sempre tinha
Quem não sabe da vida em pleno gozo.

Mas logo a madrugada ardente vinha,
Trazendo amanhecer bem mais formoso,
E o sonho que essa mão jamais detinha,
Talvez não se fizesse tão fogoso.

Porém amor se feito em fátuo fogo
Às vezes incendeia a casa inteira,
Querida, eu tenho o gosto deste jogo

Marcando o paladar de quem recebe
Carícia contumaz e feiticeira,
Seguindo em calmaria, a bela sebe...


2084


Amor é feito em sonho e quer partilha,
Da qual ao receber um forte enlace,
Em solidez jamais quer que se esgarce
A força que o tomando, maravilha.

Arando um bom jardim, roseira e tília
Amor não permitindo um só disfarce
Mostrando em alegria, a sua face,
Navega uma emoção, distantes milhas.

A par do sentimento que não cala,
Desnuda uma esperança em bela flor,
Na senda que se mostra pura e terna,

Adentra o pátio, a casa, quarto e sala,
E trama a boa sorte a se propor
Àquela que se faz amada, eterna...


2085


Amor é feito pária em majestade,
Tomando o nosso corpo como um templo,
Retorna na velhice, a mocidade,
Do poder absoluto um bom exemplo,

Contemplo a maravilha que se estampa
Nos olhos divinais desta mulher,
A prenda mais bonita do meu pampa
Do jeito e da maneira que vier

E vejo meus caminhos mais formosos
Atados nos teus passos, flor do campo
Nos olhos deste amor, maravilhosos
Beleza sem igual de um pirilampo

Tristeza se despede em ledo olvido
Seu passo, pelos sonhos, vai movido.


2086


“Amor é grande laço” e vive em desafio
Deitado em teu regaço achei felicidade.
Coração de quem ama está sempre no cio
Procurando carinho encontra a liberdade.

Passageiro do tempo, o peito vai vadio
Buscando sem parar a plena claridade.
Acende em luz intensa, apagando este frio
Meu amor bandoleiro, o coração invade.

Dobrando cada esquina, engole luas/sóis.
Semeando desejo espalha ventania.
Bebendo do sonhar adentra por lençóis

Beija bocas, voraz. E sabe ser feliz,
Do amor que te falei espelho em fantasia,
Um santo milagreiro; um eterno aprendiz...


2087

Amor é labareda no começo
Traz fogo incendiando quarto e casa,
Vadeia; travesseiro é um adereço
Que nada ajuda às vezes nos atrasa.

Depois que te virei toda do avesso
A cama incendiando vira brasa
Nem sei se inda te peço ou se mereço
Explode a sensação por pouco vaza.

Depois vai esfriando devagar
Na cinza que restou, o travesseiro
Que tanto começou incomodar

Já passa a ter valor bem do seu jeito
Virando de repente um companheiro
Que abraço e vou dormir. Tão satisfeito...


2088


Amor é louco guia, esquece-se da rota
E faz deste palhaço um ator principal
Do eterno pesadelo expresso num jogral
Que a blusa do passado entranha e amarrota.

Guardando uma alegria imersa em qualquer grota
Em verso alexandrino expõe-se qual boçal
Que ainda acreditando, aguarda um bom final.
A peça não termina enquanto não se esgota.

Versículos que lê, capítulos à parte
Jogado em algum canto, expressa o quanto amar-te
Talvez seja uma cena a mais no velho drama.

Perdendo o meu rumo eu jamais entendi
Se tudo o que sonhava, encontraria em ti.
Mas logo a realidade, envolve a casa e chama...


2089




Amor é melindroso, mas ternura
E faz-se em fantasia, tão galante,
Na dor que ele irradia, uma ventura,
Eternidade viva em um instante.
Quem sabe ser amor feito candura
Não teme a luz do dia, deslumbrante.

Um turbilhão mutável, eis amor.
Tratante conselheiro coração
Perfaz em seu caminho, o sedutor,
Sem ter sequer nem rumo ou direção.
Algoz que nos sacia, tentador,
A ventania em plena mansidão...

Assim, aventureiro, em mar revolto,
O sentimento audaz querida, eu solto...


2090


Amor é muito além de um vão feitiço.
Quadro que em bom matiz ora componho,
Não quero te perder, tu sabes disso,
Cultivo em meu canteiro, nosso sonho.

Em ti encontro a rosa em pleno viço,
E um mundo mais feliz, eu te proponho,
Desejo que me toma, assim cobiço,
Viver eternamente um bem risonho

De ser teu companheiro e teu amado,
Estando o tempo inteiro do teu lado
Descerro em alegrias claro véu.

Encontro bem mais perto, a solução
Mostrando em um momento esta amplidão
Negando o que se fora amargo fel...


2091

Amor é paraíso, é gozo e festa,
Não tema, pois inferno é desamar.
Na chama do prazer que é o que nos resta,
Aos mais belos espaços revoar.

Não há do que temer, vem namorar.
O quanto é bom viver amor que gesta
Louvando em plena glória, um belo altar,
No precipício insano, mergulhar

Depois só descobrir o gozo intenso,
Que a cada novo dia, eu me convenço,
É toda a plenitude em que o Bom Deus

Criou humanidade por amor,
E faz pelo prazer o recompor
Da vida entre os mais ricos ou plebeus...

2092

Amor é penuginha que saindo
Da boca de quem ama, faz história
É céu que nos dourando, mostra o lindo
Momento de viver em plena glória.

As cores dos meus sonhos são as tuas,
O laço que nos prende, eternidade.
Andando pelos campos, praças, ruas,
Encontro em teu amor pura verdade

Que tanto nos redime quanto cura,
Somente ela bendiz a nossa sorte.
A lua vai descendo e nos procura,
Fazendo o coração bater mais forte,

Nas festas que entrelaçam nosso amor,
Um sonho verdadeiro a te propor..

2093




Amor é qual naufrágio em ilha bela.
Verdades e mentiras se confundem,
E quando os corpos nus querem, se fundem,
Felicidade plena se revela.

Por mais que as fantasias sempre abundem,
É bom sentir comigo outra costela,
Vontade sendo a minha, a mesma dela,
Certeza de prazeres que me inundem.

Tocantes emoções, lastro e viagem,
Seguindo assim os rastros, chego a ti.
Fazendo nas tristezas a dragagem

Que possa permitir navegação.
Aos poucos, minha amada, eu concebi
Faróis que em paz nos mostre a direção...

2094

Amor é sentimento em vias de extinção.
A boca que me beija assim tão à vontade
Decerto já beijou metade da cidade!
É retrato instantâneo, invade em profusão.

Um segundo que passa inventa outra paixão.
Por que vou ter ciúme em pouca lealdade.
Eu sei, não é mentira, amor é de verdade.
Isso tudo é hormônio...Amar? a solução!

Beija aqui, beija acolá... Não pára de beijar.
O neon brilha tanto, apagou o luar!
Estou ficando velho, agora eu percebi!

Sem pinho, serenata? A lua dança axé.
Amor sem carro novo? Amigo, não dá pé.
Ainda bem que achei meu par, minha Marli...


2095

Amor é sentimento
Diverso e divertido
E quando a dor olvido
Momento em paz eu tento,
Livrando o pensamento
Aonde presumido
O dia repartido
A sorte num alento.
Vencer os meus temores
E sei por onde fores
Que estarei junto a ti.
Vagando sem destino,
O quanto não domino
Deveras não perdi.



2096

Amor é sentimento que não nega
Apenas se entregando sem cobrar.
A um mundo mais tranqüilo nos carrega
Com paz, serenidade, ganha o mar.

Amor é desejar felicidade
A quem por tantas vezes nos magoa,
É crer na plenitude da amizade,
Só querer para outrem a vida boa.

Amar é mais que tudo, ser sustento
Nas horas mais difíceis, complicadas...
Quem ama é ser divino e tem assento
Nas terras mais queridas e ansiadas...

Eu amo bem aquém de minhas forças,
Do mar que necessito, tenho poças...


2097

Amor é sentimento valoroso,
Tantas vezes cruel, duro e sutil,
Em outras; delicado e prazeroso,
Benfazejo, risonho e gentil.

Mas sempre, com certeza, glorioso,
Mesmo para quem teve e já partiu,
Amor se faz bendito e desejoso,
Por mais que a solidão se faça vil

Tocado pelas dores e tormentos,
Trazendo inesquecíveis, bons momentos
Saudade vem trazer de novo à tona

O riso que se foi e não voltou,
Em cicatriz profunda, quem amou
A bomba da emoção, sempre detona...


2098


Amor é simplesmente combustível
De quem sofreu demais e quer mudança.
Viver impulso raro e tão incrível
Que a vida, num segundo sempre alcança

Nos braços deste amor, que é invencível
Quando encontrando noutro, uma aliança.
Transformação divina e mais visível
Criando uma ventura em esperança.

Achara que jamais fosse feliz,
Por isso uma tristeza me banhava.
Por tudo que sonhei, pelo que fiz,

E o nada que sem paz, eu encontrava,
Somente meu passado, em cicatriz,
Queimando no meu peito feito lava...


2099

Amor é simplesmente isto o que eu sinto
Sentindo em mansa brisa o teu feitiço.
Dançando a noite inteira já pressinto
A vida a renascer em belo viço.

Segredos deste mar do amor total
Quebrando nesta praia, nosso cais.
O gosto de teu lábio sensual,
Vontade de querer e sempre mais.

Encantos e delírios desfrutados
Na louca sensação do forte vento
Que nasce em nossos corpos misturados
Num furacão insano, o sentimento

De ser feliz, um sonho a cada dia
Refeito em sedução, em fantasia...


2100

Amor é soberana fantasia
Que molda a vida em doces emoções,
Refém das alegrias, das paixões,
Amor tão cedo enleva cada dia

No manto divinal da poesia,
Pressente novos rumos, direções
E sabe contornar os furacões,
Além do imenso mar, amor se guia

Por astros e fantásticas vertentes,
Supera as cordilheiras, vence os medos.
Quisera Amor além dos infinitos

Deixar enamorados mais contentes,
Ao delegar a todos os segredos
Moldando o nosso amor em vários ritos...

2101


Amor é tema pleno em formosura
Camões em seus poemas me dizia
Do amor que se faz sempre em alma pura,
Semeia dentre todos, fantasia.

Florbela que vivera em noite escura,
Também sem outro tema se fazia,
Apenas quem demonstra alma tão dura
Não vê que sentimento é poesia.

Sem sonhos que fará pobre poeta?
Morrendo qual se fora um retratista,
Fotógrafo sem arte, alma incompleta.

Distante da emoção, perdendo a liga.
Sonhar é necessário, minha amiga,
Amar nos traz de Deus a vera pista.


2102


Amor é um banquete extasiante
Que apenas alguns poucos reconhecem,
Viver é sempre um sonho deslumbrante
Moldado por artistas que o tecem

Com fios de esperança e de justiça
Nos teares mais perfeitos da ilusão,
Amor quando não sabe o que é cobiça
Prepara alucinante, uma explosão.

Eu falo deste amor que é mais que tudo,
Amor num canto amigo e lisonjeiro,
Não canto o sentimento mais miúdo
Que rasga e não permite ser inteiro...

Por isso minha amada, como é bom,
Poder cantar o amor no mesmo tom...


2103


Amor é um martírio que nos cura
E afaga mansamente enquanto fere.
Nas mãos em que se mostra uma ternura
A dor de uma facada que interfere.

Tal qual obra perdida e salvadora,
Tal qual boca beijada em puro escarro,
De força irracional e redentora,
Amor é feito lama, vida e barro.

No verso que se empapa de alegria,
A vida que se quis e se perdeu,
Além do que não sei se valeria,
Amor que se fez teu, somente teu...

Na festa em crematório, vela e círio,
Amor é doce mar, amar, martírio...


2104

Amor é um momento de grandeza
Forjado em doação; não é um mito
Jogado e desprezado sobre a mesa.
Amor: um êxtase sublime; assim, bendito

Além do que é capaz a natureza
Humana compreender. Amor é rito
Diuturno e se conquista com leveza
Da alma. Por isso digo e te repito

Que não deves negar quem se encantar
Pelos olhos sinceros de um amor.
Corres o risco de teres que enfrentar

A negra solidão que não perdoa,
Aqueles que mentindo sem pudor,
Se escondem, mal disfarçam, vão à toa...


2105

Amor é uma palavra vã, fictícia
Cabeça vai rodando em girassol,
No quanto vou vivendo sem carícia,
A contramão me nega dia e sol.

Promessas de delírios em malícia
O peixe não escapa desse anzol.
Por isso tantas vezes a delícia
Transforma em área seca um arrebol.

Nas esquinas procuro o teu olhar,
E nas estrelas bebo a fantasia.
Guitarras entre lendas e desertos.

Vontade de tocar e de provar,
Trincheira da ilusão decerto adia
Os planos que eu pensara estarem certos...


2106

Amor em alegria é festa certa
Tornando a vida grata e transparente.
Minha alma se mostrando mais aberta
Encontra-te querida, sorridente.

Não deixe que a tristeza bata à porta,
Fechando uma janela à solidão.
Assim melancolia já se aborta
E sobra tão somente a tentação

De ser teu companheiro, ser teu par,
Andar pelas estrelas lado a lado,
Rasgando este infinito até chegar
Caminho que por Deus já foi traçado

Deixando tantas mágoas para trás,
Felicidade imensa, amor nos traz...


2107

Amor em alegria
Garante o meu sorriso
É tudo o que eu preciso
E o tanto que eu queria,
Vestindo a fantasia
No rumo onde conciso,
Vencendo o prejuízo
O todo se faria,
Adentro a lua imensa
E a vida se compensa
A cada alvorecer,
Vencendo cada passo
Aonde for eu traço
A vida em bel prazer.


2108


Amor em amizade é pura paranóia
Ao mesmo tempo goza e depois nos consola.
Esfrega o sentimento e vende a rara jóia
Depois virando amor, já vai pisar na bola.

A força da amizade – igual a uma sequóia
No amor a dor presume e logo o corpo esfola.
Roubando quem acuda e joga enfim a bóia,
Em amizade, amor, é beijo de pistola.

Já sei do teu segredo e sabes meu também
A tempestade chega e mostra quando alguém
Sem rumo e sem parada, espólio de si mesmo

Andando sem destino, encontra este vazio.
Na fantasia morro, e nela eu já me crio
Sem ter palavra amiga, eu ando agora a esmo...


2109

Amor em amplitude, ao rés do chão,
Expira se não for tão bem cuidado,
Saudade vem florindo este botão
Perfumes se aproximam, lado a lado.

O Fado sem enfado nos permite
Viés em positivas referências.
Espera que ao amor já se credite
Calando as mais prováveis insolvências.

Sorvendo cada gota deste sonho,
Nas fráguas estelares eu navego,
Meu barco nestas frotas logo eu ponho
Mudando este destino em duplo cego

Agora que conheço tuas trilhas,
Renego as incertezas, andarilhas...



2110



Amor em atos, cenas e esperança
Na dança, a contradança da alegria.
Trazendo esta delícia em alquimia
Permite ver o quanto amor alcança.

O pensamento guarda esta aliança
Na qual da tempestade à calmaria
O manto que nos cobre faz folia
E deixa o mundo todo em temperança.

Receba cada flor do meu canteiro,
Deixei os seus espinhos para trás.
Agora amor sincero e verdadeiro

É tudo o que desejo e o canto traz.
Concebo neste amor fecundidade,
Trazendo tão somente a claridade...



2111


Amor em beneplácito, sereno,
Adentra os mais longínquos e ermos cantos,
Trazendo no seu bojo tais encantos,
Tornando este caminho mais ameno.

Amor se verdadeiro, sendo pleno
Aplaca; num momento, duros prantos,
Cobrindo os namorados com seus mantos,
À sorte faz certeiro em bel aceno.

Amor é soberano sentimento
Tecido nos teares do infinito,
Pois toma a tempestade em placidez.

Amar é ser liberto em um momento,
Sabendo eternizar-se em cada rito,
Mantendo a vida em louca lucidez...


2112


Amor em calmaria e tempestade
Trazendo nesse ambíguo sentimento
A força que detém a liberdade
Numa alegria intensa, em sofrimento...

Tantas delícias queimam nossas tramas,
Incêndios abrasando a todo instante,
Incensos acalmando, lentas chamas,
Ternura nas loucuras, inconstante...

Vencidos pelas chamas e batalhas,
Deitando em travesseiros os suores.
Os beijos são delícias e navalhas,
Com lágrimas e risos me decores

E vamos tempestades, calmarias,
Vivendo sem temer as fantasias...


2113


Amor em caramelo
Delícia em puro mel,
Carinho te revelo
Meu sonho é ser corcel

Voando solto e belo
Pousando no teu céu,
Num sol forte amarelo
Batendo em teu dossel

Chegando de mansinho,
Tua tez bronzeada,
Fazendo em ti carinho

Como quem não quer nada
Depois, devagarinho...
Deixar-te extasiada..


2114

Amor em confiança
Perfeita e sem engodos,
Trazendo uma esperança
Que acabe com os lodos,

Procuro em contradança
Os teus carinhos, todos,
Nos versos, aliança
Somos iguais nos modos.

A vida traz o bem
Que sempre desejamos,
É sorte de quem tem,

Amor que desfrutamos,
Não ligo pra ninguém,
Pois sei que nos amamos...

2115

Amor em desalinho
Não posso conceber
Viver sem teu carinho,
É bem melhor morrer.
Encontro no teu vinho
Loucuras do prazer.

Num êxtase divino,
Amor sensacional.
Sentindo-me um menino,
Que louco e passional,
Transforma em desatino
Um beijo sensual....

Em ondas, leva o mar,
Meu verso a te buscar...


2116

Amor em desvario, já me assalta,
Roubando da razão, seu alicerce,
Minha alma, sem juízo e tão incauta,
Não quer um sentimento que a disperse,

Apenas a beleza do concerto
Que amor, em sinfonia, não despreza,
Se os erros do passando não conserto,
A vida penetrando em dura fresa...

Expondo minhas máculas sem medo,
Às vezes não concedo mais um til,
Amor sabe; do cofre, qual segredo,
Invade e traz surpresas, tão sutil...

Que faço deste amor; qual saltimbanco,
Que mata com sorriso, calmo e franco...
2117


Amor em explosão, tudo o que eu quis
Depois de soçobrar em tempestades.
Clareia em alegrias o céu gris
Traduz com perfeição felicidades.

Navego meu olhar pelas cidades
Deixando no passado a cicatriz
Permito vislumbrar em claridades
O quanto esta esperança já me diz.

Dos erros cometidos, nem mais sombra
Nem mesmo a solidão algoz assombra
Quem faz destes prazeres o seu cais.

Viceja no meu peito esta emoção
Fazendo a mais sublime tradução:
Sonhos de amor, delícias sensuais.


2118

Amor em falsas luzes e cristais
Trazendo em seus mosaicos riso e pranto.
Nos rótulos, distante do quebranto
Envolto por fumaças não diz mais.

Nas tendas entre flocos sensuais
Enigmas decifrados, desencanto,
Malignas sensações, rasgando o manto.
Florestas entre chuvas, temporais.

Depois do fim da festa sobra nada,
Apenas a paisagem esgarçada
Rupturas destas frágeis estruturas.

Sarcástica quimera sorridente,
O amor partindo tudo de repente
Traduz em gargalhadas as fraturas...


2119


Amor em fantasia que se dê
Encontra finalmente o que bem quis
Apaixonado eu sigo por você,
A cada novo dia, mais feliz.

O meu olhar procura e sempre lê
Palavras que meu peito agora diz,
Do amor no qual meu verso vive e crê
Inspiração jorrando em chafariz.

Sabendo que sou seu, amada prenda,
Segredos desta vida, amor desvenda...
Um sonho sem igual vai prosseguindo

Buscando um doce alento em mansos braços
Riscando em perfeição divinos traços,
Amor faz este mundo ser tão lindo.


2120

Amor em fantasia que se dê
Encontra finalmente o que bem quis
Apaixonado eu sigo por você,
A cada novo dia, mais feliz.

O meu olhar procura e sempre lê
Palavras que meu peito agora diz,
Do amor no qual meu verso vive e crê
Inspiração jorrando em chafariz.

Sabendo que sou seu, amada prenda,
Segredos desta vida, amor desvenda...
Um sonho sem igual vai prosseguindo

Buscando um doce alento em mansos braços
Riscando em perfeição divinos traços,
Amor faz este mundo ser tão lindo.


2121


Amor em fonte límpida se espelha
E bebe cada gota em placidez,
Além de simplesmente uma centelha
Amor em franco amor já se refez.

A lua dos desejos se avermelha,
Iluminando assim a bela tez
Daquela que tão bela se assemelha
A deusa da beleza, sem porquês.

Enaltecendo assim a formosura
Na qual todo prazer já se emoldura
Homogêneas vontades nos unindo.

O tempo de sonhar agora é lindo
E traz o paraíso pra nós dois,
Sem medo do que venha, enfim, depois...



2122


Amor em liberdade é feito sem exílio
E se mostrando livre, um canto exuberante
Não tendo no caminho espinho ou empecilho
Vagando qual cometa invade a cada instante

O coração que outrora, em duro e triste idílio,
Vivera tão somente a busca delirante
Que trouxesse pra mim um novo e belo trilho.
Porém só recebia a solidão, farsante!

Agora ao perceber sua chegada, Amor,
Eu sinto finalmente a aragem mais sublime
De quem adoro tanto o quanto sempre estime

O Amor que libertário, é feito de esperança;
Trazendo para a vida o novo a se propor
Em plena mocidade, alvíssaras... Festança!



2123

Amor em liberdade salta aos olhos
Revela num momento o quanto é bom,
Não tendo no caminho mais abrolhos,
Iguala o coração no mesmo tom.
Amor colhendo as flores, belos molhos,
É ter uma esperança como dom...

Assim, vivemos nós a cada dia,
Sem medo do que temos pela frente,
Fazendo nosso amor em tal folia,
Que nada nos impede tolamente,
Compartilhando sempre em euforia,
Aquieta até ciúmes, totalmente...

Eu vejo em livre amor, peito liberto,
Andando sempre em frente, em rumo certo...


2124


Amor em liberdade traz certeza
De um sonho de desejo e de prazer.
No céu de tua boca, com largueza
Espero novamente perceber

Que a moça inda pretende ser princesa
E nisso o seu encanto me faz ver
Deixando uma alegria sobre a mesa
Beleza tão gostosa de viver...

O sexo em descoberta traz encantos
E medos que maltratam e confortam.
Navios de desejo quando aportam

Derramam esperanças pelos cantos.
Mal sabe que o desejo de um afago
Por outras tão somente quando pago...


2125


Amor em louca entrega, no furor
Dos corpos imantados que se tocam,
Vestido de desejo e sem pudor,
Prazeres sem limites desembocam

Explodindo em orgástico torpor.
Os gozos misturados que se entocam
Estando o tempo inteiro ao teu dispor
Humores em mosaico já se trocam.

Nas grutas e nas locas, pedem bis.
Deixando o corpo amante então feliz
Às voltas com destino caprichoso.

O quanto que alimenta os nossos dias
Toando a cada dia fantasias.
Amor, um sentimento poderoso.


2126

Amor em melodia, partituras
Que mostram tanta sensibilidade,
Minando em fontes raras, as ternuras
Trazendo em paz total felicidade.

Na tela dos meus sonhos, as molduras
São feitas pelo amor e liberdade.
Descrevo o teu olhar diamantino,
Numa alegria tenra de um menino...

Refúgios encontrando nos teus braços,
Buscando a mocidade já perdida,
Refaço a juventude nos regaços

Da deusa que julgara então perdida.
Seguir da bela estrela lumes, traços,
Permitirá decerto uma saída


2127


Amor em minhas veias já poreja
Felicidade vira precisão.
Quem tem o amor que sonha e mais deseja
Daquilo que ora eu falo, sabe não...

Saudade de você, moça bonita
Que um dia já se foi pra não voltar.
Meu pensamento sofre e acredita
Que a moça a qualquer hora vai chegar.

Os meses vou contando nos meus dedos,
As horas nunca passam, se arrastando.
Estrelas conhecendo os meus segredos,
O véu da bela noite decorando.

Assim, o coração sofrido em chama,
Teu nome em agonia, sempre chama...



2128

Amor em ondas traz uma procela
Ao coração que sonha, e mais deseja.
No mar de tanto amor, divina estrela,
Que em puro amor se faz que me proteja
Guiando embarcação, timão e vela,
Ao cais do amor sublime que se almeja

Nos braços da rainha feita em luz,
Mulher que me domina, estrela guia,
À eterna juventude me conduz,
Moldando uma esperança em alegria.
A cada novo canto reproduz
Amor que procurei a cada dia.

Encontro nos teus lábios o Eldorado,
Durante tanto tempo desejado...


2129

Amor em ondas traz
À praia da esperança
Sereia que me alcança
E gera a mansa paz,
Vencendo o quanto audaz
Pudesse e não se cansa
A vida agora trança
O passo aonde o faz.
Gerenciando o tanto
E nisto mal garanto
O rumo onde pudera
Tocar esta amplitude
E nisto mais que pude
Apascentar quimera.


2130


Amor em paz é tudo o que eu queria
Depois de ter vivido insana luta,
A mão que mansamente acaricia
Desfaz esta quimera, audaz e bruta.

A vida se encharcando em poesia
No gozo mais sublime se desfruta
O bem que farto amor nos propicia.
Prazer que se percebe na permuta

Dos sonhos e vontades, delicados,
Amor não necessita de altos brados
A mansidão suprema encontro em ti,

Belezas de castelos e jardins,
Na placidez de arcanjos; querubins,
Querida, nesse reino eu percebi


2131


Amor em paz se dá a quem mereça
Ao menos descobrir os seus macetes
Bijuteria exposta que envelheça
Nas mãos da patricinha os braceletes.

Não quero e nem suporto tal soberba
A moça vai fingindo o que não é.
Por mais que a fantasia se assoberba
O calo não sossega em cada pé.

Depois de certo tempo eu percebi
Falsárias sensações não custam caro
Mentiras que carregas junto a ti,
Deixando uma virtude em desamparo.

A pose aristocrática descobre
Dourado que vendias, era cobre...


2132


Amor em perfeição quase divina
Expressa um sentimento mais profundo,
O quanto te desejo enfim, menina
Não deixo de pensar um só segundo.

Nas mãos carrego as flores, deixo espinhos
Não vejo mais as trevas do passado.
Deitando em nosso amor tantos carinhos,
Dos olhos deslumbrantes, encantado.

A jóia diamantina que tu trazes,
Ourives dos meus sonhos, deusa e Diva,
Vontades e desejos mais tenazes
Amor tão verdadeiro não nos priva.

Minha alma em teus carinhos vai tão rica
O gozo do prazer nos santifica.


2133


Amor em peripécias se fazendo
Nas guerras duradouras como em Tróia,
Mulheres tão formosas sempre sendo
De todas as coroas, rara jóia.

Assim também se fez quando Iansã
Aonde o ganhador de dois só um,
Xangô levando a filha de Nanã
Deixando mais sozinho o forte Ogum.

Também eu te desejo, ele te quer,
Sou teu e também quero ter comigo
A deusa transformada na mulher
O sonho que faz tempo eu já persigo.

Helênica batalha chegará
E amor, o mais sincero, vencerá...


2134


Amor em plena paz traz liberdade.
Rompendo estas algemas, peito aberto,
Encaro a mais temível tempestade
Aguando de esperanças meu deserto.

Numa expressão comum, mas verdadeira
Uma união permite a fortaleza
Quem tem esta certeza por bandeira
Já sabe que quem ama não despreza

Todo o poder que vem desta emoção,
Louvando assim por certo, o poderio
Do quanto em artimanhas, tal paixão
Aquece e desfigura qualquer frio.

Soando como voz mais libertária
Às vezes é cruel, totalitária...


2135


Amor em plenilúnio- o gozo da crisálida
Que quando se transforma: esbelta borboleta
Deixando para trás a vida outrora pálida
Respira a plenitude e faz que se cometa

Um ato transparente em forma rara e cálida
Em sua magnitude, o sonho de um poeta
Tornando uma esperança, assim, deveras válida
Beleza que se expressa impávida e completa.

Noctâmbulo disfarce em lua derramado,
Amor é feito assim, crisálida de fato
Sobeja majestade, o meu jardim em flores.

Vivendo essa alegria, andando lado a lado,
Guardando no meu peito o mais belo retrato:
Da larva original: uma explosão de cores!

2136

Amor em plenitude só se faz
Capaz de não temer vicissitudes
Quando se mostrando mais audaz
Distante das mais frágeis atitudes

O tempo tantas coisas já nos traz
Das lágrimas formaram-se os açudes,
Que sanam quando há seca. Amor se traz
Mais forte do que em tantas juventudes.

Sabemos caminhar com firmes passos,
Sem medos, teimosias, inconstâncias,
Mais firmes encetamos nossos casos

Sabemos demarcar nossos espaços
Dos corpos, mil prazeres em reentrâncias
Fulgores que se explodem sem ocasos...


2137

Amor em poesia se declara
Em flores, em canteiros, rios, lagos,
Na noite que ilumina em lua rara,
Na boca que se toca, com afagos.
Na mão que acaricia e nos ampara,
Na cana, na garapa, trigos, bagos.

Cascatas e remansos, natureza.
No brilho das estrelas, vaga-lumes,
Nos córregos dos sonhos, na beleza,
Nos olhos que procuram, nos perfumes.
A poesia, amada, com certeza
Encontra-se nas dores e queixumes.

Porém além de tudo, na verdade
Está o bem do amor e da amizade...



2138


Amor em poesia
E em versos mais felizes
Aonde sem deslizes
A vida se faria,

Vencendo esta agonia
E quando em sonho dizes
Momentos antes grises
Explodem de alegria.

Alçando muito além
Do quanto inda pudesse
A sorte em tal benesse

Aos poucos sempre vem
E o amor quando se tece
Traduz o nosso bem.



2139


Amor em primavera, flórea senda,
Aromas tão diversos, cores várias,
Vencendo as noites frias, solitárias,
Segredos de minha alma ele desvenda.

E traz ao meu viver farta beleza,
O pólen se espalhando frutifica
Imagem tão sublime, fonte rica
Em que uma inspiração não se represa

Trazendo a liberdade ao pensamento,
Nesta aquarela tintas tão diversas,
Florindo uma esperança feito um grão

Tomando em calmaria o sentimento,
Unindo nossas forças já dispersas
Cevando em fantasia o coração...

2140



Amor em seus trejeitos, dominante;
Não deixa mais espaço para nada,
Uma alma que se encontra enamorada
Procura o seu amado a cada instante.

A fonte inesgotável, fascinante;
No olhar de quem se adora; iluminada
Tornando bem mais límpida esta estrada
E a estada em pleno amor, reconfortante...

Palavras de carinho, especiais,
Especiarias raras, jóias, brilhos...
Os pássaros repetem estribilhos

E as noites são sublimes, magistrais...
Quem dera fosse assim a vida inteira,
Até chegar nossa hora derradeira...


2141


Amor em sincronia, harmonizando
Movendo num só tempo Terra e Céu,
Montando no cometa sei corcel
Enquanto em teus abraços me entregando.

O quanto de desejo sabe quando
Respaldos da emoção, calor e véu
O amor desempenhando o seu papel
Aos poucos nossa vida vai dourando.

Se eu ando entre as estrelas, universos,
Ao canto feito amor, eu me dedico
Num átimo recolho estas pegadas

E faço de teus passos sonhos, versos
Um novo amanhecer eu edifico
Num brinde, nossas carnes entranhadas...


2142

Amor em solidão tristezas gesta
E empresta esta mortalha que ora visto.
Outrora quem vivera em riso e resta
Agora em solidão anda malvisto.

Assisto ao meu velório feito em vida,
A sorte de viver já não me alcança
Estrada que tentara vai perdida,
Mordaça me calando sem fiança.

A trama em que me enredo, solitária
Expressa o que restou de um sonhador.
Não quero mais a luta temerária
Eternamente enfim, sou perdedor.

Recebo o vento frio da saudade,
Matando o que restou da claridade...


2143

Amor em sua essência
Se mostra mais humano,
Em toda uma existência,
Num verso soberano,

Amor se faz clemência
Impede o desengano.
Pedindo paciência,
Refaço cada plano

E tenho uma certeza
De ser bem mais feliz,
Tomado por beleza

Em tuas mãos gentis,
Encontro na princesa
O que sorte prediz...


2144


Amor em tempestade quer bonança
Num eternal dissídio com razão.
Olhar que no horizonte não descansa
Inutilmente busca algum clarão.

Em ilusão inválida a aliança
Cravejada em inútil emoção,
Tentando sobrevir, mas nada alcança
Senão a velha e eterna negação.

Amor como se fora um fruto raro
Tocado por cristais e diamantes,
Vagando pelos céus quer que em instantes

Tornar-se, num momento um anteparo;
Porém a solidão exposta e nua,
Reinando soberana, continua...


2145


Amor em tempestades, timoneiro
Permite que se veja o fim da estrada,
Por mais que na loucura disfarçada
Uma alma amante vive por inteiro.

Cevando com ternura este viveiro
Garante no final, bela florada,
Mas quando pela vida maltratada
A rosa perde a cor, o viço e o cheiro.

Vencer as velhas pragas de costume,
Sabendo conviver com o ciúme,
Respeitando os espaços e as verdades.

O barco assim pressente um manso porto
Atento às virações e nunca absorto
Enaltecendo as tantas qualidades...


2146

Amor em Teresina, Piauí
Causando reboliço no meu peito,
Distante do que outrora distrai
Batuca sertanejo e desse jeito

Não vejo nem talvez por que saí
Agora quero o vento de direito,
No gozo cajuína eu me perdi,
Mas sigo destemido e satisfeito.

Eu acho que o teu facho não abaixo
Somente por debaixo dos lençóis.
Se eu tento e recomeço agora encaixo

E traço com delírio meu destino.
No corpo da morena, tantos sóis
Causando o mais gostoso desatino...


2147

Amor em turbulência, vento e sol;
Trazendo ao oceano agitação,
Tomando em desespero este arrebol,
Nublando assim o nosso coração.

Além do que imagino, e mesmo busco,
A tempestade; eu sinto, se aproxima,
Perdendo a direção, lusco-fusco
Mudando num segundo a nossa estima.

Uma esperança emerge, como uma ilha,
Qual árvore que enfrenta os temporais,
Servindo como fora um porto, um cais

O pensamento trama enquanto trilha
As ondas mais potentes, porém vejo
Mais forte de que as ondas, meu desejo...


2148

Amor em verdadeira infestação
Epidemia santa e desejada.
Repete sempre o mesmo e bom refrão
Deixando a vida calma, extasiada.

Do nada que viera sem remédios,
Agora o quanto tenho já me orgulha.
Embora as dores tramem seus assédios
A mão da fantasia vem; debulha.

Santificada luz que nos entranha
Aurora multicor que se anuncia
O sol deitando luz sobre a montanha
Moldura inesquecível, raro dia

Tomando qual divino e claro dom
A melodia acalma; suave som.


2149


Amor encontrou a porta escancarada,
E nem pensou, entrou devagarinho.
Quem viu mal percebeu, não falou nada,
Aos poucos, coração virou seu ninho...

O tempo se passando, a madrugada,
Ausência de calor e de carinho...
Ao ver; minha alma estava apaixonada,
Eu não queria mais dormir sozinho.

Depressa ao me sentir bastante frágil,
Amor veio em loucuras e desejos.
Bem sei que amor é forte, esperto, ágil.

Agora o que fazer senão lutar
Sonhando com teu corpo, boca, beijos...
E aos braços deste amor, eu me entregar...


2150


Amor enlanguescente, qual veludo...
Nas noites mais benditas, companheiro.
Ao ver-te vou calado, fico mudo.
Procurei-te, decerto, o mundo inteiro...

Nas águas do teu mar eu já me iludo....
Prossigo em teu caminho verdadeiro.
Não quero nem por que, sequer, contudo...
És dos meus sentimentos, o primeiro.

As brumas e as bruxas me confundem,
Nas dores, nos humores, todos fundem.
Percebo teus carinhos e desejos...

Amor enlanguescente vivo, cálido...
Distante de teus olhos, morro pálido.
Mergulho no oceano de teus beijos!


2151

Amor escrito na alma em ferro e brasa,
Derrete nosso amor, puro cristal.
Vasculha toda nossa vida e casa
É sonho, fantasia, bem e mal...

Recebe com carinho quem maltrata
Maltrata com ciúmes quem quer bem.
Reparte o que não tem, tanto destrata,
É noite que esperamos, dia vem...

Amor que se converte em mansa fonte
Da fonte em tempestade nega a brisa
Do vento da saudade no horizonte
Reflete a mansidão, guerra precisa.

É dor que nos transborda em alegria
Em êxtase provoca uma agonia...


2152



Amor esquece bula ou manual,
Não sigo as instruções, vou pelo instinto,
O cheiro da morena sensual
Acende este vulcão outrora extinto.

Nas cores do desejo eu já me pinto
E busco o teu perfume sem igual,
Amor sempre traduz o que ora sinto,
Veneno deslumbrante, mel e sal.

Temperos de uma vida mais gostosa,
Enquanto a poesia quer e goza,
A gente faz das tripas coração.

Eu quero me perder em tua teia,
No fogo magistral que me incendeia,
Vulcânicas loucuras da paixão!


2153

Amor esquizofrênico fatal,
Não permite equilíbrio em pensamento...
Dicotomiza, lesa, mais carnal,
Vibrante, refratário, em movimento,

Espelha e se destrói, descomunal.
Amor que se desfaz e suga o vento,
É fera e se devora, canibal.
Arrependido luta é vil tormento...

Me deixa libertário e sou cativo,
À deriva meu barco vai ao fundo...
Derruba ao mesmo tempo que é altivo,

Me deixa solitário e sou inerte,
Me deixa solidário e sou profundo,
A dor em meu prazer, sempre reverte...


2154


Amor estende à mesa, seus talheres
Fazendo toda a festa que merece,
Pretendo a cada noite que vieres,
Tapetes da emoção; amor nos tece

Sentindo calafrios e vontades,
Desejos respaldando cada riso,
Em ti eu encontrei as claridades
Que sempre me dirão do paraíso.

Outono prenuncia um frio inverno,
As estações não param; disso eu sei.
Porém estando aqui já não hiberno,
Nos braços deste sonho eu mergulhei

Sabendo que nas sendas dos amores,
Meu peito em primavera busca as flores.

2155

Amor eterno; toma-me em teus braços;
E faça o que quiser, sou teu cativo.
Não deixe um coração triste em pedaços
Que sonha em ser feliz, por isso vivo...

Eu quero tua força e teu destino.
Eu quero a sutileza que prometes.
Vivendo neste amor, não me domino,
Em desespero puro, me remetes...

Mas sugo deste amor o doce sumo;
A garapa, melado, mel, abelha...
Se tanto te devoro, me consumo,
No incêndio deste amor, é a centelha...

Entrego a ti, meu sonho, corpo e alma
Regresso a tua cama e já me acalma...


2156


Amor eterno é feito na aliança
Daquele que protege e em paz no guia,
Vivendo na possível sintonia
Trazendo ao fim de tudo esta esperança.

O coração entregue à temperança
Permite que se veja o belo dia
Que a mão de um Deus supremo me anuncia
Legado do Cordeiro, nossa herança...

Amar quem nos odeia e perdoar
Os erros cometidos pelos homens,
Do quanto em harmonia sei que tens

Adoça em calmaria todo o mar.
O Pai tem como filho predileto
Aquele que se dá em manso afeto...


2157


Amor eterno; toma-me nos braços,
Faça de teu colo o meu regaço;
Desfrutar desses sonhos, tantos passos,
Depois deitar contigo, exausto, lasso.
A noite nos tomando, olhos baços
Distantes relembrando o meu fracasso...

Amor eterno, siga em cada dia
Transbordando luzes em meu peito.
Transfunde toda paz e fantasia
Até deixar-me quieto, satisfeito.
Amor eterno em doses de alegria
Curando a velha chaga; uma alquimia...

Amor eterno, o verso fora inútil,
Sem rumo, sem destino... outrora fútil...


2158


Amor eu te escrevi, não lembro quando,
A carta em que dizia meu amor...
O tempo sem demora foi passando,
Em tudo que escrevi tentei compor...

Fiz versos e manejos mais românticos
Rimando amor e dor como se manda.
Eu peguei até trechos dos tais cânticos
Misturei com baladas e ciranda,

Pra poder te falar disso que sinto...
Falei deste teu sol, da minha lua,
Tanta verdade falo e nunca minto,
Falei até que eu te queria nua...

Meu coração bateu numa alegria...
Mas precisa aprender caligrafia...


2159


Amor eu te perdôo quando fujo
Nas noites em que quero outra aventura
Em braços diferentes quando surjo
Em busca de carinho e de ternura.

Querida eu te perdôo, sou sabujo
Que vive o tempo inteiro na procura
De um caso diferente, mesmo sujo
Na boca de quem morde com loucura.

Amor eu te perdôo tua espera
Por quem não voltará de madrugada.
Depois despisto amanso, acalmo a fera

Que insiste em transtornar: revolução.
Sabendo que virás desesperada,
Preparo para ti o meu perdão...


2160

Amor eu trago preso nos meus dentes,
Mas mentes, as masmorras são meus leitos.
Cachorras nossas sortes tão dementes
Descrentes as estampas ganham peitos.

Nas campas o descanso derradeiro,
No picadeiro feito de lençóis
O gosto tão amargo e corriqueiro
Negando na varanda luas, sóis.

Ciranda que tentei nunca deu certo,
Concerto que se deu em desafino.
Aberto este caminho pro deserto,
O gozo deste amor mordaz e fino.

Menino que tentou ser estilingue
Na pedra do caminho que se extingue...


2161


Amor exerce sempre o seu fascínio;
Um hino que se entoa em noite intensa
Sentindo este poder, pleno domínio
O quanto que se quer é o que se pensa.

Despensas não dispensas, logo lotas
Das sórdidas mordidas que me deste
O Judas já perdeu as suas botas
Em léguas a distância em que se investe.

Afasto o desgastado pensamento
E minto quando digo que esqueci.
Não temo e na verdade ainda tento
Beber o que melhor existe em ti.

Lição que não se aprende no colégio,
Amor quando é sincero. Um privilégio...


2162


Amor faz a festança
De quem quer ser feliz.
Depois de tanta andança
O coração me diz,

Que tenha confiança
Terás o que mais quis
No beijo que te alcança,
No carinho que fiz.

Eleita essa rainha
Que tanto procurei
Meu coração se aninha

Além do que sonhei.
Vem logo, vem ser minha
Deixa-me ser teu rei..


2163


Amor faz com tristezas um contraste
Reflui e volta sempre à mesma mesa;
Comendo no princípio a sobremesa
Já tem a força toda de um guindaste.

Na carta de alforria que negaste
Senti o gosto frio da incerteza
Amor que com saudade se reveza
Não preza e morre aos poucos, afunda a haste.

Afundaste meus barcos. Morto o cais,
Eu volto o meu olhar para o jamais
E vejo errôneo passo em minha frente.

Conhecendo de perto quem amei,
Perversamente sinto o quanto errei,
Meu rumo se transforma totalmente.


2164

Amor faz dos caminhos novas tramas,
Se me perder de amor, não resta nada.
Amor buscando arder-me em novas chamas,
Esquenta, com seu canto, a madrugada.

Amor que sempre foi tão traiçoeiro,
Sabendo que me encanta, me maltrata.
Vencido por um sonho, sigo inteiro,
Na sensação doída e tão ingrata.

Meus versos são as sobras que do que tive
De tantas ilusões que já passei.
Nos braços deste amor não me contive,
E louco, sem pensar, eu me entreguei.

Mas tudo o que me resta são as flores,
Perfumam vida e morte dos amores!


2165


Amor faz este mundo ser tão lindo
Trazendo a plenitude da beleza,
Desvendo os seus segredos prosseguindo
Vencendo a mais temível correnteza.

Porém ao mesmo tempo em que deslindo
A sorte que se põe em nossa mesa,
Eu sinto a fantasia se esvaindo,
Deixando em seu lugar, dor e tristeza....

Quem dera se eu pudesse te falar
Do quanto é necessário demonstrar
A cada novo dia o que se sente.

Mas tendo em minhas mãos, a solidão
Que faço se não vejo solução,
O mundo se transforma totalmente...


2166

Amor faz o banquete e a sobremesa
Sobre a mesa, debaixo dos lençóis,
A presa se encontrando nessa empresa
Represa dentro em si divinos sóis.

A sós, ninguém segura quem se dá
Sem medo sem vergonhas ou juízo.
O fogo atiça aí e queima cá,
Cadenciando o passo mais preciso.

Preciso te falar, fique à vontade,
Não tenho outro desejo em minha vida,
Senão esta fornalha que me invade,
Incêndio sem final ou despedida.

Não quero e nem suporto desperdício
Amor que vem completo, santo vício...


2167


Amor faz seus leilões, suas quermesses,
Rolando assim os dados morre aos poucos.
O quanto em nosso amor desenhos teces
Os gritos desperados seguem roucos.

Loucuras a granel; coleciono.
Mentiras estampadas no teu rosto.
Sabendo quanto herdei deste abandono,
O abono recebido está exposto

No beijo da medusa, estas serpentes,
Nos olhos desta Musa, uma aflição
Entranham nesta carne, fortes dentes,
Amor vai me açoitando até o chão.

Não perco meu sentido e nem raiz.
Descambo em outra andança por um triz...


2168


Amor fazendo amor, prazeres gera
Círculo vicioso e benfazejo,
Extrema sensação, louco desejo,
Aflora a insanidade da pantera.

Rasgando no meu peito a primavera
Entranha as maravilhas que eu almejo,
Floradas sem igual; quero e prevejo,
Sem ter o sofrimento feito espera.

Felicidade é feita a cada dia,
Tocando pelo vento que queria
Transforma a tempestade em brisa mansa.


Alucinadamente, eu me inebrio,
Vertendo em doce insânia, este pavio,
Encanto em profusão, nossa aliança


2169


Amor fazendo amor
Num ciclo onde percebes
Diversas belas sebes
E nisto o redentor
Caminho em sol e cor,
E quando assim concebes
O todo que recebes
Vagando flor em flor,
Vestindo esta promessa
Que além já recomeça
E marca com destreza
A sorte mais audaz
E nisto amor se faz
E traz a sorte, ilesa.


2170

Amor fazendo festa em noite intensa,
Tesando com vontades e desejos.
Ardendo francamente em nossos beijos,
Fazendo do prazer a recompensa.

Amor além do que esta gente pensa,
Fornalha que pernoita em meus ensejos,
Vasculha a tempestade quer trovejos,
E faz desta loucura que compensa

A farra que queremos, tal gandaia,
Vertendo e porejando a sensação
De ter o meu carinho sob a saia

Da morena que traz em tentação
Amor assim tomara que não caia,
Que seja sempre pleno de tesão...



2171


Amor fazendo o mel, feliz abelha
Que voa sem destino, flor em flor,
Bebendo desta luz, cada centelha,
Com fome e com desejo sedutor.
A rosa que te dei; amor, vermelha,
Demonstra o nosso fogo, tentador..

Todo o suor derramas nessa cama,
Que é nosso templo vivo da paixão.
Viver eternamente em plena chama
Que sempre determina uma explosão.
Remansos e caminhos, toda a gama
Extensa de um amor/revelação.

Destino se cumprindo soberano,
Nas adivinhas todas de um cigano...


2172

Amor feito de luz e de esperança
Promete ser inteiro e sem limites.
Realça o sentimento em que se alcança
Um mundo mais perfeito. Não evites
Sorrisos que se fazem da aliança
Que não permite intrigas nem palpites...

Amor que se faz manso em ousadia
De sonhos e carícias se alimenta.
Fomentos de emoção e de alegria
Nas dores e tristezas, nos alenta.
Cerzido com carinho e fantasia
As tempestades todas, ele agüenta...

Dedico cada verso ao nosso amor,
É dele toda forma de esplendor...



2173

Amor feito em bonança, em paz, bendito
Prenunciando um dia em festa e gozo.
Poder te amar é sempre tão gostoso,
Maravilhado quero e assim repito.

No bem desta emoção eu acredito
Vivendo um mundo nobre e prazeroso,
Recebo o teu olhar mais desejoso
E a noite recomeça; eterno rito.

Sentindo o teu perfume, vou em frente,
Felicidade então já se pressente
Gerando a poesia que me invade.

É tempo de saber reconhecer
E dar muito além de receber
Colhendo no final, felicidade...


2174


Amor feito um moinho
Em duros dissabores,
Distante de um carinho
Abortando estas flores

Refaz-se em duro espinho.
Meus dias sonhadores,
Não vendo outro caminho,
Fugindo, desertores,
Deixando-me sozinho.

Quem poderá trazer
De novo o meu prazer?
A solidão desola,

Ausência de nós dois
Se nada me consola,
O que terei depois?


2175

Amor fenomenal igual ao nosso,
Confesso que jamais eu conheci,
Fenômeno de amor que agora endosso.
No encanto que sem par, me travesti.

Roçando tua pele, agora eu posso
Falar deste prazer que sinto em ti,
Nos braços deste amor eu me remoço.
Beleza que na vida eu nunca vi.

Eternamente assim, homem/mulher,
Roubando a claridade lá do céu,
Sem medo de viver nosso papel,

Enfrento, peito aberto, o que vier,
Ao assumirmos tudo o que sentimos,
Eternidade juntos, descobrimos...


2176


Amor festa cruel que nos ensina
Que nada nesta vida traz em deixa
Total perenidade, me alucina
E nada do que fomos ele deixa,

Na fúria das paixões, força divina,
Incontida transforma santa em gueixa
Enquanto ao mesmo tempo gozo mina
Escuto mesmo ao longe a mansa queixa,

Desfere manso golpe em nosso peito,
Não deixa solução nem outro jeito.
Destino em calmaria se cumprindo.

Assim nesta total insanidade
Em sofrimento, paz e claridade
Envolto nos seus braços, vou seguindo.


2177


Amor força motriz em nossas vidas,
Um sentimento além de simples gozo,
Quem traz de duros tempos despedidas
Percebe quanto amor se faz airoso,

No passo em que eu espero que decidas
Tu vens com teu poder maravilhoso
De ter as nossas dores resolvidas
Num mar de um sonho raro e fabuloso.

Tomado pela estrela que nos guia,
Amor é bem supremo, incontestável.
Além do que queremos alcançável

Amor; a humanidade salvaria
Trazendo em plena paz santa utopia.
Num mundo tão perfeito, imaginável...


2178


Amor fraterno em forma de prazer
E de desejos mútuos de alegria.
Fazendo da esperança o bom viver,
Cantando sem temer, a fantasia.

Alçamos nossos vôos por saber
Que temos nosso canto em harmonia
Sentindo todo o gosto do querer
Que a paz e a igualdade rompam dia.

Amada que aprendi amar demais.
Sem tramas, sem temores, sem medidas
Não deixe que este canto, amor, jamais

Cesse de trazer uma esperança
De que transporte paz para outras vidas,
Irmãs e companheiras nesta dança...

2179


Amor fraterno traz
O quanto em esperança
Regesse qualquer paz
Aonde o tempo avança
E sei do mais audaz
Sorriso onde se amansa
A sorte tão fugaz
Enquanto além se lança
Vencer cada tormento
E nisto eu sempre tento
Acreditar no sonho,
Alçando muito além
E quando a vida vem,
Amor quero e proponho.


2180

Amor gigante cetáceo,
Detém meus olhos tristonhos.
Meu caminho, duro, ocráceo,
Derivado dos meus sonhos.

O teu rosto assim rosáceo,
Nas bocas dentes medonhos,
Um leve tom azuláceo...
Tantos dias enfadonhos...

Amor gigante balela
Baleia que não encalha,
Meu amor, maris stella,

Maristela foi navalha...
Qual calabar, virei presa,
No repasto desta mesa!


2181


Amor igual ao meu? Jamais terás!
Amor que não se cobra e não duvida,
Amor que em plena guerra só quer paz,
Amor é que é bem maior que a própria vida

Pois nunca te maltrata e sempre traz
A sorte em cada noite bem vivida.
Amor assim igual ao meu jamais
Encontrarás. Eu te amo assim, querida;

De um jeito tão sereno e bem suave,
São tantos os carinhos que te faço.
Não quero e nem serei nenhum entrave

No nosso vôo livre, sou teu ar;
Soltando nossos braços pelo espaço,
Nos laços deste amor, nos libertar...



2182



Amor igual ao nosso; jamais vi,
Tornando a nossa vida mais contente,
Uma alegria enorme; eu vejo em ti,
Roubando toda a cena, de repente,
Felicidade imensa eu sei aqui,
Mostrando ser feliz bem mais urgente.

De todas alegrias que continham,
Os sonhos que eu tivera no passado,
Palavras corriqueiras sempre vinham,
Deixando uma emoção quase de lado.
Apenas os meus sonhos sempre tinham
Um mundo alvissareiro, em belo Fado.

Mas quando eu conheci o teu amor,
Eu vi: não era um simples sonhador...


2183



Amor igual ao teu não se concebe
Nem mesmo eu imagino, nem o quero,
A lua quando o sol; mansa recebe
Acalma o astro rei, deveras fero.

Na boca fonte clara, amor se embebe
E traz sabor divino que venero
Vasculho cada rastro nesta sebe
Que leva aos braços teus; assim espero.

Tu és a redenção, uma ventura
Que emana calmaria em ânsia louca.
Nos lábios de coral sensível gosto,

Trazendo uma emoção plena em ternura,
Eu quero mergulhar em tua boca,
Deixando um sentimento assim exposto...


2184


Amor igual semente que se planta,
Nas ruas e nos campos, plantação...
A morte que me trazes já me encanta.
Monólito encontrado aqui no chão.

Quem fora fortaleza se levanta,
Quem teme madrigais pede perdão,
Nos matos que caçaste pedes anta,
Sementes que jogaste, solidão...

Inventaste felizes dissonâncias
Cantaste tuas quadras de repente.
No verso que vestiste só ganâncias

Desafinadamente peço um refrão.
Cabelo que penteia pede pente,
Decora coralina, coração...



2185

Amor ilimitado que eu te tenho,
Além das velhas cercas do quintal.
De todos os meus sonhos sempre venho,
Aporto nosso sonho sem igual,
Ao ver tua beleza me detenho
E sinto o quanto a vida é genial.

Mistérios deste amor sem empecilhos,
Sublime em cada novo amanhecer.
É raro no seu porte, segue em trilhos
Levando calmamente ao renascer;
Do sol que se enternece, rouba os brilhos
Numa certeza plena de prazer.

Amor além do amor, nada o contém,
Se faz na plena glória, o nosso bem...


2186




Amor ilimitado
Sem ter qualquer fronteira
Há tanto desenhado
Além do que se queira
E quando em sonho eu brado
A sorte verdadeira
Regendo esta bandeira
E dela nosso fado,
Vestindo esta ilusão
Os dias me trarão
A paz que nos redime,
E o canto sem temor
Aonde quer e for
Será raro e sublime.



2187

Amor imortaliza e nega o tempo,
É feito um retrospecto atemporal.
Em si resume paz e contratempo,
Marcando com suor, com mel e sal.

Na placidez do lago, a tempestade,
Na maciez da pele, seus espinhos.
No medo de encontrar felicidade
Envelhecendo é mago quais os vinhos.

Transtorna e nos conforta, passo e queda,
Escada para o céu, tenha a certeza.
Nas faces tão distintas da moeda

Amar é ser feliz em amargura,
Por isso, é se deixar na correnteza,
Encontrar na doença a própria cura...


2188


Amor indivisível reina pleno
Tornando cada súdito feliz.
No vértice dos sonhos, tão ameno
Explana num momento o que se quis.

Singela sensação de um mar sereno
Curando a dor empresta à cicatriz
Toda a certeza bela de um aceno
Mudando em nosso céu triste matiz.

Nos versos, lantejoulas e confetes,
Balões e foguetório, tanta festa.
No gozo da alegria que prometes

Certeza de que um dia em sol virá
No quanto a fantasia já nos gesta
Amor eternamente brilhará.



2189

Amor inesgotável, eu assumo
Fazendo dele o moto predileto,
Bebendo gota a gota todo o sumo,
Nos laços deste sonho eu me completo,
Felicidade plena é o seu resumo,
Meu jogo mais freqüente e predileto.

Nas cinzas esquecidas no cinzeiro,
As marcas da presença delicada
Do amor que se fez livre e prisioneiro,
A vida em plenitude, anunciada.
Tomando este cenário por inteiro,
Reflete cada estrela na calçada.

Os olhos de quem quero, são meus guias
Espalham pela casa, as alegrias...


2190

Amor irá selando o seu contrato
E a vida poderá ter liberdade,
Quem sabe inda terei felicidade,
Meu verso em esperança voando alto...

A paz revigorando-se neste ato
Permite até sonhar tranqüilidade.
Deixando em solidão cruel saudade
A fonte revigora este regato.

Cometa que passeia pelos céus,
Decora-se em diversos, claros véus
E segue sem destino, rumo ou trilho.

Amor trazendo um cais, ancoradouro,
Detendo uma alegria em nascedouro,
Diversa deste peito, um andarilho.


2191


Amor já capotando em novas rotas
Vagando pelas noites mais escuras
Abrindo em tempestade tais compotas
Alaga e não promete mais as curas.

Vendidas nas igrejas e nos bancos
Das praças e farmácias, drogas tolas.
Encontro estes sorrisos bem mais francos
Apenas nos fuzis, balas, pistolas.

E assim, seguindo intenso vendaval,
Aborto a cada dia um verso audaz.
Na pútrida emoção, velho jogral
Mostrando o quanto penso e sou capaz

Comendo deste prato inusitado,
Amor vai tropeçando, estabanado...


2192

Amor já é loucura, pode crer,
No amor não há jamais banalidade
Preciso dum amor para viver,
Senão não vale a pena; é falsidade.

Bebemos desta fonte desejosa
Que traz sempre querência e dá prazer
Jardim sem colibri, matando a rosa,
A rosa sem espinhos, vai morrer...

Por isso minha amada, a cada achado,
Que faço nesta vida, um bandeirante,
O verde da esperança, esmeraldado,
Dá força pra seguir, sempre adiante...

Num mar de tanto amor, vivo e navego...
Eu sou feliz, decerto, isso eu não nego.



