quinta-feira, 21 de outubro de 2010

4500

Da eterna juventude, inesgotável;
Humanidade busca a mina, a fonte
Um sonho que se mostra interminável,
Vazios; entretanto, no horizonte.

Quem dera se eu tivesse a mocidade
E nela refizesse os meus caminhos.
Talvez inda restasse a claridade
No libertário encanto, passarinhos.

Ao ter o teu sorriso amada amiga,
Eu vejo ser possível, pelo menos,
O traje que em delícias nos abriga
Trazendo dias calmos, mais amenos.

Assim ao recobrar uma esperança
A fonte dos desejos já se alcança...


4501


Da boca benfazeja e tão formosa
O beijo se disfarça e quase foge,
O rumo desta noite presunçosa;
Trazer tantas estrelas neste alforje

Chamado coração. Neste embornal
Carrego todos, vários sentimentos
Do amor que prometia sensual
Agora se esgarçando perde o vento

Se torna burocrático demais,
Apenas escolhemos nossas armas
Amor vai se esvaindo sem ter paz,
Envolto em milhares desses karmas

Que pesam sobre nós tal qual a cruz,
Restando tão somente a fraca luz...


4502

Da dura ventania, apenas resta a brisa
Tocando na janela aberta do meu peito.
O bem que eu procurara; agora, já me avisa
Que o rio voltará depressa pro seu leito.

E vejo em plenilúnio, o céu quando me deito
Nas luzes desta lua, a vida se matiza
E a cada novo dia, amor aromatiza
Trazendo a mansidão me deixa satisfeito.

Aos poucos aprendi que a dor é necessária,
Pois mostra que alegria é sempre temporária
E toda a maravilha existe num contraste

Fazendo-nos sentir, mais forte a correnteza
Que trama ao fim de tudo, a luz que me embeleza
Sanando em redenção o mais duro desgaste.


4503


Da dor um diadema me circunda,
Um fardo que carrego; inesgotável
Amor é tantas vezes intragável
Nem sempre em alegria ele redunda.

A mão que acaricia se aprofunda
E rasga, simplesmente o imaginável
Sorriso muitas vezes amigável
Esconde a gargalhada vagabunda.

Mas gosto do prazer, isso não nego,
Talvez no gozo dê algum nó cego,
Quem sabe, encontrarei libertação.

Na opaca luz dos olhos de quem ri,
As tramas da serpente eu descobri,
Jamais serei Raimundo ou solução...
Marcos Loures


4504


Da dor que me elegeu como parceiro
Num casamento quase que perfeito,
Em flores dediquei meu verdadeiro
Canto que se mostrara satisfeito.

Meus versos que se encantam com a dor,
Também vão procurando uma saudade.
Se falo deste caso com amor,
A dor vem me nublando a claridade.

Mas sei que no final ela me vence
Convence e me deixando a solidão
Que é tudo neste mundo que pertence
Ao pobre e distraído coração.

O que fazes aqui, minha querida?
Mudar todo o destino em minha vida?


4505

Da deusa que em meus sonhos concebi
Persigo cada rastro que deixou
Caminho que deveras deslumbrou,
A beleza sem par que eu conheci,

Sem freios, num momento chega a ti,
Pois devo, e disso eu sei, tudo o que sou
A quem durante a vida me guiou
E vejo, com certeza bem aqui.

Agradecer a Deus a companhia
De quem ao demonstrar tanta alegria
Acolhe com carinho e com afeto.

Um homem pra ser forte de verdade
Reconhece a total fragilidade,
Por isso, nos teus braços me completo.
Marcos Loures


4506

Da chuva que teimosa não se esgota
Nublando toda a Terra, traz em águas
Imagem destrutiva e sempre rota
Tramando no meu peito tantas mágoas.

Retratam cada parte deste sonho
Que agora eu posso ver em pesadelo.
O barco noutro mar, teimoso eu ponho
E sei que assim jamais irei revê-lo.

Mas tento, num instante olhar o céu,
Sonhando com o azul que nunca veio.
Galopa o pensamento qual corcel
Buscando a liberdade sem receio.

Olhando para a noite uma utopia:
A lua se espalhando invade o dia.



4507

Da calma em um momento, a tempestade
Formada pelo fogo da paixão
Arrasta com volúpia, um furacão
Restando quase nada; já me invade

Tomando com total voracidade,
Ardendo em minha pele, meu tesão,
Neste redemoinho uma explosão
Com toda esta loucura, tal vontade

De ter teu corpo nu, paradisíaco
Amor que se permite afrodisíaco
Insânias entranhando. Vento audaz,

Da fome que bem sei insaciável
Da sede em fonte imensa, inesgotável
Do fogo que consome e satisfaz...



4508


Da bola muitas vezes dividida
Sem ter sequer desculpa, caio fora.
Se a gente com prazeres se demora
O fogo dissimula outra saída.

Por mais que a solidão ainda agrida
Um velho coração não comemora
Sabendo que incerteza se assenhora
Do que restou de bom da nossa vida.

Seguir o rastro claro de uma estrela
Que amor com toda força já revela
Usando da alegria que buscamos

É tudo o que desejo. Convenhamos-
A sorte volta a ser, quem sabe; bela
Agora que deveras encontramos.
Marcos Loures


4509

Da boca que beijei em noite clara
Sequer sobraram sombras ou resquícios
Quem sabe sejam lúdicos, fictícios
Momentos em que a vida me enganara.

Distante deste rio, esqueço a vara
E volto aos meus antigos precipícios
Dos sofrimentos gozo os seus ofícios
E galgo o mesmo nada que encontrara.

Esboço, agora insone, a reação,
Na mítica e complexa sedução
Das cordas em bemóis desafinadas.

Esgueiro pelas ruas, seus esgotos,
E em meio vagos sonhos, quase rotos,
As manhãs que virão; abandonadas.
Marcos Loures

4510

De que valem meus versos sem ação...
O medo tantas vezes me transtorna,
A massa silenciosa faz o pão,
A gralha vendilhona vem, deforma...

Meus versos vão perdidos pelo vento,
Diversos espetáculos revejo...
Promessas de melhora... Sofrimento.
A gralha encarniçada dá um beijo...

Meus versos incansáveis mas remotos,
Espreitam por verdades encobertas...
Quem fora num retorno, terremotos.

As chagas que deixaram vão abertas...
Aos jovens as lembranças, simples fotos,
Meus versos servirão enfim de alertas?
Marcos Loures





11


De mármore; coluna trabalhada
Na sala e no teu quarto, mansa espalha...
A manhã ao chegar traz, orvalhada,
O gosto desse dia de batalha,

No gesto que me mostra a caminhada,
No corte e nesse fio da navalha...
Vou amar-te e no fim não terei nada,
A não ser essa mágoa que me orvalha...

Rocio se anuncia um novo dia.
Nas areias o mar, onda se espraia.
Quem me dera viver da fantasia.

Da morena, ventando erguendo a saia,
Tesouros espalhados, poesia...
Nosso amor invadindo toda a praia...
Marcos Loures


12


De Lourdes para Loures, flores belas
Em trovas e sonetos, dois parceiros
Enquanto em alegria sonhos selas
Os dias nascerão alvissareiros.

Encontro em teus poemas mil estrelas,
Sentidos tão reais e verdadeiros
Beleza em poesia tu revelas,
Momentos delicados, costumeiros.

Mineiros companheiros de poesia
Sangrando pelos dedos fantasia
Rondando as Musas todas, nossa festa.

Tu sabes que eu admiro cada verso
Que fazes traduzindo este universo
Que farta maravilha à vida empresta...

PARA A GRANDE POETISA SILVIA de Lourdes ARAÚJO MOTTA


13


De lágrimas, meus olhos vão vestidos,
Destinos solitários já traçados,
Meus dias lá se vão, apodrecidos,
Os rumos sem ter nexo, desgraçados

Sem direção, caminhos que perdidos
Depois de tantos dias disfarçados
Permitem que não sejam esquecidos
Os dias de tristezas demarcados

O vazio da vida me tomando
Total insensatez por companheira
Os sonhos e esperança desabando

Palavras são cruéis, isso eu garanto,
A solidão me toma e vem inteira
Bebendo cada gota do meu pranto...
Marcos Loures


14

De guerreiro feroz qu’apascentaste
Não resta nem sequer sombra ou pedaço,
Metade do que foi para o espaço
Sem dúvidas tu sempre provocaste.

O que fazer de uma árvore sem haste,
A fronde é necessária. Se um ricaço
Agüenta uma porrada ou embaraço,
O pobre se condena ao vil desgaste.

Mas não suportarei qualquer chacota,
Este terno, filho único, amarrota
A mão que chicoteia não se esquece.

O certo é que me deste de lambuja,
A foto do passado é garatuja
E o peito em desamor não sabe a prece...
Marcos Loures

15


De finíssimas rendas, lingerie
Que vestes nesta noite tão ansiada,
Desejos explodindo... Estou aqui
Tentando vasculhar cada pegada

E descobri o mapa do tesouro
Em busca desta mina que entontece
Sabendo que terei as jóias d’ouro
Debaixo desta capa que enlouquece.

Se nessas transparências adivinho
A forma tão gentil desta morena,
Eu quero ter o gosto do carinho
Que a lingerie sugere e que me acena.

Permita que eu desfrute deste sonho,
Em que querer demais, já te proponho...


16


De dores e de bênçãos, divisória
A força que suplanta céu e mar
Meu sonho de amizade é feito em glória,
Sem medos que nos possam maltratar,

Mudando num momento nossa história,
Alçando a liberdade de um luar.
Quem dera se eu pudesse sem vanglória
De toda esta alegria desfraldar.

Assim, talvez não venha dor profana,
Que mata e; muitas vezes, desengana.
Supera com firmeza, medo e intriga.

No encanto que se mostra em clara luz
O nobre sentimento se conduz
Nos passos de meu sonho, minha amiga.
Marcos Loures


17

De Deus a mais sublime semelhança
Amor muda o cenário, traz a luz.
Enquanto o verso manso sempre alcança
O brilho, farto amor o reproduz.

Entrego o pensamento à liberdade
Alçando a mais perfeita redenção.
Amor quando se mostra de verdade
Decerto se faz sempre a solução.

Vencendo em calmaria a correnteza,
Eu tenho dentro em mim, a força plena
Que trama com delícias a beleza
Aonde um bem sublime já se encena.

Distante da saudade que emparede,
Deitando meu amor em mansa rede.


18

De pétalas de rosa, onde me aninho;
Fizemos um canteiro de esperança.
Enquanto a noite cai, amor avança
Tomado por desejos e carinho.

Meu canto sem te ter, triste e sozinho,
Morria sem sentidos, pobre dança.
Amor ia esquecido sem lembrança,
Das rosas tão somente cada espinho...

Agora, a redenção de teus desejos,
Fez-se tão soberana em minha vida.
Marcado por teus lábios, doces beijos,

Percebo que serei bem mais feliz,
Pois tenho minha sorte decidida,
Amor que imaginei e tanto quis...
Marcos Loures


19


De pétalas de rosa uma coberta
Na lúdica emoção que nos conquista,
A porta da alegria estando aberta
Permite que se tenha a bela vista

Aonde se percebe imensidão,
Brilhando no horizonte a plena lua.
Versejo sobre tal transformação
Da deusa que se entrega bela e nua.

Recebo este bafejo de alegria
Decerto da bonança algum sinal,
Tomado pela forte ventania
Num gesto de convite sensual

Vislumbro no teu corpo este Eldorado,
Tesouro tantas vezes, procurado...
Marcos Loures


20

De onde pusera sonho barco e nau
Perdendo todo o rumo em desespero.
Fazendo de meu verso a pá de cal
Na qual nem me disfarço nem tempero.

Planando neste céu sou sol e sal,
Distante do que temo e não mais quero,
Meu sonho na alameda tropical
É quase uma paixão ou corte fero.

Não temo e nem pretendo essa piedade
Que é quase que um disfarce da alegria.
Se dane teu carinho, uma amizade.

Não quero mais saber de algum consolo.
Se tenho minha voz e a poesia,
Os pés em podre lama eu sempre atolo...


21



De onde nasce o amor? Não sei, te juro...
Amor nasce do encanto, da magia?
Muitas vezes nascendo em peito duro,
Aos poucos, bem devagar, me amacia...

Como chega o amor? Devagar, lento?
Na fúria das tormentas, alucina...
Amor vem ao sabor de cada vento?
Fragilidade imensa que domina...

Amor é sentimento doloroso
Que trama com prazer um belo duo.
Fazendo na tristeza, imenso gozo,
Pesando no meu peito, já flutuo...

Amor, pressentimento de esperança;
Atado aos nossos pés, levanta, dança...


22

De novo retornei a ser criança
Envolto nos teus braços, noite amena,
Depois de ser escravo da lembrança
A sorte benfazeja, amor acena.

No verde dos teus olhos, esperança,
Delícia só se encontra na morena,
Menina, reconheço cada trança,
A flor da minha sorte, uma açucena...

Não falo e nem reclamo da velhice,
Apenas recomeço dia a dia,
Amor que me invadiu sempre me disse

Que o tempo recomeça a cada instante,
Na boca carmesim uma alegria,
No corpo da morena amada amante...


23

De noite recomeça a zumbilança
Que não pára jamais de incomodar.
Do meu sangue este bicho faz festança,
Mas não basta, ele tem que me acordar.

Zumbindo o tempo todo já me cansa
A luz, acendo e nada de parar.
Porém um dia, eu tenho esta esperança
Tudo com certeza vai mudar.

Pois já que não bastou inseticida
Nem mesmo o cortinado resolveu
Tampouco dar tabefe, até sopapo,

A coisa vai ficar bem resolvida
Se Deus ao atender pedido meu
Um dia transformar-me em gordo sapo...


25

De Noé, seus herdeiros se espalhando
Criando reinos vários, capitais,
E os povos assim vão multiplicando,
Habitam paisagens desiguais.

Nemrod, homem valente de Javé
Um grande caçador; serve de exemplo,
O grande defensor que traz na fé
Erguido com firmeza imenso templo.

Famílias tão diversas, mil linhagens,
Que guardam em Noé, o patriarca,
Ao manterem-se unidos pelos gens
Daquele construtor da divina arca,

Após a tempestade, a dispersão,
A cada herdeiro cabe uma nação...


26


De alguns vários fantasmas que me habitam,
O sexo juvenil, sempre escondido,
Em tantas ilusões, bem mal servido
Ainda nos meus sonhos, vêm, palpitam.

Desejos que morreram, mas que gritam
Na cripta do cadáver revolvido
Nas noites infantis. Houvera sido
Momentos e resíduos que exercitam

A juventude feita quase em pó,
Mas velho safardana não tem dó
E o coração sacana se apaixona.

O fruto apodrecido traz semente
Que mostra; quase ao fim, amor urgente,
Melancolicamente, vou pra zona...



27


De carinhos sublimes desejoso,
Querendo esta presença iluminada
De tanto que eu vivera receoso,
Encontro nos teus braços, doce Fada
Um mundo mais feliz e venturoso,
Depois de tanto espinho em minha estrada.

Vivendo nosso amor a cada instante,
Dourando nosso dia em fantasia.
Amor que se fazendo mais prestante,
Garante toda a glória que eu queria.
Num sonho que se mostra deslumbrante
Concebo amanhecer divino dia.

Contigo eu sou feliz, isto eu garanto.
Coberto por teus braços, belo manto.
Marcos Loures


28

De cada vez mais firme procurar
Saída para as dores que carrego,
Invado num momento o teu luar
E bebo do teu rumo, feito cego.

No rum de tua boca, me embriago,
Sentindo o teu perfume pelos ares.
Tomando de teu corpo cada trago,
Estendo o meu prazer a raros mares.

A moça poetisa se mostrando
A deusa que eu queria em minha vida,
A fonte dos desejos me entornando
A glória de encontrar clara saída.

Assim um navegante benfazejo
Encontra o cais perfeito em teu desejo.
Marcos Loures


29


De cada nova noite nem restolho...
As pútridas certezas me minaram...
Vazio, perfurando, cego um olho;
As luzes que brilhavam se acabaram...

Tranquei meu coração com um ferrolho.
Vis emanações fátuas soçobraram...
Em meu caminho feito em puro abrolho
Espinhos, pedregulhos. Já roubaram

Toscos sonhos. Ofusco meus delírios.
Mártires se pretendem meus martírios...
Me deste os teus transtornos por herança!

Sorvi desses matizes, cores tétricas.
Meus versos se perderam sem ter métricas.
A morte me rondando, vil criança!


30


De bruços, nesta cama, estás deitada;
As tuas costas sempre tão macias...
As minhas mãos nas costas desnudadas,
Percorrem sem juízo... As fantasias
Nos tomam, novamente arrebatadas
Prometem mais delícias e alegrias...

Abraça-me, enlaçando em tuas pernas,
Meu corpo no teu corpo se entrelaça
As horas de prazer são quase eternas,
Me prendes com as coxas... Sou t"a caça,
Em tão sofreguidão, volúpia terna,
Arranhas minhas costas... Vida passa

Assim em nossa cama, noite afora...
Até que o sol se mostra e o dia aflora...


31

De bar em bar noturno peregrino
Noctâmbulo vagando pelas ruas
Nas sarjetas conheço o meu destino
Da carne em podridão, palavras cruas;

Destilo o meu veneno, bebo a sobra
E nisto me inebrio o tempo todo,
Rastejo nos botecos, réptil, cobra
Arrasto-me entre pedras, trevas, lodo...

E cuspo nesta boca que me beija
Exponho o sentimento e na nudez
Minha alma tão vadia já se aleija
E torpe, vomitando insensatez

Sandices? Acumulo tempo afora.
E da carcaça podre, a vida aflora
Marcos Loures




32

De apagares a chama da paixão
Usando os mais diversos subterfúgios
Tramando sempre a mesma solução
Negando em ironia meus refúgios,

Estou cansado, amiga, e te garanto
Que tudo o que disseste noutro dia,
Além de não causar sequer espanto,
Já não provoca mais hemorragia.

Gerindo o meu futuro com presteza,
O amor jamais sossega enquanto exala
O doce aroma feito em sobremesa,
Deixando cada rastro em minha sala.

Vassalo da esperança sigo em frente,
Vencendo o teu sarcasmo incoerente...


33

De amores vou perdido pelo mundo
Percorro tantos astros que nem sei.
De tudo que te falo, já me inundo,
Da vida que sem tréguas eu busquei.

Paixão que me arrebata e me domina
Não deixa nem sequer achar o rumo.
Perfumando tua alma cristalina
Retendo dos prazeres todo o sumo.

Amar demais passou a ser a meta
Que traz o meu caminho mais florido
Por isso em minha voz, canta o poeta
Sem amor nada faz sequer sentido.

Amores percorrendo os universos
Vibrando nos desejos dos meus versos!



34


De amores que me fez o teu corcel
Sangrando o coração, gozo supremo,
Tirando a tua roupa rasgo o véu
E chego num segundo, ao mar extremo
Aonde com certeza nada temo,
Vibrante fantasia, fogo e mel,

Afãs que desejamos em fartura,
Fechando os olhos vejo-te comigo,
Abarco os teus delírios com ternura
E sabes que estarei sempre contigo,
Vivendo nesta insânia se afigura
Altar feito em delírio que persigo.

Assim, peles atadas sem pudores,
Roubando do luar, loucos fulgores.
Marcos Loures



35

De amores nada sei, querida amada,
Apenas eu percebo os seus sinais,
Vagando em solidão na madrugada
Só sei da solidão, terrível cais.

Minha alma em tua alma emoldurada
Aguarda teu carinho e pede mais.
Na boca que te espera, bela fada,
Vontades e desejos. São demais.

Crisálida esperança toma o peito,
Transforma todo sonho em realidade.
Eu quero o teu amor de qualquer jeito

Do beijo que me deste, uma saudade,
Tomando o coração traz paraíso
No toque mais suave e mais preciso..
Marcos Loures

36



De altares da esperança, um bom suporte
Mostrado neste incêndio em noite plena.
Fosforescente gozo que envenena
E ao mesmo tempo entranha riso e corte.

A música que entornas, bem mais forte,
No corpo levitando em mão serena.
Porquanto te busquei a cada cena,
Sabendo desde então da minha sorte.

Estrelas rutilando em profusão,
Arcanjos, querubins, asas abertas,
Num frêmito fantástico, emoção

Chocalha em guizos fartos, a alegria.
Enquanto calmamente tu despertas,
Mal percebes a luz que se irradia...
Marcos Loures

37


Das terras estrangeiras o meu sonho
Em forma de mulher encantadora;
Das dores que carrego, redentora.
De todos os caminhos, mais risonho.

Quem teve tanta dor, mundo medonho;
Já sabe que ao te ter a vida aflora
E jamais deixará quem tanto adora.
Nada quero saber e te proponho

Que vivas, do meu lado, o que me resta
Abrindo meu futuro. Na seresta
Onde sempre estivemos, par constante,

A nossa melodia nos levanta.
Com bela voz , Amor sempre encanta...
Deixa-me ser, da vida, novo amante!



38

Das tantas valentias que menti;
Ao menos fui poeta por um dia.
Enquanto a gente mata a fantasia
Ressurjo no que outrora, em vão perdi

Se tenho o meu destino junto a ti,
A culpa e desta lua que fulgia
Armando o bote, estúpida sangria
Que tantas vezes, trêbado, bebi.

Perigo em cada curva, desconheço,
Vereda que entranhada não esqueço
É parte do caminho rumo ao nada.

Vendendo meus grilhões, me libertei.
Os templos mais nefastos desenhei
Colhendo ao meio dia a madrugada...


39

Das rosas e do espinho, num rosário,
Perfumes exalando em sofrimento,
Do amor que se fazendo num calvário
Ao mesmo tempo luz e desalento.

Amor neste rosal, um relicário
Rasgando a minha mão em um tormento
Mudando o meu caminho, temerário
Amor se reproduz e segue o vento.

Uma rosa se entrega ao colibri,
E esconde em suas pétalas uma arma,
Nem mesmo o puro amor logo a desarma.

Agora, finalmente eu percebi
Beleza tão singela e traiçoeira
Guardada numa lúdica roseira...




40

Das retinas cansadas, meus delitos...
Não quero perceber esta saudade,
Nem quero mais sonhar sonhos aflitos,
Nem me perder : total ansiedade.

Teus passos são meus rastros, mas restritos
Às tardes que te perco: liberdade!
Demoras a voltar? Nos infinitos
Procuro; embora eu saiba, seja tarde.

Meus dedos dedilhando uma canção,
Lembrando do teu corpo/violão
Encontra estes acordes dissonantes...

Meus versos são mordazes e gentis...
Quem dera se pudesse ter teu bis;
Porém os dias seguem quais mutantes...



41


Das pétalas sangrantes que levava,
Colheita de um canteiro mal cuidado.
O amor que tanto tempo ela esperava,
Apenas um caminho malfadado.

A cada novo dia, a velha trava
Falando dos enganos do passado
Surpresa que esta vida resguardava
Invés de algum perfume, espinho e cardo.

Quem dera se pudesse recolher
A flor que imaginara, a mais bonita.
Um sonho que invadindo sempre excita

Tramando da alegria este prazer
Distante de seus olhos. Tentação.
Porém o amor negou tal floração...



42

Das pedras insensíveis do caminho,
Dessas mansas ribeiras sem destino...
Não quero me encontrar jamais sozinho.
Nem quero mergulhar, ser assassino,

Cortar os pulsos, livre sem ter ninho,
As ondas me levaram, desatino...
Os portos que deixei, já me definho...
Vou de banda, pesado, torto, esquino...

Misturando essas dores com prazer,
Vivendo simplesmente por viver...
Não quero combater minhas tristezas,

Nem quero mergulhar nessas represas,
Onde escondes fatal impaciência.
Amar é destruir toda ciência!


43

Das palavras; ourives que eu invejo
Um nobre sonetista em versos belos.
Usando em maestria teus rastelos
Talento sem igual em ti eu vejo.

Ao ler os teus poemas um lampejo
De intensa claridade, passo a vê-los
Tesouros valiosos que ao contê-los
Encontro a perfeição que tento, almejo.

Servidos num banquete, as iguarias
Que trazes em sublimes poesias
Saciam os que sabem degustar.

Amigo; me permita esta heresia
Que a mão de um repentista agora cria
E em versos tão banais a te louvar....


44

Das velhas tempestades que passei,
As sortes e presságios tão obscuros
Prometem velhos céus bem mais escuros
Em nada do que tive, me encontrei.

Ao homem que resiste à mansa lei
Certeza de momentos bem mais duros.
Porém aos corações suaves, puros,
A imagem deste Pai, supremo Rei...

Nocivas tempestades, furacões,
Nas mãos de quem se entrega ao Seu poder
Que é feitos dos amores e perdões

Transformam-se em bonança e calmaria.
O olhar tão generoso eu pude ver
Derramando estas bênçãos da alegria.


45

Das velhas emoções que sonegamos
Estendo no quintal o sol e a lua.
A sorte meretriz já nem atua
Enquanto em desvario nos amamos.

Não sendo mais cativos, pedem amos
As almas que caminham nesta rua,
O verso sem sentido continua
Arborizando os céus que desenhamos.

Herdando quais satélites o brilho
Da estrela que demonstra um andarilho
E antigo coração, faca entre dentes.

Mosaicos espelhares que se nexo,
Mostrando que em cenário mais complexo
Retratos de nós dois são congruentes.
Marcos Loures



46



Das velharias toscas, noves fora,
Sobraram dez mil réis e nada mais.
O beijo da pantera não demora,
Quem dera se nós fossemos mortais.

Coroando a festança com sangrias
Urgindo ser feliz, não temo a pressa;
Estrelas que buscamos são vadias
E a noite em plena luz já recomeça;

Repare no cangote da morena,
Poesia maior; inda não vi.
E quando com tesão; a moça acena
O Paraíso em vida é logo ali...

Dadaísmo, cubismo ou aforismos
Morena no meu colo? Cataclismos...


47

Das trinta mil sementes que plantei
Durante estes dois anos, no recanto.
Belezas sem igual eu encontrei,
Fartando-me de luz em raro encanto.

Bem mais do que sonhara, debrucei
Meus olhos sobre amores, raro manto
No qual por tantas vezes, tropecei,
Temendo, na colheita algum quebranto.

Eu agradeço a tantos que não posso,
Sem ser injusto, citar nome aqui
E em todos, maravilhas eu bebi

Por isso é que repito enquanto endosso
Com todo o meu ardor de repentista
Louvores que hoje faço a cada artista.
Marcos Loures

48


Das trevas que vivemos, no passado;
Das dores incrustadas, sem alento.
Tremula nosso sonho extasiado,
Salvando da tormenta num momento...

Escuto tua voz tão redentora,
No meio da tempesta que aproxima.
Uma amizade em paz, tão duradoura,
Retoma meu caminho em mansa estima...

Mereço uma amizade tão profunda?
Por vezes me indagando sem resposta,
Da solidez que sempre se oriunda,
A vida em amizade é mesa posta.

Amigo, me perdoe se fugi,
Os mares me trouxeram, eis me aqui!


49

Das noites sepulcrais, revivo, pasmo;
Grilhões que me maltratam, são quimeras...
Vivendo num caótico marasmo,
Não quis a parcimônia com que esmeras

Os casos teus de amor. Entusiasmo
Contido, sentimentos sem panteras
Nem garras, sem dentadas nem sarcasmo.
Amor que não promete loucas feras!

Distante de teus olhos, alma exora...
Presume teu perdão, com galhardia.
Preciso refazer meu mundo agora,

A dor desta saudade me alucina!
Não deixe-se acabar a fantasia,
Rebenta tais grilhões d’amor Cristina!


50


Das noites que tivera; sim me lembro,
Dos olhos tão tristonhos e distantes;
Duros dias sofridos de setembro,
O peso desta vida nos semblantes...

Passando por momentos dolorosos,
O peso da saudade machucava...
Os sonhos se tornaram pavorosos.
Um mar de solidão se aproximava...

Mas quando te encontrei, tudo mudou.
Teus olhos de promessa e de aconchego,
Vazio coração reflorestou
Da tempestade e dor, fez-se o sossego...

Setembro que me trouxe uma quimera,
Termina nos teus braços, primavera!



51

Das Ninfas que desnudas, já se banham
Nos lagos tão distantes do meu sonho,
Encantos e desejos, eu proponho,
Porém desilusões torpes me entranham.

As néscias madrugadas que me apanham
Num flagrante momento mais bisonho,
Fantasiam um mundo tão risonho...
Trevas da realidade, sempre ganham...

Áureas sensações, somente enganos.
Ao olhar sonhador, escuridão
Penumbras dentro da alma, tão somente.

As nuvens que dos céus tomam os planos,
Sobejas em terrível multidão,
Acordo, solitário, novamente...
Marcos Loures



52

Das montanhas mineiras, proteção;
A mãe que nos pariu e nos consola.
Nas mãos a mansidão de uma viola,
Nos olhos alegria e compaixão...

Riqueza se contrasta com sertão,
A voz que libertária até se imola,
Enquanto em poesia, a alma decola,
Vagando pelo etéreo, na amplidão...

Orgulho que em seu povo já se entranha,
Mirando muito além de uma montanha
Sabendo quanto é belo este horizonte.

Se às vezes me envergonho; brasileiro,
Meu peito vangloria-se, mineiro,
Bebendo desta imensa e férrea fonte...


53

Das minhas sensações tu és senhora,
A dona de meus sonhos, de meus passos,
Te quero minha amada, sem ter hora,
Deitado calmamente nos teus braços
Desfruto deste amor que, sem demora,
Amarra a minha vida nos teus laços...

Tinindo no infinito um som veloz,
Cometas percorrendo nosso beijo..
O gosto de te ter, ser tua foz
Aquece todos sonhos que pré vejo.
Ouvindo em minha cama, a tua voz,
Aumenta por demais o meu desejo..

E sinto-te rolando em nossa cama,
No fogo que se explode em forte chama...


54

Das minhas esperanças, o regresso
Voltando das batalhas, duras lutas.
O quanto eu te ofereço, agora eu peço,
E sei que temerosa, já relutas.

Presságios que tivera; traiçoeiros,
Marcaram cada dia em tua vida.
Deitando a solidão nos travesseiros
A travessia; eu sinto, está perdida.

Mas tendo alguma luz ao fim de tudo,
No túnel feito em tempo e temporal.
Do quanto que desejo, resto mudo,
Olhando imenso mar, descomunal.

Sonhando com desditas e falências,
Eu penso ter cumprido as penitências...
Marcos Loures


55


Das Minas Gerais
Eu trouxe este sonho
De ter sempre mais,
Um mundo risonho,

Aonde jamais
Vivesse tristonho,
Já me satisfaz
Amor que proponho.

Falar de amizade
De queijo e de broa
A felicidade,

Tão perto revoa,
Na roça e cidade,
Eta coisa boa!

56


Das mágoas que causei-te, meu amor,
Guardadas num recanto da lembrança.
Vencendo as tempestades sem pavor,
Vivendo simplesmente da esperança.

Alcanço teu olhar e já me aparto,
Me afasto de teus lábios, mas te quero...
Amor que se partiu deseja um parto,
Renovo os sentimentos, sou sincero...

Amada essa certeza me acompanha,
Eu quero me entregar aos teus caminhos..
Nas águas desta vida amor se banha
E sonha com montanhas de carinhos...

Desculpe se te causo algum rancor,
Querida; peço; aceite o meu amor!


57

Das ondas deste mar intensidade
Que tanto desejei em nosso amor,
Deixando a sensação de um bom torpor
O quanto de prazer diz da vontade.

Enquanto a areia branca uma onda invade
Deitando junto a mim já vem compor
Paisagem deslumbrante ao meu dispor
Delírio em meio a tal serenidade.

Somemos os pedaços, união,
Venceremos dilemas e procelas
Enfrentaremos juntos o tufão

Do amor que agora em luzes queres, selas,
A tenra maravilha de saber,
Ter toda a paciência pra colher!


58

Das nuvens que enegrecem nosso céu,
Dos raios e trovões que nos assustam,
A natureza cumpre seu papel
Bem mais do que tristezas já nos custam.

Ao ver-te aborrecida, ensimesmada;
Pergunto-te qual causa tem a dor;
Por vezes me respondes quase nada
Mas sei quanto tu sofres tal temor;

Da vida que querias mas não veio,
Das tempestades tantas que passaste.
Perceba, minha amiga, que o esteio
Da vida, posso até dizer uma haste;

Que sempre nos apóia e nos transforma:
Numa amizade; amor já toma forma...



59


Das noites tão frias
Sozinho no quarto,
Promessa de dias,
Que penso e descarto

Sem ter alegrias
De dores tão farto,
Porém me darias
Carinhos de fato.

Amiga agradeço
A sorte que dás,
Será que mereço

Todo esse carinho,
Que sempre já traz
Calor em meu ninho...

Marcos Loures


60


Deitando meu amor em mansa rede
Não quero mais problemas nem rancores,
A boca que se entrega em tanta sede
Procura nos teus lábios sedutores

A fonte inesgotável de prazer,
Fazendo de teu corpo porto e cais.
À noite lado a lado eu posso ver
Momentos fabulosos, magistrais.

Estampas num sorriso o que tu queres,
Recíprocas vontades, disso eu sei.
Festança no banquete em mil talheres
Durante a vida inteira, amor; busquei,

Do amor que feito luz em nós incide
Já tenha uma certeza, não duvide.


61

Deitando junto a ti carinhos tantos,
Vontade de ficar sempre ao teu lado,
O olhar há tanto tempo enamorado
Vislumbre sem igual, fartos encantos.

O amor que emoldurando belos cantos
Permite acreditar que, do passado
Futuro fabuloso anunciado
Vencendo com ternura vis quebrantos.

E a gente não consegue disfarçar
O quanto nosso amor já nos faz bem,
E quando o amanhecer sublime vem

Tocados pela intensa luz solar,
Sentimos quanto é bom poder dizer
Do amor que nos mantêm em seu poder...


62


Deitando esta vontade, claramente
Escrevo no teu corpo meus prazeres.
Sentindo todo o fogo num repente,
Esqueço os meus problemas e afazeres.

Amor que não se aprende no colégio,
De fato é nosso prumo, nossa meta.
Amar é com certeza um privilégio,
Quem dera se eu pudesse ser poeta,

Cantar o nosso amor que não tem fim,
Razão de minha vida. Determina
O rumo que encontrei, melhor pra mim
Na fome insaciável que alucina.

Vibrando de prazer e de loucura,
Amor, o meu destino, já moldura...
Marcos Loures


63

Deitando em teu leito
Amor mais voraz
Estar satisfeito
Mas querendo mais.

Mansinho, com jeito,
Amor que me traz,
Carinho perfeito,
Corajoso, audaz.

Carícias e beijos,
Vulcão, relampejos
Querendo te ter,

Demais, teu prazer,
No gozo, sedento,
Amor violento.
Marcos Loures



64


Deitando em nossa cama maravilhas
Esqueço dividendo e crediário
Amor em loucas sanhas, riscos, trilhas,
No fogo que se mostra um bem diário.

Balões rondando a noite, em tal festança,
Quadrilhas dançarinas, claras francas,
O quanto nós trançamos nossa dança
Depois de certo tempo me desancas.

Tomando em tua boca o meu quentão
Salvo conduto encontro em tuas pernas,
No jogo que se faz ebulição
As horas sem limites são eternas.

Asperges fantasias nos meus olhos
Encontro as alegrias, colho em molhos...
Marcos Loures



65


Deitando sobre a relva da esperança
Amor tanto nos salva quanto embuste.
Por mais que a gente queria até deguste
Cupido faz a mira e joga a lança.

Enquanto a poesia nos alcança
O amor além de tudo o que mais custe
Fazendo em nossa vida tal ajuste
Motivo mais sublime sem pujança.

Preparando o seu bote não nos deixa
Vencendo em alegrias qualquer queixa
Madeixas da ilusão nos recobrindo.

Abrindo o coração sempre contigo,
Não tendo sequer tempo pro perigo
Eu vejo um novo dia audaz e lindo...
Marcos Loures


66



Deitando sob estrelas, lua mansa,
Amor já determina a caminhada
Enquanto a fantasia aqui se alcança
A boca desejando ser beijada.

Além do que pensara uma esperança
Imagem desta Deusa desfraldada
A Musa dos meus sonhos, na lembrança
Adentra em emoção a madrugada.

E vejo o amanhecer tão deslumbrante
Do lado de quem sempre desejei.
Que tudo seja sempre fascinante

Diante deste corpo magistral
O amor nos ensinando traz em lei
Encanto com certeza, sem igual...
Marcos Loures


67



Deitando nos teus braços meu remanso
Cabocla sertaneja, um gozo, um riso.
De tudo o que eu mais quero eu afianço
Está neste teu corpo mais preciso.

Ventando sobre nós a mansidão
O campo se promete em verde intenso.
Vencendo toda angústia e solidão
No quanto eu sou feliz agora, eu penso.

Fumando o meu cigarro, o peito aberto,
Alertas entre espreitas e tocaias,
Do rumo que pensara ser incerto
Encontro finalmente mar e praias

Deitando o nosso amor em lua cheia
Castelos construídos são de areia...



68


Deitando no teu colo com ternura,
Sentindo a luz chegar à minha vida,
O vento da esperança me murmura
Palavra tão macia e decidida.

Clarão que iluminando a noite escura,
Demonstra a sorte plena e mais querida
Vencendo a caminhada amarga e dura
A cada nova etapa já vencida

De quem tendo o seu mundo desbravado
Tem o canto ao amor já consagrado
Em versos e palavras redentoras.

Sabendo do final de cada história
Ao pressupor assim farta vitória
Encontra na amizade tais escoras.
Marcos Loures



69

Deitando neste chão, te peço colo,
Embora nada mais tão obsoleto
Fingir que tão sozinho já me enrolo,
Não passo, sem te ter, simples inseto.

Mas vejo nos teus olhos a promessa
De termos espalhados nosso sonhos.
De tudo que carrego, uma remessa,
Levando por caminhos mais risonhos...

Acordo sem teus braços e me queixo
De amor que não possuo mas desejo.
Rolando nestas águas, triste seixo,
Espera ansiosamente por um beijo.

Que tanto prometeste mas negaste,
Amor para crescer pedindo uma haste



70



Deitando meu prazer em teu prazer
Vibrando de emoção e de alegria
Sabendo o quanto é bom poder viver
Amor que nos fartando a cada dia

Permite sempre um novo amanhecer
No gozo da perfeita sintonia.
Querida é necessário te dizer
Do amor que há tanto tempo eu bem queria.

Sacio meus desejos e vontades,
Enquanto te aconchegas junto a mim.
Nos olhos de quem amo, claridades

Que trazes com sorrisos. Sendo assim
Que Deus sempre te faça a companheira
Que um dia imaginei; a derradeira...
Marcos Loures



71


Deitado nos teus braços, tão serenos,
A noite vai passando calmamente.
Distante dos perigos, dos venenos,
Meu barco singra o mar e assim pressente

Os cais que tanto quis, bem mais amenos
Vivendo em calmaria, de repente,
Sabendo: ser feliz se faz urgente,
Percebe deste amor, os seus acenos..

E vai sem ter nem dúvidas nem medos,
Na busca pelo sonho mais audaz
De ter na vida inteira a plena paz.

Sabendo conhecer os meus segredos,
Afasta para longe, a tempestade,
Amor a traduzir felicidade !
Marcos Loures


72




Deitado no teu colo, olhos fechados,
Querendo teu amor e proteção...
De tantos os caminhos machucados,
De tanta e tão profunda decepção...

Eu peço teu abraço e teu consolo,
Eu quero tua boca tão macia.
Na doce mansidão, gostoso colo.
Tem tudo o que procuro; a fantasia.

Amiga derradeira; tão querida...
Teus braços acalantam meu cansaço.
Durante boa parte em minha vida,
Nossa amizade foi de intenso laço...

Te quero tão eterna, todo dia.
Amiga e tão amada poesia!



73

Deitado no colchão, macias plumas
Espumas e sensíveis sedas, rendas...
Meus versos em delírios tudo esfumas
Nos risos e nos gozos, oferendas...

De tantos espetáculos vestígios
Deixados nesta cama sem cuidado...
Amores que se foram já prodígios
Aos poucos vai ficando mais calado.

Mas sinto teu amor, sempre singelo
Em torno dos meus sonhos, seus contornos.
Refletem nosso caso, vivo e belo,
Mas órfão, precisando mais adornos...

E sinto que também pensas assim,
Queremos novas danças, mais festim...



74

Deitado neste leito perfumado,
De rosas, alecrim; logo reclinas.
Me sinto em teu aroma, apaixonado,
Essências maviosas, tão divinas...

Soltando teus cabelos, bela crina;
Descubro na nudez, os teus mistérios...
A boca tão fremente; desatina;
Esquece de cumprir quaisquer critérios....

Eu pouso em tua boca um longo beijo,
Suspiros de ventura e de prazer.
Sonhando com teus lábios eu versejo
E tenho tanta coisa por dizer...

Falar de meu amor, tão deslumbrante,
Embarco neste sonho delirante!



75


Deitado em teu regaço tão macio
Ouvindo esta canção que me acalanta,
As águas vão descendo pelo rio,
Aguando em suas margens, cada planta,

Assim como este sol que esquenta o frio
Assim como a saudade não me espanta,
Meu coração batendo tão vadio,
Sentindo o teu carinho já se encanta

E se acomoda manso no teu colo,
Sentindo tuas mãos nos meus cabelos,
Os sonhos mais bonitos vou vivê-los

Fechando os meus olhos, me consolo...
E sinto que sou forte, teu guerreiro,
Teu par, amante, eterno companheiro...


76


Deitado em minha cama um baby doll,
Envolve tuas formas generosas.
No bronze que ganhaste sol a sol,
As carnes se mostrando belicosas,

Cantigas e mandingas de arrebol,
Soando em tua boca; maviosas
Repito cata-vento e girassol
E bebo de teu corpo, água de rosas.

Abrindo este botão da camisola,
Eu abro o teu botão rosa vermelha.
Recebo o teu perfume em que se embola

Os cernes desta noite em poesia.
Acendes com teus lábios a centelha
Da lua que se entrega mais vadia...



77

Deitando em minha cama, mansamente,
Trazendo toda a dor duma ilusão;
Que viera e se fora, totalmente,
Deixando em arremedo, o coração...

Deitando em minha cama, doce momento;
Numa explosão de sonhos e desejos...
A vida que se foi, duro tormento,
Ressurge em tal loucura, nossos beijos...

Deitando nos meus sonhos, abandonos...
Trocamos nos olhares, nossas vidas.
Até que a madrugada traga os sonos,
Recuperamos luas esquecidas,

Amores esquecidos, maltratados...
E num milagre de amor; ressuscitados!


78


Deitando do teu lado, eu me recolho
E tramo mil vontades de prazer.
Na janela trancada com ferrolho
O vento vem sedento receber

Perfume que tu trazes, cada molho,
Vagando a noite inteira a nos dizer
Que a sorte nos mirando com seu olho
Garante sempre amor e bem querer...

Querida assim percebo e mal disfarço,
Ciúmes te garanto que ocultei
Em sentimento vago e tão esparso

Abraço fortemente enquanto entrego
Meu mundo nos teus laços, pois achei
Em ti, amor no qual enfim sossego...


79

Deitando calmamente sob o monte,
Sentindo o vento calmo da promessa,
O sol brilhando intenso no horizonte,
Beleza de um momento se confessa.

Fazendo com o Céu, perfeita ponte,
Não vejo mais motivo que me impeça
De ser o que sonhara e que desponte
Um dia soberano. Vamos nessa!

Sorrindo em alegria, vago o tempo
Tragando cada gota de esperança.
Um novo paraíso já se alcança

Depois das cordilheiras- contratempo.
E um canto em acalanto vai tomando
A noite em que sonhei, te namorando...