2193

Amor já é loucura
E nisto não me canso
De ter algum remanso
A sorte mais segura,
E quando se procura
O sonho em ti eu lanço
E o mundo agora manso
Pudesse em tal ventura.
Vestígios do passado
Aonde demarcado
O tempo em dor e medo,
Agora noutro passo
O todo que ora traço
Em bênçãos me concedo.



2194


Amor já não permite insensatez
Tampouco intempestivas soluções.
Na queda entre os temores/sensações,
A solidão, decerto perde a vez.

Amor que em glória ufana assim se fez,
Tramita entre diversas direções
E molda em magnitude as emoções
Ao entranhar a pele muda a tez.

Adorna o meu caminho em flóreas rotas
Ascende à perfeição e não transmuda.
Fulgura em laço firme e mostra a sorte,

Jamais sabe limites nem as cotas,
A ultrapassar as pontes sempre ajuda
Protege o peito e impede um novo corte...


2195


Amor já pressupõe libertação
E o coração audaz agora brada
Mudando num momento a direção
Florindo em primavera a nossa estrada.

Olhando para os céus vislumbro um Deus
No qual toda a grandeza assim se encerra.
Revejo então a luz dos olhos teus,
Ao ver o sol que toma a vasta terra.

Andara caminheiro, em tantas plagas,
Marchando com a força destes ventos,
Os mares da esperança em calmas vagas,
Refletem toda a paz dos firmamentos.

O quanto de esperança sei do mar
Permite, a cada instante, mais te amar



2196

Amor já se embebeda em tal ternura
Deixada como um rastro em teus caminhos
Amante sensação promete a cura
Bebendo a maravilha destes vinhos.

Arcanas ventanias se aplacaram
O libertário sonho enfim chegou.
Os olhos desejosos me mostraram
O quanto amor se entranha e me tocou.

Amores entre rumos tão diversos
Nos ódios que encontrara anteriormente
Vizinhos sentimentos, universos
Dispersos que se mudam totalmente.

Do gozo de viver já se assenhora
Amor que vem sem medos e sem hora.


2197


Amor já se esqueceu destes deslizes
Tenha a certeza disso. Siga em frente.
Um novo amanhecer, querida, invente
Assim nós superamos quaisquer crises.

Do que tu mais desejas sempre avises,
Contigo não irei tão tolamente
Atados pelos nós dessa corrente,
Decerto nós seremos bem felizes.

Um tempo em libertária imensidão
Aclara-se, tomando este horizonte.
Olhando para o rumo em que se aponte

O vértice perfeito da emoção
Seremos bem mais fortes, estou certo.
Amor um vero oásis num deserto...


2198

Amor já separou trigo de joio,
Nas plêiades de sonhos constelares,
Desejos vêm chegando num comboio,
Abóio meu destino em teus teares.

Carpi durante a vida, fui incréu,
O vento fez da dor uma bonança,
Liberto o pensamento almejo o céu
Na trama cada ramo, amor alcança.

Amansa o mais terrível pesadelo,
Abalroando assim velhos piratas,
Abençoado gozo de vivê-lo,
Roubando desta lua, raras pratas.

Atando o quanto quero e o que tu queres,
Veremos neste amor plenos poderes...



2199


Amor jamais apaga a velha chama,
Invade a nossa vida e nos faz crer
Que a deidade sublime em rara chama,
Permite ao paraíso se ascender,
Fazendo da alegria a nossa trama,
Mistura de ternura e de prazer.

Amor que eternidade encontrará
Emoldurando em sonho estas lembranças,
Vibrando em alegria mostrará
A perfeição divina destas danças,
Aonde com certeza brilhará,
Iluminando sempre estas andanças

Aonde nossos passos mais libertos
Encontram perfeição em céus abertos...


2200


Amor jamais combina com o medo,
É força que nos move sem parar.
Vibrando em nosso amor que desde cedo
Nos trouxe uma promessa de luar,
Quem sabe nunca teme que este enredo
Um dia possa em vão de desmanchar.

Amar é ter certeza em cada passo
Sabendo a hora exata, sem temor.
Não deixe que este amor morra no espaço,
Aguarde o renascer da bela flor
Que traz todo o perfume em que refaço
O sonho mais feliz de um lavrador

Sabendo da colheita em tempo certo,
Senão é qual pregar em um deserto...

2201


Amor jamais será pesado fardo,
Alvíssaras, encontro em cada verso.
Quem dera se pudesse ser um bardo,
Um aprendiz de um mundo tão diverso

Daquele que nos ronda, dor e enfado,
Eu poderia crer noutro universo
Sem medos, sem espinhos, urzes cardos.
O mundo não seria tão perverso.

Alçando em esperanças vou ao Céu
Nas asas de um Amor que seja puro.
Por vezes, se sozinho, eu me torturo

E lembro-me de um dia mais cruel
Sem rumo, sem amor, duro caminho
Marcado, sem a rosa, em tanto espinho...


2202


Amor jamais terás um outro alguém
Que te queira da forma que eu te quis;
As noites que passamos. Ah! Meu bem...
Um tempo, com certeza, mais feliz...

A solidão terrível sei que vem,
Deixando na minha alma a cicatriz,
Distante de teus olhos, sem ninguém,
O céu já vai perdendo o seu matiz...

Embora o sofrimento seja imenso,
Não quero que tu penses que eu te odeio...
No amor que já vivemos sempre penso,

E venho, sem temores te falar...
Se um dia precisar, vem sem receio
A ti, jamais deixei; meu bem, de amar...


2203


Amor louco e corpóreo nem discuto,
Apenas já se abraça em bom proveito.
Às vezes delicado outras bem bruto,
No fundo qualquer forma, é seu direito.

Amor é bicho esperto e tão astuto
Que sabe nos deixar insatisfeito,
Mas logo, quando goza do seu jeito,
Um estribilho novo, eu não escuto.

Só sei que uma alma paira em pleno céu,
Amor é terra a terra, boca e gozo.
Depois de se fazer amor gostoso,

Lençóis e colchas soltas, fogaréu.
Uma alma delicada não conhece,
Prefere desandar amor em prece...


2204


Amor maior no mundo? Sem mistério
É o nosso tão real e verdadeiro,
Garanto que é o maior deste hemisfério,
Na minha vida, sei que é o derradeiro,

Fazendo deste amor meu ministério,
Quem dera se eu pudesse, um cavaleiro,
Sabendo em tua senda, refrigério
Mergulho sem limites, vou inteiro...

Alçando um belo céu, cruzando o rio,
Deitando no teu colo, eterno estio
Arando uma esperança enquanto lavras

Cevando esta semente, grano em luz
Amor que tantas vezes reproduz
Dois corpos dialogando sem palavras.


2205


Amor mais verdadeiro
Não deixa que se pense
Tomando o corpo inteiro
Aos poucos nos convence
Sentindo aqui teu cheiro
Amor decerto vence,

No quanto te desejo
Enquanto me quiseres
O gozo que prevejo
Banquete em mil talheres
Vivendo sem ter pejo,
Do modo que vieres

Estarei junto a ti,
Jamais eu te esqueci...


2206


Amor manancial forte e divino
De forma tão sutil, belo e augusto;
Na fonte do desejo cristalino,
Renasce um sentimento tão robusto.

Invade sem ter pena a mente humana,
Sereno, nos demonstra a liberdade.
Tanta sinceridade nos emana,
Ao mesmo tempo traz felicidade.

Amor universal, gigante, imenso.
Imanta tão diversas emoções.
Transgride tantas normas, vai intenso;
Criando em nossos sonhos ilusões.

Amor de eterna vida, em nossos dias;
Reflete nossas dores e alegrias...


2207

Amor manto desnudo em clara madrugada;
Prometendo; quem sabe?- um belo amanhecer.
Porém ao ver a noite em mágoas decorada
Eu vejo tão somente o que não quero ver.

No rosto de quem amo imagem tatuada
Do quanto que no fim colhemos desprazer.
A lua se escondendo, a vida vai nublada
A terra em convulsão, meu sonho a se perder...

Seria muito bom se ainda fosses minha,
A porta que fechaste, o vento derrubou,
Minha alma caminheira agora está sozinha

E tudo na verdade, apenas ilusão...
Pergunto, inutilmente, o que no fim restou,
Se a vida sonegou, do amor, um embrião...


2208


Amor marmorizado na lembrança,
Em todo seu primor, se destruiu...
No pedestal erguido pela esperança
O meu peito artesão; o amor buril...

Teu corpo contornado de pujança,
Alumbrando meu sonho mais viril.
Eterno reviver desta aliança,
Do amor mais vigoroso e dor sutil...

No páramo tristonho, solitário,
As mãos tão delicadas, maltratei...
Desejo se tornou totalitário,

Ferindo ferozmente a minha deusa...
Assim quem, tolamente, achou-se rei,
Em prantos vem pedir: te espero, Creuza!


2209

Amor me conduzindo à liberdade
É mais do que palavra, é sentimento.
Por vezes outros rumos, teimo e tento,
A solidão deveras vem e invade;

Posseiro diz amor, não teme grade,
Arguto reconhece o sofrimento,
Mostrando com vigor o seu intento
Depois de temporal, tranqüilidade.

Cabeça vai girando em carrossel
Vislumbra num segundo o claro céu
Aonde amor professa o seu cantar.

Fazendo do teu corpo, amada amante
A cada novo intento, um fascinante
Desenho que demonstra o raro altar...


2210


Amor me fez moleque sem proveito
Sonhando com quintais que não alcanço
Levando a minha vida deste jeito
Eu guardo do passado o velho ranço

De nunca me sentir mais satisfeito,
Nem mesmo quando orgasmo, enfim, alcanço,
Felicidade morta e sem direito
De ter o que queria, algum remanso.

Remando contra as ondas, a maré,
Caminho eternidade, vou à pé
E nada me promete uma ternura.

Moleque que não teve nem jardim
A rosa vai matando e dentro em mim
Somente uma ilusão inda me cura...


2211


Amor mostra o talento verdadeiro
A cada novo tempo, renascido.
Não deixa que o momento derradeiro
Revele o seu caminho construído

Com toda a fantasia. Vai inteiro
Sem medo de um tormento, convencido
De que só sendo um fato corriqueiro,
Ressurgirá depois, fortalecido.

Amor é sábio embora, uma criança,
Eterna sensação de juventude.
Quem ama, a mocidade logo alcança

E muda o pensamento e a atitude.
Um velho apaixonado, rindo, dança
E traz no coração, plena saúde...


2212


Amor mostrando em glória o seu poder
Não deixa para trás qualquer nuance,
Vivenciando tudo eu passo a crer
Na plena divindade de um romance

Que toa a melodia mais perfeita
Em vozes consoantes, harmonia,
Amor que com desejos se deleita
Transmite toda a sorte que eu queria

Vencendo qualquer medo, sem tropeços
Navego por teus braços redentores.
Não sendo necessários adereços
Nos nosso corpo claros refletores

Mostrando com firmeza uma saída
Faróis iluminando nossa vida...


2213

Amor mudando o rumo, de repente
Por mares poucas vezes navegados,
Recebe da alegria os seus recados
E sabe convergir completamente.

Atalha por um rumo diferente
E imerso em maravilhas, calmos prados
Olvida num momento os duros brados
E o vento em mansidão, agora sente.

Liberto das algemas que trouxera,
Refaço a mais sublime primavera
De toda a calmaria enfim, me inundo.

Ao ter tal percepção, águo o deserto
Depois de tanto tempo e já liberto,
Permito ao coração ser vagabundo.


2214


Amor não cabe em si, nem quer resposta,
Se expandindo noutra alma, se completa.
Amor é divindade pura, exposta,
Que nele se fartando se repleta.

Amor não obedece regra ou lei,
Liberto não conhece escravidão,
Invadindo um plebeu o faz ser rei,
Cativo, já nos dá libertação.

Amar é conceber felicidade.
É dar sem esperar contrapartida.
É conhecer enfim toda a verdade,
É dar sentido pleno à nossa vida.

Fazendo deste amor uma bandeira,
A paz se faz eterna companheira...


2215

Amor não cobra imposto nem pedágio.
É doação sincera e sem temor.
Na força que recebe por ser frágil
Se mostra inteiramente sedutor.

Não cobra jamais dívidas nem ágio,
Espelha-se em si mesmo, louva o amor.
Com toda precisão amor é ágil
É fonte inesgotável de calor.

Existe simplesmente e nada mais.
Não tendo origem vive sem passado,
Não pede e nem pergunta; em si se faz.

Completo já se basta e nisto brilha.
Caminha sempre junto, lado a lado.
Amor é continente, nunca é ilha!


2216

Amor não custa nada e vale a pena.
Não deixe que as amarras sociais
Impeçam de encontrares o teu cais
A sorte, não percebes? Já te acena.

Felicidade? Apenas se for plena
Não creia em sentimentos desiguais
Somente amor enfrenta os vendavais,
O resto? Não fará a vida serena.

Às vezes nos pesando feito cruz
Um natimorto amor. Melhor não tê-lo
O vento quando toca o teu cabelo

À farta liberdade te conduz
Seguir a direção que a brisa traz
Certeza de poder amar em paz...


2217


Amor não é barreira. É solução!

Não tema quando o vento te tocar.

É nele que teu rumo e direção

Estão. Deixe este barco te levar



Por mares e por céus, pela amplidão.

Entregue-se sem medo quando amar,

Não tem por que pedir nem dar perdão

Por ter um paraíso a te esperar.



Tu és a maior prova da existência

De um Deus por sobre nós, em pleno amor.

Não há nenhum dilema, nem clemência



Apenas uma força divinal

Que sempre nos tornando sonhador

Liberta o coração de todo mal...


2218


Amor não é barreira
Sequer um empecilho
E quando os sonhos trilho
A sorte onde se queira
A vida sendo inteira
E nisto também brilho
Vagando este andarilho
Em luz mais verdadeira
Vencer os meus temores
E sei que quando fores
Verás a noite em paz,
Depois de tantos anos,
A sorte dita os danos
E o amor claro se faz.


2219


Amor não foi brinquedo nem quimera

Fingindo tanto medo me deixou,

Agora no meu peito, uma cratera,

O que chamei amor já se findou.



Hiena disfarçada de pantera,

No final disso tudo gargalhou,

Mas ter um novo amor. Ah! Quem me dera,

Na espera deste amor, por certo estou.



Amor que era tão doce se acabou,

Talvez no Tororó, morena espera

Quem sabe este meu tempo já passou.



No bosque preferido ou na tapera

A rua onde este amor se ladrilhou

Vem do passado, amor de primavera...

2220


Amor não mais retenha a sua urina,
Depois tanta agonia... eu que te agüente.
A dor que tantas vezes te lancina
Durante a noite inteira em mijo quente.

Apenas uma coisa eu já te exijo,
O meu amor por ti não é nanico,
A cama não merece tanto mijo,
Debaixo dela tem um bom penico.

Pinica essa coceira que não passa,
Por mais que eu já tentei sei que não goze
Com tanto percevejo, pulga e traça
Eu acho que peguei escabiose.

Dançando chachacha, rumba e merengue
Eu vou acabar pegando dengue...

Correndo das abelhas da colméia
Só falta cancro mole e gonorréia...
2221



Amor não necessita de motivos
É fato indiscutível, soberano.
Por mais que sobreviva ao desengano
Mantém os corações deveras vivos.

Marcando em minha pele, feros crivos,
Eu sei que o sentimento é mais que humano,
E nele com certeza se eu me ufano,
Meus dias já serão bem mais altivos.

Cavar a sepultura? Nada disso,
O amor quando se expressa em belo viço
Jamais trará no fim medo e crepúsculo.

O velho coração que é simples músculo,
É sede do prazer quando dispara
Ao ver que esta beleza fere e sara...



2222

Amor não necessita que se fale.
Só um gesto ou sorriso sempre trai.
Em si mesmo permite que se espalhe
Mal chega o sentimento o mundo cai...

E a máscara que usamos já se vai
Por mares tão distantes corte e talhe.
O medo se esfumaça e quando esvai
Invade de tal forma que se cale.

As mãos é que procuram se expressar
Fazendo dos carinhos a linguagem
Mais fácil e verdadeira de falar.

Por isso tantas vezes não me expresso
Da forma que tu queres, é bobagem,
Nos olhos e nos lábios me confesso...


2223


Amor não paga as contas deste mês
Nem serve em garantia no boteco,
Amor vai se perdendo sem freguês
Depois inda promete repeteco.

Amor não se fez mais do que se fez
Quebrando qualquer asa, teco-teco,
Ainda exige sorte em toda vez
Que grita e não escuta sequer eco.

Amor bem que queria mar de rosas,
Quem sabe da lavanda o seu perfume.
Amor mentindo em versos mata prosas,

Encontra em tempestades porto e cais,
Movido totalmente por ciúme,
Perdendo até batalhas, das navais...



2224


Amor não permitindo mais engano,
Nem mesmo a fantasia que desande,
Repara da tristeza qualquer dano,
Tornando-se maior em feito grande,

Amor que se demonstra soberano,
Não sabe de ninguém que nele mande
Do raro sentimento assim me ufano
E o peito enamorado já expande.

Querida amiga sinta a brisa calma
Tocando o nosso rosto de manhã,
Percebo ser possível o amanhã

Depois de conhecer amor que acalma,
Seguindo vai incólume adiante,
De todos os maiores, o gigante!



2225

Amor não pode ser sempre mecânico,
Precisa de malícia sim senhora,
Se agora neste instante uma alma chora,
Não entre, por favor assim, em pânico.

Angústias que te tomam sem por quê
Não devem ser motivos pra tristezas,
Além de não servirem nossas mesas,
O amor nos prometeu festa e buquê.

Mas veja como é dura a nossa história,
Enquanto eu te desejo sem limite,
A velha pudicícia dá palpite,

Traçando uma outra senda merencória,
Eu sei que na verdade és recatada,
Mas venha amar sem medo. Não dói nada...


2226


Amor não pode ser um sofrimento,
Devemos perceber que uma tortura
Causando em nosso peito uma amargura
Queimando em dor intensa e fogo lento,

Não pode dominar o pensamento,
Pois nele deve haver tanta ternura,
Amor é santidade que nos cura
Poeira de ilusão tomando assento

É veste que nos toma num segundo
E cobre de alegria e de prazer.
Amar é conhecer e conceber

Um novo e mavioso sacro mundo
Aonde a fantasia faz viver
Num sonho mais gostoso e tão fecundo...



2227

Amor não preconiza servo ou amo
Porções igualitárias, mesmo prato.
Saber proporcionar com fino trato
Uma iguaria rara; quero e tramo.

Pudesse ser assim com todo mundo,
Talvez a vida fosse bem melhor.
De tantos sentimentos, o maior
No qual, intensamente, eu me aprofundo

E vejo detalhada tal riqueza
Que expressa o pleno dom de uma beleza
Que com destreza a vida nos ensina.

Cevar no olhar da amada a claridade
Que trague no final, felicidade,
À qual quem sabe amar já se destina...



2228


Amor não reconhece despedida
Num moto assim perpétuo nada pára
Mudando a direção, domina a vida
Enquanto, tantas vezes, desampara.

Adentra as fortalezas, vence a guerra
A força que ele emana; irresistível
O quanto de desejos que ele encerra
Perfaz um sonho nobre, indivisível.

Rompendo os paradigmas, nos liberta
Areia movediça fabulosa
Por mais que a sensatez depressa alerta
Vontade se mostrando caprichosa

Espalha nestas sendas armadilhas
Douradas em loucura e maravilhas...


2229


Amor não reconhece tais barreiras
Que às vezes nos impomos pela vida.
As flechas desferidas são certeiras
Norteiam nossa sina a ser cumprida.
As horas nos teus braços, feiticeiras
Não deixam nem temores nem saída.

Sou teu e não disfarço o sentimento
Que um dia me tomou quase de assalto.
Queimando tão suave em fogo lento,
Meu coração deveras um incauto
Não tem mais solução, e nem eu tento,
No amor que nós vivemos, eu me pauto.

Sem regras ou limites, sem juízo,
A liberdade veio sem aviso...

2230

Amor não se consola quando só,
Um par precisa sempre d’outra face.
Senão a vida volta ao velho pó,
Aí, ninguém dá jeito nem disfarce...

Eu quero o teu desejo; vem sem dó,
Permita, devagar que eu já te enlace.
Te trato, meu amor, a pão de ló
Mas faça-me feliz. Amor renasce

Na fúria e no delírio de uma noite.
Eu quero ser a caça e te caçar,
Mas venha com certeza, não se afoite

Pois tudo o que fizermos nos tempera
No gosto e no desejo de sangrar
O coração exposto à mansa fera...


2231

Amor não se cultiva como flor
Nasce sem querer vivo e faminto.
Embora necessite do calor
Vulcão que se mostrara quase extinto

Explode sem motivo e sem temor,
Retrata fielmente o que mais sinto.
Arrasa todo canto sonhador
Dizer que eu o controlo? Não, não minto...

Amor é turbilhão, erva daninha
Que nasce no canteiro ou no jardim,
E toda uma emoção já desalinha

Criando a tempestade voa leve,
Rasgando o que pensara haver em mim,
Insano e sem limite, amor se atreve...


2232


Amor não se discute privilégio,
Não há ninguém isento aos seus encantos.
Preparando armadilhas, sortilégio,
Nos toma e nos cobre com seus mantos.
Amor nunca se aprende no colégio,
Do riso se transforma logo em prantos.

Amor olha de banda, enviesado,
Depois, dando seu bote, nos afeta.
Amor velho-menino que encantado
Nos toma tão certeiro em sua seta.
Às vezes, bem matreiro, olha de lado
E, tocaiando, atinge sua meta...

Só sei que meu amor brigou comigo,
Eu quero perdoar, mas não consigo...


2233

Amor não se permita algum vacilo
Senão este cachimbo vai pro chão,
Não quero ser chamado vacilão
Tampouco ser babaca é meu estilo.

Quem fora no passado, um bicho grilo
Lutando contra julgo ou opressão,
Na morte a cada dia dá balão
Jamais se permitiu qualquer cochilo.

Não quero ser mais isso nem aquilo,
Problema do País? Educação!
Se eu me mandei; fi-lo porque qui-lo,

O peito cabeludo não depilo,
E sigo a correnteza, a procissão
Mas eu não mudarei a direção...


2234

Amor não tem idade,
E nem respeita gentes,
Na louca mocidade,
Nos crava fortes dentes,

Depois de ansiedade
Nos torna mais doentes,
Restando uma saudade
Fazendo-nos dementes.

Porém um paraíso
Se mostra em luz e vida,
Vibrando num sorriso,

Uma aurora florida,
Mas se eu me martirizo,
Encontra uma saída...


2235



Amor não tem idade, disso eu sei,
É bicho bem traquinas, o danado,
Fiando sem juízo, de bom grado
Expressa na loucura a sua lei.

De tudo o que decerto já passei
Eu trago alguns espinhos do passado,
Mas quero estar contigo lado a lado,
Seguido cada rastro nesta grei.

Sou novo e me renovo todo dia
Nos braços deste encanto, poesia
Que guia meu caminho rumo a ti.

O tempo sem ter tempo pra pensar,
Repete em cada noite céu, luar
Sem nexo, em teus encantos, me perdi...


2236


Amor não tem juízo, bate pino.
Transforma totalmente, imbeciliza.
Fazendo de repente, ouvir um sino,
Numa hora mais imprópria e mais concisa
É véspera sutil do desatino,
Nos morde e, devagar, soprando alisa...

Mas que o danado é bom demais, não nego,
Na confusão que cria nos acode...
Amor tão complicado que carrego
Depois de manhã cedo, estou de bode.
É mar em que sozinho não navego,
Poeira no final, já se sacode...

E pronto! Coração fica matreiro,
Mas logo recomeça, e vai inteiro...


2237


Amor não tem juízo e nem critério,
Invade o peito em sonho lisonjeiro,
Formado pelas sendas de um mistério
Amor se sublime companheiro,

Adentra o coração, sem vitupério,
Dos sonhos o perfeito cavaleiro,
Amor é na verdade um caso sério
Um deus que se fez mago e feiticeiro

Aquece um sentimento outrora frio,
E esvai em mansidão, plácido rio.
Ao cativar propõe a liberdade.

Equânime invadindo rico ou pobre,
Em plena insanidade se faz nobre
Amor é feito pária em majestade.



2238


Amor não tem juízo nem idade,
É fogo que nos deixa mais contentes,
Distante de outros dias penitentes,
Promete para nós felicidade.

Embora muita vez a ansiedade
Em laços mais cruéis, tomando as gentes,
Fomenta os sentimentos mais descrentes,
Matando de velhice a mocidade..

Amar é conhecer o paraíso
Em senda delicada e tão florida,
Louvando a fantasia num sorriso,

Deixando ao coração a lua nova,
Refeita da minguante e dura vida,
Amor em puro amor, já se renova..

2239



Amor não tem juízo,
Tampouco segue regra
No quanto a vida integra
Em dor e paraíso,

No passo mais preciso
Ao todo em paz se entrega
Depois se desintegra
Aquém deste sorriso.

Amor já não se cansa
E traz nova esperança
A quem se fez ausente.

Moldando em rara tela
A paz que se revela
No sonho que apresente.


2240


Amor não tem juízo;
Decerto faz a festa
E quanto mais se empresta
Ao toque mais preciso,

Cerzindo o prejuízo
Aonde o nada resta,
Vencendo a dor funesta
E trama algum sorriso.

Depois de certos dias
Amor tanto querias
E nada se mostrasse,

Do duro caminhar
Sem ter onde parar
A sorte dita impasse.


2241

Amor não tem limites nem idade,
Dádiva garantida de um bom Deus
Que deu como presente aos filhos Seus
De ser feliz, a possibilidade

Atando fogo às trevas, lume em breus,
Legando assim à vida, a qualidade
De poder ter amor com liberdade,
Até pros filhos pródigos, ateus.

E neste sentimento eu fantasio
Um mundo onde viver toda a alegria
Não seja tão somente um sonho, apenas.

Navego mansamente mar e rio,
Entrego-me ao enlevo em poesia
E fotografo enfim, divinas cenas...


2242


Amor não teme mais a correnteza
Nem mesmo a tempestade ou vendaval.
O quanto se pressente a sobremesa
Transforma este banquete magistral.

Beber em tua boca esta aguardente
Divina que inebria e me fascina.
Amar é ser deveras mais clemente
Vivenciando o bem que determina

Um dia mais feliz que eu sei virá
Depois de fartas dores no passado.
Sabendo que esta estrela brilhará
Eternamente eu sigo lado a lado

Alados pensamentos vão ao céu
Roubando da alegria o farto mel...



2243


Amor não tendo fórmula nem bula
Remédio que nos cura e nos maltrata.
A lua quando nua confabula
Deitando um brilho raro sobre a mata

Permite que se sonhe amor em gula,
Salvando ao mesmo tempo já destrata,
Na fome do desejo que se engula
O quanto da esperança se retrata.

A noite vai passando em lusco-fusco,
Os sonhos mais audazes eu já busco
E adentro um infinito nos teus lábios

Aqui, em Fortaleza, Roma ou Cuzco,
Carinho sempre é bom se não for brusco,
em corpos que se mostrem bem mais sábios...


2244

Amor não tendo rédeas, vai liberto
Vencendo os descaminhos, segue em frente
Depois de tanto tempo em rumo incerto
O rio desce ao mar, naturalmente.

Ao ver-me, num instante descoberto
Vontade de sonhar e andar contente
De luzes e carinhos recoberto,
Eu vivo o sentimento, plenamente.

Embora deste amor seja cativo
Por ele e tão somente, agora eu vivo,
Eu posso me sentir em liberdade.

Os olhos no futuro, destemido,
Meu passo sempre firme destemido
Vislumbra a sem igual felicidade...


2245


Amor neste cenário sem inverno
Tramando primavera eternizada
Eu quero o nosso amor, querida, eterno,
Deixando uma tristeza em derrocada,

Meus passos nos teus braços não governo
Adentro num instante a bela estrada
Marcada por desejo manso e terno,
De um dia mavioso; e na jornada

Da sorte tão feliz e benfazeja,
Na plenitude enfim, que sempre seja
O bem desta emoção se convertendo

Num tempo mais feliz em que meu sonho
Mostre-se em maravilha mais risonho
Meu tempo em alegrias; vou vivendo.


2246

Amor nos apresenta o sortilégio
De um sonho que emoldura nossa mente,
Amar nunca se aprende no colégio,
Um sentimento feito plenamente

Domina o pensamento e se faz régio
Um comandante inato; é inerente
Quem nega o grande amor, em sacrilégio
Não pode e nem merece estar contente.

À cântaros as lágrimas descendo,
Matando um sonho intenso em frio cântico,
Porém um coração audaz, romântico

Percebe quanto é belo e, num crescendo
Do inverossímil forja um bem provável,
Além do que permite o imaginável...


2247


Amor nos apresenta
Um dia mais suave
E quanto mais se agrave
O todo onde a tormenta
Deveras me apascenta
E nada trama a grave
Noção aonde vale
O mundo enquanto alenta,
Vestindo a hipocrisia
Amor não poderia
Trazer outro cenário,
Gabando-me de ter
Aonde merecer
Um dia imaginário.


2248

Amor nos dominando, cedo vem
E traz em perfeição a glória plena
Enquanto esta emoção já nos acena
A vida necessita deste bem.

Não quero ser somente de um alguém
Amor já vem roubando toda a cena
O quanto de alegria se contém
Nas mãos desta mulher, calma e serena.

Eu vejo renascer a poesia
Que há tanto tempo em vão já desdizia
Um sonho que eu tivera: ser feliz.

Agora coletando a cada dia,
Teu corpo com delícias irradia
Promessas desta vida que eu bem quis



2249


Amor nos engrandece e nos permite
Poder sentir o quanto somos fortes.
Seguindo a direção dos nossos nortes
Desconhecemos regra e sem limite

Vivemos cada sonho que acredite
Cicatrizando assim, antigos cortes.
Além do que tu pensas que comportes
Sem nada que te impeça ou te limite.

O amor em sua força inigualável
Não sendo quebradiço; maleável
Enfrenta com firmeza o furacão.

Ao ver os seus estigmas e sinais,
Eu quero deste amor, e sempre mais,
Tomando as rédeas, dita a direção...



2250


Amor nos engrandece e traz façanhas
Às vidas que se fazem desejosas.
As horas sem te ter são tão estranhas,
Ao lado teu se tornam fabulosas.

Vontades de reter-te são tamanhas,
Que excedem outras sendas maviosas.
Amor em suas trilhas, nas entranhas
Entrega-se ao perfume, faz-se em rosas.

O quanto deste sonho nos tomando
Permite-se dizer felicidade.
Amar é refletir imensidade

Na intensa claridade se mostrando.
Amor se faz sutil e verdadeiro
No canto que traçamos, costumeiro.


2251

Amor nos fragiliza enobrecendo,
Fazendo de nós mesmos mais audazes.
Querida, no teu corpo percorrendo
Encontro tempestades, luas, pazes...
Assim em pleno amor sigo vivendo,
Além do que meus sonhos são capazes...

Tu és a cristalina água do rio
Que bebo, onde me banho com prazer,
Tu és todo o calor que seca a frio,
Caminho divinal onde vou ter
A força que me traz valor e brio,
O sonho mais gostoso de viver...

Contigo sou feliz, nunca o neguei,
Viver assim foi tudo o que sonhei...



2252


Amor nos incendeia, qual vulcão,
Que traz tantos desejos incontidos.
Fazendo disparar o coração,
Tomando nossos gostos e sentidos,

Nesta fantasia: alucinação,
Dois corpos, arrepios e gemidos,
Enroscam-se nas tramas da paixão.
Impávidos, certeiros destemidos...

O sol que nos abrasa, brisa quente.
Nos doura e nos decora, devaneios,
Amar assim demais, um sonho urgente

Que toca nossa pele, sem receios,
No beijo, em teus carinhos, envolvente,
Nas mãos que se procuram, colos, seios...


2253


Amor nos surpreendendo em esperanças,
Repete os mesmos cantos, mesmas glosas,
Permite que sentindo umas mudanças
Refaça meu jardim em outras rosas.
Nos passos onde dou se não avanças,
Uma esperança trama versos, prosas...

Não quero carregar sequer desgosto,
Esse medo de ouvir mais forte o não.
Escondo tantas vezes o meu rosto,
E morro novamente em solidão.
Rei morto na verdade outro rei posto,
Resulta tanta dor de uma paixão...

Tu sabes que este amor cedo se esconde,
Procuro por seu rastro. Não sei onde...


2254


Amor nos traz prazer e sofrimento;
Transforma a nossa vida, fragiliza.
Tornando-nos reféns por um momento
É tempestade imensa e sopra brisa;

Amar é se entregar; vivo tormento;
A mão que nos maltrata nos alisa.
Roubar da fantasia o sentimento,
É dor que nos seduz e não avisa...

Vibrando neste amor, nos conduzimos
Ao céu e o mesmo tempo ao purgatório.
Os erros cometidos; repetimos.

E somos qual criança curiosa
No fogo que nos queima, crematório,
Perfume delicado de uma rosa...


2255

Amor nos trouxe mel em raro cálice
Inebriante vôo que não cessa.
Permita Deus que amor assim espalhe-se
E seja eterno. Amor veio depressa

E nos tomou com força e com vontade,
No doce desta boca, um bom licor
Que me alucina e traz felicidade
No corpo da mulher, menina flor.

Amor quando demais, logo sacia;
Não deixa que esta vida seja amarga,
Bebendo deste Amor em poesia
Teu gosto sedutor logo embriaga.

E faz nascer um mundo tentador
Perfume desejado, flor-amor...


2256


Amor nunca se mede nem se explica.
Não tem forma. Inerente e desmedido
É proteção sem luvas de pelica,
Sentimento que nunca tem sentido.

Quem entender o amor já se perdeu
Distante de seus braços, desamou.
É lume que escurece, vira breu.
É gelo flamejante que queimou.

Amor não se disfarça nem se nega,
Traduz-se simplesmente por amor.
É cruz que com prazer já se carrega

Leveza que nos pesa, insaciável,
Altar dos sacrifícios, sedutor.
Verbete tão pequeno... Imensurável...


2257


Amor nunca se pensa, só se vive!
A nossa recompensa é o prazer.
De todos os lugares onde estive
Apenas aprendi que o que valer

Não deve discutir; apenas ir
Por caminho mais belo, sem pensar...
Eu sei que tenho pressa em prosseguir.
Parado muito tempo vou cansar...

E deixo de alcançar aquela estrela
Mais bela que surgiu no firmamento.
Não quero simplesmente poder vê-la,
Eu quero te viver, todo momento.

Não perca tanto tempo, meu amor,
Viver felicidade é tentador!

2258

Amor o dia a dia não espera
Panela, roupa, cama, sobremesa,
Por mais que seja bela a primavera
É necessário termos posta a mesa

Fazermos da alegria uma defesa
Sabendo que a saudade degenera
Tirando a fantasia de princesa,
De volta está a mulher divina fera

Que sabe quanto vale cada sonho,
Porém sabe encarar a realidade,
Amar mais tarde e sempre eu te proponho,

Mas viva com total intensidade,
Depois vem perfumada, que hoje é dia
Da gente se esbaldar na fantasia...


2259

Amor o dia a dia
Ourives do futuro
Lapida este inseguro
Caminho em fantasia
O todo onde queria
E nada mais procuro
Sequer o que aventuro
Marcando em melodia
O quanto nada traz
Talvez num passo audaz
Matando esta ilusão
Os olhos no passado
Amor quando além brado
Mudando esta estação.


2260

amor perfeito, sonho imaculado
de um tempo mais feliz que, eu sei, virá,
e ao mundo mais perfeito guiará
contigo, meu amor, aqui do lado,

vivendo com certeza desde já
o quanto que eu teria desejado
meu canto em tal beleza extasiado
buscando esta ventura que sei há

em tua morenice tão brejeira,
uma escultura feita em silhueta,
tomar-te em minhas mãos a noite inteira,

num ato de ternura e de prazer,
ficar comigo, amada, me prometa;
querida, eu não consigo te esquecer...


2261


Amor por tantas vezes faz chorar...
Quem ama está propenso a sentir dor.
Reconhece a beleza no luar
Mas sabe deste espinho em cada flor...

Amar é ser feliz em sofrimento,
É ter uma certeza em puro sonho.
Beber a tempestade num momento
E noutro se encontrar calmo e risonho...

Porém quem tanta odeia, não sorri,
Morrendo em triste angústia, só deseja
O mal. Por tantas vezes eu sofri
Por quem a noite traz e a boca beija.

2262

Amor por um momento me domina,
Refaz em cada passo, meu futuro;
Trazendo um novo sonho, descortina;
Clareia totalmente um céu escuro.

Viver intenso amor é minha sina.
É como respirar um ar mais puro.
Fazer felicidade ser rotina
É como um manso cais que já procuro...

Porém eu não consigo disfarçar
O medo que me traz tão grande amor.
Capaz de me invadir e transbordar,

Jurando assim total felicidade;
Eu ficarei inteiro a seu dispor,
Nem mesmo temerei uma saudade!


2263


Amor por um momento
Ainda poderia
Traçar na fantasia
O quanto ainda tento
E sei que quando enfrento
As dores, a agonia
Gerando esta sombria
Discórdia em ledo vento,
Assento-me no espaço
Deveras ledo e traço
Alguma luz após
Meu rumo se perdendo
Em tom nefasto e horrendo,
Um tempo amargo e atroz.


2264

Amor por um momento
Jamais eu pude ver
Meu rumo a se prever
No quanto busco e tento
Vistoso sentimento
E nisto o meu prazer
Ditame a se perder
Na dor, recolhimento.
Vestindo a fantasia
Aonde não viria
Sequer felicidade
O caos gerando a dor,
O mundo em refletor
Aos poucos se degrade.


2265

Amor pra ser demais precisa ceva,
A cada novo dia, bem regado.
Meu pensamento a ti, o vento leva
Transborda em meu viver enamorado.

Sem ti, o meu caminho em pura treva,
Eu quero ser pra sempre bem amado,
Em teu carinho, a vida já me enleva
Levando pouco a pouco pro teu lado.

Cultivo o sentimento mais querido
Que pude conhecer, amada minha.
Meu peito em teu amor vai aquecido,

No beijo salutar que nós trocamos.
Amor quando em amor logo se aninha
Mostrando há quanto tempo nos amamos..

2266

Amor preconizando arribação
Negando cada verso que eu fizer.
No corpo delicado da mulher,
A lua se transforma num bordão.

Benesses derramadas pelo chão
Trazendo pra este sonho um tom qualquer.
Não sei se tendo tudo o que se quer
Encontrarás perfeita solução.

Sonego o que talvez pareça prêmio.
Se na verdade eu sou quase um abstêmio
Inebriado eu fico com teu cheiro.

Morena ou coreana, a sorte grande
Mostrada mesmo em gozo que desande
Poeira levantando, vou inteiro...


2267

Amor primordialmente ronda o mundo
Unicamente feito em rico Fado,
Tomando-nos de assalto, num segundo,
Já torna o meu caminho transtornado,
Das chamas deste amor, quando me inundo,
Refaço as esperanças do passado.

Por vezes sentimento tão doído
Embora quase sempre deslumbrante,
Em passo mais veloz e decidido,
Permite que sigamos, mesmo avante.
Louvando com mil louros o vencido
Ao derrotado faz que se agigante,

Tremendo em nossas veias, nossos pulsos,
Amor é feito em trágicos impulsos...


2268


Amor pulando o muro, salta a cerca
E tomando de assalto a nossa casa,
Impede que emoção venha e se perca
Açoda a poesia enquanto abrasa.

Arcando com meus erros, busco em ti
Aquilo que jamais encontraria,
O rumo tantas vezes eu perdi,
Na busca feita em dor, cruz e alegria.

Malvado, este moleque faz a festa
E deixa sem defesas aos seus pés
Corrente salvadora, estas galés

Tomando já de assalto, sonhos gesta
E faz do coração parturiente
E mesmo que infernize, faz contente...


2269


Amor que, verdadeiro já me abriga,
Transporta o coração ao Paraíso,
No toque mais suave e tão preciso,
A voz feita em ternura e paz, amiga.

Voltar a ser mais jovem de repente,
Retorno que nos salva e nos alenta.
A fúria da paixão nos apascenta
Entorna esta emoção que a gente sente.

Amar é ter nos olhos liberdade
Sabendo usufruir felicidade,
Concerto que se faz em harmonia.

Tu sabes que eu te quero. É verdadeiro
O encanto em que este verso é mensageiro
Muito além de uma frágil poesia...


2270


Amor que, tão intenso, nos consome,
Em louca sedução alucinante,
Impede que este rumo eu já retome
Explode em alegria, a cada instante.

Nos queima e nos devora, totalmente,
Ardendo em nosso peito, sem juízo,
Vulcânicos caminhos, a vertente
Direta para o caos e o paraíso...

Mergulho num arroubo e perco o tino,
Amor como um posseiro, devastando,
Já zomba do que fui, muda o destino,
E vai, sem ter limites, me tomando.

Na sedução do amor, hipnotizado,
Vivendo sem fronteira, apaixonado!

2271

Amor que, noves fora nada vale
Recebe o que me deu em duplicata
Nas noites que cantei, fiz serenata,
Pediste intimamente que eu me cale.

Quem ama não desama nem maltrata
Ao menos diz palavra que regale,
Mas vejo que somente esta cascata
Não serve pra inundar imenso vale.

Agora que termina este meu sonho
Nas minas, outras fontes vou beber,
Um brinde derradeiro eu te proponho

De tudo o que tivemos, o prazer
De ser o teu parceiro me fez bem,
Ao canto derradeiro, ao menos, vem...


2272





Amor que é tão intenso
E não sossega o peito
Enquanto além aceito
E nisto me convenço
A sorte aonde eu penso
O rumo satisfeito
E quando além deleito
O tanto recompenso
Vagando sem num norte
Sem nada que comporte
O sonho mais audaz,
E sei do quanto pude
Vencer caminho rude
E ter enfim a paz.


2273



Amor que, dentro da alma, paralisa
E torna sem sentido cada canto.
Transforma a tempestade em calma brisa
Entorna a fantasia e forma espanto.

Faísca que incendeia, viva chama,
Que chama e me descreve a sensação
De ter esta esperança que reclama
Viva e definitiva solução.

Pureza de cristal, de um belo prisma,
Vicia e me domina, amor é ópio,
Fazendo andar sem rumo, amor já cisma
Forjando esta emoção-caleidoscópio.

Amor que nos oprime e nos liberta
Qual meta que nos faz a vida incerta...


2274

Amor qual passarinho forja o ninho,
Querendo noutro amor frutificar.
Retira tantas pedras do caminho;
Tantas outras, costuma colocar...

Não deixe nosso amor perder o norte;
Na sorte malfadada doutros passos.
Amor que se deseja firme e forte,
Aos poucos não permite mais espaços...

Meu coração liberto neste amor;
Atando meu destino em teu destino.
Tantas mazelas curo... Sonhador...
Amor que me transforma num menino.

Somando seus balões me traz o céu;
Navego nos barquinhos de papel...


2275


Amor quando acontece, é festa certa
Unindo dois extremos somos um,
Não tenho na verdade medo algum
Quando o nosso desejo, amor desperta.

Incêndio, fogaréu... Chame o bombeiro!
A cama quando em chamas, maravilha...
Seguindo com prazer descubro a trilha
E bebo de teu corpo, gosto e cheiro.

Na boca delicada uma cereja,
Nos seios a beleza de um romã
Provando devagar uma maçã

O corpo alucinado assim lateja,
Fornalha aonde adentro com furor,
Sacrílegos mistérios de um amor...


2276


Amor quando bem feito não se esquece,
Assim foi nessa noite que passou.
Uma oração profana, gozo em prece
Num turbilhão de amor que nos tomou.

Perdido no infinito, como estou,
Prazer tão delicado sempre tece
A teia que em teus braços já me aquece
E me oferece rumo aonde vou.

Estar contigo aqui num sonho incrível,
Teu corpo sensual, irresistível,
Deixando-me por certo mais feliz.

Juntos, nas manhãs, no paraíso,
No toque mais gostoso e mais preciso,
Eu quero muito além de um simples bis


2277

Amor quando bem feito
Jamais se deixa aquém
Do sonho onde contém
O prazo satisfeito,
A sorte quando deito
E a noite ainda vem
Traçando sem desdém
O rumo em doce leito,
Vestindo a fantasia
Do quanto poderia
Vencer a tempestade
Pulsando com ternura
Fortuna se emoldura
No sonho que me invade.

2278


Amor quando chegou bateu na aorta
Fez uma confusão e me tomou,
Amor se esquece sempre de uma porta
Pela janela aberta, amor entrou...

Amor que faz carinho enquanto corta
Depois de certo tempo... Quem eu sou?
Amor que me endireita enquanto entorta
Na faca de dois gumes, me rasgou...

Só sei que gosto tanto desta festa
Que danço noite e dia sem parar,
De todo o sentimento que me resta,

Amor se mais me empresta; mais eu gasto...
Sem chances de impedir ou de mandar,
Fez do meu coração o seu repasto...

2279

Amor quando demais, já contagia
E deixa a nossa casa em plena festa
Vivendo a mais sublime fantasia
A vida em esperanças, sorte gesta.

O quanto tantas vezes fui sozinho,
Um ledo caminheiro sempre ao léu,
O amor veio chegando de mansinho,
Abrindo uma porteira para o céu.

Capacho da tristeza, frágil cativo,
Não tinha outro estribilho, solidão;
Do sonho que alimenta e mantém vivo
A seca dominando o coração.

Tocar felicidade? É bem plausível,
Agora que percebo ser possível.


2280

Amor quando demais; a gente voa
Sem ter asas nas costas ou nos pés,
Atravessando o mar sem ter canoa,
Nadando simplesmente, sem revés.

Amor assim demais, mordendo cura,
Depois de um bom carinho, fecha a cara,
Às vezes nos tortura com ternura
É pedra mais comum, portanto rara...

Amor quando é demais, esqueço o nome,
E passo a ser eterno e morro logo,
Minha alma neste fogo se consome,
Em poucas gotas, lágrimas, me afogo...

Amor transforma véu em nosso escudo,
Perdendo-se a si próprio, sendo tudo...


2281

Amor quando demais
Já nada em paz sossega
O passo onde navega
Invade qualquer cais

E sei dos temporais
O vinho em minha adega
Enquanto a sorte nega
Expressa o nunca mais.

Vencido caminheiro
Aonde além me esgueiro
Encontro a plenitude

Ocasos são diversos
E sei dos velhos versos
Enquanto amor ilude.


2282

Amor quando demais dá diarréia
Correndo pro banheiro sem descanso,
Minha alma sem pudores, vil atéia
Ateia fogo em lenha num remanso.

Se a gente viajar só na boléia
Destino mais distante eu não alcanço,
Palhaço faz o gozo da platéia
Se ao chão depois de tudo inda me lanço.

Na tarde que se nubla, quero o sol,
Se o sol bate mais forte no arrebol
Eu quero que esta nuvem chegue logo.

Se parto eu não pretendo retornar
Se volto vou buscando te encontrar,
Na dúvida cruel, nado ou me afogo?


2283

Amor quando demais, fora da pauta,
Transtorna este cenário, faz a festa
Entrando sutilmente pela fresta,
O amor viaja espaços, cosmonauta.

Minha alma sem juízo e tão incauta
Ao ver o teu olhar, de novo atesta
E ao lado de teus braços já se empresta,
Tocado pelas luzes da ribalta.

Segue agonicamente vida afora
Na busca que decerto não deplora
Qual fosse mariposa frente à luz.

Eu peço que tu tenhas paciência
O amor quando se mostra sem clemência
Ao limbo, num segundo nos conduz...


2284

Amor quando é demais, amor se atreve
E vence qualquer medo que encontrar.
Por mais que uma alegria seja breve
Amor nunca se cansa de tentar.

Nas brandas emoções ou na loucura
Amor se não renova, não resiste.
No sentimento imenso de ternura
Um resto de saudade morre triste.

O manto que recobre o deus amor
Em versos se tingindo, rubra rosa,
Vertendo um longo lago de esplendor,
A luta pelo amor é gloriosa.

Não quero desse amor, a piedade.
Nas vastas emoções tanta verdade...


2285


Amor quando é sincero. Um privilégio
Que poucos podem ter em sua vida.
Poder que nos transforma, em fogo régio
Permite que se tenha uma saída

Em todos os problemas romperá
Algemas emblemáticas ferinas.
O vento quando inventa venta cá
Adentra pelos poros e narinas.

Inebriante sonho que fomenta
A fome de viver e ser feliz.
Sinceridade sempre representa
O que em pleno amor, eu sempre quis.

Eternidade dá-se a quem se deu,
No amor que sendo nosso é teu e meu


2286

Amor quando em amor desequilibra
E finge que se vai mas nunca vem,
Mas quando meu amor, por certo, vibra,
Aguardo em tantas ânsias, por alguém.

Que teme ser amada por quem sou
E mata uma emoção em pleno aborto.
Se tramo meus destinos, onde vou,
Procuro calmaria no teu porto.

O medo te tomando, cara amiga,
Impede que tu sonhes com firmeza.
A noite se aproxima e não periga,
Mas foges desta forte correnteza.

Amar quem tanto quis, já me parece,
De tanto amor que tens, amor padece...


2287

Amor quando em conflito com Razão,
Entrega sem limites, fogo e luz.
Decerto também pesa, imensa cruz.
Causado e sendo causa de erupção

A vida não faculta solução,
A mão que descaminha já conduz.
Deixando corpos e almas, frágeis, nus.
Jardins e ervas daninhas, floração.

Permita-se Senhora dos meus sonhos
Seguir passos risonhos e doridos,
Paraíso que traz padecimento.

Às vezes tão sublimes ou medonhos,
Amores que provocam alaridos
Razão legada ao mar do esquecimento...


2288


Amor quando em procura de um engenho
Que o faça mais perfeito e sedutor
Demonstra esta ternura que, sei, tenho,
E forja uma obra prima: o pleno amor.

A vida traz contrastes de matizes
Que sempre valorizam a pintura,
Amor quando nos toma em aprendizes
Prepara a divindade que nos cura.

Em cada poesia que preparo
Com ânsias de poder fazer meu rito
No ritmo mais fecundo e bem mais caro
De ter o grande amor, vivo e bendito...

Embora o sentimento sempre seja
A dor que dá prazer e que lateja...


2289


Amor quando em saudade se transforma,
Mudando a sua face, permanece
A casa necessita de reforma,
Porém o coração nunca obedece.

Vez por outra, retorna e nos informa
Terrível ladainha feita em prece,
Rompendo qualquer lei, transgride a norma
E a mortalha do amor, de novo tece.

Reter estas imagens, faz tão mal,
Porém como é difícil estar liberto
Futuro no passado, segue incerto

A cada dia o mesmo ritual.
Por mais que aurora trague a claridade
A noite não se afasta da saudade...


2290

Amor quando em sentidos se descreve
Se faz como a esperança mais bendita
Se na alma quando em frio cai a neve
Danosa sensação se faz aflita.

A mando do que fora subjetivo
O verso extremado não dispensa.
Na lágrima servida quando vivo,
Não vejo tanta luz na recompensa.

Faíscas deste amor me incendiando.
São tantas emoções que não dispenso.
Se vozes mais macias escutando,
Amor é sempre brilho no que penso.

E vejo meu destino quando ancoro
No mar de amor divino que decoro


2291


Amor quando entolece quem deseja
Amar quem não queria mais um beijo.
Que tudo nesta vida sempre esteja
Envolto no carinho sem ter pejo...

De nada mais importa uma tristeza
Guardada no meu peito. Como cismo!
Amor quando envolvido na beleza
De tantos terremotos, cataclismo.

Não deixe que esse medo nos domine,
Nem faça nosso caso ter um fim.
Que amor de tanto amor nos aproxime
Salve o que de melhor existe em mim.

Sabendo da explosão de tanto amar,
Dê-me esse canto belo em teu olhar!


2292

Amor quando escondido
Decerto é bem melhor,
No bolo repartido,
Somando é bem maior.

Eu quero desfrutar
Da festa que se faz,
E assim me lambuzar
Querendo sempre mais.

Vem logo que esta festa
É boa e não termina,
A noite que me resta
Descobre que esta mina

Dourando em rica glória
Não sai mais da memória...


2293

Amor quando gostoso, ninguém cala,
E mesmo que inda tentem perturbar
A gente se desnuda em plena sala,
Depois ir pra galera, desfrutar.

Uma estrutura forte não se abala,
Enfrenta com doçura o sal do mar,
Jogando os invejosos numa vala
O tempo do teu lado. Devagar...

Curtindo cada toque sem pudores,
Balançam-se os coqueiros, nascem flores,
Em Minas, Paraguai ou em Paris.

Do jeito que vier e como for,
Viver sem dever nada, nosso amor,
Carimba e certifica: faz feliz!


2294

Amor quando impossível traz tristeza,
E faz de um sonhador um vago ser;
Nadar assim, ir contra a correnteza,
Depois de tudo sempre faz sofrer.

Um rei sem ter reinado nem princesa
Vai vendo o seu castelo fenecer.
Uma alma tão sozinha, sem defesa
Prefere tantas vezes ir, morrer...

Julgando-se vazia e desprezível,
Fazendo da amargura seu refrão.
Um sonho tão longínquo e impossível

Muitas vezes nos toma todo o chão.
Por isso, minha amiga, só te peço
Teu colo carinhoso; isso eu mereço!


2295

Amor quando invadindo não respeita
Nem sequer essas dores do passado,
Rasgando todo o manto se aproveita
E deixa essa tristeza assim de lado...

Amor que sempre vive sem juízo,
Passando todo o tempo sem saber
Procura nessa vida o paraíso
E sonha quase sempre em te querer...

Esse amor dominando toda a casa,
Não deixa nem espaço p’ra saudade,
É chama que destrói em mansa brasa,
E rouba, sem querer, a liberdade.

Amor que estou sentindo, uma paixão,
Que a bem desta verdade, é obsessão!


2296


Amor quando não brinca se engaiola
E forja noites brancas sem desejos.
Amor em desamor amor esmola
E pede caridade em doces beijos.

Um roto vagabundo coração
Vagueia pelas ruínas da cidade
Em busca da verdade e solução,
Que encontra-se na tal felicidade...

Não canto meu amor deveras triste
Mas sinto essas promessas de virada,
De tanto que esse amor, amor insiste,
Amor talvez convença a minha amada...

Que nada sem amor traz poesia,
Amor em desamor, é noite fria...


2297


Amor quando naufrago no teu mar,
Amarro minhas âncoras, ou tento...
Se quero tal firmeza em tanto amar,
Pressinto que preciso de outro invento...

A vida traz as cores mais sortidas
E brinca com meus sonhos sem saída.
As horas que passamos distraídas
Não valem se quiser viver a vida...

Espero que nos mares que naufrago,
O canto da sereia que entontece
Não cause mais sequer nenhum estrago,
Por isso tanto rogo e tanta prece.

Amor, quem te ensinou a navegar?
Foi, marinheiro, foi peixinhos.... MAR!!!!

2298

Amor quando nos pede providência,
Sabendo o coração tão maltratado,
Sofrendo da ilusão, um atentado,
Aumenta a sensação de fria ausência.

Viver esta terrível penitência,
Sem ter sequer, na vida, algum cuidado,
Ao pó, cada desejo retornado,
Cortando sem piedade, em inclemência.

Demência nos tomando em um segundo,
Nas trevas, num momento, eu me aprofundo
E bebo a solidão, dura quimera.

Talvez assim, jamais de novo errasse,
A cada novo passo, medo e impasse,
A morte a cada curva, o peito espera


2299

Amor quando reveste nossos sonhos
Aclara os pensamentos, luz entorna.
Distante dos momentos mais tristonhos,
Felicidade enfim, já nos retorna.

Os dias solitários são bisonhos,
Nem mesmo uma esperança nos adorna,
Ruídos das saudades tão medonhos,
Refletem aço sobre uma bigorna.

Canoros passarinhos imigrando
Em busca de calor e proteção,
Domínios num segundo desabando,

A chuva se transforma na monção.
Porém ao te sentir aproximando,
Vislumbro em paz imensa, o coração...

2300

Amor quando se chega, que alvoroço!
A vida se transforma totalmente
Quem tinha uma mortalha, de repente
Renova se tornando sempre um moço.

Esperança ressurge lá do poço
Onde já se escondia em nossa mente
E nos faz reviver tão plenamente
Que de tudo que fomos, nem esboço...

Amor quando tardio, nos confunde
E transporta o que somos e nos funde
Com o que pensamos, mocidade.

Agora, em desafio, no final
Da vida, nos mostrando que afinal
Ainda somos gente, de verdade!


2301

Amor quando se faz em liberdade,
Alçando uma ventura deslumbrante,
Cantando o nosso amor; felicidade,
Encontro enquanto sonho e nesse instante
A luz que transbordando já me invade
Permite que eu te diga, doce amante

O quanto é necessário e divinal,
Amor que a gente faz, nunca é pecado,
Se Deus deu este dom, descomunal
De ter uma alegria do teu lado,
Meu verso te enaltece, pois, afinal,
De ti sempre caminho enamorado.

Amor que nos tomou não deu aviso,
Imenso e prazeroso: o que eu preciso...


2302


Amor quando se faz
Em noite fabulosa
A sorte se antegoza
Num ato mais audaz
Pudesse ter a paz
E nisto a majestosa
Mulher maravilhosa
Que a vida não me traz.
Vestindo esta ilusão
Os dias não verão
Sequer a menor sombra
Do quanto poderia
E sei que em agonia
Apenas ora assombra.


2303

Amor quando se faz
Aquém do quanto eu quis
Traçando a cicatriz
Atroz e até mordaz,

Um passo contumaz
O mundo por um triz
Do quanto já desfiz
A sorte se desfaz,

Marcando com falácia
Aonde quis audácia
E nada se mostrara,

O mundo em tal tormento
No quanto desalento
Matando a noite clara.

2304


Amor quando se faz em paz intensa
Na mansa calmaria de um regato,
Nem sempre na verdade, recompensa
É sempre cansativo o mesmo prato.

Não tendo neste mundo quem convença
Em tanta profusão eu me retrato
No amor que dominando sempre pensa
Nas belas variantes sem recato.

Vagando noites plenas sem limites,
No quanto que me dás logo credites
Nas contas a pagar, débito ou crédito

Se temos assinado contrato, édito
Ao menos variamos trivial
No jogo sedutor e sensual.


2305

Amor quando se faz em redondilhas
Promete noutros passos, mais marcantes,
Delícias desfrutando novas ilhas,
Em sonhos que nos tragam, dois amantes.