80


Deitando calmamente no teu colo,
Depois desta batalha sem ter fim.
Forjando nova vida deste solo,
Plantando tanta luz de amor em mim..

Granulo uma esperança formidável
Nos versos irmanados, tu e eu.
Ouvindo teu carinho, tão amável,
O medo de morrer, enfim, morreu...

E quero ser semente que engravida
A vida sem temores que propomos;
Tristeza nada faz, morre esquecida,
E como da alegria, tantos gomos.

E quero lambuzar-me neste sumo
Perder, no teu quintal, meu senso e rumo...


81

Deitando a solidão em minha cama
Esconde logo a lua que inda teima,
Do amor que fora um dia guloseima
Vivendo em descaminho, perco a trama.

Apenas a saudade vem e chama
Tristeza no meu peito sempre queima
Trazendo para o olhar a velha teima,
Que cisma em maltratar enquanto inflama.

De todos os duendes, gnomos, fadas
Que um dia povoaram os meus sonhos,
O vento traz em outras baforadas

O rosto tão somente de ninguém;
Em meio a versos tristes e medonhos,
Agora tão vazia a noite vem.
Marcos Loures


82



Deitados nesta rede ou numa esteira,
A tarde desfilando seus azuis
Distante o rádio toca um velho blues,
A noite se anuncia alvissareira.

Dois corpos que se tocam com carícias
Detalhes descobertos pouco a pouco,
O gozo prometido, manso ou louco,
Entregues sem temor, fartas delícias.

Realces de sobeja precisão,
Amor anunciando inundação
Sem margens que limitem correntezas.

Nas doces corredeiras, mil cascatas,
Embrenho sem pudores tuas matas
E encontro estas fantásticas belezas..



83




Deitado sobre as pedras; vejo a lua
Eterna soberana, no horizonte,
Derrama suas luzes pelo monte
E como deusa impávida flutua.

A lenda das sereias se cultua
Na areia prateada, bela fonte
De todos os desejos. Nesta ponte
Presente com passado continua...

E as ondas, o marulho... Céu e mar.
Certeza de dormir e de sonhar,
As conchas são colares perolados

E a moça se debruça sobre mim,
Andrômeda, mergulho e vejo enfim
Tesouros por Netuno abençoados...



84


Deitado sobre a areia nessa praia,
Roubando cheia lua, o seu luar.
O vento mansamente, tudo espraia,
Deixando meu amor me navegar...

Presença carinhosa destas ondas,
O canto deste mar; traz a sereia,
Mil luas todas plenas tão redondas,
Brindando tanta prata nessa areia...

Eu sinto teus desejos aflorados,
Nos beijos que pedi; doce umidade,
Amores reproduzem; delicados,
O que sempre pedi: felicidade...

Eu quero me integrar nesta paisagem,
Mirando em teu olhar, bela visagem...


85



Deitada no divã em sua alcova
Espera com frescor, alegremente.
A vida que na vida se renova
Revolta, transtornando tolamente...

Pertence aos teus encantos branca lua.
Divina em placidez angelical,
Espelha essa beleza quase nua
Caminha em minha cama, sensual...

Amada nos vergéis por onde passas,
Espalhas tantos brilhos delirantes,
Mal vejo os teus passos, pois disfarças,
Em meio a tantas sendas verdejantes...

Amada nas estradas e cascatas,
Despontam tuas luzes, serenatas...


86


Deitada nesta sala, adormecida
Te vejo ressonar, tão calmamente...
Amada que se fez bem mais querida
E deita em minha cama, minha amante...

Ao ver sua nudez, já descortino
Futuro tão tranqüilo que preciso...
Amor que me invadiu desde menino,
Agora reconheço em paraíso...

Eu quero te tocar cada segundo
Sabendo que não tenho mais tormento
Em cada nova senda me aprofundo
Da boca irei sorver o meu provento...

Amando quem sonhara em juventude,
Assim amar demais; mais do que pude...



87

Deitada nesta cama me provocas
Com teus doces sorrisos sensuais
Qual fera que procura em tantas tocas
Nas suas explosões mais animais...

Derramo meus anseios nos teus seios
Sem medo nem receios do que espero.
Os olhos se permeiam, devaneios,
Em todos os sentidos me tempero.

Eu quero o turbilhão dos teus perfumes
Que encharcam meu desejo, te beber.
Nas horas mais dolentes sem queixumes
O teu orvalho em brasa vou sorver.

Invado tuas matas, arvoredo,
Esqueço o que passei, e me enveredo...


88

Deitada na verdura do arvoredo,
Desnuda sob o sol, desfalecida...
Espera por carinho desde cedo,
Aguarda uma esperança adormecida.

Eu sinto que tu queres tanto amor
Que não posso te dar, nem receber.
Teus braços que sei plenos de calor,
Abraçam essa vontade de viver...

Mas amo teu amor e teu desejo,
Desejo teu amor bem junto ao meu.
Meus lábios aguardando por teu beijo,
Teu beijo que em lábios se perdeu...

E chamo calmamente por teu nome,
Entre as estrelas, nua, a lua some...


89


Deitada na minha cama,
Em tremendo reboliço
Acendendo logo a chama
Meu amor florindo em viço,

Recomeça logo a trama,
Que é feita em louco feitiço,
Moreninha, amor te chama,
Vem comigo que eu te atiço.

E te atirando pro leito,
Em cetins, nosso dossel,
Meu amor tão satisfeito

É caminho para o céu,
Mas venha de qualquer jeito
Desde que entorne teu mel...


90


Deitada entre meus braços adormeces,
Adornas minha casa, bela dama.
Tecendo no teu corpo raras preces,
Acende neste outono a nossa chama.

Vasculho por segredos, tua pele,
Encontro as mais suaves maravilhas.
A cada novo ponto que revele
O quanto são divinas tuas trilhas

Percebo que não tenho mais saída,
Sou teu e nada além. Vivo feliz.
Em tuas mãos entrego a minha vida.
Prazeres que se buscam, peço bis.

E assim amor se faz devagarinho,
Suavemente e manso, com carinho...
Marcos Loures


91



Deitada, quase nua, toda exposta...
Nessa janela aberta tantos sonhos...
Distraída, merece toda aposta
Dos corações vibrantes, tão risonhos...

Eu sonho com seu corpo transparente.
Maldades da janela, meu desejo...
Quem dera ser vizinho, até parente,
Desta beleza toda que hoje vejo...

Menina não maltrate tanto assim...
Deitada nesta cama ...Que tortura!
Transborda quase tudo, que há em mim.
Nos sonhos desta moça, u’a aventura...

Daria; na verdade, todo um mundo..
Entrar naquele quarto, um só segundo!


92
Deitada sob a lua, nua em pelo,
Coberta pelos raios desta lua,
Ao vê-la não resisto ao teu apelo
E a saga de querer-te continua...

Te beijo, delicado e desejoso,
Meus lábios percorrendo teus caminhos
Até te conhecer, voluptuoso
Sorvendo cada toque, mil carinhos...

Na areia, sob a lua, sob o sol,
Coberta por meu corpo, alas abertas,
Eu sou teu mensageiro, o teu lençol

E trago mil prazeres, não se espante.
As nossas peles nuas, descobertas,
Entornam-se em delírios, neste instante...
Marcos Loures


93


Deitada num dossel, és virginal,
A deusa dos amores te deu luz!
Montado em meu corcel, no longo astral,
Caminho transtornado. Me seduz

O lume que emanaste neste umbral
Do castelo dos sonhos. Andaluz
Cavalo a me levar, na sideral
Trilha, o teu brilho sempre me conduz!

A vida, sem demora me deu vez,
O campo das estrelas no infinito...
A morte de meu mundo se desfez,

O tempo sem querer me deu seu rito.
Emocionado solto um berro, um grito,
Envolto em tal pureza, minha Agnes...



94


Deitada no jardim, qual flor mais bela,
O sol vai bronzeando tua pele.
Olhando-te o desejo me compele
Nesta nudez divina que revela

Um quadro magistral em rica tela,
Quem dera se meu corpo ao teu se atrele
E o tempo por momentos se congele
No amor que assim cavalga, sem ter sela.

Não vês minha chegada, nem percebes
Que estou perto de ti, tão distraída...
Num beijo delicado, sigo as sebes

E toco tua carne, assim querida.
Com um sorriso manso me recebes
E toda a resistência está vencida...


95


Deitada no divã enlanguescida
O vento ter assoprando, delicado...
Percebo esta delícia em minha vida
E me sento; sereno, do teu lado..

Sentindo as vibrações que logo emanas
Roçando o teu cabelo com meus lábios...
Depois de minha ausência por semanas,
Meus dedos te vasculham; são bem sábios...

E quando, ao perceber que te entregaste
Aos meus carinhos; beijo tua boca,
Percebo que também o desejaste
E a tarde terminando, nua e louca...

Mulher por quem sofri, amei; um dia,
Amante, deusa e musa: poesia!


96




Dei um chute no saco de Cupido!
Cansado desta peste que não pára.
É seta que me fere e desampara,
Inda se ri, safado pervertido!

Não quero mais um beijo deslambido
De quem com ironia me escancara
Sorriso com sarcasmo e se faz cara,
Num gesto em desamor envilecido.

Fazendo que não quer o que deseja
Mostrando sob a saia um cadeado.
No beijo que pensei tivesse dado,

Um dardo sem juízo já me alveja
E vendo o resultado desta farsa
Percebo no moleque, o teu comparsa.


97


Defesa de mineiro é o come quieto,
Porém nós somos mais que algum objeto,
O fato mais real e até concreto
É que não trago aqui mais desafeto.

Se às vezes eu sou franco e até direto,
No quase cometido me arremeto,
E faço das palavras de um soneto
As cinzas que sobraram do meu teto.

Jamais suportaria algum decreto,
Que trague desde sempre corte ou veto,
Prefiro ter morrido quando feto.

Caminho pelas ruas, vou discreto
Buscando o meu futuro mais dileto
Nas mãos do velho engano, o predileto...


98




Deitada em sua cama, tanto sonha;
Carinhos prometidos, delicados...
A noite se deseja mais risonha,
Trazendo seus amores ansiados...

Na seda dos lençóis, perfumes, rendas,
O gosto deste amor que sempre quis.
Sonhando um beduíno, oásis, tendas.
Percebe que não custa ser feliz...

Detrás de uma cortina, a clara lua,
Vem invadindo o quarto, mansamente...
Beijando sua pele quase nua
Roçando a camisola transparente.

Olhando extasiada para o céu,
Sonhando com amor do seu corcel!


99



Deitada em solidão no apartamento
Espera quem se fora há tanto tempo,
Depois de tão cruel apartamento
O dia vai passando em contratempo.

Não tendo mais palavras pra dizer,
Esquecida num canto desta casa,
Apenas encontrando algum prazer
No jogo de esconder a dura brasa.

A moça se permite em mil delírios
Pensando no que fora e não voltou,
Amores na verdade são martírios
Há dias que, percebo, ela notou.

Em nome da amizade, eu te garanto,
Ajudo a dirimir teu triste pranto...


4600

Deitada em meio a sedas e cetim
Espera ansiosamente pela lua
Que sobe pela escada plena e nua,
E lambe sua boca. Sempre a fim

De todo este prazer que chega enfim
Depois de tanto tempo em vaga rua,
Matando o seu desejo, ela flutua
E entrega-se com fúria. É bom assim.

Saber da companheira mais fogosa,
Fomentos de loucuras e vontade
Sorvendo com delírio em claridade,

A lua junto dela, maviosa,
Lábios abertos mãos em liberdade,
Num ato de loucura, a moça goza...



1


Deitada do meu lado, uma princesa,
Desnuda em noite imensa. Tanto amor.
Desfila nos lençóis rara beleza,
Na tela diamantina a se compor.

Emana em tal meiguice, a bela flor,
Redoma de ternura que indefesa
Entrega-se em loucura até torpor
Deixar a sua marca em realeza.

Sonhando com corcéis, galopes soltos,
Cabelos desgrenhados e revoltos,
Castelos, cavaleiros e vassalos.

Percebo em sua face, uma ilusão,
Que é feita de esperança e tentação,
Em êxtases divinos, duros falos...


2


Deitada ali, debaixo dos portais,
A gata borralheira pós moderna,
Depois da noite inteira em bacanais
Parece que desmaia ou mesmo hiberna.

Nos lábios delicados, sensuais,
A sensação de ser quase que eterna.
Não tendo mais sapatos nem cristais
Do príncipe se esquece em noite terna.

Morando na casinha de sopapo
Deixando o principesco pega o sapo
O moço na verdade, descobriu

Um cabra afrescalhado, mas gentil.
Um gentleman perfeito, um cavalheiro
Gostava, nas coxias, do cocheiro...


3


Decomposição leva essa tristeza,
A podridão enfim, me desagrega...
Na força mais vital da natureza
Meu corpo tumular em plena entrega...

Os vermes profanantes, com certeza,
A pele do meu rosto desapega.
A terra me cobrindo, na frieza,
E tudo que aprendi, a morte nega...

Escuridão envolta, meu destino...
O cheiro me profana toda carne,
Centímetro a centímetro, o descarne...

As profusões do podre em desatino,
Os ossos se transformam, caçam ônix,
Minha esperança morta, pede fênix!
Marcos Loures


4


Declino minha fronte sobre ti
E deito meu prazer em nossa cama.
De tanto desejei, me convenci
Que não posso ficar sem essa trama
Do jogo de um amor que encontro aqui,
E em louca sedução, o peito inflama.

Desenhas cicatrizes em minha alma,
Tatuas tuas garras sobre mim.
No turbilhão de beijos tudo acalma
E a porta das volúpias se abre assim
Trazendo tempestade em plena calma,
Aguando com promessas tal jardim

Canteiro em framboesas, luas, luz.
Que em laços de ternura reproduz...
Marcos Loures


5


Declaro-me perdido. Nada além.
Somente um vagabundo sem destino.
Ouvindo tua voz eu me alucino,
Procuro, não encontro mais ninguém.

A noite solitária sempre vem,
E nela tal quietude que abomino.
Preciso deste sonho aonde tem
Os restos nos escombros, de um menino.

É madrugada e insone, sigo só,
Daquilo que pensei, restando o pó,
Quem dera renascesse uma esperança.

Porém quando tu falas mansamente,
A vida se refaz e novamente,
Vontade de viver, meu peito alcança...
Marcos Loures


6

Declaro quanto é bom seguir te amando,
Não tendo mais limites, vou ao fundo.
Um novo amanhecer se anunciado,
Tomando num instante, todo o mundo.

Felicidade encontro desde quando
Um coração outrora vagabundo,
Aos poucos sem juízo se entregando
Chegou ao mar imenso e mais profundo

Dos lábios desta deusa sem igual,
Carinho tão preciso e sensual,
Forrando nossa cama de ternura.

Singrando esta delícia de oceano,
Encontro o teu delírio soberano
Na boca abençoada, louca e pura...
Marcos Loures

7




Declaração de amor que faço a ti, ó bela.
Permite que se entenda a luz desta manhã
Que ao coração amante, em lumes se revela,
Mostrando à vida em sonho, a força de um Titã.

As vidas prosseguindo em senda paralela
No gozo mais fecundo, o nosso louco afã
Tua beleza expressa a graça da gazela,
Joguemos nesta noite o logro da maçã.

Fazendo para ti, meus versos em soneto,
Queimando em tentação, centelhas num graveto
Incendiando a casa um fogo sem igual.

No passo que persigo, encontro os teus sinais
Pegadas que encontrei, caminhos magistrais
No corpo desta fera, a bela sensual...

SONETO FEITO SOBRE A MÚSICA A BELA E A FERA DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA



8

Decifro teus desejos, tuas deixas
E sigo em noite insana. Madrugada
Em meio a tempestades, velhas queixas,
Já deixam perceber uma alvorada

Além do quanto queres, mas não deixas.
Ao ter em sol imenso nossa estada,
Rainha se desnuda invoca as gueixas
E molda uma vontade disfarçada.

Nos seixos espalhados, mesmo rio,
Encontro em cachoeiras, desafio
E sigo peneirando o bem da vida.

E tendo esta nudez maravilhosa,
Ao perceber perfumes desta rosa
Entorno uma esperança tão querida.
Marcos Loures


9

Decifro os teus sinais e galgo luzes
Entrando nos estratos mais distantes.
No encanto que entretanto reproduzes
Engendro sentimentos fascinantes.

Na mão das ilusões, frágeis obuses
Crivando em dores tantas, mas constantes,
Os ermos que se mostram por instantes
A par desta loucura me conduzes.

Não posso permitir que a voz se canse
Lançando minhas mãos neste vazio.
O quanto se mostrou em desafio

Sonhando com estrela em que se lance
Meus olhos numa hedônica harmonia,
Fartando-se de sons e poesia...
Marcos Loures



10



Decifro os teus enigmas e sinais,
Mergulho nestas curvas sensuais
E bebo do prazer proporcionado
Pelo sonho em loucura emoldurado.

Percorro este infinito e de bom grado
Sorris quando em teu corpo sigo atado,
Causando as explosões fenomenais
Querendo o tempo todo e muito mais.

Desnuda sobre a cama, seus lençóis,
Derramando, magnífica, mil sóis,
Estrela divinal, ninfa e rainha.

Do encanto mais real, protagonista,
O Céu enfim permite que se assista
Orgástico esplendor; que se adivinha...


11


Dedilho, no piano os sentimentos,
Fazendo dos acordes, a emoção
Que vibra em cada nota da canção
Revejo desde então nossos momentos.

Imagens que percorrem pensamentos,
Momentos dissonantes, ilusão...
Diversos os meandros da paixão,
Enquanto nos maltratam são ungüentos.

Amanhecer ao lado de quem amo,
Delícias sem igual, raros matizes.
Lembrando como fomos tão felizes

Abrindo os meus umbrais eu te reclamo
E vejo numa estrela o teu reflexo,
E busco em plena insânia qualquer nexo...
Marcos Loures


12


Dedilhas no piano da emoção
A mais sublime música – esperança.
O coração feliz, contigo dança
Unidos pela mesma vibração.

O amor que se faz pleno diz perdão,
E o paraíso em vida logo alcança,
Tornando a nossa história bem mais mansa,
Revigorado à luz da sedução

De corpos que se tocam e se buscam,
Sem luzes que os impeçam ou ofuscam
Na dura caminhada pela vida.

Seguramos as rédeas com carinho,
Enquanto nas saudades eu me aninho,
Encontro no teu passo, uma saída...
Marcos Loures


13



Dedilhas com suprema maestria
As cordas do meu pobre coração,
Usando o diapasão da poesia
Expresso na beleza da canção,

Por vezes a minha alma é tão vadia,
Uma andarilha solta na amplidão,
Mas quando ouço a divina melodia
Tocada com talento e precisão

Eu volto o meu olhar emocionado,
E o peito se entregando de bom grado
Explode num momento de alegria,

Quem tantas vezes busca ser ritmado
Ouvindo o teu cantar, maravilhado,
Dispara em sem igual taquicardia...


14

Dedico minhas noites à minha alma
O beco que te dei não tem saída.
A boca que me beija não me acalma
Resumindo a má sorte em nossa vida.

Por vezes encontrava outra remessa
De risos e de gozos mentirosos,
O amor quando demais logo tropeça
E os passos continuam temerosos.

Servis os corações morrem cativos,
Serenas as manhãs que não virão.
A vida multiplica velhos crivos
E mostra no final a negação.

Serpentes que cevaste com desprezo,
Deixando amor estúpido, indefeso...
Marcos Loures


15

Dedico estes versos, cara amiga,
A quem sempre foi luz em meu caminho.
Permita que eu, a todos, sempre diga
Quanta emoção repleta de carinho!

Poética essa estrada que me abriu
A porta para ser bem mais feliz.
Tu na verdade és mais de cem, de mil
Estrelas neste céu de um aprendiz.

Kalhleen toda a certeza de amizade
Se encontra nos teus braços, companheira,
Meus versos vão tomando a liberdade
De poder te cantar a vida inteira.

Meu peito se ilumina mais depressa
Se alguém chama teu nome: Kathleen Lessa!

Para a grande amiga e poetisa, minha amada
Kathleen Lessa


16


Dedico este meu canto à grande amiga
Exemplo de coragem, lucidez.
Por vezes quando a vida se periga
Teu canto me ilumina: sensatez!

És carinhosa sempre, nunca nego,
Afagos, elogios, alegria!
Não sabes mas nas cores que carrego
Meu canto com ternura e fantasia

A Lua tão suprema sempre brilha
Esta certeza imensa e de amor plena
De ter nesse recanto a maravilha
Do canto que me encanta, amiga Helena.

Desculpe se não tenho a claridade
Que tens, mas me ilumina esta amizade!

Para HLuna, grande poetisa e amiga.


17



Decretar a falência dos meus sonhos,
Remete-me ao princípio desairoso.
Enquanto a solidão traz o seu gozo,
Os dias sem remédio, são medonhos.

E quando olhar os mares mais risonhos,
Verei o amanhecer maravilhoso
Que um dia se mostrou tempestuoso
E agora mata os ritos enfadonhos.

Mereço ter alguma serventia?
A noite novamente já se esfria,
Vadia, a lua foge entre meus dedos.

Raiar outra esperança? Ah, quem me dera.
O fim do que pensei ser primavera
Acende sem perdão antigos medos...



18


Decifro neste amor tantos segredos
Guardados dentro da alma sonhadora.
Vencendo em alegria velhos medos,
Encontra a solução que é redentora.

O mar quando se quebra nos penedos
Na fúria dos marulhos já se ancora
Retorna novamente e sem demora
Expressa das paixões os seus enredos

Assim, tempestuoso, porém belo,
O amor ensandecido, eu te revelo
Vivenciado à luz do dia-a-dia.

Dos céus avermelhados da emoção,
Tocando com delírio em explosão
A força insuperável irradia.

19

Decifro em teus olhares, fogo e neve,
Ebúrneas maravilhas, claros dentes,
Minha alma a te buscar num gesto breve
Traduz a fantasia que pressentes.

Enquanto a poesia já se atreve
O gozo se anuncia em mãos clementes.
A vida se tornando bem mais leve,
Em lúbricos prazeres tão freqüentes.

À sombra de teus passos eu prossigo
Vivenciando a sorte de saber
Que após a tempestade tenho abrigo.

Etéreas sensações em manso afago,
Vertentes tão sobejas do prazer
Derramam suas águas em teu lago...
Marcos Loures



20

Decifro em meus desejos a mulher
Que traçou meu destino, a minha vida.
As ilusões que trago, o que vier;
Mostrando a mocidade, vã, perdida.

Desabam tempestades em qualquer
Uma destas palavras: despedida.
Na pérfida manhã, o teu mister,
Trazer na boca o beijo de partida...

Quem teve o seu destino em frios braços,
Colando sonhos gêmeos siameses,
Estreitam-se demais os nossos passos,

No nó que desataste, veio o frio,
Amor que disfarçaste, tantos meses,
Termina em solidão, neste vazio...



21


Decifrar os segredos da existência
Enigmas que o amor vem nos propor,
É conduzir em paz, com paciência
Fazendo da alegria, o seu louvor.

Por mais que seja dura a penitência,
Terás em plenitude o teu amor
Se a cada temporal sem inclemência
Usar a mansidão de um beija-flor.

Não temas quando amor chegar, pois nele
Verás a calma face de um bom Deus
Deixando que Ele venha e se revele

Na luz que se irradia em cada ser.
Terás a magnificência de verter
Em rara claridade, trevas, breus...
Marcos Loure


22


Decide se tu queres, mas me deixes
Ao menos uma chance de poder
Beijar a tua boca. Não se queixes
Se em ti eu percebi o meu prazer.

Por mais que tantas vezes tu desleixes
Do sonho que não quer adormecer,
Amor ensandecido traz em feixes
Fartura de alegria em bem querer.

Falar quanto eu te quero, um pleonasmo,
Mas digo com total entusiasmo
Da força que domina o pensamento.

Distante dos rancores e dos ódios
Vencendo e se elevando a tantos pódios
Da glória que virá, pressentimento...
Marcos Loures


23


Decerto, o meu amor já saberia
Quem tanto desejei em luz tamanha,
Vibrando certamente de alegria,
A sorte- ser feliz, amor, nos banha,

E o canto da promessa me dizia,
Do encanto que se molda em nossa entranha,
A vida sem amor e poesia
Decerto, sem motivos, vai estranha

Vivendo neste amor, perfeita glória,
O medo transformado na vitória
A cada novo tempo; conquistada.

Com ar de quem venceu dura batalha
Escapando do fio da navalha
Recebo cada beijo teu; amada.
Marcos Loures


24


Decerto uma esperança há tempos me domina
De ter o teu carinho e ser somente teu.
Amor que se faz fonte, alvissareira mina,
Permite recobrar o que o tempo perdeu.

Não deixe que este sonho, o que mais alucina,
Se perca nesta estrada, em treva e negro breu.
Eu quero estar contigo, amada amante e sina
Na dança que eterniza o mundo teu e meu.

Vem logo que esta noite a lua se faz cheia
Amar sob o luar, na praia em plena areia
Fazendo deste sonho, a realidade pura.

Amando sem parar, o tempo já não pára,
Eterna mocidade, a vida assim prepara
A quem se deu inteiro aos braços da ternura...


25



Decerto tu não sabes, ser boçal
A imensa maravilha de poder
Sentir a raridade de se ter
Beleza deslumbrante e sem igual

Do sol incandescente sobre o mar.
Aqui, nestes grotões abandonados,
Nas rústicas paragens, demonstrados
O inferno que o poeta quis pintar.

Jamais irás sentir o nobre vento
Nem mesmo ouvir à noite tal marulho,
No solo feito em pós e pedregulho

Quem pode ter gentil, o sentimento,
Entendo então a tua estupidez
Formada em ignorâncias, e aridez...
Marcos Loures


26

Decerto todo medo eu vencerei
Meus dias dos teus passos, girassóis,
Amor que tantas vezes procurei
Encontro nos teus olhos, meus faróis,

Na noite em que em teus braços mergulhei
Incríveis sensações de raros sóis,
De todo este prazer que eu desfrutei
Rolando meus desejos nos lençóis

Tocando a bela deusa, toda nua,
Deitando nosso amor sob esta lua
Minha alma se sentindo bem mais pura.

Eu quero amanhecer sempre ao teu lado
Vivendo sem juízo e sem pecado
O tempo, das tristezas, se depura.



27


Decerto se fazendo nossa lei
O vento da paixão já nos conduz,
Depois das noites frias que passei,
Procura quase insana pela luz,

Falena que se perde, eu encontrei
Caminho que ilumina e reproduz
Beleza deste amor em que sonhei
Tivesse a divindade em que propus

A vida, num momento mais audaz,
Somente amor perfeito satisfaz
Tal sentimento eu sei, jamais se mede.

No brilho dos teus olhos, teu sorriso
Amor se demonstrando em claro aviso,
Um sonho mavioso nos concede.
Marcos Loures



28


Decerto se Camões lesse teus versos
Teria uma alegria de saber
Que mesmo em tão distantes universos
Eternizando o sonho, com prazer

Revelas velas raras, sons diversos
Dons inigualáveis; posso ver
Na mão de quem reúne tons dispersos
Nesta aquarela tece um bom viver.

O vate com certeza beberia
Com tal sofreguidão a poesia
E bêbado de luz, querido amigo

Vencendo os dissabores e procelas
No encanto de sublimes, belas telas
Sua alma encontraria, enfim, abrigo...



29





Decerto que vagina é nome feio,
Prefiro um apelido mais safado.
Caminho bem melhor? Sempre o do meio,
Ensinamento certo e bem guardado.

Vulva também não soa muito bem,
Assim tal qual a válvula de escape.
Clitóris? Palavrinha que não tem
Sonoridade boa. O sol se tape

Com todas as peneiras que puder,
Merece com certeza muito mais,
Maravilhosa Diva: uma mulher.
Por isso meu amor, bem mais me apraz

Chamar de xana, xota ou bocetinha,
Mais fácil para alguém quando acarinha...



30


Decifro os teus desejos e vontades,
Penetro mansamente tuas tocas,
Enquanto com tesão tu já me tocas
Promessas de loucuras, variedades.

No teu corpo fazendo tais viagens,
Vagando pelas sendas mais perfeitas,
No leito feito em chama tu deleitas,
Delírios em divinas sacanagens.

Até que o gozo venha e enfim te banhe
Do leite que se emana do prazer.
A fúria sem limites nos entranhe
Revelação orgástica em teu ser.

E assim extasiado, eu descanso
No teu colo; fantástico remanso...



31


Decifro no teu corpo tais segredos
Que fazem minha vida prosseguir
No sonho mais gostoso meus enredos
Sabendo desde agora do porvir.

Enquanto disfarçamos velhos medos,
O tempo de chegar e de partir,
O vento que invadindo os arvoredos
Responde que ninguém vai impedir

Que a gente continue nossa estrada
Na busca desta tal felicidade,
A lavra que em carinhos é cevada

Permite uma colheita sem igual,
No amor que mansamente nos invade,
A vida se prevê em bom final.
Marcos Loures


32


Debutante perdida no passado.
A vida transformou essa menina.
O sonho que vivia, abandonado...
O tempo já dobrou a velha esquina!

Vestidos, valsas, danças... O lado
Cruel da vida, cedo descortina.
Primeiro amor, primeiro beijo dado.
A vida veloz, rápida, rapina;

Não deixa tempo para um sonho tolo...
A festa, a dança, noites belas, bolo...
Nada mais restará, pois nada atina.

Os tempos mudam, tudo se transforma...
Nos shoppings, patins, games se conforma.
Acaso mudou a alma feminina?


33

Debruço uma esperança na janela
E dela faço um campo de batalha,
Enquanto o mesmo não já se revela
Apenas fantasia me agasalha.

Confio neste fio de navalha
Enquanto o barco perde rumo e vela,
Cavalo da alegria não se sela
Trazendo no seu lombo, uma mortalha.

No intento que se disse liberdade,
Se eu tento muitas vezes não consigo,
Refém desta ilusão: felicidade

Meu passo vacilante; inda prossigo,
Postergo o meu sorriso, cabisbaixo,
Desfecho vai descendo, vida abaixo...
Marcos Loures


34

Decerto que o vermelho te cai bem,
Contrasta com a pele amorenada.
Se bem que na verdade, com ou sem
Prefiro te encontrar já desnudada

Aberta pros carinhos mais audazes
E toda molhadinha, sorridente.
Na sede com que venho e que me trazes
A noite aí será- garanto- quente.

Eu quero desfrutar desta delícia
De ter tua nudez em minha boca.
Num toque mais sutil e com malícia
Só quero que tu venhas, fera louca

E vamos sem ter tempo de para
A madrugada inteira, nos amar...
Marcos Loures



35


Decerto nesta vida é um gigante
Aquele que se deixa transportar
No mar de amor intenso e deslumbrante
Fazendo todo o bem frutificar,

Eu sou desta esperança um velho amante
E sinto que esta glória vai moldar
Um novo amanhecer a cada instante
Mantendo nos meus olhos teu luar.

Revestido de estrelas, belo manto
Sagrando cada verso ao pleno amor,
Pressinto ao fim de tudo tal encanto

Que possa ser meu guia vida afora,
Teu corpo tão divino encantador
Em rios de prazer à noite aflora.
Marcos Loures



36


Decerto irá brilhar mais plenamente
O olhar de quem se deu e não fugiu,
O amor que a gente sente tão sutil
Tomando a nossa vida num repente.

Querendo em mansidão estar contente
Amor, a fantasia permitiu
Carinho prometido descobriu
Caminho para os céus, iridescente.

Não quero uma emoção que seja afoita
Enquanto no teu braço amor pernoita
A vida se promete em luz suprema.

Rompendo estas amarras que trazia
Eu vejo o renascer de um belo dia
Quebrando o que se fez outrora algema...
Marcos Loures



37



Decerto eu não me esquecerei de ti
Pois vives nos meus sonhos e palavras.
Não posso me esconder se estou aí,
Arando nosso amor em belas lavras.

Em cada verso teu um novo encanto,
No maremoto imenso da paixão
Amor que a gente faz, um celacanto
Tornado em nossa vida, turbilhão.

Espero que tu durmas e descanses
Que a noite sem te ter será dorida.
Eu lembrarei de todas as nuances
E assim a noite vai ser consumida

Em todas as lembranças que puder
Do cheiro meio flor, plena mulher...
Marcos Loures



38


Decerto em harmonia, amor perfeito
Não deixa que se pense em outro rumo.
Vivendo o nosso amor eu sempre assumo
Delícia que se mostra a cada pleito.

Colhendo cada fruto, satisfeito
Ganhando no caminho meta e prumo.
Saudade se esvaindo em frágil fumo
Afasta-se pra sempre do meu peito.

Eu tenho esta certeza dentro em mim
Da flor que perfumando o meu jardim
Expressa a qualidade do cultivo.

Meu verso se tomando de emoção
Cuidando com carinho, a plantação
Deixando o jardineiro assim, cativo...
Marcos Loures



39


Decerto de gostoso já vicia
O grande amor que entranha as nossas vidas.
No quanto teu carinho protegia
As horas não se foram distraídas.

Na beleza infindável de teus olhos,
O sonho se mostrando sempre bom,
O trigo separado dos abrolhos
Estende em harmonia um novo tom

Este anjo que tu és já me permite
Viver a sensação do manso sono,
Amor que na verdade é sem limite
Cativa e não concebe um abandono.

Deitando meu carinho em tua guarda,
Felicidade imensa já se aguarda...


40


Decerto companheiro a voz do povo
Na grita que se mostra assim geral,
Repete o velho mote que, de novo,
Representa a verdade tal e qual.

O sangue do operário ou lavrador
Sustenta esta cambada de safado.
E quando algum juiz mostra valor
É logo, desde então amordaçado.

Eu peço aqui perdão por esta herança
Que a gente inda não soube destruir.
Restando tão somente uma esperança
Que possa iluminar nosso porvir.

Botando salafrários na cadeia,
O Banco se esvazia e ela vai cheia...
Marcos Loures


41


Debaixo dessa blusa, fantasias...
Delícias da nudez desta mulher...
Quebrantos e malícias, melodias.
A lua que me invade também quer...

Carinhos percorrendo poesias,
Neste prato meter minha colher
E desfiar rosários tantos dias
Quanto à dona da blusa me quiser...

Meus dedos são expertos navegantes,
Desbravam cada canto desta mata...
Teus seios são portentos elegantes,

Encontro meu tesouro e minha prata...
Nas pernas já me ocultas diamantes,
Escorrem teu prazer, doce, em cascata..
Marcos Loures



42


Debaixo da jaqueira, ele pensava
Como a vida se faz em perfeição.
Se ao invés de britânico, bretão
Conforme ele sabia e constatava

O gênio que sentado descansava
Fazendo a sua sesta sobre o chão,
Morasse no Brasil, no meu sertão,
Teria a sorte amarga, fria, brava

Talvez seria; enfim caricatura,
Do crânio destroçado, com fratura,
E a sua descoberta, um novo tom.

No lugar da maçã fosse jaqueira
A história não seria verdadeira,
Tampouco genial, Isaac Newton...



43


Debaixo da janela, o seresteiro,
Invoca; enamorado, a bela lua,
Sua alma perde os lastros e flutua
Tendo no violão seu mensageiro,

O sonho perseguindo este luzeiro
Imaginando a deusa seminua
Que em doce transparência continua
Ouvindo a mansa voz do seresteiro.

Retrato abandonado na gaveta
Do tolo imaginário de um poeta
Teimoso que esqueceu de olhar em torno,

O quanto deste encanto ainda resta,
Romântico soneto? A luz funesta
Impede sem perguntas, tal retorno...


44


De uma paixão intensa e verdadeira
Sobrando quase nada faz pensar,
Por mais que seja imenso o grande mar
Jamais teve a doçura da ribeira.

Viola; minha antiga companheira,
Clamando da varanda este luar,
A noite que passando devagar
Encontra em cada luz a mensageira

Que trama uma ventura sem fronteiras,
Dos sonhos mais comuns, simplicidade,
Palavras correm soltas, estradeiras

Levadas pelo vento até chegar
A quem eu dediquei a claridade
Que um dia, tão distante fui buscar...



45


De uma amargura imensa, bem curtida,
A pele que desnudo frente a ti,
Imagem de minha alma já vencida,
Jogada num esgoto, onde perdi

A sorte de saber da dolorida
Estrada que por vezes não segui.
O bem que me negaste, a própria vida,
Encontro mais alhures do que aqui.

Porejo um sujo sangue quase anêmico,
Que sei nunca terá nem serventia.
Meu verso se faz tolo e verte em lama

Mostrando que este efeito, sendo cênico,
Qualquer significado não valia,
Apenas fogo fátuo, sem ter chama...


46


De um túmulo soturno assim surgia
Alvíssima beleza deslumbrante.
Alquímica mortalha que em magia
Num átimo se mostra aqui, diante

Dos olhos de quem nunca mais veria
O dia renascer irradiante.
O beijo sacrossanto que daria
Sugando toda a vida num instante.

Noctâmbula insensata embriaguez
Levara-me a seus braços, turva senda.
Paisagem maviosa enquanto horrenda.

Levando em avalanche a lucidez.
Debruço-me num ato de loucura
E bebo todo o sangue com ternura...



47

Debruço sobre ti minhas vontades,
Arrancando os espinhos, sobra a flor.
Vereda mais tranqüila vou compor,
À sombra dos desejos, liberdades.

Encampo tais promessas que te faço,
Alheio-me dos traumas que passei.
Da antiga divisão, talvez serei
Um único caminho, o mesmo traço.

Plastificando o sonho, não me entendes
Se eu tento navegar mares diversos.
Pensares tão absortos vão dispersos

Enquanto o fogaréu queres e acendes.
Espalho pelos campos as sementes,
As polinizações são sempre urgentes...
Marcos Loures



48


Debruças poesias na janela
Enquanto eu passo, um simples sonhador,
Deveras imagino aquela estrela
Deitada no meu leito em louco amor.

Quem dera se eu pudesse ser só dela
Caminho de esperanças, vencedor.
A vida num momento se revela
Ao espalhares sonho intenso em flor.

Farturas de prazeres, seios, risos,
Vertentes de ilusão, divinos guizos
Numa explosão de festas e granizos

Teus lábios tão vorazes e precisos,
Mostrando o mais perfeito dos sorrisos
Convite para o mundo em paraísos.


49

Debruças à janela e tentas ver
A imagem do que outrora fez-se encanto.
Distante ainda ouvindo o suave canto
Que um dia te inundara de prazer...

Talvez um simples sonho. Queres crer
Que a mão que te servira como um manto,
Ausente de qualquer fuga ou quebranto
Virá, na madrugada te envolver...

- A lágrima que escorre já revela
O tom em que um artista pinta a tela
Bebendo desta fonte intermitente

Mas choras quando embalde surge o dia,
Quem fora rouxinol é cotovia,
A cena se repete eternamente...
Marcos Loures



50

Debaixo dos umbrais, um cão vadio
Ladrando para a lua tão distante,
Olhando a claridade fascinante,
Encontra tão somente a dor e o frio...

O copo da esperança vai vazio,
O fel da realidade transbordante,
O sonho, este cruel e vil farsante
Que em noites solitárias, quero e crio

Perambulando insones madrugadas,
Tentando vislumbrar deusas e fadas
Aonde se percebe este negrume...

O fardo de viver, pesando tanto,
Das trevas, desamor, trazendo o manto,
Uso pra me esconder, falso perfume...
Marcos Loures



51

Debaixo dos lençóis, me declaraste
Amor que sem limites, nos tomou.
E quando suavemente, me tocaste
A vida em alegria se inundou.

Do teu amor, bem sei que não falaste,
O teu carinho imenso já falou,
Estrelas, nesta cama transbordaste,
O meu caminho todo, iluminou...

A linha que escreveste com teus lábios,
Jamais vai se apagar dentro de mim...
Desejos se procuram, são bem sábios..

Palavras... Não precisas nem dizer,
Pois tudo o que sonhei, trouxeste sim,
No idioma universal, tanto prazer...
Marcos Loures



52

Debaixo do luar, pássaro canta
E encanta quem escuta o belo trino,
Amar foi um descuido do destino?
Ternura que procuro em força tanta.

Estrelas nos tomando, clara manta
Professo em tal torpor um desatino
E ao mesmo tempo em que já me alucino
A força deste encanto me agiganta.

Arestas aparadas, sigo em frente,
Já não em desespero nem descrente
Sargaços não impedem que eu aporte

Nos braços calorosos da mulher
Que tanto desejei e bem me quer,
Tornando alvissareira minha sorte...
Marcos Loures


53


Debaixo do chuveiro quando canta
Parece um passaredo em rebeldia
Transforma qualquer nota em poesia
E a todos que a escutam, ela encanta

Vontade de sonhar, agora é tanta
E ao espalhar em volta, fantasia
Um mundo tão diverso ela assim cria
Na força insuperável da garganta.

Ouvindo a sua voz, a natureza
Deslinda-se em magias e em beleza
Trazendo a todo mundo imensa paz.

A melodia expressa tanto amor
Nos cânticos de glória e de louvor
Uma alegria intensa ela nos traz...
Marcos Loures



54


De um jeito inebriante e tão macio
A voz de uma pessoa cativante
Entorna a poesia e num instante
Invade o coração deste bugio.

E quando esta presença; fantasio,
Minha alma num falsete dissonante
Do som maravilhoso, discrepante
Ainda tatuada pelo frio

Espera um novo tempo mais feliz,
Viver é desfrutar do que se quis
E um dia cultivei com tolos versos.

Depois de tanto tempo em solidão,
Plangência dominando o violão,
Espanto-me em acordes tão diversos...


55

De um falso diamante roubo o brilho
E dou a quem se fez tão verdadeira,
Não quero o gozo de qualquer maneira,
Por mais que eu te pareça maltrapilho.

Os erros cometidos eu empilho,
Descrevo a cada verso uma ladeira
Aonde tropecei a vida inteira,
Jamais aprenderia um novo trilho.

Repare nesta lua; como é bela,
Porém a cada mês ela revela
O quão constante em fases semanais.

Assim também o amor que eu trago em mim,
Retorno ao desvario de onde eu vim
Qual barco que se ancora em podre cais...



56


De um erro cometido, arrependido,
Por mais que ainda sonhe com perdão
O passo desde agora combalido,
Não sabe decifrar a direção.

Outrora com vigor e decidido
Vencera com furor uma amplidão,
Habito esta masmorra e quando agrido,
Reflito o que hoje sou: um simples não!

Nos olhos dos meus filhos a esperança
Que um dia pensei ser a minha herança
Aos poucos se transformam. Vão disfarce

Jogado pelos cantos. Quanto é falso
O passo que fugindo ao cadafalso
Se perde num cruel e vivo esgarce...
Marcos Loures



57


De um amor, o mensageiro
Escondido atrás da sorte
Vem chegando sorrateiro
Com palavra que conforte

Quem me dera se consorte
De teus sonhos por inteiro
Eu teria em bem suporte
Seria amor verdadeiro.

Mas se deito esta esperança
Nos jardins da bela dama,
O meu tempo sem andança

Nos teus rastros bebe trama
Quando o fogo nos alcança
Da ilusão eu verto chama....
Marcos Loures



58



De um amor que em amor tanto se deu
Fermento de emoções e de vontades,
Almejo ser completamente teu
Sabendo que estes sonhos são verdades.

O vento realçando as liberdades
Permite te dizer o que ocorreu
Manhãs antecipando quentes tardes
Depois, a noite invade em negro breu.

Bem sei que quando a lua se apresenta
A negritude logo se apascenta
E traz no lusco fusco, maravilhas.