Sabendo perceber as maravilhas
Que mostras em teus gestos triunfantes,
Amor não permitindo as armadilhas,
Mostrando primaveras deslumbrantes.

Vem logo, que este tempo nunca pára,
Não temos mais sequer um empecilho.
Depois de estar ao léu, um andarilho,

Agora se encontrou em face clara.
Do amor que nos luziu em forte brilho,
Por certo seguiremos rumo e trilho...

2306

Amor quando se foi, eu sofri tanto
Pensara terminado o meu caminho.
Roubando da esperança cada canto,
Deixando o coração frio e sozinho.

Depois de certo tempo, eu já me espanto,
Do vinagre surgiu um doce vinho.
Daquilo que eu julgara ser quebranto,
Um novo amanhecer no qual me aninho.

O sol da liberdade ressurgindo
Num céu maravilhoso, claro e lindo
Decerto toma a cena, neste instante

Do antigo pesadelo que passei,
O sonho se deslinda nesta grei
A cada amanhecer mais fascinante...


2307


Amor quando se mostra com meiguice
Trazendo placidez em cada olhar,
Além do pensei e outrora disse,
Conquista se faz mansa e devagar.

O resto, me perdoe, é só tolice,
Somente o tempo irá nos demonstrar,
Que toda a calmaria deste mar,
Permite que se viva sem pieguice.

Aliás; é preciso que se encante
A cada novo dia, noutro instante,
Mas sem as tempestades, temporais.

Eu quero ter contigo amor em paz,
Que sendo companheiro, satisfaz,
Assegurando ao barco, eterno cais...


2308

Amor quando te exponho meus defeitos
Que soem ser mais fortes que pensara
Não sabes quanto doem imperfeitos
Desejos que jamais imaginara...

Mantenho meus segredos escondidos
Nas peles que envolveram a minha alma,
Amores que viveram iludidos
Nem sempre essas tristezas algo acalma.

Não mostro tantas garras que possuo
Senão tu correrias mais ligeiro,
Nos palcos dos amores quando atuo
Dos prantos e das mágoas, companheiro...

Amada não me deixe nem me culpe
Senão perfaço as dores nesta troupe.


2309

Amor quando termina pr’onde vai?
Será que determina um outro amor?
Depressa vem comigo; a casa cai,
Se não cuidarmos dela, minha flor...

Eu sinto teu perfume, minha rosa;
Não deixo nosso amor chegar ao fim.
Por ele, vou andando todo prosa.
Orgulho deste amor; eu tenho sim!

Não quero que te roubem, minha amada;
Descuidos com certeza fazem mal.
Procuro em minha cama, madrugada,
As marcas deste amor fenomenal...

Vem cá minha querida; por favor;
Na dança deste imenso mar de amor!


2310

Amor quando transtorna, mesmo triste,
É fero sentimento que nos move.
A lua simplesmente sabe e existe
Por ter Amor que toca e assim comove.

Porém Amor, a tudo já resiste
E as pedra do caminho ele remove.
É Fado que nos toma, sonho em riste,
Não necessita nada que o comprove.

Suplantando os abismos, livre voa,
Refeito das vergastas, sobrevive,
Altivo e tantas vezes altaneiro,

É dele o bom tesouro e a coroa,
Embora tantas vezes dela prive,
Persiste quando forte e verdadeiro...


2311


Amor quando “se dá prá quem se deu”
É festa em corações apaixonados,
Numa harmonia intensa, nega o breu
E traz os nossos sonhos, bem colados...

Amor quando em amor bebe na fonte,
É forte e deslumbrante, nada o cega;
Abrindo dentre as nuvens, horizonte,
Amor assim um belo mar navega.

Mas quando amor se faz do desencanto
E não percebe a voz do coração,
No fundo se transforma amor em pranto,
E passa a ser a própria negação

Do sentimento nobre que nos toca,
Amor só noutro amor encontra a toca...


2312


Amor quase um funâmbulo se torna,
Sonâmbulos sentidos te procuram,
Noctâmbula vontade já se entorna
Preâmbulos às vezes nos torturam.

Segura as minhas mãos, e vamos nessa,
Atravessar em paz toda pinguela
Se a gente for mais firme não tropeça,
A segurança aos poucos se revela.

O que sinto por ti, sempre constrói,
Jamais vou destruir tamanha luz,
O amor quando demais eu sei que dói,
Mas saiba ao Paraíso, nos conduz.

Dê tréguas a teu pobre coração,
Eu te amo da cabeça até o chão.


2313


Amor que a gente faz, sempre gostoso,
Estampa em nossos corpos maravilhas.
De tudo o quanto eu tive, harmonioso
Caminho que me leva a belas trilhas.

Os vales percorridos, as montanhas,
Decoro com vontade a geografia
Enquanto tu provocas e me assanhas
O fogo novamente principia

E o incêndio não se acaba e nem se aplaca,
Devora o pensamento, num instante.
No cerne do desejo, fina faca
Que adentra o coração de um viandante.

Teu corpo provocante me convida,
À festa em que se gesta nova vida...


2314


Amor que a gente traz
Marcando cada verso
Aonde em me disperso
E sei da ausente paz,

Meu rumo contumaz
Além deste universo
E sei enquanto imerso
No todo que se faz

A sorte sem temores
E sinto em tais amores
O quanto se propõe

E sendo enquanto fores
Os sóis já multicores
Manhã rara se expõe.


2315

Amor que a gente faz: telepatia,
A cada novo verso mais gostoso,
Acaba com tristeza ou apatia
E deixa o dia então maravilhoso.

Tu sabes, meu amor quanto eu queria
Viver em plenitude, o doce gozo
De ter com tal carinho, uma alegria
Na cama em fogo, ardor voluptuoso.

Eternamente atado aos teus caminhos,
Meus passos sempre irão te acompanhar.
Beber de tua boca tantos vinhos

Nas andanças da vida, ser teu par,
Está predestinado a ser assim,
Num mundo de prazer, amor sem fim...


2316

Amor que a gente fez
em noite mais gostosa,
marcando a nossa tez
em luz maravilhosa,

perfumes de uma rosa
tomando a lucidez
em toda insensatez
mulher bela e fogosa

não sai de minha mente
guardada na memória,
amor que a gente sente,

decerto é nossa glória
no corpo enlanguescente
vivemos nossa história...


2316

Amor que a gente dita
Sem medo do futuro
Aonde eu me asseguro
E sei desta infinita
Vontade mais bonita
Do porto onde seguro
Meu canto em paz procuro
E a vida mais bendita.
Resumo cada verso
Enquanto além disperso
O sonho em tons sutis
Vislumbro algum segredo
No amor onde concedo
Bem mais do quanto eu fiz.


2317

Amor que apascentando a minha vida
Glorificando assim o dia a dia,
Encontra nos teus braços a saída,
Vitória contra a dor, contra agonia.

Não quero nem pensar em despedida,
Pois vejo em nosso amor tanta alegria,
Ajuda a suportar terrível lida;
A noite em nosso amor jamais esfria;

Pois sabe dirimir qualquer tormenta
Que venha nos ferir sem dar descanso,
Nas asas deste amor eu me esperanço

E a paz no coração, pra sempre assenta.
Amor em liberdade se faz forte,
Não teme nem a dor, sequer a morte...


2318

Amor que assim domina toda a gente
Não deixa ficar pedra sobre pedra,
O coração batendo mais contente
Enfrenta a tempestade e nunca medra.

Assim no canto breve e mais suave
A vida vai passando sem tremores.
Não tendo quem impeça ou quem entrave
Estende na varanda os seus fulgores

Entendo o teu sorriso qual convite
À festa interminável em alegria.
O sentimento intenso e sem limite
Permite não somente a fantasia.

Supera em plena paz altas montanhas
Amor que se demonstra em tais façanhas.


2319


Amor que assim nasceu, em tanta paz
Embala os meus desejos, treina uma alma,
Perdido em nossa noite sou capaz
No quanto que eu te quero, tudo acalma.

Cabeça se entregando ao capataz,
Amor não tem juízo e nem tem calma.
Bebendo com fartura, sigo audaz,
E vejo a vida mansa imune ao trauma.

Sem passo que permita nova queda,
O tempo não suprime e não mais veda,
Deixando à perfeição a tez do mito.

Beirando o teu caminho, traço os rastros,
Mergulho o meu olhar nestes teus astros
No quanto em nosso amor eu acredito...


2320


Amor que bem te vi, não vejo mais
Embora beije a flor do teu canteiro,
Se o vento se mostrou mais verdadeiro
O barco naufragou sem ter seu cais.

À noite desfilando mil casais,
Procuram dos suores, doce cheiro,
O lábio que se abrindo mais ligeiro,
Umedecido em lábias sensuais

Um coração caipira quer gotejo
Do gozo sertanejo da morena.
Embora vá correndo à voz pequena

Maior reputação? A do desejo
Que topa ser feliz sem precaução,
O resto? Sem fermento não tem pão...


2321


Amor que com amor se compartilha
Trazendo para os dois a primazia
De ter uma esperança a cada trilha
Seguido com firmeza em alegria.

Do quanto o nosso amor já percebia
Depois da sorte ingrata, uma andarilha,
Que talvez ressurgisse a poesia
Entregue sem pudores à matilha

Das dores e dos medos, da tristeza.
Amor que traz em si tanta beleza
Vencendo os seus algozes, os ciúmes,

Deslinda em nova aurora cores várias,
Distante das invejas temerárias
Encharca o coração em seus perfumes...



2322

Amor que conheci lá em Marselha,
Menina delicada e caprichosa,
Agora o tempo diz que a moça-velha
Suplanta no jardim, a dália e a rosa.

A pele, com certeza, o tempo engelha,
Porém a sorte sendo melindrosa
No corpo desta sílfide se espelha,
E sei que continuas fabulosa...

E quando vejo a foto que mandaste
Percebo que o sorriso de menina
Ingênua maravilha me domina;

Porém, comigo, a vida num contraste
Foi tão cruel; as marcas tomam tudo,
E mesmo enamorado; eu não me iludo...


2323

Amor que conheci noutras esferas
Voando por estradas doloridas,
Agora se renasce em primaveras
Trazendo tantas flores mais queridas...

Olhando teu amor, penso num lago
De plácidas delícias refrescantes,
Procuro por teu corpo, num afago,
E sonho nossa noites deslumbrantes...

Na dureza e pureza de um marfim,
Amor vem se adentro na minha alma.
É tudo o que restou de bom em mim,
As lágrimas não choro, lua acalma...

Amor que recomeça neste clima,
Em tanta claridade já se estima...


2324

Amor que descobrimos, nos domina
E faz-nos mais felizes, é soberano.
Não deixa restar dúvida ou engano,
É mapa do tesouro, fonte e mina.

A dor tão resistente, se extermina
E muda, num segundo qualquer plano.
Do amor que nos conquista, eu sempre ufano,
Abrindo da janela, uma cortina

Permite que o calor nos tome inteiros,
Mostrando como a vida é tão bonita.
Semeia uma esperança nos canteiros,

Granando uma emoção a cada dia.
Quem vive tanto amor sempre acredita
Que o mundo em salvação terá valia...


2325


Amor que descobrimos
Após a tempestade
Expondo noutros limos
O quanto nos invade
E sei que redimimos
Os passos na saudade
E nestes tantos mimos
A sorte nos agrade.
Pousando na esperança
Aonde a vista alcança
Marcando este horizonte
E nele se apresenta
A vida sem tormenta
E o todo em paz aponte.



2326

Amor que desde tempos mais antigos
Caminha com amor que sempre quis
Vivendo dos amores dois abrigos
Nas camas e nas tramas fui feliz...

Efêmeros segredos que disponho
Não ponho mais meu barco no teu mar.
Amar quem tanto amei durante o sonho,
Durante muito tempo quis amar...

Mas foste tempestade de verão,
Achavas meu amor de brincadeira
Verdades que vive com emoção
Os sonhos dessa vida assim inteira...

Não deixe mais o sol que tanto ardia
Morrer completamente em fantasia...


2327


Amor que dessa dor fez seu ocaso
Renasce no perdão do novo amor.
A vida não permite tanto acaso,
Se caso novamente amor e dor.

Nos portos do ciúme quando encalha,
Amor não deixa mais um só recado.
Amor quando transforma na batalha,
Aos poucos destruindo o ser amado.

Tem dó de quem amou e agora pede
Amor de quem jamais sofreu de amor.
Amada nada forte nos impede
Receba deste amor, o salvador.

Bem junto dos meus braços, vem morena,
Ao menos por sentir apenas pena...



2328

Amor que deu cupim, o quê que eu faço?
Não vou dedetizar senão eu danço.
Apego-me e depressa perco o traço
E a noite sem ninguém, sozinho avanço

A casa carcomida não resiste,
Assim como este amor morre calado,
Se eu fico, na verdade vivo triste
Se eu saio, solitário estou ferrado.

E agora o que fazer, me diz José?
Do amor encupinzado que encontrei
Se fosse inda formiga lava-pé

Garanto, era mais fácil resolver,
Melhor mandar querida, o pau comer,
Ao menos de um prazer eu falarei...



2329

Amor que deu enguiço, sem conserto
Não tendo jeito pereceu sozinho
Depois de tanto tempo num aperto
Morreu sem ter consolo nem carinho.

Se em meio a tais escombros inda vejo
Os restos deste amor, simples escória,
Eu aproveito aqui o raro ensejo
E tento reviver sua memória

Não vejo mais os riscos que corria
Nem mesmo as velhas faces de uma intriga,
Enquanto a noite passa assim vazia
A gente pelo menos não mais briga.

Se tudo o que tivemos foi mentira,
Não quero mais ouvir, vê se me tira!


2330



Amor que docemente tanto canto,
No verso que dedico; delicado...
Vestindo meu amor, seu branco manto.
Encontro tantos ventos do passado.

Às vezes essas dores incomodam,
Mas nada que me impeça de sonhar.
Os dias tantas vezes mudam, rodam;
Mas sempre esse desejo de te amar...

Não posso reagir com brusco gesto,
Nem ser com a minha alma, rigoroso.
Verdades; no meu canto, sempre empresto.
E disso; meu cantar, mais orgulhoso...

Amando irei fazendo a minha parte,
Usando a poesia que é minha arte...

2331


Amor que dói demais, barbaridade,
Me traz do arroio, mágoas, velho rio...
Que no fundo da noite, faz saudade,
Amor que se deságua num churrio.

Amor sina que nunca mais revolta,
Amor da suave brisa à viração.
Nas horas mais difíceis pede escolta,
Lateja disgramado mijacão...

Deu pra ti, não te quero nem dourada
Sei que foste buenaça, linda, trigo...
Mas perdeste teu rumo nesta estrada,

Na vida que pretendo, sei perigo...
Quero viver liberto, já me espalho...
Guaiaca que traz faca, pede talho...



2332


Amor que é belo e raro, delicado;
Supera qualquer crítica venal,
Ourives da esperança que ao teu lado
Envereda esta senda sensual.

Por ter depois de tanto, te encontrado,
Naufrágios tão distantes desta nau,
Viver cada momento, extasiado,
O nosso caso, amor, não é banal.

Há gente que se perde em descaminhos,
São párias da emoção, seguem sozinhos
Bebendo da amargura sem saber

Que a vida “só se dá pra quem se deu”
Conforme o bom Vinicius escreveu
Sabendo usufruir cada prazer...


2333




Amor que é desta vida, a redenção
Bordando em nossa cama uma alegria
Mortalha que se fez em servidão
Resgata num momento a fantasia

Queimando em alta chama, uma emoção
Ardendo em nossos olhos, tal magia
Ventila para nós a solução
Que aquece cada noite, mesmo a fria.

Porém ao ver chegar o teu marido,
Um grito que se solta invade o ar.
Convulsionando finjo-me maluco

Achando-me decerto já perdido.
Em tempo ouço esta voz a me salvar:
- Não tem o que temer: que ele é eunuco...


2334

Amor que é divinal e mavioso
Em versos, acalantos e magias.
Promessa de um futuro generoso
Repleto de paixão e de alegrias.

Um mar que outrora foi tempestuoso
Apascentadamente em calmarias
Já sabe da doçura deste gozo
Que temos, recorrente, em nossos dias.

Estrela que me guia, sonho e canto,
Jamais será cadente, com certeza.
É feita e se alimenta deste encanto

Bandeira desfraldada em nossa vida.
Deixando-nos levar em correnteza
Achamos, simplesmente uma saída...

2335

Amor que é feito em glória, por fiança
Transborda num momento e traz vitória
A quem a sorte imensa sempre alcança
Tocado pelas luzes da vanglória,
Amar é ter sublime, uma esperança
Que mude, num segundo, a nossa história.

Depois dos dias negros, esquecidos,
A vida se renasce em bela aurora,
Os dias que se foram, tão temidos,
Tomados pelas luzes vêm agora
Falar dos ventos mansos, recebidos,
Dos quais; felicidade se assenhora.

Não temo, pois eu amo, nem a morte,
O coração se mostra, amando, forte...

2336


Amor que é feito em mãos, lábios e bocas,
Rascunhos preparando a perfeição.
E quando em meus carinhos desembocas
Nas tocas e nas sendas, sedução.

Querências e desejos desfilados
Constelações de sonhos, luzes raras.
Enquanto com teus braços delicados
Regaços configuras e me amparas.

Nas têmporas o vento bate manso,
Percursos decorados com teus brilhos.
Na tenda feita em gozos eu descanso,
A lua se derrama em seus polvilhos.

E agentes de prazer, corpos sedentos,
Decerto mais astutos; sempre atentos...


2337

Amor que é manso guia em tempestades,
Avança e não permite sobressalto,
Voando, o pensamento vai ao alto
E mostra bem distantes veleidades,

Amor cruzando os campos e cidades,
Não deixa em seu caminho um só ressalto,
Tomando o nosso peito, vem de assalto
E doura com ternuras e verdades,

Fazendo estas estradas gloriosas,
Florindo cada passo que se dá,
Na busca de um eterno sentimento.

Amor ao espalhar divinas rosas,
Percebendo q ue a paz florescerá
Invade, apascentando um vil tormento...


2338


Amor que é meu delírio e meu engano
Escapa em minhas mãos, num só segundo,
Sangrando quase sempre mas me ufano
De ter amor maior que vi no mundo.

Sentindo em cada dia essa presença
Vertida em meus desejos, meu exemplo
De amor que tanto brilhe e me convença
Viver a vida inteira no seu templo.

Encanto que este amor, produz tão cedo,
Invade minha vida, doce encanto,
Fazendo de mim mesmo meu degredo,
Machuca e me promete um novo canto!

Mas sempre que eu a vejo, minha amada,
A noite se transforma em alvorada!


2339

Amor que é meu destino e nosso pleito
Tomando em suas mãos rosa dos ventos,
Legando ao desespero o rumo estreito
Tocado pela insânia em vis tormentos.

No quanto este machado encontra o sândalo
Deixando quem maltrata agora pálido
O amor em nossa vida, num escândalo
Decora com desejos sonho cálido.

Não quero este destino amargo e trágico
De quem em desvario vai atônico
O riso da esperança se fez mágico
Moldando alvorecer bem mais harmônico

Sinfônica explosão em versos métricos
Matando os dias rudes, negros, tétricos...


2340


Amor que é nossa luta e nosso tema,
Nos glorifica em luz e nos redime,
Por isso minha amada nunca tema
Além de toda dor, amor estime.

Façamos deste amor qual piracema
Lutando contra o rio, guerra e crime,
Vibrando mais felizes, nosso lema,
Fortalecendo sempre nosso time.

Venceremos as cismas e batalhas,
E tantas maldições quanto vier.
Os cortes tão profundos as navalhas

Não têm sequer poder de nos conter
Um homem, um amor, uma mulher,
E a vida companheira pra viver...


2341

Amor que é sempre mola propulsora
Daquele que quiser viver contente,
Uma força motriz e geradora
De um ente toda essência, simplesmente.

É mais que sentimento, é vida em si,
Amor não se permite despotismo
De toda esta certeza que aprendi
Somente amor destrói tanto egoísmo.

Semente que germina em bela flor,
Perfume que enobrece quem recebe
Mas muito mais o próprio doador,
Embeleza também quem o concebe.

Por isso neste canto enamorado
A força deste amor por nós cantado...


2342


Amor que é tão amigo e companheiro,
Não deixa que as tormentas incomodem.
Num sentimento assim tão verdadeiro,
As antigas poeiras se sacodem.

Não cabem preconceitos... Vou inteiro,
Bem mais que minhas forças sei que podem.
Se no teu coração sou um posseiro,
Não vejo outros perigos que te açodem.

Amantes decididos e sem medo,
Seguimos sem temer as tempestades.
Nas brenhas, nesta mata eu me enveredo

Invado teu juízo, e te atormento,
Na força deste amor, felicidades
Não deixam de viver um só momento!


2343

Amor que em alvoroço tanto engana
E faz da serventia escravidão.
Acende enquanto apaga a mesma chama
Nas loucas ilusões de uma paixão.

Quem tem amor na vida sabe e clama
Ao mesmo tempo é presa da emoção
Que quando em desaviso vem e chama,
Provoca a seca numa inundação.

Vencer as ousadias de Cupido,
É coisa que não ouso nem pretendo,
No amor que nos guiando, leva ao caos,

Deixando o coração empedernido
Enquanto seus segredos não desvendo
Aumento dos meus óculos os graus...


2344


Amor que me apavora
E gera após o tanto
Apenas desencanto
E segue mundo afora,
A sorte revigora
E traz o que garanto
Somente em leve canto
Sem medo, desancora.
Repara cada estrela
Pudesse enfim contê-la
E ter felicidade,
Mas quando a sorte expressa
A vida sem ter pressa
O tempo se degrade.


2345


Amor que em belas ninfas se expandia
Buscando na nudez inspiração
Alçando maravilhas no tesão
Que aos poucos devorando em fantasia

Arcanjos e boêmios na alquimia
Dos corpos que causavam sensação
Num toque mais sutil a sedução
Orgásticos momentos de magia.

Entre gemidos, loucos rituais,
Ardências de desejos, fogo intenso,
As línguas percorrendo magistrais

Sabendo devorar estâncias, ruas.
E o mundo num momento, fica imenso,
Entregue aos mil delírios delas duas...


2346


Amor que em flatulência recebeste
Quem tanto desejou ter teu carinho.
Se desta forma, assim tu devolveste
Refaço num instante o meu caminho.

Parece que tu queres fazer teste
Se for assim, prefiro andar sozinho...
Em trágico perfume me envolveste
Matando meu amor, devagarinho...

Eu sei quanto preciso ser feliz
Eu sei e não me canso de dizer
Porém isso, querida, eu não agüento.

Embora um bom futuro se prediz
Imerso em alegria e bom prazer.
Eu não suporto amor tão flatulento...


2347




Amor que em fundas chagas tu fizestes,
Cravando tuas garras no meu peito,
Quem dera se este amor fosse desfeito
Porém sem soluções enfrento as pestes

Nas dores, os caminhos que me destes,
Decerto maltratando deste jeito
Entranham toda noite no meu leito
Da forma que, eu bem sei, tanto quisestes.

Quem sabe ao perceber que me lesastes
Meus cantos mudarão- novo estribilho,
Rasgando as ilusões, negando o brilho,

Rompendo com as duras, finas hastes,
E, legado ao total esquecimento,
O amor não resistiu ao forte vento...


2348

Amor que em ilusões sempre se esconde,
Vivemos na saudade do que fomos.
Procuro por teus olhos; mas aonde?
Não vejo nem a sombra do que somos...

Eu sei que te perdi, triste me iludo;
Eu sei que não virás, mas eu te espero.
Um coração sofrido fica mudo
Aos poucos, entretanto, desespero.

E vejo que não tenho quase nada,
Somente as sobras tolas do que fui.
Eu sigo assim teus rastros pela estrada
Minha alma sem carinho, cedo rui.

Não fosse essa esperança, minha amiga,
Não restaria em pé nenhuma viga...

2349


Amor que em mar imenso já navegue
Apega-se ao gozo feito em cais,
Na adega do meu sonho ele prossegue
Inebriando sempre e muito mais.

No encanto deste canto, cada adorno
É feito com ternura e com carinho,
Ao tempo que sofri não mais retorno
Entornas tanta luz em meu caminho.

Amiga, amante, amada companheira
A Musa predileta, a minha Diva,
Contigo eu marcharei a vida inteira,
Minha alma de tua alma anda cativa.

Vivamos nosso amor profundamente,
Sem medo do que venha de repente.



2350

Amor que em meu caminho, muda o Fado
Tramando em alegria um novo enredo,
Meu canto se mostrando extasiado,
Percebe a solução deste segredo

Há tanto tempo e sempre demonstrado
Distante de temor, receio ou medo.
O vento balançando um arvoredo
Permite que se aviste um belo prado

Depois de tanto tempo em solidão,
Meu passo vai seguindo na amplidão
Dos rastros que deixaste no caminho

Sabendo que não vou jamais sozinho
Minha alma na tua alma mergulhada,
Impede a solidão, fria cilada...


2351



Amor que em noite clara se recorde

De cada sensação inesquecível,

A lua emoldurando um novo acorde

Mostrando todo sonho ser possível.



Os olhos em volúpia te cercavam,

Estrela radiante em raro brilho.

Meus dias de teus olhos se acercavam

Seguindo com firmeza cada trilho.



Não tendo mais palavras pra dizer

O quanto eu te desejo, minha amada,

Vestindo uma esperança de prazer

Vagando qual cometa em madrugada,



Quem dera se eu pudesse, recordista

De beijos nesta boca, bela artista!


2352


Amor que em noite clara
Pudesse ser diverso
Do quanto do universo
Aos poucos se escancara
A vida se prepara
E sei quando disperso
O canto em cada verso
E tomo esta seara,
Vagando sem destino
O rumo determino
Apenas por saber
Que a cada novo passo
O todo onde desfaço
Já não me traz prazer.


2353

Amor que em plenilúnio ganha o céu
Vestido de cometas e de estrelas,
A sensação de em mãos, poder retê-las,
Aos poucos invadindo um bel dossel

Cortinas se entreabrindo descem véu
E como se pudesse percebê-las,
Amor se permitindo recebê-las
Desfila um sentimento em doce mel.

A lua escancarada na varanda,
Demonstra em claridade, amor perfeito,
Divina se entregando ao raro encanto,

Sorrindo ao deus Amor, tudo comanda,
E ao ver assim o mundo satisfeito,
Um deus supremo abriu seu alvo manto...


2354


Amor que em plenitude nos aclara
Negando escuridão, já tira o sono,
Angústia se legando ao abandono,
Tomando toda a vida, nos ampara.

O quanto que me entrego se declara
Mudando a direção do peito mono;
Trazendo a sensação de altar e trono,
Nesta emoção divina, pois tão rara.

Agônico passado que se esvai
Recebe o vento forte da esperança,
E nele em viva marca, a temperança

A sorte finalmente não me trai
E deixa que eu vislumbre um novo dia
No brilho ora sobejo da alegria...


2355

Amor que em sendas nobres, já percorre
Caminhos mais sutis, porém floridos.
Em todos os momentos mais sofridos,
A mão de um vero amor vem e socorre.

Quem ama sem medidas, nunca morre,
Expondo sem temor os seus sentidos,
Ao longe são seus brados percebidos,
Seu nome, mais distante, em glórias corre.

Não temais os percalços desta sanha,
Vós sois numa planície qual montanha
Que ao proteger dos ventos e tempestas

Permite que se grane uma esperança.
Repare o coração de uma criança
Que mesmo nas angústias, sonha festas...


2356


Amor que em sofrimento fez-se pedra,
Espinho lacerante do caminho,
Em dor tão gigantesca que já medra
Naquele que julgara ser sozinho...

Na aridez desértica dos sonhos,
Inútil tentativa: ser feliz.
Os dias se passaram mais medonhos
Escarnecido peito em cicatriz...

Ao ver-te, enfim, comigo bem amada,
Percebo que valeu toda esta luta.
Surgiste salvadora deste nada;
É voz alentadora que se escuta...

As marcas te enaltecem, cantam bardos:
Plantas dos pés feridas pelos cardos.



2357

Amor que em sofrimentos se perdeu
Deixando tão somente um fruto apenas,
Cansado de viver terríveis cenas
O mundo que hoje trago, não é teu.

A noite das discórdias concebeu
A gema mais perfeita; assim acenas
Ao mesmo tempo mordes e envenenas
Na morte deste amor, amor nasceu.

No choro da criança, eu percebi
Talvez a solução esteja ali,
Na frágil criatura que me deste.

A lágrima escorrendo em minha face,
Quem sabe em fantasias hoje trace
Ungüento que se lança sobre a peste...


2358


Amor que em tanta luta estende o braço em prece
Trazendo em esperança um breve pensamento
Amor nos atormenta e salva em um momento.
Um coração se mostra enquanto lhe obedece.

Se amor ao nos tocar, aviso já nos desse
Talvez assim já fosse a vida um só tormento
Amor não se prediz, é livre como o vento,
Seu passo pela vida, a própria sorte tece.

A quem amor se mostra? A quem está sujeito
A toda esta benesse: um sonho mais perfeito.
Não deixe que este amor que agora enfim te toca

Se vá insaciado, isto seria trágico.
Pois somente ele nos mostra um mundo novo e mágico
Aonde a claridade apraz e se retoca...


2359


Amor que em tempestade me tomou
Mexendo com desejo e coração
Um sonho tão divino desbotou
Deixando tão somente a solidão.

Saudade neste instante já brotou
Matando em nascedouro a floração.
A seca no canteiro, o que restou,
Retratos tão tristonhos da paixão...

De todo o sentimento, o senhorio,
Amor já não permite mais um sonho,
Enquanto em fantasias eu recrio

Um mundo com certeza mais risonho,
Negando todo encanto que eu proponho
Sobrando tão somente este vazio...


2360




Amor que enaltecendo, sigo em frente,
Sem temer sequer dores nem espinhos.
Amar demais passou a ser urgente,
Vivendo em nosso amor, tantos carinhos...

Eu tenho esta certeza que não morre,
De ter uma verdade dentro em mim,
Nas horas mais doridas, me socorre.
Transcorre com beleza e tudo enfim...

Aos poucos entendendo mais a sorte
De ter por tal amor tanta esperança.
Que faz com distante queira a morte,
Que vive e sobrevive na lembrança.

Certeza de este amor que sempre estime,
Amor que me invadindo é tão sublime...


2361

Amor que enquanto cura nos maltrata,
Ferrenhas as batalhas que travamos,
Na feliz servidão, escravos e amos
A dor que assim lateja e sana, grata.

Voando libertária, uma fragata,
Encontra no arvoredo firmes ramos
Enquanto em fantasias nos amamos,
Incêndio redentor preserva e mata.

Verdugo deste espectro – solidão,
O Amor sabe vencer nossos temores,
Reféns deste prazer que nos redime,

Jamais se permitindo a arribação
Vivemos sob a égide de amores
A sensação feroz, porém sublime.


2362




Amor que entre tormenta e calmaria
Não deixa que sossegue o coração,
Enquanto a gente briga noite e dia,
A paz se faz em cima do colchão...

Às vezes dá tristeza ou alegria,
No quanto é delicado este vulcão
O sonho novamente se recria,
Causando um arrepio, sedução.

E nesta confusão, pernas e lábios,
Os passos são mais firmes, ganham viço,
Porem logo depois, tão movediços

Sabemos que os amores sendo sábios
Conhecem de nós dois todo segredo,
E tramam, mais diverso cada enredo...


2363


Amor que esta saudade proibia
Depois da tempestade sem bonança,
Vertendo em ilusão o que seria
Um último suspiro da esperança.

Vasculho em cada canto a pedraria
Que não lapidaria esta aliança
O quase que não tive nem teria
Depois de certo tempo inda me alcança.

Verdugo de meus sonhos, coração
Vazio e vagabundo vai ao léu.
Rasteja simplesmente, bebe o mel

Do quando inda se quis ser emoção.
Mas vendo a mesa inteira sendo posta,
Minha alma sem amor seguindo exposta...

2364


Amor que eternamente se promete
É qual um soberano em desatino.
Ao sonho mavioso me remete
E volto novamente a ser menino

Depois de tantos anos à deriva
Um coração matreiro, se renova.
Colhendo uma esperança sempre-viva
Aos poucos, todo dia, já comprova

Que tudo nesta vida é pontual,
Somente em nosso amor, perenidade.
Pois feito com desejos e amizade

Revolve sem ciúmes, todo o astral,
Amor que é sempre belo e magistral
Trazendo para nós eternidade...


2365


Amor que eternidade nos brindou
Moldado pelas mãos de um grande Deus.
De algozes sensações, o que restou
Imanta nossos sonhos, teus e meus.

Uníssona vontade: ser feliz.
E disso faço o mote e a canção.
Um bem que há tanto tempo já se diz
Procura pelo ninho-coração.

É bom saber que estás aqui, querida.
Trazendo para a noite a garantia
Raiando em plenitude, faz a vida
Bem mais rica em calor qual eu queria.

Nesta união perfeita, meu amor,
Um mundo em liberdade a se propor...


2366


Amor que exagerado, sempre entorna,
Ultrapassando pesos e medidas
Diapasão que impõe-se e sempre torna
Harmônicas; diversas, duas vidas.

A flor que nos perfuma enquanto adorna
Unindo caminheiras que perdidas
São solitárias frias, quase mornas,
Porém ao sol do amor, sempre aquecidas...

Ao fim de cada toque um reboliço
No qual em luzes tantas eu me viço,
Da areia movediça, a solidez.

Um fato com certeza assim concreto,
Assina da alegria este decreto
Aonde a fantasia já se fez...


2367

Amor que faz contente quem o sabe,
Aurora imaculada em raios claros,
Vontade de te ter, demais, não cabe,
Em sentimentos loucos, vivos, raros.

Os dias se passando mais amaros,
Fazendo que meu sonho assim desabe,
Na fêmea quando em cio, apuro os faros
E peço que este caso nunca acabe.

Ardentes emoções, em fogo intenso,
São partes deste jogo em sedução.
Tu sabes que eu estou sempre propenso

A ter teu corpo- ardentes devaneios,
Aplaca num momento em explosão,
A dúvida que trazes, teus receios...


2368


Amor que foi forjado demoníaco,
Nas vésperas da morte sangra o peito...
Nessas constelações, cabal zodíaco,
Desampara venal e contrafeito...

Andando pelas noites é maníaco
Em busca deste pleno céu, direito.
Amor quer periférico; cardíaco
É, qual navegador insatisfeito...

Procura pelas noites, minha estância;
Não pode mergulhar na antiga infância.
Conhecedor feroz de tanta discrepância;

Não dorme e nem conforma, vigilância.
No fundo de teus olhos, reviva ânsia,
Traduz tanto desejo e repugnância...


2369


Amor que fora nostálgico
Dói no meu peito cansado
Resto aqui, me quedo antálgico.
Coração desesperado

Batendo sobrevive álgico
Não lhe restará nem fado,
Latejando vai nevrálgico
Vai, por tuas mãos, cortado!

Coração quem dera fosse
Mais forte rígida rocha.
Mas, sensível, bate doce...

Coração nunca mais ame!
Não acenda mais tal tocha,
Nem deixarei que reclame!


2370


Amor que idolatrei por tanto tempo
Vendido nas esquinas encontrei,
Achara tão somente um passatempo
Aonde insanidade eu mergulhei.

De tantos contratempos que passara
Minhas passadas foram mais esparsas
Espessa nuvem cedo desfilara
Montando em meus caminhos sempre farsas.

Em velhas procissões o mesmo círio,
O corte tão profundo da navalha,
Empíricos desejos, um martírio
Que emana sofrimento a cada falha.

No cárcere, correntes e grilhões,
Nos bares, cabarés, loucas paixões...


2371

Amor que imaginei e tanto quis,
Durante tanto tempo, uma ilusão
A mais a fustigar meu coração
Marcado por imensa cicatriz.

Deixando meu passado que, infeliz,
Acorrentava a sorte em triste não
Açoites tão vorazes da paixão
Mudaram de meu céu todo matiz.

Agora que te encontro, amada amiga,
A vida renasceu em verso e prosa,
Colhendo o teu perfume, rara rosa,

Decido que este sonho assim prossiga
Até chegar ao rumo que eu pedia,
A Deus com emoção, tanta alegria!


2372


Amor que intenso sinto no meu peito
Produto deste sonho em alegria.
Agora vou contigo e satisfeito
Prevejo amanhecer um belo dia.

Sonhando com teus braços no meu leito
Encontro toda a glória que eu queria.
Um sentimento imenso e tão perfeito
Merece cada verso em poesia.

Somemos nossos passos d’ora em diante
E vamos desvendar nova manhã,
Fazendo do prazer o nosso afã,

Certeza de um futuro deslumbrante,
Alçando um canto livre, vou ao vento
Tocando tua pele em pensamento...



2373

Amor que invade tudo, firme e forte;
Qual fosse tempestade, vendaval,
Mudando a minha sina, rumo e norte,
Se torna cada vez mais colossal.

Amor tão soberano em nobre porte,
Raiando a claridade em festival,
Impede que a tristeza em fino corte,
Afete meu destino, traga o mal.

Eu sou feliz querida, nunca nego,
Por ter tua presença aqui comigo.
Andara tão sozinho em trilho cego,

Sem ter sequer um brilho da esperança
Nas asas deste amor, onde eu me abrigo,
Sentindo que a ventura já me alcança!

2374


Amor que irradiando juventude
Transborda com delícias e carinho.
Do sol que tudo invade em atitude
O mundo que passei, demais sozinho...

O tempo que vivera, tão escuro,
Agora reconheço, meu amor,
Um coração que bate mais maduro
É todo o meu princípio de sabor.

Já sabe e reconhece uma beleza
Não deixa se enganar tão facilmente
Conhece tanto a luz quanto tristeza,
Vida, sabe viver mais plenamente...

Amor que assim desejo em nosso ninho,
Sabor que tanto quero, como o vinho...


2375

Amor que já se basta por ser pleno
Não cabe nem nos versos nem nos sonhos,
Feroz embora trague vento ameno,
Audaz em gozos mansos e medonhos.

Amor não obedece nem quer aceno,
Apenas por si mesmo ele resiste.
Matando uma serpente em seu veneno
Amor uma alegria quase triste.

Gerando eternidade num segundo,
Profano se faz deus em carrossel,
Domina mesmo ausente todo o mundo,

Amor: insanidade que é sagaz,
Trazendo para a Terra inferno e Céu
Mortalha que liberta e mata a paz...


2376

Amor que já suplanta cordilheiras
Não posso mais conter aqui no peito.
Tocando o teu olhar, amor não queiras
Que eu viva, de outra forma, satisfeito.
As flechas dos teus olhos, tão certeiras,
Convidam para a festa, para o leito...

Embora não desejes meu desejo,
Embora não percebas totalmente
O quanto que em teu corpo, amor almejo,
Viver uma aventura persistente.
Vem logo, me beber em cada beijo,
Amar-te é necessário e tão urgente.

Quem sabe se vier pedirás bis,
Não custa quase nada ser feliz!


2377


Amor que mais desejo; intensamente.
Da forma mais perene e transbordante.
Eu quero o teu amor, de corpo e mente,
E ser, além da vida, teu amante...

Eu quero ter teu cheiro que me entranha
E ter o gosto teu sempre na boca.
Viver de tal amor que me acompanha
Vicia minha vida, e me treslouca.

Eu amo teu amor em meu amor,
Pois eles se completam e se fundem,
De tanto entreguei ao teu dispor,
As nossa almas tontas, se confundem..

Eu amo teu amor sem ter medida,
Não sei mais qual é tua ou minha, a vida...


2378


Amor que maltratando; me tortura,
Trazendo a solidão como estandarte.
Busquei a vida inteira por ternura,
Distante do saber desta fina arte.

Na luta por paixão e por candura,
Pensei que amor se encontra em toda parte.
Realidade mostra-se tão dura,
A vida não cedeu sequer aparte...

Se toda gente assim, de amor soubesse,
E como é doloroso um bem querer,
Que o coração teimoso já padece

Distante de quem sonha conviver...
Sabendo quanto custa o querer bem,
Não queria, jamais gostar de alguém...


2379

Amor que mansamente em vento calmo
Chegou e te tomou quase em surpresa.
Tomando o território palmo a palmo,
Fazendo um caçador virar a presa.

Ao levantar a saia da morena,
Mostrando belas coxas tão roliças
Num átimo depressa vem e acena
Acende meus desejos e cobiças.

Não peça mais clemência, venha logo,
Que quero estar contigo sem demora.
Nos braços mais gostosos eu me afogo
Querendo-te comigo. Vem agora

Que estrada que seguimos num segundo
Nos leva ao paraíso neste mundo...


2380

Amor que me acalenta em verso e canto
Promessa de carinhos infinitos,
Seguindo a poesia com seus ritos
É feito de emoção e assim, portanto,

Amor que não concebe um entretanto
Avança pela noite em tons bonitos,
Pois jamais conheceu sequer atritos,
É feito em alegria e mostra o quanto

Será eternamente benfazejo,
Trazendo uma bonança como almejo.
Amor em peito aberto, sem temores,

Plantando uma esperança dentro em mim,
Refaz tanta alegria no jardim
De mansas, perfumadas raras flores...


2381


Amor que me acalenta
E traz esta alegria
Aonde eu poderia
Vencer qualquer tormenta

A vida mais sangrenta
A sorte em agonia
O mundo, esta heresia
E nisto o passo tenta

Trazendo a luz enquanto
O quanto em paz garanto,
Mas nada se adivinha,

Esboço de um passado
Aonde em vão me evado
Fortuna jamais minha.


2382

Amor que me acompanha a vida inteira
Desde que a juventude começava...
Tivesse o teu carinho, companheira,
Nas asas que me deste, enfim voava...

Mas amor se egoísta nega o vôo,
As asas se podando, não libertam.
Amor que por amar assim, perdôo,
Embora tantos sonhos já desertam...

Te quero minha amada, não o nego,
E cada vez mais perto e mais distante.
Se liberdade é tudo o que carrego,
Por mais que tu me queiras, é bastante?

Não temas pelas asas, ó querida,
Eu tenho nosso amor, por toda a vida...


2383

Amor que me acostuma assim tão mal
Que nada mais consigo nem pensar,
Vivendo tanto amor, sou, afinal,
Estrela que brilhou em meio ao mar...

Não posso mais seguir sem teu abraço,
Que fazer dessa vida que não quero,
Prefiro mergulhar no teu cansaço,
Amar amor que sempre foi sincero...

Mas nada do que digo representa
A gota que querias deste orvalho.
A gente sem querer, por vezes tenta
Mas sabe que comete um ato falho,

E deixa nosso amor em sofrimento,
Que faço, meu amor, do sentimento


2384

Amor que me alucina em mil desejos
Anseios entre seios, coxas, pernas.
As noites em volúpia, densas, ternas.
Prazeres e loucuras são sobejos.

Divertimento pleno, raro jogo
As línguas sem limites, ou fronteiras,
Segredos desvendados, corredeiras
Alagam cada gruta, em água e fogo.

Torturas em carícias mais audazes,
Os dedos explorando cada espaço
Até que chegue enfim, nosso cansaço.

Colhendo cada orgasmo, satisfazes
Delírios deste insano sonhador,
Misturas de prazer, delícia e dor...


2385

Amor que me arrebata e me corrói.
Jaz seta em velho peito sofredor,
Que vai de tanto embalde, sem amor,
E sempre que soluça, me destrói.

Amor embarco tolo em seus navios
Sem rumos em temíveis maremotos.
Distante dos juízos mais remotos,
Desata a lucidez, não deixa fios.

Amor envelhecido sem sucesso
Em formas de tormentas faz carinho.
Sem ter amor talvez morrer sozinho

Pareça o meu destino, meu progresso.
Apenas um herdeiro da amargura
sem nada que me impeça uma loucura!


2386

Amor que me consola e faz viver
É minha própria vida. Uma esperança...
Sustenta e me embriaga de prazer;
É brilho que por sorte sempre alcança...

Atravessa as borrascas, chuvas, guerras...
Vibrante claridade que ilumina.
Passando por montanhas, vales, serras,
Toda uma cordilheira ele domina.

Qual anjo que sustenta tanto sonho,
Nas minhas ilusões a mais querida.
De todos os caminhos, mais risonho;
Embora nos maltrate toda a vida...

Amor é derradeiro sentimento,
Libertando nossa alma, solta ao vento!


2387


Amor que me dedicas, tão tirano,
Machuca e sem desculpas vai embora,
Por quanto tempo agüento o desengano
Eu sei que a fantasia não demora.

A gente procurando nova escora
Caindo e desabando não me ufano
O gesto cometido desarvora,
Amor sem ter descanso é desumano.

Mereço, por acaso tal ocaso?
Se for assim eu me descaso
Nem faço qualquer caso do teu dote.

A cobra desdenhando quem vitima
Destrói em um segundo e inda se prima
Por rara precisão em cada bote...


2388

Amor que me deixou tantos cilícios,
Dos ócios meus pecados revestidos.
Mergulho por ferozes precipícios,
Abismos mais profundos, desvalidos.

Da morte que procuro, nem indícios...
Clareiras e cascatas dos sentidos
Denotam meus horrores e meus vícios...
Os prazeres, as dores, nos gemidos...

Carinhos congelados, meu velário...
Exponho minha entranha e meus desejos...
Da vida, meu farnel, meu relicário,

Carrego teus relevos u’a fornalha...
Troféus que levarei, teus falsos beijos,
Teu gozo me servindo de mortalha!


2389

Amor que me deu glória na verdade,
Espelha tanta luz, na calma brisa...
No peito me revela esta saudade,
As dores da existência ele exorcisa.

O templo da paixão, a claridade,
Nas mãos desta divina poetisa.
É lua que me cobre de vaidade,
É noite que, de bela, me hipnotiza...

Embalde procurei outra beleza,
A vida não me deixa outro sentido.
Na marca triunfal desta nobreza,

A mão que me acarinha forte e lisa;
Quem dera nunca mais haver perdido,
A lança da nobreza de Adalgisa

2390


Amor que me devora, canibal;
Desfaz as tais auroras que não tive...
A lua enamorada deste astral,
Viaja pelos mundos onde vive

A bela criatura angelical,
Com quem o meu amor nunca convive...
Das portas não transponho seu metal.
As rosas nunca brotam no declive...

Amor que me devora, pestilento,
Não cura nem permite usar ungüento.
Destrói quem nunca teve sobrevida...

Amor mordaz me corta, vil ferida...
Amor que sempre vem nunca se espraia...
A vida vai morrendo em sua praia!


2391


Amor que me domina, e que me leva.
Permite que eu consiga viajar,
Luares, por estrelas, me releva
Aos planos divinais; imenso mar...

Amor que me dá asas, sobrevôo;
Criando as fantasias que eu habito.
Diversos sentimentos eu ecôo
Fazendo dos sonhos o infinito...

Amor que é milagreiro e que nos cura,
Das tais vicissitudes desta vida.
Abranda mansamente alma mais dura,
Encontra a juventude já perdida...

Amar é descobrir, mesmo invisível,
Aquilo que pensamos impossível...


2392





Amor que me emoldura em cena rara,
Nas telas soberanas molda a vida.
Decerto esta ilusão já nos ampara
E mostra a nossa sorte distraída.

Refém desta emoção, jamais amara,
No doce de teus lábios escondida
A luz que eu tanto tempo imaginara
Na sensação de paz tão bem sentida.

Tu és, nunca neguei meu manso porto,
Um lago em placidez inesgotável.
Amor em nosso caso, inseparável,

Distante de outro canto, quase torto,
A face mais serena deste amor,
É feita em lume intenso e sedutor...


2393

Amor que me entorpece; me envenena;
De forma tão sutil me toma inteiro,
Ao longe, tão distante sempre acena,
Vivendo no meu mundo, verdadeiro.

Amor que me incendeia, e logo queima.
Forrando meus caminhos com teus passos.
Amor que se pretende, tanto teima,
Morrendo docemente nos meus braços.

Eu quero teu amor, tenha a certeza,
Da forma que vier, todos os dias.
Sabendo que te amar é correnteza
Que trama tantas fontes de alegrias...

Amor que glorifica e me maltrata,
É sede que alimenta e que me mata...


2394


Amor que me entranhou e me sorveu
Deixou que um triste canto se encantasse
De tanto deste pouco que sou eu
Amando tanto amor sem meu disfarce.

Nos passos nos compassos danças sanhas...
Assanhas teus cabelos nesses ventos.
Acenas tantas cenas plenas manhas
Que tento meu intento em pensamentos

Ausente do que sente quem te adora
Nas quentes envolventes tardes tontas
Amar é me deixar sabor duma hora
Nas vezes que viemos não aprontas

Pois sabe que não vejo outra saída,
Viver o nosso amor pleno de vida...


2395

Amor que me entregaste foi mentira
Do mesmo jeito trouxe vê se tira...

Quando te encontrei julguei sereia.
Agora que conheço me despeço
Não quero carregar na minha veia
Tal amor que, por certo, não mereço.

Não quero me enredar na tua teia
Nem quero despencar pois sei tropeço
O fogo que te queima me incendeia
O monte de tal Vênus desconheço.

Nas linhas que concebo verticais
A mão que me pediste foi-se embora.
Os cantos que me contas são banais

O medo do destino me tortura.
Teu quadro, na parede, não decora.
É muito mais bonita essa moldura...


2396

Amor que me entregaste
Em noite caprichosa
A sorte o tempo glosa
E gera este contraste
Negando qualquer haste
Ainda quando goza
Da vida pedregosa
E nisto o meu desgaste,
O corte se aproxima
E molda um torpe clima
Gerando o nada em nós,
O sonho se perdendo
O mundo este remendo
Agora é mais feroz.


2397

Amor que me envolvera totalmente
Não dando sequer chance de defesa,
Pintando mil segredos, de repente,
Invade novo rio em correnteza.
Se fora bem mais calmo, docemente,
Talvez me permitisse a sobremesa.

Senhora de meus sonhos, rigorosa,
Bem sabe dos meus erros do passado.
A mão que cultivou a bela rosa,
Às vezes se esqueceu que existe arado
Maltratando esta flor maravilhosa,
Carinho prometido e nunca dado...

Mas peço, encarecido, o teu perdão,
Quem sabe nosso amor tem solução?


2398

Amor que me feriu solenemente
Trazendo nos seus olhos minha luz
Vivendo o sentimento totalmente,
A mansa palidez já me produz...

Querendo teu amor como se fosse
O cais que desejava meu saveiro.
Amor que tanto amaro quanto doce,
É força que me toma por inteiro.

Vencido pelas lanças deste amor,
Não posso mais negar tudo o que sinto.
Entrego-me, corpo e alma ao vencedor,
Salvando um coração que achara extinto.

Sem medo de viver tudo o que quis,
Sem medo de te amar e ser feliz!


2399

Amor que me impediu temer a morte
De sorte que não posso mais temer
Nem urzes e nem cruzes, forma forte
O canto que te possa remeter...

E mostro neste canto tal potência
Que mesmo nas desgraças me contém.
Amor vai me ensinando a ter clemência
Com quem passa essa vida sem ninguém.

Coroa um sentimento sem saudade,
Sem dores e sem males, sem tormentas,
Amor que me ensinou a liberdade
Nas asas em que voa, me fomentas...

Minha alma na tua alma, amor nos una,
Formando um forte laço, uma fortuna...

2400


Amor que me inebria loucamente
Fazendo-me perder rumo e saída,
Devora minha história vorazmente
Sangrando, hemorragia que é bem vinda.

Amor é qual farsante que não mente,
Oculta e dissimula. Distraída
Sorte se transtornando totalmente
Encharca num dilúvio a nossa vida...

Um deus que quando fala, silenciam...
Nos vitimando, trama a salvação,
Os dotes deste amor tanto viciam

Que quase nada faço sem seu norte;
É fogo que nos queima em tentação,
Matando já nos faz temer a morte...

2401

Amor que me inoculas cria lendas
E nele me vicio a cada dia.
Deitando nosso sonho nessas tendas
Defronte, tão somente a fantasia.

Insanas ardentias nos tomando,
Nas sombras de teus braços, acalanto.
O mar em fortaleza nos banhando
Traçando o meu destino em puro encanto.

No quanto tanto quero o teu querer
O quando se mostrando desde agora
O rio que em delícia a se verter
Converte todo o gozo que se aflora

Frondosas esperanças, alamedas,
Desejos que eu bem quero e me segredas...


2402


Amor que me invadiu tão docemente
Não deixa sequer margem pra tristeza;
Rondando minha vida põe a mesa
Trazendo toda a festa que se sente.

No tempo em que vivera tão ausente,
Não soube da alegria nem beleza,
Porém ao te tocar tive a certeza
Da vida já pulsando, novamente.

Amor tal sentimento a que me presto
Vibrando em minha vida porta a rosa
Tomando cada dia, que não parta.

Não quero ser somente um ledo resto
Nem quero mais a noite tenebrosa.
Desejo a tua carne, intensa e farta...


2403


Amor que me provoca uma abasia,
Cruel não me permite movimento,
Divino me seduz, paralisia
Legando essa saudade, testamento...

Brilhantes e temida fantasia,
Respiro com total constrangimento,
Amor que me perturba, cega o dia...
Não trama nem poder e esquecimento

Explosões nucleares já me causas,
Esperas se transformam agonias...
Batendo desespero, sequer pausas,

Amor que me provoca riso e farsa.
Restando assim, sementes tão vazias,
Amor só, necessita da comparsa...


2404


Amor que me refaz, deixa tranqüilo,
Não posso controlar, a vida grita...
Passando por memórias que compilo,
A noite que singramos, infinita...

Das dores que me mostras, me depilo,
És pérola mais rara, uma pepita,
Amor de Perdição, disse Camilo,
És minha personagem, bela Rita...

Tu és essa certeza mais divina,
Fulguras, irradias energias...
És mansidão feliz e cristalina,

Desejo terminar meus pobres dias,
Nos braços carinhosos da menina
Que já materializa fantasias...


2405


Amor que me tomando me extasia
Em flores e perfumes delicados.
Tornando cada dia em fantasia
E sonhos que serão recompensados
Por outro amor repleto em alegria
Mostrando que o futuro lança os dados

E mostra minha sorte mais completa
Nas flores estampadas dentro em mim.
Cupido, perspicaz atira a seta
E atinge o coração. Amando assim
A vida nos teus braços se repleta
E nasce em toda rosa do jardim...

Meu canto não se cansa de buscar
Amor que se fez raio de um luar... Amor que me tomara


2406

Amor que me tomando
A sorte em suas mãos
Tramando em raros grãos
O tempo audaz e brando,
Aos poucos transformando
E nisto venço os nãos
E sei dos dias vãos
Enquanto busco o quando.
Represa dentro em nós
A vida sem a foz
Grassando em estuário
Diverso do que pude
Ainda mesmo rude,
Porém não temerário.


2407

Amor que me tomara
As rédeas deste sonho
E quando além proponho
A vida em jóia rara,
A sorte se escancara
E nela me componho
Ousando mais risonho
O todo onde se ampara;
Viceja esta esperança
E o passo enquanto avança
Traduz felicidade
Vestindo esta certeza
Do amor sou mera presa,
Buscando a liberdade.


2408

Amor que me tornou mais aloprado,
Se deveu a farsantes montarias...
Nave que perdeu rumo, fez estrado
Com as lenhas que colhe nem estias...

Amor que me tornou queimou o prado,
No prato que cuspiste, ventanias...
Não quero amor assim, sequer assado
Vivendo brincadeiras e orgias...

Amor mais aloprante, pra que quero?
Não me perdoe nunca mais, sincero...
No que se desprendeu, perdeu sentido...

Amor que jamais cego, dividido
Me faz um arremedo de saudade.
Amor assim não trará felicidade...



2409


Amor que me tramara novo canto
Se espanta com teu brilho, mulher-sol.
E vive se explodindo num encanto,
Na mágica atração por teu farol.

Das Minas mais douradas do meu sonho,
As pedras preciosas, diamantes.
Te quero, minha rosa, te proponho,
Os dias mais amantes e brilhantes.

Conquanto nosso amor é néctar puro,
É sol que se embrenhando traz a lua.
No mármore esculpi nosso futuro,
E a vida, transformada, continua...

E sinto que faremos novos filhos,
Nos raios tão sedentos, nossos trilhos


2410


Amor que me tramara
A sorte reluzente
No quanto a gente sente
A vida sendo amara
A noite se faz clara
E bebe plenamente
A lua onde se assente
A sorte mansa e rara.
Invisto, cavaleiro
No sonho derradeiro
E busco esta certeza
Do quanto ser feliz
Vivendo o que mais quis
Vencendo a correnteza.



2411

Amor que me treslouca enquanto amansa
O coração feroz que assim graniza,
Nas cores deste sonho se matiza
O mundo que imagino em esperança.

Navego por teu corpo qual criança
Que a vida em alegria aromatiza
Fartura de prazeres já se alcança
No vento que me toca e assim me avisa

De que é possível crer em novo dia,
Forrando meu viver em poesia
Deixando bem distante o sofrimento.

Quem teve em vida apenas duro fardo
Afasta do caminho urzes e cardo
E encontra finalmente o seu alento...


2412


Amor que me domina
E toma cada passo
Aonde quero e traço
A vida em rara sina,
O quanto se destina
Vencendo este cansaço
E trago enquanto faço
O mundo em farta mina,
Exígua poesia
E sei que me faria
Apenas sonhador.
Viceja esta esperança
Enquanto o passo avança
Supera qualquer dor.



2413

Amor que na abundância ou na miséria
Não deixa de querer quem te quer bem,
Do abismo mais profundo à noite etérea,
Envolto nestes mantos sempre vem...

Não me permite mais tomar assento
No banco das tristezas e das dores,
Em meio a tais carinhos me contento
E flagro-me roubando jardins, flores...

Livre dos medos tolos, insensatos,
Caminho em cordilheiras mais audazes,
Bebendo a mansidão destes regatos
Percebo em nosso amor forças tenazes

Que tanto acariciam que alucino,
Completam meus desejos de menino...

2414


Amor que não amava nem recolho,
As vestes dos valetes e das damas...
Meu olho que te mira, nem restolho.
As almas se deliram, nossas camas...

Tu clamas meus reclames, teu ferrolho.
As palmas se repetem, novas tramas...
Reparas nas aparas, no repolho,
Amarras as amaras armas amas...

Não pré e nem concebo sem motivo.
Moto continuado sou remoto...
Ateio tenaz teia sou cativo.

Meu ventre não adentre, pois não parto.
Não pranto nem remanso, feto e foto,
Nas guerras que nem cerras não aparto...


2415


Amor que não combina com prudência
Nem laudos. Tão somente de perícia
Vivendo cada sonho com carícia,
Rimado com prazer? Jurisprudência!

Não tema se parece uma indecência
O verso que te faço, sem malícia,
Apenas desfrutar desta delícia
Não permitindo enfim uma ingerência

Daqueles que não sabem bem viver,
Eu quero tão somente o teu querer,
Da nossa fantasia, promotor.

Ajuizando as causas num libelo,
O quanto de desejo eu te revelo
Ao advogar em nome deste amor.


2416


Amor que não dá tréguas, sem limites
Transforma a minha vida totalmente
Imerso em teus desejos, não me evites
Entregue ao nosso amor, completamente.

Assim acreditava piamente
Jamais aceitaria outros palpites
A cada novo gozo que me incites
Em teus braços a mágica envolvente.

Revejo tua imagem com saudade,
O tempo foi cruel ao relegar
Ao sonho a tão temida realidade.

De tudo o que nós fomos; nada resta,
A morte vem chegando devagar
À sombra da saudade, amor me infesta...


2417


Amor que não descansa em chama intensa
Não deixa sossegar a quem adora.
Por mais que esta batalha o corpo vença
A moça se reforça e quer toda hora.

Colhendo no seu corpo a recompensa
Assim que mal termina já se aflora
Furor que não existe a quem convença
Termina com ardor e revigora.

Comprei uma farmácia, mas salário
Tu sabes tem limites, meu amor.
Além de tudo, sendo sempre e vário

Não tenho quase tempo pro trabalho.
Tu pensas que ele está ao teu dispor,
Desculpe, por favor, um ato falho...


2418



Amor que não domino, sem razão,
Vasculha todo canto desta casa;
Derrama insensatez no coração
E sem nenhum pudor, decerto abrasa...

Torrente tresloucada; não detenho.
Inunda simplesmente e nem pergunta.
Amor quando é demais que já contenho,
As dores e alegrias; tão cedo, junta.

Na glória fugidia deste encanto,
As heras dominando meu jardim;
O rumo destes sonhos, riso e pranto;
Explodem, num segundo, dentro em mim.

Amor quando é de amor assim cativo,
Penumbra, luz e trevas de que vivo...


2419


Amor que não merece nem cem rúpias
Amor que não valora nem carinho...
Envolto nas lembranças de volúpias,
Desmancha-se imbecil, segue sozinho...

Amor que se fingira nos frementes
Desejos que não trazem nova espera...
Farsante se despede das torrentes.
No fundo silencia e desespera...

Amor tão causticante já claudica...
Esfacela escoria e nunca cura...
A morte por saída, melhor dica...

O canto fogaréu que não inflama...
A máscara impedindo uma ternura,
O resto do que fomos jogo à chama...


2420


Amor que não permite a coação
De quem em frágil sonho vem, destrói.
A dor que tantas vezes nos corrói
Jamais alcançará meu coração.

Eu teimo em perceber quanto a lição
Ensina a quem os erros já remói,
Por mais que o pensamento ainda sói
Viver cada tormento. Tentação...

Ao ter tua atenção feita em carinho,
Eu sei que não serei tanto sozinho,
Encantos adivinho em cada verso.

E sinto o benfazejo vento vindo,
Trazendo um novo dia, claro e lindo,
Dos tempos tão sofridos, bem diverso...

2421


Amor que não permite que te peça
Apenas uma noite a mais comigo.
Retiro tua roupa em cada peça
Buscando no teu corpo o meu abrigo.

Na sorte deste sonho se confessa
O templo, raro altar, que assim persigo.
Embora tão sedento, em louca pressa
Eu sei que amor não pode ter perigo.

Não posso mais, querida, me perdoa.
Amor que sei nos toma, sem fronteiras,
Porém já percebeu o seu limite.

Não quero que o prazer enfim te doa,
Nem quero tuas lágrimas certeiras.
Espero enfim curar bartolinite...



2422


Amor que não precisa nem de juras
Pois é já de per si um juramento
Lavrado com sorrisos e ternuras
Sem dar satisfação ao sofrimento.

As almas que se tocam, voam puras
Em torno desta luz do sentimento,
Matando o que houvera em amarguras
Libertas, soltas, voam com o vento.

Num enlevo fantástico e tão terno
Os gestos de carinho são constantes.
O bom de ser assim, pra sempre, eterno

É ter a liberdade de cantar
Saber que sempre irão tão radiantes
As asas que aprenderam a voar..



2423


Amor que não pretendo fosse vário,
Traga minhas sonatas, sem perdão!
Disperse do meu peito a solidão.
Dispense do meu corpo, esse sudário.

Não deixe nunca mais vento contrário,
Proteja das tempestas, mansidão!
Contigo não há medos nem leão!
Nos haras desta vida ganhei páreo!

Não quero mais temores, horas cálidas.
Distante sei as dores, sempre pálidas.
Constantes os pendores desta luz!

Vencidas as moléstias tenebrosas,
Nascidas nos jardins, as belas rosas
Por certo enfeitarão a minha cruz!


24


Amor que não se cansa de brilhar
Um gerador de sonhos traça o rumo,
Nas tramas deste amor, eu me perfumo,
Destilo cada flor, bebo o luar.

Quem dera se eu pudesse navegar,
Sentindo em meu saveiro todo o prumo
Da vida em que se toma todo o sumo,
No inesquecível doce a inebriar.

No ritmo em perfeição; nossa cadência,
Os rastros permitindo a florescência
Dizendo a cada verso que não temas,

A par do que se forma; encantador,
Amor se vangloria, sabedor,
De ter a solução para os problemas.


25


Amor que não se entranha perde força
Não chega nem sequer a ser amor,
Na boca se reserva o beijo, a moça
Que queima tal qual febre, em seu calor...

A lua refletida nesta poça
Trazendo belo céu, seu esplendor.
É frágil como porcelana e louça
Precisa ser do jeito que se flor...

Amor não merecendo seu amparo,
Não versa nem conversa nem remenda...
Nas matas que se perde busca faro

Amor é simplesmente tal comenda
No peito de quem sempre trouxe sonho,
Sentido no meu peito mais risonho...


26


Amor que não se mede e nem se pede
Refaz a vida sempre em alegria.
Prazer que a gente ganha e assim concede
Formata em nossos sonhos, fantasia.

Não deixa vir o tédio nem o frio
Num fio de esperança vai atado.
Amor que se concebe sonho e cio
Depois de tanto tempo apaixonado.

Na trova que fizeste, meu repente
Se faz com toda a força da verdade
Amor que nos deixou demais contente
É feito com total sinceridade,

Palavras que emolduram tua trova
Mostrando o nosso amor que se renova.


27


Amor que não se pede, espere bem sentado,
Amor que não se cuida, a semente não brota...
Passarinho, prendi, ficou demais calado...
Meus sonhos de cristal, a lua é minha rota...

Não vou levar saudade, espero novo fado.
Perdido meu amor, jogado nesta grota.
Carrego meu cansaço, amor pobre coitado.
Felicidade enfim, cumpri a minha cota...

No riso que vigora, a vida toda chora....
Espero meu passado, aguardo meu futuro,
Morena por favor agora não é hora,

Se fores não terei, uma simples mortalha,
A vida que não tive, num alto e grande muro,
É corte que se dá no fio da navalha...


28


Amor que não se permite mais marasmo
Nem quer qualquer rotina como guia.
Tampouco o frio olhar parado e pasmo
Que amor sem fantasias cedo cria.

Eu quero esta fornalha que se acende
A cada novo toque mais audaz
Ao gozo mais ardente amor recende
E desse jeito sempre satisfaz.

Não vejo outra saída nem pretendo,
Apenas me entranhar e ser só teu,
Segredo, eu reconheço e já desvendo
Entregue ao farto sonho teu e meu,

Tu sabes quanto eu quero o teu prazer,
Na fonte tão gostosa de beber

29


Amor que não tem fim, determinando
O rumo que pretendo ser o nosso.
Palavra carinhosa que eu endosso,
Tornando o caminhar suave e brando.

Há tempos que eu tentara, procurando,
Saber de tal encanto em que remoço
O velho coração. Agora eu posso
Dizer do novo tempo se aflorando.

Flutuo nos teus versos, ao sabor
Da brisa que me leva mansamente,
Glorificando em paz, supremo amor,

Partícipe comum desta festança
Que muda o meu destino, alegremente,
Trazendo em minha vida, uma esperança...


30

Amor que não valia nem tostão
Depois de ser refém se achou perfeito
E fez deste tormento um turbilhão
Vagando neste beco, satisfeito.

Amor que não valia a precisão
Esgana o sentimento de direito
E mata novamente esta ilusão
Recibo maltrapilho do meu peito.

Causado por engodos, meus enganos,
Se fez em valentia trapo e resto.
Cobrar pelos pecados, erros, danos,

É dar valor demais ao que não tinha.
No fundo talvez seja um manifesto
Da noite que não vinha, toda minha...


31


Amor que não vivi se foi. De araque...
Mentiras tão somente e nada mais.
Usando em cerimônia um velho fraque
Puído, se perdeu em temporais.

Porém isso não causa sequer baque
Em quem sabia disso em ancestrais
Momentos. E por mais que me estabaque
Aguardo outros amores magistrais.

Refém das tuas farsas? Já não sou.
Um velho caminheiro reconhece
A cobra que envenena e que entontece

E nisso nosso amor se transformou,
Num bote que se fez mal sucedido.
Sou cego, mas me resta um bom ouvido...


32

Amor que nas quimeras fora trágico,
Nas noites que restou sem um luar,
Das dores que devoras, necrofágico,
Não restam nem esperas nem lugar...

Amor que em entrelinhas fez-se mágico,
Nas beiras dos caminhos perde o mar...
Amor velho naufraga enfim pelágico,
Enfrenta tempestades, procelar...

Não queima nem dispensa o teu batom,
Em meio a tais loucuras, sou ateu...
O mundo não ecoa o mesmo som,

Nos pés inalcançáveis se perdeu.
A noite que varia um mesmo tom,
As várias sensações do mesmo breu...


33


Amor que no meu peito fez morada,
Mostrando suas cores maviosas,
Tornando minha estrada mais dourada
Plantando no caminho belas rosas,
A vida, eu vou levando renovada,
Tocada pelas mãos mais carinhosas.

Depois de caminhar em passo lento,
Os dias mais felizes se desejam,
Amor ao demonstrar atrevimento,
Dois corpos que enlaçados já se beijam,
Tomando todo o nosso pensamento,
Permite que futuros bons prevejam

Os sonhos mais formosos, delicados,
Prazeres mais audazes alcançados...


34


Amor que nos domina sem engodos,
Sem traços de frescura, se faz forte
Vencendo os medos, limos, lodos,
Fazendo da esperança o nosso norte.

Eu sou feliz e disso vem o canto
Que faço neste instante para ti.
A sorte nos cobrindo com seu manto
É tudo que ao bom Deus eu já pedi.

E vamos pareados vida afora
Seguindo a nossa estrela sem temor.
Na força que nos doma e revigora
Sabemos da extensão de nosso amor.

E assim sem ter limites vamos fundo
Na sensação divina em que me inundo...

35


Amor que nos domina, imperador
De todos os sentidos e desejos.
Buscando em teu carinho, sonhador,
Os belos descaminhos dos meus beijos.

Dourando perfumada e bela flor
Aumentando a potência dos lampejos
Que trazem ao meu canto encantador
Motivo para os dias que antevejo

Nos olhos da mulher que é minha sina.
Na boca umedecida por paixão.
Neste sorriso eterno de menina

No brilho que irradia a claridade
Imensa transbordando de emoção.
Na ventura do amor; felicidade!


36


Amor que nos encanta faz roteiro
De um filme tão romântico. Decerto,
O tempo de sonhar passa ligeiro,
Depois a solidão, duro deserto.

O quanto imaginei o tempo inteiro,
O coração desnudo e sempre aberto,
Além do dia a dia corriqueiro
Ventura desvendando, está por perto.

As cenas mesmo sendo repetidas
Traduzem no final, as nossas vidas,
Comuns, mas tão diversas, pois são nossas.

E quando em holofotes tu remoças,
Atriz dentre as atrizes, principal,
Percebo quão feliz, nosso final..


37

Amor que nos envolve e não deixa
Sequer uma esperança de fugir,
Se sou um samurai, tu és a gueixa;
Sem queixas, nosso amor vem me pedir

Que toda eternidade seja pouca
Para esse imenso mar de amor sem fim,
No grito de alegria, a voz mais rouca
Percebe todo amor que existe em mim...

E sou feliz por ter esta aliança
Que envolve um coração insaciável,
Rito fenomenal de uma esperança
Que era antes deste amor, inconsolável.

No peito, uma emoção transborda em festa
Vivendo em cada dia que me resta...

38


Amor que nos revela
O quanto mais sentisse
Vencendo esta mesmice
E a sorte sem procela
A morte não se atrela
Além desta tolice
E quanta vez se visse
O tempo em rara tela.
A vida é tecelã
E sabe da malsã
E tétrica mentira
Enquanto o verso traz
O passo mais audaz
E a vida se prefira.



39


Amor que nos redime
E traz o quanto quero
Do sonho mais austero
Ou mesmo até sublime.
No todo onde se exprime
O verso que inda espero
E o tempo mais sincero
E nele a paz se rime.
Vencendo a tempestade
Alçando o manso cais,
Depois dos vendavais
Apenas a saudade
Aos poucos, mas jamais
A sorte inútil brade.



40


Amor que nos invade
Sem medos ou receios,
Fogueira que nos arde,
Não conhecendo freios,

Amar jamais é tarde
Reconhecer os veios
Que sem fazer alarde
Prometem devaneios...

Eu quero ser teu par
Na andança mais comprida,
Que é feita sem parar

Em toda imensa vida,
Deitando em nosso lar
A lua comovida...


41


Amor que nos invade
e traz o todo enquanto
O passo não garanto
E fico na saudade,

Marcando o quanto evade
De nós o raro encanto,
O tempo num espanto
Não vendo a liberdade,

Expressa a solidão
E traz os que virão
Momentos mais audazes,

Somando cada espaço
Aonde o rumo eu traço
Também teus sonhos trazes.



42


Amor que nos lambuza
Trazendo tanto mel,
Enquanto a gente se usa
Encontra um claro céu,

Tu és a minha Musa
Eu quero ser corcel,
Debaixo desta blusa
Por sobre este dossel

Na cama me acorrentas
Algemas e delícias
Paixões tão violentas

Entornas em sevícias
Represas, arrebentas
Torturas e carícias...


43


Amor que nos ligou, solar destino.
Vestindo esta beleza, ser feliz.
Atino que, se um dia, fui menino,
Menino que sonhava cores gris.

Ao ver este solar resplandecente
Qual fora um helianto te buscou.
E vive neste amor mais envolvente
O rastro destes raios que sonhou...

E vaga mal começa uma alvorada,
E sonha com carícias e ternura.
Sabendo que virá a madrugada,
Eterna sensação que seja pura.

Que tenha a eternidade do momento
Mas saiba dar a voz ao sentimento!


44

Amor que nos movendo, nos exila
De toda a humanidade, nos perdemos,
Um sentimento tal que alma destila,
Depois já somos um, mal percebemos...

Meus versos incontidos podem ver
O brilho deste olhar-luar que guia
Meu mundo se imergindo no teu ser
Aspergindo prazer e fantasia...

E... Te amo ninguém pode nos parar,
Nem mesmo a triste morte ou solidão,
Estás atada em mim! A te buscar
Procuro pelo céu, pela amplidão,

E encontro-te calada dentro em mim,
Amor nosso princípio, vida e fim...


45


Amor que nos pertence, luz entorna
Clareia toda a senda, acende a festa.
No canto da araponga, qual bigorna,
A chuva do passado não infesta.

Nas frestas fresas abrem orifícios
Delícias e carícias adentrando,
No gozo e no prazer, ofícios, vícios
Bandeiras da alegria se mostrando

Desfraldam, cobrem fráguas, penas mágoas
Não deixam que se veja o que passou.
Descendo em sedução as fartas águas
Recolho os teus sinais, sei o que sou.

Naturalmente a vida segue o curso,
Toada pelo amor e seu discurso...


46


Amor que nos recobre, rara manta,
Não deixa que um inverno nos maltrate
No olhar da prenda bela que me encanta,
Calor que me traduz amargo mate.

Do coração mineiro, um minuano
Chegando aos pampas, manda estas notícias
Do sentimento nobre e sem engano
Da sorte que virá, claras primícias...

Prelúdio em que a vida prenuncia
Um dia feito em glória e plenitude.
Estando sempre em tua companhia
Eu vejo ressurgida a juventude.

Amar é ter nas mãos tantas estrelas,
Num ato de loucura, enfim, bebê-las...

47


Amor que nos sacia e nos tatua
Crivando de emoções a vida inteira,
Minha alma ao te saber, cedo flutua
Trazendo tanta paz como bandeira...

Eu sonho ter teu beijo, clara lua,
Forrado em sensação mais verdadeira,
A pele tatuada, exposta e nua.
Fazendo de meu corpo tua esteira...

Teus rastros vou seguir, amada amiga,
Pegadas que deixaste no caminho,
Nesta ternura imensa, nossa liga

Que sempre norteou cada carinho,
Carinho que, no amor, é forte viga.
Certeza de não ser, jamais, sozinho


48


Amor que nos sacia
Embora seja assim
Início dita o fim
E a sorte, a fantasia.
O todo que queria
O mundo em meu jardim,
O passo de onde vim
A sorte mais sombria
Movendo cada engodo
Adentro a lama e o lodo,
Mas sei do meu caminho
E vendo este momento
Aonde em paz me alento
Em ti, eu já me aninho.

49


Amor que nos induza
Ao quanto posso e quero
Ao ser bem mais sincero
A sorte tão confusa
Por vezes se nos usa,
Traçando o quanto espero
E nisto um mundo eu gero
E a vida se entrecruza
Após cada partida
Ainda se lapida
Constante maravilha,
Embora seja frágil
O dia se fez ágil
Ousando em nova trilha.


50


Amor que nos sufoca e deixa louco,
Não vê que a claridade quer espaço.
Um peito tão gemente grita rouco
Querendo uma alegria sem cansaço.

Querida, não precisa assim temer,
A vida que te entrego por inteiro.
Amor tanto desejo enfim te ter,
De tantos sentimentos, o primeiro...

Amor não se discute, só se vive;
Amor não se maltrata, se semeia.
Caminhos que passei, por onde estive,
Ficaram noutra vida, como alheia.

Eu sinto tua falta a cada dia,
Por isso meu amor; mais alegria!


51

Amor que nos sustenta em verso e vida,
Sedento procurando em cada espaço
O gosto desta sorte dividida
Que estreita-se e aprofunda nosso laço.

Desejo ter teus lábios sim querida,
Roçar a tua boca, ser teu passo
Em busca da delícia repartida
Formando em nossa vida o mesmo traço.

Tu és a redenção de minhas dores,
Tu és o meu destino, sol e lua...
Nas mãos que te procuram, os tremores

Demonstram emoção de poder ter
Tua beleza imensa, tensa e nua
Na busca tão intensa do prazer


52

Amor que nos sustenta
Pudesse a cada passo
Trazer o quanto escasso
Da vida violenta
Pousando noutro espaço
A sorte mais sedenta
E o corte se apresenta
Num tempo audaz, devasso,
Resumos de outros dias
E neles me trarias
Apenas o que eu busco
E o pântano se estende
E o quanto mais se entende
Expressa o lusco fusco.


53

Amor que nos tocando faz sentido
E mostra em sonhos, dias encantados,
Em versos mais sutis e delicados,
Apascentando quem fora temido

Por ter depois de tudo se exaurido
Ao perceber temores sepultados
Encontra os seus caminhos demarcados
Vivendo este desejo percebido

Nos olhos de quem sabe quanto e quando,
Os rumos mais felizes desfraldando
Eternamente vibra em alegria,

Espalha o seu sorriso mais contente
E sabe do querer completamente
Que aos mandos deste amor já se cobria...



54


Amor que nos tocasse
Pudesse noutro insumo
Vencer o quanto aprumo,
E mostra a vera face
Do todo onde legasse
No caos onde acostumo
A vida traz o sumo
E nisto se moldasse.
Partindo do princípio
Que o nada sobrepuja
Ainda quando é suja
A sorte desde o início
Matando o quanto eu quis
Gerando a cicatriz.



55



Amor que nos trouxera
Ainda a noite escassa
E quando a sorte passa
Gerando esta quimera
O quanto se fez hera
E nada mais se traça
Vagando em voz devassa
Mostrando o que se espera
A gente não se cansa
Buscando uma esperança
Jamais posso esquecer
O todo não pudesse
Trazer esta benesse
Ditando o desprazer.





56



Amor que nos tocando traz sorriso
Tomando neste instante, o pensamento.
Da vida o melhor bem e mantimento
Trazendo para a terra, o Paraíso.

Fazendo-nos perder Razão e siso
Reinando em nossa vida, num momento
Deixando a dor herdar o esquecimento
Nos olhos de quem quero, o doce aviso

Da vida transformada em doce encanto,
E quem, amor demais por certo sente
As alegrias; faz por merecê-las

Por isso minha amada eu amo tanto
De forma sem igual sem precedente
Elevo o meu desejo ao céu e estrelas!


57


Amor que nos tocou, chegou ao fim?
Pergunta o coração enamorado
O quanto de desejo existe em mim
Permite amanhecer anunciado

Que sinto ter chegado, amor; enfim.
Distante dos temores do passado,
O manto desses sonhos, consagrado,
Perfuma o meu canteiro, este jardim.

Não quero a solidão, nem a tristeza,
Das dores? Sequer traços ou resíduos,
Apenas mansidão feita em carinho.

Prazeres são comuns e mais assíduos.
Amor já me impedindo de ser presa
Dos cactos espinhosos do caminho...


58


Amor que nos tocou
Mostrando o passo rude
E nisto o quanto pude
Marcar o que traçou
Vagando; enquanto estou
Toando a juventude
E nada mais ilude
O sonho que restou,
Resvala dentro em mim
O todo sem ter fim
Gerando mero ocaso
E quanto mais vibrasse
A vida noutro impasse
O canto enfim atraso.


59

Amor que nos transborda em seus furores
Não deixa mais as sombras reviverem
Percebe que na vida, tais horrores,
Se esquecem onde amores estiverem.

Eu quero o louco brado deste amor,
De tanto amor jamais fico cansado.
Nas fontes deste amor, tal esplendor,
Deixando um velho peito apaixonado...

Portanto, não se esqueça de que nada
Na vida se produz sem ter carinho.
Não fuja desse amor, minha adorada.
Eu quero acompanhar o teu caminho.

Vivendo neste amor, com emoção.
Aprenda a libertar teu coração!

60


Amor que nos transforma
Cativo e soberano
Tomando a nossa forma
Já não admite engano.
Amar é sacra norma,
Um gesto mais humano,

Encantos e magias
Amor sempre nos traz
Envolto em fantasias
Querendo sempre mais,
São tantas alegrias
Que amor se faz capaz.

Eu quero ser teu fado,
Teu homem bem amado...


61

Amor que nos transforma em poesia
De mútua esperança minha e tua.
Nas danças misturamos noite e dia,
A vida que dançamos continua.

Da minha que te entrego, meu jardim.
Da tua que recebo, borboleta
Que pousa devagar e vem pra mim,
Enquanto te perfumo, tão dileta...

A minha rima encontro em tua rima
Arrimos de nós mesmos, impossível,
Amor que já se inunda e sempre prima
Por abraçar travesso, o sonho incrível.

Amor que farta em ti derrama em mim,
Inverso e escondido, ri no fim...



62


Amor que nos uniu, nos faz vencer
As velhas armadilhas do caminho.
Quem tem como defesa o teu carinho
Conhece o paraíso sem morrer.

Usando esta artimanha, a do prazer,
No colo desejado eu já me aninho,
Deixando no passado cada espinho
Que um dia, insanamente quis colher.

A tua imagem bela e cristalina
Sorriso delicado de menina
Num corpo extasiante de mulher

Vislumbre de fantástica delícia
Trazendo em turbilhão noite propícia
Cevando a fantasia que vier...


63



Amor que outrora fora verdadeiro,
ao se mostrar desnudo, nada sobra,
meu barco sem bonança, sorrateiro,
diante das correntes já soçobra.

Teu riso tão venal e zombeteiro,
alçando neste bote, fina cobra,
no bote dos meus sonhos, vou ligeiro,
e a consciência logo se recobra.

Quem teve uma esperança de viver
amor, intensidade e solução,
ao ver seu sonho em breve se perder,

vagando a te buscar, feito um noctâmbulo,
ensimesmando o fogo da paixão,
caminha neste amor, cego e sonâmbulo...


64

Amor que para a vida, dá coragem
Raríssimo esplendor em lua mansa
Permite a realidade sem miragem
Imagem mais sublime em esperança.

Tatuagem formada a ferro e fogo,
Gozando da perfeita sintonia,
Criada sem lamúria, choro ou rogo,
Expressão divina da alegria...

Escuto a tua voz airoso sonho,
Esplêndido luar em prata nobre,
Olhar em teu olhar, sereno, ponho;
A lua em fantasia nos recobre.

Descubro o quanto posso ser feliz,
Amor que uma tristeza contradiz...


65


Amor que pega fogo em nossa cama
Não pode ser apenas labareda,
Falando de mansinho, amor me chama,
E peço que ele sempre me conceda

Carinho mais dengoso da morena
Beijos alucinantes e fogosos.
Textura desta pele que me acena
Convida para jogos maviosos...

Não deixo de pensar um só momento
Na imensidão do amor que sempre traz
Prazeres deslavados, sem tormento,
Além do que pensei fosse capaz...

Morena minha sina é ser seu par
Nas noites que vibramos sem parar...


66

Amor que pretendia formidável,
Desfaz-se simplesmente na quimera...
Que come, destruindo, qual a fera
Que morde tua boca, inconsolável...

Amor me transformando em miserável,
Não pode mais temer essa nova era,
Denegrindo carinhos donde gera,
A morte desse amor inabalável...

Bebidas me consolam, tanta mágoa,
Restando tão somente o meu delírio,
Nas saias da saudade foste anágua

Me deste soluções que não creditas...
O resto do meu mundo, meu martírio,
Nas margens e distâncias, t’as pepitas...


67


Amor que pretendia
Além do quanto resta
A vida mais funesta
Gerando novo dia
Assim a fantasia
Deveras sempre empresta
O mundo quanto atesta
A glória em poesia
Vestindo esta esperança
O passo além se lança
E traz no quanto pude
Vencer o meu temor
Ousando o redentor
Cenário onde amiúde.




68


Amor que procurando um manso cais,
Depois de ter vencido, com firmeza,
Os mais temidos ventos, temporais,
Lutado contra a forte correnteza

Encontra finalmente um belo porto
Que possa permitir o seu descanso.
O olhar ganha o horizonte e vai absorto
Enquanto o que eu buscara, enfim, alcanço.

Nos céus raro azulejo preconiza
Um tempo de total tranqüilidade
Na praia tão somente a leve brisa

Dizendo da alegria de saber
Que a vida nos trazendo a liberdade,
Retrata em tanto azul, nosso prazer...

69

Amor que prometeste – anel que se quebrou
Olhando o meu passado, há tanto por dizer
Do sonho que abortei; do nada que chegou.
Da noite que perdi, da ausência de prazer.

Amor que prometeste – o tempo aniquilou...
O gosto do vazio, herança de um viver
Que nada me trazendo, o nada me deixou.
Do tanto que eu queria; o vazio restou...

As bocas que eu beijei; as tolas gargalhadas,
A festa prometida em danças demarcadas,
A moça na sacada, a lua na varanda.

Os sarros na calçada; o gozo que não veio.
A mão desce gulosa, encontra um belo seio...
A vida em carrossel. Girando na ciranda...


70

Amor que prometido
Pudesse ser diverso
Na paz deste universo
Meu sonho ora lapido
E sei do quanto olvido
O rito mais perverso
E sigo além disperso
Do pouso presumido.
Audaciosamente
A vida tanto mente
E nada mais produz,
Depois de certo atraso
O tempo em tal descaso
Matando a rara luz.




71

Amor que quando toca a coisa amada
De tanto que permite se encantar
Além de todo o bem a desejar
Mergulha sobre a senda desejada

E mostra uma alegria transformada
Em sonho divinal a se alcançar.
Vagando em liberdade quer luar,
Derrama-se por sobre cada estrada

Que leva em direção à triste aldeia
Deixada por acaso no seu rumo,
E eu, pobre camponês já me incendeio

Ouvindo este cantar, busco a sereia,
E dela procurado gosto e sumo,
Distante de uma praia, devaneio...

72

Amor que remedia também cura
E marca em cicatriz deixando leve
Aquele a quem amar tanto se atreve
No enleio feito em paz, viva ternura.

Amor que uma alma livra enquanto apura
E mostra-se divino até se breve,
Derrete o sofrimento feito em neve
Apascentando o céu, reflete alvura.

Amor sem ter enfado, em Fados muda
Capaz de renascer a cada dia.
Refestelando a vida em pura glória

Ao pobre solitário tanto ajuda
Que aos poucos, dominando contagia
Louvando em sorte plena, esta vitória...



72


Amor que rememora priscas eras,
Me traz tendas, desertos, beduínos...
Nos olhos procurando seus destinos,
Os cantos, madrigais... Do céu, esferas

Brilhantes. Gigantescas, tristes feras,
Mergulham nos meus sonhos cristalinos...
Amor que ressuscita, faz meninos
De todos os que morrem tais crateras...

Nas lágrimas que choro, meu colírio...
O visgo de teus olhos, primavera.
Amor que não vivemos, meu martírio

Abandonos e flores se revezam.
Açúcar acalmando essa quimera.
Carinhos tão profusos que me lesam...


73


Amor que renovamos, a cada ano
Fazendo da esperança nossa guia,
Por mais que haja distância, não se esfria,
O sentimento intenso e soberano...

Versando sobre o sonho, sem engano,
Eu quero te dizer que a poesia
Se mostra tão sublime enquanto cria
A cada novo tempo, o mesmo plano.

Fadados a vencer quaisquer procelas,
O amor ao dar-nos forças, abre as velas
E encara sem temor, as velhas lutas.

Não cabem num amor as vis permutas
Nem mesmo as armadilhas mais astutas,
Pois ele não suporta algemas, celas...


74

Amor que santifica e faz eterno
A quem em suas garras se entregar,
Aquece com carinho em longo inverno,
Trazendo para nós a luz solar,

Sem ter o teu amor eu me consterno
E passo pela vida a divagar,
Um sentimento doce e sempre terno,
Moldando uma alegria devagar...

Amar demais é ter a juventude
Em toda mansidão em fino trato,
Amor é da alegria um bom retrato,

Além de ser feliz, tanto e amiúde,
Quem ama em fantasia permanece
E tece em sintonia bela prece...


75


Amor que se alimenta em puro amor,
Círculo vicioso de alegria;
Em corpos que se encontram, uma alquimia
Que faz da vida, a vida recompor.

Contigo eu sempre irei aonde for
Em frases, versos, sonhos, poesia
Seguindo passo a passo a mesma via
Guiados pelo amor, nosso mentor.

Ao te encontrar sozinha no caminho
Eu logo adivinhei o meu futuro.
Bebendo desta boca sacro vinho

A solução dos meus problemas tive
Ao ancorar meu barco com apuro
No amor que dentro em nós pra sempre vive..

76


Amor que se alimenta
Em tanto amor, desvenda
A vida além da lenda
No quanto foi sangrenta
A sorte que se tenta
E nisso esta contenda
Marcando o que se atenda
E nada mais me alenta
Vencendo esta constante
Ausência de esperança
Enquanto o passo alcança
A etérea plenitude
Já nada mais pudera
Ainda quando a fera
Talvez domada; ilude.


77



Amor que se cultiva num canteiro
chamado, tantas vezes, coração.
Decerto quando forte e verdadeiro
granando traz divina sensação

de um mundo mais gostoso, alvissareiro,
que às vezes nos causando inundação,
demonstra toda a luz deste luzeiro,
trazendo por farol, nossa paixão.

Eu quero estar contigo toda noite,
jornada em delicada fantasia.
Bebendo em tua pele esta alegria,

querendo que teu corpo já me acoite,
vem logo que esta noite traz a lua,
deitada em nossa cama, bela e nua...


78

Amor que se demonstra em tais façanhas,
Deixando a nossa vida mais formosa,
Adentra sem limites as entranhas,
Acalentando a sorte gloriosa

Deixando para trás dores tamanhas,
A vida se transforma, fabulosa.
Trazendo luz intensa às velhas sanhas
A noite passa a ser maravilhosa

Amor é de quem sonha, o companheiro
Que levará ao canto derradeiro
O quanto em paz e glória eu sempre espero.

Defronte esta quimera temerária
Que Deus me dê a força necessária
Diante de um momento duro e fero.


79


Amor que se emoldura em tantos beijos
Formata com carinhos e carícias
Procede da vontade e dos desejos
Entrega-se ao altar de tais delícias.

Em escotomas, vivos relampejos,
Começa delicado nas primícias
Depois vai devorando ganha ensejos
Com toques de ternura e de malícias...

Vencendo a noite intensa, surge o sol,
E nele este mormaço que convida,
Calor que se espalhando em arrebol

Faz com que nosso ardor se recomece
Trazendo finalmente gozo e vida
Assim em pleno amor, a sorte tece...


80


Amor que se entregando não descansa
Se cansa de saber quanto me dói
Ausência de qualquer uma esperança
Que sabe que somente amor constrói.

Vivendo sem lembranças do que fora
A vida sem ter chamas onde arder,
A sensação real e redentora
Que traz uma alegria pro meu ser.

Banhado com meu sangue sem demora,
Amor se fez mais belo e iridescente,
Sabendo que quem sabe faz agora,
Amor é muito mais do que pressente.

Permite que se traga um novo dia
Repleto de ternura e de ousadia...


81

Amor que se esparrama ao meio dia...
Nos raios deste sol que nos queimara...
Mais longe tal cantiga que se ouvia,
Deixava na garganta a dor amara...

Vencido, um transeunte nada via,
Arenosa tempesta, fria e rara,
Deixava uma saudade e vilania,
Escurecendo a rua, mesmo clara...

Não víamos sequer o velho sol,
Não tínhamos noção de quem chegava...
Escuridão encharca, nem farol...

A tempestade tudo ali tampava...
A noite se quedava de repente...
Um breu tomava conta, toda a gente...


82


Amor que se fartando, não se cansa
Jamais conseguirá me libertar
Ao mesmo tempo cria uma esperança
Depois a mata calmo e devagar.

Amor é força intensa e necessária
Que move toda a terra num segundo.
Além de uma ilusão imaginária
Nos braços deste amor eu me aprofundo.

E vivo nesta areia movediça
Criada pelo sonho e p’la cobiça,
Mutável nos domina num instante

Vibrando nos teus braços/sedução
Entrego-me ao poder desta paixão,
E sou do amor eterno e bom amante


83

Amor que se faz denso e prazeroso
Trazendo um espetáculo sem par,
Teu corpo assim bonito e tão cheiroso
Perfuma toda a casa, devagar.

Arcando com as ganas de te ter,
Contando estes segundos que não passam,
Vontade de chegar e de poder
Sentir pernas que tocando se enlaçam.

Fagulhas vão virando fogaréu
As chamas tomam conta do cenário.
Flutuo, vejo vindo o claro céu
Num gozo sem igual, profano e vário

Percebo qual portal do paraíso,
Roçando a minha pele, o teu sorriso.


84


Amor que se faz denso enquanto manso,
E traz a plenitude sem delongas,
Contigo em mesmo ritmo sempre danço,
E as noites são bem calmas, porém longas...

Não temo que destarte nos percamos,
Pois somos companheiros da certeza,
Que faz com que já nasçam belos ramos,
Sem chuvas nem tempestas, com certeza.

Afeto que se mostra em cada verso,
Talvez seja o segredo, mas não sei.
Apenas constatando que o universo
Mantém serenidade como lei.

Assim nossos carinhos tão benquistos,
Não deixam abscedar feridas, quistos...


85


Amor que se fazendo assim platônico
Acende uma vontade bem real
Mostrando-se fiel e tão harmônico
Invade e nos transtorna no final,
Trazendo para a vida um fogo tônico
É feito de loucura, sol e sal.

Deixando-nos com fome de prazer
Em nada poderá ter empecilho.
Se nele encontro a força de viver
Eu quero seguir sempre cada trilho
Que leve num segundo a poder ter
Contigo este desejo que partilho.

Tirando tua roupa devagar,
Portal do paraíso a decifrar...


86


Amor que se fez muda e não pariu,
Aborto condenável, mal imenso.
Imerso no passado atroz e vil,
O quanto desejei, eu nem mais penso.

A vida se fazendo sem dispensas
Não sabe acumular as fantasias.
Depois de ter sangrado as desavenças
Saudade vai fazendo suas crias.

Poreja em incessante gotejar
Alveja em precisão o peito estúpido.
Secando o que se fez imenso mar,
Negando este desejo, mesmo cúpido.

Carcaça caminhando pela rua,
Saudade neste palco, cedo atua.


87


Amor que se fez puro e enfeitiçou,
Gerando toda sorte de protestos.
Aos poucos nosso amor se agigantou
Em versos, em desejos, rumos gestos.

Por isso não se importe mais com isso,
A sorte está lançada, e venceremos.
Jardim que semeamos ganha viço
E juntos, neste amor, nós viveremos...

Que a vida nos sorria sem demora,
Quem sabe reconhece a vida boa
Que temos, não importa em qualquer hora
A tempestade vira uma garoa

A chuva já dispersa esse calor.
O sol que está nascendo? Encantador!


88

Amor que se fez tolo, em miopia
Às vezes não consegue discernir
Beleza que se mostra em alegria
Distância alguma irá nos impedir

De termos afinal, um novo dia.
Estrela radiante a me luzir
Permite que me invada a fantasia,
Fazendo um coração atroz se abrir.

Amor quando hipermétrope traz cura
Aos olhos tão distantes, mas presentes.
Tocado pela paz, mansa ternura,

Sentindo com certeza, o que tu sentes,
Seguindo cada brilho: forte sol,
Do amor que me irradias, girassol...


89

Amor que se fez tanto
O quanto não espera
E traz a cada esfera
O sonho onde me espanto
E vejo este quebranto
E nele destempera
O todo aonde a fera
Pudesse em dor e pranto
Audaciosamente
A vida sempre mente
E gera um desafio
E neste caminhar
Cansado de lutar
Apenas me esvazio.


90


Amor que se fizera arquitetônico,
Buscando novas formas, novos tons.
Nas horas mais difíceis foi irônico,
Explodindo em milhões de megatons!

Mas, nas várias tristezas forte tônico,
Espalha nos prazeres vários sons...
Amor que se pensara ser platônico,
Depressa me devora em tantos fronts...

Mistérios e sentidos já decoro.
A boca que me morde me pragueja...
Na roupa que me rasgas me decoro,

A noite que passamos como arqueja!
Não quero mais manter tolo decoro,
Vem correndo: essa boca te deseja!


91


Amor que se fizera lusco-fusco,
Em plena calmaria se rebela.
Não creio em sentimento pobre, fusco,
Que sempre que se acende pede vela.

Nas sombras deste amor eu não me ofusco,
A vida pintaria nova tela...
Nos horas mais difíceis eu me enfusco
Cavalo que não trota, perde sela...

Vivendo nessa espreita, nas ruelas,
Amores que pensei, não mais retornam...
Firmando os parafusos, arruelas,

Firmando o pensamento, trago o sonho,
As horas mais difíceis se contornam,
Meu medo deste amor se faz medonho!


92

Amor que se maltrata, traz comprida
Estrada que percorre, sem festim.
Morrendo, vai matando tudo enfim,
É lástima e mentira vã, cumprida...

Amor que não respeita, olhar que vidra,
Nas portas das saudades, seu clarim,
Nos versos que forjei, velho pasquim,
Invade devorando, uma podre hidra...

Amor que dilacera e nega beijos,
Revira trafegando vãos desejos...
Os pórticos e salas não refutam...

O canto da saudade traz desordem,
Os lábios não se beijam, já se mordem,
Os corpos abraçados, loucos lutam...


93

Amor que se mostrando docemente
Portando em esperanças, namorados,
Meus passos que já foram descuidados
Refazem alegrias novamente.

Tocando bem mais fundo um ser vivente
Em fartas ilusões, traz delicados
Sentidos em que estamos demarcados,
Singrando meus caminhos, minha mente.

Tu és minha senhora, eu sou teu par,
Neste bailado louco que se espera,
Amar é dominar terrível fera

E milagrosamente se encontrar
Debaixo destas garras da quimera
E depois disto tudo; festejar...

94

Amor que se mostrou ser tão fogoso
Não pode sossegar um só momento,
Um fogo que nos queima mais violento
Ardendo sem limite e bem gostoso

Num toque mais sutil e prazeroso
Desvendo com certeza o sentimento;
E todos os temores; apascento
Trazendo um bom futuro, venturoso...

Amor que se faz forte, em profusão
Uma avassaladora sensação
Que nos domina e toma os meus sentidos.

Os sonhos devem ser sempre vividos
Amor que não permite ter fronteiras
Palavras proferidas, verdadeiras...


95


Amor que se permite essa emoção
De ser o menestrel do sentimento,
Receba esse meu canto em oração,
Palavras que não são soltas ao vento...

São mansos como a noite, estes meus versos,
Pois sabem dos amores que mais sinto,
Vividos pelas noites, vão dispersos,
Bebendo nosso amor, que é doce e tinto.

As rimas que produzo sempre falam
De tudo que se vive, sendo puro.
Amores que no peito nunca calam,
A cada novo canto, novo apuro...

Amor tão perolado que rebrilha,
Em cada novo sonho, maravilha...

96



Amor que se proclama
Sem medos, verdadeiro,
Contigo, amor inteiro
Acende sempre a chama,

A vida que nos chama
Num toque feiticeiro,
No nosso amor primeiro
Já tece a sua trama

E mostra alucinada,
A sorte desejada
De quem tanto se quer,

Contigo nesta estrada,
Vem logo, minha amada,
Vem ser minha mulher!


97


Amor que se produz dum outro amor,
É lume que incandesce em luz composta.
Trazendo inda resquícios e temor
Perguntas que te faço sem resposta.

Te quero mas não queres meu querer,
Da forma que queria se pudesse.
Envolta noutros tempos de viver,
O tempo que passou, já não esquece.

Mas quero o teu amor, assim, contudo,
Me inundo de esperanças de que venhas
Eu penso, tantas vezes, que me iludo,
Pois sinto que caminhas outras brenhas.

Mas teimo em insistir que te terei,
Por todo meu viver, esperarei...


98

Amor que se promete, amigo, amante
É feito em raridade desejável.
A mão que acaricia num instante
Apóia quando o mundo é mais instável.

Fazemos de nós mesmos este espelho
No qual somos imagens em mosaico.
O sangue dos amantes; mais vermelho
Às vezes se perdendo até prosaico.

Porém numa amizade benfazeja
Os passos são mais firmes e bem sólidos.
Quem sabe, reconhece e assim deseja
Enquanto na paixão explodem bólidos

Nos braços de uma amiga, mais seguros
Trespassa com firmeza os altos muros...


99

Amor que se resplende e maravilha,
Flameja no horizonte um novo sol.
Seguindo nosso amor, encontro a trilha
De todas as belezas do arrebol...

Teu coração em pérolas tão ricas,
Deseja o meu desejo sem pensar.
Nas mãos tão delicadas, as pelicas
Pelúcias mais macias de tocar.

Eu sinto esta beleza que floreja
Da rosa que cultivo em meu jardim.
Sabendo meu amor que amor deseja
De tudo que se espera dentro em mim...

Sem ter temor mergulho nos teus braços.
E sinto em teu amor estreitos laços...


2500

Amor que se resulta em gozos vem
Depois do jogo feito, guardo os dados.
Meus medos; não confesso pra ninguém.
Os passos pelos sonhos, amparados.

Quem sabe deste jogo não arrisca,
E mesmo ao perceber algum perigo
Seguindo a velha regra, sempre à risca
No colo da ilusão, eu já me abrigo.

Mentiras e verdades, mil facetas
Às vezes é preciso disfarçar.
Prazeres e desejos são cometas
A vida segue eterno circular.

Se o tempo serenou na madrugada
A noite, com certeza foi nublada...

1


Amor que se retrata em luz e glória,
No peito faroleiro que conquista,
O meu olhar distante logo avista
E, derrotado, sonha com vitória.

A noite sem te ter, tão merencória,
Por mais que à sedução inda resista
Nos olhos da guerreira, bela artista,
A mudança completa em minha história.

Atados desde então, corda e caçamba,
O mundo solitário enfim descamba
E gera amanheceres divinais.

Sabendo do que outrora já sofri,
Agora me encontrando junto a ti
Eu bebo da esperança, muito mais...


2


Amor que se revela a cada verso,
Na mútua sensação do quere bem
Mineiro coração não perde trem,
Nem quer vagar à toa no universo.

Se em ti, tenha a certeza, eu ando imerso,
Durante a noite o sonho cedo vem,
Dizendo das loucuras que contém
Um claro sentimento. Vou disperso

Andando pelas ruas da cidade,
Imaginado a tal felicidade
Que agora eu sinto ser bem mais factível.

Tocar teu corpo inteiro e ser feliz,
Durante tanto tempo amor, eu quis,
E sinto ser deveras mais possível..


3


Amor que se sustenta das entranhas
Daquele a quem devora, sem perdão.
Por mais que minhas dores são tamanhas
Juízo, nunca toma um coração!

Ditoso de quem ama, não discuto,
Embora tanto amor me cause dor,
Nos versos que te faço, tanto luto
Por certo meu caminho é sem temor..

Assim que me encantava, amor chegou,
E veio com macias esperanças.
De tanto que este amor me maltratou,
Vivendo tão profundo nas lembranças...

Agora que te tenho, minha amada,
Lutar contra esse amor, não deu em nada

4



Amor que se tempera de veneno,
Distância deste amor; tomes amiga.
Fingindo que acalenta, em si tão pleno,
Da mesma forma beija e desabriga...

Cuidado com as unhas deste amor.
São fundas e penetram; mal descuidas.
Piores do que todo desamor,
Matando sem ter pena o que mais cuidas...

Amor que envenenando, mata breve;
Não deixa solução nem sequer paz.
Fingindo-se de manso, solto e leve,
Pesando feito cruz; se faz capaz.

Amor que nega afeto qual carrasco,
Amiga tenhas medo, nojo e asco...


5

Amor que se tomando de cuidados
Não deixa mais espaço pra saudade
Vivendo tantos dias magoados
Agora só procuro uma amizade

Que traga meu amor em mansa rama,
Sabendo ser divino sentimento,
Amor quando amizade se derrama,
Resiste bravamente a qualquer vento...

Portanto minha amiga não receie,
Se tudo o que fizer for por teu canto,
Amor quando em amor, de amor se ceie,
Em múltiplas facetas vira encanto.

Por quanto tempo andei te procurando,
Amiga que deveras, vou amando...


6

Amor que se traduz em devaneios,
Desvairado percorre este universo,
Frívolo preenchendo meus anseios,
Não deixa nem resquício no meu verso!!!

Amor que se transforma, belos seios,
Desvalido percebe ser reverso,
De belos transfiguram-se mais feios,
Amor que me deixaste, vai disperso...

Tuas placas tectônicas desabam.
Beleza arquitetônica disfarças,
Nos ábacos errôneos se acabam,

As somas mentirosas sempre esgarças...
Amor inebriante traz ressaca,
A boca que me beija lembra faca!


7


Amor que se traduz
Em rara claridade
Enquanto assim me invade
Trazendo a plena luz
Aonde se produz
O passo em liberdade
Gerando a raridade
E nisto aquém me opus
Vencer cada momento
E quando me atormento
Tramando um novo passo,
Vestindo a minha sorte
No quanto me conforte
O mundo em paz eu traço.

8

Amor que se traduza
Em noite mais suave
Enquanto a vida agrave
Ou mesmo até confusa
A sorte se entrecruza
E nada dita a trave
A liberdade da ave
Por vezes não se acusa
Na paz que procurava
Imensa e tosca lava
Imerge dos meus sonhos
E os dias em conflito
No amor que eu acredito,
Momentos enfadonhos.

9

Amor que se transforma em energia
Vigor e majestade, velho vinho...
Transborda na verdade e fantasia,
Premissas de não ser demais sozinho...

Amor sem convenções e sem bravatas,
Em flores e cenários mais diversos,
Recebe as tempestades, densas matas,
Renasce na cadência dos meus versos.

Veros verões vividos, vagas vozes
Vencendo essas vertentes vacilantes.
Nas ondas dos amores, tais algozes
Morrendo nas ternuras dos amantes...

Amor que tanto quero não se vá,
Onde estiver a vida estará lá...


10

Amor que se transforma em poesia
No canto da morena mais bonita,
Transborda em delicada melodia
Que tanto me encantando já me agita

Em todas as esquinas, tantos bares,
Em todas as calçadas, nas cidades,
Roubando a claridade dos luares,
Bordando neste amor, felicidades...

Amor que é tão sublime que nos cura,
Amor que é nossa força pra viver,
É feito em sintonia com ternura
E dá sem ter cobrança tal prazer

Que sempre fortalece; a vida inteira,
Nos versos desta amada companheira...


11

Amor que seca o vinha e louva o pão
Caçando o caçador, faz arruaça
No jogo é permitida uma trapaça
Causando uma cruel revolução.

Ferido pelo riso qual arpão
Na cicatriz insana, amor nos caça
E a vida deste jeito, mansa passa
Alcança depois disso, o sim e o não.

Nas cinzas espalhadas pela casa,
Certeza do desejo feito em brasa
Queimando totalmente, um fogaréu.

Disfarces são usados todo dia,
O bem que tanto eu quero não queria
Acende o mundo inteiro e chega ao céu.


12

Amor que sei flameja no teu peito,
Deveras me alucina e me domina,
Depois de tanto tempo insatisfeito,
A vida, novamente me ilumina.

Amar passou a ser um meu direito,
Ao ver tua beleza de menina
Que nina toda noite no meu peito,
E logo, num carinho desatina

Quem fora sempre só, calado e mudo,
Agora já percebe tal beleza.
Querida o mar é grande e não me iludo

Não foi feito p'rum barco sonhador.
Mas sei de tudo resta esta certeza
Duma alegria imensa em nosso amor...


13

Amor que seja mais que um relampejo
Permite que eu vasculhe todo o templo
O quanto te desejo sempre almejo
O sonho pelo qual, amor contemplo.

Exemplos encontrados nos caminhos
Demonstram que inda posso ser feliz;
Não quero andar distante dos carinhos
Que a moça num momento quer e diz.

Parelhos nós iremos bem mais libertos
Vencendo quaisquer lutas que virão.
Se os nossos corações estão abertos
Decerto reveremos o verão.

Assim em pleno estio, sol e brilho,
Faremos redentores cada trilho...


14


Amor que sem cobranças nada deve,
É por ser tão somente e nada mais.
Do jeito que nos toma, satisfaz
Não pesa e sendo assim, torna-me leve.

Amor que sem medidas já se atreve
A ser além de barco, porto e cais.
Traduz-se por loucura em santa paz.
Ciúme? Quando chega se faz breve

E logo recompomos nossa história
Que é feita de carinho e confiança
Trazendo sem temores nossa glória.

Eu quero estar contigo o tempo inteiro...
Embora necessário a contradança,
Para sempre serei teu companheiro.

15

Amor que sem perjura segue à risca
Os belos mandamentos da existência.
A mão que se tornara mais arisca,
Consegue desenhar a convivência

De seres cuja glória inda consista
Fazer de uma alegria esta rotina.
E mesmo que a tristeza ainda insista
A fonte de emoção não se extermina.

Alvíssaras em forma de poesia
Nas tenras seduções que são tão nossas
Viver na mais completa sintonia,
Enquanto já conquistas me remoças.

E assim unidos sonhos caminhamos,
Libertos sem ser servos sequer amos...


16


Amor que sem ter regras nos domina,
Galgando o Paraíso em um segundo.
A fonte não se seca, eterna mina
Aonde com volúpia me aprofundo.

O fogo insaciável que alucina,
Delírio de um desejo em que me inundo
Tomando o meu corcel, seguro a crina
E adentro com tesão vale profundo...

Nas ancas da potranca, unhas cravo
Na fúria desta transa sensual
As marcas de um amor no corpo gravo

Fodendo a noite inteira sem descanso
O gozo sem limites traz do astral
A insânia que nos farta em fogo manso...


17


Amor que sempre faz perder o siso,
Converte muito sonho em desventura,
Aos poucos se entornando em meu juízo
Arcando com tristeza em amargura.

Orgulho-me de ter sido flechado
Por quem outrora quis, e quero agora.
Mesmo que seja simples, encantado,
Meu peito nos teus beijos se decora...

Aguardo teu sinal, amor bendito,
Retorno sem temer à velha casa.
Deveras importante o nosso rito
Que forma essa fogueira onde se abrasa

O sonho de ser teu e seres minha,
Tanta potência em si, amor continha...


18


Amor que sempre quero para mim
Pacificando a dor que me tomara,
Versando sobre a vida, tudo enfim,
Tornando uma alegria, amada e cara.

Não é somente dança nem festim,
É vida que se enfrenta e já se encara
Na luta percebida que, sem fim,
O rumo que o destino contemplara.

Vertendo em plenitude, um belo sonho,
Em cada novo verso que componho
Eu penso em nosso amor, tenha a certeza.

Estrela deslumbrante vaga a noite
E cada vez que em ti, tenho o pernoite,
Mostrando agigantada tal grandeza...


19


Amor que sempre serve ao servidor
Submisso à tais vontades que nos domam
Domínios tão diversos deste amor
Delírios sem limites sempre somam.

Atados nas correntes do querer,
Vencidos pela insânia à flor da pele
Rastejam-se as correntes que em prazer
À louca serventia nos compele.

A mão que afaga e arranha, marca em unhas,
Dos dentes e das garras, cortes fundos.
Doçura que em tortura tu compunhas,
Mergulhos nestes pélagos profundos

Cravando em minhas costas o arranhão,
Seviciada presa em convulsão...


20

Amor que sempre toca o coração
Mostrando quão difícil ser feliz...
Espero em sofrimento teu perdão,
Trazendo, no meu peito, a cicatriz.

Enorme cicatriz do meu passado
Que dói, corroendo meu futuro.
Ah! Quem me dera estar ao teu lado,
Sem ter esse meu céu, sozinho, escuro...

Eu te quero por toda a minha vida...
Em todos os momentos te querendo
Por que não retornaste mais querida?
Sem teu amor, decerto irei morrendo...

Eu sei que não terei felicidade,
Enquanto, em minha vida, houver saudade...


21

Amor que sempre vinha
Trazendo seu encanto,
Serás amada minha,
Secando cada pranto,

Amor colhe da vinha
Néctar em que me encanto
Teu vinho me encaminha
Canto profano e santo.

Felicidade vem
Em cada beijo agreste,
Amor que se contém

Na taça que me deste,
Te quero tanto bem,
Teu corpo me reveste...


22

Amor que sendo forte se faz frágil
Recebe a tempestade com sorriso.
Caminha entre penedos e sendo ágil
Ultrapassando, salta e tão preciso

Vencendo estas agruras nos liberta,
Crisálida promessa de belezas
Não teme nem sequer a face incerta
Das múltiplas verdades/correntezas...

Na multifacetária estratosfera
Espalha-se em mil nuvens, azulejos,
É feito de esperança e assim nos gera
Mosaico de prazeres e desejos.

Amor em seus meandros, tão sutil,
É flor que atemporal em mim se abriu...


23


Amor que tantas vezes faz sofrer,
Espinhos numa senda quase agreste,
Às vezes tão difícil de entender
Trazendo uma tristeza como veste,

Porém no amor bonito que me deste
Apenas desfrutando do prazer,
E tendo a força plena de um cipreste
Mostrando-se impossível de esquecer.

A voz que me encantando em preces salma,
Forrando de alegria em plena calma,
Acalentando a vida com encanto,

Cobrindo em raras flores, primavera,
É tudo o que há de bom e que se espera
Amor que eu desejava e quero tanto...

24

Amor que tantas vezes me promete
O sonho que não trouxe, na verdade.
Por tantas vezes, triste me acomete
Saber de que vivera em falsidade.

Amor que imaginei ser mais audaz,
Por certo se escondeu dentro de ti.
Amor vai se mostrando assim falaz,
Eu sinto que este amor eu já perdi.

Mas nada desanima um coração
Que em versos vai buscando nova fonte.
Em meio às alegrias, o perdão,
Trazendo um novo sol neste horizonte...

Das folhas que se secam as sementes,
Brotando nos amores mais ardentes...


25


Amor que tantas vezes procuramos
Fazendo em cada sonho; nova escala,
O não que ouvimos sempre que tentamos
Nem mesmo o coração tristonho cala.
Quem sabe no arvoredo em outros ramos,
A gente adentre a casa pela sala.

E possa descobrir depois de tudo
Que existe uma esperança de encontrar,
Alguém que nos deixando quieto e mudo,
Já possa novamente provocar
A tempestade. Eu sei que assim me iludo,
Mas o que restará senão tentar?

Um dia o amor virá; disso eu bem sei,
Amor que tantas vezes procurei...

26

Amor que tantas vezes, persegui
Perfeita tradução de maravilha.
Agora que encontrei, prossigo em ti
Fazendo de teu corpo minha trilha.

Andanças sensuais, sem ter fronteiras
Mergulho o meu desejo no teu porto.
Teus gozos se transformam nas bandeiras
Aonde em noite clara eu quero e aporto.

Concebo paraísos, peito aberto,
Refém desta loucura nada temo,
Caminho tantas vezes descoberto
Amor que se mostrando assim supremo

Estampa este cenário e sinto enfim
Tua nudez deitada sobre mim.


27


Amor que tanto busco encontro enfim
Numa mulher fantástica e tão bela
Que mostra tal encanto e se revela
Intensamente toda para mim.

Mulher que se fez música e canção
Em versos de infinita formosura.
Roçando devagar meu coração
Dá sensação de calma e de brandura

Pois saibas quanto quero o teu querer,
Por mais que estas neblinas sejam fortes.
Na busca tresloucada por prazer

Andando qual ovelha desgarrada
Depois de tanto tempo, sem ter nada
Já riem para mim, todas as sortes...