Eu quero e necessito mesmo crer,
Que a luz persistirá no amanhecer,
Dourando eternamente nossas trilhas...
Marcos Loures



59




De tudo que tivemos mal sobrou
A foto sobre a mesa no escritório.
O coração sofrido e merencório
Vagando em noite fria, assim eu vou...

Que faço se em verdade nada sou
Distante deste amor que sendo inglório
Sem ter jamais um brilho que decore-o
Morrendo, com certeza me matou.

Lavrando em aridez nada colhi,
Não sendo este caminho o que escolhi,
A sorte nunca tive, nem a vi.

Quem sabe noutra vida, eu volte a ti
Mostrando o meu olhar lacrimejante
Talvez volte a sorrir no mesmo instante..



60


De tudo que sonhei na minha dura vida,
Achei felicidade em momentos atrozes.
O sorriso que dei nas mãos dos meus algozes;
A lua que ilumina em noite vã, perdida;

A hora em que me encontro, em plena despedida.
A mansidão que tenho, em garras mais ferozes.
Veneno que me cura em tão suaves doses.
A mão que me maltrata, a que é oferecida.

Aprendo com o não, me ensina mais que o sim...
E com isso o perdão, é meio e também fim;
A dor que compartilho ensina-me a viver.

Entendo o sofrimento assim como a alegria.
A noite tenebrosa aguarda um belo dia.
Ser bom, quase feliz, da dor tirar prazer!
Marcos Loures



61


De tudo que juntei, grãos abortados,
Os dias nunca foram mais felizes,
Deslizes escancaram cicatrizes
E os olhos tantas vezes embotados.

Recados do passado chegam tarde,
E o quase ainda dita este cenário,
A velha fantasia queimando arde
O canto do pardal doma o canário.

Estrela debutando na janela
O verso desembesta e me revela
A sela sem cavalos quer galope.

Receios são recheios dos meus versos,
Encantos se perderam, pois dispersos,
Garrafa da ilusão em fel se entope...



62


De tudo que aprendi na minha vida
Em várias estações onde passei
Somente pouca coisa foi retida
Das muitas emoções que eu enfrentei.

Buscando a cada dia ser feliz,
Ouvindo algumas vezes a razão,
Contudo percebi ser aprendiz,
Meus versos sempre cantam emoção.

Meus erros repetidos num momento,
Os sonhos abortados ou calados,
A própria solidão, o sofrimento,
Os medos, os segredos desprezados...

O melhor, com carinho e humildade,
É ter, com certeza, uma amizade...



63

De tudo o que tivemos; riso e pranto,
Apenas nosso amor permaneceu
Vencendo em calmaria o desencanto
É luz irradiando sobre o breu.

Não temo mais inveja nem quebranto
Pois vendo o sentimento meu e teu
Espalho uma alegria em cada canto,
No quanto farto amor se concebeu.

Contigo companheira e aliada
Eu sei que nada pode nos ferir.
Enquanto a fantasia nos gerir.

O sol ao nos trazer bela alvorada
Derrama sobre nós a claridade,
Dizendo deste amor que é de verdade.
Marcos Loures



64

De tudo o que sonhara nesta vida.
Andava assim, beirando o precipício
Achando minha sorte já perdida.
Mas quando te adorar tornou-se um vício
Achei no fim do túnel, a saída..
fazendo da alegria o nosso ofício

Se flores esparramas pelo chão
Aromas são teus rastros, minha sina,
Saber do bem da vida, vinho e pão
É ter-te nos meus braços; diamantina,
Perfazes a beleza e a solução
Tão cedo o teu amor já me domina

E mostra que contigo aqui, bem perto,
Não temo mais os cardos do deserto...



65


De um tempo em que pensara ser pequeno
Vivendo a dor cruel da solidão,
Percebo nos teus braços, vento ameno
Trazendo uma alegria em profusão.
De amores e carinhos ando pleno
Forjando no meu céu imensidão...

Tu mostras quão possível ser feliz,
Tomando a minha vida em alegria.
Meu céu, caleidoscópico matiz
Agora se moldando em harmonia,
Azulejando a vida, amor que quis
Farturas de prazer e fantasia.

Vontade de gritar em alto brado,
Eu estou, finalmente, apaixonado!



66


De um sonho mais feliz e venturoso
Deixaste tão somente este vazio,
Movido por talvez um presunçoso
Desejo que em loucuras eu recrio...

O dia vai nascendo nebuloso,
Lá fora tão somente o eterno frio,
Caminho pelas trevas e andrajoso
Persisto, um andarilho vão, vadio.

O tempo consumindo a fantasia,
Legando ao meu destino desatino.
Quem dera se eu pudesse... a dor sacia

E em pleno desvario sigo só.
Se o gozo da ilusão cedo extermino,
Não resta do que fomos nem o pó...
Marcos Loures



67

De um raro amanhecer eu me afianço
Num canto que se mostre mais singelo
Eu quero no teu colo o meu remanso,
Fazendo desta noite um sonho belo,

Contigo um infinito logo alcanço
E todo o meu prazer já te revelo
Falando deste amor, não me canso,
Meu corpo no teu corpo assim atrelo

E bêbado de luz, vou caminhando
Seguido a cada noite te buscando
Colhendo no canteiro a bela flor

Quem dera um beija-flor pudesse ser
Bebendo em tua boca este prazer
Tocado pelo vento deste amor
Marcos Loures



68








De tua boca, ouvir o belo canto
Que pode transformar a minha sina,
A vida tantas vezes me destina
Apenas, tão somente o desencanto,

Não quero mais saber do antigo pranto
Rolando de meus olhos, fria mina,
Tampouco a solidão, esta assassina
Cobrindo-me deveras com seu manto.

Eu quero uma magia tão simplória
Modificando toda a minha história
Tragando os dissabores que inda trago,

Numa explosão fantástica e silente,
Dizendo deste afeto que se sente
Na simples sensação de um manso afago...



69


De todos sóis que procurei na vida,
Rolando o pensamento pelos astros,
Mudando a minha história, a despedida
Não deixou nos meus céus, caminhos, rastros.

Aguardo por talvez mão estendida
Ao menos que me dê apoio e lastros.
Mas sendo tão difícil a saída
Bandeiras dos meus sonhos buscam mastros.

Dormentes emoções não representam
Sequer algum resquício de alegria.
As dores e tristezas se apresentam

Fazendo do meu peito espinho e cardo.
Quem teve noutro tempo, a fantasia
Percebe quando o amor se torna um fardo...
Marcos Loures



70


De tudo o que restou somente um naco
Daquilo que pensei outrora ter
Talvez inda me desse algum prazer,
Não estaria assim, cansado e fraco.

Nas festas que sonhei; louvor a Baco,
O corpo se entregando sem saber
Que pouco a pouco iria apodrecer
E agora em cais tão frágil, o barco atraco.

Só sei que não sobrou nem esperança,
A antiga fantasia já me cansa
E o gosto pela vida se esvaindo...

Não pude resistir, e aos poucos parto,
De todo o sofrimento, eu estou farto,
A morte; finalmente, descobrindo...



71


De tudo o que mais sinto; o que eu queria
É ter o teu sorriso aqui comigo,
O resto na verdade, nem mais ligo,
Apenas eu desejo uma alforria

Libertação se faz a cada dia
Cevando a poesia joio e trigo
Misturas que demonstram que o perigo
Às vezes bem mais perto que podia.

Persisto com meu passo, sem descanso,
Não me importando, juro, se eu alcanço
Ou perco a flor, matando o seu perfume,

Porém ao pôr meu peito mais exposto
O esgar que se demonstra no meu rosto
Permite que meu passo, enfim se aprume.
Marcos Loures



72

De tuas mãos divinas, tal carinho,
Que sinto, calmamente, me enlevar;
Arando o coração, preparam ninho,
Onde esperança, intensa, vai morar.

Eu quero cada fruto, cada flor,
Produto do cultivo, plantação.
Recebo em tuas mãos, o pleno amor,
Que faz no bem querer, adubação.

Decerto nas delícias do pomar,
As frutas delicadas, nossos filhos.
É vida que, insistindo, faz brotar,
Nossos caminhos, unos, nossos trilhos.

E já peço, em mãos postas, numa prece,
Essa beleza do amor que amadurece...



73


De tua carne livre e desejosa,
O gosto mais profano e impudente
Por tanto que te quis voluptuosa
Na cama que sonhei mais indecente.

Teus seios tão macios e famintos,
Teus olhos tão sedentos e vorazes.
Vulcões que já julgara; assim, extintos,
Nas bocas e nas mãos bem mais audazes.

Cevado pelo beijo que prometes
E tramas toda noite em nossa cama.
Ao solo deste amor já me arremetes
Minha alma cravejada não reclama.

E quero neste jogo me perder,
Vencido pelo amor, ganho o prazer...



74


"De todas as maneiras vou te amar!"
Por todos os meus mares e campina...
Nas ondas que se vão, neste luar...
Coração que se entrega, descortina

A vida que jamais pode esperar...
Um bolero orquestrado, a louça fina...
O tempo amaciando sem sangrar...
Meu coração descrente hoje imagina...

De todas as maneiras... Tão distante...
Quando partiu, deixou vazio o peito...
Tempestade rugindo, delirante...

Quem partiu só saudade me deixou...
Nem a força, seguir para adiante...
Quem me dera esperanças, as levou!



75

De todas as maneiras hei de amar,
Em gozo, fogo fátuo, loucamente,
Aos poucos bem mansinho devorar
Juntar teu corpo ao meu tão vorazmente.

Fazendo-te feliz, ao me dourar
Do sol em que irradias, mais ardente,
Na tesa sensação de te adentrar
Na fúria que se molda amor urgente.

Teus seios, pernas, boca, corpo imerso
Em louca fantasia, uma fornalha,
Cabendo dentro em ti meu universo

Que explode em alegria e gozo intenso,
Amor que não permite qualquer falha,
E nunca se perdeu, jamais disperso...



76


De toda uma tristeza, sofrimento.
Meu riso se espalhando em alegria.
O fim de tanta dor e do tormento
Invadindo o meu mundo todo dia.

Me sinto mais liberto e mais cativo
No amor que sepultou essa tristeza.
Sentindo finalmente que estou vivo.
Entrego o coração, tenho certeza!

A dor que se desmancha em pleno abismo,
Saltando sem sequer olhar pra trás.
Trazendo em nosso amor tal otimismo
Mostrando: ser feliz, eu sou capaz!

Fazendo deste sonho pleno mel,
Nos braços de quem amo, vou ao céu!



77



De toda uma alegria, nada resta
Somente a solidão, triste quimera.
A dor que a tanto amor, o fim empresta,
Demonstra como a vida só, é fera...

Amor quando se acaba, solto ao vento,
Dos olhos, tanta dor, lacrimejando...
O sonho de viver, pressentimento,
Aos poucos, como tudo, se acabando...

Quem fora companheira, leva a vida...
E deixa, em seu lugar, este vazio.
Sabendo deste fim, minha querida,
Não deixe que vivamos neste frio...

Por isso, minha amada, fica comigo,
De certo irei dormir, findo o perigo...



78


De toda loucura
Que a gente quiser
Amor traz a cura
De um modo qualquer

Enquanto ternura
Delícias, mulher
À noite se apura
O que se disser

Total transparência
De rendas, cetim,
Amor sem decência

Sem medos, enfim,
Pontua em demência
Desejos em mim...


79



De toda esta loucura, o peito apraza
Alcança, num momento a cordilheira
Dos sonhos ideais calor e brasa,
Tomando a minha vida, por inteira.

Servindo a quem se fez o servidor,
Amando além de tudo, com firmeza.
O passo lado a lado, alentador,
Toda a beleza em vida já represa.

Acima do que pude perceber,
Alçando em liberdade, mais profundo,
Recebo em tuas mãos farto prazer,
Meus olhos nos teus olhos; aprofundo.

Inundas com carinhos, minha vida,
Encontro a redenção antes perdida...
Marcos Loures



80


De todos sentimentos, assenhoras,
Dominas cada frase que eu disser
A sílfide que, em forma de mulher
Chegou à minha vida sem ter horas.

A cada verso teu me revigoras
Do jeito e da maneira que vier
Eu quero a maravilha de poder
Saber o quanto em fogo me devoras.

Coração taquicárdico te espera
Eternizando em flor a primavera
A solidão malévola se espanta

Ao ver essa beleza sem igual,
Encanto feito amor, sensacional
Alavancando a vida, me agiganta..



81


De todos os momentos que sentira
Perdera todo o senso, sem saber
Que a mão que acaricia enquanto atira
Às vezes causa dor, outras prazer.

Embora a sede louca já prefira
O corte feito em gozo por saber
Que a carne que se expõe no amor que gira
Em carrossel transmuda o bem querer.

Mas nada mais me resta, risco e rastro,
Arisco busco o canto em que me ofusco,
Somente adormecendo em lusco-fusco

O brilho de teus olhos, mágico astro.
De todos os momentos, rostos e entes,
No amor que me demites e em que mentes..
Marcos Loures



82

De todos os momentos que passei
Durante a minha vida já te digo
O quanto na verdade eu procurei
Amor que se fez calmo enquanto amigo.

Felicidade imensa é nossa lei
Não temo nem a dor sequer perigo,
De tudo o que mais quero, eu encontrei
Vivendo dia-a-dia, estar contigo.

Não temo nem tristeza ou solidão
Pois tenho em nosso amor tal emoção
Que traz amanhecer em paraíso.

Vencendo todas pedras do caminho,
Jamais me sentirei assim sozinho
Encontro em teu abraço o que eu preciso.



83

De todos os meus dias, terremoto
Mudando vez em quando o velho rumo.
Pecado cometido; logo assumo
E de ilusões, o peito agora eu loto.

O sonho se mostrara então, remoto,
Negando da alegria o santo sumo,
Nas mãos amareladas pelo fumo
O medo deste amor, decerto esgoto.

E faço do meu verso, uma arma a mais
Querendo bem aqui os magistrais
Delírios deste amor que eu bem queria.

Do quanto que não tive e o que passei
No muito da esperança eu decorei
O passo que se mostra a cada dia.
Marcos Loures


84

De todo sonho, o bem que eu te propus
Ferrenhas emoções vão me inundando,
Não tendo mais sentido quanto e quando
Eu sigo os rastros teus e chego à luz.

Fartura que ao divino amor conduz
Faturas de esperanças vêm cobrando,
Fraturam estruturas, desabando
O canto mais audaz se reproduz.

Acácias espalhadas na alameda
Dos sonhos, um divino bulevar
Almíscares invadem, ganham o ar

Permitem que alegria então se ceda
Mostrando em tons sutis tal maravilha.
Minha alma que antes fora uma andarilha.
Marcos Loures



85





De todo o que passei; cada tormento
Deixando a mais profunda cicatriz
Não tendo em meus caminhos mais alento,
Vagando quase sombra, um infeliz.

Atrizes que se foram, palco estúpido.
Num último momento, mau cenário,
Olhar que me devora, atroz e cúpido,
Estende o seu sorriso temerário

No crocitar terrível, na rapina,
O bico que penetra no meu cerne,
Quem dera se minha alma em leve crina
Alçasse uma esperança que me hiberne.

Talvez inda restasse uma ilusão,
A noite se esgarçando em podridão...



86


De todo este lirismo me reveste
Palavra que me dizes, mansamente,
Além do que este vento em paz pressente
Amor não necessita qualquer teste.

Verdade que se quer e cedo ateste
Na chama tantas vezes inclemente
O tempo de viver tão plenamente
Em toda a fantasia que inda reste.

As rugas vão tomando a minha tez
São marcas de um amor que se desfez
Intensa sensação que não termina...

Afinal, quero o nosso amor de volta,
O peito se transtorna e se revolta
Distante do que outrora fora sina.
Marcos Loures


87


De todas as mulheres que eu já tive
Tu tens a maravilha de saber
Conciliar ternura com prazer,
Em ti, minha alegria sobrevive.

Magia que contes de ser assim,
A doce feiticeira que domina,
Eu quero o teu sorriso de menina
No corpo da mulher, amor sem fim…

Prendeste com carinho, o coração
De um tolo seresteiro que pensara
Que a vida fosse amarga, fria amara

E quando se entregou sem direção
Bebeu da fantasia deste encanto,
E sabe que te adora, tanto, tanto...

Marcos Loures


88


De ter a solução para os problemas,
Percebo o quanto é bom viver liberto,
Ao lado de quem ama nunca temas,
O rumo que encontraste é o mais certo.

Por isso meu amigo em raras gemas
A vida nascerá neste deserto,
O peito quando aberto, traz emblemas
De luzes e de sonhos bons, coberto.

A força da amizade se mostrando
A cada novo dia já faz crer
No amor que em claridade se entornando

Um sonho quando feito em liberdade
Permite vislumbrar pleno prazer,
Vivendo a força incrível da amizade.
Marcos Loures



89


De tantos companheiros de desdita
Nos velhos botequins e nos bordéis,
Nas tramas mais diversas, carrosséis,
A vida desfilando vã, maldita...

No quanto a mocidade inda acredita
Destoam realidades, méis e féis,
Findando nos escombros dos motéis
Fiando a sorte intensa, mas finita.

Lavrando com ternura um bom canteiro,
Arando com palavras mais gentis,
Um mundo tão cruel ou lisonjeiro,

Num átimo, um mergulho tão diverso,
Mutável recriando este matiz
No iridescente prisma feito em verso...



90


De tanto te cantar fiquei afônico,
Mas nem me deste bola, estou no sal.
O amor que ofereci morrendo, agônico,
Sonhara com espaço sideral.

Tentando ser da vida como um tônico,
Vencendo sem temores todo o mal
Às vezes comportado outras hedônico,
No fundo, amor sagrado e sensual.

Depois de certo tempo, nem ouvias,
Matando em nascedouro as fantasias
Deixando para lá quem te quis bem.

Fazendo-se de mouca, agora eu mudo,
Seguindo o meu caminho surdo e mudo
Não me queres? Não quero a ti também!
Marcos Loures



91


De tanto ser tão tonto tento um tento
Que nada... Amor balança, mas não cai.
Um novo Paraíso até que invento,
Porém a solidão não se distrai.

O olhar que já guardei no pensamento,
Teimoso deste jeito, nunca sai.
Repito, toda vez, este lamento,
Agora, deste jeito, eu penso vai...

Eu sei que sou ingênuo, disso eu sei.
Quem fez das ilusões a sua lei
Demora, cai a ficha, volta ao zero.

Ao menos um sorriso de um amigo.
Eu tento, me arrebento e não consigo,
Porém, oligofrênico, eu espero...
Marcos Loures



92


De tanto sentimento que despertas
Mal sabe quanto quero teu amor.
As horas que vivemos, tão alertas.
Em tantos desafios, teu calor...

Amor fazendo leis que desconcertam
Em várias incertezas já se apóia.
Nas dores que depressa não consertam
Acalmam-se no amor, santa tipóia...

Trazendo nas premissas tanta sorte
Que as leis que amor criou tramam razões
Que se formam das noites brilho forte,
Razões que sempre tramam corações.

Amor se não se cuida se padece
Razões que na verdade amor conhece...



93




De toda essa vontade de te ter
Tão pouco me restou, só a saudade.
Que cisma a cada instante renascer
E destruir qualquer felicidade...

Fomos tão eternos, mas morremos,
Da triste solidão, que vivo agora.
Talvez, noutros braços, buscaremos
O brilho e o prazer que a vida implora...

Vazio, um sentimento me domina,
O canto que cantava se perdeu...
A lágrima caindo, cristalina,
Em rubra solidão se converteu...

Porém num grito amargo te reclamo.
E saibas meu amor, eu inda te amo!


94


De toda a sorte e glória, um doce aviso
Chegando calmamente à nossa casa.
O vento da esperança é mais preciso
Mantendo sempre acesa cada chama.

Partilhas que se fazem são promessas
De um tempo em que virá tanta fartura.
No quanto que tu sabes e professas
A cada novo dia, com candura.

Uma amizade mostra quanto é belo
O caminhar sem medo ou aflição.
Expia com carinhos tal flagelo
Que causa a mais cruel arribação

Dos sonhos e dos risos mais gentis,
Mostrando que é possível ser feliz.
Marcos Loures



95

De tocaia, espreitando, a mesma fera
Que há tempos não permite mais que eu ria.
Nas garras e nos dentes da pantera
A morte da esperança e da alegria.

Seria tão somente um pesadelo
Não fora o gargalhar da besta infame.
No quanto a nada ter, eu me enovelo
Mentiras, vis ardis que a sorte trame.

O quanto desejei e nada veio,
Apenas a vontade de morrer.
A solidão chegando sem receio,
A vida vai passando sem prazer.

O tempo de sonhar? Pra sempre ausente,
O fim em solidão já se pressente...
Marcos Loures



96


De ti eu sou somente um helianto
Envolto pelos brilhos que me emanas,
Tua dolência em forma de um encanto
Em rara formosura traz-me ganas

De acompanhar-te sempre, em cada canto.
No amor que nos tomou, do qual ufanas.
Distante da má sorte e do quebranto,
Na sede e na vontade que me emanas.

Sentir teu corpo quente, em harmonias,
As mãos que me percorrem, mais macias,
O fogo de uma estrela bela, acesa...

Opulências divinas, rumos vastos,
Desejos e prazeres nada castos,
Tu és a plenitude da beleza...



97



De ti ando cativo ultimamente,
Pior; eu não desejo a liberdade
Tomando já de assalto o corpo e a mente
Amor vem e traduz felicidade.

Decerto eu te pareço algum demente,
Porém a cada verso uma verdade,
Distância se tornando penitente
Tocado pela insânia da saudade

Eu venho, num soneto reclamar
O quanto estás agora tão distante.
Quem dera se eu pudesse levitar

Chegando junto a ti, no mesmo instante
Dizendo claramente num lampejo
O quanto que te eu quero e te desejo...
Marcos Loures



98


De ter um sonho calmo, manso em paz
Eu sinto-me capaz desde que vi
O lume que esperança sempre traz
Tocado pelo brilho que há em ti.

Carinho que decerto satisfaz,
Encontro com certeza bem aqui,
Vencendo a tempestade mais voraz
Nos braços da amizade, enfim venci.

Agora nada temo, minha amiga,
Contendo o teu sorriso dentro em mim,
Lutando sem temores chego ao fim.

E tendo esta alegria que me abriga
Eu venço os temporais e vendavais,
Meu rio desemboca no teu cais...


99


De ter o teu amor só para mim
Apenas foi um sonho e nada mais.
Se a gente não enfrenta os vendavais
O barco não terá seu cais no fim.

Na cama estes lençóis, puro cetim,
Retratos muitas vezes sensuais
No fundo sem amor, ficam banais,
Inútil feito a lua sem o gim.

E caço os teus pedaços pela cama,
Rastreio cada passo que tu destes,
Em vão a poesia te reclama,

E tendo este vazio como herança,
Os dias passarão bem mais agrestes,
Mortalhas que revestem a esperança...


4700



De tanto que sonhei, a me fartar,
Buscar saciedade aonde é vão.
A vida que me salga, imenso mar,
Expressa o desengano, a decepção...

A angústia, esta cruel embarcação
Fazendo cada sonho naufragar,
Moldando numa inútil floração
Jardim que eu nunca soube cultivar...

Se acaso inda tivesse uma esperança...
O tempo se esvaindo, nada tenho.
O amor que não bebi e não contenho,

O frio que em tormentas já me alcança,
Agarro este cometa, inutilmente,
Não voltará, decerto, novamente..



4701


De tanto que tramei em solidão
O verso vai saindo qual espirro,
Falar de poesia e de perdão
Só serve quando, amor, eu já me embirro...

Teimoso como um asno que se empaca
Não deixo mais chegar a ventania...
Nos gumes que conheço dessa faca
Sentidos que se perdem, poesia...

Vagando nas vacantes cercanias,
Cerrando tais fileiras com a sorte,
Encaro assim, portanto as alegrias,
Como um belo prenúncio para a morte...

No fundo faço versos por fazer,
Buscando um bom motivo pra viver!

4702


Depois de tanto tempo, dor, procela;
Vestígios do que tive no passado,
O tempo bem mais calmo se revela,
A vida se mostrando de bom grado.

Enquanto caminhei desamparado,
As cores se misturam numa tela,
À solidão, meu sonho sempre atado,
Meus olhos refletindo os olhos dela...

Caleidoscópios, ópios, ócios, vãos....
Mutantes paisagens, cortes. Mãos
Emoldurando à luz da hipocrisia

Cenários desdenhosos e vazios.
O ocaso de minha alma em versos frios,
Jazendo sem sentido a poesia...



4703


Depois de tanto tempo sem te ver,
Vieste na manhã trazendo o frio.
Angústia e sofrimento. Passo a crer
No mundo em fantasia que não crio.

Bebendo do meu copo, uma aguardente,
Tocando com teu corpo a minha pele.
No fundo, com saudades, de repente,
Aos braços que ofereces já compele

Meus olhos e meus lábios que procuram
Um lenitivo apenas e não têm
As horas passarão e se misturam
Sentimentos que mostras e que vêm

Lamber a minha boca, que indefesa
Entrega-se ao amor, luz e tristeza...


4704

Depois de te perder sem ter motivos,
Movido por um sonho, te acompanho.
Me apanho procurando sempre vivos,
Altivos os desejos, perco e ganho...

Arranho essas desculpas que te peço
Impeço com palavras mais distância,
Ganância de viver traz o tropeço
Mereço meu descanso em tua estância.

Estanco essa sangria no meu peito
Do jeito que puder, não quero mais.
A paz que me deixava satisfeito,
Direito de saber te amar demais...

Mais vida pretendi no nosso caso,
Que acaso renasceu do triste ocaso....


4705


Depois de tantos dias, vou insone;
Buscando a realidade que perdi.
Mergulho na saudade, triste cone,
Em plenos pesadelos, me emergi.

Nos crivos da paixão nunca passei,
Nas garras da esperança não sou nada.
Nos pântanos, minha alma desejei,
Desnuda, plena em sangue decorada...

As flores que quisera não brotaram
Espinhos apontados para mim.
As lâminas do amor que me cortaram
Aos poucos não restou nada no fim.

Por isso minha amiga vou disperso,
Dedico ao teu apoio, esse meu verso...



4706

Depois de tantos anos, noves fora,
A gente volta a ter a maré cheia.
Do encanto que esta vida se assenhora,
A chama deste sonho me incendeia.

Eu vejo o que queria e desde agora,
A vida nada teme nem receia
Se eu chego mansamente, sem ter hora,
Surpresa novamente o fogo ateia.

Aclamas com carinhos as carícias,
Sabendo desta entrega com malícias
Em vícios, precipícios e mergulhos.

Sem nada que proíba o nosso vôo,
Um canto mais feliz que agora entôo
Arranca dos caminhos, pedregulhos...
Marcos Loures



4708



Depois de tantos anos te esperando,
Eu sinto o teu respiro junto a mim.
Agora este bafejo ardente e brando
Queimando de desejos, sei enfim.

Teu corpo no meu corpo, eu sinto ousando
Caminhos que se querem, sempre assim.
Tua nudez divina provocando,
Atiça esta vontade. Quero sim!

Adoças minha boca com teu mel,
Retiro mansamente cada véu
Até poder te ver completamente.

Balbuciando versos desconexos,
Em tramas sensuais os nossos sexos
Se buscam em delírios, vorazmente...


4709

Depois de tanto tempo nesta fila
Na espera da morena mais charmosa,
Bebendo tanto gim, tanta tequila;
(Até que a fila, juro, era gostosa)

Olhar que se em veneno me destila;
Perfuma meu canteiro em pura rosa.
Pois quando Deus te fez em rara argila
Deixou-te mais faceira e vaidosa.

Mas nada disso importa ao coração
Depois da beberagem sem limite.
Sou vítima talvez da sedução,

Ou quem sabe, boto a culpa neste gim.
Só sei que não te peço mais palpite
Amor, uma ressaca que é sem fim...



4710



Depois de tanto tempo meu asilo
Se encontrando nas pernas da esperança
A mão desta menina mostra a mansa
Vontade de viver bem mais tranqüilo

Se quero ou se não quero seu estilo
O que manda é o que trazes na lembrança
A pedra que me atira não alcança
Amor nunca se compra nem por quilo.

O corte se aprofunda nos meus pés
Escapo por um triz, vou de viés
E não saúdo mesmo que me implores.

As dores que carrego: tonelada!
Depois deste caminho não há nada
Nem quero que este exílio meu decores...
Marcos Loures



4711



Depois de tanto tempo em lama e treva,
Vagando pelo mundo em duro rito,
Vivendo sem carinho em triste leva
Rendido ao pesadelo mais maldito.

Nem mesmo uma esperança se releva
De uma dor retumbando amargo grito,
Sem sonhos e desejos, sem reserva.
O peito empedernido num granito...

Percebo em tua boca mais voraz,
Promessa de outro mundo mais risonho.
Recendes ao perfume tão audaz,

Que trama na luxúria um louco cio.
Deitando nos teus seios, belo sonho,
Tomando um coração antes vazio..



4712


Depois de tanto tempo em ditadura
Tem gente que não pode ouvir falar
Se a dita com firmeza está mais dura
Vem logo um paspalhão que quer brochar

Por mais que a noite tenha sido escura
Não queiras impedir a luz solar,
Desculpe, meu amigo, isso é frescura
Deixa a meninada em paz, trepar.

É coisa de imbecil que não percebe
Que o sol rebrilhará, nada o impede
Se eu gosto de falar ou ler besteira

Ou outro tem delírios em que bebe
A luz que a fantasia nos concede,
O sol é muito forte pra peneira...
Marcos Loures



4713


Jurei não amar ninguém,
Mas eu confesso a fraqueza,
Não é tanto minha a culpa
Como é da natureza.



Depois de tanto amar, em minha vida,

Jurei que nunca mais queria alguém.

Essa jura que fiz ficou perdida,

Depois que te encontrei; meu grande bem...



A cada nova luz já percebida

Sabendo que a saudade logo vem,

Pensei que essa vacina recebida;

Efeito prolongado eu sei que tem,



Não deixaria mais ficar doente.

Bobagem! O amor sempre me venceu...

Bastou eu te encontrar, tão envolvente,



De novo, num momento de fraqueza

Meu coração agora é todo teu.

A culpa é da danada natureza!



4714


Depois de tantas noites; fatigado,
Buscando nas estrelas fantasia,
O sonho que tentara bem mirrado,
Quase sem sentir uma alegria.

Ao ver que tudo sempre fora vão,
Ao ver os olhos mortos de quem quis.
A vida me prepara uma emoção,
Prossigo em meu destino, ser feliz.

Nos gestos mais sutis, minha esperança,
Não teme mais a morte nem a dor.
Fazendo com a glória uma aliança,
Um brilho no meu peito sofredor.

E quero essa alegria derramando,
Por sobre toda a terra, esparramando...


4715



Depois de tantas manhãs
Procurando-te querida
A vida sem amanhãs,
Não mais achando a saída

Minhas noites, tristes, vãs
Pensando ter já perdida
As doces horas louçãs
Que encontrei em minha vida

Adormecem tão tristonhas.
Quem passara por searas
Coloridas e risonhas

Agora morrendo em tristeza,
Procurando manhãs claras,
Já se perde em incerteza...


4716

Depois de tantas idas pelas ruas
Buscando por tabaco e por cachaça,
Decerto tu pensaste que flutuas...
Amor, a vida sempre descompassa.

E não é farsa este baile que prometo
Pode ser até sonho, mas, quem sabe?
De todos esses erros que cometo
Mais um ou outro sempre sei que cabe.

Agora vou colher a primavera,
Plantada nas esquinas, nos faróis...
Da vida quase nada mais se espera,
A não ser nossas tramas nos lençóis...

Abelhas, doce mel, e ferroadas,
Amor, a nossa cama, as madrugadas...


4717

Depois de tanta luta, amor em paz
É tudo o que deseja o caminheiro,
Enquanto a fantasia ainda traz
Da sorte que perdeu, aroma e cheiro,

O rito esta esperança contumaz
Decide um novo passo. No veleiro
Dos sonhos a emoção já satisfaz,
Mergulho nesta insânia e vou inteiro...

Não posso me queixar de minha vida,
Que mesmo nos momentos tortuosos,
Mostrou estes caminhos virtuosos,

Dos tantos labirintos, a saída.
Do vértice vislumbro este horizonte
Por mais que amor, moleque, sempre apronte!



4718


Depois de tanta dor tanta tristeza
Fazendo do abandono o meu repasto,
Te chamo; companheira para a mesa,
Embora o coração já velho e gasto.

Permita que te fale, em sutileza
Do gosto que teria se me afasto
Dos olhos encantados da princesa
No beijo sem critério, e tão nefasto...

Sou antes, sigo sendo e sem depois...
A luz que me guiava foi pro brejo,
Neste silêncio opaco de nós dois,

Apenas o que resta são meus cacos...
Não digo que esta sorte besta, invejo,
Meus argumentos sim, são muito fracos...


4719


Depois de tal batalha num contraste
A gente faz amor como se fosse
Alguém que procurando pelo doce
Prepara pra enfrentar qualquer desgaste...

Amor quando tão forte qual guindaste
Vencendo qualquer coisa que inda acosse
De todo coração tomando posse,
Do jeito e da maneira que ensinaste...

Seria uma tolice se eu não visse
Tentando pelo menos ser o vice
Depois de ter lutado sem descanso.

Amar sem ter amor? Esquisitice.
No fundo não suporto tal bobice
Coloco o meu boné aonde alcanço...


720

Depois de tanto tempo sem te ter,
Vazia a minha cama, sem carinhos.
Meus olhos quase cegos, pobrezinhos,
Distantes do desejo e do prazer.

Tua presença, mansa a me envolver
Refaz destes meus dias tão sozinhos,
Em chamas, ardentias, nossos ninhos.
É bom estar contigo e me perder

Nos braços e nas pernas, nos teus seios.
Em meio a tais delícias, devaneios...
E a vida se demonstra mais gentil.

Tu és a minha glória e redenção.
Banquete que se fez em sedução,
Num céu de brigadeiro, azul anil.


721


Depois de tanto tempo sem ninguém
Não tenho mais do amor, sequer o faro,
O tempo se tornando tão amaro,
Negando uma esperança que não vem.

Carrego no meu peito este desdém
E disso faço o sonho em desamparo,
Amor vai se tornando bem mais raro
E apenas o vazio me contém.

Nos rios quase secos da esperança,
Apenas um sorriso na lembrança
Da perna caminheira, resta o coto.

E disso faço um traço e já desvio
Mostrando em duro inverno, sem estio
O coração exposto, amargo e roto.
Marcos Loures


722


Depois de tanto tempo procurar
Alguém que me entendesse e me quisesse
Vagando por estrelas, céu e mar
Achei que neste mundo não houvesse

Ninguém me entendesse. Até achava
Que o mundo já não tinha mais por que.
Ardendo num desejo como lava
Procuro, reprocuro; mas cadê?

A sorte que pensara tão ingrata
Coloca o teu sorriso no caminho,
Minha alma na tua alma se retrata

Agora já não vou seguir sozinho...
Esqueço da tristeza e dos meus ais,
Somente no teu corpo encontro a paz!



723


Depois de tanto tempo pelas ruas,
Nadando no vermute e no traçado,
Rodando em tantos bares, com mil luas,
Nos olhos deste céu apaixonado,

Nas bocas que morderam, cegas, cruas,
Estrelas mergulhando do meu lado,
Vestidas de ilusões ou seminuas
Cigarros e fumaças, revés, fado...

Dos anjos e pecados, coxas, pernas...
Mulheres, confusões, seios, delitos,
Noites que se foram tão eternas

Em plena solidão acompanhada.
Depois de tantas guerras e conflitos,
Te encontro do meu lado, bem amada...


724


Depois de percorrer tantos espaços
Na busca de mim mesmo eu percebi
Que tudo o que eu queria estava em ti,
Por isso é que estreitando nossos laços

Caminho nesta senda a largos passos
Chegando em pensamento estou aqui
Tocando com carinhos, os teus braços
Vivendo todo o sonho que pedi.

Vazios em meu peito, não mais vejo
Sabendo quão profundo este desejo
Eu posso me dizer, tranquilamente

Do quanto sou feliz somente por
Conter dentro do peito raro amor
No brilho deste sol que se pressente...
Marcos Loures


725

Depois de penetrar este portal
Recolho tanta estrela, ganho o sol,
Cabelos desfilando em caracol,
Visagem mais perfeita, sem igual.

Cenário, com certeza magistral
Ganhando em maravilha este arrebol,
No teu olhar magnífico, o farol
Beleza se espalhando, triunfal.

Prevejo conseguir realizar
Os sonhos que não canso de sonhar
Matando o que eu vivera, amargo e fero.

Só posso te dizer, falo e repito,
No encanto que se mostra mais bonito,
Eu tanto te desejo... Ah! Como quero
Marcos Loures


726

Depois de penetrar a maravilha
Que trazes escondida sob a saia,
Adentrar com vontade nova trilha
Molhada; umedecida. Mar e praia

Areias escaldantes. Bela gruta
Aberta escancarada em minha frente.
Querendo com vontade, sem ser bruta
Que todo bom caminho experimente.

Tu sabes quão gostoso é poder ter
Meu falo bem guardado nesta toca.
Bem sôfrego prometo, vou meter

Até te ver gozando e derramar
O leite que tu queres nesta boca
Que engole sem deixar nada sobrar...



727

Depois de minha morte, queira Deus,
Que alguém ainda fale no meu nome,
O tempo que a memória em vão consome
Traz sempre a sensação de um vago adeus.

O verso que eu quisera luz em breus
Aos poucos na distância, sei que some.
A fama é fantasia e sem renome
A estrela não atinge os apogeus.

Mas sei que pelo menos pra quem amo,
Esta lembrança o tempo não desfaz,
A voz que outrora fora tão mordaz

Trará ao pensamento um frágil ramo,
Cuidado com ternura brotará,
Gerando eternidade desde já...



728

Depois de estar fechado pra balanço,
O velho coração se deu inteiro.
Se um novo amanhecer eu quero e alcanço,
O amor se faz perfeito mensageiro.

Eu quero teu carinho e te afianço
Que nele encontro o rumo verdadeiro,
Chegando devagar ao teu remanso,
Na dança prometida, vem teu cheiro.

O amor que quer do amor, correspondência
Não pode ficar sempre na pendência
De um sonho tão mutável quão danoso.

Vencendo os meus terríveis desenganos,
Os olhos que te buscam fazem planos
Imersos no delírio deste gozo...


729

Depois de dias duros e perversos
Vagando pelas noites, botequins,
Aguando com saudade os meus jardins,
Sangrando plenamente em frios versos,

Olhares sem destino, vãos, dispersos,
Buscando dias calmos, noites cleans
Vestindo uma esperança feita jeans
Jazendo nos caminhos tão diversos

Eu calo a melodia que não fiz,
Meu pranto feito imenso chafariz
Banhando em sortilégio a nossa vida,

Amor que não se aprende no colégio,
Ditando o mais sublime privilégio,
Quem sabe tanto amor nunca duvida.


730


Depois de cultivar as raras flores
Percebo a podridão como perfume.
Os medos vão chegando num cardume
E deixam bem distantes meus amores.

Os olhos desta fera, refletores
Que cegam quando trazem triste lume,
A vida se perdendo num queixume,
Saudades tão vorazes, tramam dores.

Palavra que recebo mais sombria,
Somente irão restar as negras trevas,
Matando em nascedouro uma alegria,

Prenúncios malfazejos de meu fim,
A morte na saudade faz as cevas
As covas vão se abrindo dentro em mim...


731


Depois de conhecer escura senda
Tanto titubear, trôpegos passos
A lua rasga o céu, e assim desvenda
Mistérios que formavam outros traços.

Vestindo uma esperança em nobre renda
Alinho o meu amor noutros espaços.
A sorte vai mudando a sua agenda
E pinta de alegria teus abraços.

O coração desfraldo e solto ao vento
Palavras de carinho e de ilusão.
Poeira vai tomando, logo, assento

E a vida me remoça o coração.
E um novo caminhar, querida, eu tento,
Fazendo no passado, uma incisão...
Marcos Loures


732

erto tempo sem saber
Como poder falar em versos soltos,
Buscando nas discórdias do meu ser,
Como cabelos longos, mais revoltos.

Os versos que me ajudem entender
Em mágicas palavras tão envoltos,
Fazendo a poesia renascer.
Em ritmos mais suaves, desenvoltos...

Assim o meu soneto ressurgido
Faz parte dos meus planos, não se iluda.
Depois de perceber a dor do olvido,

De como essa incerteza nunca ajuda,
Meu canto se tornou, deveras leve,
Depois de rebuscado, quem me leve...


733


Depois de caminhar em noite fria,
Catando os meus pedaços pelo chão.
Tentando descobrir a direção
Aonde se perdeu minha alegria.

O amor que fora meu, sem garantia,
Fugindo pelos dedos desta mão,
Naufrágio da infeliz embarcação
Apenas um fantasma que me guia...

Teu hálito transforma-se em bafio,
O riso que não tenho, fantasio
E morro em cada esquina, pouco a pouco...

Vencendo amargo espectro do passado,
Cegando um coração enamorado
Antes que o sol me encontre insano, louco...



734


Depois de saciada nossa sede;
Exaustos, descansamos mais um pouco,
Na cama, numa esteira ou numa rede...
Recomeçar depois, amor tão louco

Que faz da fantasia a realidade,
Que torna uma alegria nosso mote.
Do amor que a gente vive de verdade
Entorno todo o mel, lambuzo o pote

E somos caminheiros incansáveis
Em buscas das diversas sensações
Delícias são demais! Intermináveis!
Explodem nas vontades, nas paixões...

Devoras, fera insana e me inebrias...
Nas noites, nas manhãs, todos os dias...


735

Depois de procurar um grande amor
Nos bares e bordéis desta cidade,
Vivendo tão somente da saudade
Distante de carinhos, sem calor.

Um velho passageiro sonhador
Em desencanto quer felicidade.
Às margens do caminho, mato a flor,
Apenas o vazio ora me invade.

Quem sabe se eu pudesse, num rompante
Buscar outro destino e num instante
Chegar à Vênus, deusa da beleza

E ter o que sonhei, amor intenso,
Nos braços desta Diva eu sempre penso,
Vencendo em pensamento, a correnteza...



736


Depois de procurar sem resultados
Carinhos entre tantas, nada tendo,
Ouvindo o teu chamado, vim correndo,
Vencendo no caminho espinhos, cardos.

Teus versos, mensageiros delicados,
Que aos poucos, claramente já desvendo,
A vida se mostrando sem adendo,
Permite novos sóis anunciados.

O teu abraço, irmã e companheira,
Um ímã que me atrai e me conquista,
Presença que apascenta; tão benquista,

Da qual minha alma plena ora se inteira
É tudo o que sonhei e nada mais,
Na perfeição de encantos divinais...



737



Depois de procurar inutilmente
Os rastros desta tal felicidade,
Nas ruas e nos bares da cidade
A vida em turbulência é que se sente.,

Saveiro que se perde em claridade,
O tempo foi cruel e fatalmente
O fim que se aproxima faz demente
Quem tantas vezes quis a liberdade.

Mereço ser feliz? Creio que não.
Protótipos de sonhos que criei
Fazendo da esperança a minha grei

Tentando preservar ao menos grão.
Ouvir a tua voz me traz alento.
E, juro, ser feliz ainda tento...
Marcos Loures



738


Depois de perder rumo e perder vez
Em ruas e botecos, cabarés,
Chutado em bofetões insensatez,
Sangrando pelos olhos, pelos pés,

Encontro o que me resta de altivez
E vago pelo quarto de viés.
No gosto desta boca a lucidez
Em forças e correntes, mil marés.