28

Amor que tanto deu e nada cobra
Servindo com carinho ao servidor,
Se a gente se descobre em tal calor,
O barco com certeza não soçobra.

Cerzindo com desejos cada dobra,
O templo onde me faço adorador,
Movido pelas tramas deste amor,
A força que perdi já se redobra.

E sinto finalmente o doce assédio
Dos gozos mais profundos. Morto o tédio,
A vida se renova com firmeza.

E tendo esta certeza em iguaria,
Amor em plenitude propicia
Banquete sem igual em minha mesa...


29


Amor que tanto eu quis... acabou. Foi-se...
Agonizando eu sigo cada rastro;
Do corcel que sonhei restou o coice
Bandeira já rasgada sem o mastro.

Meu leito de viúvo segue vago,
A chuva desabando no telhado
Em plena madrugada enquanto vago
Eu bebo a tempestade do passado...

Quem sabe em bocas cruas, lábios quentes
Alguma solução ainda tenha.
Na insensatez dos sonhos, entrementes
Lareira em esperança busca a lenha...

O vento que virá em proteção
Acende tão somente uma ilusão..


30

Amor que tanto quero e não me canso
De sempre desejar, tu sabes disso.
Prazeres sem iguais contigo alcanço
Delícia que me traz beleza e viço.

Deitando no teu colo, meu remanso,
O fogo que incendeia, logo atiço,
No jogo feito em gozos, eu avanço,
O corpo da morena eu já cobiço

E faço deste enredo sensual
Meu canto preferido e mais audaz,
De toda a fantasia, eu sou capaz

Na mina que penetro, triunfal,
Sorvendo em água quente, eu me sacio,
Trazendo a primavera em pleno estio...


31

Amor que tanto quero
E sei quanto me traz
Ainda quero a paz,
Porém o mundo é fero
E sei quanto sincero
O rumo onde se faz
O dia mais audaz
E mesmo o quanto espero
Vestindo esta mortalha
Que aos poucos toma e espalha
Marcando em tom atroz
O quanto se pudesse
Gerando a leda prece
Calando a forte voz


32

Amor que tanto quis jamais será só meu...
Um coração batendo, em brasas se consome...
A noite que passei, escura como o breu,
Saudades deste amor, matei a minha fome...

O mar que navegava, a vida se perdeu...
Naufrago neste mar, minha verdade some.
Procuro por um cais, meu coração ateu...
Banquetes que esperava a lua já comeu...

Afetos que eu te trouxe, escondes no jardim,
A rosa que plantava, a vida despetala...
Saudade está doendo, a dor já não tem fim...

Amor que tanto brilha espero neste rio.
A dor que maltratava, enfim, silente, cala...
Um coração batendo, espera por teu cio...

33

Amor que tanto quis, bem mais ardente,
Queimando no meu peito, me transtorna.
Amar é necessário e tão urgente,
Não quero uma emoção deveras morna...

Eu quero a sensação de granular
Depois de tanto tempo te esperando.
A flor que sempre brilha no luar,
Sem cores, com certeza, irá murchando...

Eu amo, simplesmente, e não me engano,
É coisa que por certo não discuto...
Amar estava dentro deste plano
De ser feliz, matando todo o luto...

Meu coração cigano não se espalha,
Agora, prisioneiro de batalha...

34

Amor que tanto trama e tão bem frui
Em versos desconcerta, sedutores,
De tanto que castelo amor já rui
Constroem seus castelos destas dores;

Cismando de te amar, armando essa alma
Nas brevidades todas deste amor.
Oásis que o deserto tanto acalma
Refrigerando uma alma em estertor.

Amando com total dedicação
Ternuras extremadas e branduras...
Amar sempre faz bem ao coração,
Promessas de divinas, santas curas.

No templo que dedico ao deus amor,

35

Amor que tanto trama
Além da dor e traz
Momento em rara paz
Deixando atrás o drama,
Vencendo este tenaz
Caminho onde se clama
A sorte não reclama
Tampouco se é mordaz
Adentra a primavera
Depois de certo tempo
Ousando em contratempo
Aonde destempera
Os dias que virão
Traduzem teu verão.

36

Amor que tão distante, já se espraia,
Singrando todo o mar, amor imenso.
Fazendo o coração distante praia,
No sonho deste amor, que é tão intenso...

Meu peito que vivera dor amarga,
Por quanto tempo imerso em pleno inverno.
Sentindo essa tristeza, dura carga,
O medo de sofrer o mal eterno.

Depois de tanto tempo tão sozinho,
Um coração que espera a vida inteira,
Encontra neste mar, seu novo ninho,
E nessa imensa praia, a companheira.

Eu quero o teu amor, esteja certa,
Com todo este esplendor: ilha deserta!


37

Amor que tão distante
Dos sonhos mais audazes
Enquanto nada fazes
A vida não garante
Sequer o que adiante
E nestas tantas fases
Os dias são mordazes
E o passo enfim se espante
Marcando com terror
O quanto pude além
Do amar e redentor
Caminho aonde vem
A sorte em raro amor
E volto sem ninguém..


38

Amor que tão distante, em vão não me compete...
Vestida de saudade, a lua se entristece...
É lagrima que cai, inunda este carpete.
A dor, embevecida, amarga tela tece...

Amor que nunca cura, embalde se repete,
Não adianta crença, esqueça sua prece...
Desfila a solidão, a lua por vedete,
Minha pobre esperança, em lágrimas fenece...

Porém me resta o canto, o meu fiel parceiro...
A benção mais divina inunda o mundo inteiro!
Por tanto tempo quis o brilho da manhã!

O canto abençoado atravessando o mar...
Inunda o sofrimento, acorda o meu luar.
Nas bênçãos de Janine, o meu belo amanhã!



39

Amor que tão distante não percebo
Qual fora tenebrante solidão.
Dos ventos que, sozinho, inda recebo,
Não vejo nem sequer uma emoção...

Amor que não me sai do pensamento,
Embora se transborde em amargura.
Vagando minha noite em sofrimento,
Eu sinto, nesta aurora, uma ternura..

Quem sabe meu amor, ao se levar
Por ondas inclementes, venha à praia.
A lua refletida neste mar,
Abraça tantas ondas e desmaia.

Talvez quando retorne traga a luz,
Qual lua que no mar se reproduz...


40


Amor que tão feroz
Jamais me mostraria
O quanto em agonia
A sorte dita em nós
O medo em vão algoz
Gerando a noite fria
E assim dita a sombria
Audácia em leda voz,
Ausência de esperança
O passo em vão se lança
Amordaçando o sonho
Depois de cada queda
A vida em vão se enreda
Num ar turvo e medonho


41

Amor que tem a força como lastro
Jamais será, decerto, derrubado.
Seguindo a claridade em cada rastro
Por Deus, já foi, há tempo, abençoado.

Na maga sensação de ser feliz
Sem medos ou angústias, prosseguindo.
No verso mais bonito amor se diz,
É belo e traz um sonho sempre lindo.

Não deixo de querer em cada passo
Estar contigo, em chama verdadeira.
Vem logo, necessito teu abraço,
Pois tenho puro amor como bandeira.

E vamos ladeados na alameda
Do amor que não é simples labareda...


42

Amor que tenho tanto, manso e puro,
Encanto que por Deus abençoado
Por uma paz celeste assegurado
Em mares e tempestas vai seguro.

Tenho nele a certeza que procuro
Do bem supremo sempre bem formado
Clareia todo negro rumo escuro
Trazendo a mansidão do bom futuro
Matando a solidão do meu passado.

Amor que nada sangra nem destrói
É sempre afirmação de belo estio
Impede a sensação do duro frio

É lua que não deixa a tempestade,
É rumo que me forja e me constrói,
Certeza de eternal felicidade...


43


Amor que trago imenso dentro em mim,
É feito de perfumes e de cores,
Recende a hortelã e ao alecrim
Campestres meus desejos, nossas flores.

É bom poder saber que não tem fim
Os sonhos mais bonitos, sedutores.
Plantando dálias, lírios no jardim
Recebo teus carinhos tentadores...

Menina tão traquinas, fêmea bela
Que assim em transparência já desfila
E em todo raro aroma se revela.

Teu corpo em maravilha de canteiro
O mel mais delicado... sei, destila
E toma de ternura o jardineiro...


44






Amor que traz a flor; poreja espinhos,
Paixão desarrumando toda a casa,
Das dores, os prazeres são vizinhos,
Acendendo o pavio, endossa a brasa.

Adoça e avinagra méis e vinhos,
O amor chega depressa e não se atrasa,
Transforma em furacão, tais burburinhos,
Um pássaro perdendo a pena e a asa.

Material tão frágil, pontiagudo,
Nas sanhas deste insólito eu me iludo
E volto a ter os olhos de criança.

Retornam tempestades do passado,
Pesando o coração aqui do lado,
Um companheiro tolo da esperança...


45

Amor que traz em si fogo e candeia
Incendiando tudo, num momento;
Caminho imaginário em lua cheia
Bebendo a tempestade engole o vento

E todo o pensamento se incendeia
Não deixando um espaço – sentimento-
Mais fogo em louca brasa quando ateia
Invade sem medidas, um tormento...

Depois quando arrefece, nada resta
Senão uma lembrança de um instante.
Porém se sobrevive, nos empresta

O lume de uma estrela, eterna guia.
E vai; tal qual o vinho mais constante
Ao amadurecer: quanta alegria


46

Amor que traz na mística coroa
Estrelas diamantes e mentiras.
Às feras quando, amada tu me atiras
Meus sonhos em risadas; logo arpoa.

Extrema sensação – terrível/boa
Rasgando as emoções deixando em tiras,
Ao nada que teremos sei que aspiras,
Virando a cada curva esta canoa.

Porém mais persistente não desisto
E rio deste rio que me deste,
Na boca sorridente, doce peste

Mostrando que em verdade, ainda existo.
Persisto neste sonho faca e flor,
Que chamam – insensatos – puro amor...

47

Amor que uma amizade sustentava,
Felicidade plena bendizia,
Uma esperança a mais sempre abrigava,
Trazendo claridade para o dia,

Meu mundo no teu colo se abrigava,
Formando uma ilusão em poesia,
Rompendo qualquer lacre, nega a trava
Contendo a mais sublime fantasia

Distante destas dores do passado,
Moldava um bom futuro do teu lado
Traçando este buquê, juiz, anel.

Assim num himeneu termina história
Tornando nossa estrada bem mais flórea
Nas tramas, nossa cama, feita em céu.


48

Amor que uma tristeza contradiz
Deixando um rastro claro de esperança;
Avança com pujança em bel matiz
Alcança a temperança, feliz dança.

Na trança dos cabelos da morena
Novelos e venenos, seios plenos,
Atento a perfeição da rara cena,
Percebo e bebo sumos, sais, amenos.

Perenes estadias no teu mar,
Martírios esquecidos; lidas novas
É preciso decerto navegar
Enquanto em tantos gozos me renovas.

Os olhos da justiça e da inocência
No amor é muito além da coincidência...


49

Amor que vai perdido pelas ruas...
Em busca deste amor que não voltou.
As bocas se desejam; loucas, cruas.
O tempo tão voraz; se revoltou.

As chuvas desabaram sobre nós,
As trevas envolveram corações...
O medo de perder, tão forte; atroz...
Devora sem piedade as emoções...

Te caço como quem procura o ar.
Em todo desespero duma apnéia,
Preciso deste amor, te quero amar;
Amor que vitimiza; uma dionéia...

Preciso te encontrar, ó meu amor.
De todas as quimeras, salvador!


50

Amor que vale a pena sempre dói,
É fogo que nos queima e nos tortura,
Ao mesmo tempo fere e assim constrói
Remédio que maltrata, mas nos cura.

Amar demais, cortando sempre sói
Ser mais do que somente uma ternura.
A solidão, quimera que destrói
É feita em desamor, em alma dura....

Por mais que a noite venha tão sombria
Na ausência de quem amas, minha amiga,
Nos braços da ilusão, doce magia

Que faz de cada dia uma esperança
Que toma nosso corpo e nos abriga,
Trazendo enfim, para a alma, a temperança...


51


Amor que veio vindo sem aviso
Na lousa escreve a dor em claro giz,
Do quanto desejei e nada fiz,
Apenas um irônico sorriso.

Promessas se perdendo em solo liso
O chão caracachento corta e diz
Que o tempo que passamos impreciso
Não serve como apoio, é por um triz.

Veleja o pensamente e chega ao nada,
A praia dos meus sonhos isolada,
Repete o tempo inteiro a negação.

Mas sigo qual falena em plena luz,
Carrego em minhas costas, leda cruz
Sentindo este perfume, sedução.


52

Amor que vem chegando devagar
Por tanto tempo triste, em amargura,
Esperei que este amor fosse encontrar
Desnudado, trazendo a noite pura...

Amor que não sabia como vinha
Porém de tanto amor não me contenho,
A lua que em meu quarto se avizinha
Retrata tanta dor que já não tenho.

Fechada essa janela de tristeza,
O peito se deleita de prazer.
Agora em minha vida, uma certeza,
Vontade de te amar e de viver...

Viver amor em toda plenitude,
Em cada novo passo e atitude...


53


Amor que vem chegando, um alvoroço!
A vida já transforma totalmente,
Quem vinha amortalhado, num repente,
Renova-se na luz de um novo moço.

Esperança ressurge lá do poço,
Onde se escondera em triste mente,
Fazendo-nos viver mais plenamente,
Da dor que já sentimos, nem esboço.

Amor quando tardio, enfim confunde,
E transforma o que somos num momento,
Meu corpo no teu corpo já se funde

E mostra quanto é belo e sensual
Amar assim, em pleno envolvimento
Num elo que se mostra sem igual...


54

Amor que vem completo, santo vício
Deixando o Santo Oficio arrepiado,
Rondando tantas vezes precipício
Desejo sem igual propiciado.

Sem trâmites formais, burocracia,
Amor se faz audaz e não discute,
Vontade toda noite principia
Durante uma alvorada, repercute.

Escute esta canção que o vento traz,
Atrás de cada raio de luar
Por mais que sem limites roube a paz,
Eu quero dele sempre desfrutar.

Refuto qualquer coisa que sonegue
Amor que em mar imenso já navegue...


55


Amor que vem sem medos e sem hora
Batalha que se faz a cada dia
Se eu tanto me entreguei pretendo agora
Produto que se dá em alegria

Saudade anda rosnando, calo a boca
Mas tendo no final da peça, os bravos
Amor não se perturba e já se toca
Catando todo o mel em fartos favos.

O dia renascendo sem ter pressa
A festa recomeça. Amanhecer
Do jeito que se quer e se confessa,
Suor do sol que vem nos receber.

Compondo cada verso homenageio
A Musa já sem blusa em belo seio...



56

Amor que, em tempestades se tornou,
Mudando deste vento a direção,
Há tanto que emoção nos ensinou
O quanto amor nos traz satisfação,

Do paraíso falso que criou
Enredos tão diversos da paixão.
Arauto da alegria transtornou
Deixando sem destino, embarcação.

Enquanto do meu peito, senhorio,
Razão já bem distante, vou tão só.
Olhando o meu passado imerso em pó,

Percalços do futuro, fantasio,
Quem dera se tivesse um timoneiro,
O amor talvez seria verdadeiro...


57

Amor quebrando o medo, vil granito
Espalha a mais perfeita redenção,
Outrora caminheiro sempre aflito
Perdendo o seu destino e direção.

Agora perfilado com a sorte
Adentra a senda clara e mais perfeita.
Amor que se permite ser suporte
Iluminando a casa enquanto deita

Seus raios sobre nós, dois viajantes
Em farta profusão de luzes, brilhos,
Se fossemos do amor, principiantes
Talvez não vislumbrássemos tais trilhos.

E assim um argonauta esquecendo ira
Aos braços deste sonho já se atira...


58

Amor recolhe os sonhos e embaralha,
Fazendo da alegria, uma tristeza
Na sutileza, o beijo da navalha
Em agridoce serve e põe a mesa.

Amor treteiro, segue a sua sina
De ser alvissareiro em agonia.
Ao mesmo tempo cala e descortina,
Aquece em noite gélida e sombria.

Faz festa e ao mesmo tempo traz velório.
Um bem que nos encanta e nos maltrata,
Da negritude imensa que colore-o
Na noite iluminando em serenata.

Amor um arcanjo híbrido e safado,
É feito salvação, gozo e pecado...


59


Amor recolhe os sonhos
E gera outro momento
Aonde mesmo eu tento
Cenários mais risonhos,
Por vezes enfadonhos
Os dias num alento
Gestando o sentimento
Em atos mais bisonhos.
Assenta-se a poeira
Além do que se queira
Regendo cada passo,
E o nada se adivinha
Enquanto fora minha
A vida em tom devasso.


60


Amor relampejando no meu peito...
Inunda qual enchente toda a terra.
Destroça tudo em volta, não tem jeito,
Vulcânica paixão sem medo, aterra.

Desaba todo o teto sobre o leito...
Verdades e mentiras já descerra.
A base do que fui, longe me deito,
Amor relampejando lá na serra...

Não posso resistir ao galanteio,
Nem posso enveredar densa floresta.
As minhas mãos procuram por teu seio.

Nos pélagos delícias já mergulho...
Teu belo corpo, busco pela fresta
Para invadir teu mar, causar marulho...


61


Amor se colocou fora do alcance
Apenas o meu sonho ainda o toca.
Com esperanças vida se retoca
Mas sinto que não tenho sequer chance

De ter o gosto intenso de um romance.
Um peixe se perdendo sem ter loca,
Entregue à correnteza que o desloca
É de se esperar, claro, que ele canse.

Porém meu coração se faz teimoso
E bebe deste sonho fabuloso,
Embora na verdade não preveja

Em plena tempestade, uma bonança,
Resiste demonstrando com pujança
O quanto é persistente quem deseja...


62

Amor se desatando da esperança
Se vendo em liberdade, sem ter penas.
Vivendo como o sonho de criança
Sem lágrimas, sem mágoas, tão apenas.

Amor se desgastando vira espera
Sem medo, te julgavas mais capaz.
Eu quero o teu carinho em primavera
Sentindo esta alegria em toda a paz.

Cantando o desencanto sem futuro
Vencido pelas dores mais contrárias.
Saltando qualquer duro, grande muro,
Discórdias e distâncias, tristes, várias;

Exércitos de sonhos me invadindo,
Vasculham nosso céu, imenso e lindo...


63

Amor se eu demorar, favor, me espere,
Nas asas da saudade vou depressa,
Bem sei que tanto amor, por vezes fere,
Distância maltratando me confessa

Que o dia de chegar já se aproxima,
Beijar a tua boca e ser feliz.
Meu verso no teu peito encontrar rima,
Arranca deste amor a cicatriz...

Na santa criatura que sonhei,
Eu quero naufragar cada carinho.
Amores com desejos misturei,
Não posso mais assim seguir sozinho,

Espere mais um pouco minha amada,
Virei no revoar da passarada...


64


Amor se faz ardente quando é bom,
Causando uma vontade de adentrar
As matas, corredeiras, num frisson
Difícil de conter, de segurar...

Cantamos melodias, mesmo tom,
E vamos noite afora, lua e mar.
Morena, no teu doce mel, bombom,
Comer a fruta até me extasiar...

E no pomar, de novo, uma maçã
Que se oferece à gula em paraíso.
E assim me lambuzar em louco afã.

Pois sei que o mais gostoso encontro em ti,
Beijando tua boca, o teu sorriso,
Causando reboliço e frenesi....


65

Amor se faz delícia e nos vicia,
Lampejos em teus olhos, brilhos raros.
Querendo sempre mais no dia a dia,
Nos passos que traçamos, seus amparos.

Não quero mais perder esta alegria
Nem quero outros caminhos, menos caros,
Apenas mergulhar nesta magia,
Deixando para trás dias amaros...

Ansioso por poder beijar inteira
A dama dos meus sonhos, u’a rainha.
Chegando mansamente, sorrateira,

Na noite que promete, tua e minha.
A sorte que se chega, se avizinha,
Na lua que nos cobre, feiticeira...


66

Amor se faz encanto e formosura,
Carinhos que se buscam, seduções.
Nos passos decididos das paixões
Momentos de prazer e de ternura.

Na carne em tez morena, uma candura
Explícita em vorazes tentações.
Urgências vão surgindo aos borbotões
Minha alma te deseja e te procura.

Carente de teus beijos e carinhos
Pressente que será bem mais feliz.
Amar é ter a vida por um triz

E mesmo assim querer esses caminhos
De flores perfumadas e de espinhos
Sem perguntar jamais se alguém os quis...

67

Amor se faz entrega totalmente,
Atiça esta vontade, este querer,
Envolve nossa vida em tal prazer
Que tudo se transforma, de repente.

Feitiço que tomou conta da gente
Fazendo, num momento em tudo crer,
Dando-nos toda a força pra saber
Do sonho mais gostoso que se sente.

Prossigo passo a passo ao paraíso,
Um novo mundo, assim, eu já diviso
E sinto que não temos mais fronteiras.

Do jeito que quiser e que vier,
Pra sempre ter teu corpo de mulher
Em ânsias delicadas, feiticeiras...


68

Amor se faz entrega
E nisto eu agradeço
O quanto em adereço
A vida seja cega
E nada mais se nega
A quem quero e mereço
Ou mesmo num tropeço
A sorte em vão navega.
Ousando muito além
Encontro no que vem
Apenas um motivo
A mais para sonhar
Bebendo este luar,
Ainda sobrevivo.



69

Amor se faz servil sendo senhor,
Sublime em humildade nos cativa
E torna-nos mais fortes, traz vigor.
Essência que mantém uma alma viva

Liberta totalmente, o pleno amor,
É voz que mansamente é tão altiva
Nos mostra o bom caminho, é sedutor.
É força divinal, portanto ativa.

Nos faz crescer sem medo. Diviniza.
Eu te amo com certeza sempre e mais.
Da forma mais correta e mais precisa.

Encontro neste amor toda a riqueza
Que um dia enfim sonhei e quero mais.
É tudo o que desejo, com certeza...


70
Amor se faz sublime como a rosa,
Nas gotas de um orvalho; prazer/dor,
Num misto de ternura e de torpor,
Beleza na tristeza caprichosa.

Por vezes uma luz maravilhosa
Tomando este cenário vem compor
Solar radiação trazendo cor
A quem se fez outrora temerosa.

Nas gotas do rocio, o lacrimejo
De um coração entregue a tal desejo
Que o amor, em fantasia sempre traz.

Permita que emoção sincera e franca
Demonstre esta pureza calma e branca,
Trazendo ao nosso amor ternura e paz...


71


Amor se faz um prêmio onde disputas
Se mostram com certezas, acirradas.
Comendo devagar divinas frutas
A lua se esparrama nas calçadas.

As mãos de quem procura; bem astutas
Encontram as bandeiras desfraldadas
Querida, preparando outras escutas
As bocas; te garanto, bem beijadas...

Maior que todos mares, oceanos
Que toda infinidade de cometas,
Os beijos que darei, são os meus planos,

Em boca, perna, seios sem ter pressa.
Loucuras, eu desejo que cometas
Comigo nesta cama. Mas depressa...

72

Amor se fez magia e puro encanto,
é toda uma alegria concebida.
No amor que tu me deste; o nosso canto,
certeza de ter paz em nossa vida.

Amor que imaginei vício gostoso
companheiro fiel do dia a dia.
Nos braços deste amor, carinho e gozo,
nos sonhos deste encanto, a poesia.

Tu és a glória plena da existência.
Em ti, o meu futuro é mais feliz.
Depois da dura vida em penitência,
teus beijos tatuados, cicatriz

marcada na minha alma em sorte plena.
Amor que, em tempestade, salva; acena...


73


Amor se foi brinquedo, sempre fere!
Qual faca de dois gumes amolada...
Não há ninguém que possa que interfere,
Amor sem serventia vale nada...

Amor sem fantasia nem me espere...
Amor tem que ter rosa plantada,
Ter corrente, ter força, ter ampère!

Não podes zombar assim deste amor!
Preço que irás pagar não sabes qual!
Amor deve ter jeito eternidade...

Amor que não me traz sinceridade,
Amor que não perdura um carnaval...
Não é nada; jamais será o amor!


74


Amor se mostra ardente
Em cada novo beijo,
Tomando logo a gente
Trazendo num versejo

A sorte em que se tente
Viver cada desejo,
Tornando a noite quente
Rompendo em relampejo.

Brincar com bela lua
Exposta na janela
Numa beleza crua,

Vivendo só para ela,
Mulher deitada, nua,
Estrela se revela...


75

Amor se mostra em canto harmônico,
Tramando a melodia inesquecível,
Amor que se fazendo assim, sinfônico
Estende sobre nós um som incrível;

Na lírica presença deste encanto
Solfejos, cançonetas versos soltos
Deitando nosso jogo em mesmo manto
Os mares dos prazeres são revoltos.

Estradas e caminhos percorridos
Depois da luta inglória do passado
Desejos e vontades incontidos
Jorrando um bem divino, ilimitado.

Eu quero nesta sanha estar contigo
Teu corpo sendo sempre o meu abrigo.


76


Amor se prometendo mais sincero,
Em busca de teus olhos, vago o dia...
Por vezes te encontrei, sentido fero,
Nas outras me embalava a fantasia...

Sozinho, por teus lumes sempre espero
Na brusca indecisão sem valentia.
Amor, simples palavra que venero,
Embalde te esperei com galhardia...

Agora, com meu tempo se esvaindo,
A tarde se mostrando mais feroz.
No dia que renasce, claro, lindo;

Escuto teu cismar pela montanha.
Remoendo-me inteiro, vem veloz,
Explodindo-se em Daisy, força estranha!

77

Amor se repartindo em muitas cores,
Diversas esperanças já consome...
Em tal jardim morrendo tantas flores,
Sem vida, pouco a pouco, tudo some...

Se amor se entrega sempre à uma Fortuna,
Por vezes me enaltece, mas já morre.
Por forças e desejos que reúna,
Aos poucos tanto amor não me socorre.

Vencendo esses meus medos de encontrar,
Depois de muitos anos, teu amor.
Sabendo que morrer sem saber mar,
Vivendo o que mais quero, com ardor...

Amor que em si jamais se vangloria,
Aos poucos se tornando fantasia...


78


Amor se revelando em plena glória
Na redentora imagem de teu rosto.
Prenúncio de alegria e de vitória.
Moldando o meu viver bem mais disposto.
Teu canto não me sai mais da memória
Deixando o coração pra sempre exposto.

Ouvindo a melodia em que dizias
Do sentimento vivo que nos toca,
Vibrando nos meus braços, me dizias
Da vida que se fez e se retoca
Em beijos e carinhos, nas magias,
Que toda esta emoção já nos provoca...

Amar em paz com força e com vontade,
Trazendo para o amor, sinceridade...


79


Amor se revelando
Aonde nada houvera
Sequer a primavera
Um tempo bem mais brando
A sorte se negando
Além desta quimera
Esbarro em rude fera
Cenário mais infando,
Aprendo com o canto
E nisto até garanto
O dia que virá
Sabendo desde já
O todo onde encanto
De um sol nos tomará.


80


Amor se torna um sonho medieval
Jogado pelos cantos, iludido.
Há tanto que o desejo repartido
Transborda pela boca do embornal.

Vagante num espaço sideral,
Vacante sempre inerte em triste olvido,
O quanto que te quis, não deste ouvido,
Encanto do infeliz, velho boçal.

Das cítaras angélicas, distância.
Marcada pela insânia em inconstância,
Estanco esta sangria inusitada

Usando por garrote a fantasia,
O resultado inútil da alquimia
Pedra filosofal mal lapidada...


81

Amor se transformando com o tempo
Trazendo uma razão ao sentimento.
O que já fora outrora, contratempo
Não representará qualquer tormento.

O medo se transmuda em paciência
As mãos tanto acalentam quando amparam.
Dos ventos que queimavam;inclemência
Em brisa e calmaria se tornaram.

Os olhos que sonhavam acordados
Agora presenciam mansidão,
Amores de temíveis, altos brados,
Entregues ao reinado da Razão.

Assim no nosso amor, envelhecemos,
Porém, jamais querida, envilecemos.


82


Amor se verdadeiro não duvida
Nem deixa que se leve pela ausência
A vida tanta vez em inclemência
Não deixa pra quem ama outra saída

Senão se conceber em paciência
Deixando uma tristeza em despedida,
Que a sorte seja sempre percebida,
E não somente mera coincidência.

Eu tenho essa perfeita concepção
Que, sólida permite que eu caminhe,
Sem medo de tempesta ou furacão,

Apenas em tranqüilos passos, pois
Sabendo aonde quero em que eu me aninhe
Não temo mais agora nem depois...



83

Amor se verdadeiro nos permite
Viver cada momento, intensidade,
Singrando imenso mar, felicidade
Encontra no infinito o seu limite.

Sem nada que o impeça ou delimite,
Vencendo com ternura a tempestade,
Estampa nos seus céus a liberdade,
Por mais que uma saudade insana grite.

Decifro os teus desejos mais profundos
E tento saciar os teus anseios.
Amor ao descobrir os belos veios

Percebe os teus quereres em segundos
E eu sei, jamais sossega enquanto não
Transborda e toma todo o coração...


84


Amor seguindo manso em peito exposto
Trazendo todo o bem do amor em mim,
O quanto que eu perdi, sinto reposto
No gozo deste amor, que sei sem fim.

Afinidades tantas, par a par,
Vivemos o que somos nada mais.
Nos gomos da esperança desfrutar
Os cantos dos encantos magistrais.

Serenos os espaços que sabemos,
Cabemos onde a sorte já nos pôs,
O amor vem preparando nossos remos,
O sonho em maravilha se compôs.

Postergo uma tristeza, mato o medo,
Formato em nosso sonho, um novo enredo...


85

Amor sem fim adentra o pensamento
Em galopante insânia, qual corcel,
Voando em liberdade, bebo o mel
Atrelo meu galope num momento,

E trago sem pudores, sentimento
Retiro, lentamente, roupa e véu,
Sagazes sensações, nosso dossel
Espalha fantasia, roça o vento.

As garras penetrantes da pantera,
Os lábios delicados da mulher,
Em prazerosa entrega, contradança,

Nas sutilezas rara primavera,
Topando qualquer coisa que vier,
Invadindo as defesas, tesa lança...


86

Amor sem paradeiro perde o rumo
E deita mil estrelas nesta cama
Aonde se acendendo a forte chama
Permite que se beba todo o sumo.

Distante deste amor não me acostumo,
O quanto que te quero, alma reclama,
Vivendo tão somente pela trama
Fazendo de dois corpos um só grumo.

Orgástica paixão que nos domina,
Ardentes emoções que em frenesi
Encontram o que outrora percebi

Buscando este Eldorado, dourada mina.
Agora que nós somos dois iguais,
Desejo os teus desejos imorais....



87

Amor sem preconceitos nem pudores.
Na noite em que esta entrega se faz tanta
No jogo que se dá enquanto encanta
Das tramas mais insanas, dois senhores.

Nos céus em que se estampam brilhos, cores
A fúria feita amor já se agiganta.
Uma alma satisfeita, agora canta
E espalha no caminho róseas flores.

Tua nudez morena me convida
À festa que começa e determina
Tomando com firmeza nossa vida

Sonega o sofrimento, traz o riso.
O quanto que se emana desta mina
Permite que se sinta o paraíso...


88


Amor sem serventia sempre empaca,
Embarca na canoa mais furada,
Não vale nosso amor meia pataca
Na fraca sensação do mesmo nada.

Atada nos meus pés, amor é hobby,
Estrela vai sem brilho, mas não quer
Enquanto não descobre, ela não sobe
Não sabe do poder de uma mulher.

Que quer e que domina logo a cena.
No poço feito em tempo não mergulha.
Humano sentimento mente e acena
Criando tão somente medo e bulha.

Se pulha sou não sei e nem admito,
Apenas já repito um velho rito...


89

Amor sem ter juízo empresta seu tormento
E faz com que fortuna abandone quem ama
Amor trazendo paz empresta sua chama
Obriga-me, entretanto, achar contentamento.

E nada mais importa amar é ser isento
De tudo que minha alma, aos mundos já proclama
E mesmo assim, amor, em lágrimas reclama.
Amor faz do meu canto eco do pensamento.

Amando entenderás o meu verso em lamento,
É fogo que me queima enquanto a dor inflama
Amor se dispersando escuta a voz do vento

Amor é tão proveito envolto em tanta fama
Não deixe que esse amor se esqueça num momento
Que amor, na perdição, salvação de quem ama!


90



Amor sem ter juízo... Mil vontades
De cedo naufragar nestes teus braços...
Tomando no teu corpo as liberdades
Que fazem estreitar os nossos laços.

No teu seio enfeitar: saciedades,
Porém, insaciável sigo os passos
Que levam a buscar as tempestades
Divinas, envolventes... Corpos lassos

Depois desta viagem sem juízo
Por matas e montanhas, vales, rios;
Às portas do terrestre paraíso...

Deliro em teu prazer, bebo da festa,
Já perco meu caminho nos teus cios.
Na sorte fabulosa que me resta...


91

Amor sem ter limites me abandona
Nas sombras do que fomos; a saudade
Mostrada em senhorio, sonhos clona,
Fantasma vem rondando a realidade.

Quem há de me dizer o rumo certo
Se incerto, quase inseto vôo à toa.
E mesmo que à distância longe ou perto
O quanto que eu vivi ainda ecoa.

Reside dentro em mim tal locatária
Que faz o que bem quer e não me deixa.
Amor que me tornou um simples pária
Deixando em seu lugar saudade e queixa

Borrifa nos meus olhos incerteza
Recolhe os seus talheres, deixa a mesa...


92


Amor sem ter limites, mais sincero
É tudo o que eu desejo em minha vida
Um mundo carinhoso eu sempre espero
De todos os temores, a saída.

Não tendo, com certeza o que mais quero
Eu vejo uma esperança já perdida.
Meu peito em agonia, triste e fero
Prepara cruelmente a despedida.

Mas sinto o vento manso da manhã
Trazendo o teu perfume, rosa branca
Sangria num momento já se estanca

Mudando totalmente o triste afã
Permite que se faça em alegria
O canto de quem sonha em poesia.


93


Amor sem ter prazer é sacrilégio!
Depois de certo tempo me acostumo,
Porém desde o começo perco o rumo
E sinto o pesadelo, insano e régio.

Não sei se aprenderia no colégio
O quanto é necessário gozo e sumo,
Se tanto que eu pequei, nem sempre assumo,
Mentira nunca foi bom sortilégio...

Imprimo a tua foto no meu micro
E a vida renovando cada ciclo
Circula em rotação por teimosia.

Não sendo na verdade tão profundo,
Esqueço cada volta em que circundo
A parte que me cabe nem cabia...



94


Amor sem teu amor é desamor
E disso faço o mote dos meus versos,
Juntar nossos pedaços já dispersos
É ter um novo ser a se compor.

Crivado de esperanças num louvor
Vencendo os temporais duros, perversos,
Enquanto em fantasias vão imersos
Os dias que virão trarão torpor...

Tonturas entre valsas e boleros,
Na lúdica emoção que já se aflora
O tempo de sonhar se mostra agora

Deixando no passado medos feros.
E quando tu vieres não se esqueça
Que amor só se dará pra quem mereça...



95


Amor sem teu amor, cedo desfolha,
Nas matas que crescera tal criança
Futuro tão sozinho, quando se olha
A dor retorna forte e traz vingança.

Nas curvas desta estrada, meu amor,
Por quantos anos fomos tão sozinhos...
De amores e de dores os vizinhos,
Em pleno sentimento de rancor.

Eu sei que não me cabe nem um canto
Do canto que carregas todo teu.
Apenas vou morrendo, sem encanto,
No manto qual mortalha que me deu.

Mas sei que desse amor que nunca espero
No fundo, d’outro amor, amor eu gero...



96

Amor sempre gerando uma esperança,
Braços embaladores de mulher
Que sabe quando a noite já me alcança
E traz uma alegria se quiser.

Pensamento enlouquece e tece veios,
Caminhos tão formosos de alegrias.
A mão que te passeia pelos seios
Bem sabe das delícias que pedias

Com olhos sedutores de pantera
Brilhando em minha cama, está sorrindo,
As garras escondidas desta fera
Aos poucos de prazer vão me ferindo.

Delícia de viver em tal festim,
Inteiro, toda noite, sempre assim...


97


Amor sendo sublime como o nosso,
Perfeito, sem mentiras ou promessas,
Conhece seus limites. Onde posso,
Se posso, se não posso, sem ter pressas.

O mundo que vivemos, sendo frágil,
Não pode suportar amor tão grande.
A vida tantas vezes cobra em ágio
Aquilo que oferece, mal desande.

Mas nosso amor beirando a perfeição
Não deixa-se quebrar nem jamais verga
Ao vento da mentira, à tentação
À qual quem já sucumbe nada enxerga.

Amor feito da carne na alma entranha
Força descomunal, sorte tamanha!


98


Amor senso comum em contra-senso
Figura inusitada que fascina,
Manancial diverso, podre mina,
Delírio se tornando vago e intenso.

E quanto mais, teimoso, nele eu penso,
Eu vejo que ao redor de uma menina
O fogo anunciado já domina,
E aí do seu poder, eu me convenço.

Caindo pelas ruas e sarjetas,
Vencido pelas águas tenebrosas
Procuro nos esgotos raras rosas,

E sigo novamente estes cometas
Que partem para o nada e nunca voltam,
As dores e tristezas os escoltam...


99


Amor só santifica
Não é pecado amar,
Uma alma nobre e rica
Percebe que pecar
É coisa que se explica
Somente em desamar.

Pecado, na verdade
É ter uma alma em vão,
Sem amor, amizade,
E ser somente o não.
Quem teme a claridade,
Encontra escuridão.

Se é pecado ser terno,
Meu Deus vive no inferno.


2600


Amor só se conquista com carinho,
Assim também se fez nossa amizade.
Quem não pretende ser jamais sozinho
Não deve demonstrar autoridade.

Com guerras não farás um belo ninho,
Somente pela paz, felicidade,
A rosa não conquista pelo espinho,
Somente na alegria, saciedade...

Sendo assim querida, mais amável,
O mundo te será mais benfazejo,
O vento que te sopra favorável,

Aquele que me acalma e me acarinha,
Fazendo da harmonia o seu desejo
Tornando essa alegria tua e minha..


1


Amor tanto se faz quanto declara,
Agora vai caçado feito fera
A boca que eu beijara resta amara
Ao abrir entre nós clara cratera.

O ninho que se fez em pleno amor
Mortiço não resiste e vai sem viço
Entregue à sensação deste bolor,
Por mais que tantas vezes, lenha atiço.

Se um dia inda pudesse ver distantes
Mortalhas deste amor que se fez luto.
Talvez inda pudesse por instantes
Fugir da solidão, um vão tumulto.

Escuto a tua voz toando loas,
Às águas inundando estas canoas...


2

Amor tão delicado nunca vi...
Andávamos felizes, flutuando.
O melhor desta vida estava aqui!
Consigo ser feliz, somente amando...

Mas, tantas tempestades, me perdi.
Com todo esse meu mundo desabando,
Os olhos lacrimejo, só por ti!
As dores retornaram, cruel bando...

Amor é sentimento tão fugaz!
Ao mesmo tempo livre, está cativo.
Se temos ou não temos, cadê paz?

Amar é simplesmente um velho tema
Que por ele remoço, sonho e vivo...
Procuro por teus olhos, Iracema!


3

Amor tão engenhoso em seu ardil,
Embora tantas vezes sou esquivo,
Numa palavra mansa ou mais gentil,
Ao ver-me nos seus braços vou cativo.
A flecha que atirou me descobriu
E dessa seta nunca mais me esquivo.

Quem sempre se pensara estar fadado
À dura solidão do dia a dia,
Sentindo o forte amor aqui, do lado,
Entrega-se aos rumores da alegria,
Mesmo que o tempo esteja mais nublado,
Amor descortinando a fantasia.

Nos sonhos que perdera está reposto
O doce do amargor do amor, seu gosto...


4

Amor tão gigantesco nega o medo,
Que esconde, na verdade, o vero amor.
Saber que nem precisa temer dor,
Amor já recompensa sem segredo.

Transforma a direção, mudando enredo,
Galgando um alto espaço, vencedor,
Servindo com carinho ao servidor,
Às forças deste encanto sempre cedo.

Abrindo cada porta, mansidão,
Aponta com ternura a vocação
De sermos mais felizes, nada além.

Alívios entre farpas e navalhas,
Bebendo a poesia que ora espalhas,
Sabendo quanto o amor já nos convém...



5


Amor tão gostosinho, como é bom
A gente namorar a noite inteira
Debaixo do lençol ou do edredom
Até chegar depois toda a canseira.

Jogarmos com carinho em mesmo tom,
Fazendo em puro amor, a brincadeira
Que é feita com delícia de bombom
E mostra- se divina e sorrateira..

Vem logo, que esta noite não é nada,
Fazer amor em plena madrugada
Prenúncio de manhã em alto astral,

Com toda a sinfonia de pardais
Pedindo: por favor; eu quero mais,
Esqueça a roupa e deixe este quintal...



6

Amor tão pleno e sei jamais cativo
Permitirá que se conheça a vida.
Um sentimento em perfeição, altivo,
Concebe em luz a mansidão perdida.

No teu olhar o meu desejo crivo
Não deixará uma aflição de brida
Do nosso amor, eu nunca mais me privo
Sem ele a sorte se dará vencida.

Não tendo medo, seguirei em frente
E sendo assim, felicidade urgente
Não perderei com baboseiras; tempo.

Contigo sigo a caminhada em paz,
Cada vez mais me sentirei capaz,
Ao suplantarmos, juntos, contratempo



7

Amor tão vigilante, enamorado
Das horas que em insônia já passei
Olhar que em teu olhar vai fascinado
Buscando o teu olhar que procurei.

Amor tão extremoso que eu sentia
Por tantas vezes louco, me tornava,
Quebrando deste amor uma harmonia
Envolto nos desejos me entornava.

Seus modos, gestos, graças e perfume,
Aos pouco me tomando totalmente.
Vivendo tal amor pleno em ciúme
Sabia que perdia, tolamente...

Desejo nosso amor em fantasia,
Amor que tanto ilude, tal magia...


8

Amor tomando tento em minha vida,
Depois de tanto tempo em sofrimento;
A mão de uma esperança distraída
Abriu-se e permitiu este momento.

Na luta por achar uma saída,
Perdido, solto ao gosto pego o vento
E deixo a sorte em tuas mãos. Decida!
Quem sabe findará o meu tormento...

Passei minha existência sem ninguém,
Na espreita deste amor que nunca vinha.
Agora que recebo um manso bem

Eu creio que jamais serei tão só.
Espero que tu sejas, enfim, minha;
Quem sabe renascer,amor, do pó?


9


Amor tomando tudo, inundação
No vale dos meus sonhos. Tantas águas,
Enquanto me dominas já deságuas
Trazendo em minha vida esta monção.

Entregue aos teus caprichos, totalmente
E deixo-me levar por teus carinhos,
Alagação que invade velhos ninhos
Adentra o coração, o corpo e a mente.

Depois de certo tempo eu sei que tudo
Retorna ao seu normal, disto estou certo.
O tempo me trará tranqüilidade,

Nas águas da paixão eu não me iludo,
Porém neste caminho agora aberto,
O amor entornará fertilidade...

10

Amor traduz percalços e tropeços
Embora em atropelos sigo ereto,
Enquanto noutros braços me completo
Os dias muitas vezes vão avessos.

Há tempos que esqueci os endereços
Aonde encontraria amor dileto,
Embora não me veja qual dejeto
Não quero carregar mais adereços.

Sou franco e verdadeiro. Mais ou menos...
O velho menestrel fingindo ou não
Acorda em seus acordes coração

Tentando dias trágicos, amenos
Empresto uma verdade ao sentimento
Qual fosse um diamante que eu invento...


11


Amor transmite paz, felicidade
Deixando o coração bater mais forte,
Recebo todo o dom da liberdade,
Fazendo destes sonhos o meu norte.

Prevendo um novo dia em claridade,
Permita em teu cais, amor aporte,
Vivendo a mais sublime realidade,
A fantasia serve de suporte.

O quanto te desejo e não me canso,
Na procura diuturna pelo brilho,
Cantando tão somente este estribilho,

Adentro aos teus jardins, calmo remanso.
Nos lumes de teus olhos, vejo a lua,
Espalha o teu reflexo pela rua...


12


Amor traz guarda-chuva e nos protege,
Deixando a tempestade enfraquecida,
Bebendo cada gota desta vida
O coração jamais será herege.

Montando num cometo, ou mesmo em sege,
Seguindo o meu caminho, uma saída,
Encontro sem pensar em despedida,
No amor que o peito quer e agora elege.

Se é breve, ou se demora a vida inteira,
A boca desta moça é feiticeira,
Trazendo em seus feitiços, alegria.

Enquanto houver a luz, eu sigo em frente,
Não posso nem pensar que atrás vem gente
Senão amor bobeia, e logo esfria...



13


Amor traz, em seguida, entusiasmo
Depois de ter causado convulsões,
Em meio a tais insânias das paixões,
O que eu necessito é de um marasmo...

Viver a plenitude de um orgasmo
Que cause em minha mente turbilhões,
Sob a mira certeira dos arpões
Distante da ironia e do sarcasmo.

Se pasmo ou se não tenho reação
A culpa não será do coração,
Que bate tendo amor ou solidão.

Na sólida presença de um vulcão,
Ao menos vou propenso à explosão
Que alague em lava e fogo cada chão...


14

Amor tudo renova, dia-a-dia
Moldando este cenário fabuloso,
Seguindo cada passo da alegria,
Expressa a divindade em cada gozo.

Por mais que inda resista, não consigo
Vencer a tempestade que me tinge
Bebendo deste vinho eu vou contigo
Nas mãos abençoadas desta esfinge.

Trazendo em cada enigma a solução
Vencendo ao fim de tudo os meus problemas,
Da força deste amor, revolução
Marcando em paz e glória seus emblemas.

Não vejo e nem pretendo o fim do sonho,
Meu barco no teu mar, desejo e ponho...


15


Amor um sentimento solidário
Fazendo da cozinha nosso leito
Não guardo o meu desejo num armário
Prefiro te trazer dentro do peito.

Amada, neste teu aniversário
Entenda que eu pretendo ser aceito
Quem teve este passado solitário
Agora com certeza eu me deleito.

No jogo tão gostoso de jogar,
Acendo toda a chama do fogão,
Queimando com prazer o coração,

Meu verso vem depressa te mostrar
que a vida se permite em sobremesa
no gosto de teus lábios, farta mesa...


16

Amor uma atração fenomenal
Que atravessando o mar nos aproxima,
Envolve o coração em santa estima,
No canto que nos beija, sensual.

Amor traz a esperança como aval.
Jamais permita assim que alguém reprima
Esta emoção sincera que nos prima,
No mar de amor que chega a Portugal.

Nas ondas do oceano, em alva areia,
Encontro a silhueta da sereia
Mais bela que encontrei. Meu cais, meu porto,

Da América, esse barco coração
Aponta tão feliz a direção
Que leve para a praia, aí no Porto...


17



Amor uma caixinha de surpresas,
Despreza qualquer senso, faz das suas,
Um palco tão arguto quando atuas
As feras mal distinguem-se das presas.

As cartas escondidas sob as mesas,
Não sabes discernir; mas continuas,
Agulhas num palheiro, almas nuas
Crisântemos daninhos da tristeza.

Sem eco nada vale, mas persisto,
Besunto o meu olhar com este xisto
E quase libertário, sou cativo,

Num cântico em louvor eu mimetizo
Às vezes sendo lava vou granizo,
E mesmo em tal balbúrdia; sobrevivo...


18


Amor utópico maltrata tanto
Talvez seja melhor nem conhecê-lo.
Envolto pelos fios do novelo
Restando tão somente o desencanto.

Se às vezes, imbecil, ainda canto,
Tentando segurar pelos cabelos
Corcel que galopando, fartos pêlos,
Só resta-me ao final, a dor e o pranto.

Platônica emoção, torpe caminho,
O tempo se perdendo em desalinho,
Vielas esquecidas, simples becos.

Nestas encruzilhadas sem meu Norte,
Cultivo pedregulho, cardo e corte,
Não ouço por resposta senão ecos...


19


Amor vagando estrelas, que visagem!
Fulgura cavaleiro em seu corcel;
Reflete nosso sonho qual miragem
Girando eternamente em carrossel.

Fazendo das estrelas a tiara
Mais bela e colorida pra te dar.
Na noite deste amor, perfeita e rara
Desfilam tantas luas sobre o mar.

Amor sabendo o rumo desejado
Dos sonhos desta bela adormecida
Que espera pelo príncipe encantado
No beijo salvador que traz a vida

A quem tanto esperou e nada vinha...
Princesa nessa noite serás minha!


20


Amor vai dominando esta emoção
Que aflora no meu peito e não tem hora,
Quem sabe ser feliz por certo adora
E vive plenamente uma paixão.

Batendo em descompasso o coração,
Que sabe quando a vida assim decora,
Quem vive mais sozinho, sempre implora
A mão de uma doçura em tentação.

Querendo receber o teu carinho,
Mergulho nos teus olhos, sinto o gozo,
Num beijo delicado e mais fogoso,

Acerto assim de vez, o meu caminho.
Menina; conseguiste me salvar
Mostrando um cais seguro onde aportar...


21
Amor vai dominando esta paisagem
Tornando este cenário magistral,
O vento vem trazendo uma mensagem
Dizendo deste encanto sem igual,

Roçando os teus cabelos, mansamente,
Prenúncios de delícias e delírios
Poder saber da fonte fascinante
Deixando para trás dores, martírios.

Transborda sobre antiga placidez,
Causando inundação maravilhosa,
Distante do juízo, insensatez,
Floresce a delicada e bela rosa,

Imensos turbilhões, num desatino,
Tomando em suas mãos, nosso destino...


22

Amor vai me espreitando atrás da porta,
Parece que deseja me encontrar
E quando, no meu mar, amor aporta;
Causando tempestade... Navegar?

Mas sei que muito espero o tal do amor,
Pois dessas esperanças sobrevivo.
Mesmo que traga medos ou temor,
Me encontrará de pé, decerto altivo.

Eu sei que isso é tolice, amor não poupa;
Invade numa enchente, arrasa tudo...
Não deixa no meu corpo nem a roupa;
Não quer saber de mas, porém, contudo...

Amor alucinante tempestade,
Reveste em tanta dor; felicidade!


23

Amor vai prosseguindo, assim, agônico
Mecânica ilusão não deixa rastros,
Em meio a tal cenário, arquitetônico
Caminho que aproxima vários astros.

Emplastros colocados nas feridas
Estranhas cicatrizes são formadas,
Do medo de sonhar já não duvidas,
Facetas tão diversas tatuadas.

Aladas mocidades, tempo passa.
A cruz que hoje carrego não mais pesa.
Saudades se perdendo na fumaça
Quem ama na verdade não despreza

Apenas ao sentir o fim da farsa
Na morte encontra o seu melhor comparsa...


24


Amor vai se elevando sobre a Terra,
Além do que eu pensara; imaginário
Sonho aonde esta glória assim encerra
Um canto mais audaz e necessário.

No amor a solução pra triste guerra,
Vencendo em calmaria um adversário
Tristeza para longe amor desterra
Trazendo um braço amigo e solidário.

O pobre solitário assim padece
Ao prosseguir distante de um afeto.
O mundo em solidão segue incompleto

O nada se recebe e se oferece
Aquele que não teve um grande amor
Um barco que perdeu seu condutor...


25






Amor vai se espalhando tela Terra
Em versos e palavras mais serenas,
Andando pelos vales sobe a serra
Nas praias tropicais, em luas plenas.

Amor que tanto amor em si encerra
Já sabe das vontades mais amenas
Amor vai invadindo nas antenas
Entrando em casamatas, mata a guerra.

Amor que nos domina e nos faz par.
Amor de uma amizade mais perfeita,
Amor que por amor se faz amar,

Na mãe que gera a vida, amando inteira,
Amor pela mulher com quem se deita,
Na cama ,numa rede ou numa esteira...


26



Amor vai se esvaindo na fumaça
A barca dos meus sonhos naufragada
Não resta do que fomos quase nada,
Neblina matinal maltrata, embaça.

Vontade de gritar em plena praça
Falar desta alegria anunciada,
Perdida nesta noite demarcada
Por medos. A saudade nunca passa.

Desfraldo o lenço branco, peço paz
Porém o teu sorriso sempre traz
O gosto da ironia e do sarcasmo.

Tocado pelo anseio, sei marasmo.
O telefone chama. Um desengano,
Caminho em noite vaga, tolo, insano...


27

Amor vai sem motivo e nega abrigo
A noite é mais estreita pra quem ama.
Debaixo do luar tento e prossigo
Buscando quando deito além da chama.

Em todo feriado se repete
Festejos em funéreas catedrais.
A língua se fazendo em canivete
Cortante sensação de quero mais.

Atrás de cada sonho, eu não desisto
Insisto e se puder inda repito.
Não quero mais ser Judas nem ser Cristo
Meu verso às vezes bom; noutras maldito.

A dor é sempre igual, ou forte ou fraca,
Amor sem serventia sempre empaca...


28


Amor vai tomando todo espaço
Não penso noutra coisa, vivo rito,
Sabendo do calor de teu abraço,
Não tenho mais na vida sequer conflito,
Querendo novamente teu regaço
que salva um coração que fora aflito.

Dos sonhos que tivera, noutro esboço,
Meus dias não seriam tão felizes...
Porém o teu carinho, meu colosso,
Mudou deste meu céu os seus matizes,
Agora, meu amor sem ter esforço
Não trago nem sequer mais cicatrizes.

Da solidão passada tão agreste,
A força deste amor, forte cipreste...


29


Amor vai transformando a minha vida
O rio que permite a um moinho
Além d’água que escorre em despedida
Uma energia feita de carinho.

Porém quando se encontra a rara pedra,
Ourives feito amor quer lapidar.
Na ausência o peito sofre, alma se medra
E quer mais uma vez recomeçar.

Viver os dias mansos novamente,
Felicidade em forma de emoção,
Contagiante sonho que acorrente
Os passos numa mesma direção.

Tu és; tenha a certeza, este motivo
Mantendo o sentimento sempre vivo...


30


Amor vai tropeçando, estabanado,
Sarcástica ilusão, vil covardia.
Andando o tempo inteiro, baseado
Na antiga sensação de galhardia

Eu vejo em ironia o quanto ris,
Fantasmas de mim mesmo pela sala.
Do todo que pensara ser feliz
Apenas a minha alma, vã vassala.

Na vala da esperança, uma sarjeta
Esgoto toda a sorte num momento.
Quem dera se eu pudesse, qual cometa,
Liberto receber o doce vento

Que morre bem distante desta cena,
A mortandade segue amarga, amena...


31


Amor vai vasculhando cada canto,
Não deixando escapar nem um segundo.
Seduz com suas asas, tanto encanto;
Vai entrando, entranhando, tão profundo...

Embora sobre tábuas inseguras;
Caminho temerário, não descanso...
Rompendo com vacilos, amarguras,
Perfeita comunhão eu penso, alcanço...

Amor que amenizando, tanto ajuda.
A ver os mais caminhos mais serenos.
Nas horas mais difíceis, dor miúda,
Amores com carinhos tão amenos...

Amor é sentimento forte e leve,
Às vezes tão eterno sendo breve...


32


Amor vem derramando poesia
Nas ruas e calçadas, becos bares,
Tocado pelo bem que me queria
Percorro num minuto; os sete mares.

Revigorado pela fonte imensa
Do amor que não descansa e me faz bem.
Nos lábios de quem amo; a recompensa,
Mostrando todo o bom que a vida tem.

Um passageiro alado neste sonho,
Alcança mais depressa o puro céu,
Nas asas deste amor, agora eu ponho,
Pensamento veloz feito um corcel.

Já tendo todo o amor que outrora eu quis
Eu vivo a cada dia mais feliz.


33


Amor vem devagar e me incendeia
Não deixa mais sobrar sequer defesa,
Comendo com vontade a sobremesa,
Aranha decidida faz a teia.

A lua que nos cobre sempre é cheia,
Maré que inunda e cala esta tristeza,
O bem do amor em forte correnteza
Adentra em reboliço minha veia.

Na cheia destes rios piracema,
Deixando para trás qualquer problema
Nas mãos da timoneira poesia,

O barco de meus sonhos se repete
Sabendo navegar já se acomete
De tudo o que mais sinto; o que eu queria


34


Amor vem renovando a mocidade,
Na juventude eterna de minha alma.
Portando tão somente a santa calma,
Estende os braços mansos, liberdade.

O gosto da alegria agora invade,
Reconhecendo o solo como a palma
Da mão que se mostrando em igualdade
Permite todo o sonho que me acalma.

Sem traumas vou seguindo cada passo
Da doce fantasia que busquei,
Dançando mesmo ritmo, no compasso

Das luzes espalhadas no ambiente,
Amor transforma tudo, de repente...
Mudando toda a sorte que encontrei.


35

Amor vence com glória uma batalha
Aonde se persegue a liberdade,
Rompendo da tristeza a firme grade,
Felicidade intensa, logo espalha.

Andando sobre o fio da navalha,
A força de um amor quando me invade
É tanta que jamais eu vi quem há de
Negar o seu poder, que nunca falha.

Atalhos para os Céus, tão luminosos,
Ajudam a saber maravilhosos
Caminhos que permitem que se veja

O brilho do moleque sedutor,
Nas setas tão certeiras deste amor,
Sublime perfeição que se deseja.


36


Amor vencendo a tudo, triunfal
Desvenda tantas lendas no caminho.
O quanto eu te desejo sensual,
Acende em explosão e aquece o ninho.

No canto que se mostra fascinante,
Encantos que eu coleto vida afora,
A lua sorridente neste instante
Com raios prateados nos decora.

Na doce melodia, os madrigais
Convidam para o belo amanhecer.
Desejo e cada vez te quero mais,
Entranhas em perfume, todo o ser.

Servindo ao grande amor, não me interessa
Se a vida corre mansa ou vai depressa...


37


Amor venha correndo aqui, depressa
Que tudo o que fizermos vale a pena.
Quebranto não destrói a bela cena
Acentuando a festa que começa;

O bom é que ao tomar nossa cabeça
Quem sabe esta delícia que envenena
Além do que a vontade concatena
Permite a fantasia que se teça

Com fartas transparências de organdi
Visando o que melhor encontro em ti
A cor de nossos olhos se mistura

E penso na espelhar transmudação
Do amor que quando vem- inundação,
Numa poção fantástica – ternura.