Amamos novamente pelo chão
Das ruas e senzalas descobertas.
No gesto em que recatas a paixão

Se mostra assim deitada, bancarrota.
Do fogo que atiçamos nas cobertas,
Amor vai se perdendo em nova rota.


739


Depois da noite escura um belo sol,
É tudo o que desejo em minha vida,
Abrolhos que cevaste no arrebol,
Uma ilusão a mais se vai, perdida.

Dos ritos da alegria, um girassol,
Porém a realidade a ser cumprida
Demonstrando esta ausência de farol
Impede que eu vislumbre uma saída.

A natureza expressa uma verdade
Na solidão diária que me invade
Resposta ao que procuro, propicia.

Herdar do temporal, uma bonança,
Enquanto a tempestade ainda avança,
Persiste com certeza esta harmonia.


740


Depois da cachaçada que tomamos
Eu via duas fêmeas mais gostosas.
No canto desta rua que encontramos
Havia este jardim pleno de rosas...

Ali naquele instante nos amamos,
Tu gritas bem mais alto quando gozas.
Beijamos, namoramos e sarramos,
As horas que passamos, maviosas...

Depois eu reparei que a sorte grande
Quem sabe, bom mineiro, desconfia.
Tocavas com carinho minha glande

Já dando com fantástico carinho.
Porém o mato deu tanta alergia
E a rosa me mostrou porque do espinho...


741


Depois da amarga curva do caminho,
Enganos coletados, tantos vários.
Ouvindo os mais diversos campanários
Andanças que já fiz, sempre sozinho.

Procuras incessantes, desalinho,
Em passos muitas vezes temerários
A solidão fazendo aniversários
O tempo sonegando um raro vinho.

Tua presença surge num repente,
Apascentando a dor que é inerente
A quem buscando amor já se perdeu.

A noite se promete em alvorada,
Ao ter tua presença anunciada
No sonho que se deu tão teu e meu...
Marcos Loures


742


Deparo tão somente com anzol
E preso no seu fio, perco o sonho.
A vida vai passando em ar medonho
Decerto não terei de novo o sol.

Ao longe, bem distante este farol,
Ao menos na esperança em que componho
Pensando ter nas mãos, sublime escol,
Porém o que me resta é tão bisonho.

Relendo cada verso que escrevi,
Percebo que; iludido, estava ali
Um mundo que queria em face amena.

Distante da verdade eu não sabia,
Que tudo fora apenas poesia.
A vida em realidade me envenena...
Marcos Loures



743


Dentro do pensamento em liberdade
Ao revolver as sobras do quem dera,
Percebo que não tenho a claridade
Das sombras do que fora a primavera.

Nas gretas dos desertos, mesmo tarde,
Além do que pensara que se espera
Um resto de uma luminosidade
Gargalha de tocaia, vira fera.

Oásis da incerteza do que fui,
Nos passos meio a esmo, mesmo súbitos,
Castelo feito areia, logo rui,

Mas sinto o teu bafejo, boca aberta,
Meus sonhos são de ti, perfeitos súditos,
Inundas de esperança alma deserta...



744


Depois da tempestade quero e vem
Alagação no peito de quem ama,
Dilúvios apagando qualquer chama,
Não levo com certeza mais ninguém.

Notícias tão diversas do meu bem,
Mentiras espalhadas nesta trama,
Deitando a solidão em minha cama,
Vazio tão somente é o que se tem.

No quarto nem sequer um burburinho,
Ausência de calor e de carinho,
Destoa com um resto de esperança.

Decerto quem procura e jamais acha
Abrindo dos segredos cada caixa,
Alegria se omite e não se alcança.
Marcos Loures


745

Depois da tempestade esta bonança
Que trazes em teus versos me garante
Que a vida se tornando deslumbrante
Espalha esta semente de esperança

Aguando o coração com temperança.
Permite que eu prossiga ao mesmo instante
Em que fortalecendo em luz constante
Aplaca qualquer dor e traz festança

No peito de quem sabe quanto quer
O amor tão magistral desta mulher,
Rainha dos meus sonhos, deusa e diva.

Assim ao perdoar os meus engodos,
Renasço bem mais forte destes lodos,
Deixando a fantasia sempre viva.
Marcos Loures



746

Depois da noite intensa que tivemos,
Momentos de loucura e de prazer.
De todas as vontades nós bebemos,
Vivendo cada sonho pra valer.

O barco da esperança alcança os remos
E traz decerto um belo amanhecer,
Que eternamente disto, desfrutemos,
Usufruindo amor, quero viver.

Ternuras entre raios deste sol,
Farturas de delírios. Mil delícias,
Sorrisos de desejos e malícias

Brincadeiras debaixo do lençol.
Manhã vem debruçando sobre nós,
Calor que em fúrias toma, tão feroz...
Marcos Loures



747


Demonstra o vento às vezes disfarçado
O leve balançar de cada folha,
Quem dera se eu tivesse alguma escolha
Eu ficaria aqui, sempre ao teu lado.

O dia transcorrendo mais gelado,
Rompendo da emoção a simples bolha
A lágrima que o olhar, às vezes molha
Demonstra entardecer anunciado.

Vazio sem ter sombras de um alguém
Que possa mitigar meu sofrimento,
A noite em mãos vazias logo vem

Tornando o meu caminho mais incerto,
Que faço se prossigo contra o vento,
Seguindo em rumo insano este deserto.
Marcos Loures



748

Demonstra esta grandeza em que me encantas
O amor que pouco a pouco nos domina,
As dores que passamos, sei, são tantas
Porém esta alegria me fascina

E mostra ser possível novo dia
Ao lado de quem sempre procurei,
A voz que entoa a bela melodia
Espalha fantasia em nossa grei.

Eu quero estar contigo e não disfarço
Vertendo em esperança o meu caminho,
Vencendo a solidão, ganhando espaço
Nos braços deste encanto eu já me aninho.

O dia com certeza é mais risonho,
Seguindo cada passo deste sonho.


749


Demonstra em sintonia, o nosso encanto,
O quanto tanto quero o teu amor.
Vestindo do sorriso, o leve manto,
Bebendo gota a gota este licor.

Nos olhos de quem quero, eu me agiganto,
Decerto sou eterno vencedor.
Legando ao meu passado qualquer pranto,
Um novo canto; agora, irei compor.

Usando o teu carinho em estribilho,
Uma alegria serve de refrão,
A melodia vai sem empecilho,

Um hino em tom maior, felicidade.
O verso se bordando em emoção,
Expressa em cada rima, a liberdade...
Marcos Loures



750


Demonstra em perfeição, felicidade,
O verso que se mostra mais capaz
Mostrando a fantasia tão voraz
Que sempre se permite em liberdade.

Não quero conceber a falsidade
Que um dia, em ventania sem ter paz
Lembrança como algoz, decerto traz
Tramando a mais temível tempestade.

Eu quero ser somente o companheiro
Que segue passo a passo, o tempo inteiro
A estrela que me guia pela vida.

Um dia talvez saiba quanto eu quero
Amor que se demonstre mais sincero
Trazendo sem temores, a saída...
Marcos Loures



751


Demônios que me acordam, companhias
Que há tanto me perseguem. Sinto falta
Enquanto a fantasia enfim me assalta
Tentando amenizar terríveis dias.

Imagens que retornam, tão sombrias,
Espectros velha súcia, amarga malta,
Banquete em mesa fúnebre, na lauta
Refeição que, sarcástica, servias.

Um bálsamo que acalme, está distante,
Prodígios da loucura, embalsamando
O olhar que antes tentara radiante

Entrego-me. Sem forças, eu desisto..
Cansado de buscar um vento brando,
A alma em desamor, clama Mefisto...
Marcos Loures



52


Dentro de mim, buscando a solução
Pras dores que apoquentam minha vida,
Depois de ter sofrido o furacão
Achando que não tinha mais saída,

Percebo minha amiga, em tua mão,
Que a sorte inda não fora decidida.
Quem tem uma amizade, nunca em não
Encontra sua senda a ser cumprida.

Assim, ao deparar com teu abraço,
Mais forte um caminheiro em cada passo
Adentra pelas hostes da esperança.

E o vento bem mais calmo me garante
Que tudo será manso doravante
E um futuro em bonança já se alcança...


53

Dentre todas as tosas de ilusões
Apenas as melhores foram nada,
Fremindo o desejar, plenos pulmões,
A velha escadaria derrubada.

A fé vence distâncias e emoções,
Quem sabe no final, uma guinada,
Da festa não sobraram nem rojões.
A corda; há muitos erros, esgarçada.

Acordo e vendo a mesma velharia,
Esboços desperdícios a granel.
Os fósseis emolduram meu corcel,

Percebo ser inútil montaria,
Pereço em versos tolos, abissal.
Carpir sobre o cadáver? Bom final...
Marcos Loures


54


Dentre todas as flores, a mais bela
Que um dia desbotou, perdeu a cor,
Mulata que assanhada se revela,
Pois é, falaram tanto...Desamor.

Do imenso Mirai, sublime tela
Pintada com seu verso encantador.
Nas mãos deste sambista uma aquarela
Belíssimo cenário a se compor.

Laranja amadurece em seu talento
Dulcíssimo prazer, sumo divino
Perdoem minha audácia neste intento

Tentando traduzir a poesia
Que escuto desde os tempos de menino
Num tom mago e sutil, melancolia...
Marcos Loures


55

Denote aos dois cativos, liberdade
A barca naufragada em pleno mar.
Se o vento se transborda em tempestade
Eu posso o meu futuro trafegar

Vendendo uma pobre alma rompo a grade
Inércia vou vencendo devagar
Devendo o que não pago, falsidade
Se mostra sempre firme a gargalhar.

Verás o que deveras não devia
Se à vera a vida fosse bem mais fácil.
Indócil coração um fóssil grácil

Merece pelo menos a alforria.
Agônico e patético me exponho
Um trágico imbecil lerdo e bisonho...
Marcos Loures



56


Denotam este amor des’perançado
Os fardos que inda trago em meu bornal,
Fazendo da esperança um ritual,
Deixando as velhas roupas do passado.

Atento ao teu lamento em alto brado,
Arcando com meus erros, bem ou mal
Seguindo num caminho desigual
Futuro noutra sanha vislumbrado.

Lutando tenazmente e com afinco,
A porta semi-aberta busca o trinco
Enquanto o vento adentra na janela.

O quanto eu desejei e nada vinha,
Pensando que, talvez, tu fosses minha,
O sonho este corcel liberto, sela...


57

Denigrem o sentido da amizade
E matam por palavras ou por crenças.
Cegando, mesmo em plena claridade,
No sangue de outro irmão, as recompensas.

Eu creio neste amor em liberdade,
Bem mais que a simples cura de doenças,
Milagre bem maior, fraternidade
Traído pelas frias desavenças.

Amor que tanto encanta quem mais ama,
Permite se manter acesa a chama
De toda uma esperança para a Terra.

Tocando o coração em bem profundo,
Espalha uma alegria pelo mundo,
Numa emoção sincera ele se encerra.
Marcos Loures



58



Demonstrará em farto amor a trilha
A ser seguida um pouco a cada dia.
Abrindo destes barcos, a escotilha
Entenderei o que sonhar dizia

Amor não necessita de apostilha,
Demonstra por si mesmo a fantasia
Rezando com presteza essa cartilha
A vida bordará em poesia

A lavra que se trama em precisão.
Regando com carinho a plantação
Decerto rara flor em meu jardim.

Numa expressão que me traduza luz
Dois corpos neste idílio seminus
Traduzirão o que desejo enfim...
Marcos Loures



59


Demonstra quão divino este jardim
Do jeito e da maneira que tu vês
Transborda o que melhor existe em mim,
Usando tantas vezes tais clichês

Nas colchas em crochês de uma esperança
Nas rendas ou cetins, seda, organdi.
Um tecelão em versos tenta e trança
O quanto de beleza encontra em ti.

O vasto mar aonde num naufrágio
Eu mergulhei desejos e vontades,
O amor velho avarento cobrando ágio
Com juros cobra sonhos, claridades.

Mas pago de bom grado, até repito,
Toando um libertário brado em rito...



760


Delírio incomparável, mil loucuras
Rolando em tua cama, noite afora.
Prazer que alimentando revigora
Imerso entre desejos e ternuras.

Depois de tanto tempo em vãs procuras
Meu corpo no teu corpo, sem demora
A boca tão profana já te explora
E bebe destas fontes, claras, puras.

Descubro a maravilha nas veredas
Ardendo em fogaréu, peço, concedas
Cada momento insano de prazer...

A todo instante eu quero sempre mais
Mergulho nos teus mares sensuais
Vontade tão gostosa de se ter...
Marcos Loures


61


Deliciosamente nua em pêlo
Abrindo a bucetinha para mim
Te quero bem safada, faz assim,
Sem medo, sem pudor, divino apelo.

Lambendo com tesão, seu belo grelo,
Chupando a xoxotinha, começo ao fim,
Rabinho rebolando, quero sim.
Depois da tua xana, vou comê-lo

Abre bem devagar, senta em meu colo,
Te fodo sobre a cama, sobre o solo,
E faço o que quiseres minha puta.

Eu sei que tu desejas tanta porra,
Venha com tesão minha cachorra
Encharco no final, a tua gruta...
Marcos Loures


62



Deliciosamente nua em minha cama,
A fêmea sensual se entrega inteira,
O gozo mais intenso se proclama
Balançando com fúria esta roseira.

Lambendo meu caralho, puta e dama,
Da forma mais gostosa e costumeira,
No amor sem ter mistérios, não faz drama
Magia sedutora, feiticeira.

Penetro com furor sua buceta,
Adentro sem perdão em cada greta
Até sentir seu gozo derramado

Num átimo viajo ao paraíso,
E a deusa transpirando num sorriso
Demonstra o seu desejo saciado...



63



Deliciosamente molhadinha,
Buceta raspadinha e tão cheirosa,
A gente só sossega quando goza,
Te quero nesta noite inteira, minha.

Tu pagas um boquete devagar
Lambendo a minha pica com perícia,
Sorrindo com teus ares de malícia
Pedindo, pra na xana eu colocar.

De quatro, nos requebros mais febris,
Querendo o que é direito, pede bis
E a gente faz da foda um ritual

Aonde se percebe a maravilha
Deste caminho insano que se trilha
Gulosos neste louco carnaval.
Marcos Loures



64



Delícias vão brotando enquanto deitas
Espreitas em tocais, tocas sanhas,
Das massas maravilhas quando feitas
Desvendam os segredos das montanhas

As monjas escondendo seus pecados,
Esponjas engolindo cada marca
Nos olhos velhos dias, novos fados
Recados a saudade sempre abarca.

Atraco no teu cais embarcações
Do tempo que se foi quer voltar,
Apenas procurando soluções
Senões eu já cansei de procurar.

Saudade renovando o que se fez
Transtorno em que se nega a lucidez..



65


Delícias que me dás enquanto alcanças...
No caminho dos deuses encontrei
Aquela que por séculos busquei,
Chamando sem juízo, para as danças.


Princesa deste reino: o bem querer.
Numa alameda cheia de perfumes
Nos olhos perfeição de belos lumes,
Vontade de te ter e de saber.

O rumo das estrelas percorri
Sabendo meu amor que estás ali;
No rastro do cometa, luz e cor,

Mulher que por encanto um deus criou
Que em tramas sem limites demonstrou
O quanto sou feliz contigo, amor.
Marcos Loures



66


Demônios povoando o dia-a-dia,
Matrizes indeléveis da loucura.
Na ronda interminável que se cria
A boca desdenhosa me tortura.

Espúrias madrugadas, fantasia
Irônica presença da ternura.
O olhar que se dissimula uma alegria,
Qual faca pontiaguda, me perfura.

Diversas sensações, de gozo e dor,
Melífera explosão, inútil senda,
Segredo que jamais alguém desvenda

Mortalha se cobrindo em fel e flor.
Carpindo este cadáver que hoje sou,
Apenas o vazio me restou!
Marcos Loures



67


Demônios espalhados neste céu
Uivando em noite dura e temerária
A morte sempre soube, é necessária,
Numa vendeta suja e mais cruel.

Expondo o meu sorriso no bordel,
Puteiros de minha alma salafrária
Na cor desta esperança podre e vária
O gosto que me resta – amargo fel.

Quem sabe a luz frenética de um sonho
Riscando o meu olhar cego e medonho
Permita algum resquício de alegria.

Nos lagos, placidez inalcançável
Um caminheiro audaz vai incansável
Bebendo o que do amor inda haveria...



68

Demônio disfarçado, imita Deus
E ri dos descaminhos em que entranho
O coração faminto, velho estranho,
Prepara sem disfarce um novo adeus.

Quem dera se eu pudesse, louva-deus
Com fúria e com desejo assim tamanho,
Fazendo em tua pele um fundo lanho
Fomentos de delírios quase ateus.

Na imensa servidão que ora apresento,
O amor ao não cumprir seu grande intento
Esboça a mais cruel caricatura.

Satânica expressão num duro infausto,
Mefisto em ironia beija Fausto,
Sarcástica delírio se afigura...
Marcos Loures



69


Dementes, insensatos e terríveis
Os dias sem te ter aqui comigo.
Legado ao desespero e desabrigo,
Meus passos são bizarros, impossíveis.

Meus olhos seguem vagos, impassíveis
Percebem nesta ausência, tal perigo
Que torna os velhos sonhos incabíveis
Matando estes desejos que persigo.

A solidão penetra no meu cerne,
Verão a permitir que já se inverne
E o peito transtornado na nevasca

Que toma meus sentidos totalmente
Sonhando com amor que se pressente
Virá: bonança após dura borrasca...
Marcos Loures


770

Dementes os sentidos que te prendem
Atendem entre dentes e mordidas
Ácidas as peçonhas que pretendem
As serpes sempre são mal resolvidas...

Vestidos de bizarras tempestades
Que mentem tão somente quanto tentam
Sombrias as fagulhas de inverdades
Que logo quando nascem, me atormentam.

As carnes em dentadas dilaceras
Passando pelos dentes afilados,
Recebo os teus bafios, quais de feras
Destroços que desejas desfiados.

Não temo mais teu hálito nefasto
Pois tudo o que já fomos, nem pro gasto...
Marcos Loures



71


Delitos espalhando tentações
As mãos vão procurando os seus caminhos,
Abrindo calmamente estes botões
Brotando o bom prazer em vários ninhos.
As flores em diversas plantações
Perfumam muito além dos seus espinhos.

Espio cada furna desta senda,
Expio meus pecados no teu jogo.
Amor que tudo sabe e já desvenda
Acende com vigor o nosso fogo.
O resto da viagem? Pura lenda,
O quanto de desejo em ti me afogo.

Não pago mais os erros cometidos,
Os juros que paguei, vão incluídos...
Marcos Loures



72


Delitos e delírios; cedo cria,
O gozo das paixões em luz profana.
A mão que acaricia mais humana
Estende nos dedos poesia.

O bem de farto amor nos propicia
Propícia solução que não engana
Nas ganas de prazer a alma cigana
Emana tão somente esta alegria

Segredos mais profundos, dizem mar,
Em abissal mergulho adentro em ti
Aonde tantas vezes me perdi

Vestígios do que sou vou procurar.
Entremeando luzes e matizes,
No amor nos tornaremos mais felizes...
Marcos Loures



73


Delírios entre risos, gargalhadas
Gemidos e sussurros, horas plenas.
Estrelas em teu corpo derramadas
Apreciando tontas estas cenas...

Mil rondas em torrentes provocadas
Por bocas que se querem, envenenas
Com tramas sem juízo, descaradas,
Orgástica emoção, revive Atenas.

Nos toques mais famintos me sacias,
Rasgando este infinito fantasias
Num átimo perdidos, nos achamos

Confronto que traduz tanto conforto
Afrontas entranhando cada porto
Nas sendas quando insanos, desbravamos...

Marcos Loures


74


Delírios de um amor que tanto eu quis,
Viceja uma esperança no meu peito
De um dia, finalmente ser feliz,
Eu penso ser talvez, o meu direito.

Quem traz do seu passado a cicatriz
De um sonho em amarguras já desfeito
Tão temeroso nunca pede bis.
Caminho que perdeu jamais refeito.

Mas sinto finalmente vir a brisa
Que tomando o cenário já me avisa
Que agora eu poderei saber enfim,

Sabores que alegria, em festa traz
Vivendo amor perfeito feito em paz
Chegando em plenitude para mim...
Marcos Loures


75


Delícias no teu corpo eu sei que tenho,
Tua nudez completa, tentação.
Lambendo tua xana, com empenho,
Explodo, minha amada, de tesão.

A boca nos teus seios, nossa foda,
O gosto da buceta mais divina.
Na cama, uma volúpia já me açoda,
Vontade de comer minha menina.

O teu cuzinho lindo, sem segredos,
Tua xereca, o grelo tão gostoso,
Encontro no teu corpo meus enredos,
E bebo da xaninha todo o gozo.


Te quero bem vadia, uma cachorra,
Meu gozo em tua boca, tanta porra...



76


Delícias nesta boca eu saboreio,
Sorvendo cada gota mato a sede,
Descendo minhas mãos alcanço o seio,
De todos os desejos, teia e rede.

Sentindo o teu olhar tão provocante,
Num brilho sem igual, maravilhoso.
A gente se decifra e num instante,
Encontra este horizonte mais vistoso.

Sabores delicados que entorpecem,
Qual fora alucinógeno, o carinho
Ao qual; os meus delírios obedecem
Inebriante como um raro vinho

Os céus que antes já foram, frios, grises,
Refletem tais momentos tão felizes...
Marcos Loures



77


Delícias em insânia usufruídas
Fluidos misturados, nosso jogo.
Bailados entre sanhas repartidas
Ardências sem juízo, mesmo fogo.

Num ir e vir, sem tréguas, incansáveis
Até que em explosões, nos encharcamos
Dos gozos maviosos, incontáveis
De todos as delírios, somos amos.

Enquanto tu me mordes devagar,
Teus seios em meus lábios, tuas pernas.
Orgástica vontade a navegar
Em tantas labaredas, loucas, ternas.

Açoitas com teus dentes minhas costas,
Do jeito sem limites, que tu gostas...
Marcos Loures



78


Deliciado ao som de tua voz,
Sentindo o teu perfume no meu rosto...
O medo do que fora duro, atroz,
Essas marcas sulcadas por desgosto.

Querendo perceber da vida após
As dores que o passado havia imposto,
No sentimento brusco e mais feroz,
O peito sente o frio de um agosto...

Em languidez deitada do meu lado,
Tua nudez traduz volúpia tanta..
Prometo-te meu canto enamorado,

Anseios te buscando, tensos, mudos,
A silhueta exposta, nua, encanta,
A pele acetinada nos veludos...



79


Delícia que se toma em incerteza
Um indomável sonho que aprisiona
Em supetão impede uma defesa
Ao mesmo tempo doma e se faz dona

Do quanto que inda tenho de só meu,
Paixão não quer saber, inda duvida.
De tudo que tivera e se perdeu,
Não quer e nem permite que divida.

As dívidas pagando com meu sangue,
O gosto quase podre da maçã.
A praia se perdendo neste mangue
Bendita solução para o amanhã;

Na mansa corredeira uma explosão,
Causando a mais feroz inundação.
Marcos Loures


780

Delícia que se faz; doces ardências
Que adentram nossos jogos noite afora.
Amor não tem sequer conveniências
A cada novo instante mais se aflora.

Ganâncias e delitos, indecências,
Fugazes emoções a qualquer hora
Às vezes simulando em indigências
E florescência rara nos decora.

Demências disfarçadas, gozo pleno,
Mendicâncias em ritos e pedidos,
Urgências sobrevindo em mar sereno.

Os dedos adivinham seus espaços,
Tateiam e vislumbram claros traços
Entoas sinfonias em gemidos...
Marcos Loures



81

Delícias que eu encontro sobre a mesa,
Bebendo teu licor maravilhoso,
Depois sorver com calma a sobremesa,
Num corpo delicado e tão gostoso...

Vibrando meu amor em tal beleza,
Recebo de teu mel, em pleno gozo,
Sabor extasiante, com certeza,
Total sofreguidão, voluptuoso...

Aguça o paladar tanta vontade
De enfim comer do prato principal.
Chegar assim à tal saciedade,

Banquete tão fogoso e sensual.
Matando minha fome, em qualidade
Que sei ser absoluta, sem igual...


82


Delícias que desfruto junto a ti
Na foda mais gostosa, meu amor,
No meio destas coxas conheci
Caminho fabuloso, encantador.

Comer tua xaninha todo dia,
Botar bem devagar, te penetrando.
Bendita seja a nossa putaria,
Lambendo o teu grelinho, te chupando.

Os cios se completam num orgasmo
Volúpias entre tantas sacanagem,
A vida desse jeito, sem marasmo,
O gozo desenhando a paisagem.

Em Búzios, Ipanema, um Eldorado,
Divino, sensual e bem safado...
Marcos Loures



82


Delícias que desfruto do teu lado,
Delitos cometidos, sorrateiros.
Desejo sem pudor e mais safado
Intensos fogaréus, tão costumeiros.

Teu corpo em minha cama desnudado,
Magias entre colchas, travesseiros.
No gozo intensamente anunciado,
Momentos de luxúria, feiticeiros.

São tantos os fetiches, fantasias...
Orgástica explosão que jamais cansa,
As horas sem limites e vadias,

Na trama que se dá e não sossega.
Estrela que nos toca, nua trança
Iluminando assim a nossa entrega...
Marcos Loures



83

Deixaste uma saudade tão bonita
Que muitas vezes lembro por querer,
Quem sabe se outra dose se repita
E venhas como um raio de prazer
Trazendo teu olhar, tua pepita
Que faz a minha sorte renascer...

Anos passaram, tantos que nem sei,
Só sinto que te quero, amor demais.
Nesta saudade doce eu mergulhei.
Não te esqueci, meu bem, enfim, jamais...
Amar como ninguém, por certo amei,
A porta deste amor não fechei mais..

Nas cores deste sonho me decoro,
E posso enfim, dizer; amor te adoro!



84


Deixaste meu amor em total crise
Que mesmo que existisse novo sonho
Amor quando escondido na marquise
Em terremotos morre mais medonho...

Vencendo a tentação das outras saias,
Que saem de repente no verão,
Calor que me sufoca novas praias,
Depois de tanto tempo de emoção...

Recebo teu carinho, como o vento,
Que amaina meu calor em meu sossego,
As pernas não me deixam pensamento,
Não temas não terei nenhum apego...

Meu canto te procura, mas não caça,
Viver na noite escura, uma cachaça...


85


Deixaste como herança estas lacunas,
Vazios no meu peito sonhador.
Dos mares nem areias quiçá dunas,
De pântanos se fartam, medo e dor.

Quem dera a placidez destas lagunas,
O céu em fantasias muda a cor.
Ouvindo o cantar belo das graúnas,
Rendido às emoções de um novo amor...

Porém nenhum alento a noite traz.
O vento que julgara mansa brisa
Numa borrasca impede ancoradouro.

Jazendo nas angústias, perco a paz,
Enquanto a morte chega e já me avisa:
- Jamais verás nem ilhas, nem tesouro..
Marcos Loures



86

Deixaste cada passo demarcado
Nos rumos deste pobre coração
Durante muito tempo magoado,
Riscado pelas tramas da paixão;

Pesado, se arrastando bandeado,
Ferido pelas farpas da ilusão.
Depois das marcas fundas do passado,
Encontro nos teus braços proteção.

Assim amiga sigo estas pegadas
Deixadas pelo amor neste meu peito,
Auroras reluzentes alvoradas,

Nascendo em sol brilhante o meu futuro,
Mostrando quanto o amor – pleno direito-
Clareia em noite mansa um céu escuro...
Marcos Loures



87






Deixaste amargo gosto em minha vida,
Na despedida foste nada mais.
Nas escaras que trago, Satanás,
A morte não seria dividida...

Meu passado, presente, despedida.
Cada vez mais espero capataz,
Troco meus olhos, peço, ao menos paz...
A solidão cavando essa ferida...

Eu não sei de camélias nem de rosas...
As moitas de capim cobrem as flores.
Não misturarei versos soltos, prosas...

Cantarei o que sempre me negaste,
Ávido perseguido, sem amores,
A morte me seduz, belo contraste!



88


Deixarei suas curvas rio amado,
De suas águas claras, vou ausente.
Formado em tanta lágrima, pressente,
Que a seca irá chegar sem dar recado.

De tanto que chorei desesperado,
As mágoas alimentam tal corrente
Que forma, de tristezas, a nascente
Do rio que deságua no passado.

Alimentado pela tua ausência,
O pranto da saudade nunca pára.
Viver sem te encontrar é penitência.

A lembrança de tua companhia
Jorrando nas cascatas, vida amara,
Salgando todo o mar de uma alegria...


89


Deixa-nos, lentamente, em carne viva
A dor de se saber um sonhador,
O mundo nos matando já nos priva
Do dia que tentara em vão compor,

Minha alma tolamente tão altiva,
Sem ter um Paraíso a te propor,
Fazendo da esperança sua ogiva
À vida, mesmo inútil, dá louvor.

Cadenciando o dia, chego à noite,
E enquanto a solidão cruel me acoite
Eu tento disfarçar com um sorriso.

Ao ver que nada disso mostra o rumo,
Depois de certo tempo eu me acostumo
E as desculpas banais; economizo...



790


Deixando-se levar pela torrente
Um sábio coração não teme nada,
A porta da alegria escancarada
Cravando em nossa pele cada dente.

O vento que se mostra de repente
Entrando em nossa vida, na rajada
Expressa uma paixão desenfreada
Que a bússola dos sonhos não pressente

A rosa do ventos se danando
O dia em convulsão se anunciando,
Trazendo a cada olhar perplexidade.

Enchente transbordando o ribeirão,
Nas braças deste amor, inundação
Mudando em temporal, tranqüilidade...
Marcos Loures



91


Delicada silhueta,
Caminhando sem olhar
Para os olhos de um poeta
Que não cansa de sonhar.

Se Cupido traz a seta
Tão preciso o seu mirar,
Minha vida se completa
Quando à tua se entregar.

És o templo do desejo
Meu altar, minha paragem,
Amor feito um relampejo

Vai mudando a paisagem,
Tudo aquilo que eu almejo
Não será simples miragem?
Marcos Loures



92


Deleites entre gozos e delírios,
Uma explosão de luzes multicores,
Deixando no passado tais martírios
Na cama se espalhando mil fulgores.

Decifro teus sinais, tuas vontades,
Ao penetrar defesas, sigo em frente,
Enquanto em meu calor sei que tu ardes
Vulcânica explosão, amor pressente.

O prato predileto, a mesa posta,
Banquete anunciado com fartura.
Tua nudez sublime, agora exposta,
Deitando sobre nos, real loucura,

A gente não se cansa deste jogo,
Brincando e nos queimando em vivo fogo.
Marcos Loures



93


Deixei minha alma presa em tuas mãos,
Morena tão formosa, flor tão bela,
Meus dias sem teus dias passam vãos,
A vida em teu sorriso se revela..

A mulher que me encanta está distante,
Mas mesmo assim não canso de querer,
Te peço o teu amor a cada instante,
Sem ele como poderei viver?

O vento num lamento já me disse
Que é triste tanto amor não andar perto
É como se uma estrela assim se visse
Em meio à noite clara de um deserto...

Se um bem te vi pousar nos teus umbrais,
Sou eu que estou mandando meus sinais...


94

Deixei meu capetinha no caminho,
Estava com saudades dos meus versos
Que falam de emoção. Neste caminho
Não sinto os passos soltos e dispersos.

Beber de sua boca, o doce vinho
Catando os cacarecos mais diversos
Enquanto nos amores eu me alinho,
Refaço com doçura os universos

Aonde eu descobri a sedução
Da boca carmesim de uma morena.
Que tanto me seduz e já me acena

Mostrando deste encanto a dimensão
Que possa sem desvios me levar
Aos raios prateados de um luar...
Marcos Loures


95

Deixe que o olhar do mundo sempre veja
O brilho de teus olhos, minha amada.
Que a natureza sempre te proteja
Dos ventos e das curvas desta estrada.

Ouvindo esta saudade que não larga
O medo de perder quem tanto amei.
Não deixe que pressinta quão amarga
A noite em que sozinho me encontrei.

Teu colo sempre sirva dum alento
Que busco em cada dor que conhecer,
Não deixe que eu pressinta o sofrimento
Que traz a noite em cada entardecer.

Deixe que todo mundo saiba, enfim,
Do amor que trago, imenso, sem ter fim...



96


Deixando para trás, o medo e a cruz,
Penetro o campo santo da esperança,
O manto que me cobre, reproduz,
A sorte em glória plena, uma aliança.

Medonhos pesadelos que se assomam,
Aos olhos dos que seguem solitários.
Meus braços nos teus braços já se tomam
Formando paraísos solidários.

O quanto quero ter e sempre busco,
Permite que eu te fale, com certeza.
Da luz que se não se faz em lusco-fusco,
Tocando a madrugada, real beleza.

Meus dias em teus passos prosseguindo,
Promessa do amanhã, deveras lindo...
Marcos Loures


97


Deixando para trás um triste adeus
Eu vou seguindo em busca da alegria
Que encontro em profusão nos olhos teus,
Mostrando o tanto quanto eu bem queria

Na claridade intensa, mato os breus
E sinto ser possível esta harmonia
Mudando estes destinos teus e meus
Trazendo em claridade um novo dia.

Palavra que traduz felicidade,
Um sentimento nobre em luz intensa
Na solidariedade a recompensa

Ao traduzir assim uma amizade
Permito-me dizer que sou capaz
De ter um sonho calmo, manso, em paz...



98


Deixando para trás tristeza e guerra
Não posso lamentar o meu futuro,
Se o dia se mostrou bem mais escuro
Um sonhos mais gentil, a vida encerra.

Alheio aos meus fantasmas, subo a serra
Das doces fantasias e procuro
Um solo menos árido ou impuro
Aonde possa enfim arar a terra.

Saber que este otimismo uma tolice,
Do quanto a vida o sonho já desdisse,
Permite que eu me sinta abandonado.

Mas tendo o meu olhar neste horizonte,
Por mais que a realidade ainda apronte
Eu trago o meu olhar iluminado!
Marcos Loures


99

Deixando para trás qualquer tropeço
Macabras ilusões foram dispersas,
Além do que desejo e sei mereço,
As horas são benditas, mas diversas,
Não tendo tudo aquilo que ofereço,
As dívidas que trago são perversas.

Mas versas sobre sonhos em teus cantos,
Encantos profanados muitas vezes.
Vestindo da alegria velhos mantos
Não quero em nosso amor deuses ou reses,
Reveses encarando sem ter prantos,
Espelho o quanto queres e desprezes

Amor não tendo mais sequer algemas
Riqueza que se encontra em raras gemas.
Marcos Loures


800

Deixando para trás qualquer conceito
Amor já sabe e reconhece a dor
Levando em prece com firmeza, o andor
Adentrará com braço forte o peito

Saber da luz é conceber direito
Dado a quem ama em proteção, calor
O quanto eu sinto mostrará que amor
Invade a vida penetrando o peito

Cravando setas proporciona o brilho
Do qual transformo num momento em vida
Franca vitória ao perceber saída

Traz solução e com carinhos trilho
Lançada a sorte que é sutil e arisca,
No coração selvagem que se arrisca
Marcos Loures


801


Deixando para trás qualquer adeus
Do quanto que pensara nada ter,
Ao ver esta beleza imersa em breus
Refaço minhas ganas de prazer.

Outrora, a insegurança me impedira
De ver a luz após a tempestade.
Olhar do amor, farol, luzente pira
Mudando todo o rumo, claridade.

Nascido entre calcários e resinas,
Estrumes como adubo da minha alma.
Num átimo, tu vens e descortinas
Depois do vendaval sublime calma.

Assim, repondo o trilho de meus dias,
Encontro ancoradouro d’alegrias...
Marcos Loures


4802

Deixando para trás quaisquer pudores,
Teremos recompensa em fino gozo.
O mundo tantas vezes melindroso
Esquece da alegria, os seus pendores.

Misturas de desejos e de odores
Fazendo deste templo tão formoso
- Teu corpo, que se mostra desejoso
Forrando nossa cama em tantas flores.

Orgasmos são caminhos para o Céu,
No templo em que deleite se faz prece,
Recolho o que bendito se oferece

Bebendo com fartura todo o mel
Que explana nosso amor puro e infinito,
Fazendo do pecado, mero mito...



03

Deixando para trás as velhas cismas,
Não temos que sentir qualquer vergonha
O amor quando demonstra em vários prismas
Permite que este sonho se componha

De fontes luminosas, chafarizes,
Causando esta magnífica impressão,
Assim nós poderemos ser felizes
Vivendo sem temor, esta paixão.

Sem pejos ou pudores corpos nus,
Sabendo desfrutar cada momento,
Meu sonho nos teus barcos quando eu pus,
Vencia desde ali, qualquer tormento.

Balança essa roseira, venha cá,
Que “a vida só se deu pra quem se dá”!


04

Deixando para trás as velhas brigas,
As águas vão passando em meu caminho,
Mandingas, galho arruda, rezas, figas
A chuva me tocando de mansinho.

No horizonte tão belo, sonho eu crio,
Crivando em azulejo nosso céu.
O quanto fora vago e até sombrio
Permite que ressurja um claro véu.

Verão vai terminando, chega outono
Eu lembro o triste inverno que passei
Pensara condenado ao abandono.
A solidão quimera feita em lei.

Nas previsões do astral meu signo e o teu
Combinação perfeita que se deu...
Marcos Loures


05


Deixando para trás antigos medos
Momentos em amor, alvissareiros,
Descubro em tuas minas, teus segredos
E faço de meus lábios bons mineiros.

Sabendo de teus sonhos, teus enredos
Percebo teus desejos sei teus cheiros.
Adentro em teus caminhos, meus degredos
Olhares que trocamos; feiticeiros.

Bebendo o teu orvalho gota a gota,
Acerto meu prazer em tua rota
E um raro amanhecer; logo componho.

Eu tenho esta certeza que me toma,
Amor quando é perfeito trama em soma
Um mundo que se mostra mais risonho.
Marcos Loures


06

Deixando uma verdade tão tacanha
Montanhas espiando um vale imenso.
Batalha tantas vezes quase ganha,
Vencida num momento bem mais tenso.

O quanto que se pode é o que se ganha,
E neste jogo enfim me recompenso.
Marcando com palavras cada sanha
Mudando o meu destino, eu me convenço;

Não segue na verdade, convenções,
Um passageiro alado; em vãos, liberto;
Eternas e benditas mutações,

Trazendo nos seus rumos, muitos temas.
Não temas meu amor, disso estou certo,
Amores vêm e vão; em piracemas.
Marcos Loure



07


Deixando toda a vida pra depois,
Sem nada perguntar, somente ser.
No mundo tão sereno de nós dois,
No reino da alegria e do prazer.

Nós somos passageiros da esperança
Do amor que se faz todo em liberdade.
A solidão cruel jamais avança
Aonde impera amor, se de verdade;

Perdoe o meu sorriso benfazejo,
Não posso mais calar, estou feliz.
Se tenho, nesta vida, o que desejo,
Se sou, no dia a dia o que bem quis.

Por mais que haja tristeza, eu sei, lá fora,
Minha alma em alegrias, se decora...
Marcos Loures



08

Deixando tão somente a negação
De tudo o que passamos, nada resta,
A sorte infelizmente nos atesta
O quanto em nosso amor sonegação.

A paz que se perdeu em turbilhão
Não deixa que pense em nova festa,
Aborto do que fomos não contesta
E deixa mais vazio, o coração.

Nem todos os quebrantos me diziam
Dos fogos que em mentiras acendiam
A treva que tomou o nosso dia.

O quanto desejava e nada vinha,
Mulher que outrora fora, em sonhos, minha
Tornando amargurada a poesia...
Marcos Loures



09

Deixando que esse dia trague a sorte
Que se escondera há tempos; trapaceira.
Buscando noutro rumo; novo norte,
Fazendo da alegria uma bandeira.

Misturo sentimentos e palavras,
Nem sempre são irmãos, mas se conhecem.
As mãos que propõem em minhas lavras,
As mesmas, quando unidas, ‘stão em preces.

Eu quero me esquecer desta tristeza,
Que forma, no meu canto, um verso duro.
Louvar, assim, a vida e a beleza;
Tentando clarear o céu escuro.

Meus versos de alegria, amor e paz;
Amiga, na amizade, valem mais...



810

Deixando o meu viver mais satisfeito
O gozo da amizade mais fecunda,
Sabendo ser feliz ser um direito
A força da alegria que me inunda

Invade num segundo, toma o peito
Matando a solidão, cruel, imunda,
Nos olhos da esperança adentro o leito
Deixando uma tristeza moribunda.

Mudando minha sorte totalmente,
O riso vem surgindo novamente
Às custas da amizade mais perfeita.

E mostra uma alegria sem igual
Da vida, o mais sublime capital
Tornando a fantasia assim, refeita.



11


Deixando o meu caminho iluminado.
Contigo estarei sempre e desde cedo,
Amor que em meu caminho, muda o Fado
Tramando em alegria um novo enredo,

Meu canto se mostrando extasiado,
Percebe a solução deste segredo
Há tanto tempo e sempre demonstrado
Distante de temor, receio ou medo.

Minha alma na tua alma mergulhada,
Impede a solidão, fria cilada
E em lúdica alegria se oferece

Ardentes emoções se superpondo,
Um raro alvorecer vai se compondo;
O encanto feito amor rejuvenesce.
Marcos Loures


12

Deixando o jardineiro assim, cativo,
Enquanto permaneço do teu lado,
Ao mesmo tempo em ti eu sobrevivo,
Esqueço que algum dia houve passado.

De uma alegria farta não me privo,
Sabendo a qualidade desse arado,
Não vejo outro caminho, adentro o prado
Aonde de emoção e paz me crivo.

Arguta caminhada pelas ternas
Paisagens deste corpo deslumbrante
As noites de prazer fossem eternas

A vida mostraria a qualidade
De quem imaginando a cada instante
Demonstra em perfeição, felicidade...
Marcos Loures



13


Deixando o corpo amante então feliz
No quase que quebramos nossa jura
Amor que pede arrego e quer o bis
No fundo a gente finge até que atura.

Usando curativo ou atadura,
Não quero mais a sílfide nem miss,
Te falo, meu amor, na caradura,
Quem dera se tu fosses meretriz!

Riscando desta agenda cada nome
O jeito é devorar o que se come
Sem pejos nem fofoca, e sem vergonha

Lamber até meus beiços depois disso,
No fundo o que não quero é compromisso
Nem chifre que na testa alguém me ponha...
Marcos Loures



14


Deixando o coração tão frio e mudo,
Encontro a tempestade dia-a-dia,
Estrela que se perde já não guia,
Prossigo esta viagem, vou com tudo.

Nos olhos de quem quero eu não me iludo
Jamais permitirei tal heresia,
Sonhando com quem nunca me queria
O rumo desta vida; jamais mudo.

Recebo o gosto amargo deste fel,
Disfarce que se esconde sob o mel
Da boca que beijei em noite clara.

Mentira vai cumprindo o seu papel,
Sozinho; eu me perdi do meu corcel,
Somente a noite fria inda me ampara.
Marcos Loures



15



Deixando para trás a sorte inteira
Bisonhas gargalhadas eu espalho,
Sorriso passa a ser penduricalho
Quebrando o que me resta da viseira.

A mão da solidão é bem ligeira
Trazendo uma ilusão em ato falho,
Andando sem destino eu me atrapalho
E colho tão somente bandalheira.

Nas nuvens tão medonhas, sinto a chuva
Caindo dentro da alma como luva,
Matando o que restou de mim agora.

Sem ter nenhum farol a me guiar,
Perdido bem distante do luar,
Olhar fixo e distante se decora.
Marcos Loures



16




Deixando o sol entrar tão mansamente
Sentindo este carinho como um beijo.
Vou fechando meus olhos lentamente
Entregue à sensação já sem desejo,

Sem medo, sem rancor, somente sendo.
Sem ter porque, talvez, quem sabe ou quando,
Neste silêncio imenso, me envolvendo,
Aos poucos me sentindo flutuando...

Adormecendo, sonho estar além
Do sempre do bem antes ou depois.
A noite, eternidade, a lua vem;
Meus olhos são milhões, bem mais que dois...

Eu ouço a voz do vento, bebo a vida,
Minha alma só passeia, comovida...



17


Deixando bem distante qualquer traço,
Prossigo em teimosia e não descanso.
Se eu tento e muitas vezes, sigo manso
Não quero me esquecer do teu abraço.

Apenas sobrevivo no mormaço
Que tanto tempo mostra o velho ranço
Nos olhos da morena um embaraço
Os braços de quem quero eu não alcanço.

Melódica ternura? De onde vens?
Se nada do que tive diz de bens
À parte vou seguindo sem sossego.

Amar é traduzir qualquer sufoco,
A casa necessita de reboco
Nas luzes que sonegas, eu me cego...
Marcos Loures



18


Deixando bem distante o tal desgosto,
Durante muito tempo em minha vida
Aos poucos aumentando esta ferida
No corte tantas vezes mais exposto.

Beleza inesquecível de teu rosto,
Imagem muitas vezes distorcida
Viagem que pensava já perdida,
Agora um novo sonho recomposto

Bebendo tantos goles, amargor
Da morte anunciada deste amor,
Morrendo em nascedouro a primavera

Mas tendo uma esperança como amiga,
Permita mesmo em vão que inda te diga:
Meu verso é tão romântica quimera,
Marcos Loures


19


Deixando bem distante algum tormento.
A vida se permite a teus carinhos
Amiga, não se esqueça um só momento
De todo amor que uniu nossos caminhos,

Buscando uma alegria, vou sedento,
Bebendo da amizade doces vinhos,
Poeira no meu peito toma assento,
Ternura emoldurando nossos ninhos,

Valores que amizade nunca nega,
Em mares tão fantásticos, navega
Enquanto uma esperança já comanda

A vida de quem sabe o que mais quer,
Do jeito mais sublime que vier
No peito em que emoção deseja e manda...
Marcos Loures



820

Deixando bem distante a noite fria.
Calor em rara ardência; em ti, descubro.
Vivendo da maneira que eu queria
O fogo da paixão intenso e rubro.

Sentindo este bafejo da esperança
A mão que acaricia necessita
No corpo desejado uma aliança
Tornando a nossa vida mais bonita

Eu tenho dentro da alma esta certeza
De um tempo em que o amor tomando a cena
Derrame sobre nós tanta beleza
Num ato de ternura rara e plena.

Buscando este viver maravilhoso,
Mergulho no teu mar. Vou desejoso.
Marcos Loures


21

Deixando à solidão, somente o adeus
Estendo o meu olhar ao infinito,
Alçando em liberdade, solto o grito
E encontro os teus sorrisos sobre os meus.

Nos sonhos embolados, dois Morfeus,
Decifram cada sonho já descrito
Toando em comunhão, no mesmo rito
Do amor que nos transporta e leva a Deus.

Nas mãos entrelaçadas, igual prece,
Aos meandros do amor já se obedece
E nisso o caminhar se faz preciso,

Pareado contigo eu não me canso,
E enquanto a cada dia assim avanço,
Adentro ao mais sublime paraíso.
Marcos Loures


22


Deixando a solidão, tão merencória,
Distante dos meus versos, sigo em frente,
No amor e no carinho tal vanglória
Enaltecendo a paz que se pressente.

Quem fora no passado, pária, escória
Um simples e tão frágil penitente
Mudando num momento, a minha história
Amor estava sempre aqui, latente.

Rondando o pensamento, tanta vez,
Amor ao traduzir-se insensatez
Pedia em cada noite a plenitude.

Roçando a nossa pele, em arrepios,
Eu desço em emoção, nascentes, rios
Volvendo a perceber a juventude...
Marcos Loures



23

Deixando a solidão só na lembrança
Amor não me permite mais sofrer,
Voltando novamente a ser criança
Encontro nos teus braços bem querer,

Uma alegria enorme já me alcança
E ajuda, com certeza a reviver
A noite de uma infância calma e mansa,
Na rara sensação: puro prazer.

Amor quando se faz em tal partilha
Não deixa qualquer dúvida em meu peito,
Vislumbro finalmente a maravilha

De um dia que virá com luz intensa,
Agora que eu sinto satisfeito
Tenho em amor a glória e recompensa...



24


Deixando este caminho sempre aberto,
Nas tendas, nas palhoças, nos castelos,
A vida em profusão, louco concerto,
Arando uma esperança em seus rastelos...

Mecânicas do amor que desvendamos,
Sentidos profanados. Teso, exposto,
Dum arvoredo roubarei os ramos
O vento do prazer açoita o rosto.

Eu quero e não renego sempre mais,
Levado a tais insânias, totalmente,
Deixando bem distante antigos ais
Momento que em delírio se pressente.

Sem medo de saber de um novo adeus,
Aconchegado estou nos braços teus.
Marcos Loures



25


Deixando em seu lugar, o medo e o frio,
A mão que acarinhava se perdeu...
Do quanto que inda resta, nada é teu,
Somente a solidão negando estio.

Por vezes; solitário, eu fantasio
Nos olhos da ilusão, um camafeu
Mostrando que meu sonho renasceu.
Retorno e vejo em volta este vazio...

Minha alma quebrantada nada escuta,
Senão a força amarga, intensa e bruta
Desta desilusão que não se vai.

Carcaças do que fomos espalhadas,
Adentrando as insones madrugadas
A chuva em teimosia, sempre cai...
Marcos Loures



26


Deixando a dor distante e sem defesa
Tua presença traz a mansidão
Florindo meu caminho em emoção
Tramando cada passo com leveza.

Da vida que se fora amarga e tesa
Agônica mortalha da ilusão
Tomando toda a cena. Negação
Dos sonhos que eu tivera em vã tristeza.

A chuva pouco a pouco assim se amaina,
Amor vem demonstrando em sua faina
Ser liberdade além de um vago sonho.

Contigo eu aprendi a ser feliz
Meu verso; a ti dedico, enquanto diz
Do Amor em plenitude que proponho...
Marcos Loures



27


Deixamos nossa vida por um triz
Nas vezes em que, tolos inda cremos
Que a sorte de viver nos faz feliz,
Por mais que destrocemos nossos remos;

O barco se perdendo em mau destino
Não deixa que veja mais o cais.
Olhares de uma infância em desatino
Exposta a carniceiros tão venais.

No campo e na cidade a mesma face
Da fome se espalhando dia-a-dia.
Quem dera se pudesse ou encontrasse
Viver ao fim de tudo, uma alegria

No canto mais sublime da amizade
O rosto tão suave da verdade...
Marcos Loures



28


Deixamos as mentiras para trás
Sem termos os disfarces que inda impeçam
O brilho que a alegria sempre traz,
Os passos entre estrelas não tropeçam.

Resistir, como? Somos viajantes
Comparsas nas andaças pela vida,
Em meio a pirilampos faiscantes
Encontro finalmente uma saída

Nos braços desta Musa que me acolhe,
No colo de quem tanto desejei,
Por mais que esta neblina ainda molhe,
Recolho o que deveras já plantei.

Na boca que se mostra escancarada,
Os brilhos desta mágica alvorada...
Marcos Loures


29


Deixados pelos cantos sem espinhos,
Os medos não têm mais razão de ser.
Segredos que já foram mais daninhos,
Agora não conseguem subverter
O denso carretel feito em carinhos
Gostosa sensação de audaz prazer.

Perecem as tristezas esfaimadas,
Jogadas nos quintais ledos, baldios,
As horas do teu lado tão mimadas,
Encontram finalmente este desvio,
Ao ver o fim soberbo das estradas
O coração não quer ser mais vadio.

Recrio meus castelos e princesa,
Comendo no teu corpo a sobremesa...
Marcos Loures



4830


Deixados no caminho em que prossigo
Os passos de quem sinto ser além
Do simples desejar, do querer bem,
Seguindo o tempo inteiro aqui comigo.

O medo se esvaindo, sem abrigo,
Eu sinto que enfim, encontro alguém
E o vento da esperança, manso vem,
Felicidade imensa, eu já consigo.

Vislumbro na penumbra raro brilho,
Falena enamorada, agora eu trilho
Demonstro, num momento ansiedade.

Faróis iluminando o negro céu,
Das nuvens tenebrosas surge o véu,
Teus olhos espelhando a claridade.
Marcos Loures


31


Deixada pelo amor em liberdade
Pegada solta em pó poeira, areia
Sereia que se deu bar e cidade
Estende o seu tapete em lua cheia.

Na teia em que se enreda a fantasia
Fantasmas do que fui vão sem destino,
Menino que ilusão, temente cria,
Na argila da esperança, eu me alucino.

Um hino que se faça, um verso solto,
Batalhas esquecidas, novo prumo.
O mar que se mostrara mais revolto;
Agora em calmaria, entranha o sumo

Da sorte que se esfuma, mas retorna,
Amor que nos pertence, luz entorna...


32


Deixada para trás no rés do chão
Rasteja pela casa a vil serpente,
Do quanto que se fez tão envolvente,
Morrendo pouco a pouco, a solidão.

Ao ter em novo amor, a redenção,
Um dia mais feliz já se pressente
E o corpo entregue ao lume incandescente
Do fogaréu imenso da paixão.

Sentindo em teu perfume esta evidência,
Na tua tez morena, a transparência
Do gozo sem limites, desfrutar.

Qual colibri que voa enamorado,
Chegando mansamente do teu lado,
Teu néctar; vou sorvendo com vagar.
Marcos Loures


33

Deixada há tanto tempo, na saudade,
A luz que se pensara redentora.
A gralha vai negando a liberdade
Crocita sempre aqui, não vai embora.

O lobo que em matilhas segue a caça
Prepara em noite escura o seu ataque
Trazendo em agonia a velha traça
Busca o melhor momento para o saque.

Capacho de si mesmo, homem algoz
Estampa em sua face a fome insana,
O bote que se dá bem mais feroz,
Demonstra a dura espécie desumana.

Quem dera amor raiasse na manhã,
A vida não seria torpe e vã.
Marcos Loures



34


Deixada em testamento, uma esperança
Que possa transforma todo o cenário
Do outrora caminheiro temerário,
Agora tão somente esta criança

Que olhando para estrelas, sonha e dança,
Tirando a fantasia deste armário,
Sabendo que sonhar é necessário,
Enquanto o tempo é fero e sempre avança.

Voltar a ser somente um manso infante,
Vislumbro a bela cena que adiante
Teremos como um bom, doce final.

O quase ser feliz realizado,
No quadro pelos sonhos matizado,
Mudando num segundo todo o astral...



35


Deixa de ser teimosa, por favor;
A gente ainda pode dar um jeito
As desculpas, decerto agora aceito,
Nos erros deu cupim até bolor.

Mas tenha mais cuidado com o andor,
Se o rio ultrapassar o velho leito
Inundando o jardim, insatisfeito,
Eu vejo se perder perfume e flor.

Mirando a tua lua derradeira
A noite velha amiga e companheira
Derrama-se em argêntea maravilha.

E quando o coração diz da festança
Que o sonho me liberdade logo alcança
O amor por entre estrelas vaga e trilha...



36



Deitei-me junto à jovem esperança
E fomos bem felizes, te garanto.
Se sei tanto prazer quanto ela alcança
A moça vibrará pra meu espanto.

Abrindo as belas pernas- pede- avança,
E se mostrando sôfrega eu me encanto
E adentro virilmente com a lança
A moça se desfaz e eu me agiganto.

Um velho espadachim inda perfaz
Caminho que em bandeiras, descobriu.
Elétrica esperança tão gentil

Garante que estocada satisfaz
E pede, com sorrisos sempre mais.
( No conto da esperança, ele caiu)



37


Deitar tua nudez em nossa cama,
Beber do teu suor, beijar teus seios.
Lambendo as labaredas, tua chama
Adentrar com vigor, úmidos veios.

Sentir a tua boca me tragando,
Ao mesmo tempo, a língua mais audaz
Na gruta delicada penetrando,
Com sede e tão faminta, mais voraz...

Mexendo e rebolando sobre mim,
Cavalgue meu amor, o teu corcel,
Numa explosão intensa chego enfim
Voando sem ter asas para o céu.

Depois deitada nua, sem ter pressa,
A festa sem limites recomeça...



38

Deitando sua prata sobre a gente
A noite enluarada já promete
Um sonho tão fantástico, envolvente,
Aos braços da emoção nos arremete.
A cada nova noite se pressente
O bom de ser da dama, o seu valete.

Eu quero estar no jogo mais gostoso,
Na intensa sedução dos olhos mansos,
Bebendo cada gota deste gozo
Cobrindo em farta luz os meus remansos.
O dia renascendo mavioso,
Colhendo os frutos todos dos descansos.

Prenúncio que se faz em realidade,
Moldando a mais divina liberdade.
Marcos Loures



39



Deitando sobre ti, prazeres tantos,
Sentindo-te tremer em emoção,
Nos remelexos tenho teus encantos,
Ato prenunciando a convulsão

Orgástica euforia nos tomando,
Abrindo tuas pernas, eu penetro
Os campos que o amor vai semeando,
Reinado em que desejas rei e cetro.

Ruborizada a face em desejos,
Bacantes incessantes numa orgia,
Unidos num encaixe em relampejos
Latejas e contrais com euforia.

Até que esparramamos vasto mel,
Pantera afia as garras, no corcel...



4840


Deitando sobre os sonhos, te sentindo
Tocando com teu corpo, meus desejos...
Num sentimento breve, leve e lindo,
As sombras de teus lábios nos meus beijos...

Ao longe a melodia me invadindo,
Na forças destes sons, belos arpejos;
O canto de além mar, aos poucos vindo
Tornando meus prazeres mais sobejos...

Eu quero tua sombra sobre mim,
Deitando em branca areia, lembro o mar.
No porto que encontrei amor sem fim,

Vontade de chegar e me atracar
No cais deste desejo. Pois enfim,
Agora já conjugo o verbo amar...


41


Deitando sobre nós a poesia
A noite se luziu em serenatas.
Estranha sensação traz agonia
Ardendo em nosso peito, feito matas.

Espalha o quanto trouxe em alquimia,
Ardendo em tantos corpos vis chibatas,
No quanto que te quero e não desatas
Estendo o coração em noite fria.

Mascaro os meus temores em sorrisos,
Embora o peito exposto a tais granizos
Não deixa de cantar o quanto quer.

Na boca delicada e carmesim,
O beijo que esperei trouxe pra mim,
O fogo abençoado da mulher...
Marcos Loures



42


Deitando sobre mim tuas vontades,
Cavalgas o teu macho, teu senhor.
Atando tuas mãos, algemas, grades,
No gozo sem limites, prazer, dor.

Fudendo tua xana, em fogos ardes
Prazer insuperável, te propor
Mordendo teu grelinho saciedades,
Escrava se entregando sem pudor.

Chicotes e corpetes, arrepios
Teu rabo em minha boca, língua e dedos.
Dois corpos desejosos e vadios

Enfio com firmeza sem receios
Insaciável, busco em teus segredos
Gozando à espanhola entre teus seios...



43



Deitando sobre as luzes da ribalta
Um sonho em espetáculo promete
Calando as solidões amarga malta
A vida aos teus carinhos me arremete.

Bailando nos teus braços, sonho e luz,
Recebo a redentora poesia
Que entranha em minha pele e me conduza
A toda sorte imensa que eu queria.

Saltando sobre as pedras que encontrei
Estrela em claro brilho me domina,
O amor que em nossa vida se fez lei
Permite no pernoite a rica mina

Aonde se escondeu raro tesouro,
Nos raios deste sonho, eu já me douro...

43



Deitando sobre as luzes da ribalta
Um sonho em espetáculo promete
Calando as solidões amarga malta
A vida aos teus carinhos me arremete.

Bailando nos teus braços, sonho e luz,
Recebo a redentora poesia
Que entranha em minha pele e me conduza
A toda sorte imensa que eu queria.

Saltando sobre as pedras que encontrei
Estrela em claro brilho me domina,
O amor que em nossa vida se fez lei
Permite no pernoite a rica mina

Aonde se escondeu raro tesouro,
Nos raios deste sonho, eu já me douro...


44

Deslizo nos seus braços, amizade,
Atravessando mares, vilarejos.
Anseio recordar felicidade
Distante dos meus olhos, meus desejos.

Deixando para trás a tempestade
Não vejo nesta vida mais os pejos
Que outrora concebera na saudade
E agora são apenas relampejos.

Afago com carinho meus prazeres
E trago nos meus dias afazeres
Que possam permitir uma bonança

Nos laços da amizade um velho encanto,
Mudando no meu mundo o triste canto
Trocado pelo manto da esperança...


45

Deslizo minha mão sobre esta pele
Macia, bronzeada e tão gostosa.
A boca desejosa se compele
A mergulhar em loca maviosa.

Que o tempo agora pare, que congele
Sugando o doce aroma, gozo e rosa.
Cavalo desejando- amor quem sele
E suba em cavalgada caprichosa.

Vem logo que não posso mais conter
A fúria desejosa que me toma,
A fera que se entrega e que se doma

Passeia por teu corpo com prazer.
Indômito corcel não quer parar,
E tudo, novamente começar...
Marcos Loures



46


Deslizo meus cometas no teu porto,
Inebriadamente entrega e gozo.
Sabores se misturam. Vou absorto
Vasculho teus espaços, caprichoso.

Ao mares do passado se reporto
Percebo o meu futuro fabuloso,
Nas praias da esperança então aporto
E bebo cada gole, mais guloso.

Num turbilhão de imagens sonho à solta,
Deixando para trás qualquer revolta
Adentro o quanto quero, teu prazer.

No centro do universo brilha a nua
Deitando o seu desejo, bela e nua,
No incêndio que me inflama e quero ter...
Marcos Loures



47



Deslizo as minhas mãos em tua pele,
E encontro a mais perfeita silhueta,
O anseio em plenitude me compele
À esculpida em Carrara, estatueta.

Tu és a prima-dona que eu sonhei
Reinando sobre todos os sentidos
Tua vontade sendo sempre lei
Abrigam meus desejos escondidos.

E quando te decifro, me devoras,
Enigmática deusa feita esfinge
Diante de teu corpo, várias horas,
Minha alma se liberta, ou mesmo finge

Pois tens em teu olhar, magnetismo
Defronte a tal beleza; insano, eu cismo...



48


Deslizando meus lábios sobre ti,
Encontro nos teus seios, maravilhas.
Depois tão calmamente prossegui
E desço por caminhos, belas trilhas,

Montanhas e declives, bem aqui,
Sedento bebo em fonte, nas vasilhas
Divinas onde encontro o que pedi.
Olhar de quem adoro... logo brilhas...

As mãos jamais se hesitam e se tocam,
Carinhos mais profanos que se trocam
Fornalhas acendidas do desejo...

Refaço este passeio, em novo beijo,
E traço no teu corpo todo o mapa,
Nenhum detalhe, amor, assim escapa...
Marcos Loures


49

Desilusão! Maldita companheira!
Por vezes procurei cura de própolis,
Nos meus sonhos helênicos, acrópolis,
Embalde, te mostraste por inteira.

Tua face mostrando verdadeira
Pequenos vilarejos às metrópolis,
Sonhos imperiais, bela Petrópolis,
Desilusão dos sonhos de uma freira

Apaixonada. Serás meu sepulcro!
Pois me acompanharás ao cemitério...
Tantas vezes perdido, vou sem fulcro,

Carregando pesado fardo, vida...
Delírio que imagino, vou funéreo,
Até que a morte, enfim, venha e decida!
Marcos Loures


850

Desilusão moldada em tal receio
De ter amor completo e sem desmonte,
Na doce fantasia, tanto enleio
Distante, bem distante do horizonte

No qual amor pensara ser um veio
Descendo em alegria belo monte,
Apenas solidão, tristeza, veio
Secando em nascedouro, pobre fonte.

De tudo o que sonhara, coincidência,
Perdido sem caminhos, ganho o mundo,
A vida se tornando uma inclemência

O corte mais profano e bem profundo,
Fazendo do viver tal penitência
Matando as ilusões em um segundo...



51


Desfruto deste amor, nosso pomar,
Bebendo todo o suco desejado
Querida e não me canso de tomar
No corpo que se mostra do meu lado

Desnudo. Ah Que vontade de provar
Até ficar, querida, saciado.
Depois neste bel porto naufragar
Meu sonho de prazer, apaixonado...

Eu quero descobrir cada pedaço
Desta maravilhosa criatura
Faminto, com vagar, em cada passo

Fazendo delicada esta procura.
No pátio, no quintal, na rua e paço
Deixando-me levar em tal loucura!


52


Desfrutarei um pouco desse encanto
Se tu quiseres ter uma alegria
Desejo que se quer cedo vicia
Tornando mais distante este quebranto.

Do gozo feito em festas eu me encanto
Além de todo bem que concebia
Quem vive muito mais que fantasia
Deitando o seu prazer no mesmo manto.

Plantando uma esperança no meu peito
Eu colherei o sim, talvez o não.
Mas sigo meu amor de qualquer jeito

Não deixo um só segundo de viver
O que me sobra em vida, em emoção
Querendo usufruir todo o prazer...


53

Desfraldo esta bandeira dos meus sonhos,
Saudades emergindo a cada curva,
Do rio em transparência, água tão turva
Em noites mais ardentes, cais bisonhos.

Nas galeras perdidos, vão tristonhos
Depois da dura estrada vem a chuva
Capotando minha alma, torta, curva,
Moldada em carrilhões velhos medonhos.

Nas hostes fugitivas da esperança
Apenas os sinais tão sanguinários.
Momentos mais felizes? Temerários...

O nada em simples olhos já me alcança
Causando a mais cruel temeridade
Deixando como rastro esta saudade...


54


Desnudando-me, busco a Tua Imagem,
E a perco ao mesmo instante que procuro.
Cenário permanece ledo e escuro,
As trevas dominando esta paisagem.

Olhar para mim mesmo, vaga mensagem,
Levando ao chão agreste, seco e duro,
Rasgando o meu retrato, enfrento o muro
Deixado como herança em vã viagem.

As metas se embaralham; nada vejo,
As cartas já marcadas dizem não.
A vida preparando este alçapão,

Mortalha que teci, vem num lampejo
E joga sobre o solo este edifício,
A cada novo passo, o precipício...



55

Desnudando minha alma aqui me exponho
Um verme que passeia sobre a Terra,
A cada amanhecer bem mais tristonho
O peito em amargura se descerra.

Quem dera se tivesse vivo um sonho
Porém a realidade me desterra
E leva ao sepulcral reino medonho
Aonde a morte impera, a vida cerra.

No afago deste túmulo quem sabe
Terei a poesia que me cabe,
Lamento derradeiro de quem quis

Lutando contra a sorte desairosa,
Colher deste canteiro, última rosa,
Tentando ser ao menos mais feliz...



56


Desnuda em minha cama, deusa e fada
Insanidades tantas, vaporosas...
Amor, no coração faz a morada,
Cevando em meu jardim, divinas rosas,

Tomando deste céu a luz dourada
Envolta em luas claras radiosas.
A vida, nos teus braços, renovada,
Reflete fantasias maviosas.

Sabendo transformar em liberdade
O sonho de viver, eternidade
Invade com ternura o pensamento.

E bêbado de luz, não me detenho,
Amor que se mostrando em tal empenho
Engavetando em paz, o sofrimento.
Marcos Loures



57



Desfilo baboseiras entre rimas,
A par de tantas coisas que não vi,
O amor que procurava sempre em ti
Fingindo com metáforas, estimas.

Durante muito tempo tanto esgrimas
Que nada do que tive, eu percebi,
Abelha que o ferrão feroz; senti,
Mudando em tempestades calmos climas.

De tanto que falaste em meus ouvidos,
Os passos que eu tentei tão decididos
Perderam-se na noite mais escura.

Se eu digo estas verdades me desmentes,
No fundo já nem sei mais o que sentes,
O amor nos levará cedo à loucura...
Marcos Loures



58


Desfilas nos meus sonhos, deusa e diva,
Reinando sobre estrelas e luares.
Contigo caminhando em mil lugares
Minha alma se tornando mais altiva.

De todos os desejos não me priva,
O amor que frutifica em dois pomares.
Enquanto em tuas mãos tu me tomares,
A glória deste encanto está bem viva.

Que nada possa um dia, transformar
O sonho em pesadelo; agora eu peço
Vivendo a vida inteira sem tropeço,

Mereço nos teus braços meu altar.
Olhando firmemente para ti,
O meu olhar mais belo eu descobri...
Marcos Loures



59


Desfilas nesta noite uma constelação
Desnuda em minha cama – estrelas derramadas,
Permitem que se tenha em cores, explosão.
Debaixo dos lençóis as chamas deflagradas

Explodem em desejo, a fome da paixão
Rendido a tal insânia eu rolo mil escadas
Tropeço no infinito e caio em tentação
Bebendo gota a gata em gozos e tragadas...

A fada já faz cena em arroubos sutis,
Fagulhas acionando incêndios sensuais
Posseiro deste enredo, eu sinto-me feliz

Arrombo uma porteira, invado o matagal,
Na sanha que se mostra, eu quero sempre mais,
Tocando e descobrindo este teu mapa. Astral...


860

Desesperança marca em tatuagem
Uma alma em desencanto, frágil, fria.
Nos versos de uma bela poesia
O amor preconizando uma miragem

Que trague farta cor para a paisagem
Que o sonho mais sereno quer e cria.
Eu sei que tanto amor se fantasia,
No fundo, uma paixão, mera bobagem.

Porém não custa nada imaginar
Um mundo mais feliz. Um novo lar
Protegido dos cortes e navalhas.

Encalho esta esperança nos teus portos,
Não quero ter meus sonhos, todos, mortos,
Depois de tantas lutas e batalhas.
Marcos Loures



61

Desesperadamente caos, inferno.
Vou paradoxalmente mais feliz.
Amor que não cultiva nunca eterno,
Rondando a tempestade, por um triz...

Veneno que sorvemos, mata terno.
Soturnas violências, foste atriz...
O palco anunciava longo inverno,
Procelas abismais, mar infeliz...

Não vejo nem pressinto solução,
Os ermos descaminhos, nosso gozo...
O vento transportando a podridão.

No beijo capcioso uma sangria,
Os dentes penetrando, jogo, bozo...
A mão que chicoteia, acaricia...
Marcos Loures


62

Desfolho meu olhar sobre esta imagem
Da ausente criatura que foi minha.
Nas mortas horas volve esta miragem
Que mesmo num olvido, descaminha.

Subindo estes degraus, leda paragem
Num átimo, uma esperança se definha
Por mais que outras roupagens, sonhos trajem,
Cerzidos com as mesma e velha linha.

Intuíra ser bálsamo: mentiras.
Embalsamado enredo tu me atiras
E em tiras vai puindo uma ilusão.

Vencido em insistência, sou retalho,
Contra a saudade; tolo inda batalho,
Porém percebo tudo inútil: vão...



63

Desfilo um emaranhado de vontades
Ardentes fogaréus sem recompensa.
Assisto ao desfilar atrás das grades
À fantasia; alma seguiu propensa.
A moça tinha raras qualidades,
Fortuna em possuí-la? Foi imensa.

As coxas mais roliças e gostosas,
Na fúria inesgotável dos quadris
As noites sempre são maravilhosas;
Sorrisos generosos e gentis,
As mãos sem ter limite, audaciosas,
Fizeram-me decerto mais feliz...

Porém escravizada pela estética,
A sílfide desfila hoje, caquética...



64

Desfilo nos teus olhos, meu abrigo,
Pois sei que assim terei meu pensamento
Liberto, sem tortura ou sofrimento,
Andando mundo afora, irei contigo.

Um sonho deslumbrante que persigo
Fazendo deste mundo um monumento
A quem não mais prescinde de um momento
Contando com um colo sempre amigo...

Vestindo a fantasia da emoção,
Rasgando os velhos trapos dos enganos.
A vida nos trará em novos planos,

A pura sensação de liberdade,
Que encarna bem mais fundo o coração
Nas tramas mais sutis de uma amizade...



65



Desfilo meus fantasmas sob olhares
Curiosos. Platéia em gargalhadas,
As gralhas do passado, revoltadas
Pululam, invadindo-me aos milhares.

Aonde imaginei ter meus altares,
Apenas ilusões desfiguradas,
Vorazes criaturas em lufadas
Derrubam tais espectros, vêm aos pares.

E bebem do cadáver cada gota
Do sangue que se espalha pelas ruas.
O verso que perdeu sentido e rota

Vagando entre as estrelas, perde o senso.
As hordas de esperanças morrem nuas
Deixando como herança, um vão imenso...
Marcos Loures



66


Desenhos construídos, bem diversos
Da dura garatuja que apresento.
Não quero mais beber deste teu vento
Nem rumos que sorriam; tão dispersos.

Os olhos do castigo estão imersos
Jogados nos porões do sentimento,
Se às vezes te surpreendo num momento,
Garanto mais honestos os meus versos.

Não tendo nem saída nem remédio,
Eu não suporto assim, terrível tédio
E como a apodrecida sobremesa.

Franqueza se é demais, eu sei que assusta,
A roupa que me cabe, sendo justa
Permite na verdade uma defesa.



67

Desenho que demonstra o raro altar,
No corpo de quem amo; tatuado
Incide num momento abençoado,
Matiza em maravilha, já sem par.

O quanto nosso amor sabe encantar
Respalda cada dia anunciado,
Qual fora amanhecer ensolarado
Mergulhos que perfaço no teu mar

De amores infindáveis, reluzentes,
Nas tramas sem igual, iridescentes
Legando ao meu passado um vil martírio.

Nas sanhas desse amor, garbo e delírio
Minha alma engalanada se extasia
Traduz, enamorada esta alegria...
Marcos Loures



68



Desenho nosso nome em nuvens alvas
Que passam em desfile pelo céu,
Montanhas tão distantes, belas calvas,
Azulam horizonte em claro véu.
Percebo as alegrias todas salvas
Distantes de um vazio mais cruel.

Nas sombras que derramas pelas ruas,
Os rastros dos meus sonhos desfilando.
Na claridade imensa, sóis e luas,
Belezas e magias redobrando.
Quais pássaros, teus passos... Tu flutuas;
Despertas meus desejos. Até quando?

Pergunto a cada nuvem sem resposta,
Deixando uma esperança assim, exposta...



69



Desenho no teu corpo mil imagens
Sobre esta tela rara, bela e nua...
Persisto como visse em tais miragens
Formatos tão brilhantes, plena lua..
São barcos, mares, lindas ancoragens,
No porto em que meu sonho já flutua....

Nos montes, fontes, ruas e caminhos,
São vales, são montanhas, depressões...
Os dedos com as tintas buscam ninhos,
Matizes delicados, turbilhões...
Com beijos, aquarelas e carinhos,
Prazeres, arrepios, furacões...

Depois, a bela fonte em água pura
Bebendo desta tela... uma loucura...



870


Desenhas; no meu corpo teus afrescos
Marcados com batom em lábios quentes.
Decifrando vontades, arabescos,
Explodem em prazeres mais urgentes.

Nos sonhos mais profanos e dantescos
Tu surges em volúpias envolventes.
Loucuras deste amor canibalesco
Que entorna-nos vorazes e contentes.

Fazemos mil caminhos impossíveis
Em trilhas tão fogosas, sem ter siso.
Em posições diversas, incabíveis,

No gozo que renova a mocidade,
Numa explosão de tal ferocidade,
Invado, de repente, o paraíso...



71


Desejo-te em total cumplicidade,
Além de um simples caso, muito mais.
A bela namorada que jamais
Permitiria o medo e a falsidade.

O amor quando nos toca de verdade,
Vencendo calmamente os vendavais,
E enquanto nos delírios sensuais
Não se perde em tolices, veleidades.

Andando pelas ruas da alegria,
Percebe cedo os becos, armadilhas,
E quando em mansidão, comigo trilhas,

Derramas suavemente poesias,
Clareias com teus lumes, as esquinas,
Sabendo que com jeito, me dominas...



72


Desejo-te deveras, não duvide,
E mesmo quando ausentas, eu te sinto,
O que julgaras longe, mesmo extinto,
Agora sobre nós, divino incide.

Assíduas fantasias que povoam
O coração artífice dos sonhos,
Os dias poderiam ser risonhos,
Por mais que as alegrias na alma doam.

Acendo a luz no túnel quando eu ouço
O teu convite à festa que ora anseio,
Legando ao torpe olvido, um vão receio

De ter como uma herança, o calabouço,
Calando bem mais forte esta certeza,
Exponho o sentimento em farta mesa...



73


Desejo-te demais, e nisso eu ponho
O barco dos anseios e vontades,
Desnudos corpos bebem claridades
E vivo neste instante um raro sonho.

E quando a fantasia eu te proponho,
E sinto que em loucura tu me invades,
Rasgando o coração, esqueço as grades
E vago em teus delírios. Vou risonho.

Sugando assim o mel de teus prazeres,
Sem nada que pudesse me conter,
Vivendo tão somente por viver

Banquete desfrutado em mil talheres,
Sem cercas que me impeçam, chego a ti,
Estrela que em delícias concebi...


74


Desesperação toma toda a casa
Não deixa nem meu peito sossegado.
Vertido numa imensa e lenta brasa
Vivendo sem sentido, magoado...

Sabia que virias mas não quando,
Amor quando no outono desespera;
O tempo simplesmente vai passando,
Deixando bem distante a primavera...

Parece que é o estio que provoca
Tentando não morrer no frio inverno,
Saudade via tomando toda a toca,
Fazendo dessa vida o meu inferno...

Mas sinto que não posso mais sonhar,
Inverno me impedindo de te amar...



75


Deserto, na savana, em meio a tantas cores...
Um peito enamorado em busca de um socorro.
Um leão corre solto... As matas, suas flores.
Estou apaixonado! Em braços mansos morro...

Lembro-me da menina, uma deusa angolana!
A vontade de voltar, o meu coração manda.
Distante mar me traz saudades, fome, gana;
Vontade de viver o coração comanda...

Distante, no Brasil, um verso doce faço;
Pensando neste amor, amor que lá deixei
Quem dera viajar rasgando todo espaço
Mergulhando encontrando aquela que busquei,

Deitada, mansa, estrela bela, minha, nua...
Rainha em plena areia, amando sob a lua...



76



Desertei meus dias de tristeza
Nos braços desta amiga que encontrei
Deixando sempre um rastro de beleza
Num mundo aonde em paz imaginei

Que a vida se mostrando com certeza
Melhor e bem mais forte sendo a lei
Aquela que por vezes procurei
Servindo de alegria e de defesa.

Desdéns e sofrimentos, tais heranças
Deixadas pelos tempos que se foram,
Em outro ancoradouro já se aportam,

Raiando no meu peito as esperanças
Que sabem do valor de uma amizade,
Na plenitude imensa, a liberdade...


77



Desenhos do teu rosto em cada canto,
Fotografia clara da esperança
Que toma minha vida em tal encanto,
De um amor que a saudade ainda alcança.
Na nossa casa simples, de amianto,
O que restou servindo de fiança.

Qual rio que, em nascente, já secou,
Só deixando o vazio em suas margens,
Assim também aqui tudo ficou
Lembranças que parecem mais miragens.
Tomando todo o quarto e o que inda sou.
Gigantes, discrepantes defasagens...

Mostrando que já fui feliz um dia,
Lembrando que existi: fotografia...



78



Desejos que se fazem mais vorazes,
Em toques mais sutis, lábios e bocas.
Sentidos se enlouquecem quando tocas
Carinhos que trocamos bem audazes.

Prazeres e vontades em que aprazes
Em corredeiras belas, fontes loucas,
Jogadas pelo chão, lençóis e roupas,
Devolvo todo o sonho que me trazes

Inflamamos a noite, resolutos,
Na sensação de sermos absolutos
Num êxtase divino e sem fronteiras.

Depois de conhecermos o Nirvana,
A noite se permite soberana
Trazendo para o quarto zil lareiras...
Marcos Loures



79



Desejos que se encontram sem pudores,
Viagens por estradas delirantes,
No ritual sublime dos amantes,
Diamantinos ritos multicores;

Seguindo o teu caminho aonde fores
Cenários; com certeza, fascinantes,
Em meio aos teus convites provocantes
Celebro a maravilha dos amores.

Num êxtase supremo, o Paraíso,
Que a cada novo beijo miro e viso
Teimando ser possível ser feliz.

Assim, dois navegantes sem fronteiras,
Fazendo das paixões nossas bandeiras
Tornando a nossa vida menos gris...


880


Desejos que se alinham, em partilhas.
Das bocas se buscam apressadas.
Contornos delineiam maravilhas
De todas as vontades conquistadas.

Exílio do prazer, tua nudez,
Beber deste licor delicioso...
Tomado por total insensatez
Guardando em minha boca todo o gozo...

Teus montes e teus vales, teu relevo,
Percorro em manso passo, explorador.
Nem mesmo um simples canto não relevo,

Tocando com meus lábios, cada flor...
No orvalho de um jardim tão delicado,
Eu mato a minha sede, apaixonado...


81


Desejos que me tomam, delirantes
De ter tua nudez em minha cama.
Passeios no teu corpo tão vibrantes
Acendem toda noite imensa chama

Marcando esta vontade, dois amantes
Que a gente só conhece quando se ama.
Carinhos tão profusos, transbordantes
Vem logo que teu homem já te chama....

Eu quero me adentrar em cada senda
Deliciosamente umedecida
Caminho sem ter pedras, se desvenda

E mostra meu destino, o teu prazer.
Mulher que desejei por toda a vida
Agora em meu abraço, entorpecer...
Marcos Loures



82


Desejos que eu bem quero e me segredas
De toda a poesia que eu fizer
Deixando as amarguras cegas, ledas,
Sentindo o teu perfume de mulher

Descreves com teus lábios nossa sanha
Tocando a nossa pele em arrepios,
Vontade de te ter tanto me assanha
Envolto em teus prazeres, gozos, cios.

Somando nossos corpos, sem fronteiras
Podemos vislumbrar o paraíso
Além destas vontades costumeiras
Inigualável sonho sem aviso

Trazendo este recado tão amável
Da eterna juventude, inesgotável.



83



Desejos que em lirismo são divinos,
Palavras sedutoras, sensuais,
Querendo me aportar em manso cais
Encontro em teus carinhos, meus destinos.

As rotas que tracei, sem desatinos
Encontram nos teus braços, tanta paz,
Embora em minhas veias tropicais
Às vezes os meus versos não são finos

Porém eu te proponho amor sereno
Com tal sofreguidão de quem adora,
No vinho, sei que há curas ou veneno

Depende da dosagem que se der.
Eu quero neste instante, ter a aurora
Maravilhosa em forma de mulher...
Marcos Loures



84

Desejos que desejas para mim,
Amor ou dor intensa em vago frio.
Percorro nos teus olhos o vazio
E bebo cada gota até o fim.

Demônio se disfarça em querubim,
Distrai o meu caminho enquanto crio
O tempo de sonhar, inferna o estio
E tudo corroendo. Sempre assim.

Dos dardos que me lanças, teu veneno,
Que mata por insano, louco e pleno,
O fogo da paixão não me comove.

Por mais que tu prefiras a ferida,
A volta desde agora concebida,
Fazendo que, quem lance, também prove.
Marcos Loures



85



Desejos meus, carnais percorrem grutas,
Singram bocas, respiros e gemidos...
Sussurros, nos espasmos, nos sentidos;
Vão dominando cada assalto, lutas...

Buscam o complemento, nas astutas
Cartadas. Cada novo tom, ouvidos
Abertos, sinfonias, som, batutas...
Nesses livros deveras versos lidos...

Catedrais, orações, partilha, reza...
Todo grande desejo que se preza
Traz a sensação louca, divinal...

Não permite nem dúvidas nem medos...
Devora, audaz, não restam mais segredos,
Todo desejo prima bem e mal...
Marcos Loures



86


Desejos me tomando em noite clara
Deitado em minha cama, vejo a estrela
Que em sonhos farejando, se revela
Além do que eu sozinho imaginara.

A vida que em outrora fora amara
Agora se tornando bem mais bela,
Somente por poder sentir e tê-la
Roçando a minha pele, já dispara

O peito em mil vontades, seduzido,
Num átimo em divino frenesi,
Percebo que sonhando chego a ti

Nos braços de um desejo, conduzido
Beijando tua boca em noite imensa,
Sentindo do prazer, a recompensa...


87

Desejos e vontades que se trocam
Em versos e palavras delicadas,
Vontades que se fazem desejadas
Em corpos que se buscam e se tocam.

Meus olhos te encontrando se deslocam,
Procuram nos teus olhos as escadas
Aos Céus. Por mim, bastante procuradas.
Os teus, neste momento, me provocam

Fugidios, mirando em outro espaço
Deixando tão somente um leve traço
De olhar já se esgueirando de soslaio.

Implorando atenção, tu logo ris,
E neste gesto então; quando me traio
Declaro: finalmente, eu sou feliz!
Marcos Loures



88


Desejos violentos insensatos...
Vontade de tocar teu corpo inteiro.
Beber de doce fonte em teus regatos
E ser vulcão em lavas, gozo e cheiro.

Numa loucura intensa tropical
A pele tão suada, mil prazeres.
Viajem por teu corpo sensual
Além de todo o fogo que acenderes

Sentir teu gozo quente sobre mim,
Matar a minha fome em línguas, dentes,
Bacantes sensações que sem ter fim
Se mostram mais audazes, tão urgentes

Sonhar além do amor, nossa paixão
Que é feita na ternura, em furacão...


89~


Desejos tão vaidosos e profanos,
Habitam nosso quarto a noite inteira.
Dos gozos mais divinos e mundanos
Da forma mais gostosa e corriqueira
Os beijos e delírios mais insanos,
A noite sempre é nossa companheira...

Fazendo tanto amor sem piedade,
Bebendo de nós dois, nada separa...
Num raio trovejando claridade,
No gosto desta boca doce e rara;
Tornando nosso amor, cumplicidade
Num jogo que começa e nunca pára...

Abrindo calmamente tua blusa,
Os seios maviosos, deusa, musa...



890

Desejos que se ofertam quando deitas
Proliferam prazeres. Não me esqueço
Do quanto aos nossos sonhos obedeço
Enquanto com certeza já deleitas.

Carinhos em carícias tão perfeitas
Não deixam que se tenha algum tropeço
Se aquilo que tu dás eu te ofereço
As noites serão sempre satisfeitas.

Reflexos destes gozos repercutem
Por mais que nossos risos já se escutem
A vida nunca cessa de querer

Vibrar um paraíso que não cessa
Sabendo ser além de uma promessa
Encanto de uma vida, só prazer..



91


Desejo te encontrar em lua cheia
Vagando, um vaga-lume coração
Que vive tão somente e se incendeia
Por ter os teus anseios de emoção.

O gozo em que este fogo imenso ateia
Reparte sem limite a sedução.
Eu quero te tomar pura na veia
Num vício que entorpece. Esta paixão!

Na lua; caminhantes vagam leves
Reflexos de uma luz que não termina.
Amor se determina em sonhos breves

Ao partilhar meus passos com os teus,
Percebo quanto vida sempre nina
Quem ama e nunca pensa num adeus...
Marcos Loures



92


Desejo te encontrar em calmo prado
Talvez na tempestade de verão,
Há tanto tempo sinto estar guardado
Somente para ti meu coração.