38


Amor venha correndo
Que o tempo não espera
A vida sendo fera
O sonho mais horrendo
Aos poucos me provendo
Do quanto mais pudera
Vencendo esta quimera
O tempo não desvendo.
Ausento do meu sonho
E assim eu me proponho
Apenas ter a paz
E nisto me convenço
Do sonho audaz e imenso
Que a sorte agora traz.


39

Amor verdadeiro
Vontade que chega
Olhar feiticeiro
Beleza se entrega

Mudando caminho
Vivendo contigo
Não sigo sozinho
Encontro um abrigo

Amor sem pudores
De noite um sucesso
Nos nossos suores
Desejos confesso

Te quero pra mim
Meu amor sem fim...


40

Amor voava livre, passarinho...
Em busca de quem fosse mais ligeiro,
O canto que esperava ser sozinho,
Depois de tanto tempo em cativeiro...

Chegaste num momento mais azado,
O vôo desse pássaro, tão lento,
Depois de se sentir de novo asado
Liberto das anilhas do tormento...

Não foi um passatempo que tiveste?
Procura suas asas onde estão?
Da plena fantasia se reveste,
As penas espalhadas pelo chão...

Sem penas não consegue mais voar,
Apenas tantas penas para amar!


41


Amor, por que partiste, diga enfim,
Não quero carregar esta mortalha.
O corte aprofundando da navalha
Adentra o coração, traduz meu fim...

Quem dera se inda houvesse algum jardim,
Porém a noite imensa já se espalha
E enredado nas tramas desta malha
Acendo sem querer um estopim.

Na lava incandescente em que mergulho
Distante do teu mar, ouço o marulho
Que emites, procelária divindade...

E a morte anunciada dos meus sonhos,
Deitando sobre mim braços medonhos
Cegando mesmo em plena claridade...


42


Amor, velho jazigo da esperança,
Ferrenhos inimigos que legaste,
Causando ao coração dor e desgaste,
Negando sem remédio a confiança.

Quisera algum momento em temperança,
Mas logo destruíste e provocaste
A queda dos castelos que criaste,
Enquanto este deserto; vil, avança.

Melíferas colméias são amaras,
Bromélias e crisântemos secaram,
Os braços em falseio desamparam,

E enquanto a sordidez; rude, declaras,
Agrestes as estradas que percorro,
Nas sombras do que fomos; meu socorro...


43


Amor, no coração faz a morada,
Cevando em meu jardim, divinas rosas,
Tomando deste céu a luz dourada
Envolta em luas claras radiosas.

A vida, nos teus braços, renovada,
Reflete fantasias maviosas.
Sabendo transformar em liberdade
O sonho de viver, eternidade.

O tempo que transcorre, calmo e lento,
Em tramas que se querem, se desejam.
Trazendo para amantes, tanto alento,

Que os dias tão pacíficos, pois, sejam.
Rondando nossos sonhos, num momento,
Permite que as saídas se prevejam.


44

Amores, sofrimentos ,risos, gozos...
Em dias tão difíceis, solidão...
Noutros momentos somos andrajosos,
Mendigos que procuram por perdão...

Os dias sempre assim, tempestuosos
Maltratam um faminto coração
Que busca em mil amores belicosos
Caminhos bem distintos, solução.

Na dor da perda eterna sem ter sido,
Na dor de se saber somente resto.
Assim talvez, amor já não empresto

E sinto-me, por isso enfim vencido
Da dor deste desejo que é fatal;
A vida se passando... eu... filial...

45


Amores? Foram tantos que nem sei
Forrando todo o chão de folhas mortas.
Outonos que vivi, tantos passei
Abrindo e mal fechando velhas portas.

Das balas encontradas escapei.
As bocas que beijara; semi-tortas;
Nos mares tão distantes naufraguei,
Nos cais aonde, livre, não aportas.

Mas cortas os meus sonhos mais audazes
Mostrando em cada noite, luas, fases
E fazes deste sonho que eu quisera

Amor que se perdeu há tanto tempo.
Na boca desdentada da pantera,
Amar fora somente passatempo...


46

Amores do passado no presente
Refazem esperanças benfazejas.
Por mais que tanto tempo esteja ausente
A boca ainda a mesma que desejas.

Amar-te, com certeza, novamente,
No céu que em brilho farto inda azulejas.
O bem querer se faz eternamente
Nos gozos onde em festa relampejas.

Assim pensei querida, ao te encontrar,
Porém tu desmentiste as previsões,
Envolta por carinhos, tentações,

Não queres mais me beijo. O que falar?
Pois amor do passado sem prazer,
Não pode; no presente reviver...


47

Amores em cristais rememorados,
Nas ânsias dos desejos mais altivos.
Abraços de casais enamorados,
Mantendo os sentimentos sempre vivos...

Sem nuvens estes céus comemorando,
A noite que se criva em diamantes.
Assim como os casais, vou namorando,
Aquela que sonhei, sonho abrasante.

Deitada no meu colo, tão serena,
Desnuda e tão dolente, minha amada.
A noite de vazia fica plena,
A vida fica lúbrica, encantada;

Amada, como é bom estar contigo,
Amor que é sem juízo e sem castigo...


48


Amores eu guardei num mausoléu
Distante de quem fora antiga fonte
Dos sonhos que buscara, alçando ao céu,
Perdendo de repente um horizonte.

Os dias vão passando, vou ao léu,
Procuro com a vida alguma ponte,
Meu barco naufragado, de papel...
Espero uma manhã que logo aponte

E traga uma esperança que me leve.
Cansado de viver só da saudade,
Algum sorriso esboço, a luz se atreve

E deixa perceber que uma amizade
Trará ao fim de tudo, a claridade
Ao derreter enfim a fria neve...


49

Amores percorrendo belos astros
Num clímax absoluto- fantasia...
À noite procurando por teus rastros
Encontro luminoso e intenso dia.

Vagando pelo espaço em alabastros
Em alva tempestade, esta magia,
Erguendo da ilusão divinos mastros,
Além do que sonhara ou merecia

Invado os teus portais, adentro a sala,
Encontro-te deitada nos lençóis
Percebo então, razão de tantos sóis

E nesta magnitude que avassala
Entrego-me ao desejo sacrossanto,
Cubro-te com meu corpo feito em manto...


50


Amores percorrendo
Em sonhos rituais
E quero sempre mais
Do todo onde me emendo
Invisto neste adendo
Invado os temporais
E bebo em dias tais
Angústias que desvendo.
Esbarro no vazio
E sei do quanto fio
Meu passo em tal momento.
Diverso do que fora
A sorte sonhadora
Expõe quanto inda tento.



51

Amores que engalano? Uns arremedos
Jogados sem destino contra o vento.
O fogo da tristeza queima lento
E trama com certeza outros enredos...

Meus olhos vão vagando em mares ledos
Tentando disfarçar o sofrimento.
Em falsas emoções por vezes tento
Negar os meus temores, tantos medos...

Esvaído em fumaças de cigarros
Tomado tão somente por escarros
Meu dia não trará felicidade.

O drama interminável que me invade,
Roubando toda a cena não se esgota.
Alegria? Distante e tão remota...


52





Amores que me trazem seus segredos
São rios que caminham sem mistério.
A vida se tornou um refrigério
Á volta destes belos arvoredos...

Não guarde em teu peito tantos medos,
Apenas não se entregue sem critério,
Amor quando pretende ser mais sério,
Não teme nem a morte nem degredos...

Aceita as tempestades e mudanças
Depois de tudo certo das bonanças
Refaz os velhos ritos sem temor.

Depois de tantas lutas e disfarces
O mundo te permite ter mil faces.
O mundo te permite, não o amor!


53

Amores que não pesem feito cruzes
Durante a nossa andança pela Terra,
Enquanto a fantasia se descerra
Eu tento mergulhar em tuas luzes.
O olhar que em esperanças, amor cerra
Ao sonho mais sublime, tu conduzes.

Viver a plenitude de um momento
Sentir a ronda mansa da alegria.
Além do que pressinto ou mesmo invento,
O tempo de sonhar, vem e irradia,
Tomando em tanto brilho o pensamento,
Tornando a nossa vida menos fria.

E assim dois caminheiros da ventura,
Percorrem a amplidão feita em brandura...


54

Amores que se vão são folhas mortas,
Esquecidas no pátio, triste outono...
As luas que procuro morrem tortas,
A noite que me invade me traz sono...

Os sonhos que me destes, logo abortas,
Não resta-me senão esse abandono...
Venenos que produzes, cedo exportas,
As urzes do caminho, já detono...

As horas que se passam vou aquém
Dos muros dos lamentos que eu herdei.
Nos montes da esperança sem ninguém.

Tristezas retornando, ficarei...
Lá longe não escuto apito e trem.
És luz que esparramaste nesta grei.



55



Amores que semeias já granaram
No peito de quem sonha ser feliz.
As horas, nossos dias, já ganharam
O brilho que sonhara e sempre quis...

Amada não se cale, estou aqui.
Espero teu amor, fico na espreita.
De tantos sentimentos que vivi,
Apenas nosso amor, vida endireita.

Eu quero a primavera do sorriso
Que sabes quanto encanta o peito meu.
A volta dos teus pés ao paraíso,
Que em tua ausência, aos poucos, se perdeu...

Mas sei que não demoram meus desejos,
Eu sinto a primavera dos teus beijos...



56

Amores que solares nos dominam,
Mergulhos em nós mesmos, paz e glória
Palavras tão sensíveis alucinam
E mudam num momento nossa história

Nas horas mais gostosas desatinam
E bebem desta fonte que em vanglória
Decerto em maravilha descortinam
Trazendo em sonhos livres a vitória

Não deixe que se acabe a fantasia
Na orquestra dos problemas desta vida.
Vagando noite afora em alegria,

Ouvindo a sinfonia sensual
Achando de uma vez, nossa saída
No amor que revigora, sem igual...


57



Amores régios, sonhos desfiguro,
Mergulho no teu cárcere, marujo...
Marulhos me profanam, transfiguro.
Procuro minha cura, sou sabujo...

Rígidas cútis, mármore, Carrara.
Tertúlias e assembléias que freqüento;
Decidem olvidar a vida cara.
Feridas conferindo meu ungüento...

Repúdios lançarei lanças, adagas...
Distantes dos amores outras plagas...
Castiços olhos, ledos meus enganos...

Cobiço os óleos, medos e mortalhas,
As naves que navego são navalhas.
As travas que retiro, negam planos...


58


Amores são procuras tão intensas,
Na busca de repousos encontrar,
Precisam de coragens mais imensas,
São sedas que não podem se amassar.

Amores como véus que são rasgados
Vivendo nesta pura fantasia
Olhares com destinos bem tramados
Em todas as delícias dia a dia.

Amores explosivos em batalhas
Nas guerras divinais em tais embates
Acordam nunca param negam falhas
No fim mansas tréguas nos combates.

Já fazem tanto cio se encontrar,
Dos bichos, em plena arca a esperar!


59

Amores são tão raros quais bromélias
São poucas as floragens, mas viçosas...
Na durabilidade das camélias,
No fresco aroma, lembro-me de rosas...

Nos brilhos e belezas que te espelhas,
Encontro essas canções voluptuosas.
Nas dores que me trazes, tristes, velhas,
As noites-pesadelos, horrorosas...

Amor que traz beleza duma orquídea
Ao mesmo tempo dói, e me envenena...
No bote que prepara a dor ofídia,

Tantas vezes solidão, minha quimera...
Mesmo com suas tramas vale a pena,
Enfim, domesticar a doce fera!


60
Amores se mostrando sempre sábios
Não deixam que os sorrisos já se percam,
No rumo necessário em astrolábios
De toda a garantia sempre acercam,

Secando quaisquer mágoas que vierem,
Encanto sem igual se prometendo.
Do jeito e da maneira que quiserem
Em sonhos, solidões se convertendo.

Minha alma que em amor se desfalece
Encontra nos teus braços, seu abrigo,
Divina catedral entregue à prece
Estampa todo o amor que inda persigo.

Não vejo nossos rumos mais perdidos,
No amor que roça assim nossos sentidos...


61



Amores sem amores são terríveis,
São bárbaros destinos, mal secreto.
Os olhos sem amor são impassíveis.
O tempo vai passando tão discreto.

As horas solitárias são bizarras,
O sol vai escondido, tão nublado.
Quimeras demonstrando fortes garras,
O tempo de viver, acorrentado...

Eu sinto dilaceram-se meus sonhos,
Depredam meu futuro, velhas chagas.
Quem dera se tivessem mais risonhos,
Os mares que se encrespam, fortes vagas...

Amiga, pois eu sinto a mão mais forte,
Apoio com o qual encaro a morte!

62



Amores sem pecado e sem juízo
Depressa consumindo feito fogo
Transporta de repente ao paraíso
E nos mostra a delícia deste jogo....

Cada vez mais paixão já nos consome
E boca contra boca nos delira...
De tudo que tu tens eu tenho fome,
És fogo e com certeza sou a pira....

Eu quero me queimar em tua brasa
Sou chama e tu és o meu pavio...
Teu corpo desfrutando, estou em casa.
Não perco um só segundo de teu cio...

Portanto minha amada, por favor,
Vivamos os delírios deste amor!


63

Amores tão distantes do passado,
Em sonhos esquecidos, melodias...
Vivendo esta emoção de estar ao lado
Desta mulher, delícias, fantasias.

Percebo o quanto estou apaixonado
E quanto me envolvi, tuas magias...
Nas dores e tristezas, velhos Fados,
Ressurjo nos seus passos, alegrias...

Sentir suave toque, tua boca,
As mãos que se percorrem, maciez.
A voz enamorada fica rouca

E sinto-me feliz por ser só teu.
Amar-te é renascer toda vez
Que o teu amor reflete-se no meu...

64


Amores tão silvestres quão vorazes
Vivazes me transformam totalmente
Se mente não remete ao que me trazes
Nas fases mais difíceis sem serpente...

Não quero pantomima quero mimo,
Não quero a solidão, sim solidez.
Desejo tanto amor que em ti estimo
E rimo meu amor por sua vez...

Nos astros constelares calafrios
Vadios os sentidos perdem ar
Amar demais desvia nossos rios
Que esquecem de correr para outro mar...

Não quero teus amores mais serenos,
Recheie nosso caso com venenos...


65

Amores trazem mansos, loucos cios,
Cascatas cristalinas, lenços brancos,
Nas ancas os desejos mais vadios,
Sacanas, os sorrisos quase francos.

Remansos; vou alçando em pensamento
Momentos em delícia, seios fartos.
Tramamos delicado sentimento
Promessa renascendo em novos partos.

À parte dos meus erros, sigo em frente,
Caçando estas pegadas que encontrei,
O mundo vai mudando e, de repente,
Nos sonhos- teu castelo – eu viro rei.

Rastelos, constelares, lumes, cores,
Aramos os canteiros, colho flores...


66


Amores vagabundos, periféricos,
Unindo os frios braços já se aquecem
Os carros buzinando são histéricos
Instintos comandantes se obedecem.
Distantes dos amores mais homéricos,
Mas ricos em desejos vão e tecem

Diamantina opereta feita em gozo,
Bebendo das sarjetas, aguardentes,
Emanam no querer fantasioso
As pedras das calçadas, quais dementes
As pedras de crack, mundo caprichoso
Cravando nos cadáveres seus dentes.

Vagando sem destino, tantas ruas,
Premeditam viagens, vão às luas...


67





Amores vagabundos
São párias sentimentos
Tomando os pensamentos
Em dias nauseabundos
Os olhos mais profundos
Vagando alheamentos
Seguindo contra os ventos
Invisto em novos mundos.
Acasos entre quedas
E quando assim me enredas
A noite se aproxima
Regendo a tempestade
Aonde o nada brade
Moldando atroz o clima.



68

Amores vagos, cegos cavernosos...
Desértica miragem, num oásis...
Serpenteiam venais, vis, venenosos...
Destroem minhas tolas, frágeis bases.

Segredos que abortei, miraculosos,
A lua se transmuda em tantas fases...
Amores violentos, belicosos...
Sem nada do que pedes, nada fazes,

Que pretendes com tantas falsidades?
Emblemaste vertigens e polêmicas.
Não demonstraste tuas qualidades...

Virtudes escondeste, eram anêmicas.
Amores que me deste, restam trapos...
Das camas que dormimos, nem fiapos...


69


Amores vêm e vão; em piracemas,
Subindo as cachoeiras da esperança.
Felicidade e dor a vida alcança
Resolve enquanto cria mais problemas.

Enquanto tudo vives, nada temas,
Apenas se entregar à contradança;
Por mais que a noite chegue calma e mansa,
Amor em luz diversa muda os temas.

Enquanto o quanto tenho for mais forte,
Participemos logo desta festa.
Depois, a vida chega e traz o corte

Do todo que vivemos, pouco resta.
Mergulhe então sabendo disso tudo.
Ao mesmo tempo sonho e desiludo..


70






Amores? Quando os levo
Ainda dentro em mim,
As flores do jardim
Nesta ilusão eu cevo
E sei do quanto é sevo
E nisto desde o fim
Marcando o medo enfim,
Ao longe não me atrevo.
E sinto as desventuras
Aonde me asseguras
Do medo que virá.
Num virtual engano
Aos poucos se me dano
Percebo-o desde já.



71


Amortalhado amor, pregando peça
Num mambo o meu molambo coração
Às vezes devagar, noutra se apressa
E traz por resultado a negação.

Do mar que outrora fora serenado,
Apenas tempestade, o que restou.
Vibrando o sonho um dia desfraldado,
Marcado por insânia ainda estou,

Da lua se esmerando em raios claros,
A maresia faz-se mais presente.
Momentos mais felizes são tão raros,
Tristeza normalmente é o que se sente.

Assim, entre retalhos e cetins,
Eu tento ainda crer nos teus jardins.


72


Amortalhado sonho que carrego,
Vestindo a falsa luz de um vaga-lume,
Em meio à escuridão, qual fora um cego,
A solidão retorna, por costume.

Aos sonhos e delírios, eu me entrego,
Canteiro se perdendo sem perfume,
Por mares tão distantes, se navego,
A morte num naufrágio, num queixume...

Areia sob os pés é movediça,
Apenas um abrolho, a vida viça,
Palhaço em picadeiros infinitos...

Serpentes vão lambendo as minhas pernas,
As dores se tornando, assim, eternas,
Ninguém ouve os lamentos, ledos gritos...


73

Anárquicas carícias, fogo e lava,
Presença delicada e tão fugaz
Molejo sedutor quando se faz
Minha alma se tornando tua escrava.

Há tempos que teu corpo me excitava
Formando um maremoto enquanto traz
A chama inebriante que; voraz,
Aos poucos toda a cena assim tomava.

E o verbo se fez luz em nossa cama,
E quando este desejo se proclama
O tanto que me dás; sagra infinitos.

Apaixonadamente; sou tão teu
Que a vida sem te ter já se perdeu
Em meio a tempestades, ecos, gritos...



74


Ancoro o coração no atracadouro
Que é feito nos teus braços tão serenos,
Teus olhos, dois faróis, claros morenos,
Promessa de um carinho duradouro.

Enquanto nos teus sóis eu já me douro
Percebo da alegria seus acenos,
Encontro estes momentos belos, plenos,
Certeza de saber raro tesouro.

Teu canto, uma sirena que extasia,
Tramando a perfeição na poesia
Divina, sensual e soberana.

As ondas deste mar, sertão em flor,
Doces ritos magníficos de um amor
Que, intenso nos domina e me engalana...


75


Andamos passo a passo, vida afora,
Compasso de emoções harmonioso.
A sorte tão benquista não demora
E traz em nossa noite imenso gozo.

Dançando em minha cama, revigora
O gosto de viver, corpo fogoso,
Se chove ou se não chove mais lá fora,
Importa que este clima é mais gostoso..

Acende o coração que, sensual,
Batendo em descompasso faz loucura,
Calores num desejo tropical

De ter a tua boca junto a minha,
Quem sabe a solidão então se cura,
E a chuva venha sempre bem mansinha...



76


Andamos pelas ruas, espantalhos,
Tão rotos quanto imundos nossos trajes.
Nos passos dois cadáveres mais falhos
Qual fossemos a todos mil ultrajes.

Esgotos ambulantes, imbecis,
Amigos tão leais e vagabundos.
Horrendos, bestiais, canalhas, vis.
Partícipes de sonhos mais imundos.

Rasgamos nossas peles, nos expomos.
Mulheres que encontramos, meretrizes,
Da vida em podridão que agora somos,
Deixando para trás as cicatrizes

Jogados pelas ruas, simples párias,
Nas pontas das navalhas temerárias..

77

Andamos solitários pela vida...
Nos nossos pensamentos, sem ninguém
Que possa acompanhar nossa partida
Ao mundo que talvez ou mal ou bem

Traga-nos toda sorte decidida.
Depois da velha curva, o quê que tem?
Será porta de entrada ou despedida?
Só sei que a solidão, decerto, vem...

Quando esse sentimento é solidário,
Encontra noutro ser um companheiro
O que sempre se fora temerário

Passa a ser bem mais fácil. Na verdade
Juntando dois espelhos num inteiro,
Amigo; já veremos claridade...


78


Andamos solitários
Vencendo os temporais
E nestes outros tais
Ditames de corsários
E tanto necessários
Momentos descontrais
Vagando e sei que trais
Os sonhos solidários
Marcando em tom venal
A sorte noutro astral
Pudesse caminhar
E sei que nada disso
Traduz onde eu cobiço
Além de algum luar.


79

Andamos sem saber
Aonde poderia
Haver um novo dia
Ou claro amanhecer
A sorte a se perder
Gerando esta agonia
Invés desta alegria,
Eu bebo o desprazer
E o canto se presume
Além do vago ardume
Da sorte enclausurada
Depois de certo impasse
O todo que se trace
Somente dita o nada.



80


Andando em branca areia, beijo o mar
Persigo uma sereia encantadora
Um canto extasiante a me encontrar
Palavra que se faz reveladora.
Nadando imensa praia devagar
Preciso te encontrar, sereia, agora,

Vestida de euforia em raro tom
Cantando a mais sonora melodia
Sereia de encantar conhece o dom
E doma o coração com tal magia
Que a vida, reconhece que isto é bom
E mais do que pensei que merecia...

Mergulho sem pensar atrás de ti,
Eternidade, então, eu descobri...


81


Andando lado a lado se pressente
Sabores preciosos dia-a-dia
Olhando para a lua, de repente,
Percebo imensa força em alegria
O quanto que se tem frequentemente
Traduz em nossa vida a fantasia.

Porém a solidão devora tudo,
Não deixa restar nada do que somos,
Calando o coração, eu fico mudo,
A fruta que não nega os doces gomos
Mostrando este caminho em que me iludo
Esconde na verdade o que já fomos.

Mas quando uma amizade se faz plena,
A vida vai em paz, segue serena...


82

Andando o tempo inteiro aqui, comigo,
Aquele que é cordeiro e salvador,
Não tenho mais temor, venço o perigo,
Pois sinto o derradeiro e santo amor.

É bom poder dizer: divino amigo,
Estou contigo, inteiro ao teu dispor
Felicidade plena que eu persigo
Eu canto tão somente em teu louvor.

Quem veio pra ser Rei, se deu aos pobres,
Vendido por alguns, míseros cobres,
Sofreu e padeceu terror cruel,

Depois de ser entregue e torturado,
Em um momento místico e sagrado
Ergueu-se, se elevando, alçou o Céu...



83


Andando par a par com a emoção
Almejo um canto livre que permita
À vida a glória plena na canção
Ao lapidar amor, rara pepita.

Acordes de insensato coração
Em som que uma alegria já repita
Causando a tão sublime sensação
Do brilho que um olhar manso reflita.

Caminho libertário feito em glória
Nos louros benfazejos da vitória
Um rastro de beleza e claridade.

Pois Deus, em Sua imagem soberana
Ao vir aqui, conosco em forma humana
Ensinou-nos amar em amizade...


84

Andando passo a passo, estou contigo
E venço um medo arcaico, envelhecido.
Toando a fantasia num sentido
Diverso do que fora o que persigo,

Dizendo o que deveras nunca digo
Eu vejo o meu futuro descabido.
Sorriso por ventura desabrido
Não mostra o quanto eu quero, tão antigo.

Partimos para o nada, o tempo inteiro,
Apenas não vou ser mais corriqueiro,
Querendo a tão sublime variedade

Não sentes o que eu sinto e nem percebes,
No jeito como miras estas sebes,
Recebo deste olhar, felicidade.


85


Andando pelas ruas da cidade
Encontro um descaminho a cada esquina,
Nos bêbados alguma sanidade
Bem mais do que este amor que me domina,

A par do que buscara na verdade
O medo de viver cedo alucina,
Sarjetas espelhando a falsidade
Formada nos olhares da menina.

Nas danças, contradanças, contra-sensos,
Em conta-gotas bebo este prazer.
Morrendo em dias frios, tristes, tensos,

Retalhos; aprendi a recolher.
Quem sabe alguma amiga dê a mão
Mudando, de repente, este refrão...

86


Andando pelas ruas e bordéis
Bordando mil estrelas neste chão,
Ao mesmo tempo bebo os carrosséis
De nuvens passeando na amplidão.

Querendo com certeza doces méis
Eu vejo tão somente a solidão,
Meus olhos ao passado são fiéis
Fiando com tristeza a negação.

Apenas o regalo de poder
Sentir algum perfume que persiste,
Do quanto te adorei, agora triste

Não vejo mais motivos pra viver.
Do jeito que se quer a fantasia,
Sonego, temerário, a poesia...



87


Andando pelas ruas sem ninguém,
Os pés já bem cansados do caminho.
Vivendo sem ter rumo e tão sozinho,
Espero ao fim da vida um novo bem...

Bem sei que talvez nunca mais alguém
Chegará numa noite, de mansinho,
Trazendo com seus braços, um carinho.
Mostrando quanto bem que a vida tem...

As lágrimas que choro, nunca secam,
As mãos amaldiçoam tanto e pecam
Ofendendo o Senhor e meu destino...

Decerto nada tenho em minha vida,
A não ser tão somente despedida
E os versos, onde sempre me alucino...


88


Andando pelas ruas, vilarejos,
Encontro com teus olhos dispersivos...
Asfáltica saudade, dos teus beijos,
Delícias que se foram... Corrosivos,

Mortais e virulentos... Nos lampejos
Mais brilhantes, cortavam... Decisivos
Momentos onde tinhas meus desejos
Embutidos nos passos teus... Passivos,

Meus olhos que te viram prosseguir
Jamais conseguirão te esquecer, Lara...
A fera que explodia não se cala...

Andando pelas ruas, tua sala,
Pergunto-me: Por que me foste cara?
Se nunca foste minha, te perdi?


89

Andando pelas sendas arenosas
A cada novo passo me acenando,
Embora em cada curva perigosa,
Em loucas sensações, já me incitando,

Amor numa alma pura e generosa,
Aos poucos vai mais forte rebrilhando,
A natureza segue caprichosa
Na chama de um amor vai nos guiando.

No passo deste amor, ando ligeiro,
De todos os meus sonhos, o primeiro.
Mudando logo o rumo desta história.

Nas lutas mais cruéis o amor não falha,
E vence as intempéries, na batalha
Apenas num amor se encontra a glória

90

Andando pelas sendas
Diversas da ilusão
Os dias sei que vão
Aquém do que desvendas
E quando a luz acendas
Marcando imprecisão
Nos olhos desde então
As sortes ditam lendas
Matando a fantasia
Em pura hipocrisia
Já não percebo a paz,
E o quanto poderia
Viver esta alegria
Agora tanto faz.



91


Andando pelas sendas em ais convulsos
Discursos são vazios nada dizem,
Vibrando em sentimentos mais avulsos
Não temos mais amores que divisem.

Meus olhos tão vazios entristecem
E tecem esperanças desse nada
Aos poucos, tanta dor os desmerecem
E a vida vai passando abalroada.

Deitado em minha cama sem ninguém
Vadio coração vive em tocaia.
Mas sabe que morrendo sem ter bem,
Afoga sem sereia em plena praia.

Depois de tantos anos aprendi.
Amiga como é bom te ter aqui!


92



Andando pelos bares outra vez
Dormindo em plena praça, embriagado.
Sorrindo da total insensatez
Apenas o vazio andando ao lado.

Às vezes me acordando em bofetões
Quem sabe solavancos impropérios,
Que danem-se, liberto e sem patrões
Não faço sequer parte dos impérios

Daqueles que me olhando de viés
Ou nojo, viram logo os limpos rostos.
As marcas dos grilhões presos aos pés,
Os medos se mostrando mais expostos.

Mal sabem estes donos da cidade
Que assim eu conheci felicidade...


93



Andando pelos cais em portos, praias.
Nas praças e nos bares, pobres putas.
Levantam e demonstram sob as saias
Em sensações vazias, tensas lutas.

Viver desta desdita dita amor
Rolar em noites, álcool, cocaína.
Vendida a carne em pútrido vigor
Nos olhos estampado: uma menina.

Resgates necessários, caos, michês,
Travecos, quengas, models, companhia
Envoltas em mistérios e clichês

A faca, o riso, o gozo disfarçado.
Depois, ao gargalhar falsa alegria,
O gosto deste beijo ensangüentado...


94


Andando sem destino mar e lua.
Bebendo em cada fonte de ilusão
Salgando uma esperança bem mais crua
Envolto em loucas asas da paixão,

Minha alma te procura e assim flutua,
Batendo sem juízo, o coração,
Querendo tua pele, exposta e nua
Amando em nossa cama, rede ou chão.

Portos que encontrei; felicidade.
Nos meus sonhos vermelhos de prazer
A busca manifesta em claridade

Vestido de luar, amor e mar.
Do corpo emoldurado quero ter
O sorriso e a alegria: te encontrar...


95


Andando por estrada pedregosa
E dura, onde encontrara as tuas marcas
Deixadas num caminho, olor de rosa
Mostrando que, na vida, há flores parcas.

Bem sabes quanto é muito dolorosa
A sorte de quem perde vez nas arcas
Diluvianas sempre tenebrosas.
Quero ser timoneiro destas barcas.

Seguindo o teu caminho com cuidado
De quem, na vida, encontra tal tesouro
E sabe como deve ser guardado.

Tu és a raridade esmeraldina
Esculpida em cinzel banhado em ouro,
Por Deus, em carne humana, bela e fina...


96

Andando por caminhos mais desertos,
Meus olhos tão cansados nem olhavam,
Dos passos que seguiam; bem incertos,
Romeiros da esperança nem paravam.
Dos medos que são sonhos descobertos,
Nem mesmo um só segundo; perguntavam

Por onde caminhavam mais fagueiras
Além de todo a serra, monte e prado,
As brisas que bem sei são forasteiras,
Passando pelo amor, monte elevado
Nas selvas de carvalhos e palmeiras,
O céu que não querias estrelado...

Falavas deste canto em amizade,
Resíduo que matou felicidade...



97


Andando pelos campos mais marcados
Por passos que me dão ansiedade,
Vivendo nossos sonhos malfadados,
Aguardo essas agruras da saudade...

O canto da quimera em meu receio,
Às vezes se mostrando bem mais belo.
Amor que esconde amores em seu seio
Os Amores que amor por ti, revelo.

Não sinto mais o medo nem a mágoa
Sabendo que te tenho mais por perto,
Os olhos não derramam pingo d’água
Parecem que se secam, num deserto...

Nos campos dos amores, velhas dores,
Morrendo nos jardins, em nossas flores...


98


Andando pelos reinos já faz tempo,
Ao lado de mulher maravilhosa.
Achando no caminho um contratempo,
Ofereceu irmã, bela e formosa,
Ao rei que com perícia, em passatempo,
Desfruta da mulher enquanto goza.

Depois de ter passado mais uns dias,
Em outro reino mostra a mesma sanha
Sabendo que teria em regalias
Outra viagem feita onde só ganha.
Porém um anjo vendo estas folias,
Ao rei anunciou esta artimanha...

Mentira? Não senhor! Meia verdade.
Somente têm igual paternidade...


99

Andando sem teus braços, me perdendo...
As noites se transformam em suplícios...
O tempo vai passando e, nada tendo,
Os dias, verdadeiros precipícios...

Não vejo nada além duma ilusão
Marcada dentro d’alma a ferro e fogo.
Arrebenta sem demora o coração!
E tudo se perdendo... Volta logo!

Quem dera se soubesses como estou,
Vasculho teu sorriso em cada canto.
Se fomos, quase nada me restou...
Procuro ter na vida, um novo encanto!

À noite, tanto tempo, sem revê-la
Vou como quem perdeu a sua estrela..


2700


Andando sem destino por aí
Aberto o coração, sem documento.
O sonho como guia, num momento
Percebo que cheguei, enfim a ti.

Loucuras e prazeres; conheci
Também colecionei tanto tormento,
Poeira finalmente toma assento
E encontro, nos sonhos, concebi.

Vivendo tão somente um grande amor,
Não quero, num repente, novo rumo,
Os erros cometidos, eu assumo,

Mas sei que sou, enfim, um vencedor,
Sem tréguas nem descanso hoje eu sei
Que tenho em ti aquilo que sonhei...

2701


Andando sobre as nuvens, boca e beijo,
Cultuo essa beleza rara e santa.
Sob a blusa... Teus seios... Antevejo
A viagem que alucina e que me encanta...

Sentindo o teu arfar me convidando
Ao nosso mais divino desenlace,
Me vejo, calmamente desnudando
E peço com carinho que me abrace.

E tudo se transcorre, corre a noite;
Em pétalas aberto este botão.
Meu mundo nos teus mares... Vem, acoite
E guarde sem temores, a emoção

De sermos muito mais que simples mentes
Unidos pelos corpos... Inclementes...


2

Andando tão incerto pelas ruas,
Vagando neste mundo duro e frio.
Correndo pelas noites, caço luas,
E, sem motivos, tanto choro e rio...

Às vezes já me pego, assim, cantando;
Por outras, emoções me tomam tudo.
Vivendo sem esperas, esperando.
Ao mesmo tempo enorme e tão miúdo.

Voando em pleno solo, caio aos céus.
Navego tantos mares, sem saveiro.
Exponho minha faca, arranco os véus.
Mergulho das montanhas, vou inteiro...

Meus versos; vou jorrando aos borbotões,
Nos braços desmedidos das paixões...




3



Andara certo tempo, qual perdida,
Sem rumo, sem caminhos, sem seu norte.
Irmã dos sofrimentos, sem a sorte
De quem já procurou amor na vida.

Nas brumas de seus olhos, despedida,
Destino mais cruel, profundo corte.
Espera calmamente pela morte,
Uma alma já cansada, sem saída...

Porém um olho mágico se vê
Por trás da porta sempre mal fechada,
Permite-se, com isso, que se crê

No renascer da vida, iluminada,
E surpreendentemente uma emoção
Revela-se nos olhos da paixão...


4



Andar por tanto tempo sem destino,
Guardando no meu peito este segredo.
Morrendo pouco a pouco, desde cedo.
Sabendo que no fim, não extermino

A dor desta vontade de um menino
Que teve em cada queda, um mundo ledo, O gosto da saudade: amaro, azedo,
Mascarado em sorriso quase fino.

Se tanto me amofino e nada faço,
A culpa pode ser somente minha?
Se trôpego mal ando e me embaraço

Talvez tenha por sorte, na verdade,
O que resta de mim, em ti se aninha
Amiga. O que me resta. T’a lealdade...


5

Andar sempre ao teu lado, uma fortuna
Que Deus me reservou dádiva santa.
Saber que em ti achei amor, ternura
Mal sabes quanto enfim, isso me encanta.

Meu verso então seria tão vazio.
Somente de lamentos e tristeza.
Porém no mundo belo que assim crio
Encontro mil motivos pra certeza

De ser agora um homem mais risonho,
Cantando nos poemas meu afeto.
Viver na realidade um raro sonho,

Seguindo este caminho mais dileto
Faz parte da alegria em que me exponho,
Por isso tanto amor que te proponho...


6


Andava pelas ruas sem destino,
Bem sei que nada tinha nesse mundo...
Perdido vou seguindo e nem me atino
Em tanto sofrimento, mar profundo...

Chegaste prometendo a salvação
Nos braços e nos beijos me entreguei...
Depois de tanto tempo de ilusão,
Em vão eu percebi o quanto errei...

Querias simplesmente uma vingança
De um bem que já se foi e não voltou.
O que fora semente de esperança
Por ter faltado amor, logo gorou...

Amada mesmo assim eu te agradeço!
Me fizeste mais feliz do que mereço!


7

Andarei por ti todos os caminhos,
Nas aldeias e nos campos, estrelares...
Meus olhos vagabundos pedem ninhos...
As pernas fatigadas querem lares.

Na lareira aquecendo dores, vinhos.
Pela janela aberta, mil luares.
Serenatas distantes, plangem pinhos...
Corcel dos meus amores nos altares...

Vasculho pelos ares, não estás,
Teu canto se repete em minha mente,
Meus sentidos vazios, peço paz.

Ando desfiladeiro, cordilheira;
O mundo inebriaga num instante
Vontade de voar a terra inteira!


8


Andara tanto tempo em luz sombria
Invernando esta dor dentro de mim.
Somente um tristeza em agonia
Matando pouco a pouco, tudo enfim...

Quem dera se soubesse onde alegria
Escondera um sorriso, mesmo assim
Esperança voltava noite e dia
Anunciando uma glória. Bem no fim...

Ao te ver, percebi que estava ali
A total redenção de minha dores,
Depois de tanto tempo que perdi

Procurando nos bares, luas, trilhas...
Nos jardins infinitos, tantas flores,
Mais que todas, sozinha amor tu brilhas!


9

Andava por aí, a passo solto
Buscando perceber por que este vento
Deixando o meu cabelo mais revolto,
Causava tanto mal. Isso eu lamento.
Mas saiba que encontrei, nisso me escolto,
Belezas em poemas, sentimento.

Marujo que não sabe como é o mar?
Lavrador que não viu jamais enxada?
Poeta que não sabe o que é amar?
Desculpa, meu amor; não tá com nada.
Cegueira não percebe que o luar
Já deixa a terra toda iluminada...

Mas volto pros teus braços depois disso.
Pro nosso mundo brega, meu cortiço..



10


Andava por aí,
Sem mesmo perceber
O quanto em desprazer
Deveras percebi
E quando chego a ti
O todo do meu ser
Esvai e no querer
O tanto resumi
Vagando sem destino
Enquanto me fascino
Presumo este final
O ocaso se aproxima
Mudando todo o clima
Traduz um ritual.


11



Andava semi-nua a deusa maviosa,
Por onde ela passava um rastro de beleza.
Estrela salpicava o andar desta princesa.
O rastro que deixava olor de bela rosa...

Eu, pobre aventureiro, em vida mansa e prosa,
Ao ver a tal princesa, a dama de nobreza
Rara em desfile tal, passei a ter certeza,
A vida, ato divino explode venturosa...

Bem sei que não consigo imaginar a cena,
Quando Deus luminoso esculpiu a pequena
Obra prima que passa enfeitiçando a rua.

Só posso agradecer por estar vivo então,
Aplaudindo de pé, um pobre coração,
Por Paula enlouquecido, a deusa semi-nua!

12



Andávamos libertos pelas ruas,
Dois párias, vagabundos, cães sarnentos
As carnes quase expostas, semi-nuas
Os olhos procurando os alimentos.

À noite embriagados, sob as luas
Do amor e do desejo mais sedentos.
Nas asas das loucuras se flutuas
Verás toda a delícia destes ventos.

Jornais são nossas fronhas, travesseiros
Lençóis, toda a nudez sem ter castigos.
Nas valas e nas fendas bons abrigos;

Larápios, sem vergonhas, trapaceiros,
A vida quase morte por um triz,
E a puta sensação de ser feliz!

13

Andorinha perdida faz verão?
As cores que roubei de um falso arco íris.
Num prisma repetido na amplidão,
A refração impede que me atires.

As forças se refletem no perdão.
Nos sonhos mais felizes, eras Íris,
Mas tudo não passou de uma ilusão.
Meus olhos embotados, vagas íris.

Solução pode ser, rima jamais...
Andorinha não pode mais voar...
Suas asas cortadas, sem Raimundo...

Mundo, mundo, me inundo e sou capaz,
Andorinha não tem onde chegar!
Como é vasto e cruel nefasto mundo!

14

Ando com a macaca ultimamente,
Não quero e nem suporto mais frescuras
Palavras que tu dizes tão obscuras
Confundem totalmente a minha mente.

Enquanto o amor que dizes se desmente
Por falta de carinhos e ternuras,
As horas do teu lado são escuras,
As juras que tu fazes? Francamente...

Soçobra o meu navio no teu mar,
A gente faz de conta. Fingimento.
O amor que se entregou por um momento

Teimando porém prestes a acabar
Não sabe decifrar mais os sinais,
Que deixas nos caminhos. Infernais...


15


Andei por essa vida qual sonâmbulo!
Verti, da realidade, todo o senso...
Sorvi da crueldade esse preâmbulo
A transmudar nossa vida em imenso

Deserto. Nos cigarros, caranguejo;
Nessas minhas manhãs inconcebíveis,
Restando tão somente um vil desejo:
Penetrar teus desertos mais temíveis!

Andei por essa vida sem remédio,
As dores tão constantes causam tédio...
As fúnebres lembranças, solidão...

Tetânicos espasmos, coração...
Nem a fé acompanha mais meus passos...
A morte, sorridente, mostra os braços!


16

Andei por certo triste, esperava teu perdão...
A chuva maltratando esse pobre andarilho...
No peito disparando um louco coração...
As roupas te cobrindo, encontro este espartilho...

A lua vai brilhando adoça esta amplidão...
Quem fora doce mãe, procura pelo filho...
Luar que sempre brilha, inteiro, no sertão..
A vida procurando, encontra um novo trilho.

As hortas que plantaste, as verduras morreram...
Nas hordas que levaste os medos sobrevivem...
A noite que nevara, os medos percorreram...

Andei por teu caminho, estrelas não brilhavam...
Nos beijos que te dei, destas tristezas vivem.
Na lua que surgira, embalde procuravam...



17

Andei distantes vales e montanhas
Nas sombras de um passado doloroso.
Sentindo uma agonia nas entranhas
Perdendo uma esperança, morto o gozo
A vida foi por sendas tão estranhas,
Sem ter um só momento mais gostoso.

Um deserto terrível parecia
Sem fim, somente areia em tempestade.
Calada toda a sorte e fantasia,
Distante de saber felicidade,
Meu tempo se passando em agonia,
Vivendo na cruel insaciedade.

Vieste redentora amada amante,
Meu mundo renasceu no mesmo instante

18


“Andei cantando a minha fantasia”
Na busca deste amor puro e sincero
Que sempre me demonstra a poesia
De ter no teu amor tudo o que quero...

Marcando minha vida em tua vida,
Buscando a solução destes dilemas,
Sabendo que terei sem despedida,
Os nossos beijos, tantos, como lemas.

Eu vi o teu retrato no meu sonho,
Eu vi a tua face bem marcada,
Eu vi o nosso mundo mais risonho,
Eu vi o nosso canto livre, amada...

Espero que tu venhas, de repente
Trazendo todo amor, que se pressente...



19


Andávamos nos vales procurando,
Em meio a tantas urzes, brancos lírios...
O céu como escultura, nos levando,
Envoltos em carícias e delírios...

O vento que soprava manso, brando,
Em teus olhos belezas qual colírios,
Buscava, sem saber que estava amando.
A vida não deixava crer martírios...

Montanhas e seus cumes azulados,
O verde desses campos e esperanças...
Beleza sem igual, divinos prados.

Deus, com toda certeza em orações
Guardou a nossa imagem nas lembranças...
Num hino tão divino aos corações!

20

Andávamos nas noites, cães vadios,
Rolando entre as esquinas e os motéis,
Trilhando sem limites nossos cios
Em risos, gozos, sacros e cruéis.

Animalescamente unindo os fios
Arcanjos indecentes, mas fiéis,
De pedra, os travesseiros mais macios,
Orgasmos desfrutados, sangue e méis...

Nossas noites profanas, redentoras,
Nossos corpos desnudos pelas ruas,
Entranhando luares e velando,

Fatídicas ternuras pecadoras,
Nos banquetes carnais, as bocas cruas,
Cães vadios nas noites; se entregando...




21

Angelical formato majestoso
Que sempre me iludiu, agora vejo.
Foram tantos momentos de desejo
E jamais esperava pelo gozo

De poder me sentir tão orgulhoso
Por roubar desta deusa um simples beijo!
Lembrando deste fato então versejo.
Meu mundo não se mostra tenebroso...

Nos céus que te procuro nunca estás,
Na mão que me acarinha mais audaz
Eu sinto essa presença que inebria...

Embora me pareça algum delírio
Em tuas asas alvas, puro lírio,
Mergulho na infinita fantasia!


22



Angelical formato
De um sonho sem igual
Ousando em ritual
Aonde desacato
O medo e assim resgato
Da sorte o triunfal
Momento menos mal
Enquanto a paz constato,
Vencendo os meus temores
Seguindo aonde fores
Encontro a sorte enfim,
E vago sem sentido
O quanto decidido
Amor dentro de mim.


23


Anoiteceu, vibra um sentimento
Que faz com que me perca sem temer.
Avanço como um louco, o pensamento
Colado no teu corpo, no teu ser...

Te Beijando e também sendo beijado
Suaves os carinhos sem ter medo.
O gosto e a delícia do pecado
Inventam num segundo outro segredo.

Amor me transportando, tonto, ao céu,
Arranca tua roupa e nada fala,
A noite te prometo, seu corcel,
Será da mais sublime e nobre gala.

Os sonhos que sonhamos neste quarto,
Amor de tanto amor, dormindo farto...


24


Anjo noturno em asas deslumbrantes,
Andando nos meus sonhos, brancas ruas.
Os olhos, dois perfeitos diamantes,
As asas descobertas, carnes nuas.

Sementes espalhadas em rompantes.
Um anjo que me entorna bocas cruas,
Em sombras tão bonitas, radiantes...
Mulher que angelical, assim flutuas...

Virando-te do avesso, sexo e gozo,
Na dor transcendental de ser assim
Desejo que se fez voluptuoso,

Ardendo em sonhos loucos,sede e brasa.
Segredo meus anseios, cedo ao sim.
Desfruto de teu corpo, minha casa...


25


Angelical presença nos meus sonhos;
Mulher que me fascina totalmente.
Por ti, tantos momentos mais risonhos,
Penetram coração, sentidos, mente...

Quem dera enveredar tantos caminhos,
Nas rendas e nas sendas, sedas, mansas...
Vivendo nosso mundo em descaminhos,
Trazendo em nossas margens, luas, danças...

Eu quero teu amor, não mais duvides;
Aos poucos, sentimentos aumentando.
Futuro em tuas mãos, isso decides,
E saibas que estarei sempre te amando...

Vencendo minhas dores do passado;
Só quero te encontrar aqui, do lado...



26


Aniversariante, eu te desejo
Querida, a festa plena desta vida.
Futuro mais feliz; quero e prevejo
Deixando qualquer dor em despedida.

Um mundo mais gentil; decerto almejo
Perceba o quanto, amiga, és tão querida,
Aproveitando então o feliz ensejo
Minha alma; eu vou te expondo desabrida.

Por mais que seja dura uma batalha
Não deixe esmorecer tua vontade.
Uma esperança vem e te agasalha

Vencendo com louvor a tempestade.
Que o brilho desta data se repita
E a luz desta esperança te reflita.


27




Aniquilado sonho expondo uma alma
Herética manhã não disse nada.
Um beijo de mulher enamorada
Às vezes tumultua ou mais me acalma.

A fauna que desfila na janela,
Mecânicas diversas espalhando,
Queria ter um sol ao menos brando
Que a velha poesia me revela.

Selando o meu cavalo, vou à toa,
Porém minha alma tola ainda voa
Atrás de um velho sonho aniquilado.

Carcaças dos meus cantos são canhestras
Palavras que tentei julgando destras
Escorrem dos meus dedos, engelhados...


28

Angústia! O pensamento não disfarça
E esvai toda alegria que encontrara.
A sorte prometendo outra trapaça
Mostra a felicidade longe. Rara...

Uma ilusão que sobra já se esgarça
Qual fora um porto triste em vida amara,
A vida parecendo dura farsa
Abrindo no meu peito funda escara...

A solidão voraz que se propaga
Deixando tão somente um sonho atroz.
Meu barco se perdendo, em forte vaga,

Silêncio vai tomando a minha voz.
A luz que iluminava enfim se apaga,
E a dor vai invadindo, mais veloz...


29


Angústia se transforma em meu remédio...
No frio em que profanas, sem saber...
A noite me permite teu assédio,
O mundo que vivemos, vai morrer...

Em troca me darás terrível tédio...
A chave me levaste, sem querer...
Saltando da janela deste prédio,
Num cântico, em promessas quero crer...

Os passos doloridos da existência
Vontade de gritar, chamar teu nome...
Nas raias da loucura em vil demência.

O vento que trouxeste, congelou.
A noite que chegava, agora some.
Errante procurando, quem eu sou?


30



Angústia e solidão, num triste adeus
A vida não devia ser assim.
A seca vai chegando dentro em mim
Buscando cada noite os olhos teus.

O amor que se perdeu, sonhos ateus
Imersos em vermute, vodcas e gim
Trazendo desde agora amargo fim,
Matando os sentimentos, tolos, meus.

Virás noutro momento, assim espero,
Adocicando um dia frio e fero
Qual fênix renascendo em brilho farto

Vazios que legaste como herança,
Apenas me restando uma esperança
Dourando a escuridão deste meu quarto...


31


Anseio por carinhos e atenção,
Um beijo tão somente me bastava.
Ouvindo o que me diz o coração
Queria arrebentar porteira e trava

Tomando assim em minha direção,
A vida que esperança já me dava,
Quem sabe assim teria solução
A dor que em minhas lágrimas se lava.

Acordo solitário e de manhã
O sol da fantasia se escondeu.
O gosto desejoso da maçã

Há tempos esqueci, sigo distante
Do amor que um dia crera ser só meu
E morre infelizmente a cada instante...



32


Anoto num caderno os desenganos,
Que a vida já me trouxe, esteja certa
Porteira quando esteve sempre aberta,
Negava os meus caminhos, velhos planos.

Os erros cometidos são humanos,
A morte se aproxima em hora incerta,
Enquanto a poesia me deserta
Escondo as ilusões em falsos panos.

Matar o sentimento, ser assim
A flor que se despede do jardim,
O barco que sem âncora quer cais.

Ouvindo a voz suave da manhã,
Percebo a minha história amarga e vã
Qual corvo repetindo: nunca mais


33


Anônima emoção que entorpecendo,
Esquiva-se das luzes. Jaz na treva
Inerente. Amargura me envolvendo,
Ao meu retrato podre já me leva...

Carcaça que na vida fui tecendo
Carcomida imagem que inda neva
Na especular miséria em que me vendo
A dor que me acompanha, assim, longeva.

Satânica vontade de esganar,
Rasgar o meu cadáver, trucidar,
A carne decomposta, inútil, pálida...

Das moscas e das larvas, companheiras,
As bocas que me escarram das bicheiras,
Aguardam em torpor, uma crisálida...


34



Anseio tua vinda
Estrela matinal
Alçando outro degrau
A noite é tão bem-vinda
Ao todo se deslinda
Um passo desigual,
Amor antes venal
A sorte se faz linda.
Esqueço qualquer corte
E quando além aporte
O barco da esperança
Meu canto se traduz
Na farta e rara luz
Aonde o passo avança.



35

Anseio tua vinda, todo dia,
Espero o teu carinho, doce afago.
Tua palavra acalma, uma alegria,
Na placidez gostosa deste lago.

Tu és o meu desejo em fantasia.
Sorver-te calmamente trago a trago,
Numa delícia plena em sintonia.
Um sentimento pleno, forte, mago..

Eu quero ter comigo o teu carinho,
Deitar-me no teu colo, ser inteiro.
Fazer de teus desejos o meu ninho,

Pulsando bem mais forte, sinto e vejo,
Um sonho que se torna verdadeiro,
Que, aos poucos vai tomando meu desejo...



36


Antíteses expressam a paixão!
Metade que te adora já sorri
Enquanto em outra parte a negação
Traduz o que em verdade concebi.

Não quero e te desejo a cada instante
Renego tua luz, mas sou falena.
O vento que me tortura num instante
Esconde a brisa mansa e tão serena.

Fartura traz a seca e me deserta,
Fragilidade emprega força imensa;
Estrada sonegada vai aberta
Na fome que se aplaca, a recompensa.

Neste agridoce fruto sobre a mesa,
Delícia que se toma em incerteza...


37


Antíteses encontro nesta vida,
São tantos paradoxos, reconheço,
Às vezes esperança já perdida
Renasce num segundo de tropeço.

Nas horas de um encontro, a despedida,
Recebo, eu sei bem mais do que mereço,
A dor que cicatriza uma ferida
O fim da estrada é sempre um recomeço.

Momentos tão difíceis preconizam
O refazer de forças que agonizam,
Terra fertilizada por vulcão.

Assim, a liberdade necessita
Da morte, sofrimento de alma aflita
Aduba-se esta flor, na podridão...



38
Antiqüíssimo amor, recendes frígio!
Vestal e quase implume sentimento...
Conflitos inerentes ao litígio
Que vives; a causar tanto tormento.

Conservas das quimeras tal vestígio
Que forma cicatrizes: sofrimento!
Viver sem ter ciúmes: um prodígio.
Amores nunca são disperso vento...

Às vezes, convulsivos, outras manso,
É verbo que adjetiva minha vida...
Sentido vero e pleno não alcanço.

Contornos femininos, mas tão másculo;
Forma testosterônica traz básculo
Nas dores que carregas. Louca brida!


39




Antigas paralelas que se tocam
Não são mais afluentes, mas confluem
Buscando a mesma foz, já desembocam
Nem mesmo as corredeiras inda influem

Diversas margens marcam as viagens,
Floradas entre seca/inundação,
Mutantes são por certo, as paisagens,
Um sonho pareado em construção.

O mar que se aproxima traduzindo
Imensidão do amor deveras lindo
Que faz com que esta vida seja assim...

Unindo nossos passos, claridade,
No enlace bem mais firme, a liberdade
Das dúvidas terríveis; surge o SIM...


40



Antiga companheira, a solidão,
Persegue cada dia que vivi.
Ternuras que cedi, num furacão
Se tornam... Dos tornados me esqueci,

Mas, companheira amada me diz não!
Me acompanha lá longe estando aqui
E a sigo, obediente como um cão!
Por tantas vezes quase que a perdi!

Mas, sorrateiramente se revolta,
Ordenando cruel o seu retorno...
Tentando ser feliz, mas a dor volta.

Negando a liberdade,vivo em torno.
Antiga companheira, tenha dó!
Pelo amor do bom Deus, me deixe só!!!


41


Antes que a solidão provoque o corte
Ao entalhar minha alma, inda ressoa
Uma esperança altiva que revoa
Poupando-me decerto, enfim da morte.

A vida é bem melhor p’ra quem é forte
Mostrando tantas vezes ser tão boa
Mudando, num segundo nossa sorte,
Trazendo a placidez de uma lagoa.

Porém quando em tempesta, é dura a vida,
Difícil vislumbrar qualquer saída
Se temos nossos dias infecundos.

Mas ao nos agregarmos com vontade
Nos laços bem mais firmes da amizade
Bastam para mudar poucos segundos...



42


Ansiosamente, eu busco esta harmonia
Decantada nos sonhos mais felizes.
Durante a caminhada, os meus deslizes
Transformaram a antiga fantasia.

Ilusão que me causa dor e azia
Trazendo ao meu olhar tantas reprises,
Quebrando sem piedade cores, gizes,
Fizeram esta cena, assim sombria.

Molduras que hoje cercam garatujas
Permitem que dos sonhos, corras, fujas
Deixando este vazio tão somente.

Talvez eu merecesse melhor sorte.
Restando algum alívio para o corte,
Embora o sol se mostre sempre ausente...



73



Ânsias temíveis, lúbricos desejos.
Belas imagens, límbicas lembranças.
Saudade de viver nossos os doces beijos,
Guardados para sempre, em confiança.

Não vejo mais recreio sem te ter,
Não tenho mais anseio pelas chamas.
Embora meu receio, possa ver,
Deitando nos teus seios, loucas tramas...

Eu quero a solução da plena sorte,
Sem ter tristes, aspérrimos espinhos.
Depois de ter levado tanto corte,
Aguardo de teu colo, tantos ninhos...

Não quero minhas lutas tão inglórias,
Amor que pede amor, nossas memórias...


74


Ansiamos o retorno de quem temos
Amor em um rosal que nunca morre,
Além do que hospedamos; nós queremos
A mão que apascentando, já socorre.

Os olhos que na essência nos transportam
Aos mares nunca outrora imaginados,
Amores em navalhas quando cortam
Transtornam totalmente os nossos Fados

A fome de querer vira fartura
Nos braços de quem sinto ser tão minha,
Adorna minha vida com brandura
Quando em volúpia a sorte se avizinha

E traz a radiante primavera
Ao coração que há tempos tanto espera...


75

Ao abrir totalmente o coração
Ficando sem defesas, me entreguei
Sentindo este poder, devastação
Já quase; nem meu nome, nada sei...

Somente o vento forte da paixão
Ao qual me submeti na dura lei
Onde todos já perdem a razão,
Assim também vencido, me portei.

Agora o quê que eu faço? Não sou mais
Aquela fortaleza que julgara
Abrindo o coração perdi a paz

Nem mesmo sei quem sou não reconheço
Em cada novo passo nada ampara,
Meu medo inusitado de um tropeço...



76


Ao abrir as janelas do meu quarto
Apenas um espectro, nada mais...
Espreito de soslaio nos umbrais
E a sensação de aborto nega o parto.

Por tanto que te amei; de ti me aparto,
E bebo as serenatas, madrigais,
Perdido entre campinas, milharais,
O sonho: ser feliz: logo descarto

E tento respirar um ar suave,
Porém ao caminhar revejo o entrave
Que há tanto não permite mais um passo.

Acendo os refletores da ilusão,
Do amor, somente a mesma negação
Ocupa em minha casa, todo o espaço...



77

Ao abrigo de um mar maravilhoso
Vencendo mil tritões sonho sereias,
Enquanto em amor farto me incendeias
Cavalgas meu desejo em ar fogoso.

Amor por ser assim, tão caprichoso,
Invade a fortaleza por ameias
Só peço é que deveras sempre creias
Num sentimento nobre e melindroso.