Queria tanto estar sempre ao teu lado
Estrela que me guia na amplidão,
Mesmo distante estou enamorado
Da prenda que se fez plena emoção

Poder te acarinhar, deitar contigo
Amores tão imensos, que sem fim.
Cometa, teus sinais eu já persigo

Encontro todo o brilho dentro em mim.
Vem logo que meu tempo de viver
Se esgota pouco a pouco, bem querer....
Marcos Loures



93


Desejos e prazeres se confiscam
Nas chamas que se querem e se buscam,
Em lutas sensuais carnes se riscam
E os brilhos sem limites sempre ofuscam.

O quanto determina cada ensaio
No jogo principal, ferventes ritos.
Deitando esta vontade, eu já me espraio
Entregue aos teus destinos, sonhos, mitos.

Fomentos e delírios, riso farto,
Momento inesquecível, fogaréu...
Lareiras incendeiam todo o quarto
Trazendo sobre a cama imenso céu.

Depois de tanto tempo quase agônico
Amor se mostra em canto harmônico...



94



Desejos e loucuras sem iguais
Nas rendas organdis, em transparência.
Dançando em mil requebros sensuais,
Amor com maestria na regência
Permite que eu navegue sempre mais,
Atrás da louca insana incandescência.

Adentro as casamatas, tocas, grutas,
Vencendo qualquer tipo de defesa,
Enquanto sem vontades finges lutas
A noite salpicada em tal beleza
Promete o paladar de doces frutas,
No prato principal e sobremesa.

Perpetuando o gozo que não cessa,
Amor a sacra face da promessa...
Marcos Loures



95


Desejo tua boca a cada instante
Sentir a maravilha de poder
Tocar teu corpo inteiro com prazer
Momento tão sublime e fascinante.

Mulher plena em beleza, fascinante,
No encanto sem igual saber te ter,
Assim, no amor infindo eu passo a crer,
No brilho sensual de um diamante.

Perceba com carinho que estes versos
Matando os sofrimentos tão diversos
Aos quais eu me entreguei há tanto tempo.

Nos braços sedutores de quem amo,
Esplêndido raiar o sonho trama,
Vencendo qualquer medo ou contratempo...



96


Desejo teu amor, bocas e manhas,
Tamanhas as vontades que me dás,
Na paz que prometida, tantas sanhas;
Arranhas e te peço: quero mais....

Demais amor não teme um manso peito
Do jeito que quiser estou aqui
Senti nosso momento satisfeito
Direitos ao prazeres, me esqueci...

Vivi tão molemente do teu lado
Adoro a cada dia teu amor
Mordendo lentamente, apaixonado
Aprisionado adoro meu feitor.

Refeito deste susto que me dera,
Agora tenho em ti, a mansa fera...


97


Desejo ter um pouco de sossego
Deitado no teu colo, sem ter pressa.
De tanto que esperei pelo aconchego
Eu temo que te canse mais depressa...

Não deixe que eu me perca nos ciúmes
Não deixe que eu me esqueça destas datas.
Escute; paciente, os meus queixumes,
Não deixe que eu me perca em tuas matas...

Sou parvo, tantas vezes sou obtuso,
Mas quero teu amor, como o desejo!
Tu sabes, meu passado foi recluso,
Vivendo em plenitude, enfim, me vejo...

Permita, meu amor, essa alegria,
Que trouxe, em minha vida, a fantasia...



98

Desejo te tocar tão brevemente
Fazer de tua toca o meu abrigo,
Sorver todo o prazer molhado e quente,
Sabendo me esconder se vem perigo.

Desejo penetrar tuas entranhas
Forrando tua gruta com doçura,
As sedes, nossas fomes são tamanhas,
Se enredam nessas teias com ternura...

Eu quero te beber, gota por gota,
Até secar a fonte em jorro e gozo,
Deixar-te em plenitude, quase rota,
Nesse perdido olhar, corcel fogoso.

Molhado no rocio de prazer
Na noite que jamais vou esquecer!



99


Desejo te rever amada minha
Perpetuando em mim, uma saudade
De todo o grande amor, que ao certo tinha
No tempo em que vivi tranqüilidade,
O certo é que perdi o rumo, a linha;
Mas ajudar-me assim, Senhor, quem há de?

Caminho natural do pensamento
No puro afeto feito, com certeza
É ver em teu semblante tal tormento
Que negue de per si, tua beleza.
Amada; não pensei um só momento
Usar desta mentira, uma torpeza.

Tu és minha rainha e nunca nego,
Mesmo distante amor por ti carrego...


4900

Desejo que tu sintas desde agora
Suave paladar que já se impera
Na lei que nos domina vida afora:
Amor que nos amores amor gera.

Se é dando que eu recebo muito mais,
Nas cores deste sonho eu me matizo,
Dos gozos mais incríveis, triunfais
Multiplicado amor contabilizo.

Em progressão geométrica, infinitos
Prazeres nunca devem ser guardados
Corações solitários são aflitos
Ao sofrimento sempre malfadados.

Por isso, peito aberto em pleno vento,
Jamais eu negaria um sentimento


Marcos Loures



01


Desejo que incendeia; acesa chama,
Que toma nossos corpos, nos invade.
A tua voz sedenta já me chama,
Não posso resistir. Amor quem há-de?

Enveredar meu mundo em tua trama
Vem logo, não permita que se tarde
Tanta alucinação em nossa cama,
Amor que nos sustenta, queimando, arde...

Vestidos da nudez tão desejosa,
Amor tão envolvente e vigilante,
Na forma sensual e tão gostosa,

Da fêmea tão esguia e delicada,
Vivemos neste templo, amor bacante
Minha alma na tua alma seqüestrada...



02


Desejo que este amor invada o coração
E marque carinhoso, em cicatriz risonha
Deixando para trás qualquer desilusão
E a glória- ser feliz - nos teus braços se ponha,

Desejo que o sorriso, em mansa sensação
Afaste do caminho a dor fria e medonha
Desejo, minha amiga, o lume do perdão
Que ensina ao caminheiro o rumo em que se sonha.

Que a vida te proteja ou sempre te alivie
Que o mundo a cada dia ensine a ser feliz
Que mesmo num inverno o tempo sempre estie

Que saibas enfrentar o riso e a tempestade,
Que o manto da verdade afaste a falsidade
Desejo, finalmente, a ti, tudo o que eu quis...


03


Desejo que esta festa seja eterna
E traga sempre a luz que me irradias,
Enquanto existirem poesias
Uma alma encantadora não se inverna.

No teu aniversário, amor lanterna
Guiando cada passo em alegrias,
Sabendo decifrar, caminhos, vias
Que levem à paisagem calma e terna.

Vencer em paz qualquer dificuldade,
Cevando a cada dia esta amizade
Que traz a quem conhece-te o prazer

De ter a luz suprema feita em glória,
Razão de se poder crer na vitória
Do amor e num louvor o enaltecer...
Marcos Loures



04


Desejo que a verdade te agracie
Com os beijos delicados deste amor
Que nada neste mundo te resfrie
Intensos os desejos com fervor...

Acostumaste a voar sem ter as alas
Que, em veros versos sempre mentes.
As luas que pretendes açoitá-las
Penetram calmamente nossas mentes.

Mas foges destes brilhos sem saber
Embora somos feitos deste sal,
A vida que transtorna cada ser,
Em dívidas da sorte, no final...

Na dúvida que corta nosso canto,
Abrace nosso amor, em puro encanto



05


Desejo o teu sorriso, o teu prazer,
Com toda sutileza necessária.
Salivas e suores vou beber
Na fonte delicada e temerária

Embalsamando os sonhos de alegria,
Vertendo em gozo pleno, com preguiça.
Vivendo esta fantástica euforia
Rasgando a tua roupa, o fogo atiça.

Balanço destas ondas, teus quadris,
Encaixes tão perfeitos, prazerosos,
Repito e novamente peço bis
Usufruindo assim de loucos gozos.

Desejo tão somente eternidade
Nas tramas deste amor/felicidade...



06


Desejo tão profano que nos move
Nas línguas que se buscam, destempero.
A vestimenta inútil se remove
Neste carinho enorme, com esmero.

Exploro cada ponto, sem perguntas,
A silhueta exposta, nua e bela.
As mãos que se percorrem, leves, juntas,
Toda a loucura em gozo se revela.

Degusto cada gole do teu ser,
Entranho teus mistérios e segredos.
Nesta cascata amada, teu prazer,
Delícias que me encharcam, boca e dedos...

Em cada gota encontro tal magia,
Inundação divina de alegria...



07


Desejo tão profano e animal
Tomando nossos corpos, vou faminto...
Sorvendo este prazer de mel e sal,
Em cores variadas eu me pinto
E sinto o teu perfume sensual,
Me inebriando sempre teu absinto...

Tu danças, cavalgadas, noite ardente.
Na febre que nos toma, loucas horas...
Sentindo em tua boca cada dente,
Carinhos, mais carícias, tu me imploras...
E a cama se tornando mais fervente
Mais vezes, muitas vezes... me decoras...

E sinto tua gula mais audaz
No amor que a gente fez, e quero mais...



08



Desejo tão errante te procura
Estamos tão parceiros e distantes.
Na borda do caminho da amargura
Nas curvas das montanhas deslumbrantes...

Devíamos amar tão simplesmente
Quanto respiramos, sem perguntas...
As mãos se deslocando totalmente
Seriam bem mais fortes, quando juntas...

As pedras que carrego tão pesadas
Entranham em meus ossos, não me largam.
Os sonhos de manhãs mais orvalhadas
Em tantos palavrões mordem, afagam...

Mas saiba que eu te amei, porquanto te amo,
Por isso, dessa ausência, eu te reclamo!



09


Desejo tão aflito de te ver
Sentir o teu perfume nas narinas,
As minhas mãos suadas; te estender,
Nesta delícia sempre me alucinas;
Meus lábios te querem percorrer
Descobrir belas grotas, fontes, minas...

O calor que me invade, tentação,
Nesta angústia gostosa, te sentir.
Do teu corpo no meu, sofreguidão,
Um desejo tão grande a prosseguir
Nessa noite extasiada de paixão
Nossos gozos a ponto de explodir...

Esperando tão tenso; meu desejo
Só se acalma no teu primeiro beijo...
Marcos Loures



10


Desejo tanto este amor
Que se faz a cada dia
Transformado em poesia,
Traz somente a bela flor,

Vou contigo aonde for
O meu sonho, a fantasia
Verso a verso recompor
Todo o canto que existia

E que o vento da saudade
Muitas vezes, tempestade
Fez virar areia e pó.

Sinfonia feita encanto
Espalhando canto a canto
Não quer ninguém mais só...
Marcos Loures



11


Desejo que tu venhas já sem medo,
Com toda uma explosão em fogo intenso.
Ardendo no teu corpo, faço enredo
Do amor que tanto quero, sempre imenso.

Não deixe pra depois, vem logo agora,
Não quero mais deixar de ser feliz.
Se tantas vezes minha alma inda chora
É por que não teve amor que sempre quis.

Arder em tuas chamas, ser teu homem,
E penetrar teus sonhos com vagar,
Eu quero que meus braços já te tomem
Prometo uma alegria assim te dar.

Deixando as diferenças para trás
Querida, o que eu mais quero: amar demais...
Marcos Loures



12


Desejo nesta espera ser feliz
Esparso meus delírios pelo vento...
De tudo que na vida sempre quis,
Eu guardo teu amor no pensamento...

Espero tanto bem, nosso futuro,
Em flóreas sendas tramo meu caminho,
Amor que sempre fora assim tão puro,
Não posso permitir ser mais sozinho...

São tantas ilusões aqui cravadas,
Esplendorosamente, meu tesouro...
As horas sempre vãs, desesperadas,
Aguardam outro tempo, pleno em ouro...

Amada me perdoe se não traço
As letras deste amor em pleno espaço..



13


Desejo meu querido companheiro
Que o mundo se aproxime do teu sonho.
Num gesto mais sincero e verdadeiro,
Meus barcos nos teus braços sempre ponho.

Na rosa que plantamos num canteiro
Promessas dum porvir bem mais risonho.
Que o amor este divino feiticeiro
Afaste a solidão. Eu te proponho

Que leve bem mais leve a tua vida.
Num mundo mais gentil e sem segredos,
Distante das tristezas, velhos medos...

Na sorte que desejo repartida,
Um tempo assim refeito e sem maldade,
Em todo este poder de uma amizade.


14


Desejo mergulhar meu corpo em ti,
Usufruindo o gozo mais audaz.
Colhendo este prazer que enfim senti,
De tudo o que quiseres ser capaz.

Alçando meu desejo em tuas fontes,
Umedecidas ávidas, sedentas,
Entrando em grutas, furnas, belos montes,
Fornalha em explosões tão violentas.

Fazendo de teu corpo, o meu altar
Aonde possa sempre desfrutar
Do paraíso em vida toda noite.

A fogosa amazona galopando
Corcel que na loucura se entregando
Sentindo tua boca como açoite...



15



Desejo mais profundo e sensual
Roçando o nosso corpo, devagar,
Não tendo sequer pressa de chegar
Adentro este caminho sem igual.

Quem dera se pudesse um imortal
Tivesse eternidade a me tocar,
Voando em liberdade até chegar
O gozo mais perfeito, triunfal.

Sementes espalhadas pelo chão,
Causando ao reflorir, revolução,
Tomando num momento, céu e mar.

Arando com carinho cada lavra,
Usando o dom do sonho e da palavra
Sabendo quanto é bom, decerto, amar.
Marcos Loures



16



Desejo já pedindo que te veja
Batendo na janela do meu quarto.
Além de todo o bem que se deseja
Se faz assim desejo sempre farto.

Não vejo outro caminho que não seja
Aquele que me leva ao mesmo fato
Não falte esta vontade onde sobeja
Imagem resguardada num retrato.

No afeto que nos toca, não se engana,
É feito de carícias com certeza.
Desejos que se mostram deste jeito,

De forma mais audaz e soberana
Na certa se entregando cama e mesa,
No fundo o que desejo? Satisfeito...
Marcos Loures



17


Desejo esta nudez que sem receios
Adentra no meu quarto em noite mansa.
Com túrgidos mamilos, belos seios,
Nas tramas enlouquece em cada dança.

Aos poucos percorrendo os teus veios
Prazer inigualável já se alcança,
Com força e com ternura os meus anseios
Sobre tua nudez, amor descansa.

Qual Vênus maviosa, que em Carrara
Com mármores e perlas esculpida.
Em tua beleza alva, fina e rara

Trazendo para a Terra argêntea lua,
A boca te procura, distraída,
E louca, se estremece ao ver-te nua...


18


Desejo encontra em ti um manso albergue
E enquanto tu não vinhas eu sonhava
Com toda a fantasia que persegue
Aquele que sem gêiser quis a lava.

Asperges teu perfume por aí,
Dos ais que tanto faz ou pouco fez
Buscando o que deveras não perdi
O coração cedendo à insensatez

Mergulha nos ciúmes, tramas falsas,
O cais segue distante, frágil porto,
Não tendo mais cargueiros nem as balsas
Descalço esta emoção, e semi-morto

Abranjo com meus olhos o infinito,
E volto à sensação, frio granito...
Marcos Loures



19


Desejo desvendar cada mistério
Que escondes entre as pernas bronzeadas,
Fazendo deste gozo, ministério
Em meio a mil lambidas e chupadas.

Alçando a cada orgasmo um mar sidério,
Deixando tuas minas esporradas,
Na foda mais gostosa, um caso sério,
As horas vão passando assim, safadas...

Eu quero ter teu grelo em minha boca,
Sarrando o teu rabinho, meu caralho,
Sabendo cada ponto, cada atalho

Entrando mais faminto em cada toca,
Vem logo que eu te quero toda minha,
A deusa sem vergonhas, bem putinha...



20


Desejo desse amor tão mais bonito
que trama tantas noites sem receios,
ardendo tanto amor, em manso rito,
beleza, tanto beijo, ardentes seios.

o sol riscando brilhos neste azul
percorre tantos sonhos mais felizes.
estrela que navega norte e sul,
tramando desta vida seus matizes...

eu quero ser feliz, não mais me importo
com tempos, tempestades e temores.
apenas me entregar ao manso porto
que mostra tanto brilho nos amores.

amada como é bom estar contigo,
proteges destas dores, do perigo...



21


Desejo desnudar teus belos seios,
Intumescidos, loucos e sedentos,
Nos toques mais suaves, meus anseios,
Fragrâncias delicadas, pensamentos...

Entrar por tuas minas e teus veios,
Calando meus caminhos mais sedentos,
Deitando em teus cabelos, meus enleios,
Meus dedos te percorrem, calmos, lentos...

Nos rumos que me levam aos mistérios
Que tento desvendar, tua nudez...
Sabendo desfrutar gozos etéreos.

Carnais estes meus sonhos mais intensos,
Sangrando assim, total insensatez...
Momentos deliciosos, livres, tensos....



22


Desejo o teu desejo desde agora,
Melífera esperança de prazer.
Delírios que sobejos posso ver
No corpo que em ternuras já se aflora.

Beijar a tua boca sem demora
Sentir a tua pele, posso crer
Que mesmo tão distante te saber,
O fogo anunciado revigora.

Ao ter tua nudez, ser todo teu
O gozo deste encanto se verteu
Nas veias deste insano trovador.

E quando em explosão, num frenesi,
Orgástica loucura vejo em ti,
Derrame prazeroso de um amor...
Marcos Loures



23



Desejo o que desejas; meu amor.
Verter nosso prazer no mesmo jogo,
Que é feito sem vergonha e sem pudor,
Ardendo com certeza, insano fogo.

Do amor que a gente faz, encantador,
Na sanha de te ter, mas venha logo,
Não quero te perder, quero propor
Se necessário, falo mesmo em rogo

Que seja a companheira inseparável
Nas noites, madrugadas e manhãs,
Na fonte do desejo inesgotável,

Palavras e delícias, bons afãs
Suores, ferormônios, loucos cios,
De beijos e carinhos mais vadios...
Marcos Loures



24



Desejo o que desejas tão somente,
Vivendo cada sonho em luz intensa.
O amor quando promete a recompensa
Valoriza decerto esta semente

Plantada em nosso peito, toma a mente
E nela com carinho a gente pensa
Ganhando esta alegria que é imensa,
Do fruto magistral que se pressente.

Vieste harmonizando os meus caminhos
Usando como adubo, amor, carinhos
E sabes que cevaste muito bem

Mudando a direção da minha história,
Encontro nos teus braços luz e glória
Preconizando a luz que o dia tem...
Marcos Loures



25



Desejo nos tomando em tempestade,
Das gotas desta chuva, um rio intenso,
Formado em caudalosa imensidade
Que faço se somente em ti eu penso?
Amor vai me tomando de verdade
Num temporal divino, louco e denso...

As águas vão rolando em cachoeiras,
Inundam arrebóis, vales e margens,
As noites mais vorazes, sem geleiras
Permitem calorosas, as viagens,
As bocas se procuram sorrateiras
Invadem outros rumos e paragens...

E nesta enchente louca do desejo
A paz tão esperada, já prevejo...
Marcos Loures


26


Desejo neste teu aniversário
Felicidade plena em mansa paz.
Do mundo que se mostra temerário
Espero que consigas ser capaz

De ter amor, que é sempre necessário,
E quando em perfeição nos satisfaz.
Um dia a dia calmo e solidário
Trazendo a imensidão em sonho audaz.

Presente em tua vida uma alegria
Que viva, já permite um sonho brando.
A sorte renascendo a cada dia

E os lumes da esperança decorando
O céu com harmonia em azulejo,
É tudo, minha amiga que eu desejo!



27


Desejo aos meus amigos muito amor
E a paz tão redentora enquanto vida.
Antes do final, sempre um sonhador;
Quero felicidade dividida

Entre todos aqueles cuja dor
Por um momento cala uma saída,
Numa delicadeza, mansa flor,
Em perfumes e luzes revertida.

Que não se preocupem mais comigo,
Carrego minha cruz e não reclamo.
A vida, com certeza é um perigo

Inda mais se negamos dono ou amo.
E saibam, companheiros, fui feliz
Das chagas e feridas, cicatriz...



28


Desejo a ti: feliz aniversário
Que a vida te sorria mansamente.
O mundo tantas vezes temerário
Talvez se modifique totalmente

O sino rebimbando, o campanário
Está comemorando, pois pressente
Que este dia trará ao calendário
A marca de mudança e de repente

Se o homem perceber que nesta data
Alguém já poderá nos mitigar
A dor que se demonstra todo dia,

Assim a vida mostra e me arrebata
Trazendo mil motivos pra brindar
Com toda uma emoção, tanta alegria...



29


Desejo à flor da pele nos tomando,
Entregues ao sabor do forte vento,
Dando vazão assim ao sentimento,
Querida com certeza estou te amando...

Perdendo a direção e sem comando,
Nem mesmo alguma fuga ainda tento,
Bonança feita em forma de tormento.
Um vendaval fantástico audaz e brando.

Teu corpo como um cais tão aguardado,
Delírios cometidos sem pecado,
Da carne, seus apelos e vontades.

Farnéis abastecidos de prazer,
Sacias minha fome, posso crer
Que enfim conhecerei felicidades...
Marcos Loures



4930


Desejar cada momento
Do teu lado, meu amor,
Coração batendo lento
Descompassa em tal fervor

Tanto amor que me atormento,
No teu verso encantador,
Vou sentindo a mão do vento
Balançando cada flor

Ser só teu em noite clara,
Nosso amor que se declara
Ninguém pode mais calar;

Ao te ter bela e desnuda,
Meu amor: um Deus me acuda!
Dá vontade de te amar...



31

Desejo desfrutar da mesma fonte
Que tanto me seduz quando me excita
Descendo pêlos, montes, horizonte
A fonte tanto doce quão bonita..

Mergulho nesta fonte com vontade
De estar por todo o tempo com você,
Vivendo meu prazer com liberdade,
Liberto, lhe procuro mas cadê?

Dançando nossa dança mais profana
Na cama que queremos neste instante.
Amada como é boa dor que explana
E trama tanta fonte delirante...

Entrando nessa fonte sem pedir,
Vivendo nosso amor, neste ir e vir...



32


Desejo de te ter inferno e céu,
Cravando em tua boca meu carinho
Com fome e com ferrões te dou o mel
No látego desejo, de mansinho...

Respiro-te veneno e clorofila,
Sugando todo o doce que amargaste,
Na guerra, em plena luta, vais tranqüila
Do jeito em que na paz me infernizaste...

Somas que dividem, multiplicam,
No prisma genial da sedução,
Contradições fantásticas explicam
O fogo da loucura e da paixão...

Meu bem, na calmaria desta noite,
Te quero mel e fel, num doce açoite...


33

Desejo de ser teu; bela menina,
Na força soberana deste amor
Que espalha em nossos sonhos, mar e flor,
Ao mesmo tempo sangra e nos domina.

Intensa fantasia a se compor
Além do que a razão já determina.
Mudando a direção, transforma a sina,
Deixando uma emoção solta ao sabor.

Nos ventos que se fazem temerários,
Nos olhos que compõem uma alegria,
O quanto este querer demais se urgia

Demonstra quão possível ser feliz.
Buscando comum foz, mesmo estuário,
Contigo eu tenho tudo o que bem quis...
Marcos Loures



34


Desejo cada parte do teu ser
Embora tantas vezes nada eu diga.
Se trazes teu carinho com prazer
Certeza de que em mim amor se abriga.

Não posso e não consigo te esquecer
E quero que esta vida assim prossiga.
Bebendo desta fonte, podes crer,
Mas venha, por favor e então me diga

Se queres meu carinho e meu desejo
Na cama, no quintal ou neste quarto
Amor não é somente um relampejo

Precisa de constância e, na verdade,
Contigo todo o sonho que eu reparto,
Trará para nós dois; felicidade!
Marcos Loures



35



Desde a primeira vez quando te vi,
Desejo alucinante me tomou.
Ao te encontrar, em ti eu me perdi
Meu mundo nos teus braços, naufragou...

Eu quero-te, não nego esta vontade,
De ter teu corpo nu junto comigo,
E desfrutar prazer, felicidade,
Tendo em teu colo, todo o meu abrigo...

E penetrar teus vales devagar,
Teus seios em meus lábios... mansamente...
Descendo minhas mãos até chegar

Tua umidade amada, sempre quente...
Beber desta fonte, assim, termal...
Sorvendo cada gota, sensual...



36

Desculpe se te ofendo, minha musa;
Por vezes me esqueci do teu ciúme.
Não fiques assim tonta, tão confusa;
Não posso mais viver sem teu perfume.

A noite se demonstra cega, obtusa
Se não estás. Me perco num queixume,
Se foges de meus braços. Ó cafusa ,
Meus olhos necessitam do teu lume!

Tens no sangue, beleza duma Iara,
De princesa africana esta linhagem.
Rainha dos desejos, da coragem,

A vida te ilumina, jóia rara!
Amar e desejar-te: doce sina!
E m’honras com teus beijos, Albertina!


37


Desculpe se repito o mesmo tema,
Falar de amor parece ser bem fácil,
Embora, necessário ter, da gema
A sensação dourada de ser grácil.

Não vejo amor tão simples como um lema
Por mais que tantas vezes eu disfarce-o
Não mudo, nos meus versos, nem um trema,
Nem quero e nem permito que isto embace-o;

Portanto, meu amigo, mil escusas,
Se tantas vezes canto em mesmo tom,
Prefiro me encantar com belas musas,

E demonstrar, sem medo, as emoções;
Não digo que isso seja ruim ou bom,
Que responda Vinícius ou Camões!



38


Desculpe se pareço-te sarcástico,
Sou fruto deste mundo que me deste...
O rosto que fingiste segue plástico,
O medo de viver gerou a peste.

Nos saltos que tentei, pareço elástico,
O franco atirador, foi simples teste...
O prazo já venceu, isso é fantástico,
O tomo que hoje li, foi inconteste...

Recebas um carinho como um tapa,
Dilaceres a mão que não te roça,
Dos livros que te dei, sabes a capa,

As hortas se definham, sem verduras...
A casa que vivemos, é palhoça,
As noites que me deste são escuras...
Marcos Loures



39



Desculpe se pareço sensual,
Amiga, na verdade eu nada sinto,
Senão uma certeza aonde minto,
E faço por fazer meu ritual

De simplesmente andar noutro bornal,
Aconchegado ao corpo onde pressinto
Calor que se quiser, virando absinto
Trará um longo porre genial.

Porém como um falsário que se entrega
Aos mares de um corsário sem pudores,
No fundo minha amiga, as minhas dores

Caminham sem destino em rota cega.
A par do que não sou eu reconheço
Que a falta de visão gera o tropeço.



4940

Desculpe se o lirismo te incomoda,
Estúpidas palavras que eu te digo,
Num canto que faz fora de moda
Encontro ainda um resto, um fim de abrigo.

O tempo não descansa e sempre roda
Não tendo mais o visgo em que me ligo
Talvez a solução se faça em poda
Matando um verso inútil, tão antigo.

Mas teimo nessa imensa babaquice
Que sei que te incomoda, minha amiga
De tudo o que eu disser e já te disse

No romantismo tolo me arremeto
E falo desta forma vil e antiga
Fazendo um arremedo de soneto.



41



Desditas esquecidas no passado,
Em noites que vieram; mas não foram...
Querendo teu amor sempre ao meu lado,
Meus dias, t’as promessas comemoram...

Não vejo mais ausências nos meus passos,
Nem vejo mais as trevas que vivíamos,
Nem temo mais dilúvios nem fracassos;
Amores que, te juro, nem sabíamos...

Eu sinto remoçar meu coração,
Depois de tanto tempo sem ter nada...
Vivemos nosso amor, sem solidão,
Entregue nos teus braços, minha amada...

Eu quero o gosto doce do prazer
Que nos teus lábios sei reconhecer...

42


Desdita
Azar.
Se dita;
Sangrar.

Maldita;
Teu mar
Reflita
Luar...

Que a sorte
É vária;
Meu Norte

Verdade
Hilária...
Quem há de?



43

Desdenho esta notícia que me trazes
Falando de um momento que passou,
A lua se derrama em quatro fases,
Porém a nossa lua já minguou

Enquanto em outros sóis te satisfazes
Eu vejo em que buraco amor entrou
Os gestos muitas vezes são falazes,
Atesto o que decerto não mais sou.

Retenho as tuas marcas tatuadas,
Somente cicatrizes, nada mais.
Decoro dos amores tabuadas

E tenho a solidão por sobremesa.
Por mais que estes meus versos são banais
Não quero ser somente caça e presa...
Marcos Loures



44


Desdenhei os teus sonhos e recados...
Pela vida, cruel e indiferente...
Os olhos que te viram, vão cansados
A morte se aproxima, lealmente...

Os bosques do prazer, incendiados...
Sobraram carcará, lobo, serpente,
Vivendo nas penúrias destes cardos.
Sonhar deixou de ser vital, urgente...

As asas do albatroz não mais sustentam
Meus braços, sem querer perdendo o vôo.
Os medos que tivemos não agüentam,

Os erros cometidos, não perdôo...
Desculpe, por favor, tanto desdém...
Os restos que carrego, sou ninguém!
Marcos Loures



45


Desde que em mim nasceste simplesmente
Eu cuido com presteza e sentimento.
Não quero te perder tão de repente,
Só quero proteger-te deste vento...

Nasceste flor bonita do cerrado,
Granaste nesse amor num novo fruto,
Tu sabes como estou apaixonado,
Do amor e do desejo, sim, desfruto...

Ó flor que imaginei, flor ideal;
Não deixe que esse frio despetale;
És bela e teu sorriso divinal
Que o amor que já brotou nunca se cale!

Do fruto que colhemos, nossos sonhos,
O gosto de outros dias mais risonhos...



46


Desde que ela se foi não tenho vida,
Escute, por favor, amigo meu.
Aquela que eu pensava tão querida
Aos poucos, no meu mundo, se perdeu...

Levada pelo vento da paixão,
Deixou aqui por dentro quase nada,
Não creio que eu encontre solução,
Minha alma aqui ficou, abandonada...

Não vejo mais prazer e nem vontade,
Nas coisas que fazia com prazer,
Amar como eu amei, tanta verdade;
Perdido nesta angústia vou morrer...

Desculpe se me mostro por inteiro,
Amigo é pr’essas coisas, companheiro



47


Desde a primeira vez, quando te vi;
Percebi que jamais te esqueceria...
Depois, vivendo amor tão grande em ti
Conheci, com certeza, uma alegria.

Em todo o teu carinho percebi
Que a vida, neste instante, sorriria.
Pois todo o bem da vida estava ali,
Ao lado da mulher que eu bem queria...

Nossa primeira noite num motel,
As roupas espalhadas... Belo sonho
Levando em fantasias para o céu...

Os corpos misturados... Que prazer!
O dia mais feliz e mais risonho...
Nossa primeira vez; como esquecer?



48



Desculpe se eu pequei, foi erro meu
Assumo meus defeitos, mas te adoro!
Meu barco no teu cais já se perdeu
Amor que tanto quero; agora imploro.

Quem dera se pudesse ser Romeu,
Defeito que carrego; isso eu deploro,
Impedem que a pureza invada o céu.
Amor que tu declaras, comemoro...

E sinto bem mais próxima uma esperança
De ter um dia, enfim, felicidade.
A noite em poesia já se avança

Riscando o véu das nuvens um cometa
Traçando neste espaço a claridade.
Trazendo pros meus sonhos: Julieta.



49



Desculpe se eu errei; minha querida,
Não posso mais ficar sem ter teu canto.
Teu brilho em si, redime minha vida,
Tu és toda a certeza de um encanto.

Não penso numa triste despedida,
Te quero, muito além das forças. Tanto!
A mão que te acarinha, distraída,
Perdeu-se... O que fazer deste meu pranto?

Amar também se faz no perdoar,
Os erros cometidos, tão imensos,
Servirão p’ra aprender a te adorar

De forma contundente, muito além...
Meus dias vão passando mortos, tensos,
Até à morte luto por teu bem!

4950


Desculpe se demoro meu amor
O medo de temer a tempestade
Na peste que repente já me invade
A morte se repete sem pudor.

Nas hordas espalhando tanto horror
Que nunca mais terei a liberdade
Sem ter a lua vago na cidade
A mocidade traz prazer e dor.

Se bebo não concebo nem recebo
Amor que se traduz em tanto sebo
Meus livros esquecidos para espanto

Depois que tu vieste, na fogueira
Se todo dia for segunda feira
Prefiro demorar um outro tanto!
Marcos Loures



51


Desculpe se chamei-te de criança,
Defesa, simplesmente, nada mais,
Guardando o teu sorriso na lembrança
Com medo de, na vida, perder paz,

Chamar-te para a festa e para a dança
Que à gosto a nossa vida sempre traz.
Só sei que há tanto tempo amei demais
Vibrando no meu corpo uma esperança

De ser além de tudo, teu amado,
É sonho que trará um sofrimento
A quem por tanto amor já foi marcado.

Propostas amorosas? Por favor; não!
Eu sei que a solidão, este tormento,
Maltratará demais o coração...



52


Desculpe por amar-te tanto, tanto.
Às vezes te sufoco, me perdoe.
O amor que nos recobre, doce manto,
Permite que esta voz, ao longe, ecoe.

Assíduas emoções que nos libertam
Sentidos aguçados, gozo pleno.
Enquanto vãs tristezas nos desertam
Eu obedeço ao teu sublime aceno.

Carrego nos bornais do pensamento
Estrelas fascinantes que ora espalhas
Vencer com alegria tal tormento,
Sobejas fantasias nas batalhas.

O amor que causa sempre este alvoroço
Transmuda o meu destino outrora insosso...



53


Desculpe meu amor, mas acontece...
Depois de tanto tempo eu percebi
Que a vida em nosso amor já se esvaece
E longe, bem distante, estou de ti...

Não adiantam rogos, sonho e prece
O amor que sempre tive, enfim perdi.
Somente este vazio agora cresce
Tomando o coração. Eu te esqueci...

Se pudesse mentir e te enganar
Mas não creio ser justo. Estou tão frio.
É duro te dizer: não sei amar...

Por isso meu amor, eu vou-me embora
Levando este meu peito tão vazio,
Bem sei que em tanta dor o amor já chora...



54

Desculpe meu amor se te mostrar
A face que não sabes que inda tenho.
O gosto da amargura em meu olhar
Mostrando a realidade de onde venho.

Eu venho dos famintos campos tantos,
Nas terras das Gerais, exploração.
Sem seca mas distintos desencantos
Mostrando essa dureza em nosso chão.

Do povo tão sofrido, quase gado,
Vivendo na cruel semeadura.
Achando que viver é triste fardo,
A pedra que cultiva, sempre dura.

Eu venho das montanhas brasileiras
No sonho e na minha alma, as trincheiras!



55


Desculpe companheiro se inda insisto,
Falando deste peso feito cruz,
Eu na verdade tento, e assim resisto,
Mostrando este caminho pleno em luz,

Dizendo deste irmão, querido Cristo,
Aquele que chamaram de Jesus,
Por quem em desamor foi tão malquisto
E ainda depois disso me conduz

Marcado pelas chagas da vingança,
Trazendo para todos, esperança!
Fazendo da amizade o maior pleito

Em voz tão mansa a todos Ele disse
A vida sem amor, leda tolice.
Felicidade plena é um direito
Marcos Loures



56

Desculpas pra poder te ver de novo,
A cada dia invento, e não me escondo.
Às vezes sei que causo algum estorvo
Depressa, vou meu mundo recompondo.

Meus olhos te procuram pela casa,
Na sala, no banheiro, em nosso quarto.
Ao vê-la tal loucura vem e abrasa
Não largo um só segundo, não me aparto.

Eu quero estar bem perto nunca nego,
Tu és minha vontade de viver.
Sem ti, caminho a esmo, quase cego,
Tu és a claridade. Como ver

Se não te tiver aqui teu brilho e lume.
A flor que nasce em ti, puro perfume...


57

Desculpa se não tenho tal doçura
Nem a brandura sempre requerida
Por quem sonhando sempre com ternura
Encontra tal rudeza em sua vida.

Embora radical com alma pura;
Espero que a palavra proferida
Não trague nos teus olhos amargura.
Perdi minha finesse de saída...

Sou qual um lavrador, mão calejada
Foram tantos espinhos recebidos
Minha alma em sangue e dor foi destilada,

Não tenho a maciez que tu querias.
De tanto que meus pés foram feridos,
Te falo deste amor, sem poesias....



58



Descubro; estou por ti, apaixonado
Sentindo esta presença pela casa
Além de um simples sonho que me abrasa,
Um lago em mansidão glorificado

Andara em solidão; preocupado
Porém uma alegria não se atrasa
A vida finalmente já me apraza,
Sabendo que terei sempre a meu lado

A boca desejosa em lábios quentes,
Os braços em carinhos envolventes
Servindo como guia e bom suporte

Contigo eu já me sinto descoberto,
Nos laços desta trama em passo certo,
Eu não quero sequer medo de morte.
Marcos Loures



59


Descubro por que ganhas e dominas
Os jogos sensuais que te proponho,
Bebendo fartamente dessas minas,
A vida vai passando como um sonho.

As rotas da esperança, peregrinas
Afastam qualquer dia mais medonho.
No quanto com meus lábios tu combinas
Um quadro mais sublime em ti componho.

Distante das ferrugens dos salões
Desfila em passo manso pelas ruas.
Sabendo conquistar sem ser esnobe.

O coração balão em festa sobe,
Vagando por espaços, ganha luas
Soltado pelas mãos feitas paixões...
Marcos Loures



4960


Desculpe se não tens por mim, amor,
Bem sei que tantas vezes me enganaste
Dizendo que em teu peito sonhador
Meu sentimento intenso era guindaste

Que te elevava ao céu com esplendor.
Mas cedo, esta cascata que turvaste
Em todas as mentiras, sem pudor,
Que logo, muito cedo me falaste.

Mas mesmo assim te busco em cada sonho,
Meu versos sem resposta fica triste,
De amar; jamais, meu bem, eu me envergonho

Pois sei que mesmo em tanta ingratidão,
Um resto de emoção inda persiste,
Pois é teu, sempre teu; meu coração!



61



Desculpe se não tenho um palacete,
A casa na verdade é de sapê
Meu verso às vezes chato, é um cacete,
Mas canto meu amor, e ele é você;

No amor é necessário um capacete,
Procuro pela casa, mas cadê?
Não tendo outro caminho que eu encete
Confete, eu te confesso, ninguém vê.

Aceita um pré-datado? Ou no cartão,
Quem sabe mesmo um vale-refeição,
Perdoe, mas não tenho nem trocado.

Esmolo este carinho que não dás,
Apenas desejava alguma paz,
O amor que a gente fez, foi mal-passado...
Marcos Loures



62



Desculpe se não creio em teu narciso,
Espelhas os defeitos e mentiras...
A cor desses acordos não preciso,
As sedas desfarei todas em tiras...

Por vezes mais sincero e tão conciso,
No campo das estrelas não atiras.
Nas verves e nas lavras perco o siso.
Esqueço dessas musas e das liras...

Deliro nos meus cantos? Falsidade...
Meus versos imprecisos e falsários...
Vendetas e conchavos: claridade?

Não sei se me pressinto ou desfaleço.
No mundo dos poemas, meus armários...
Não falo dos amores: não mereço!
Marcos Loures



63


Descreve o pensamento um ato nobre
Que mostre qual poema, o meu destino,
Sonhando com palavras descortino
O sol que com prazer já nos recobre.

E tendo esta certeza, mesmo pobre
O velho coração vira um menino,
Por mais que tantas vezes me amofino
Enfrenta o campanário em triste dobre.

Ariscos os meus dedos no teclado
Falando deste sonho abençoado
De ter a maravilha de poder

Usando desta força mais tenaz
Que o verso em seus detalhes já nos traz
Aprendo finalmente o que é viver...



64


Descrença traz no bojo esta tristeza
Sem ter algum alívio que permita
Alguma imagem lúdica e bonita,
Embora a vela permaneça acesa.

A sorte desdenhosa me despreza
Ulula a ventania, o mar se agita
A lúbrica sonata já me incita
E em pesadelos, bebo a correnteza.

Corpo inerte, viúvo da ilusão,
Das procelas soturnas da saudade,
Apenas desespero e nada mais.

Entregue aos dissabores da paixão,
O sol me transportando à realidade,
Naufraga uma esperança, nega o cais...
Marcos Loures



65



Descoradas roseiras, vã procura...
As trevas negrejando toda luz...
Não posso completar a noite escura,
O campo da discórdia serve a cruz...

Nossa bandeiras vestes da candura,
Nesse momento audaz, clamam Jesus.
O rumo dos remendos da ternura,
Não vencem nas estradas cada pus...

Mentiras e verdades são dolentes,
São plenas dos repastos dos demônios...
Nascemos navegando sim, mecônios...

Morremos nossos ares nos pulmões.
Os gestos mais noturnos, indecentes,
Soturnos, vasculhamos os porões...



66


descompassado e tolo coração,
refém deste desejo insuperável;
caminho que procura, interminável,
ao fim trará decerto a solidão.

eu vivo sem saber se é sim ou não
resposta que sonhei ser agradável,
do solo que pensara ser arável,
o tempo não deixou vingar um grão.

mereço, por acaso, tal destino?
os olhos mareados são sinais
do quanto se mostrando em desatino

os dias jamais foram favoráveis.
seriam mais amáveis rituais
se as águas fossem mansas e potáveis...
Marcos Loures



67


Descobrir as cascatas maviosas
Depois das curvas todas deste rio,
Se o jeito é sepultar as minhas rosas,
Jardim de outro quilate eu fantasio.
O quanto ainda sejam ardorosas
As noites que espantaram medo e frio.

No parto da ilusão, fórceps usei,
Abrolhos abortados, gestação.
Penumbra se tornando amarga lei,
O beijo da mulher, fornicação,
Mascaro o que em delírios resgatei
No fundo o barco perde a direção

E volta ao mar que um dia, revoltoso
Negou ao marinheiro porto e gozo...

68


Descubro os meus cadáveres nas ruas
Vagando pelas sombras tão silentes
Enquanto nas penumbras envolventes
As hordas tão funestas andam nuas.

Intensas gargalhadas continuas
E vestes garatujas impudentes
As esperanças sempre impertinentes
Naufragam frágeis naus, velhas faluas...

Neste arcabouço tolo, o ser humano,
Que teima em se sentir o soberano
Eu vejo retratada esta miséria

O fardo que trazemos pesa tanto,
E nele proferindo o desencanto
A estúpida paisagem vã e etérea...
Marcos Loures



69


Descubro a tua pele
Desnudo-te em completo
Vasculho e me repleto
Ao corpo que me atrele

E nua se revele,
Banquete predileto,
Eu sou o seu objeto
Cavalo que se sele

E monte sem descanso,
Bravio, louco e manso
Sereno ou insensato,

Galopando em estrelas
Nas ânsias, convertê-la
Raspando todo o prato...



4970


Descubro a bela fonte e seu segredo,
Tesouros escondidos sob a saia,
No samba de meus sonhos, tal enredo
Encontra a luz da lua que desmaia

Forrando meu caminho desde cedo,
Que a sorte deste jogo nunca traia
Do amor que se fez sonho, reza e credo,
Mulher deusa, cativa, rainha, aia.

Num esplendor o brilho do adereço,
Aplausos sempre fartos da emoção.
O quanto que eu te quero, não tem preço,

Revejo este desfile vencedor,
Nas cordas da guitarra ou violão,
O ritmo deste sonho, encantador.
Marcos Loures



71


Descrita há tantos anos, uma lenda,
Falando de princesas e castelos,
Amor que tudo sabe, já desvenda
Arando uma esperança em bons restelos...

Na aduana da vida, não sonega,
Dedicação perfeita que se exige
No amor quando em verdade e paz se entrega
A um mundo mais sublime nos erige.

Ebúrneo sentimento intransigível,
Amor não tem limites, segue à risca
Embora tantas vezes intangível,
Um vôo cego decerto sempre arrisca.

Eterno renascer da juventude,
Nas horas mais difíceis, meu açude...
Marcos Loures



72


Descrevo uma tangente pela vida,
Centrípetos desejos me atraindo
Enquanto pouco a pouco vou fluindo
Deixando esta esperança em despedida.

No vértice dos sonhos, me deslindo,
Do eterno labirinto, uma saída
Há tanto desejada, esvaecida
Refém destes caprichos da libido.

Prescritos, mas sensíveis, resolutos,
Ofuscam meus olhares, velhos lutos
Com qualquer ventania, estou em paz.

Querências se propagam nessas veias,
Que enquanto distraída me incendeias
Na chama que convida e satisfaz.
Marcos Loures



73



Descreveste o poeta como alguém
Que vive além da dor e da alegria,
Perfeito fingidor como dizia
Pessoa em sua trova, e muito bem.

Canteiros de saudade, a vida tem,
A mão que cultivava a fantasia
Irmã de uma palavra fugidia
Antevendo este vento que inda vem.

Plantando em raros versos framboesas,
Florindo em perfeição tantas belezas
Os sonhos, a amazona em glória encilha

Eu faço este soneto em homenagem
Àquela que dourando a paisagem
Virou sinônimo de luz: Cecília!
Marcos Loures



74



Descendo pela bela cachoeira
As águas tão cruéis deste meu pranto.
Inundam com certeza, todo canto.
E trazem solidão da vida inteira.

Na pedra que maltrata, a corredeira
Produz tanta beleza em seu encanto.
Porém amor se foi, e o desencanto,
Despenca nessa pedra verdadeira.

Rolando com as águas, que lagrimo,
Deveras não terei mais um descanso.
Meu sonho, ser feliz, já não alcanço,
Distante da mulher que tanto estimo.

As lágrimas escorrem com o rio.
E o que sobrou do amor, morre de frio...
Marcos Loures



75


Descendo o Pantanal numa chalana
Passando por remansos, corredeiras
Vontade de chegar é soberana
Saudades são cruéis e matadeiras.

Distância de quem amo, desumana,
Desejos em palavras verdadeiras;
Meu peito apaixonado não se engana
Encara; se preciso, cachoeiras...

Quem teve nesta vida uma paixão
Entende este meu verso enamorado.
Um coração ferido e maltratado

Por tantas desventuras. Solidão,
Já sabe quanto é dura esta demora
Na espera de rever quem tanto adora...



76


Descendo nas ladeiras da cidade,
Em meio aos casarios mais antigos.
O gosto benfazejo da saudade,
Passando pelas ruas e postigos,
Vivendo nosso amor em liberdade,
Os pesadelos mortos, sem perigos...

Atrás da porta aberta, escancarada
Encontro esta donzela que partiu
Em busca da roseira amargurada
Com gosto de vergonha em ser gentil,
Restando tão somente um quase nada
Daquilo que se fora mais sutil.

As nuvens que se formam em tormentas,
Traziam minhas tardes quentes, lentas...



77




Descendo esta ladeira da esperança
Vendendo amendoim em cada esquina,
O corpo ainda frágil da menina
Durante a noite; nu, prepara a dança

Vendido como bala, em bares trança,
A sorte se mostrando peregrina
Pedra de crack agora determina
O corte do futuro, podre lança.

Olhar que mira ao longe, louco, bóia
A mente se confunde em paranóia
E tudo o que pudesse morre em nada.

Milhares de cadáveres, sarjetas,
Expostas nas calçadas, as ninfetas
Moldando a juventude abandonada...



78

Descendo escada estreita, catedral,
Procuro por teus passos, minha amada...
Nas hordas que te cercam, festival
De flores primaveram tal escada.

Umbral entreaberto e colossal,
Deixando-me entrever manhã raiada...
Nos lagos um nenúfar tão banal
Demonstra u’a beleza na florada...

Nas selvas e florestas te procuro...
Encontro tão somente esse luar..
Criança que não tem medo de escuro,

Meus sonhos nessa estrela que te enfeita,
Não posso e nem consigo descansar,
Buscando t’a beleza, flor perfeita!
Marcos Loures



79


Descendo a correnteza da esperança
Uma amizade mostra-se potente.
Um sonho mais divino sempre alcança
Alçando um bom sorriso faz contente

Quem fora sofrimento sem remanso,
Quem fora só tristeza em agonia.
Um coração perdido sem descanso
Espera o renascer de um novo dia...

Por isso, meu amigo, esteja certo
Que todos nós aqui comemoramos.
Que bom que estejas sempre aqui por perto
Assim mais uma vez nós celebramos

O dia em que completas mais um ano
Conosco, com prazer tão soberano...



4980

Descobrem mil mistérios e segredos,
As ânsias que se moldam nesta entrega,
Ungindo com prazeres nossos credos,
O quanto que se quer jamais se nega.

Parceiros desta estranha jogatina,
Aonde não se sabe um vencedor,
Enquanto em doce insânia desatina
Componho em teu jardim espinho e flor.

No embalo desta festa anunciada,
O corpo que se entranha em belo porto,
Varamos sem limites, madrugada,
Até que ao recomeço eu me reporto

Farturas de colheitas, gozos, riso...
Expressão que me resta: paraíso...
Marcos Loures





81

Descobre no teu corpo; ancoradouro
Em doces aventuras juvenis,
Chamando por Tormenta o bravo mouro
Encontro nos teus lábios o que eu quis.

Em lutas tão diversas, meu tesouro
Está no teu olhar. Vou por um triz
No inclemente sol árabe me douro
Arabescos formando em bel matiz

Nos mares cipriotas, meu destino,
Voltando a ser de novo este menino
Que um dia imaginou tanta aventura.

Acordo e quando vejo tal beleza
Na vívida miragem, a princesa
Proporcionando enfim, rara ternura...
Marcos Loures



82


Descobre em tuas sendas, ricos veios,
Quem sabe a dançarina inesquecível
Bailando em liberdade, sem receios
Inebriando sempre em luz incrível.

Os passos desta dança bem ritmados
As coxas se tocando, mãos passeiam.
Desejos e vontades são rimados
O quanto que se querem; já se anseiam...

Revelações em formas tão iguais,
As línguas passeando, mais sedentas,
Os toques tão macios, sensuais,
Ao mesmo tempo negas quando atentas.

Depois as roupas viram testemunhas,
Dos versos que em loucuras tu compunhas...
Marcos Loures



83


Descerram constelares, cada véu
Os astros que invejosos tanto admiram
Um bardo sonhador, um menestrel
Na lira usando versos que te miram

E falam da beleza sem igual,
Divina perfeição em brônzea tez
Na terra descoberta por Cabral
O porto mais seguro? Insensatez...

Desvendo tuas trilhas, bandeirante
E vejo um Eldorado ao meu dispor.
A fonte que se entrega, deslumbrante
Já tem no meu prazer, seu tradutor.

O nó que nos uniu; se corrediço
Não nega nem impede o belo viço.
Marcos Loures



84

Descendo pelos rios caudalosos
Que levam da montanha para o mar
Prazeres que fizeram maviosos
O tempo de viver e de sonhar.

Eu quero ter comigo os mais formosos
Desejos que te aquecem, desfrutar
De todos estes sonhos deliciosos
De poder tuas matas desbravar...

Eu não somente quero, mas aflito
Espero ansiosamente cada toque
Que faça meu viver em novo enfoque

Por certo mais gostoso e mais bonito
Usufruir de cada sensação,
Trazendo para o mar, inundação...
Marcos Loures



85

Descendo pelas curvas deste rio,
Deixei meu coração em uma delas.
Agora com meu peito tão vazio,
Que faço com o amor dessas estrelas?

Não posso mais subir essa cascata
Nem posso navegar, perdi meu barco.
Talvez se eu penetrasse a densa mata...
Danado do Cupido entesa o arco...

Meus olhos cheios d’água, mais problema,
O rio vai se enchendo em enxurrada...
Que faço então Meu Deus desse dilema
Ou seco minhas lágrimas ou nada...

Querida vem depressa, vem amar...
Somente teu carinho vai salvar!



86


Descendo pela estrada tão umbrosa,
Hordas de passarinhos rumorejam.
As horas vão passando e se negrejam
Prevendo a noite imensa e tenebrosa.

Apenas pirilampos que vicejam
Tornado esta passagem luminosa
As cores tão distantes se desejam
Restando então espinhos, morre a rosa.

Solidão me encontrando em indolência
Moldando em meu caminho uma impotência
Capaz de não deixar restar mais nada.

Porém ao perceber tal soledade
Encontro todo apoio na amizade
E a vida se transforma, iluminada...


87


Descambo em outra andança por um triz,
Farrapos estendidos na janela.
Melífera ilusão não pede bis,
Nem mesmo esconde ausência de aquarela.

Das celas tão profanas, a masmorra,
Nas selas dos meus sonhos, liberdade,
Selando uma emoção que me socorra
Talvez insira enfim, tranqüilidade.

Iníquos quanto inócuos os meus dias,
Intactas maravilhas; não mais vejo.
Amor se vinculando às agonias
Ensangüentado vinho que porejo.

Dos louros da vitória, sequer sombra,
Fantasma feito amor, decerto assombra...
Marcos Loures



88



Desbravo mil caminhos em meus sonhos
Na busca pelo amor que tanto eu quis.
Quem sabe noutros dias mais risonhos,
Eu possa finalmente ser feliz...

Às vezes mal percebo o quanto a vida
Se mostra dadivosa para mim.
Num labirinto imenso, uma saída
Parece que surgindo, até que enfim...

Ouvindo o teu chamado, largo tudo
E corro sem olhar sequer prá trás.
Rebentas armadura e sem escudo
Me entrego num segundo e sou capaz

De ver felicidade, finalmente,
Tomando o coração, o corpo e a mente.



89


Desbaratando a trama dos sentidos,
Erguendo as velhas taças neste brinde.
No encanto que este olhar manso deslinde
Destinos entre sanhas já cumpridos.

Assanham teus cabelos, doce brisa
Que enquanto me apascenta diz do amor,
Poder que sempre foi transformador,
Chegando mansamente, não avisa.

E toma toda a sala, quarto e copa,
Do barco sendo proa, vela e popa
Comanda, timoneiro, nossa vida.

A cada novo dia se renova,
E mesmo quando posto assim à prova
Demonstra em alegria a sobrevida...
Marcos Loures




4990


Desate a fantasia deste dia
Que finge que não veio nem virá.
Roubando se puder, qualquer magia
Da noite em que deixei amor por lá.

Receba nos teus dedos, poesia,
Preveja que a saudade chegará
Desarme, no final, tua alegria;
Que nada deste dia brilhará...

Mas sinto o teu sorriso companheiro,
Qual fosse algum resquício do que fomos.
Amiga. Se me entrego por inteiro

E não somente apenas partes, gomos,
É por que pressinto a salvação
Na face da amizade e do perdão...



4991

Desalentado, busco essa princesa,
Que me deixou tristonho há tantos dias,
Matando cruelmente, as fantasias,
Deixando assim nenhuma luz acesa.

Meu coração deságua na represa
Que construíste. Mentes melodias,
Deixando minhas noites tão mais frias...
Meus olhos se cegando em tal beleza...

Vagueio pelas noites sem luar,
A vida foi soturna, quero o mar;
Mas o mar tão distante, sem marés.

Nas ondas que me trazem tal saudade,
Desalentado, fujo; mas, maldade,
Meu barco naufragou, podre convés...



92


Deságuo nos teus cios, meus desejos
De toda a plenitude feita em gozo,
Dos deuses que nós fomos, mar formoso
Intenso em loucos, doces, raros beijos.

Os dias que se passam, mais sobejos,
Sabor que encontro em ti, sempre gostoso,
Teu toque tão gentil e carinhoso,
Distante de temores, duros pejos.

Vencendo a solidão, triste marasmo,
Desfruto a maravilha de um orgasmo
Em senda assim florida e majestosa.

Delícias de saber, mulher divina,
Que a noite em fantasia te domina,
E em cada beijo meu, a deusa goza...
Marcos Loures



93


Deságua nesta ausência, amor, de ti;
Um mar em esperanças navegado,
Do todo que buscara; agora eu vi
Um dia em claridade anunciado.

Teus olhos radiantes já me guiam
Levando por estradas promissoras,
Momentos prazerosos quês e criam
Palavras benfazejas, redentoras.

Vontade de querer e estar contigo,
Razão que agora eu vejo para a vida.
O quanto que eu te desejo e já consigo
Saber da fantasia amanhecida

Nos braços carinhosos deste alguém,
Felicidade, eu sinto e quero, vem...



94


Desafio um cantador
A cantar com tal encanto
Com seu canto encantador
Dominando cada canto

Se portanto tem valor
Não me esqueço do teu pranto,
Entretanto é tentador
Ter teu corpo como manto.

Se me espanto com teu verso
Sou perverso e já revido,
Se este som vaga disperso

Vou imerso na poesia
Que de noite, não duvido
Vira estrela que me guia...



95


Descanso em teu regaço meus anseios,
Inebriante oásis que encontrei
Tomando num instante a triste grei
Vertendo maravilha em belos veios.

Pousando o meu delírio em fartos seios,
O amor que procurava sendo a lei,
No mar deste regaço mergulhei
Tornando os sofrimentos vãos, alheios...

Numa explosão de gozos magistral,
Perfume delicado e sensual
Invade a nossa casa, a sala, o quarto...

E após esta fantástica viagem,
O sol vai dominando esta paisagem
E encontra-me deitado, lasso e farto...



96



Descansar em teu colo, minha amada,
Depois desta batalha; dia-a-dia,
Amiga, companheira e camarada,
Tu és meu par perfeito na alegria,

Na dor e na tristeza. Abençoada
A mão que me conforta em poesia.
Prossigo me encantando, na jornada
Que traz felicidade e harmonia...

Meus olhos tão cansados de um vazio,
Na busca por mim mesmo, autofagias..
Na mansidão serena, como um rio

Deságuo nos teus braços, és me mar,
É sol que me aquecendo em noites frias,
Permite que eu conheça o vero amar...



97


Descansando nos braços da morena,
Eu me lembro da loura que deixei.
Mulata, eu gostaria de ser rei,
Beijando essa boquinha tão pequena...

Amor, quando é demais, logo envenena.
A campina que passo e que passei,
Muitas vezes sem rumo, desviei;
A saudade, de longe inda me acena.

Tenho tanto perguntas sem resposta,
No fundo, todo mundo sempre aposta,
Num amor que era pouco e se acabou...

Mas não quero saber se estou ou vou,
Nem sequer me interessa o que passou...
Eu quero, tão somente, a quem se gosta...



98


Descansando no colo da morena,
Na rede de teus braços meu amor,
Vontade de ficar contigo acena,
Me perco em teu carinho tentador.

Saudade quando muito me envenena
Tomando da alegria o bom sabor,
Vem logo, que eu te espero, bem serena
Morena, com teu jeito sedutor...

Açucena bonita do jardim,
Morena meu amor é todo teu,
A cena que guardaste para mim,

Vem plena de calor de carinho,
Serena, do meu mundo se perdeu,
Que pena, mas voltei a ser sozinho...



99


Derramas teu prazer por sobre mim,
Nos lábios que se fazem mais abertos
Enceto esta vontade que é sem fim,
Alago com carinho tais desertos.

Os dias se mostrando sempre assim
Lençóis jogados longe, descobertos
Vivendo esta loucura quero sim
Que o tempo nos encontre bem despertos.

E que tomando o néctar, todo o maná
Que emanas de teu corpo deslumbrante,
Na fome que jamais se aplacará

Na silhueta esguia e provocante
Nudez imaginária em fantasia
Fetiches santa insânia em euforia...
Marcos Loures



5000


Derramas em total sensualidade
Vontades que extasiam e dominam,
Enquanto em ti encontro a liberdade
Desejos mais audazes alucinam.

Sem medo e sem pudores, na verdade,
Delírios os teus beijos determinam,
Do lado de quem amo, eternidade,
Em tramas sedutoras que fascinam.

Na mágica expressão de nosso amor,
Prazer que se mostrando em pleno ardor,
Império dos sentidos, mil ardis.

Arder em tuas chamas tão somente,
Vivendo o nosso amor imensamente
Dizendo ao fim de tudo: eu sou feliz!
Marcos Loures



01

Desaba uma esperança em qualquer brisa,
Se amor foi feito em solo movediço.
A mão do agricultor se aromatiza
No bem de cada flor, perfeito viço.

Eu trago o peito aberto, sem defesas,
Não temo mais as dores que virão.
A primavera exposta em tais belezas
Entrega ao nosso amor, forte verão.

Amor que se mostrando solidário
Metamorfoseando, me domina.
Não quero prosseguir mais solitário
Retendo a fonte clara, doce mina.

Bebendo cada gota deste arroio,
Amor já separou trigo de joio...
Marcos Loures



02

Desaba desta enorme ribanceira
O sonho de um mineiro em descaminho,
Vivendo a vida inteira sem carinho,
Procuro no final alguém que queira

Fazer do amor perfeito uma bandeira,
E nessas esperanças eu me aninho,
Sentindo aproximar devagarinho
A dama que talvez fosse a primeira.

Mas logo percebi no belo rosto,
A marca mais cruel deste desgosto
Que vem e que destrói sem ter nem hora.

Prevendo uma derrota depois disso
Quem teve em pensamento um compromisso,
Perdendo no começo, vou embora.
Marcos Loures



3


Derrubas num segundo o velho império
Das tolas emoções que nos afligem,
Enquanto as fantasias já se erigem
No templo dos desejos sem critério.

O amor quando se mostra qual vertigem
Esconde seus segredos. Tal mistério
Permite o mais terrível voluptério
Nas mãos que maltratadas nos dirigem.

Não sei se ainda quero ter em ti
O que deveras nunca conheci,
Esquecido nos cantos, becos, bares.

Abrasas com teus falsos diamantes,
As águas poluídas. Transbordantes
Delírios, demoníacos altares...



4


rramo sobre ti fogos luzentes,
Amor farpas e línguas, aridez,
Atados os teus braços em correntes,
Profana intensidade, insensatez.

Marcando a minha pele com teus dentes,
Penetras com vontade minha tez.
Dois corpos se entregando, vis, dementes,
Encanto que em delírios já se fez.

Vergastas e chibatas, noite afora,
A chama se consome e nos devora,
Felina que cavalga este corcel,

Nos lúbricos prazeres, saciados,
E Furiosamente acorrentados,
Às marcas que; sanguíneas vertem mel.


5


Derrame teu suor em nossa cama,
Numa ardorosa noite de prazer.
Acende-se por certo nossa chama
Vibrando em cada cena. Passo a crer
No mundo que se mostra em cada trama,
Deliciosamente em ti, viver...

Na renda que cobria esta nudez,
Na seda que se espalha em nosso leito.
Amor que tantas vezes amor fez,
Do jeito mais divino, enfim, perfeito,
Roubando o que restou de lucidez,
Amor para ninguém botar defeito....

Mas feche meu amor, esta cortina,
Que a lua ciumenta, se alucina...

Marcos Loures



6


Derramas; feito a lua, raras pratas
Por onde tu caminhas; noite afora,
E cada nova fase revigora
A intensa claridade em que arrebatas

Argêntea fantasia cobre matas
E tanta maravilha assim decora
Uma alma sonhadora que te adora
Enquanto os meus delírios; arrematas...

No intenso plenilúnio, a claridade
Estende-se infinita sobre os céus,
Cobrindo as madrugadas, fogaréus

E a chama inebriante, tudo invade,
Mesmo minguante, ou nova, ou na crescente
Tua beleza imensa, iridescente...



7



Depois do temporal, tranqüilidade
Que há tanto tempo eu sempre perseguia
E sinto vir o vento da amizade,
Em mansa sensação de calmaria,

Trazendo para a treva, claridade,
Raiando em emoção santa alegria,
Quem sabe ser possível liberdade,
Além do que pensara, até sabia,

Refazendo o meu canto, em novo verso,
Alçando em pensamento outro universo
Embora muitas vezes caprichoso

Que possa permitir um canto leve,
No amor que uma amizade sempre ceve
Um dia que virá, maravilhoso...
Marcos Loures



8


Depois do que depôs meu coração
Não vejo entre nós dois qualquer futuro.
Se o tempo se tornou bem mais escuro
No fundo não terei mais solução.

Requebros da morena, furacão,
O jeito é disfarçar e sem apuro
O chão já sem estrelas; frio e duro,
Decerto em aridez se torna vão.

Melancolia às vezes me sacia
E traz à poesia um novo tom.
O amor que a gente quis, sublime dom

Morreu e seu cadáver: agonia.
Insepulto fantasma pesa tanto
Trazendo tão somente o desencanto...


Marcos Loures



9


Depois do assassinato de seu filho
Enquanto o outro por Deus foi deportado,
A dor servindo assim como estribilho
Futuro de repente mal fadado,

As mãos do Pai deslindam novo trilho
E mudam com certeza o triste Fado,
Ao dar à luz a Set, outro novilho,
O continuar da vida, assegurado,

De Enós diversas, várias gerações
Até chegar Noé, homem bendito
Esposas e maridos, concepções

Multiplicando assim por sobre a terra
Até quem sabe além deste infinito,
Mas o homem pouco acerta e maldito erra...



5010

Depois destes meus versos que te fiz,
Depois deste meu tempo, enfim, sozinho.
Sonhando eternamente, ser feliz,
Percebo em minha flor, dorido espinho...

Não chore, minha amiga, estou aqui.
Não deixe que a saudade te maltrate,
Bem sabes que também já me perdi,
A dor que nos desfaz, nosso combate...

Querida tantas vezes fomos sós
Os ombros se apoiando mutuamente,
De tanto que sofremos, nossos nós
Estão guardados; firmes, nossas mentes...

Amiga em teu carinho, meus carinhos.
Decerto não estamos mais sozinhos!



11



Depois desta tormenta apenas queimaduras
Restando em nossa pele, algumas cicatrizes.
Depois, já mansamente envoltos em ternuras,
Recuperamos tudo e somos mais felizes.

Nossa pele marcada em tais arranhaduras
Nos ensinou bastante. Os meros aprendizes
Depois de tanta busca, imersos nas procuras
Já sabem decifrar acertos e deslizes.

Voltando para a luta após tanta sangria
Só resta descobrir qual o melhor caminho
Que possa nos guiar durante a ventania.

Amiga, passo a passo, espero que esta andança
Leve-nos finalmente a maturar o vinho
Guardado numa adega em forma de esperança.



12


Depois desta quimera, tanta luta...
Eu não descansarei desta batalha...
A força que promete ser mais bruta
Me corta como beija uma navalha...

A lua que por vezes vai astuta
No céus mais nebuloso traz mortalha.
Amor é conceber semente e fruta
É vida que transforma e que se espalha.

Sacrossanto desejo de rever
As vastas amplidões que já não cabem...
Nos braços de quem vivo, vou morrer.

Perdi todo o sentido e mocidade...
As noites que clareiam nunca sabem
Amor que representa a liberdade!
Marcos Loures



13



Depois desta arruaça já formada,
Peixeira foice e faca, o pau quebrando,
A festa que começa alvoroçada,
Depois de certo tempo desandando.

O começo da briga, da porrada,
Parece, minha amiga que foi quando
Ao ver moça sozinha, madrugada,
O cabra já chegou se apresentando.

Porém a moça estava com a amiga,
Mulher valente, amante da menina,
O troço desandou, virando briga,

O bucho do sujeito foi furado.
Amor esteja certa, assim domina,
E o resto nós deixamos já de lado...



14

Derrama sobre nós farta beleza
Constelação de cores mais diversas,
Unindo sensações antes dispersas,
Traz raras iguarias para a mesa.

E o quarto se transborda em correnteza,
Voando o pensamento em belos persas
Tapetes maviosos, gozos versas
E deitas fabulosa uma certeza

De ter as soluções nos frágeis frascos
Quebrando dos temores os seus cascos,
Eu sigo em tal magia, satisfeito,

A solidão distante e já sem prumo,
Sem norte ou direção, perdendo o rumo
Ao ver o seu caminho contrafeito.



15


Derrama em mil prazeres, recompensa
O bem do amor que tanto se entregou,
O pesadelo insano já domou
E torna a minha noite menos tensa.

Felicidade agora segue imensa
Tristeza no meu peito, enfim passou,
Vivendo tão somente o que restou
A sorte de sonhar se mostra intensa.

O quanto te desejo nunca nego,
Andara tanto tempo amargo e cego
Agora me permito ser feliz.

Vencendo toda forma de tristeza
Coloco este banquete sobre a mesa
Prenunciando o bem que tanto quis...
Marcos Loures



16


Derradeiro botão do meu canteiro
A rosa não viceja, morre aos poucos.
Neste canto de amor, o derradeiro,
Os gritos não serão sequer mais roucos.

Antigo carpinteiro da emoção,
Os móveis não suportam mais cupins,
Causando esta total devastação,
As flores não farão belos jardins.

Ariscas alegrias não são minhas,
Orquídeas e bromélias sem xaxim,
As ervas tomam conta, são daninhas,
E a seca vai tomando tudo em mim.

Não pude perceber o rude inverno
Que tornou nossa vida neste inferno...



17


Depressa em alegrias nos assoma
Enquanto nos domina, satisfaz,
Reféns do amor imenso que nos toma,
Fazendo desta vida, glória e paz,

Dois corpos multiplicam cada soma
E a vida nos propõe um canto audaz
Quebrando a solidão, já sem redoma,
O manto da alegria, a noite traz,

Constelação divina, rara e bela,
Deitando em minha cama, reina a estrela
Girando neste espaço, carrossel.

O beijo de quem amo me redime,
Viver sem ter amor é quase um crime,
Olhar tão solitário é mais cruel...
Marcos Loures



18


Depois do triste inverno que passei
Distante deste amor que é plenitude.
Agora que, de novo, te encontrei,
A sorte vai mudando de atitude.

As flores do jardim já vão se abrindo
Em novas primaveras ansiadas,
Revendo este sorriso manso e lindo
As mãos tão delicadas, perfumadas...

Que bom poder saber que estás aqui
Promessa de verão, de quente estio,
Depois de tanto tempo que perdi
Nas noites embaladas pelo frio...

Meus olhos que morriam tão tristonhos,
Parecem que estão vendo velhos sonhos...


19


Depois de ter tocado imenso céu,
Achado que era Deus por um momento,
Provado da ilusão, perfeito mel,
Ausência se tornando sofrimento.

Vagando sem destino o meu corcel,
Refaz esta ventura em pensamento
Felicidade? Um barco de papel
Que esvai e se destroça em fogo lento.

E; viva, uma saudade faz do afago
A tempestade imensa em calmo lago
Deixando como herança, ausência, o nada.

Marcado por lembrança algoz, ardente
Quem dera se eu pudesse, de repente
Viver o que perdi na longa estrada.



5020


Depois de ter tentado ser feliz,
Aquele cidadão tão sem cuidado,
Expondo a mais terrível cicatriz,
Vivendo o seu caminho desregrado.

Sonhando com o amor que, inútil, quis,
Por um tormento insano, já tomado
Destino solitário, vida gris,
Penando por jamais haver beijado.

Sedento de desejos sem espanto
Cegado pelo imenso desencanto
Pra seu grande prazer, doce regalo,

Sem ter quem inda possa, enfim, amá-lo
- Como alguns coleguinhas do recanto,
Felicidade encontra, num cavalo!


21

Depois de ter tentado inutilmente
Singrar farta alegria em minha vida.
O sonho deste velho decadente
Encontra esta resposta descabida.

O tempo vai passando e de repente,
Minha alma sem defesas, distraída
Tomada pela noite plenamente
Sem nexo vai sem rumo, está perdida.

Acordo deste negro pesadelo,
Mal posso, na verdade, assim contê-lo
Transborda em cada poro, hemorragia.

Qual cego que tateia, escuridão
Recebo esta tristeza, solidão
Tornando as ilusões sem serventia...
Marcos Loures


22

Depois de ter somente solidão
Colecionando espinhos no caminho,
Vagando pela vida; tão sozinho,
Debruço o meu olhar nesta amplidão.

E vejo o que sonhara em solução
Trazida pelas mãos feitas carinho,
Da sorte de viver eu me avizinho,
Vencido vou, talvez, pela ilusão.

É nesta conjuntura que eu me perco,
O corpo servirá de algum esterco,
Porém uma alma tola se despreza.

Ao ver-me verme só e sem destino,
Com toda realidade eu já me afino:
O fardo que carrego tanto pesa.
Marcos Loures



23


Depois de ter perdido a minha força
Eu vi o que restou da caminhada
A boca se mostrando arreganhada
Por mais que a gente tente esquece a morsa.

Vontade de seguir quem não se esforça
Mas tendo como herança a debandada
Dos sonhos não sobrando quase nada,
Nem mesmo uma esperança inda reforça.

A cor dos meus cabelos dizem tudo,
E mesmo que inda tente não mais mudo
E mudo cambaleio quase caio.

A moça rebolando os seus quadris,
Os olhos cortejando, por um triz
Pensando em novo amor, quase me traio...
Marcos Loures



24


Depois de ter passado tanto tempo,
Vestido de ilusão não mais me mostro.
Não quero ser teu simples passatempo,
Sorver da vida a força de um colostro.

Que faço desses versos, te pergunto;
Que faço dessa vida sem meus versos?
Não vejo mais leveza neste assunto,
Seguindo por caminhos mais diversos.

De versos, diversões, tuas versões
São várias as verdades que inventaste.
Vencido sem saber mais de verões
Não quero que me trates como traste.

Eu amo, simplesmente, nada mais;
Por isso meu amor, até jamais...


25


Depois de ter passado a vida inteira
Numa procura insana por amor.
Uma ilusão completa costumeira
Forrando este meu peito sonhador.

A sorte nunca foi a companheira
Deixando em suas marcas, sempre a dor.
Inverno vem chegando, vou sem eira
Restando só tristeza a me compor.

Quem dera a juventude retornasse,
Pudesse retornar aos belos dias.
Quem sabe assim amor eu encontrasse...

Mas nada me restou. A vida passa,
Retoma o que me trouxe em fantasias,
Cobrando pelo que me deu de graça...


26


Depois dessa esperança que perdi,
De novo meu amor já se apresenta.
Não quero mais saber se já sofri,
Uma dor no meu peito; se aposenta!

Eu quero te encontrar, de novo; amor.
Dançarmos sem parar, a noite inteira.
Nos braços inebrio sem pudor,
Procuro teu carinho, companheira...

Não deixo mais tristeza vir comigo,
Jogada n’algum canto, se perdeu.
Amar sem ter limites, eu prossigo,
Imerso em teus carinhos, já sou teu...

Eu sonho nossa vida sempre assim,
Comparsas; somos cúmplices enfim...



27



Depois de um tempo amargo, ora remoto
O amanhã se promete mais airoso
De estrelas, coração em paz eu loto
Provendo amanhecer maravilhoso.

Recôndita emoção já se aflorando
Refaz antigo passo, trama a festa
Um dia que virá; decerto brando,
Felicidade plena, cedo atesta

Vivendo o que me resta do teu lado,
Não temo mais as pedras nem espinhos.
Num tempo tão perfeito vislumbrado,
Certeza de alegria, lua e pinhos.

Que toda fantasia, num instante
Em glória extasiante nos encante...



28


Depois de um dia inteiro trabalhando
Chegar à nossa casa e te encontrar.
O quarto em tantas velas perfumando;
As janelas abertas... O luar...
Champagne bem gelada, borbulhando,
Morangos, chantilly... vou desfrutar

Essa lingerie preta, cútis morena;
Deitada nos lençóis, alvos, macios
Uma delícia rara que me acena
Convida para novos desvarios...
A noite que começa assim, tão plena,
Em gostos delicados, arrepios....

Levado pelo amor, em correnteza;
Na pura excitação desta surpresa...
Marcos Loures


29

Depois de trabalhar feito cachorro
Mereço simplesmente a recompensa
Que chegue mansamente no socorro
Do amor que me domine e me convença.

As pedras destroçadas no caminho,
As curvas da morena que não veio.
O medo de perder me faz carinho
E nada da morena, perna e seio.

A noite que começa em botequim
Termina matinal, bruta ressaca,
Amor que não começa não tem fim,
A sorte novamente mente empaca.

Por que diabos sempre foi assim?
Amor não quer saber mesmo de mim...



5030

Depois de ter tomado uma aguardente
Em plena solidão, perdi meu rumo.
Eu sou um sonhador e agora assumo
Que tudo não passou de dor de dente.

Amar e ser feliz me faz contente,
Refaço em minha vida, antigo prumo
E bebo da alegria, todo o sumo.
É bem melhor assim, meu peito sente.

Florida a senda maga da esperança
Chamando-te querida para a dança
Que trança entre as estrelas, sentimento.

Vencer as tempestades com sorrisos,
Não quero mais meus versos imprecisos,
E espero ter de ti, amada, alento...
Marcos Loures


31

Depois de ter nadado até cansar
Esbarro neste cais e já me afundo.
Perdido sem saber do amor profundo
Vencido encontro a morte no teu mar.

Não tendo nem mais onde te buscar
Eu vago pela casa num segundo,
O coração se veste vagabundo
Torrencial a chuva a me molhar.

Recolho os meus escombros me formato,
Porém sem ter sequer algum retrato,
Eu mato o bem que outrora já queria.

Fazendo deste amor o meu saveiro,
Plantando em solo frio e sem canteiro
Encontro a tempestade dia-a-dia.
Marcos Loures



32

Depois de ter corrido a noite inteira,
Fugindo do Diabo sorrateiro,
Minha alma sem juízo, aventureira
Encontra um paraíso verdadeiro!

Mulher igual àquela, eu nunca vi,
Beleza sem limite cheira à flor;
Amor que se transforma em colibri
Esquece do passado qualquer dor.

Deitando com vontade de fazer
Aquilo que Deus sabe e nos mandou,
Porém ao encontrar tanto prazer,
Imagem tão faceira transformou.

Bem antes que o desejo se obedeça,
O fogo mostra a mula sem cabeça!
Marcos Loures



5033



Divago sobre sonhos e promessas
Adagas que penetram o meu peito,
E mesmo que pareça satisfeito,
Enfrento nuvens negras, tão espessas.

E quando em novo rumo recomeças
Adentra a solidão e invade o leito
De quem farto desejo fora o pleito
Inúteis fantasias que confessas...

Medonhas cordilheiras entre nós,
No vale que vislumbro logo após
A solução deveras esperada.

Mas quando tu virás? Ninguém responde,
Da história novamente perco o bonde,
Procuro e tão somente encontro o nada...





034

Ditoso sentimento que de outrora
Dissera minha sorte em teu tormento.
Ninando meu amor, mandando embora
Carinho que se foi do pensamento.

Aquela que gritara redentora
Morrendo bem distante, em frágil vento,
Não posso mais gritar que a vida chora
Causando nos teus olhos, sofrimento.

Do lodo onde surgiste, perla falsa,
Armando minha sina em tais frangalhos.
Amada minha, perdendo nau e balsa,

Apenas esperança suja e frágil.
Quebrando minha sorte em podres galhos.
Meu coração se mostra bem mais ágil...


035


Ditoso quem amou e de amor foi semente...
O brilho, em sua, vida espelha as esperanças,
Enquanto minha dor espera por mudanças
Que nunca mais virão. Vagando qual demente

Em meio ao negro céu; o meu olhar, ausente,
Guardando, na minha alma, o resto das lembranças,
Com meu final, medonho, estreita as alianças...
A dor deste vazio, o meu coração sente...

Quem dera ser feliz! Um vento mais ameno,
Um sono mais tranqüilo, um mar de amor sereno...
Será que enfim mereço, um dia, ser feliz?

Não creio e não persigo, os maus presságios traçam
A linha do futuro e nem sequer disfarçam...
O quadro doloroso escrito em sangue e giz...
Marcos Loures


036

Diversos sentimentos que nos movem
Mostrando em tal relevo as diferenças,
Tuas lágrimas, querida, não comovem,
São sempre diferentes nossas crenças.

A cada nova queda, o meu sorriso
Tua vitória causa desengano
A glória que se mostra sem aviso
Da dor que tu carregas eu me ufano.

Mas ando lado a lado o tempo inteiro
Não posso mais de ti me libertar.
Se precisar, talvez de um companheiro,
Comigo pode sempre, enfim contar.

Já tive meus momentos de amargura,
Por isso eu te darei tanta ternura...



037


Diversos e devassos sentimentos
Confluem meus desejos e prazeres.
Sentindo que são vãos os meus tormentos
Invado totalmente os teus quereres...

É minha amada amante, ar e promessa,
Fazemos de um momento, toda a festa,
No amor tão delicado e assim, sem pressa...
Na cama, os dois exaustos, o que resta

De toda essa volúpia, da loucura...
As mãos silenciosas se entrelaçam
Num gesto de pureza e de ternura.
Dois corpos seminus quando se abraçam

Nos dão este sentido mais preciso,
De como deve ser o paraíso!



038

Diverso do que outrora fora vil
Solidão, nosso amor nos extasia.
Beleza sem igual jamais se viu,
Traçando em realidade, a fantasia.

Dois corpos que se tocam plenamente
Por sobre estes lençóis, sedas, cetins,
Fragrâncias divinais rondam a gente
Mostrando a plenitude dos jardins.

Enamorados vamos noite afora,
Suspiros e gemidos, doce alento.
Eu quero teu amor, e desde agora
Não tenho sequer outro pensamento.

Desejo nestas noites sensuais,
Somente ser só teu e nada mais.



039

Diverso de mim mesmo me procuro
E tantas vezes fujo do que sou,
Da claridade encontro o céu escuro
Colhendo o que em verdade não restou.

Se o chão que cevo- louco se faz duro,
Meu sonho no vazio mergulhou,
Saltando num abismo, nego o muro
Antítese que a vida me legou.

Por isso sou poeta, um fingidor.
Pessoa que me habita vez em quando,
Jamais serei de mim, o tradutor

Nesta disparidade, minha fonte
Permite que eu prossiga me enganando
Quebrando com meus versos, cada ponte...
Marcos Loures



5040


Diversas emoções teu canto traz,
Ao fenecer da tarde, trama a lua
Desnuda em plenitude, mais audaz
Enquanto a poesia em ti, cultua

Além da eternidade, imensa paz,
Espalha tantos brilhos pela rua.
O amor que tão somente satisfaz,
A cada nova noite, continua...

Graciosa melodia que alma entoa
Adentra o meu saveiro pela proa
E molda com suprema galhardia

O alvorecer que tantas vezes quis,
Gritando em liberdade: sou feliz,
Num cântico infindável irradia...
Marcos Loures



042


Diversas as facetas de um Amor,
Permitem que eu me sinta sempre à bordo,
A dúvida persiste, não discordo,
Matizes desta mesma, única cor.

Na tela que em palavras quis compor,
Nos braços deste encanto quando acordo
Mal vejo o seu contorno, o seu rebordo,
Mas tento ser um bom navegador.

Recíprocos desejos que se tocam,
Provocam vendaval ou calmaria.
Porém, se convergentes sempre enfocam

O sentimento imenso que traduz,
Às vezes tanta dor, ou alegria,
Mas traz em si a terna e frágil luz...





043


Distante desse amor que mora longe
Tão longe que não posso mais pensar
Amor que tão distante vou por onde
Buscando nessas ondas desse mar.

Distâncias são detalhes tão pequenos
Que nada impedirá nossos anseios,
De noite nos teus braços mais morenos
Roçando minha boca nos teus seios...

Saudade de viver sem mais temer
Vivendo sem distâncias nosso amor.
Nas saias que pretendo me esconder
Procuro teus desejos, meu ardor...

Amada estás mais perto a cada dia,
As asas meu amor, por certo, cria...



044



Distante de teus olhos de teus seios,
Meus dias invernosos vão sem brilho...
perco-me nos caminhos que não trilho;
Sonhando com delícias meus anseios...

Distante de teu corpo caço veios;
Mas nada encontrarei então me estilho.
Não tenho mais nem cais nem tombadilho,
Sem rumo, minha vida sem recheios...

Quis muitas vezes longe de teus braços
Tentar seguir, mas perco meus espaços,
Esvaem os meus dias, pelas mãos...

As horas, meus minutos, todos vãos...
Sonho com tua boca rubra, manso;
Te procuro, onde estás? Mas não te alcanço!
Marcos Loures



045

Distante de teus braços por uns dias,
Vaguei qual cão danado em lua cheia
Uivando minha dor, em agonias,
Lateja a solidão em cada veia.

As noites se tornaram bem mais frias,
Somente uma ilusão inda permeia
Os medos e as angústias. Ledos dias,
Perdidos sem luar, em cinza areia...

Mas vejo que voltaste, sorte imensa,
Mergulho então num mar de fantasia.
Mal sabes, meu amor, quanto eu queria

Receber de ti farta recompensa
Nos lábios tentadores da morena,
Certeza de uma vida mais serena...
Marcos Loures



046


Ditoso caminheiro, tanto engano!
As pernas andam bambas, disso eu sei...
Renovo a cada dia um velho plano...
Fantasias de amor? APOSENTEI!

Quem faz de sua vida uma promessa
De sonhos que não pode mais cumprir
Depois de tanta vida se confessa
O resto do que fui, e não quis ir...

Mas amiga, te peço uma atenção,
A vida noutra vida se revela.
Meu velho estropiado coração,
Sem dentes vai ficando mais banguela...

Mas trago uma esperança sem malícia,
Viver amor intenso? Que delícia!


047


Ditando meus caminhos, alva lua
Trilhando por sertões e pelas ruas
Minha alma assim noctâmbula; flutua,
Procura pelas ninfas, belas, nuas...

Nas folhas prateando minhas sendas,
Mostrando qual destino perseguir.
Na femina presença sedas, rendas;
Pretendo te tocar e te sentir...

Nas floridas searas, rumo e sina,
Pairando meus segredos, teu canteiro.
Tua presença, amada, diamantina
Com brilho sensual e verdadeiro...

A lua com seus rastros... tudo quieto...
Polvilhando o meu sonho mais secreto...



048


Distantes do que foram os teus sonhos,
Os dias se passaram sempre em tédio.
Herdaste com certeza, os mais medonhos
Desastres dos amores sem remédio.

Agora que em tristezas se debulha,
Agora que o sorriso já se esconde;
Granando o sofrimento, tanta bulha,
O canto se escondeu, não sabe aonde...

A noite se tornou uma quimera,
Do riso manso, a dor em tempestade.
No salto perigoso desta fera
Da víbora terrível, a saudade...

Agora que percebes solidão,
Amiga, estendo a ti, a minha mão...


049

Distante, tão distante minha infância...
Os jogos que passamos na ribalta,
Não resta nem detalhe nem substância.
Saudade fustigante me maltrata...

Nos altos desses cerros, discrepância
Incêndio destruindo a mansa mata.
Perdido no meu barco, intolerância
Aberrações, minha alma, me arrebata...

Sei que deveras, finjo que eu existo...
Os olhos se perdendo subjetivos...
Infância machucando, virou quisto...

Vivendo a procurar, vasculho o lodo,
Meus sonhos perecíveis sobram vivos.
Sou apenas pedaço, caço o todo...
Marcos Loures



5050


Distante dos teus braços, fico triste,
A vida vira logo uma bobagem,
Amor que tu bem sabes já resiste
Não sendo mais um sonho, uma miragem.