Ao gozo da alegria de poder
Viver intensamente cada dia
Criando um novo tempo posso ver

O quanto é necessário descobrir.
Sentindo a mão suprema em poesia,
Amor; jamais alguém vai impedir...


78


Ao abrigo das chuvas e tempestas,
Erguendo a fortaleza que proteja
A vida em alegrias tão sobeja
Permite no final, delírios, festas.

Porém as amarguras indigestas,
Diversas do que o coração almeja
Enquanto a fantasia relampeja
Apenas solidão, ausência gestas...

E assim vagando só sem ver que o sol
Ainda clareando este arrebol
Persiste em teimosia, astro nobre,

Prossigo o descaminho que em herança
Restou do que eu julguei ser esperança,
E agora, em frágil tenda me recobre...


79

Ao abrires – volúpia- os teus caminhos
Adentro com total insanidade,
Penetro em cada canto com vontade
Querendo inebriar-me com teus vinhos

Roubados em altares toda tarde
Deitando nos lençóis, sedas e linhos,
Na fúria dos desejos sem alarde
Amores e prazeres são vizinhos.

Meus dedos percorrendo tua pele,
Mucosas, umidades, convulsão
Em arrepios goze se revele

E trame novamente esta viagem
Divina que em profana embarcação
Resgata uma procela em louca aragem...


80

Ao abrires caminho
Por entre as tempestades
Enquanto além invades
Aqui decerto alinho
Meu passo antes sozinho
Agora rompe grades
E nisto não degrades
O quanto eu me avizinho
Do todo em cada verso
E sei quando disperso
O todo mais audaz,
E o canto noutro prumo
Ao menos quando assumo
Traduz o que já traz.


81


Ao abrires a boceta de Pandora
Não deixaste sequer uma esperança,
Sabendo quem te quer e já te adora
A vida trouxe o nada por vingança.

Quem sabe com certeza faz agora
Não deixa este vazio como herança
Buscando o meu caminho vou embora
Nem mesmo uma tristeza na lembrança.

Amar de novo, eu quero e vou tentar
Cevando em alegrias meu pomar
Colhendo cada fruta com carinho.

Não vejo a solidão em minha reta,
Felicidade plena, franca meta
Dourando em paz suprema o meu caminho...


82


Ao bem que se mostrando sem igual
O coração se faz doce e cativo,
Nas tramas deste sonho eu sobrevivo
E bebo cada gota, triunfal

O amor faz da alegria um ritual,
Do quanto sou feliz jamais me privo,
Erguendo o meu olhar, prossigo altivo
Já sei desta aventura o seu final.

Após perambular a vida inteira
Na busca sem limites, verdadeira
Cansado da mesmice de um adeus,

Depois de conhecer o duro inverno,
Atravessei os pórticos do inferno,
Chegando depois disso aos braços teus.


83



Ao beber desta fonte, eu me inebrio;
Sinto que a poesia se avizinha
Da rua que pensara ser a minha
A estrada de brilhantes; sonho e crio.

Um anjo faz do bosque outrora frio
Chamado solidão, mudando a linha
Estrada fascinante em que se aninha
O coração que fora tão sombrio,

Bebendo a claridade lapidada
Por tuas mãos, poeta sem igual,
Nas calçadas aguando este floral

Com a alma entre belezas cultivada,
E ao ver tanta ternura e tanto ardor
Floresce em paz meu peito sonhador...




84

Ao beber cada gota deste vinho
Que apodreceste em torpe adega vã
Melhor fosse seguir sempre sozinho
Buscando sem destino, este amanhã

Um traste que não sabe mais carinho,
Tristeza tem em mim seu terno afã
Da fonte da esperança, um burburinho
Qual fora uma alegria temporã

Não vejo mais pegadas nem teus rastros
Os olhos procurando em vão mil astros
Rastreio o que deixaste e nada vejo..

Apenas o vazio como herança
Hiberna no meu peito esta esperança
Matando o que restou de um vil desejo...


85

Ao acordar percebo-te comigo,
Serpenteando em beijos; minha pele.
Eu tento levantar, mas não consigo,
Num sentimento breve que revele

Desejo que pressinto ser cativo.
Dançando sobre mim, se delicia
Recomeçando tudo. Então, passivo,
Me entrego ao teu querer, que me vicia...

De novo percorremos esta estrada
Que leva-nos ao êxtase do gozo.
A noite continua na alvorada
Num moto,assim, contínuo; prazeroso.

Depois de saciada, me sorris,
Palavras delicadas e gentis...



86

Ao arrancar a língua deste sapo,
Deixaste um velho príncipe banguela.
Enquanto a poesia se revela,
O amor que me legaste virou trapo.

A casa quando é feita de sopapo
Ao vento não resiste, pobre dela.
Carinho não é simples bagatela
Amor não é somente um bate-papo.

Apalpo sobre a blusa os belos seios
Descendo minhas mãos, encontro os veios.
Porém quando gargalhas me cerceias.

Eu pego minha abóbora e retorno
Antes que sole o bolo, apago o forno
E volto a solidão destas candeias...


87



Ao arrancar meus olhos, pude ver
Enfim o que se fez mais relevante.
Na sutileza imensa do elefante
Percebo minha carne apodrecer.

Vencido pelo quase, ao mesmo instante
Vendido nas esquinas, cada ser
Do quanto que não era passa a ser
O nada vezes nada acachapante.

Percebo quão ainda é fedorenta
A turba tão cruel quanto imbecil.
Falar de uma amizade te apascenta?

Melhor fechar o vidro do teu carro,
Aí vem um molambo semi-vil
Ou jogue em cima dele, tire um sarro...


88


Ao cair deste véu
A bela deusa nua
Ousando em carrossel
Além volve e flutua
Minha alma em farto céu
Também amor cultua
E vejo este farnel
Transcendo então à lua.
Esvaio em verso e riso
E sei do mais preciso
Caminho aonde eu sinto,
O amor em tal domínio
E nele este fascínio
Traduz talvez o instinto.




89

Ao cair deste véu, santa nudez
Mostrando a silhueta mais perfeita,
A mão que te procura enquanto deita
Buscando em seu caminho, insensatez.

A vida que trouxera uma aridez
Promete em tempestade e se deleita
Da plena sensação, estando afeita,
Prefácio desta história que se fez

Em doces méis, espreitas, caça e presa,
Na noite mergulhada em tal beleza
Estrelas descaindo em nossa cama.

Recebo o teu prazer em riso e gozo,
Amor que sempre foi tão prazeroso
Acende sem limites louca chama...


90

Ao caminhar insone pelas ruas,
O corpo vai expondo as cicatrizes,
Os dias se passaram mais felizes,
As horas foram mortas, ledas, nuas...

A lua se desnuda onde flutuas
E pinta a tentação noutros matizes,
Dançando em minha cama são atrizes
No picadeiro imenso quando atuas...

E finges num sorriso, ledo engano,
Desesperadamente não disfarças,
Vou farto, embriagado e soberano,

Na peça que encenaste, nada vejo..
Apenas sentimentos quando esgarças,
Por ironia aumentam meu desejo...


91

Ao calar-se a orquestra mal me vias,
Estávamos distantes, mas tão perto.
Compassos e desejos repartias,
Me deixando sozinho em meu deserto.

Sabia que fazias por ciúmes,
As sombras que deixavas pelo chão;
Depois de tantas noites, seus queixumes,
Enviesada forma de expressão...

Bem sei que nos meus lábios tu te entregas,
Embora derramando tanto charme.
Depois de alguns momentos já me negas,
Querendo me deixar em louco alarme.

Mas quando a noite cai, estamos sós...
Misturas de desejos, nossos nós...

92




Ao canto que se tenta
Ousar um pouco além
Do quanto nos convém
A vida mais sangrenta
E quando se apresenta
A sorte em tal desdém
Aos poucos dita e vem
Vencendo esta tormenta.
Venais ensaios vejo
E sei que num lampejo
A vida quis bem mais
Do quanto merecia
A sorte em fantasia
Ou dias mais banais.


93

Ao canto que se mostra em puro encanto
Tanto quanto eu sonho já desejo.
Não tema meu amor qualquer quebranto
Sabendo deste manto em que prevejo

O beijo mais gostoso; seca o pranto,
E mostra o quanto quero e sempre almejo,
Nas telhas destes sonhos, no amianto,
Os olhos da esperança num verdejo.

O campo que se fez em brilho farto
O parto que não nega o quanto é belo
No vento que trouxeste me revelo

Um sonho que jamais, amor, descarto.
Somando nossos passos, belos ritos
Tocando belos céus, pois infinitos...


94


Ao circunavegar em desvario
Perímetros marcantes, maviosos,
Agônicos momentos, santo cio,
Inclino novos planos, nossos gozos.

Traçando sinuoso, úmido rio,
Penetro por caminhos mais formosos,
Nas sinuosidades sempre crio,
Mil vértices em rumos belicosos.

Embrenho geométricas figuras
Os círculos, triângulos e retas,
Nos côncavos; enceto tais ternuras

Deitadas paralelas, ato explícito,
Que desenrola em voltas mais completas
Amor sem ter juízo quase ilícito...


95



Ao celebrar em rito este missal
Que sempre em preconceito se faz farto.
Distância que tu crias, abissal,
Levando ao descaminho em que me aparto

Do rumo que mostraste no final,
A sorte é que no fundo eu já descarto
Opinião marcada por boçal
Sentimento do qual eu não comparto.

Negando a salvação para um “doente”
Que médico imbecil tu me saíste.
Depois já não reclame se, descrente

Eu fujo do diabo em que vestiste
Todos os que negam teu poder,
Amigo, por favor, vá se catar!

96




Ao chorar pelo amor que foi embora
Nas curvas deste frio minuano,
Não sabe como é bom te ter agora,
Sem medo, em meu carinho, sem engano.
A tarde desdenhada sempre chora
Quando se percebeu em abandono...

Menina aqui te espera tanto abrigo,
Numa tapera simples, mas repleta
Dos sonhos que te querem mais comigo,
Nos versos em que faço se completa
A vida que te peço e não consigo
Falar de outra maneira mais dileta.

Verão comigo traz eternidade,
Morena, meu amor é de verdade...


97

Ao cobrires de sonho
O quanto quis audaz
E nada mais se faz
Senão quieto eu componho
O rito mais bisonho
Num passo mais tenaz
Tentando um contumaz
Caminho que proponho
Vestindo esta quimera
A sorte desespera
E gera apenas isso,
O medo se desenha
A vida em leda senha
Deveras não cobiço.


98



Ao cobrires de azul esta nudez
Que tanto desejei a vida afora,
Escondes a beleza de uma tez
Que quero ansiosamente. Vem agora

Que a noite vem chegando e toda vez
Que a lua extasiada já se aflora
Eu lembro-me do amor que a gente fez,
Meu corpo em tua cor veste e decora.

A brisa lentamente me cercando
Dizendo que virás e não demoras,
Minha alma se levanta flutuando

Espera esta presença desejada...
Estou aqui sozinho há tantas horas,
Na espreita desta noite azulejada...


99


Ao cobrires de paz
O amor que quero
Ousando ser sincero
A sorte sempre traz
O rumo onde se faz
O passo mesmo fero
E quando destempero
O tom se faz audaz,
Esboço reações
E nisto tu compões
O canto onde se quis
Vencer a sorte rude
E nisto o quanto ilude
É tosco chamariz.



2800

Ao colo de quem amo já me achego
Dormências e repousos, doce dança.
Ao restaurar a lépida esperança
Deixando para sempre de ser cego.

Esta amaurose na alma não carrego
O brilho deste amor, logo me alcança
Trazendo toda sorte de mudança
No mar em maravilhas que navego.

Amor raro buril, um instrumento
Cerzindo dentro da alma luz tamanha.
Lambendo calmamente, frágil vento

Em tempestade insana me acompanha.
Nas águas mais divinas já se banha
Tomando sem descanso, o pensamento...


1


Ao dar-me este prazer da contradança
Não sabes da alegria que causaste,
Ao refazer assim minha esperança,
A vida; num momento, iluminaste.

Desejos tão ardentes... Como eu quero
Beijar a tua boca e te tocar.
Dançando no compasso de um bolero,
Perceba esta emoção em meu olhar.

Imagino nós dois num transatlântico
Sozinhos, sob os raios do luar.
Um sonho delicado e tão romântico
O mundo inteiro em festa, a nos mostrar

O amor em seus acordes, sedução;
Na melodia intensa da paixão....



2

Ao dar uma bicuda na saudade
Mandei o teu retrato para as favas,
Por mais que tu teimosa ainda lavas
As roupas que esqueci, não mais me enfade.

Ferrolho em minha porta, no umbral grade
Se insistes desta forma mais agravas
As ondas que julguei outrora bravas,
Ondim já despachou, eis a verdade.

Sapeias, bisbilhotas e não vês
Que tudo nesta vida tem porquês
E neles justifico assim, meu ato.

Comprei gato por lebre, fui otário,
Agora me livrar, mal necessário,
Não pagar pra sempre mico e pato...


3


Ao dar-me a sensação de tal brandura
Erguendo-me, sutil, por longos ares
A noite se emoldura na ternura,
Trazendo a inconstância dos luares.

Tuas mãos amicíssimas. Candura
Que se harmoniza em todos os altares.
A mansidão que trazes, fina alvura,
Aumenta a sinonímia para amares.

Elfo; flutuas. Zéfiro, me acalmas...
Nas janelas abertas dos amores,
Acaricias, plena, mãos e palmas.

Emanas tal perfume que estas dores
Não restam sobrepondo aos velhos traumas.
Borboleta; revoas sobre as flores...


4


Ao começar, mil beijos carinhosos
Vontade de ficar ali do lado,
Sorrisos e desejos generosos,
Olhando para o céu, apaixonado...

As mãos se procurando, os orgulhosos
Olhos boiando, lindos campos, prado...
Dizeres quase nunca espirituosos,
Amando e tão feliz por ser amado...

Depois, a tarde vem já se esmaece,
E aos poucos diminui e quase morre,
Amor já se acabando pede prece

Menino-amor, começa assim brincando,
Depois de certo tempo? Sai chorando...
5


Ao entrar dei com a porta nos batentes
E vi maliciosa a bela moça
Sentada com olhares penitentes,
Ao mesmo tempo rindo em mansa troça.

Olhando de soslaio, em tons ardentes,
Marota se mostrando pra quem possa
Ao ver os seus peitinhos transparentes
Vontade, ela bem sabe, me alvoroça.

Fingindo que, depois, nada percebe
Deste olhar esfaimado que recebe
Continua sentada bem quietinha.

Desejos aflorando em seus mamilos
Intumescidos. Quero, enfim, senti-los,
Porém tão bem disfarça a safadinha...

6


Ao Eldorado em sonhos, dá partida
O sentir que nos toma em noite imensa.
A barca da esperança de saída
Espera ao fim da vida a recompensa.

Se eu te amasse, a sorte distraída
Buscando em outra senda a luz intensa
Deixando uma ilusão na despedida
Sem glória ou fantasia que convença.

Ao contar as estrelas em que espalhas
Teus rastros pelas ruas e calçadas,
Adentro em alegria as madrugadas

E embora eu vá nos fios das navalhas
Sabendo deste amor, não temeria
Nem mesmo a solidão, barca vazia...


7


Ao desprezares logo quem molesta
E impede que tu sejas mais feliz,
Meu coração se faz em plena festa,
Tu mostras que não és uma aprendiz.

A vida em outros dias, sempre testa
A quem agindo assim cedo nos diz
Que amor quando em respeito já se empresta
À fonte luminosa, ao chafariz

Porém ninguém maltrata impunemente
O amor que nos transforma em atitude.
Devemos perceber que o impertinente

Destrói felicidades num segundo.
Que a glória de viver logo transmude
E inunde em amizade o nosso mundo.
Marcos Loures


8


Ao desejar a ti, felicidades
O faço com sinceras esperanças.
Tu sabes cultivar as amizades
Mantendo para sempre as alianças
Que trazem para tantos as verdades
Mantidas nestes elos: confianças.

Ao dizer assim a ti, meus parabéns,
O faço com franqueza e alegria
Nas horas mais difíceis sei que vens
Tornando bem mais simples nosso dia.
Que a vida te retorne em muitos bens
O amor que nos dedica; o que eu queria.

Feliz aniversário meu amigo,
Que a sorte esteja sempre assim, contigo.


9


Ao derramar meu leite em bela gruta
Num êxtase profano, louca entrega,
Teu corpo no meu corpo já se esfrega
E a mão te vasculhando segue astuta.

Trepamos noite inteira e só se escuta
Gemidos e sussurros. Quem navega
Por mares bem mais úmidos se apega,
Delícias de uma amante, santa e puta.

Gozamos tantas vezes, noite imensa,
Depois na madrugada repetimos,
Teu ânus prêmio dado em recompensa

Teus lábios, língua, açoites colossais.
Prazeres e salivas; repartimos,
Porém em louca fome, como mais...


10


Ao entrar mansamente
Aonde tanto quis
O tempo mais feliz
A vida se desmente
E o todo, num repente
Marcando em tom mais gris
A sorte em cicatriz
E nisto estou contente
Expresso esta emoção
Em dias que trarão
A sorte procurada
Depois de certo encanto
A vida hoje garanto
Talvez não trague nada.



11


Ao entrar mansamente em nosso quarto
Abraçando teu corpo, devagar,
A dor por que passei eu já descarto
E venho totalmente me entregar.

O sonho que contigo, amor, reparto
Demonstra esta beleza que é contar
Com quem a gente adora, até que; farto,
Deitando no teu colo, descansar...

O tempo não me importa, estás aqui
Comigo. Com certeza eu sou feliz.
Curando qualquer corte e cicatriz

Refaço tantas horas que perdi
Na espera por alguém com quem pudesse
Converter em verdade meu sonho e prece..



12


Ao êxtase supremo, a nossa vida
Mergulha insanamente e busca além
Da simples e fantástica saída
Sabendo quando o fogo em noite vem...

Recebo a tua boca em chama e brasa
Jóia que se queria se vislumbra
Enquanto a poesia nos embasa
A luz arrebentando esta penumbra.

Belíssima paisagem que se dá
Rolando mil estrelas pelo chão,
Amor se refletindo encontra cá
Um raio mais sublime em emoção.

Deitando sobre nós a luz solar,
A brisa matinal vem me tocar



13

Ao erguer os meus olhos sonhadores,
Rondando teu sorriso e tua boca,
A febre me queimando em sede louca
Não tínhamos talvez tais dissabores;

As marcas indeléveis dos amores,
A cama que vivemos foi tão pouca,
A voz a me chamar, teimando rouca,
Não fomos nem sequer quais amadores

Ao erguer minhas mãos postadas, prece...
Não pergunto a que vens nem se virás,
Amor que não viveu, cedo fenece,

A porta deste altar chamado vida,
Espreita verdadeira, pede paz.
Na chave desta porta, despedida...


14


Ao erigir a Deus interno altar,
Sementes espalhadas no meu peito,
Poder de um Ser Maior, agora aceito
E bebo da alegria até fartar...

Quem sabe tal caminho vislumbrar
Aquece de emoção seu frio leito,
E tendo o coração tão satisfeito,
Cabendo dentro em si, o imenso mar.

Sentir Tua Presença, amado Pai,
Durante a tempestade que ora cai,
É poder perceber uma saída

Aberta nos desígnios do perdão,
No afeto que nos mostra cada irmão
Neste miraculoso dom da vida...




15


Ao esculpires com palavras, vejo
Maravilhosas telas que tu crias
Gerando as mais sublimes fantasias
Mensagem deslumbrante neste ensejo.

Além do que talvez fosse um lampejo,
Dourando o meu caminho, as ardentias
Permitem que se encharque de alegrias
A fina sensação, real desejo.

Usando os velhos signos, arte e brilho,
Harmônica emoção tomando a cena,
Tua arte se mostrando sem igual

Expressa sutilmente este estribilho
Moldando uma expressão suave, amena,
Estrela constelar, a principal!



16


Ao escutar teu nome, porventura,
Não posso me olvidar do que passamos...
Pois sempre misturamos com ternura
As velhas dores que jamais negamos,

O nosso amor no coração murmura
Velhos rancores... Nunca mais deixamos
De maltratar amor por desventura...
Quantas palavras duras nos cortamos!

Matamos primavera. Cadê flores?
Amor que assim se fez nunca prossegue,
Mas deve ser tratado com pudores.

No outono de minha alma tudo morre...
Por mais que já tentamos quem carregue,
A culpa é de quem fere e não socorre!


17


Ao esgarçares lúdicas promessas
Legando a solidão, tão vil herança,
Demonstras os teus pântanos, vingança
E a podridão que tramas me confessas.

Espectro formidável que às avessas
Expõe em suas garras quando avança
Em tétrico langor, desesperança,
E toda noite impávida, regressas.

Incontidos tormentos que em procelas
Espalhas pela casa. Amarga sina
Devastação suprema. Desde agora

Percebo as armas todas. Não revelas
A tua compleição, fria assassina,
Porém minha alma lúbrica, te adora...


18


Ao estender meu peito sobre o teu
Na madrugada fria, quase morta,
Senti que meu destino se perdeu
No colo que onde meu sonho, manso, aporta.

E decididamente fui feliz.
Embora melancólico meu mundo,
Pois com certeza, és tudo o que já quis
Com teu olhar tão calmo e tão profundo.

Tens a doçura calma de que sabe
Que apesar deste sonho tão imenso
De ser livre; que quase não me cabe,
Do modo de viver que é mais intenso.

Depois de tanto vôo e tanto pouso,
No teu colo é que encontro meu repouso



19


Ao expor a minha alma sonhadora
Talvez ainda cause algum espanto,
Sem medo, desafio este quebranto
Retorno ao pesadelo sem demora...

O barco sem destino desancora
Navega solitário em campo santo,
Mergulha no vazio. O desencanto
A cada novo intento já se aflora.

Sou triste, nada além de um passarinho
Que o tempo, mais cruel, engaiolou.
Cansado de seguir buscando um ninho,

As asas, desamor já depenou.
E agora o que fazer? Sem as algemas
Dos céus apenas raios e problemas...



20


Ao êxtase da entrega ilimitada
Dois corpos são unidos num só lance.
Reféns de uma paixão desenfreada
Ateiam tempestade no romance,

Mulher desnuda assim, tão desejada
Percebe com delicia esta nuance
Tal qual a lua ao sol, em fúria dada,
Num eclipse total já quer que avance

A noite em tentação quase profana,
Sem medos e nem culpas, velas soltas,
Os dedos, doces lábios não se cansam.

A lua feita em brasa, doidivana,
Aos mares em marés altas, revoltas,
Já sonha enquanto os corpos sempre avançam...



21


Ao falar desse amor que tu me negas,
A morte vaticino, perco a paz...
Não quero parecer, mas sou piegas.
A vida é conseqüência que se traz

Dos sonhos e esperanças. Nas adegas
Da minha alma, um só vinho tanto apraz..
Minhas noites, meus medos que navegas,
Morrer sem teu amor, serei capaz!

Na tarde solitária, sem notícias,
Os ventos, tempestades, são primícias...
Não te verei jamais, Ó doce Lara...

Teus olhos sorridentes, ironia...
A noite que perdi pensei, podia,
Amanhecer teus braços, noite clara...

22


Ao farto amanhecer eu me arremeto!
Irmão da tempestade, sem alento,
Das dores, o parceiro predileto,
Vivendo a cada dia um vão tormento.

A vida preparando em despedida
Da fria cimitarra o fundo corte,
A sombra da esperança esvaecida
Negando ao fim de tudo rota e norte.

Vivendo sem razão e sem porquês
A dura solidão já me entranhou.
Eu quero que me entendas, mas não crês
No quanto o coração; amor criou.

Na leda fantasia eu posso ver,
O sonho, pouco a pouco se perder.


23


Ao fim da tarde em prantos percebia
O quanto é necessário ser feliz.
A vida tantas vezes, meretriz,
Afaga enquanto corta, traz sangria.

Talvez se inda restasse uma alegria
Tivesse novamente o bem que eu quis.
Porém eternamente um aprendiz,
Perdido não encontra sol e dia.

A mão de uma pessoa soberana
Que traga apoio enquanto cambaleio,
Mostrando qual caminho para o veio

Aonde a boa sorte não me engana
Permite que imagine a liberdade
Alçada nos clarões de uma amizade...



24


Ao fim da tarde triste sem te ter
Não posso descuidar um só segundo,
Se tudo o que inda quero é poder crer
No que restou outrora de um vão mundo

Nas cínicas palavras me aprofundo,
Girando o tempo inteiro. Se viver
Atento ao que não pude conhecer
Desato qualquer laço velho e imundo.

Seria um vagabundo e tudo bem,
Servindo a quem vivendo sempre aquém
Num gesto em que transita hipocrisia.

Escárnios entre toscas gargalhadas,
Por mais que ainda estejam degradadas
Imagens mais suaves a alma cria...


25


Ao fim da tarde, sinto no crepúsculo
Saudade de quem foi e não voltou.
Amor que em tanto tempo foi maiúsculo
Agora só lembrança, o que restou.
O coração não passa de um corpúsculo
Que ausculto bem distante... e não parou...

A pedra da saudade vai rolando
E traz ponta cabeça, o meu futuro.
De novo quase estou me desatando
Mas vem a solidão, revolta o escuro.
Amor chega ligeiro e tocaiando
Me pega neste salto atrás do muro.

Deixar isso de lado? Não compensa,
Quem sabe chegue um dia, a recompensa...



26


Ao fim desta jornada
Amiga eu mostrarei
A pele tão marcada
Das lutas que travei,
A pele maltratada
A dor, cicatrizei...

Verás que também eu
Lutei pra ser feliz,
Meu mundo se perdeu,
Depois, tive o que quis,
Meu coração ateu
Um eterno aprendiz...

Profunda, a tal ferida,
Que temos pela vida...


27

Ao fogo da vontade, me compele
O cheiro que se emana, delicado,
Do corpo que em nudez já se revele,
Caminho a ser sabido e desbravado.

Mergulho em cada ponto deste mapa,
Nadando enfrento a dura correnteza,
A noite prazerosa não me escapa,
Garante o meu banquete e sobremesa.

Depois de conhecer cada detalhe,
Nirvanas eu desfruto a cada dia.
Meu barco em tuas ilhas, sacro encalhe
Trazendo para a vida, a poesia.

Chegando devagar, a glória alcanço
O coração batendo calmo e manso.


28



Ao golpe desferido pelo tempo
Nas desditas eternas, nas arenas,
Por vezes encontrando um contratempo
Nas lágrimas que fingem tolas penas.

Descubro que o amor é sempre assim,
Começa com desejos e carinhos,
“Carinhos e carinhos sem ter fim”
Depois de certo tempo: Enfim, Sozinhos!

Renascem os amores, depois morrem.
Renascem os amores, noutro tom...
Amores renascidos não socorrem,
Renascer o mesmo amor? Raro dom...

Só sei que dessas lutas que travamos,
Só resta o tanto quanto nos amamos!


29


Ao homem não bastava crer no Pai
Precisaria então chegar ao céu,
Soberba deste povo sempre o trai
Ao fim resta a cidade de Babel,

Usavam com certeza una linguagem,
E todos se entendiam muito bem,
Porém arquitetando esta bobagem
Intensa confusão, decerto vem.

E assim como um castigo de Javé,
Dos herdeiros diversos de Noé
Idiomas inúmeros brotaram,

E as tribos que surgiram desde então
Com o preço da falta de união
Os erros dos estúpidos pagaram...


30



Ao irmos caminhando
Depois de tantas quedas
Enquanto tu enveredas
Caminho bem mais brando
Presumo desde quando
A vida não mais seda
E assim ao tanto veda
O passo desejando
A sorte benfazeja
E mesmo que isto seja
Apenas um alento,
Vencer vicissitudes
E tanto ainda iludes
Que outro cenário eu tento.



31


Ao irmos caminhando vida afora
Nos carinhosos braços da esperança.
Perfume delicado, em ti, aflora
Recende a meu jardim, em temperança.
Querer o teu amor, pra sempre, agora,
Um sonho em que minha alma, triste, amansa.

Tu és a redenção de minhas dores
Que a vida, traiçoeira, acumulava.
Vulcânica erupção trouxera horrores
Inundação feroz de fogo e lava.
Por isso mesmo irei aonde fores
Contigo a boa sorte, enfim me lava.

Cansado de sofrer em solidão,
Encontro nos teus braços, solução...


32


Ao lado de quem tanto desejei,
Tentara ser feliz. Tola ilusão...
Inverno vai tomando o meu verão,
E o céu se torna assim, escuro e grei.

Durante tantos anos eu sonhei,
O amor me parecia solução.
Canteiro ao abortar a floração
Sonega o que eu, estúpido, sonhei...

Fazer da poesia o meu alento,
Expondo o coração ao sentimento
Procelas ao final da caminhada.

Do todo que buscara; só existe
O homem amargurado; ledo e triste,
Que aprende a conviver com este nada...



33


Ao largo de emoções que se fazem
Tripudiando sobre o que eu pensara,
Mesmo se vazias inda trazem
Adaga que penetra em noite amara.

Melindres que oriundam de um descaso;
Marcam. As evidências são claras,
Levando o pensamento para o ocaso,
E muitas vezes, falas e disparas

Quando instintivamente tu rebates
As faces caricatas das mentiras.
Por mais que não perceba, tu rebates
E deixas por herança simples tiras.

A tua auto defesa, caro amigo,
É simplesmente a busca de um abrigo..


34



Ao ler este fantástico poema
Meu verso em timidez, apenas canta
Beleza tão sublime que me encanta
Aconchegado sob um raro tema.

E verdadeiramente a luz me emblema
Tocado pela fonte, imensa e tanta
A poesia em ti já se agiganta
Trazendo com vigor dourada gema.

Lapidas as palavras, sentimentos,
Com esplendor além do imaginável,
Espalhas tanta vida pelos ventos,

Tu és, da poesia, Dama e Diva
Talento sem igual, e insuperável,
Estando na verdade mais que viva...


35


Ao ler estes meus versos, meu amigo,
Perceba toda dor de uma paixão,
No campo deste amor, sou joio e trigo,
Sou mudo quanto entôo uma canção.

Um sentimento assim, ambivalente,
Permite tanto alívio e sofrimento,
Talvez se, enfim, chorasse de contente,
Soubesse como é bom beber o vento.

Andar em liberdade dolorida,
De amar e não poder ser o que quero.
No amargo deste mel de minha vida,
O sol com tempestade não venero.

Amigo, então, perceba a solidão
Tempero em minha vida... Solução?


36


Ao ler os teus poemas; percebi
Que tudo em minha vida foi inútil,
Qual fosse um simples réptil chego a ti
E vejo que o que escrevo é tolo e fútil,

Rasgando o que pensei ser poesia,
Vasculho nas gavetas do passado
E enquanto a solidão já me vicia
Um velho coração abandonado

Não posso discutir, sou bem estúpido,
E mesmo que inda tenha alguma chance
Um ermo sentimento se faz cúpido
E impede que meu sonho ainda avance.

Capaz de recolher alguma flor
No devaneio insosso de um amor?



37


Ao ler teus belos versos, imagino
Do que é capaz a nossa inteligência,
E venho com fervor, com eloqüência
Dizer quanto eu a admiro e me fascino

Tomado belo brilho cristalino
E sei quanto é difícil esta incumbência,
Por isso é que te peço com clemência
Perdão pelo soneto pequenino.

Sou tão somente um mero trovador
Que vendo a bela lua, em tanto amor
Deixou-se embriagar por tal beleza.

Seguindo os raios claros que espalhaste
Com minha sombria alma num contraste,
Calo-me em frente à estrela em tal grandeza...



38


Ao ler teus versos fico emocionado
Sabendo do talento que tu tens,
Quem dera se eu pudesse estar ao lado
De quem espalha em vida tantos bens.

Amigo, me desculpe estou cansado
Dos vários e diversos, quais e quens
O dia vai passando em tanto enfado
Até que em alegria sempre vens,

Com verso tão divino, engalanado
Marcado por beleza em vários gens,
Trazendo para todos belo prado,

Sem vícios, sem defeitos, mas marcado
Te digo e te confesso por poréns
Num enxame de verso em pé quebrado


39



Ao ler teus versos soltos pela casa,
Arsênico, eu bebi em cada frase,
Embora tantas vezes, dura brasa,
Não vejo mais motivos que me apraze

O tempo na verdade não se atrasa
Nem mesmo me permite que me abrase
Tentando disfarçar que na tua asa
A morte não permite que se atrase.

Nas vespas de teus lábios, meu remédio,
Nas térmitas que invadem meu jardim,
Amor que se tornou imenso tédio,

Afoga uma esperança e traz no fim
O beijo da serpente, num sorriso,
Fazendo deste inferno, um paraíso...


40


Ao leres os meus versos, meu amor,
Perceba quanto quero te querer.
Falando deste amor por onde for
Sem teu amor, amor, não sei viver...

Amor que me sustenta, amor divino.
Amor que me maltrata, amor cruel.
Amor que percebera cristalino,
Amor que me enlevando, leva ao céu...

Amor que invadindo a alma de amor cura
Na cura deste amor, amor me dás.
Amor que me clareia, amor, ternura,
Em pleno amor encontro amor e paz...

Amor, amor, amor, amor e mais amor.
Amor, não tenho mais amor prá por...


41

Ao me arrastar vazio
Pudesse adivinhar
Aonde em que lugar
O sonho eu desafio
Vagando pelo fio
E sei do caminhar
Nefasto a se moldar
E nisto em desvario,
Num átimo mergulho
E sei do pedregulho
Ao fim deste afluente
E a sorte se traduz
Na dor intensa, a cruz
Que vejo plenamente.
42


Ao maltratar meu pobre coração,
Tu deverias ter algum cuidado,
O fardo que carrego desde então
Traduz cada agonia do passado.

Alforje abarrotado: solidão,
O beijo falsamente anunciado,
O gosto da maçã, em podridão,
Do amor a sombra amarga do pecado...

Velejo em outros mares, timoneiro
Que sabe deste vento costumeiro
Jamais conceberia algum naufrágio...

Porém, como surpresa esta procela
Aos poucos me tomando já revela
O quão a fortaleza se faz frágil...


43

Ao mar se entrega areia displicente,
E em cada onda se deixa penetrar,
Assim como este mar, também a gente
Em toda sedução bem devagar

Aos poucos me deixando mais contente,
Depois de tanto ser, tanto me dar,
Um cristalino gozo que se sente,
Na areia em ondas sempre a se esbaldar.

Promessas e perdões, risos e festas,
Em profusão delírios e vontades.
No sentimento enorme em que tu gestas

Uma esperança audaz e maviosa,
Distante das procelas e saudades,
Cultivo em nosso amor: olores, rosas...


44

Ao me arrastar qual louco, te agarrei
E te levei comigo, dei afeto,
As costas já desnudas arranhei
Vibrando no teu corpo; fui completo...

E nada do que somos duvidei,
Não permiti nem medos, nenhum veto,
Imerso neste mar eu embarquei
Pelo teu corpo nu, fui recoberto...

E fomos noite afora, sem paragens,
Dois viajantes cegos sem limites,
Fazendo nos sentidos, as viagens

Que partem sem temor ao infinito.
Não te contenhas, solte-se assim... Grites...
O nosso amor profano, enfim, bendito...


45


Ao me deliciar com teu corpo sedento,
Vencendo o teu pudor, bebendo maravilhas,
Abrindo do teu barco as portas e escotilhas
Entregues à loucura, intenso sentimento.

Por tanto que eu te quero, enfim eu me apascento
Entrando sem fronteira em cada porto ou ilha,
Estrada em fantasia aonde o gozo trilha
E encanta-se, supremo, exposto ao forte vento.

Decoro com minúcia os pontos mais profundos,
Movendo os teus quadris engoles meus delírios.
Cessando com volúpia os meus velhos martírios.

Dois cães na madrugada, insanos vagabundos,
Fazendo do prazer um ato inconseqüente,
Mudando este cenário um par farto e demente...



46


Ao me deliciar com teu prazer
que escorre em minha boca, mel e fogo,
depois devagarinho intrometer
meus dedos entranhados, doce jogo.

Chupando os teus mamilos, teu pescoço,
nos seios e nas coxas, pernas, locas,
teu grelo endurecido, que colosso!
Adentro com tesão as belas tocas.

Na nossa sacanagem mais audaz
eu quero o teu cuzinho e tua xana
comendo com vontade, sou voraz.
Rainha dos desejos, soberana

que sabe me tesar, em fome tanta.
Deusa que domina, puta e santa...


47


Ao me dizer adeus, mal percebeste
Castelo desabando em movediça
Areia que decerto tu me deste
Depois de tanto tempo nesta liça;

Amor que se perdendo desperdiça
A chance de viver na qual se investe
O sonho de uma vida que enfeitiça
Aquele que ilusão tanto reveste.

Mas tenho uma certeza que a saudade
Virá só me trazer boas lembranças
De tantas maravilhas nas andanças

Por mares, por estrelas e cometas.
Eu quero só guardar felicidade
Assim será contigo, me prometas...



48



Ao me encontrar na solidão completa,
Me imaginado tão distante, errante...
Eu me lembrei de teu cantar poeta,
A minha vida, um transformar constante

Que busca em nosso amor; uma outra meta:
Não mais viver somente pelo instante.
Felicidade; amiga predileta
Mal percebi que estava ali, adiante.

Em feminina forma me beijavas,
Nossas carícias, estelar princesa...
Não percebi que logo eu te encontravas.

Nos teus cabelos refletindo luzes
De uma esperança sempre tão acesa
Disfarçada, aos prazeres me conduzes...


49


Ao me entregar à musa dos meus versos,
Completamente nu; sem ter defesas,
Vagando por galáxias, universos,
Em magnitudes tantas, correntezas...

Meus sonhos que parecem ser dispersos ,
Unidos num só canto sem ter presas,
São monotonamente bem diversos,
Pretendem só manter luzes acesas...

Ó Musa estou entregue nos teus braços,
E danço em teus desejos, meus sentidos;
Os cinco misturados, mas esparsos...

No Canto que em beleza se anuncia,
Da Musa divinal; nossos ouvidos
Felizes escutando-te POESIA...


50


Ao me ver da velhice, seu refém
Percebi que a beleza não tem data.
Tantas vezes na vida quis alguém,
A sandice nevou, quase me mata...

Agora que morrendo sem ninguém
Percebi que essa dor já não maltrata.
Não espero decerto um grande bem,
Alegria não jorra nem cascata...

Arvoredos sem flores também vivem,
Os alívios se encontram nestas rugas.
Minhas dores amores não convivem

Agasalho a friagem sem ter medo.
Não pretendo milagres e nem fugas,
A velhice me trouxe esse segredo...



51



Ao me veres chorando assim querida,
São enchentes que na alma me transbordam.
De tanto amor que eu tive em minha vida,
Às vezes são saudades que me abordam...

Carrego um oceano sem tamanho
De dores e tristezas, cicatrizes...
Por vezes, das lembranças tanto apanho
Que esqueço como nós somos felizes...

Mas saiba que contigo eu aprendi
Que a vida vale a pena ser vivida
De todo que há de bom que está aqui,
Com certeza a lição foi aprendida.

Então vamos, saltar por sobre o muro
Da dor, e seguir; livres ao futuro


52



Ao meio dia, o sol deveras quente
Adentrando a janela queima lento.
Imagem deste amor quando ao relento
Sangrava em minha vida tolamente.

Lutando pra viver vou novamente,
Poeira no meu peito toma assento,
Porém ainda sinto o forte vento
Que um dia me deixou quase demente.

Os olhos da morena, sensuais,
Renascem neste horário, em duro sol.
Um dia, esquecerei, e assim não mais

O brilho de uma estrela fulgurante
Que serve para todos de farol,
Retornará, decerto, deslumbrante...



53


Ao menos esperança é necessária
A quem por tantas vezes vai sozinho.
O quanto de alegria e de carinho
Perdido nesta estrada temerária.

A luz da fantasia é tão primária.
Não tendo em ti espelho vira espinho
E quando da saudade eu me avizinho
Minha alma volta a ser celibatária.

Não quero em minha vida outra pessoa,
A chuva renitente qual garoa
Não deixa o sol nascer, a vida passa.

O tempo de sonhar já se esgotando
O barco sem ter porto naufragando
Amor vai se esvaindo na fumaça.



54


Ao menos percebeste ser possível,
Amiga, um novo rumo em tua vida.
Se a gente se entregar e ser vencível
Vencemos, no final, nem Deus duvida.

Estrada vislumbrada, tão incrível
Capaz de demonstrar qual a saída
Buscada em noite frágil, mas cabível
Nos olhos de quem pensa estar perdida.

Alagas com teu choro o quarto e a sala,
Mal sabes quando amor assim resvala
Prepara o coração para outra sanha

Alado o sentimento ganha espaço,
É só seguir a estrela passo a passo,
Que tu verás ao fim, lua e montanha...


55


Ao menos se eu pudesse te falar
Dos meus caminhos tortos, mas honestos.
Amores tantas vezes manifestos,
Errático satélite a vagar.

Guardando a liberdade noutro hangar
Os tempos sempre foram mais funestos,
Não soube decifrar sequer os gestos
Tampouco soluções preconizar.

Azar de quem jogou sem ter cacife,
Restou como consolo, um torpe esquife
E o fardo tão pesado deste karma.

Não quero ser joguete em tuas mãos
Os dias que vivemos, todos vãos,
A dura realidade me desarma...

56

Ao menos tive um pouco de alegria
E te agradeço o gozo de um momento
Que nunca mais saiu do pensamento
Justificando assim, a poesia.

A boca que em desejos não temia
Nem mesmo a força intensa desse vento;
Paixão. Ao se entregar ao movimento
Das ondas novo encanto percebia.

Amar e ser feliz? Tudo o que eu quero...
E mesmo que enfrentando um sonho fero
Não canso de tentar, seguindo em frente.

Quem sabe num minuto o tempo mude
O sol resolva vir em plenitude.
O amor chegando intenso, novamente...


57

Ao mesmo instante dizem: nunca mais
As vozes do passado que me atentam,
O quanto foi difícil ver o cais!
Miragens, olhos tristes sempre inventam

Tentando reviver o que passou.
Refaço o meu caminho e nada vejo,
Nem mesmo ainda sinto quem eu sou
Escravo da vontade, do desejo,

As noites são insones, na penumbra
Apenas teu retrato vai e vem.
Alguma luz decerto se vislumbra.
Levanto esperançoso. Nada tem

Senão esta saudade feita em chaga.
A solidão que amarga, atroz, me afaga..


58



Ao mesmo tempo beijas e me afagas
E quase que me afogas em loucuras.
Nos mares dos prazeres... Tantas vagas
Revoltas com torturas em ternuras,

Depois sem ter motivos, me desdenhas,
E ris desse meu jeito de te amar.
Mil faces em disfarces; já desenhas
A dor que tanto gostas de sangrar.

Bebendo do teu mel, eu não concebo
Por que me trazes fel e me envenenas...
De todo esse carinho que recebo
O que sobra senão as duras penas?

Mas quero o teu amor, minha centelha
Assim como uma flor deseja a abelha...


59

Ao mesmo tempo entorna e me alucina
Ninguém me engana e nem tampouco salva
Da selva busco em relva, cais e mina,
Contente; eu vou seguindo sem ressalva.

Apraze cada frase que me dás
Alegra sem ter regra a negra noite.
Deleite do que enfeite satisfaz,
Sorriso em ironia vira açoite.

Os pés que se entortando dão meu rumo
Estendes teus retalhos na janela.
Cascalhos do que fomos; sempre assumo,
No prumo de costume a paz revela

Girando em trama e cama, vida afora,
Eu quero desde sempre e mesmo agora.



60


Ao mesmo tempo mostra em belo viço
Belezas que provocam nosso vício,
Causando então gigante reboliço
Levando-nos decerto ao precipício

Num ar que é tantas vezes mais mortiço
Errante e sem destino desde o início.
Mas sempre num divino compromisso
Dominar totalmente é seu ofício.

Amor que se faz forte em plenitude
É feito de emoções em louca paz.
Mesmo que venha lúdico amiúde

Na realidade deve ser capaz
De se adaptando ter outra atitude
Quando outro vento, instável vida traz.



61


Ao mesmo tempo presa e caçador,
Não temo a tempestade que virá,
Sabendo que teremos desde já
A força insuperável deste amor.

Colhendo em harmonia fruto e flor
O sol mais fortemente brilhará,
A doce fantasia mostrará
O rumo que tentamos recompor.

Um homem feito em fé, luz e carinho
Não perde, com firmeza, o seu caminho,
Durante o temporal, teimando insiste.

Sabendo do horizonte claro e belo
Usando da esperança qual rastelo,
O velho caminheiro não desiste.


62

Ao mesmo tempo sonho e desiludo
Contudo não me canso de sonhar,
Tragando a noite inteira neste bar,
O quanto que me impedes, mais ajudo.

Não tendo o que perder eu vou com tudo,
Miúdo o coração que não tentar.
Às vezes mais depressa ou devagar,
O rumo a cada instante, eu sei que mudo.

Amar, amara senda que me adoça,
No quase que perdi, decerto eu ganho.
Na cama a mais sutil e bela moça

No cheiro da menina a tentação.
Amor é sentimento muito estranho,
Molhando, acende o fogo da paixão...


63


Ao mesmo tempo sonho e me maltrato
Fazendo em solidão versos ateus.
Meus olhos inda miram teu retrato,
Espelhos de minha alma que são teus

O dia se tornou cruel de fato,
Apenas me restando o triste adeus.
Na ventania imensa, o meu regato
Procura renascer momentos meus.

E assim, seguindo a sombra de mim mesmo,
Caminho e tantas vezes; vou a esmo
Pensando na longínqua e fria glória

Recebo o vinho amargo da saudade
Ceifando o que pensei ser liberdade
Tornando a minha vida merencória...


64


Ao mesmo tempo sorvo e sou servido
Sorvetes de nós mesmos, vulva e falo.
Num ato em que se mostra resolvido
Na boca que se ocupa mais eu falo.

Prazer de se sentir e ser sentido
Depois com fúria imensa, não me calo.
No espasmo violento eu não duvido
Balança esta roseira treme o talo.

Num jogo onde jamais há vencedor
Apenas um empate mavioso.
Um rio que se esvai mais devagar

Levando a cachoeira a se compor
De um liquido profano e fabuloso.
É recebendo amor que irás me dar...


65


Ao misturar essências tão perfeitas,
Delírios em delitos e pecados,
Olhares tanta vez extasiados
Enquanto tu me encantas e deleitas.

As normas sem limites sendo aceitas
Permitem passos, laços, braços dados
Lançando a nossa sorte guardo os dados
E quero estar contigo quando deitas.

Meandros e fronteiras conhecidos,
Nas tramas entre rumos concebidos
Bebidos com total sofreguidão.

Conluio entre dois corpos tão sedentos
Mudando a direção dos velhos ventos,
Encharcam com prazer a embarcação...



66


Ao mitigar o pranto e consolar
Uma alma sem destino, feita em dor,
A mão que chega mansa, a demonstrar
Toda a pureza imensa, vero amor,

Mostrando-se capaz de aliviar
E dar um novo alento ao sofredor,
Que sabe e necessita se irmanar,
Cuidando com carinho desta flor

Um raríssimo espécime que resta,
Justificando a glória de viver.
Na mansidão se sente tal poder.

Não faz nem rebuliço nem quer festa
Existe tão somente e nada cobra.
Demonstra-se mais firme se soçobra...


67


Ao mundo deslumbrante em mil delícias
Que Deus permita esta viagem mansa,
Ao semear em nosso amor carícias
Um lavrador colheita rara alcança

Assim também eu procurei fartura
Quando na ceva, mergulhei inteiro.
Mão delicada ao cultivar ternura
Colhe perfumes neste amor canteiro.

Ondas do mar, recifes de coral,
Na noite clara de luar, eu vejo
A tua imagem refletindo astral

Além das brumas claridade imensa,
Moldando assim, em plena luz, desejo
Encontrarei a névoa menos densa...


68


Ao mundo que entre nós vai se mostrando,
Adentro o pensamento libertário.
O céu de uma esperança iluminando
O vento que já foi mais temerário,
Agora o novo dia anunciando,
Demonstra um paraíso relicário.

São vários os motivos, te garanto,
Que fazem deste sonho, realidade.
Cevando em nossa vida tal encanto
Decerto encontrarei felicidade.
Eu quero te dizer que eu te amo tanto
Além do que é possível, na verdade.

Nas tramas deste amor eu sigo em frente,
No fogo que me faz calmo e contente...


69


Ao mundo resta apenas a esperança,
Depois de tanto tempo em desvario,
Secando desde a fonte, um manso rio,
A foz tão caudalosa não se alcança.

O homem com total auto-confiança
Matando a natureza desde o cio
Tornando este planeta mais vazio,
Só deixa pro futuro, a vã lembrança

Das águias e das águas. Algas, gases,
Cenário devastado, nada sobra.
Enquanto a poesia se desdobra,

Os poderosos sempre tão vorazes
Destilam dos cadáveres, seu vinho,
Deixando só escombros no caminho...


70


Ao olhar assim de frente
A menina mais formosa,
Coração vai de repente,
Num momento fica prosa,

A tua boca tão quente
A tua bunda gostosa,
Tanta vontade se sente,
Bobear a gente goza.

Eu te quero em minha cama,
Nos lençóis, seda e cetim,
Acendendo a minha chama,

Deitadinha para mim.
Meu amor depressa chama,
Para o amor que não tem fim..


71


.
Ao olhar os reflexos espelhados
Nos rostos que quem tanto maltratei
Percebo os passos tortos quando andei
Vencido por desejos malfadados.

Olhares tantas vezes magoados,
Fazendo da tristeza, a minha grei,
Empáfia de quem quis sonha ser um rei
Gritando com quem ama em altos brados.

Sou verme e ao ver-me assim eu me liberto,
Vontades sem limites, eu deserto
E passo a ter apenas a certeza

De quem viver em paz traz liberdade
Sabendo a plenitude da amizade
Conheço a magnitude da beleza...


71

Ao oscular a face empresto à traição
O gosto verdadeiro em consciente fato
No gládio em que me encontro um último retrato
Em busca desperada- eu sei – de punição.

Eu sei que muita vez é grande a sedução
Que se mostra em covarde e desnecessário ato
Secando toda a fonte e matando o regato
Trazendo para a vida, a própria negação.

Assim é que funciona a harmonia do jogo
Aonde um traidor é quase sempre um santo.
Mas vejo em ti querida, uma exceção à regra.

Na força da amizade o verdadeiro fogo
Que emana de minha alma e mostra puro encanto
Iluminando assim a noite outrora negra...


72

Ao passares pelas ruas ladrilhadas
Emana teu perfume, lembras rosa,
Seguindo neste aroma, quais pegadas
Encontro-te radiante e tão formosa.

As horas de tristezas já passadas
Mostrando que esta sorte deleitosa
Ergueu-se das fortunas destroçadas
Trazida pela mão mais venturosa

Daquela a quem amara num segredo,
Em sonhos endeusara a vida inteira
Salvando-me do eterno e mau degredo,

Curando estas feridas com carinho,
Na mansidão perene e verdadeira,
Forrando com olores nosso ninho...


73


Ao passares, cobiçada pelas ruas,
Não vês o meu olhar quase faminto.
Acendes um vulcão que esteve extinto
Dando a impressão, querida, que flutuas.

Sem olhar para trás tu continuas
E em cada passou teu, meus sonhos pinto.
O que pensam de um velho tão distinto
Imaginando a moça toda nua?

Bem sei que não teria qualquer chance
Mas te agradeço, enfim, de qualquer jeito.
Sentindo em cada passo num nuance

Que a vida permanece resistindo
E o sonho com certeza é meu direito.
E o mundo, enfim, deveras, é tão lindo...


74


Ao perceber bonança nos teus versos
Recebo uma esperança no meu rosto.
Concebo em aliança os mais diversos
Sentimentos profundos; e assim posto

Unir os corações antes dispersos
Junto contigo, amor, estou disposto
Lançando um desafio aos universos
De termos paraíso recomposto.

Quem sabe em amizade, amor ou ambos;
A vida seja fácil de viver.
Sozinhos, corações viram molambos

Rastejam pelo mundo em solidão.
Na sede por amor e por prazer
Se perdem sem calor ou emoção...

75




Ao perceber no espelho a fria imagem
Que aos poucos se esvaindo, nebulosa,
Trazendo bem no fundo da paisagem
Uma caricatura tão jocosa,

Ainda que os reflexos já se trajem
De luzes num mosaico, a vista glosa
Deixando fragilmente uma miragem
Que mesmo assim confusa inda é vistosa.

Porém um rudimento de sorriso
Irônico demonstra-se impreciso
Em tons agrisalhados. Mas quem há de

Dizer do embotamento em que se dá
A falsa percepção que desde já
Traduz em agonia, a mocidade!


76


Ao perceber que estavas tão a fim
De estar comigo, amada eu bem sabia,
Que toda esta surpresa para mim,
Não duraria mais que um simples dia.

Por mais que a vida faça e se desdobre
E mostre saborosa novidade,
Alegria tão curta é a desse pobre
Que sonha poder ter felicidade.

Porém eu agradeço este momento,
Aonde foste deusa e cortesã
Quem dera se este tempo fosse lento,
E não houvesse nunca um amanhã.

Mas mesmo assim, guardando a bela cena,
Eu te garanto, amor, valeu a pena!


77


Ao perceber teus passos nessa escada,
Taquicardia tenho, fico tonto...
Minha alma fica toda alvoroçada,
Os meus olhos brilhando... Já me apronto.

Espero mais solene essa chegada.
O tempo se arrastava nem te conto,
A vida parecia desastrada...
Agora que te tenho e que estou pronto,

Não fico de tocaia, nem calado...
O mundo me parece, faz sentido...
Tanto esperei... Quero viver ao lado

Dessa mulher, minha esperança e luz...
Nessa alegria, amor foi convertido,
As minhas horas, tua mão conduz...


78


Ao perceber vazios e lacunas
Eu tento conhecer cada pedaço,
Vencendo a tempestade, areia e dunas,
No mar da fantasia, riscos traço.

Singrando no horizonte estas escunas
Eu vejo decifrado cada passo,
Distante placidez de outras lagunas
Meu rumo pela vida, eu mesmo faço.

Desfaço antigos nós de olhos fechados,
E beijo a ventania, com prazer.
Por raios e relâmpagos cercados,

Os sítios da esperança são assim,
Fugazes fogos fátuos posso ver
Gêiser intermitente dentro em mim...


79




Ao perder qualquer noção
Do quanto pude e, nada
A sorte ainda evada
Dos dias que verão
Apenas solidão
E nisto outra alvorada
Já tanto desejada
Agora em novo não.
Areias, praias,.mar
Pudesse navegar
Nos braços de quem busco
Vencendo o medo e o caos
Ainda em velhas naus
O porto mais velhusco.

80


Ao perder a noção de tempo e espaço,
Sem medo de saber-me apaixonado.
Fortalecendo sempre cada laço,
Querendo estar contigo do teu lado.

Decifro no teu corpo, passo a passo,
O rumo que será nosso aliado.
Derramo nosso amor, venho e te abraço
Querendo ser por ti, somente amado.

Paixão que nos tomou em poesia,
Formando imensidão de sonhos tantos.
É forma de cantar em harmonia,

Cedendo mansamente aos teus encantos,
Que bom saber da glória deste Fado,
De ser assim, teu par e namorado...


81


Ao preparar seu bote já me espera
A fria solidão, velha parceira.
Inverno que adentrou a primavera
Hiberna uma ilusão, amarga esteira.

O quanto que eu pensava enfim poder
Sorrir depois da enchente que encontrara
Aguando meu canteiro eu pude ver,
A flor que se mostrou divina e rara.

Porém a vida trama num falsete
E mata o que pensei ser esperança
Da festa prometida, sem confete
Acaba num momento o riso e a dança.

Catando o que restou desta ilusão
Exponho nestes versos, coração...


82


Ao procurar abrigo nos teus braços
Sabia que podia já contar
Com toda a garantia destes laços
Tão fortes que ninguém pode apartar.

Consolo para os tristes pensamentos
No apenamento duro de minha alma,
És garantia certa dos momentos
Onde nem a beleza já me acalma.

Suave, o teu perfume, companheira
Recende a um jardim de alfazemas,
Por mais que se persiga a vida inteira,
Douradas garantias destas gemas

Que formam estas pedras lapidadas
Duma amizade sempre de mãos dadas...


83


Ao procurar amor que já me desse
Esperança de ter contentamento
Depois de tanta reza; tanta prece,
Encontro teu olhar; meu manso alento...

Amores que já tive; insatisfeito,
Que tanto me feriram e sangraram.
Agora que te encontro, amor perfeito;
Meus dias, com certeza, iluminaram...

Verdade que por vezes és distante,
Mas eu te encontro sempre que preciso.
Nas horas mais doridas, és constante.
O sofrimento nunca manda aviso...

Amiga nos momentos mais diversos,
Dedico meu amor em tantos versos...


89


Ao procurar encontrar entre as estrelas
Os rastros que me levem num instante
Aos passos deste amor tão deslumbrante
Que em forma de carinhos já revelas.

As noites transmudadas ficam belas
Se trazem nosso amor belo e constante,
Que é feito em sintonia. Num rompante,
Partimos mar afora, abrindo as velas

E as asas em nudez, desejo e gozo,
Tramando este passeio mais gostoso
Por entre tantos astros, luas, sóis...

Encontro então os rastros que deixaste
Nos perfumes que, amor, tu espalhaste
Por sobre nossa cama e seus lençóis....


90

Ao prosseguir a minha caminhada
Encontro uma calçada tão formosa
Em pedras tão bonitas, ladrilhada
Paisagem sem igual, maravilhosa.

Ao lado dessa rua um bosque em flor
Aonde posso ver um divino anjo,
Calado; solitário busca amor,
Porém a vida mostra em triste arranjo

Vazios nos seus olhos, dura sina,
Enquanto ladrilhava em esperança
Buscando ter os sonhos da menina,
O medo num tormento, o pobre alcança.

No bosque que se chama solidão,
Um anjo chora só, sem coração...


91

Ao recordar os dias que passamos
Em meio a tão diversas maravilhas,
Divinas emoções por onde trilhas,
Momentos sem igual nós preparamos.

Se a cada novo brilho realçamos
As noites sem mentiras e armadilhas.
Envoltos nesta trama sem guerrilhas,
Dilúvios, temporais já provocamos.

Acesas lamparinas desde antanho,
A cada novo tempo, um outro ganho
Felicidade assim, ninguém se esquece.

Façamos reviver cada segundo,
Do amor que a gente tem, maior do mundo,
Que apenas conheceu quem o merece...


92


Ao renascer do esgoto que me deste,
Sem ter mais esperanças, morro assim.
O amor que não bebi, louco estopim,
Espalha sobre o campo, frio e peste.

Abismo como herança, solo agreste
Jamais florescerá novo jardim,
Do quanto de tristeza existe em mim,
Sem sonho ou solução que amor empreste.

Ambíguas emoções, alívio e dor,
Atento aos dissabores; sobrevivo.
Pressinto o meu final, mas não me queixo.

Enquanto a vida trama em dissabor,
O olhar que permanece mais altivo
Não representa; amigo, algum desleixo...


93

Ao ressurgir o amor
Depois da tempestade
O quanto nos invade
Cenário aonde eu for,
Vislumbro sem pudor
Amor que nos degrade
E dita a realidade
E nisto é multicor.
Ocaso de minha alma
A sorte não acalma
E nada mais teria,
Produzo a solução
Nos dias que virão
E mata a fantasia.


94


Ao ressurgir o amor em nossos peitos,
Fizemos deste sonho, uma certeza,
De toda a fantasia em nossos leitos,
Bebendo todo o rio e a correnteza.

Lutamos pelo amor, e nossos pleitos
Nos dão toda a magia da beleza
E assim, versos unidos, satisfeitos,
Jamais da dor seremos simples presa.

Vencendo as armadilhas do caminho,
Não temos mais as pedras, nem espinho.
Sofremos, mas vertemos emoções.

Unindo nossos mundos tão distantes
Fizemos destes dias deslumbrantes
Alentos para os pobres corações...


95


Ao riscar os espaços
Procuro alguma luz
E sei o que traduz
Momentos duros, lassos
Em dias mais escassos
O todo reproduz
Cenário onde faz jus
Legando velhos traços.
Gerando o dia a dia
A sorte se faria
E o tanto não pudera
Vencer a velha espera
Em turva fantasia.
96


Ao riscar os espaços versos soltos
Penetram por janelas, abrem portas
Vencendo mares loucos e revoltos
No cais do nosso amor tu vens, aportas.

Amar e ter um sonho: ser feliz,
Mostrando o bom caminho a se seguir,
Meu coração te prova e pede bis,
Eu quero do teu lado prosseguir

E ter o alvorecer bem mais bonito,
Nos raios deste sol que nos guiou
Do amor em que se cumpre cada rito
Estrela radiosa já brilhou

E trouxe uma esperança gigantesca,
Na aragem da manhã, tão calma e fresca...


97


Ao riscares, da agenda, o telefone
De quem tanto te quis e inda te quer,
Deixaste cada noite ser insone,
Lembrando o teu perfume de mulher...

Quem dera ser imune ao sofrimento
Legado como herança. Tal tristeza
Tomando, com vigor meu pensamento,
Minha alma a se mostrar tão indefesa...

Apenas um momento... quem me dera...
Sentir o teu aroma junto a mim,
A flor que um dia trouxe a primavera
Inverna, em solidão, todo o jardim...

Quem sabe, noutra vida tu virás
Trazer a quem tanto ama, alguma paz...

98


Ao rolar esse rio em mil cascatas,
Nas curvas, bambuais e lambaris...
Respondem tantos sóis as belas matas.
Ladrilhos e jardins: eu fui feliz?

Os olhos dessas águas, mansas pratas,
As margens não se inundam por um triz...
Das belezas divinas, águas pratas
Matas, cascatas, rio velha atriz...

No reflexo das mágoas, sua tiara...
Procuro em alta fímbria meu destino...
Mergulho tocaiando bela Iara...

Se espalha com total insanidade,
Causando furioso desatino.
Na fúria das enchentes, tempestade...


99


Ao rolar esse rio nas cascatas,
Nas curvas, bambuais e lambaris...
Respondem tantos sóis as belas matas.
Ladrilhos e jardins, não fui feliz...

Os olhos dessas águas, mansas pratas,
As margens não se inundam por um triz...
Das belezas divinas, tantas natas,
Matas, cascatas, rio velha atriz...

No reflexo das mágoas, sua tiara...
Procuro em alta fímbria meu destino...
Mergulho tocaiando bela Iara...

Se espalha com total insanidade,
Causando furioso desatino.
Na fúria das enchentes, tempestade...


2900



Ao saber que te faço mais feliz
Trazendo um acalento em dias duros,
Ajudando a subir íngremes muros
Portando para o céu melhor matiz,

Brotando esta alegria, tanto eu quis
Levar a claridade em dia escuro,
No sentimento nobre, pois tão puro
Emoldurando amor, ser aprendiz.

Versar sobre este mundo benfazejo
Que sinto renascer em nossos passos.
Ajuda a recompor em belos traços

Um tempo mais gentil que enfim prevejo.
Galgando em sonho intenso, a liberdade
Que é base para ter felicidade...

1


Ao seguir calmamente pelas sendas
Auríferas do amor, singelo lírio...
Em teu alvor encontro velhas lendas,
Teu perfume inebria num delírio...

Procuro me esconder, profanas fendas,
Dos siderais fantasmas, meu martírio.
Quem dera, destra vida desse prendas,
No brilho das estrelas, meu colírio...

Ó lírio companheiro das desditas,
Afaste dos caminhos, vãos quebrantos.
As minhas mãos em prece, tão aflitas,

Esperam teus pendores alvos, santos...
As linhas do destino, foram ditas
Vivendo teus simbólicos encantos...


2


Ao segurar a mão que me destrata
Atando duas partes desconexas
Por mais que se pareçam tão complexas
As horas vêm a força que maltrata.

Se côncavas ou mesmo se convexas
O quanto não somamos se retrata,
Não sei se ainda agüenta esta bravata
Ou deixo o que inda resta em mãos anexas

Avesso ao que comprei: gato por lebre
Não tendo nem mansão, busco o casebre
Que embebe de ilusão um torpe sonho.

Servindo com lascívia ao servidor,
Seguro em mansidão meu destrator,
Gargalho sobre o resto, sou medonho...


3


Ao sentir a presença de quem amo
O coração palpita e quase pára.
Com voz quase engasgada quando chamo
Pessoa tão querida e mesmo rara.

Por vezes no silêncio já reclamo
Se tua mão me deixa e não me ampara.
Teu nome logo ao vento; vou, exclamo
Tu és a maravilha que eu sonhara...

Por isso ao sentir o manso vento
Tocando minha face com carinho
Percebo, com feliz pressentimento,

Que não ficarei jamais sozinho
Pois tenho essa alegria e me contento
De ter o teu amor, abrigo e ninho...

4


Ao sentir a presença deste olhar
Tão meigo e carinhoso sobre mim
Sinto toda a delícia de te amar.
É bom demais viver e estar assim

Refém desta alegria a me tocar.
Depois de tanto tempo sei, enfim
Que a sorte benfazeja a se mostrar
Depois de tão distante disse sim.

Amar é se encontrar em plena festa
Embora muitas vezes, a saudade
Um gosto de amargura, leve; empresta.

O teu sorriso acalma e me motiva
À luta que é difícil, na verdade.
Mantendo uma esperança sempre viva!


5


Ao sentir os teus passos, minha amiga,
Percebo quanto a vida foi ingrata...
Nas noites em que a lágrima me abriga
Mergulho nosso amor numa cascata...

Percebo que não queres mais voltar...
Mas nada me impediu de te querer,
A noite sem te ter, perde luar,
Não posso mais, assim, sobreviver...

Quem dera, tu voltasses para casa.
As rosas estão morrendo sem cuidado.
A dor da solidão tanto me abrasa,
Eu preciso te ter, aqui do lado!

Mas volta minha amada, nossas flores,
Morrendo no jardim, dos meus amores...


6

Ao sentir tua boca sobre a minha
Na sede que matamos, todo dia.
Meu corpo no teu corpo já se aninha,
Dueto tão completo em sintonia...

Dançamos tantas noites sem descanso,
Rolando nossos corpos tão suados...
Depois das nossas danças, mudo; manso,
Namoro estes teus olhos já fechados...

Eu quero ter eterna sensação
De terna e de total felicidade.
Saber que te encontrei; tanta emoção,
Vivendo nosso amor, sinceridade...

Eu quero poder sempre me iludir,
Amor, em tantas vidas, repetir...


7


Ao sentir tua presença junto a mim,
Num vento que me traz tanto arrepio,
Desnudo-te e mergulho até o fim,
Num mar maravilhoso, festa e cio.

Rolamos em lençóis, renda e cetim,
Teu corpo, conhecê-lo é um desafio,
Em linhas delicadas eu desfio
Os traços que te fazem linda assim.

Assento meus desejos em teus gozos,
Recebo com audácia teus caminhos.
E entrego-me sem tréguas aos carinhos

Que fazes, sem limites prazerosos,
E o brilho que roubamos de uma lua
Emana em tua pele, sacra e nua...


8

Ao sentires um sonho
Ainda te tocando
No quanto fora brando
O tempo onde componho
Singrando este medonho
Caminho o desenhando
Na sorte desde quando
O passo além proponho.
Resulto do passado
Inútil quando brado
Vestindo a hipocrisia
Assim a sorte dita
O quanto da infinita
Ausência se faria.



9

Ao sentires um mundo
Diverso do que trazes
Ainda em novas fazes
A paz onde aprofundo
O sonho e sei me inundo
Da sorte em tais audazes
Momentos onde em frases
Mordazes; sigo imundo.
Aclamo esta ventura
E nada se procura
Senão tal mesmo engodo,
Depois da tempestade
O quanto se degrade
Transforma a dita em lodo.


10

Ao sentires um vento bem macio
Chegando devagar, roçando o rosto,
Lambendo tuas pernas, bem vadio,
De desejo e carinho assim composto,

Um vento que incendeie o quente estio.
Deixando o teu querer bem mais exposto,
Molhando devagar, doce rocio,
Provando em tua boca, todo o gosto.

Ao sentires o vento te tocar,
Audaz já levantando a tua saia.
Sorvendo de teu corpo, devagar,

Verás que enfim cheguei, minha morena.
Sorriso no teu rosto não te traia,
Que a vida em mil prazeres nos acena...


11


Ao sol incandescente recomeça
O dia feito em glória e tempestade.
Sabendo recolher peça por peça
Eu vejo em nosso caso, a liberdade.

Não temo mais sorrisos nem sarcasmos,
A manta que nos cobre é feita em luz,
Tocado pelos sonhos dos orgasmos
O sol em nosso quarto reproduz

Serenos vendavais do gozo pleno,
Bonanças que são feitas dos suores,
Delicadeza em cada bom veneno
Demonstram fortes brilhos bem maiores.

Saber reconhecer que a mansa paz,
No riso mais feliz, decerto traz...


12


Ao soltares a voz em canto belo,
Encantando quem sempre desejou
Meu amor tão imenso te revelo,
O teu canto macio me encantou...

Eu só quero perder-me nos teus braços
Encontrando afinal, o que sonhara,
Esquecendo meus passos, meus cansaços
Na procura por jóia viva e rara.

Eu te quero espelhando meu jardim,
Eu te quero vencendo meus temores.
Eu te quero escondida dentro em mim,
Renovando o perfume destas flores...

E te quero por certo, uma rainha,
Uma deusa sublime, inteira, minha...


13



Ao som da melodia delicada,
Delírios entre flores e canteiros.
Na voz encantadora de uma Fada,
Prazeres são comuns, são corriqueiros.

Ouvir, do coração, a melodia
Que espalha pelos Céus a claridade.
Vivendo a verdadeira poesia,
Alados pensamentos: liberdade.

Amor, quanto maior, mais frágil é,
Na tenra sensação de ser feliz,
Alçando o Paraíso. Força e fé,
Deixando a minha tarde menos gris

E enquanto a deusa bela, ao longe canta,
Minha alma, hipnotizada, se agiganta...


14


Ao som da melodia um coração dispara
Vivendo uma loucura, amar-te todo dia.
A gente não tem cura, e o tempo que não pára
Promete uma ternura imersa em alegria;

A sensação dileta – amor é jóia rara-
É mais do que sonhara, e tudo o que eu queria,
Mostrando enfim querida, o que eu mais procurara
Um sonho de viver a vida em harmonia...

Na festa, no banquete, a fome não sacia
Eu sempre desejei teu néctar e ambrosia,
Por isso venha logo, o tempo não descansa

Eu quero mergulhar em tal felicidade
Que o tempo já me deu; e a vida agora alcança
Pois sei que agora eu tenho um amor de verdade...


15


Ao suplantarmos, juntos, contratempo,
Nessa amizade poderemos crer
Suplantaremos com certeza o tempo
Demonstrará o quanto é bom viver.

O coração que se demonstra assim
Aberto a tantas emoções nos traz
Força sublime que permite a mim
Reconhecer a plenitude audaz

Que vencerá sem demonstrar temor
Os temporais aos quais eu enfrentei
Jogado contra as pedras hoje eu sei

Luz soberana em que viceja a flor
Após enfim vencer a tempestade,
Amigo, eu sei que é dura uma saudade


16


Ao suplantar diverso contratempo
Chegando à fortaleza que me alente,
Por mais que no caminho, tanto vente,
A vida se transforma a cada tempo.

Nos cânticos, nos pórticos, promessas
Do dia em que se possa trafegar
Além do turbulento e imenso mar,
Seguindo este querer que assim confessas.

Não tendo mais medida, não me importo,
Se acaso eu ancorar em outro porto,
Terei de teu olhar, fonte e farol,

Quem tem o manso amor por faroleiro,
Permite mesmo ao cego timoneiro
A guia que ilumina este arrebol.



17


Ao tanger belas cordas de uma lira,
Em sons maravilhosos, pois amenos,
Ao lapidar um sonho, já delira,
Com dias delicados e serenos.
Os olhos desta lua; nunca tira,
Dulcíssimos, sonoros, raros trenos...

Encontra em manso amor, a liberdade
De estar além do céu, saber do mar,
Rompendo uma alvorada na ansiedade
De ter e ser o sonho que buscar
Na ebúrnea madrugada, a claridade,
Às trevas dentro da alma, iluminar

No céu, mulher qual deusa, raios plenos,
Brilhando no infinito, a bela Vênus...



18


Ao te despir, querida, uma loucura
Invade meu desejo e faz audaz
Este roçar que veio com ternura
Ferocidade intensa já se faz.

Insano mas decerto com brandura
Esta vontade fica mais voraz
A tua silhueta, me tortura
Somente o teu prazer me satisfaz...

Tocando tua pele com tesão.
Adoço minha boca no teu mel,
Amor que se desnuda em tentação

Galopa toda noite rumo ao céu.
Vencido pelo fogo de um vulcão,
Repito toda noite em carrossel...



19

Ao te encontrar bebendo por aí,
Rolando pelos bares , botequins,
Desculpe, meu amor, se assim sorri.
Meios não justificam-se nos fins.

Mas não pude conter minha alegria
Ao saber que quem sempre maltratou
Perambulando em dor, em agonia,
A vida, justiceira, se vingou...

O remorso te leva ao desespero...
Bem sei que este veneno que provei
Quando em traição eu te encontrei

Nos braços de um querido companheiro,
Feriste meu amor em dura lança.
Por isso essa alegria, uma vingança...


20


Ao te encontrar serena, quis ser lúcido...
Doidivanas pensei que te enganava...
Mas por ser transparente, sou translúcido,
Sorrias, cada vez que me encontrava!

Dos porões, emergindo meus defeitos,
Percebeste num átimo: sou louco!
Não queres mais dormir meus mansos leitos...
Te grito embalde, foges, estou rouco...

A voz não me permite te chamar,
Não posso teus desejos transformar
Em simples valentia nem conquista.

Amor, te imploro, nunca mais insista,
Prazeres não nasceram para ti.
Transtornos são, pois, tudo que vivi!
Marcos Loures


21



Ao te encontrar, amor;
O tanto quanto eu quis
Gerando outro infeliz
Caminho a se compor
Na ausência de pudor
Na vida por um triz
O todo não mais diz
Do vago redentor.
Esbarro nos enganos
E sei dos soberanos
Cenários do passado,
Inutilmente eu tento
Vencer o imenso vento
E assim o nada invado.



22


Ao te encontrar, amor; eu descobri
Que a vida pode ter felicidade.
Não sabes mas bem antes, tudo aqui
Trazia um triste gosto de saudade

De um tempo que passou, mal percebi,
Deixando em seu lugar, ansiedade.
Agora que encontrei amor em ti
Eu volto a ser feliz, isso é verdade...

Estrela que vagava sem ter rumo,
Cometa sem paragem nem remanso;
Mas desde que em teus lábios me perfumo

Abri meu coração e esqueço o medo,
Os píncaros da sorte, amor alcanço
Do cofre do esplendor deste o segredo...

23


Ao te sentir sonhando junto a mim,
Sorrisos escapando de soslaio
Tu tens todo o perfume do jasmim,
Delicadeza de uma flor de maio...
Teu nome tão sublime digo enfim
Em toda prece e quase que me traio

Na santidade imensa deste amor,
No templo e nesse altar que é divinal,
Beijando mansamente este esplendor,
Teu corpo aqui sereno, sem igual.
Depois de tanto tempo de torpor
Acordo no teu sonho magistral.

E vejo a noite inteira se passando,
Tua beleza rara, eu adorando...


24

Ao te ver caminhando tão fogosa
Percebo por que foste sempre minha
Ao sentir teu perfume, bela rosa,
Pergunto por que vais assim sozinha?

A boca te ofereço carinhosa,
Do teu corpo, o desejo se avizinha.
Tanto tempo esperei, moça formosa,
Não sei por que esse amor nunca me vinha.

Não posso conceber: eu não resisto!
Amar sem ter teus olhos? Um absurdo!
Por isso e tão somente, assim insisto.

Viver sem ter amor? Não mais prevejo.
Amor assim demais, me deixou surdo,
Somente ouvindo a voz de quem desejo...


25

Ao te ver fatigada, no caminho,
Entendi por que sempre foste minha...
Quem num dia partiu, triste e sozinho,
Agora te encontrou triste e sozinha...

Teu caminho buscando meu carinho,
Meu caminho no teu sempre se aninha
Quem pensava poder ser passarinho,
Ao viveiro retorna e já se alinha...

Somos fiéis metades desse todo,
Complementos complexos mas perfeitos.
Convivemos completos, mesmo lodo;

A comida que como te sacia,
Minhas mãos adormecem nos teus peitos
A vida sem metade é tão vazia...



26



Ao te ver solitária pelas ruas
Das ruínas desta alma que foi minha,
Uma imagem distante se avizinha
E embora tão tristonha, já flutuas.

Saber destes anseios que cultuas,
É como se encontrasse rara vinha,
E mesmo que persistes; vã, sozinha
Tu trazes em teu rosto sóis e luas.

É tanta claridade que entontece,
E faço num louvor a ti a prece
Que possa redimir teu descaminho

Quem sabe, no futuro esta ave possa
Perceber a emoção que pensei nossa
E venha descobrir, em mim, seu ninho...


27


Ao te ver na distante e tão risonha serra,
O meu olhar te procura, em sonhos derradeiros.
Amargor da saudade em volta dos ribeiros.
Na trilha desta serra a marca d’uma guerra.
A noite sem ter sonho é triste, e me desterra...
Esperas, qual princesa, os bravos cavaleiros.
Eu só posso te dar, amores verdadeiros.
O teu belo castelo, está em outra terra.

A natureza rara, em alegrias, canta.
O pássaro que voa a quem escuta, encanta.
Só Deus nunca me escuta, embalde minha prece...
A nuvem, escondida, aguarda; trará chuva.
A mão que me tortura esmera-se na luva.
A tarde vem caindo, a noite me envelhece...


28

Ao te ver na distante
Seara aonde um dia
O todo se adiante
E trague a fantasia
E nisto um galopante
Caminho em ironia
Vagando a cada instante
Além do que podia
Resumo o verso em sonho
E tento enquanto o ponho
Seguir em calma luz,
Mas quanto mais audaz
A noite se desfaz
E o nada se produz.


29

Ao te ver na brumosa
Manhã mais solitária
A vida temerária
Ainda se antegoza
Do risco em majestosa
E dura sorte vária,
E mesmo solidária
Paisagem pavorosa.
Resumo do passado
Enquanto além eu brado
Vencido pelo ocaso
O rumo se traduz
Além da farta luz
E nisto em vão me atraso.


30

Ao te ver, me enredaste em cordoalha...
Nem tento distinguir os teus enredos.
Os cortes que me deste, de navalha,
Aos poucos, se reduzem aos meus medos...

As linhas que compõe velha toalha,
Se perdem cansaço dos meus dedos.
Nas ondas onde morro, vento espalha
As águas que enfrentaram meus segredos...

Perdido, não pretendo nem temor.
Rotulo minha máscara um tumor,
As párias madrugadas foram frias...

Me roubas, disfarçada em poesias,
O que me resta então de valentia.
Perdi, nas cordoalhas, fantasias...


31


Ao te ver, anjo, voas liberdade;
Sonho com asas, céus poder chegar,
Buscando assim, em toda claridade,
Os teus braços, teus mansos olhos, ar...

Quisera poder anjo, na verdade
Voar te ter bem perto, meu luar...
A vida cruel, pura dor, maldade,
Asas não me deu, como vou negar!?

Mas num sonho dourado, asas de cera...
Flutuar, conhecer estratosfera,
Partir para o jamais nunca alcançado...

Alcançando assim, glória, pobre pícaro.
E, depois, num mergulho des’perado,
Nos teus braços morrer, como fosse Ícaro!


32

Ao tempo em que tristeza se excedia
Vibrando enquanto tanto que eu sonhava,
Certeza de que nada se passava
No peito que exalava rebeldia.

Vencidas as inglórias naturezas
De medos e vazias engrenagens
Tocando nas feridas, incertezas,
Me levam por insanas, más, aragens...

Amor que se tocaia nas vinganças
Espreita meus enganos e torturas
Matando o que me resta de esperanças
Causando tanta dor, noites escuras...

Mas sinto que não posso resistir,
Somente o que me resta então, sorrir...


33


Ao ter a primazia da presença
Daquela que se fez enamorada,
Vencer em alegria, a madrugada
Prevendo amanhecer em luz intensa.

Nos sonhos de um amor, a minha crença
Expressa a fantasia em paz bordada,
Minha alma libertária segue, alada
Buscando em teus carinhos, recompensa.

Perambulei durante a vida inteira
Em bares e sarjetas, vãos carinhos.
Quais pássaros que buscam os seus ninhos,

Ilusões procurando a companheira
Que nunca vinha. Ronda outrora agreste,
Atocaiando a estrela em que vieste...


34


Ao ter a solidão por companheira
Não pude vislumbrar outro futuro
Senão este caminho amargo, escuro
A senda dolorosa e derradeira.

A fantasia; agônica bandeira
Tornando o meu destino mais impuro,
Por vezes outras sendas eu procuro
E nada,além da dor tão costumeira.

Vassalo desta estúpida ilusão,
Vergastas sobre as contas, lanhos tantos.
Vencido pelos tantos desencantos

A vida sonegando a floração
Não tenho mais as flores do jardim,
A seca vai matando tudo em mim...


35


Ao ter esta visão maravilhosa
Da deusa que chegou em redenção
Batendo bem mais forte o coração
A vida se demonstra fabulosa.

E canto nosso amor em verso e prosa
Depois de tanto tempo em solidão
Aos poucos pressentindo inundação,
Os erros do passado, amor já glosa.

Escancarando o peito, sinto vir
O gosto generoso de um porvir
Aonde possa ter algum descanso.

De toda esta batalha que eu vivi,
O amor que sei que existe dentro em ti
Já trouxe a placidez deste remanso...


36




Ao ter este vulcão perto de mim,
Deliciosamente me perdi.
Chegando num momento junto a ti,
Promessa de um prazer quase sem fim.

Num sensual delírio quero assim
Tocando devagar aqui e ali,
Na imensa ebulição em que verti
O fogo mais audaz; por isso eu vim

Falar desta volúpia insaciável
Do Amor insuperável, quase incrível,
Tua nudez; perfeito combustível

Teu corpo delicado, irretocável.
Vagar entre os teus vales e montanhas
Num jogo em que te ganho e que me ganhas...



37


Ao ter já percebido que amizade
Supera qualquer trauma em nossa vida,
Vivendo enfim total felicidade,
Eu vejo uma tristeza em despedida,

Meus versos já supondo a claridade
Esbarram-se nas curvas de saída,
Saúdam desse amor prosperidade,
Cultivam esperança decidida.

Eu quero por sentindo no meu canto
Que ufana uma vitória sem temores.
Amiga não permita o desencanto

Que cala nossa voz, trama seqüelas.
Misturam-se nos céus milhões de cores,
Nas telas em que o canto bom revelas...


38


Ao ter no doce início da manhã
O vento delicado do teu riso
Vivendo esta ternura em louco afã
Encontro nos teus braços, paraíso.

Tingindo esses meus sonhos com as cores
Que roubo da manhã ensolarada
Tramando em teu colo mil amores
E Saiba deste quanto que és amada.

Eu sinto tua fala tão macia
Entrando no meu peito sonhador,
Acordando e com isso, ganho o dia,
Envolto nas entranhas deste amor.

Amor que me entregaste é solução
Que teima e fortalece o coração!


39


Ao ter o teu calor junto de mim
Refaço a minha vida sem temores,
O céu vai renovando suas cores
A lua no teu lábio carmesim

Prateia a nossa cama e traz no fim
O brilho deslumbrante em seus fulgores,
Contigo, meu amor, por onde fores
Mil flores no canteiro, em meu jardim...

Amar, como mereces, o bastante
Jamais conseguirei, isto eu pressinto,
Bebendo de teu corpo tal absinto

E sendo a cada dia teu amante.
De tudo o que vivemos, não duvido,
Por isso este meu verso agradecido...


40


Ao ter o teu perfume junto a mim
Estendo o coração nesta varanda,
Na boca o mais suave carmesim,
Meu peito enamorado anda de banda.

O vento se espalhando traz em fim
Amor que em tanto amor já não desanda
Na dança mais sublime sinto enfim,
O gosto de dançar nossa ciranda.

Além do que quisera há tanto tempo,
Não tendo mais, na vida, um contratempo,
Não trago nem sequer algum queixume,

Na noite tão escura que enfrentara
Ao ver maravilhosa jóia, rara,
Um louco viajante encontra o lume.


41


Ao ter o teu sorriso
Querida, com prazer
Encontro em paraíso
Vontade de viver

Num beijo mais preciso
Num fogo a nos arder
Perdendo o meu juízo
Encontro o bem querer...

Um amor tão magnético
Muita vez enigmático
Não permitindo ao cético

Ficar sozinho, estático.
Desejo tão eclético
Se torna bem mais prático.


42


Ao teu lado conhece uma alegria
Quem fora prisioneiro da tristeza,
Fartando-se e brindando se faz presa
Do amor que em noite escura já nos guia.

Um verdadeiro sonho que inebria,
Em taças cristalinas põe a mesa.
Rompendo em mansidão cada defesa
Inverno rigoroso, amor estia.

Fiando na divina transparência
Um gozo feito em seda, em organdi.
O quanto em maravilha eu antevi

Tocado pela maga florescência
Que emanas, em sorrisos e convites.
Amor que não tem tréguas nem limites...


43



Ao tocar o teu corpo devagar,
Beijando cada canto e cada curva.
A vida começando a nublinar
Desaba nas delícias de uma chuva...

Eu quero passear pelos teus rios,
Andar e conhecer todas as margens.
Mergulhando loucamente nos estios,
Descendo até na foz, toda a viagem...

Entrar nos alagados, afluentes...
Descer tuas cascatas, corredeiras.
Saber destes braços envolventes
Nas ilhas delicadas, nas pedreiras...

Eu quero teu amor completamente,
Morrendo em teus desejos, uma enchente...


44



Ao tomar os teus braços minha amada
Convites de alegria e de bailado
Repleto de emoção, a noite inteira
Que faz da fantasia a companheira

Tantas vezes querida e desejada!
Nos risos e canções, no peito aberto
Nas manhas e manhãs, eu quero sempre,
Matando em mil oásis o deserto

Que fora a minha vida antes de ter
O gosto mavioso do prazer
Sorvido em tua boca, gota a gota.
A fonte do desejo não se esgota...

Amor que é belo e raro, delicado
Em mil canções te clamo, apaixonado!


45


Ao tomar os teus braços minha amada
Sentindo a vibração deste desejo,
Amor sendo sublime, em luz sobejo
Desvenda esta promessa anunciada

Alçando o Paraíso em bela estrada,
Deixando para trás orgulho e pejo,
O coração outrora tão andejo
Mergulha em claros raios, todos. Cada...

Ouvindo esta canção, solos, guitarras,
Rompendo do passado vis amarras,
Nos dedos de Lucia, esta ventura

De imagens em mosaicos, noite/estrela,
O amor que intensamente se revela,
Traduz em belos sons, tanta ternura...
46

Ao vê-la se revela o mais velado
Sonho em que me transponho, nave insana.
Farturas de ternuras, cada cardo
Deixado nos caminhos, não me engana.

Vislumbro precipício onde me enfado
E fujo em alva lua, uma cigana
Que vaga pelo espaço iluminado
E morre nos meus braços, soberana.

Prevejo o que não quis ver os meus olhos,
Agudos pedregulhos, meu antolhos,
Impedem a clareza necessária.

Qual fossem mil corcéis, estrelas vagam
Imersas entre nuvens que as apagam.
Noite em látego açoite, temerária...


47


Ao vê-la, percebera que sonhara
Em vão por muito tempo. Percebia
Que o quê julguei tratar-se jóia rara,
A bem de uma verdade nem sabia.

Olhar ermo, distante, concebera
Uma mulher mais bela que teria
Se não pudesse ser somente fera
Aquela que morrera, raie o dia.

Erguendo-se, dos sonhos, tal fantasma,
Reclamam as quimeras ressurrectas,
Eflúvio desvairado, um ectoplasma

Invade meus presságios otimistas.
As mãos que não mais lavo, estão infectas
Subterfúgios do amor, minimalistas...



48


Ao vento se entregando uma saudade,
É parte do que fui sem recompensa.
Vagando em noite fria, a dor compensa
O tempo em que vivi felicidade.

Quem se pudesse em liberdade
Alçar um pensamento que convença
O coração insano da força imensa
Que uma esperança traz na realidade...

Amiga, me perdoe o verso triste,
Eu necessito sempre do teu colo,
A planta vai secando em duro solo.

Apenas a amizade inda resiste
E nela eu me apegando posso crer
Que um dia inda haverá o amanhecer...


49


Ao velho, pleno encanto, o retorno final
De quem bebeu o sonho em goles generosos.
Por mais que talvez tenha um gesto triunfal
Os ritos de um amor não são maravilhosos.

Na escada do passado, um trôpego degrau,
A queda anunciada em passos caprichosos
Prepara o coração, e sendo bom ou mal
Quem sabe não teria olhares prazerosos

Daquela que motiva o sonho mais feliz.
Num canto qualquer, guardo em minha mente
A imagem mais sublime expressando o que eu quis

Embora disso tudo, apenas o que sente
O velho trovador em busca da alegria
É o tempo de sonhar vivido em poesia...


50


Ao vento estas palavras se perdendo,
Acerco-me dos sonhos mais audazes,
Esqueço os meus curingas, penso em ases,
Prazer jamais passou de um vago adendo.

A história novamente revivendo,
Os quadros destroçados, simples fases,
Acumulando os riscos que me trazes,
Distante do que cri, envelhecendo.

Discórdias se tornando um estribilho,
Lembranças contumazes; vejo e trilho.
Resquícios do vazio que criamos.

Errático poema em voz sombria,
O quanto de emoção nos desafia
E as árvores quebrando antigos ramos...





51


Ao ver-te transportada em luz intensa,
Vigor de uma paixão iluminando
A noite que se fora, outrora densa,
Aos poucos no meu peito se amainando.

Como a dizer que a vida, enfim compensa,
Em todos os momentos, desde quando
Eu recebi da sorte a recompensa
Dos braços da mulher que estou amando...

No lusco fusco, imerso em nosso quarto,
Percebo em contraluz, em transparência,
Beleza tão sutil, amorenada,

Depois de ter amor, deitando farto,
Eu agradeço a Deus condescendência
De ter esta mulher tão desejada...



52


Ao ver-te caminhando em solidão
Na ausência dolorida, ruas vagas,
Noctâmbula visagem – tentação.
O que faria, amor, por estas plagas?

Sentindo palpitar meu coração
Por tanto que eu te quis; sensações magas
Tomado de desejo; em comoção;
Lembrando o teu carinho quando afagas

Meu rosto, meus cabelos, minha pele.
Uma vontade insana me compele
E sigo, teu caminho passo a passo.

Ao te tocar, querida, firmemente,
Percebo num sorriso, de repente
O quanto nos queremos, e te abraço...


53


Ao ver-te em plena relva desnudada,
Ao sol iluminando a natureza.
Sorrindo me convida extasiada,
A mergulhar contigo em tal beleza.

Beijando tua boca tão molhada,
A pele tão gostosa, com certeza,
Aos poucos vai ficando arrepiada,
E invado sem pensar e sem defesa.

Meus lábios vão descendo devagar
E logo ao encontrar os teus caminhos,
Em sedução me perco em teus carinhos.

O sol por testemunha, vem brilhar
E assim na tarde insana, sem juízo
Adentro com loucura, o paraíso...

54


Ao ver-me derrotado e sempre triste,
Ardendo na terrível solidão,
Olhando tão somente para o chão
Pensando que alegria não existe.

Tua palavra amiga tanto insiste
E mostra de repente, a solução,
Deixando para trás caminho vão
Mostrando o renascer que inda resiste

No peito de quem sabe, um sonhador,
Com toda a mansidão e liberdade
De poder ter enfim, felicidade,

Nos braços mais airosos de um amor
Que é feito e modelado em amizade,
Que aos poucos demonstrando o seu valor...


55


Ao ver-te caminhando pela casa
Envolta na toalha; te desejo.
No banho que tomaste, queimo em brasa
Tua nudez divina eu já prevejo..

Meus olhos estão presos, cordoalha;
Ligando esta vontade com o fato
Da maciez felpuda da toalha
Tocar essa delícia. Que maltrato

Tu fazes para um pobre coração
Que vive desejoso desta pele
Envolta com carinho. Uma ilusão
Ao mesmo tempo chama e me repele...

Depois, a noite inteira vou sonhando
Debaixo da toalha... Diga... Quando?


56


Ao ver-te caminhando em plena graça,
Rainha de meus sonhos, sedutora.
No véu de uma beleza que esvoaça,
Te quero, minha amada; vem agora.

Tesouro que buscara, não disfarça
Em brilhos redentores, sem demora,
O tempo do teu lado nunca passa,
Minha alma, te deseja e tanto adora...

Murmuro em cada verso esta esperança
De ter essa mulher sempre comigo.
Vivendo nossa vida, eterna dança,

Vibrando sem temores, esta emoção,
Do amor no qual navego e tenho abrigo,
Carinhos em feitio de oração....


57


Ao ver-te se afastando dos famintos,
Toando um verso frouxo de mentiras.
Amores propagados vão extintos,
A roupa da esperança rota em tiras.

Ao ver-te tão distante das origens,
Rasgando o Evangelho, destroçando.
Numa preservação de velhos bens,
E o novo que surgia já abortando.

Ao ver-te Igreja assim, tão insensível,
Matando pouco a pouco uma esperança.
No Cristo que expuseste o combustível
Que impede amor em paz em aliança.

Tu matas o sentido da amizade,
Negando para nós, a claridade...


58


Ao ver-te qual miragem no meu quarto,
Desnuda passeando em minha cama;
Sorriso sensual, sereno e farto
Reacendendo em mim, toda esta chama...

Esplêndida visão do paraíso,
Tua nudez convida para a dança,
No toque mais sutil e mais preciso,
A festa em nossa noite já se avança...

E passo a passo sigo a maravilha
De teu corpo, decorando cada ponto.
Aos poucos aprender esta cartilha
Que traz todo desejo a que remonto...

A boca peregrina te decora,
A noite me alucina e nos devora...

59

Ao ver-te tão bonita, moça feita,
Reparo como o tempo é tão cruel.
Às vezes a minha alma não aceita
Pensando ser criança, risca o céu

Em busca de um alento que não cabe
Em quem já ultrapassou o fim da tarde.
Um coração teimoso nunca sabe
E envolto em fantasias, lúdico, arde...

Meus dias se passando sem remédio,
Correndo, não consigo acompanhar.
Sobrando do que fui; apenas tédio,
Vontade de me ter sem me encontrar...

Ao ver-te tão bonita, me retrato
Preparo a despedida, e me maltrato...


60


Ao ver a claridade em lua cheia
Serpenteando brilhos na calçada,
Quem veio de um vazio e traz o nada,
Ao ver tanta beleza se incendeia.

Eu quero ter o verso em que se creia
Deixando a solidão ali, jogada,
Porém uma saudade disfarçada
Invade em ondas tantas, minha areia.

Matando o que não fora proveitoso,
O céu se mostra menos tenebroso,
O tempo passará em vinho e gim.

E tendo o que pretendo e sempre penso
Amor que se mostrando forte e denso
É meu princípio, trama, rumo e fim.
Marcos Loures


61


Ao ver a fantasia em minissaia
Estúpidos ignaros sonham alto,
No frio do granito e do basalto
Espera a quente areia de uma praia.

Torpe ilusão, aos poucos já desmaia
Enquanto uma tristeza vem de assalto,
Rasgando o vil tapete feito asfalto
A dor vem se enfurnando, amor que saia.

Os dedos profanados em temores,
Demonstram sempre em forma de tremores,
A vida que se fez sem conteúdo.

Nas vísceras expostas pelas ruas,
A fome malfazeja em carnes nuas
Formata a solidão depois de tudo.


62

Ao ver a lua em pratas derramada
Por sobre as folhas secas do passado,
Percebo que afinal não sobrou nada
Do tempo em que vivera amargurado.

A noite surge cálida, estrelada,
Dizendo deste sonho emoldurado
Na tela que em belezas é mostrada,
Momento tão sublime, iluminado.

Argêntea maravilha, noite plena,
A lágrima, querida agora acena
Com o que mais sonhei: transformações.

Entregue a tais encantos adormeço,
Amor ao acertar meu endereço
Explode com supremas emoções!


63

Ao ver a luz que trazes e não vês
Lamento os teus rancores, minha amiga.
O amor jamais traduz insensatez,
Herética loucura desabriga.

O verdadeiro amor, por sua vez
Permite que o caminho em paz prossiga.
Distante do que pensas, mesmo crês
É sonho que pacífico nos liga.

Porém na tempestade da paixão
Encontrarás a luz da solidão,
Que nos prepara, insana para a glória

De ter o amor supremo e verdadeiro,
Que faz do ser amado, companheiro
E trama, sem rancores, a vitória...
64


Ao ver a minha amada adormecida,
Deitada sobre pétalas de flor,
Eu sonho uma ilusão tão esplendida
Formada nas gotículas do amor...

Beleza assim igual, jamais sonhara,
Talvez p’ra ser sincero se permite
Com alma em delirante jóia rara,
Em tudo me reporta a Afrodite...

Luar ao ver a deusa aveludada
Penetra na janela, sem escusa...
A boca que te queima, minha amada,
Abrindo esses botões da tua blusa,

Deixando os belos seios, ambos meus,
Propícios aos amores mais ateus...


65

Ao ver a paz reinando em nossa casa,
Eu passo a crer, deveras, num milagre,
Pesando feito cruz, amor descasa
Segue solenemente pro vinagre.

Capítulos depois, fim da novela,
E a mesma sensação de jiló, fel.
Calor dos braços teus já me congela,
Vazios suprimentos, meu farnel.

A cerração tomando este horizonte,
Na boca um gosto assim feito isopor.
Sem ter a fantasia que me aponte
Mirantes na beleza do sol-pôr.

Catástrofes, tempestas, vendavais?
Pior: tédio e marasmo, nada mais...


66

Ao ver a putaria se instalando
Nas cidades por Ele benfazejas.
Aos poucos em loucura transformando
As hordas mais fiéis antes sobejas.

Pensando em poder ter a solução
Mandou soldados belos do infinito,
Porém o povo em louca comoção,
Ao ver o batalhão raro e bonito,

Em louco desvario, eles vieram
Fazendo uma algazarra sem igual,
E dizem, na verdade que quiseram,
Mostrar aos pobres anjos sexo anal.

Por isso, depois desta putaria,
É que se institui a sodomia...


67

Ao ver a silhueta tão esguia
De quem sempre sonhei, imagem bela.
Percebo que em verdade eu já vivia
Na busca de quem deusa enfim, revela.
Relances maviosos da alegria
Onde um futuro em fausto, amor já sela.

Amor, um velho bruxo, feiticeiro;
Se faz pura magia e forte encanto.
Um sentimento nobre e verdadeiro
Emoldura beleza em breve canto.
Enfronha-se em palavras, sorrateiro,
Pegando de surpresa, um mago espanto.

Ao ver a silhueta tão esguia,
A noite mergulhando em fantasia...


68

Ao ver a sua face prateada,
Percebo imensidão de um pleno amor.
A lua se permite ser tocada
Pelo astro-rei, eterno sonhador.

A noite intensamente iluminada
Encanto que se mostra num louvor,
Embora tão distantes é amada
Irradiada; entrega-se em ardor.

A Terra testemunha cada passo
Do amor que se emoldura lá nos céus,
Deitando sobre todos belos véus

E um ato mais sublime ganha o espaço,
Cenário fabuloso e sensual
Na entrega de um eclipse, amor total...


69

Ao ver a terra ardendo no sertão
Na seca que destrói tanta esperança,
Na luz de um candeeiro ou lampião
Amor batendo forte na lembrança

Depois de tanto tempo andando em vão
O olhar da minha amada enfim me alcança
Aquece qual fogueira de São João
Trazendo ao coração uma festança.

Os olhos da morena se espalhando
Mudando a cor de toda plantação
Asa branca voltando como em bando

Deixando para trás a arribação.
O amor veio de novo verdejando
Promessa de divina floração...

70


Ao ver a tua luz, sinto atração
De um jeito que não posso me conter.
Trazendo esta divina sensação
Que logo me retém em teu poder.

Eu sinto que me invade esta emoção
Que aos poucos vai tomando todo o ser,
E me enlouquece em forma de paixão,
Sem ela como irei sobreviver?

Tu és amor maior que desejei,
E vivo o sentimento com doçura,
Depois de desencontros te encontrei,

Com toda uma certeza, sem temores.
Quero me perder nesta ternura
Que forra nossos mágicos amores.


71


Ao ver amor tão puro, claramente
Esboço um movimento de defesa
Por mais que não consiga e sempre tente
Eu quero esta nudez de sobremesa.

Carcaças que me invadem, corpo e mente,
Contrastam plenamente com pureza,
O parto em que se fez farta torpeza
Merece um novo rumo, mais contente.

Dementes caminheiros, noite afora,
Sem hora de saber ou ir embora,
Não ouvem mais delitos nem tais queixas

Preâmbulo da festa continua,
Enquanto aguardo a pele inteira e nua,
Afago com carinho estas madeixas.


72




Ao ver antigas marcas, cicatrizes,
Deixadas pelos velhos sentimentos
Percebo salutares nossas crises,
Vagando sem destino por momentos.

Ouvir cada palavra que me dizes
Entregue às variantes destes ventos
Talvez possamos ser bem mais felizes,
Mantendo estes olhares mais atentos.

Ao abraçar os mundos que roçamos,
Usando como arado estas palavras,
Garantiremos sempre belas lavras

Podando da tristeza, fartos ramos.
Livrai-nos do vazio, Ó Pai eterno,
Mesmo que amor traduza dor e inferno!


73

Ao ver em sol nascente se mostrando
Um brilho em rara luz mais dadivosa,
Percebo em tal beleza deleitosa
A sombra de uma dama se formando.

E todo este caminho iluminando
Mulher que em mocidade, tão fogosa,
Deitando num dossel, decerto goza
Em mágica e malícia se entregando.

Porém ao perceber minha chegada,
Janela escancarada já se fecha.
E a noite transcorrendo em pensamentos

Recebe da ilusão, doce lufada
Sentindo o seu cabelo em cada mecha,
Meus sonhos mais felizes, em tormentos...


74


Ao ver em transparências divinais
Os seios e mamilos da morena.
Desejo de saber e ver bem mais
Até chegar nudez, completa e plena.

Distâncias de centímetros parecem
Quilômetros da mão que te procura.
Tais formas delicadas não se esquecem,
Porém esta visão já me tortura.

Das coxas uma imagem me alucina,
E rendada, salmon, a salvaguarda
Não deixa que eu perceba a concha, a mina,
Que um dia em fantasia, enfim me aguarda.

A moça distraída, num sorriso,
Esconde e quase mostra o paraíso...


75


Ao ver essa pobre alma desnudada
Tão desmedida em forma e conteúdo
Percebo quem na vida não foi nada,
Um resto de promessa. Não me iludo

Quem sempre se sonhou forma abortada
Nos versos que pensava, tão miúdo.
Não passa na primeira peneirada
Não falta-lhe porém nenhum estudo.

Zangão que nunca teve uma colméia
Incoerente pensa ser um rei.
Palhaço necessita de platéia

Não sabe discernir pois arrogante,
Na vida desconhece simples lei.
Formiga derrubando um elefante...


76



Ao ver este leitão que está gordinho
Eu penso já no lucro que vai dar,
Criado com amor e com carinho,
Não pára todo dia de engordar.

Depois que o bicho está assim fofinho,
Cascalho no meu bolso vai entrar.
Fazer duzentos quilos de toucinho,
Lingüiça pra mandar já defumar.

Porém o porco grande com malogro,
Custando pra morrer dá prejuízo.
Investimento duro de fazer.

Agüentar a mulher e ter juízo,
É duro e vem trazendo desprazer.
Não morre o porco gordo do meu sogro!


77


Ao ver estéril Sara, quis Abrão
Deitar-se com Agar, deles escrava,
Que momentos após perde a noção,
E a Sara, depois disso maltratava.

A resposta não tarda mais chegar,
Um anjo traz à tona a lucidez
Pedindo que retorne então Agar,
Comunicando assim a gravidez

Javé ouvira as preces e os lamentos
Daquela fugitiva arrependida,
Cumprindo os mais divinos sacramentos
Da serva ressurgindo a santa vida

Chamando de Ismael o filho amado,
Do Pai escuta Agar, o Seu recado...


78

Ao ver minha pobre alma desnudada
Tão desmedida em forma e conteúdo
Percebo que na vida não fui nada,
Um resto de promessa. Não me iludo

A voz de quem cantara anda cansada;
perdendo no caminho quase tudo
Não passo na primeira peneirada
O canto que sonhei prossegue mudo.

Zangão que nunca teve uma colméia
Palhaço necessita de platéia
Não sabe discernir a cada instante

A dura realidade, amarga e triste,
Porém este imbecil feito farsante
Na busca pelo amor inda persiste...


79


Ao ver nascer assim, em minhas mãos,
Uma mulher fantástica, brilhante.
Dos dias de que vim, por certo vãos,
Teu nascimento em mim foi deslumbrante.

Sentindo-te crisálida tão rara
Numa metamorfose divinal,
A força deste amor que se buscara
De um jeito inexplicável, sensual.

Crescendo como a lua dentro em nós,
Fazendo do sorriso todo o lume,
Amor que veio tímido e veloz
Deitando sobre a terra tal perfume

Que fez deste jardim a primavera,
Com flores multicores em si, gera...


80


Ao ver nesta mulher a rosa plena
Que emana imensidão em cada passo,
Compassos esquecidos lua acena
E sinto-me no poço de seu braço.

Aberta a rosa inteira feminina,
Me nina em cada mina meu tesouro.
No gosto desta boca, me alucina
Menina minha sina é ter teu ouro

Marrom em tanto tom, novo matiz,
Os olhos são marrons, teus dons e brilhos,
Marrom o meu desejo e cicatriz,
Ronrona enlanguescente nos meus trilhos,

A rosa se acastanha e se bronzeia,
Na brônzea emoção de lua cheia...


81



Ao ver o desembarque da esperança
Nesta rodoviária-coração,
Recordo velhos tempos de criança
Brincando bem em frente ao meu portão.

Vencendo esses temores, percebia,
Que o tempo nunca pára ou retroage
A vida vai passando dia a dia...
E tudo vai mudando, amor e traje.

Agora que te encontro, não mais penso,
Parece que este tempo já passou.
De tudo que mais quero, mais intenso,
Amor que tão divino, dominou...

Não mais quero a tristeza que devora
Nem solidão pantera me apavora...


82

Ao ver o mar quebrando em alva areia,
As ondas vão lambendo as tuas pernas...
Morena com perfume de sereia,
As mãos tão delicadas, sempre ternas...

Calor do sol queimando me incendeia,
Não deixa que jamais; no amor invernas.
Teus seios, tuas coxas...Quanto anseia
Minha alma em sensações demais eternas...

Amar é descobrir que uma alegria
Nos eterniza em cantos e vontades.
Poder te namorar a cada dia,

Roçando teus cabelos, manso vento,
Não deixa de saber felicidades
Guardando nosso amor no pensamento


83


Ao ver o paraíso
No amor de quem se dera
Vestindo a primavera
No tom claro e preciso
O todo onde matizo
A vida e nela a esfera
Pousando noutra esfera
O sonho então eu biso.
E vago sem sentido
E quando eu me lapido
Nos ermos da esperança
O passo sem porvir
O amor a se eximir
Do corte que se avança.


84


Ao ver o paraíso numa flor

Nascida em verdes campos, primavera,

Percebo quanto Deus fez com amor,

A vida que se vai e regenera.



O mundo no infinito deste grão

Da areia; uma estrela tão gigante,

Pequena frente ao mar, sua amplidão

Percebo eternidade de um momento



Num tempo que transcorre sem parar.

Cabendo em minha mão, aberta em palma

Todo um infinito a se encontrar

Na eterna sensação de paz e calma...



Além desta ternura, grão e flor,

Carrego em minha mão, o Deus AMOR...


85


Ao ver o seu caminho contrafeito,
A dor em solidão nos abandona,
De todos os desejos és a dona,
Domando a rebeldia que em meu peito

Tornara em rumo incerto e insatisfeito
O vago que voltando sempre à tona
Enquanto a fantasia inda ressona
Incorpora a tristeza enquanto deito.

As farpas que trocamos vez em quando
Deixaram cicatrizes. Mas voltando
Os olhos para estrelas bem mais puras

Pudemos vislumbrar, com alegria
Um novo amanhecer que enfim seria
Repleto de prazeres e ternuras.


86


Ao ver o teu olhar eu percebi
O quão foi tão daninho tais abrolhos
Lavrados com descuido dentro em ti
E as névoas que recobrem os teus olhos.

Fazer da fantasia um adereço
Apenas nada mais que uma ilusão.
Virando o coração assim do avesso
Perdendo o rumo em tosca direção.

Jogar o que vivemos num esgoto,
Lixeiras espalhadas pela vida.
A dor vai latejando em cada coto
Revendo esta esperança já perdida.

São frágeis os caminhos de quem ama,
Num paradoxo feito em fogo e chama...


87

Ao ver o teu olhar
Estrela matutina
A vida devagar
Aos poucos me alucina;

Na luz que me fascina
O brilho a me tomar,
Depressa descortina
A força de um luar

Que entorna no meu peito
Vontade de seguir
O rumo mais perfeito

Que pude descobrir,
Do quanto amor é feito,
Estrela a reluzir


88

Ao ver o teu olhar, eu percebi
Que nada adiantou tantas defesas,
A vida preparando estas surpresas,
No mesmo instante estava preso a ti.

Retrato nestes versos o que sinto,
Amor tomando conta do pedaço,
Destino, agora eu sei, jamais eu traço
O amor sempre nos mostra um labirinto

Aonde uma saída não se vê,
Não tendo quem a ele já resista,
Minha alma, neste encanto sabe e crê
Força do amor mesmo à primeira vista

Mudando o meu destino totalmente,
Nesta intensa emoção que a gente sente....


89

Ao ver o teu retrato eu imagino
Os teus lábios carnudos me chupando,
Teus seios desnudados, não domino
Eu quero-te comigo, aqui, trepando

E tendo tua xana em minha boca,
Teus rabo tão gostoso me pedindo
Que invada, e num gemido quase louca,
Abrindo este cuzinho em gula, lindo.

Tocando uma punheta para ti,
Vontade de que venhas, num boquete,
Voando bem depressa e chegue aqui,
Na foda que desejo e se repete

Depressa, venha cá e me socorra,
Me dê teu mel, e beba a minha porra...


90


Ao ver o teu sorrir, tão enigmático,
Com jeito de malícia em face ingênua,
Virando pra te ver, quase automático,
Percebo uma vontade, forte e tênua

De gosto e de carinho, sem limites...
Num brilho sedutor, os olhos pedem,
Não querem nem procuram mais palpites.
Os meus, ao teu sorriso sempre cedem

E assim já se concedem mil desejos.
Da santa insensatez que dá prazer,
Sorrisos que parecem mais com beijos,
Pois nos adivinhamos, sem querer...

Eu sei que os outros olham, desconfiam...
Loucuras que os sorrisos já desfiam...


91



Ao ver os olhos claros da inocência,
Feridos pela imensa covardia.
Daqueles que esmagando um novo dia,
Demonstram a terrível inclemência,

Em frágeis mãos a dor da penitência
Clamando por alguma fantasia,
Enquanto a corja imunda se associa
Levando aos inocentes a demência.

Abutre que devora um embrião,
Vendendo pouco a pouco esta nação,
Roubando do infeliz quase faminto.

Quem dera se um Bom Deus em amizade
Salvasse da fatal iniqüidade,
Tornando este animal/ladrão extinto.


92


Ao ver os teus cabelos soltos, leves...
Percebo quanto é belo ter amor.
Momentos tão suaves, mansos, breves;
Deitados no teu colo, acolhedor.

Traçados dos meus passos nesta areia,
Caminhos de desejos e ternuras,
Como um anjo, percebo em ti, sereia,
Dádiva divinal, doces venturas...

Não contente; procuro-te nos sonhos...
A noite solitária não termina...
Cabelos tão macios; meus risonhos
Desejos... Minha sorte, minha sina...

De tudo que passei; nossa verdade,
Mostrando nosso amor: felicidade...


93


Ao ver os teus decotes generosos
Percebo a maciez destas romãs
Divinas. Meus olhares mais gulosos
Recebem tantos raios das manhãs

Em sol e fantasia belas rosas,
Desabrochando em brilho divinal.
Maçãs tão delicadas, perfumosas
Qual sonho que se fez tão magistral...

Ao ver teus seios belos de soslaio
Por sob a blusa aberta, estou feliz...
Na luz maravilhosa deste maio
Quem dera a vida inteira... flor de lis...

E tu ris um sorriso mais maroto,
Olhando para os olhos de um garoto...


94


Ao ver que tu seguiste
Um tempo audacioso
Aonde em dor e gozo
O sonho em vão consiste
Ainda quando é triste
Cenário pedregoso
Enquanto auspicioso
Caminho não persiste,
Vagando sem cansaço
O quanto ainda traço
Permite que se creia
Na sorte mais feliz
Dizendo o quanto eu quis
Em voz suave e alheia.


95


Ao ver que tu seguiste outro caminho
Distante do que tanto desejei,
Prefiro prosseguir assim sozinho,
Mas saiba que em verdade eu tanto amei

Alguém que me marcando com carinho
Fazendo-me sentir tal qual um rei,
Depressa abandonou o nosso ninho,
E nessa solidão eu mergulhei.

Espero que tu sejas mais feliz
Ao lado de quem vives; minha amada,
Seguindo novo rumo, nova estrada,

Carrego inda comigo a cicatriz
De um tempo em que contente imaginara
Que um grande amor, enfim, eu encontrara!



96


Ao ver que tu vieste,
Depois dos temporais
Razão de ser celeste
Em dias tão iguais
O solo mais agreste
Ainda quando esvais
Mergulha no que empreste
Apenas vendavais
Ausento da esperança
E sei quanto se cansa
Pousar em céu liberto,
E sinto no final
A vida em ritual
Aonde a luz desperto.


97

Ao ver que tu vieste, o duro frio
Transforma-se em calor, minha querida.
Inundas com amor este vazio
Deixado quando foste em despedida...

Uma alegria imensa assim recrio
Das dores que invadiram minha vida.
Do triste inverno surge um novo estio
E encontro plenamente, uma saída.

Pois saibas que te quero tanto bem,
Além do que pensavas, muito mais...
Espero que não vás, amor, jamais.

Cansei de nesta vida ser ninguém,
Comigo neste instante, amada, vem
Matar a solidão. Te amo demais!


98


Ao ver se despedindo, o nosso amor,
Rasgando feito espinho, o velho peito,
Deitando suas mágoas sobre o leito,
Meu barco segue sem navegador.

Queria tão somente te propor,
O verso que pudesse ser perfeito,
Porém, se solitário, eu já me deito,
Esqueço o meu jardim, matando a flor...

Um dia, quem me dera, fosse meu
O encanto que desfilas pelas ruas,
E quando mais distante tu flutuas

Percebo que meu mundo esmoreceu,
E salto no vazio que criaste.
Herança que aos meus sonhos, tu legaste...


99

Ao ver sobre esta mesa o corpo inerme
Daquela que se fez a predileta,
O ciclo inevitável se completa
Na fúria desdentada deste verme

Que aos poucos começando na epiderme
Devora desta forma, vil e abjeta
Até que a vã carcaça cumpra a meta
Fazendo com que uma alma já se enferme.

E trague a podridão como um troféu,
Amortalhando em trevas todo o céu,
Na súbita traição inevitável.

A boca que eu beijara em tom solene,
Sorvendo o gozo amargo que envenene
Atômico compósito mutável...


3000


Ao ver tanta beleza me empolguei,
Teu rosto irradiando, enfeitiçava,
Mal pude perceber e me entreguei
Sem nem saber que ali eu encontrava

A porta entreaberta da loucura.
Tu és assim divina e diabólica
O teu amor me fere e traz a cura
Na tua incoerência, fé católica

Que dissemina a morte via sexo,
E pensa que defende assim a vida.
Amar será um ato tão complexo?
Na mão que acaricia, a despedida...

Embora te deseje tanto, tanto...
Teu beijo tem sabor de sangue e espanto!

5 comentários:

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