Convida para a vida que persiste
Com força e com carinho em boa aragem,
No coração, amor que sei existe,
Fazendo no meu peito uma viagem

Que leve aos olhos teus, olhos sedentos
Dos teus, momentos lindos de viver.
Rondando tua cama, fortes ventos,

Chamando para a noite em tal prazer
Que invadem todos estes sentimentos
E fazem nosso amor, meu bem querer...
Marcos Loures



051

Distante do que outrora fora sina
O medo transtornando cada passo.
Amar demais. Ao estender meu braço
A voz de uma esperança desafina

Um canto mais tristonho determina
Sentido em perfeição, já não mais traço
Perdendo pouco a pouco o meu espaço
Saudades sem limite me azucrina.

Os restos do que fomos pesam tanto,
A noite se cumprindo em desencanto,
Minha alma se perdendo em explosão

O vento da lembrança, sempre forte,
Mudando a direção, sonega o Norte
Deixando tão somente a negação...
Marcos Loures


052


Distante do mar morro lentamente
Nesta infindável sede em um ocaso
Que toma o coração, saber e mente
E leva, de repente ao fim do prazo
Gerando este momento mais urgente
Da sorte que se fez ao léu, acaso..

Se pensamento fosse liberdade
Renasceriam campos e jardins.
Pousando no que fora eternidade
As horas prometendo pelos fins
Restando-me, quem sabe, uma amizade
Que torna nossos medos mais afins.

Do mar que não navego, nem pressinto,
As cores da saudade em que me pinto...


053


Distante do deserto que eu soubera
Há tempos em areias escaldantes,
A solidão carcome feito fera
Meus dias mais felizes, tão distantes.

A vida sem perdão já degenera
Os sonhos que pensara triunfantes
Rondando a minha cama esta quimera
Terrível dilacera por instantes

Prazeres que eu tivera há tantos anos...
Apenas na amizade soberana
Talvez encontre forças para a luta.

Deixando para trás os desenganos,
Uma palavra amiga e mais humana
Permite sossegar a força bruta...
Marcos Loures



054


Distante deste amor, do calor dos teus braços,
O frio me tomando; espero a tua volta.
Eu quero recompor a força destes laços
Minha alma sem carinho, aos poucos se revolta

Reclamo tua boca ausente... Perco os passos;
O pensamento leve; eleva-se e se solta
Voando pelo céu seguindo por espaços
Precisa de teu colo e nele sua escolta.

Amor por onde andaste... Aonde te perdi?
Só sei que a tarde chega eu te procuro e nada...
Vontade de gritar: Meu bem; estou aqui!

Sentado em plena areia, as ondas me tocando,
Sinto no manso vento, a voz de minha amada,
Dizendo: Meu amor... Aguarde... Estou chegando...


055


Distante desta boca que eu beijara
Uma amargura toma toda a cena,
Até uma esperança me envenena
A luz se torna frágil, mesmo rara.

A queda se promete e desampara
Saudade se tornando forte e plena,
Corrói o que plantara a paz amena.
Matando o que tão pouco inda restara.

Os dias se tornando pesadelos,
As dores se entranhando, vis novelos
E toda uma existência morre em trevas.

Sem lume, sem faróis, eu sigo cego
Traído pelo barco que navego
Tristezas dos meus olhos fazem cevas.
Marcos Loure



056


Distante das quimeras desta vida
Meus braços encontraram seu valor
Nesta presença amada e tão querida
Que trouxe minha amiga em tanto amor.

Se a sorte parecia já perdida,
Se o dia foi perdendo o seu calor,
Na força da amizade uma saída
Que traz para o destino um esplendor.

Eu agradeço a Deus a todo instante
Por ter te colocado em meu caminho.
Iluminando o rumo em deslumbrante

Farol que se demonstra a cada dia.
Cada palavra tua de carinho
Trazendo para mim, tanta alegria!



057


Distante da magia de um encanto
Que move com firmeza cada passo,
Sabendo deste sonho neste canto
Um verso carinhoso a ti eu faço.

Descanso meus caminhos no teu braço
Cadenciando a vida eu me agiganto
Vivendo o que desejo, eu amo tanto
O verso que me serve de regaço.

Não posso mais negar que necessito,
Vertendo o meu olhar sobre o infinito,
Dos laços que nos unem. Da união

Que é feita com ternura em precisão
Vislumbro a maravilha que me traz
O doce encantamento feito em paz...
Marcos Loures



058


Distante da amargura e sem lamento,
Apenas alegria traz a voz,
Atando uma esperança em fortes nós,
Abrindo o peito aguarda o manso vento,

Que volta de repente ao pensamento,
E mata a solidão cruel, atroz,
Sabendo deste amor que vem após
Os dias tão vazios, sofrimento...

A chama deste amor jamais se apaga,
Curando esta ferida, dura chaga,
Soltando uma emoção em alto grito,

Vencendo a sensação de uma aspereza,
Alçando num momento um infinito,
Envolta em fantasias com destreza...


059


Distâncias sem igual, meu canto então alcança
E traz felicidade a quem sempre sofrera
Mostrando amanhecer em flórea primavera.
Num bafejo gentil, agora vai mais mansa

A dor que me tomava; esta temível fera.
Voltando num momento, a ser uma criança
Que faz de cada dia a mágica festança,
E toma cada estrela, e dela sempre espera

Um dia que será de eterno e calmo brilho,
Selando com amor o rumo do andarilho
Que ao ver a sua estrada, agora bem mais larga

Já sabe discernir, felicidade e luz,
Pois tendo em amizade, amor que me conduz,
Não quero mais comigo a vida insana, amarga



5060


Distâncias que são déspotas da terna
Fantasia em que vivo tão somente
O sonho de um desejo que, querente,
Permite uma emoção, audaz e eterna.

Enquanto esta alegria ainda hiberna,
Tomando o coração um mar ardente
Da lava que se tem quando se sente
Que escuna da esperança não se aderna.

Qual fora um vigilante em noite escura,
Fazendo da ilusão, farol e lume.
Estrelas vão girando num cardume

De luzes na sobeja e vã procura.
Cuidando do canteiro feito em tílias,
O amor vaga noturnas tais vigílias...


061



Distâncias que percorro embalde são vencidas...
O canto que expressava agora vai calado...
Uma ave que voava as asas já feridas,
A noite representa o meu tempo passado...

Por vezes esperava as tuas mãos erguidas...
O gosto do teu beijo, o grito torturado...
A vida não passava, as dores incontidas...
Destino desvendado, amor virou meu fado...

Meu coração batendo afoito sem sentido...
Clarão que iluminava a noite dos meus sonhos...
Amor nunca chegava esboçado no olvido...

A lua clareando o velho e bravo mar,
Estrela que esvoaça os olhos meus tristonhos...
No beijo que eterniza esta certeza: amar!



062


Distâncias que encurtamos num segundo,
Sentindo cada toque em pensamento.
Embora nos pareça mais profundo,
O mar já não contém o forte vento.

De teus perfumes, lábios eu me inundo,
E sinto-te vibrar em um momento,
Por mais que seja vasto o grande mundo,
Maior é com certeza, o sentimento.

Tocar a tua pele, te beijar,
Roçando o teu cabelo entre meus dedos,
Depois em teu destino mergulhar

Falando em teus ouvidos meus segredos.
Deitar depois, envolto nos teus braços,
Mais fortes que as distâncias, nossos laços...



63


Distâncias inclementes que me tornam
Apenas um retrato do que fui.
O mundo desabando logo rui
E todos os fantasmas já retornam.

Espinhos em crisálida decoram
Aquilo que jamais, pressinto, flui.
O tempo de viver que assim me obstrui
Permite assim desastres que me afloram.

Sou nada, nasci nada e morro inteiro
Vencido por cruéis caricaturas.
As horas que perdi, decerto burras

Na angústia de saber qual do tinteiro
Das dores, cores mórbidas, agruras,
Caminho sem saber, vivendo às turras...


064


Distâncias alongadas que me tramas
Em versos e desejos mais ciganos
Que sonham dividir milhões de camas,
Com planos e armadilhas soberanos.

Amor sem ter remédio me vicia
E torna nossa vida num inferno...
De todo grande amor se propicia
Os lumes que incendeiam meu inverno...

Amor que sempre trama uma esperança
Nas horas mais difíceis, nunca falha...
Amor que persevera sempre alcança
Mesmo depois de tempos em batalha.

Portanto minha amada não mais tema,
Amar sem ter limites, o meu lema!



65


Disseste-me insincera que não quer;
Concebo tantas formas, novo estilo...
Não me dizes jamais coisa qualquer,
Lágrimas que choraste? Crocodilo...

Agora que me dizes teu affaire,
Nas luzes que brilhaste não rutilo...
Os teus fascínios vários de mulher,
Resplandecem, deixando-me intranqüilo...

Nas horas que te quis não me querias...
Agora simulando novo amor,
Pensavas aquecer as noites frias,

Na cama com um simples vibrador!
As mentiras sinceras que causei,
Fortuitas, não garantem que te amei!



066

Distante de tão rara formosura,
Meus dias se passavam simplesmente.
Ausência de carinho e de ternura
Tornando esta saudade que, latente,

Professa em duros cortes, amargura
Volvendo sem avisos, de repente,
Causando a sensação de noite escura
Àquele que se perde, tolamente.

Encerro no meu peito uma esperança
De um dia renascer em luz perene
Cometa que se foi há tantos anos.

Assim, a sorte enfim, mostre aliança
Sem mágoas nem desdita que se encene
Mudando, de repente tristes planos...



067

Distante de quem quero e que desejo,
Que faço do querer? Valha-me Deus!
Se sonho todo dia com teu beijo,
Na seca que invadiu os lábios meus...

Apenas te procuro e nada vejo,
Temendo simplesmente um triste adeus
Dos olhos tão risonhos num lampejo
Que mate no meu peito tantas breus...

No ribeirão tão fundo da saudade,
O medo de afogar vai me tomando.
A vida é tão doída na verdade

Eu preciso aprender logo a voar.
Tão longe vou vivendo suspirando,
Querendo, nos teus braços, naufragar!



068


Distante de quem ama, se revela
Em noite tão sublime esta saudade
Roubando dos teus céus a rara estrela
Que possa traduzir felicidade.

Do pensamento livre, corpo e sela
Galopes nesta noite, em liberdade.
Enquanto a poesia já se atrela
Buscando no luar, felicidade

Entranhas os caminhos da tristeza,
Bebendo a fantasia. Solidão
Chegando mansamente põe a mesa

E muda dos teus ventos, direção.
No passo que tu dás, tanta incerteza,
Resquícios das loucuras da paixão...


069



Distante das quimeras, velhos amos,
Em anuência mostram novos fados,
Assim quando da vida desfrutamos
Buscando em velha senda outros prados,
Na solidão perversa nós achamos
Os dias belicosos já passados.

Embora a fortaleza desmorone,
Deixando sempre à mostra, na verdade,
Fragilidade torna-me um insone
Quem nunca divisou felicidade,
A dor de uma esperança ao telefone
Desliga. Foi engano. Falsidade...

Quem sabe se encontrando a ti, amiga,
A liberdade plena, enfim, consiga...


5070


Discordo da verdade irrefutável,
Toda unanimidade é mentirosa,
Jardim com esperança em terra arável
Permite tanto o abrolho quanto a rosa

A moça mais bonita é caprichosa,
Porém nem sempre mostra-se agradável,
Nas ruas do passado esta escabrosa
Figura muito além do imaginável.

Penteio meus desejos com teu riso,
Adorno os teus cabelos com carícias,
Do quanto não mais sei sequer notícias

Aonde irei buscar o Paraíso?
Não vejo outra saída senão esta
Batuque na cozinha fez a festa.


071

Dirijo a geringonça desta vida;
Freando vez em quando, eu acelero,
Por mais que seja franco ou insincero
O amor que tu me deste, Deus duvida.

Metade desta estrada está cumprida,
Mas nada além do resto ainda quero.
Criteriosamente não espero
A data de sonhar está vencida.

Sem ter a validade de algum sonho,
Retrato em desmazelo eu já componho
E recomponho as coisas no lugar.

Medonho gargalhar de uma existência
Sem riscos, gozos tolos, providência,
Pressinto após a curva, o capotar...



072



Direi o amor que tanto desejei
Sentindo o teu calor bem junto a mim,
A solidão se perde num motim,
A glória passa a ser a nova lei.

Dourando em alegria a nossa grei,
Amor, este supremo querubim,
Dizendo finalmente um claro sim,
Responde ao que em delírios perguntei.

Os dias do passado, tão hostis,
Moldaram tal futuro que hoje diz
De toda a maravilha de um prazer.

Fartando-me de luz invado espaços,
Seguindo com firmeza rastros, passos,
Encontro este divino amanhecer...
Marcos Loures



073

Disseste num rondel ser mentiroso
O verso em que declaro o meu amor.
Eu quero muito além de te propor
Um tempo mais feliz, maravilhoso.

Também no meu passado tenebroso
Eu tentei vislumbrar sol e calor,
Que mitigasse, ao menos, o amargor
De um coração de luzes, desejoso.

Mas saiba quanto eu quero o teu querer,
E dele a maravilha de poder
Seguir acreditando ser possível.

Por mais que a vida mostre-se irascível
Queria que no amor acreditasses,
Embora tão diversas suas faces...
Marcos Loures



074



Disseram-me, não sei se isto é verdade,
Que alguém por um momento, foi feliz.
Amor prenúncio doce da saudade
Determinando sempre a cicatriz

Que mostra quão cruel realidade
Semente que abortiva, contradiz
Gerando tão somente a falsidade,
Deixando o céu deveras triste e gris.

Vereda que termina em triste abismo,
Teimoso, ainda insisto e mesmo cismo
Tentando vislumbra um horizonte.

Porém amor se empresta ao cadafalso,
Procuro o diamante; estou no encalço
Da falsa pedraria em podre fonte...


075


Dispersa entre as estrelas, segue a nave
Chamada coração, sem timoneiro.
O amor que se mostrou meu derradeiro
Pudesse ser assim, manso e suave.

Segredo se perdeu sem lacre ou chave,
À deriva sob vento costumeiro,
O barco prosseguindo tão ligeiro
Ancora esta esperança amarga e grave

Num cais onde pensara ser seguro.
Usando da alegria, quero e juro
Ser última viagem a que faço

Sabendo o teu olhar ser o meu guia,
Ancoro sob o sol de um novo dia
Tomando em claridade todo o espaço...
Marcos Loures



076


Disforme, meritório de repulsa,
Travas e trevas, fóbicos rejeitos.
Vísceras em farrapos, trapos feitos,
Nas vestes, hostes, cobras,dor avulsa...

Nos seus olhos sanguíneos, luz pulsa
Vertendo pus, sorri, garras, nos peitos
Expostos; restos, fogo, cáries. Leitos
Procuras, mais lascivo, ris, expulsa...

Nos pântanos nos cântaros, servil;
Nos âmagos dos néscios, dos bacantes,
Caminha tortos passos, voas, vil...

Nos céus, seus pés por certo nunca mais...
Repousa nos políticos tratantes,
Descansa no Brasil, vil Satanás!


077


Disfarço cada lágrima num riso
Que mesmo sendo falso, satisfaz,
Abrindo o botijão, espalho o gás
E perco o que me resta de juízo.

Se tudo o que nós fomos foi granizo,
Não quero amor que seja capataz
Tampouco a solidão que a vida traz
Espalha cada sonho que organizo.

E quando num momento me arrebatas
Sentir em minhas costas as chibatas?
Criando carapaças, um crustáceo

Que sabe muito bem o quanto dói
E mesmo assim se ilude enquanto sói
Sonhar com vida mansa, calma e fácil...


078

Disfarces que assim trazes, eu conheço,
Também tuas mandingas e artimanhas.
Do amor eu conheci as suas manhas
Depois de tantas quedas não tropeço;

Já sei dos teus recados e endereços,
Partidas que tu jogas sempre ganhas,
Olhando para os lados, as montanhas
Não servem nem sequer mais de adereços.

Porém quem tanto quer, fica sem nada,
E assim ao fim de tudo estás sozinha.
Canteiro não suporta erva daninha,

Nem mesmo se em roseira disfarçada.
Por isso, minha amiga, digo adeus,
Jamais destruirás os sonhos meus...
Marcos Loures



079

Disfarce que se esconde sob o mel
Não deixa ver sequer a podre entranha,
A dor que se promete ser tamanha,
Impede, com cegueira ver o céu.

O vento que me assola, o mais cruel,
Já sabe e concatena o quanto ganha,
Na senda de minha alma, tão estranha,
O verbo vem cumprindo o seu papel.

Mas tendo o meu cadáver insepulto,
De toda esta verdade sigo inculto,
Recebo tais mentiras em golfadas.

Olhando para frente escondo os ombros,
Nego-me a ver assim, os meus escombros
Jogados nas sarjetas, nas calçadas.
Marcos Loures



5080

Disfarçando santidade
As vadias se vingaram
Rainhas da iniqüidade
De santas já se postaram

Matam,sangram de verdade
Nada mais aqui deixaram
Os restos desta cidade
Os olhos arregalaram

O pobre trabalhador,
Acoitado não sabia
Que essa mão que finge flor

Sempre foi a que batia
Quem tão “puro”, “doce” amor
De nosso sangue nutria...
Marcos Loures



081

Discutir relação a noite inteira,
Falar do que deu certo, o que não deu,
Se eu quero balançar tua roseira,
O amor entre conversas se escondeu...

Só peço, por favor, não dê bandeira
Todo erro, se quiseres foi só meu.
Depois vem a desculpa costumeira
Nos dedos da rainha, um camafeu

Embora o diamante seja falso...
A cada novo passo outro percalço,
Descalço e recolhendo cada espinho

Eu vi que nada disso tem valor.
O amor, nestas alturas, perdedor
Caquético, morrendo sem carinho...
Marcos Loures


082


Difícil caminhar se estamos sós!
A solidão transforma-se em tristeza
Aumenta, do riacho a correnteza
E resta quase nada, mesmo após.

Ligados pela força destes nós,
Aumentando o vigor que, com certeza
Ajuda-nos a ver com mais beleza
O que se apresentar perante nós.

E vamos, minha amiga, sem temores,
Atravessando as sendas espinhosas,
Nas mãos que se perfumam, tantas rosas,

Trazendo as esperanças por pendores.
A sorte de viver, multiplicada,
Sozinhos nessa vida? Somos nada
Marcos Loures



083


Dimitri faz bagunça
Mamãe logo reclama,
Pareça uma jagunça
Bota fogo na chama,

Não pode dar bobeira
Ele aprontou mais uma,
Fincou mão na roseira
Bicuda, deu na Juma.

Moleque, já sossegue,
Mamãe gritou do quarto,
Batendo até no jegue,
O bichano anda farto

De tanto solavanco...
Mamãe trouxe o tamanco!

084


Dilúvios do passado deixam marcas
Nos quase que jamais viraram sim.
Naufrágios esperados, velhas barcas,
Molduras esgarçadas dentro em mim.

A culpa dos meus erros, sei quando arcas,
Mas nada valerá, sou estopim.
Antigas promissórias, ledas, parcas,
E tudo caminhando para o fim...

Não pesco sem anzóis e sem arpões,
Os versos esquecidos das canções
Que ouvíamos no tempo de criança.

No templo imaginário, nada resta,
A cada novo sonho, apara a aresta,
O corte amaro e lento da esperança...


085

Dilúvios apagando qualquer chama
Não deixam mais o fogo me queimar,
Paixão morrendo aos poucos, devagar,
Apenas solidão, agora chama.

Torpeza faz das lágrimas a lama
Aonde sigo o duro caminhar,
Mudando as pedras todas de lugar,
Não tenho mais nem limo, sequer grama.

E a queda que se faz em erosão,
Exprime a força inútil da ilusão,
Que toda noite chega, e nunca vem...

Vagando pelas sendas, vou sozinho,
Não tendo mais ninguém vasculho o ninho,
Buscando tão somente por alguém.
Marcos Loures


086

Dilapidados reinos e tesouros,
Ausência de teu corpo, sofrimento.
Os barcos procurando ancoradouros
Encontram tão somente este tormento.

Amores que eu julgara duradouros
Acabam, não restou nem um momento,
Apenas os temíveis sangradouros
Matando uma ilusão em fogo lento.

Macabras as saudades que ficaram,
Ariscas emoções que permanecem.
Desilusões, os medos ora tecem

Nem mesmo estas lembranças me anteparam,
O que fazer se o reino se perdeu,
Matando tudo aquilo que era meu...
Marcos Loures



087



Dignificando amor em primavera
A rosa que se deu matando espinhos
Saltando sobre a dor, triste cratera
Cuspindo em sentimentos mais mesquinhos.

A quilha do meu barco resistindo
A toda ventania que vier,
Beijando o rosto claro, manso e lindo
Retrato mais perfeito da mulher

Que quer e que consegue o que pretende
Estende suas mãos, e vem comigo,
O abrigo necessário se desvende
No canto em que entoando eu te persigo.

Consigo recolher a claridade
Deixada pelo amor em liberdade...


088


Diga-me: como faço pra esquecer
Aquela que chegou tão de repente
E trouxe uma alegria de viver
E já se foi embora, simplesmente...

Eu era tão feliz e não sabia,
Não tinha nem noção disso, querida,
Agora que só tenho a fantasia,
Só quero o teu amor, por toda a vida...

Mas sei que nada mais sentes por mim,
Seguiste tua estrada, o teu caminho,
Porém eu tanto tenho amor sem fim,
Que mesmo que eu encontre tão sozinho,

Eu te agradeço amada, e rogo em prece,
Quem ama de verdade, nunca esquece!


089


Difícil suportar a tua ausência,
Eu sei quanto que peno quando vais
Buscando noutros portos noutro cais
Tomando minha vida em inclemência.

Às vezes é preciso paciência
Mas logo te querendo sempre mais,
Eu temo não te ver, amor, jamais,
Isso seria, amada, penitência.

Respiro o teu amor a cada dia,
E nada impedirá que isto me embale,
Não posso permitir que alguém me cale,

Sou pássaro que canta de alegria
Minha alma com a tua enfim decola,
Arrebentando as portas da gaiola...
Marcos Loures



5090



Difícil responder assim, amada,
Eu sei que te desejo; isso me basta.
Futuro renascendo em madrugada
A noite que aproxima e nos afasta.

Só sei que não mais sei de quase nada
Imagem desta deusa pura e casta
Se perde quando a deusa é observada



091


Difícil descobrir a direção
Se o timoneiro está daqui ausente.
Nem mesmo este passado mais recente
Descreve com vigor a solução.

Negando a todo instante paz e chão ,
O medo de viver já se pressente
E trama com saudade novamente
O verso que se fez ingratidão.

Martírios e desejos incontidos,
Contratos muitas vezes descumpridos,
No fundo qualquer erro eu sempre assumo.

Mas vejo minha força se esvaindo
Enquanto a noite fria vem caindo
Roubando gota a gota todo o sumo.
Marcos Loures



092


Diante da cultura universal
Que tanto propalamos, eu estendo
As mãos quando em verdade me contendo,
Disfarço o que mais quero: ser boçal.

Um simples ignorante pontual
Que vive pouco a pouco se perdendo,
Segredos não conheço e nem desvendo
Revendo cada passo, bem ou mal.

Não quero uma resposta, mas pergunto
Fugindo muitas vezes deste assunto,
Tentando parecer o que não sou.

Há tempos encontrei o que me basta,
Se do amor meu verso já se afasta,
Vazio simplesmente, o que restou..
Marcos Loures



093


Diamante que deixei na antiga gleba,
Reverencia sempre o mesmo não.
As flores do passado; em vão, receba
Riscando cada nome, volto ao chão.

Amor de dinossauro até a ameba
Merece mais um pouco de atenção.
Quem ama quer o bem que se conceba,
Calando o que se diz sem atenção.

Agora ao ver o brilho no horizonte
Borrifo uma esperança, caço a fonte
E nada voltará, eu sei bem disso.

Tentando reviver com tanto afinco,
Às vezes sem ter como, quero e brinco,
Olhando o meu retrato, mais mortiço...
Marcos Loures


094


Diáfanos delírios de um amante!
Na ebúrnea manhã abandonada,
A procura do brado triunfante...
Caminhando sem ponto de chegada,

Debruçado no umbral é fatigante
A luta que se trava pelo nada.
Transformada em imagem delirante
Numa forma infeliz, mas rebuscada.

Meu destino por vezes falso, tredo;
Em teus jardins se perde, sem proveito.
Não consigo viver tolo segredo

Nem pressinto teu grito apaixonado,
Delirar é decerto meu defeito,
A morte selará meu triste fado...
Marcos Loures




095


Diademas estrelares, liberdades,
Orquestrando meus sonhos, passam breves,
Compotas de emoções, felicidades
Em cânticos noturnos, belos, leves...

Dos olhos de quem amo; claridades,
Palavras de carinho- eu peço- leves
Contigo para sempre – eternidades.
Que as dores nos maltratam como as neves.

Eu te amo, simplesmente e nada mais.
Sou teu parceiro, tenha esta certeza,
A vida se apresenta em tal leveza,

Que mesmo sendo um barco de papel,
Que enfrenta a correnteza até o cais
Iremos, libertários. Asas. Céu...
Marcos Loures


096

Devores o que resta da carcaça,
Banqueteando em festa assim medonha.
Imagem que se mostre mais bisonha,
Da fera deglutindo a sua caça.

A fome de viver já não me abraça,
Minha alma em desespero não mais sonha,
O medo dentro em mim agora enfronha
Enquanto uma esperança se esfumaça.

Eu sou, disso eu bem sei, um derrotado,
Trazendo as cicatrizes do passado,
Vivendo por viver e nada mais.

Num último desejo feito em verso,
Embora até pareça assim perverso,
Que o resto da carcaça, devorais...


]
097

Devora uma paixão solenemente
Não cabe nem espaço para a paz.
Tomando cada canto deste mente
Paixão me inutiliza, tanto audaz.

Não penso mais em ter a liberdade
Liberto que me encontro em tal paixão
Brilhando não consigo claridade,
Do sim sempre mergulho em pleno não.

Faminto nunca fico saciado,
Sedento, no oceano em que me encontro.
Não deixo respirar o ser amado,
Em paz já necessito desencontro.

Mergulho sobre as pedras, sem ter medo,
Apaixonadamente, um desenredo...



098

Devagarzinho eu chego do teu lado,
Encontro-te desnuda, radiante.
Teu corpo tão divino, desejado,
A vida se transforma num instante.

Amor incontrolável nos domina,
Prazer que nos espera, à flor da pele.
Bebendo desta fonte, rara mina
Ao gozo mais supremo nos compele.

Descubro teus caminhos, noite afora
E nada nos impede: sou feliz.
A fome do desejo nos devora
Eu quero novamente, peço bis.

Assim, num fogo intenso, brasa insana
A vida se mostrando soberana...
Marcos Loures


099

Deus tarda mas não falta, minha amada...
Espero que tu voltes para mim...
Depois de ter sumido pela estrada,
Cansada. Quase morta, bem no fim..

Minha saudade sempre emoldurada
Plantada em cada flor do meu jardim,
Mostrando que essa vida nunca é nada
Se não te tenho mais, morrer enfim?

Mas ouço deste vento benfazejo
A voz que acalentava meu passado.
Da boca mais gostosa, meu desejo

Já diz que está chegando, minha amada.
O sol vem renascendo iluminado...
Mal abro a porta... vejo... não há nada...


5100


Deus salve quem trabalha e não se cansa
De ter uma esperança libertária.
Vivendo o nosso amor, eu sou um pária
Mordendo o meu passado. A vida avança.

Deixando tão somente esta lembrança
Que um dia se fez rude e necessária,
De todos os meus erros, alimária;
A lua se desnuda em temperança…

Macabros os escombros de nós dois,
E embora não resista, no depois
Exponho o que sobrou das ilusões.

O parto não surtiu sequer efeito,
Mas sigo, desta forma, satisfeito,
Bebendo os teus resquícios, podridões...
Marcos Loures



101

Deus me livre dos vates de intelecto
Jamais eu suportei a falsidade,
Distante deste grupo e seu aspecto
Eu só quero encontrar felicidade.

Não quero o meu repente tão infecto,
Quero que noutro mar minha alma nade,
Cansado de seguir tão tolo séquito
Rompi com os pudores qualquer grade.

Meleca no nariz, um cagalhão
Se eu faço ou se desfaço, não importa,
A cor da fantasia que se aborta

É cinza, mas aceso o meu fogão
O prato que eu fizer, eu mesmo como,
O livro que escrevi? Sequer um tomo!



102

Deu cócegas nas mãos dos deputados
Aumento de salário? Ganham pouco.
Eu vejo em cada olhar, pobres coitados.
Pois para ser político – só louco.

Auxílio paletó, tanto assessor,
Trabalham pra carái. Tu não vês isso?
É tudo bom sujeito, sim senhor!
Eu falo com certeza e sem enguiço.

Viver lá em Brasília, sem ter mar,
Desculpe, mas decerto isto é um saco.
É tanta papelada pra assinar
Depois dizem que levam pro buraco

Esta Nação que veio com defeito.
“Mamãe, não quero ser sequer prefeito”.
Marcos Loures


103


Diante dos teus olhos, tudo muda,
A dor que sempre vinha, não vem mais...
No brilho que transmitem, tanta ajuda,
No lume dos teu olhos, plena paz!

Os olhos que recendem tantas luzes,
Irradiam caminho mais escuro.
Mostrando onde se encontram duras urzes.
Promessa tão feliz de bom futuro...

A claridade brota e vem direto
Tornando os olhos meus bem mais brilhantes.
Nos olhos da ternura e manso afeto,
Inundações divinas e constantes.

Teus olhos são tão plenos: claridade.
Te peço, nosso amor: felicidade!


104

Diante de um momento duro e fero,
Amor vai nos tomando em seu feitiço,
É tudo na verdade, o que mais quero,
Refaço em nosso amor, o brilho e o viço,

Nos braços deste amor, eu me tempero,
E um mundo mais ameno, enfim, cobiço.
O sonho pelo qual me regenero
E ao mesmo tempo encanto e me enfeitiço

Amor se derramando em forte chama,
Mudando num segundo toda a trama.
Expressa em perfeição uma esperança

Benquisto pelos deuses, eu garanto
Tomado totalmente por encanto
Quem tem no seu amor toda a fiança
Marcos Loures


105

Diante de beleza, imensa, tanta,
Calado, não consigo mais falar
Recebo em cada raio do luar
O brilho que me entorna, e me agiganta.

Tu tens a formosura que me encanta;
Jamais eu deixarei de te adorar.
Minha alma extasiada sempre canta
Em doce serenata a te buscar.

Eu quero teu perfume em cada verso,
Recendes a milhões de belas rosas.
As estrelas imitam-te, invejosas,

Vagando em mil tiaras no universo,
Perdidas, sem destino, morrem cais,
São flores sem perfume e nada mais...



106


Diante de beleza, imensa, tanta,
Calado, não consigo mais falar
Recebo em cada raio do luar
O brilho que me entorna, e me agiganta.

Tu tens a formosura que me encanta;
Jamais eu deixarei de te adorar.
Minha alma extasiada sempre canta
Em doce serenata a te buscar.

Eu quero teu perfume em cada verso,
Recendes a milhões de belas rosas.
As estrelas imitam-te, invejosas,

Vagando em mil tiaras no universo,
Perdidas, sem destino, morrem cais,
São flores sem perfume e nada mais...



107


Destoa com um resto de esperança
A foto em alegria sobre a mesa,
O quanto desta vida que se preza
É presa do que trago na lembrança;

Quem tem uma ilusão como fiança,
Não sabe usufruir da sobremesa,
Por mais que se imagine em rua mansa,
Açoda com mais força a correnteza.

Ao menos, já desfruto do pomar
Aonde tantas vezes quis arar
Deixando este abandono no passado.

Quem sabe se colhesse um belo fruto,
O dia não se mostre assim tão bruto,
E mude, num momento, o velho Fado.
Marcos Loures



108


Destino tão cruel... são duros os meus fados!
Os sonhos de mudança em teus braços levaste.
O tempo se passou e nunca regressaste.
Agonizo sem ter o bem dos teus cuidados...

Os males que deixaste, em mim são redobrados.
Ó Deus, não acredito, o quanto tu mudaste!
Um vaso que se quebra, a luz que carregaste.
Os dias sem teu canto, em vão, desesperados!

O sal da minha vida, o pranto que vivi;
A sorte que não veio... O que restou, aqui
Um homem retraído, o manto da saudade.

Dobra-se um triste sino em homenagem tétrica
O verso que te faço, embalde, perde métrica
Na trilha do destino, eu vou, sem claridade!
Marcos Loures



109

Destino sempre prega tanta peça,
Embora muitas vezes surpreenda
Na vida quase nada que te impeça
Recebes com carinho em tua tenda.

Porém se amores mostram suas caras,
E mordem como fossem violentos.
Os sonhos mais difíceis anteparas
Em busca dos divinos, bons ungüentos.

Vivendo deste amor qual peregrino
Que trama sem saber do seu caminho.
Amor por ser amor, faz seu destino.
E nele mesmo incrusta fim e ninho.

Ao menos se escutasse minha prece
Mas tolo coração, não obedece!


5110

Destino relegara-me à tristeza,
Onde jamais a lua penetrasse.
Fechando toda porta pr’a beleza.
Somente o vento frio, enfim, passasse...

Destino relegara-me ao vazio,
Da noite que jamais terminaria.
Sabendo que no inverno sem estio,
Depois de certo tempo, morreria...

Destino não previra uma chegada,
Em meio a glaciais caricaturas;
Dos olhos tão sutis desta alvorada,
Tramando a maciez nas desventuras...

Reconheço esse espectro em esplendor,
Reflexo dos teus olhos, meu amor!



111

Deu bicho carpinteiro em minha cama,
Não é que eu possa levantar depois...
Dever a cada dia sempre chama,
Vontade de saber mais de nós dois...

O amor que a gente quer, já fez goteira
Caindo este telhado, desabrigo.
Pensei em ti ter visto a companheira
Que protegesse, amiga, do perigo

Que trama a solidão. Caricatura
Daquilo que pintei no pensamento,
Mas de fato escondeste a criatura
Tentando sonegar conhecimento.

Porém depois de tudo, resta engasgo,
A foto que me deste, falsa, eu rasgo.
Marcos Loures



112


Desvendo na nudez em que me exponho
Os atos insensatos que prometo.
Os barcos; nos teus mares, sempre ponho,
Neste oceano inteiro, me remeto...

Deslinda-se a verdade que preciso,
Nos atos impensados e sedentos.
Procuro pela paz no paraíso,
Encontro a tempestade, os tormentos...

Recebo teu abraço, seios túrgidos,
Urgidos nossos sonhos de prazer.
Os raios que vieram; fortes, fúlgidos,
Espalham em nossa cama e quero ter...

Revoltos os desejos, gritos roucos.
Na busca dos amores tensos, loucos...



113

Destróis sem perceber a velha estrada,
E deixas tanto espinho como rastro,
Os barcos da ilusão perdendo o lastro,
A morte deste amor, anunciada.

Um sortilégio apenas que me enfada,
Mulher que fora outrora estrela, um astro,
Por entre as tuas sendas eu me alastro
E chego finalmente ao mesmo nada.

Aos poucos, tu mutilas a esperança,
Matando o que restara na lembrança
Sacrílego caminho; mau, ladino.

Derramas o vazio que a mão traz
Seguindo sem olhar sequer pra trás,
Gerando sem perdão um desatino.

114


Destoucando os cabelos tão dourados
Em raios tão divinos vem aurora,
Transformando esses sonhos esperados
Em prisão mais dorida e tentadora...

Acorda minha amada com seus raios
Lembrando que é chegada essa partida.
Cavalos esperando, mansos baios,
De novo recomeça a nossa vida...

O tempo que tivemos já passou,
Meu canto continua tanto quanto
Aquele que em espanto já cantou,
Não resta nem a sombra do quebranto.

Assim amor, renasce nossa vida,
Na aurora que marcou a despedida...


115


Destino já previsto num oráculo
Da morte sem remédio ou solução
À vida me prendendo este tentáculo
Não deixa mais restar uma ilusão

A sorte se fazendo em espetáculo
Fantástica eloqüência, esta visão
Guardado num incrível tabernáculo
Ao fim de tudo a morte em tentação.

Qual Acrísio nos braços de Perseu
Joguete do destino sem remédios.
O fim ao tramitar tantos assédios

Prepara tão somente a treva e o breu.
Nos Argos de minha alma; o fim predigo
Procuro a fuga, tento e não consigo.



116



Destino há muito tempo, outrora decidido
Eu sigo o meu caminho envolto em treva e dor.
Uma ilusão me acossa e mostra em tal vigor
Melhor seguir em frente, e mesmo que iludido

Recebo alguma luz, destino a ser cumprido.
E mesmo que inda venha a chama do pavor,
Eu posso enfim dizer, eu conheci o amor!
No canto que ora faço um mundo repartido.

Bebendo desta fonte eu vejo renascer
Num brilho ao fim da noite um claro alvorecer.
E faço deste brilho, apoio para os passos

Que firmes, eu darei, na busca da verdade,
Sentindo este calor que é feito em amizade
Encontro finalmente a luz em finos traços



117

Destino desfolhando os nossos sonhos,
Em vendavais procuram calmos portos.
Rumando por caminhos mais risonhos,
Os cais em temporais vagam absortos.

A força que permite que a raiz
Encare mesmo a noite terebrante
O pensamento expondo por um triz,
Estende sua mágica constante

Que faz com que o amor mesmo calado
Permita um novo encanto a se mostrar.
Não importando mais qual o calado
O barco sempre encontra onde aportar

Entrego o coração em brotação.
Granando na sublime tentação.


118


Destes meus olhos tristes, cadê brilho?
A morte, sobremesa, sobressalta...
Horizontes distantes já polvilho,
A lua transbordando intensa, incauta;

Meu barco naufragando, o tombadilho...
A dúvida cruel me prende, assalta,
Como posso seguir meu rumo e trilho?
A corja que me beija, podre malta...

Não posso consumir um vero orgulho,
O resto do que somos não tem fim...
Meu coração não passa dum entulho,

Meu sonho, castelar, desmoronou...
Espreito teus convivas sem festim,
Me resta mal saber que nada sou...



119


Deste-me solução para os problemas?
Vingaste tantos erros que cometo...
À parte do que foram os meus lemas
Aos olhos delicados me remeto...

As cortes dos amores são supremas,
Veneno sempre foi meu amuleto...
As discussões merecem novos temas,
Não quero que me caces, teu espeto...

Herdades que não tive nem desejo,
Campinas que estriaram essa escarpa.
Me deste solução para esse beijo,

No fundo não sabias mais meu nome...
No rio que pescastes cadê carpa?
A sombra desse amor depressa some...
Marcos Loures



5120


Deste corte profundo por herança
Na boca ensangüentada beijos, riso,
Carpindo cada aborto da esperança
Vencidos os meus sonhos sem aviso.

A dor é minha cota de fiança
Os cardos enfeitando o paraíso
O gesto sem sentido da criança
No passo vacilante que repiso.


Mas vejo que se perde esta amargura
No doce da vontade da morena
Nos olhos bem mais verdes da ternura

No tempo que amacia qualquer pranto,
No vento da promessa que me acena
Com jeito tão sereno em raro encanto.



121


Deste barco do amor perdi a quilha
Sem rumo, não se ancora nos tormentos.
Como posso aportar nessa tua ilha
Se não tenho sequer rosa dos ventos?

Me faltam condições de suportar
As dores e mazelas mais terríveis.
Por isso, meu amor; vou navegar
Nos mares que me forem mais possíveis.

Os ventos que me trazem ao teu cais
São ventos mais suaves, calmaria.
Eu peço teu destino e quero mais,
Em paz quero viver a cada dia...

Nos limos que criaram os meus passos,
Parado nos teus olhos, nos teus braços


122

Destas dores antigas que carrego,
Depois de tanto tempo em solidão,
Nos braços de quem amo, enfim navego,
Tocado pela força da paixão.
Quem fora, antigamente quase cego
Percebe, nos teus olhos, a amplidão!

E faço deste amor, estrela guia,
Tramando um sol intenso em minha vida.
Dançando em emoção, a sinfonia
Que um dia pensei morta, assim, perdida.
Dourando o meu cantar em fantasia,
Luzindo uma esperança mais querida.

Vibrando de alegria, encontro em ti,
Amor que tantas vezes, persegui.
Marcos Loures

123



Destino que pensara ser traçado
Em outras dimensões, divinos cimos
Agora ao encontrá-lo destroçado
Percebo quantas vezes nos ferimos.

Com mãos ensangüentadas foi traçado
O rumo que em desejos, nós abrimos.
O tempo vai incólume e passado
Distante dos caminhos que seguimos.

Agora ao ver a tarde esmorecendo
A morte sem remédios se anuncia.
De tudo o que vivi, eu vou tecendo

A rede feita em ódio; luta e intriga.
O pouco que tivemos de alegria,
Mostra tua presença ali, amiga...


124


Destino que em ternura agora selas,
Em tantas esperanças me fascina
A vida traz as rugas e as mazelas,
Porém uma alma livre se imagina

Em meio a tantas cores, aquarelas,
E tenta disfarçar, sorrindo, a sina,
Imagens que eu sonhei em novas telas
No olhar do amor, beleza descortina,

Assim vou prosseguindo rumo ao dia,
Na luz que cada verso me irradia
Deixando para trás noites escuras.

No quanto eu sou feliz e não renego
Encontro nos teus braços aconchego
Um vale de emoções, fartas branduras...
Marcos Loures


125

Destino preparando cada troça
Às vezes me pegando de surpresa
No fogo que queimou minha palhoça
Quem fora caçador agora é presa.

Bebendo uma cachaça no boteco
Eu vejo as belas pernas, rijas coxas,
Em pensamento; amigo, eu sempre peco.
Porém as esperanças ficam coxas

E nada do que eu quis se realiza,
Nem mesmo qualquer sombra de prazer.
Vivendo tão somente de uma brisa
Sem nada pra sonhar ou pra comer.

Eu sinto que talvez não tenha cura,
No amor que se fez mais bela moldura...



126


Destino na saudade desaguando
Fazendo do meu canto, uma novena,
O mar já tão distante toma a cena
E todo este cenário vai mudando.

Ao litoral sem pressa vi chegando
De todo o pensamento o que me apena,
Na lua que se deita tão morena
Os raios de esperança prateando.

Espinhos que carrego em minha pele,
Lembrando de que o mar sempre repele
Aquele que não sabe navegar.

Ferrado; desde moço, eu perco o passo
Nas veias vai pulsando inda o cangaço,
A fome de viver adentra o mar.



127



Destino meus caminhos ao vazio
Depositando em versos esperanças.
O quanto nada sinto eu mesmo crio
Enquanto tresloucada, não avanças.

O sangue que se escorre num sombrio
Momento perfazendo as alianças
Tocando bem mais fundo principio
E te convido logo para as danças.

Do velho sentimento que carrego
Não tenho nem sequer mais precisão,
Cardume sem um líder morre cego

A vida sem qualquer explicação
Perdendo o timoneiro não navego
Naufrago bem distante da emoção...


128


Dessas velhas tristezas diluídas
Nas almas que morreram sem perdão.
As sombras siamesas, nossas vidas,
Procuram pelo vale da emoção.

Somos ermos, herméticos e famintos.
Da pedra que nos fez, tantas rudezas.
Desejos qual vulcões morrendo extintos.
Vencendo nossos medos e defesas...

Não quero me insurgir contra este fado,
Nem quero me olvidar destes castigos.
Quem fora tempestade leva um fardo.
Sabendo das escoras e perigos...

Mas sinto que talvez tenha a saída.
Seguir sem temer nada em nossa vida!


129


Despudoradamente e mente caça
A perna torneada da morena
Andando pela rua, pela praça
Desejo juvenil ao velho acena

E o quanto quando sendo me ameaça
E faz quase não sabe, finge a cena.
O tempo não parece mais que passa
E o velho renovado em coxa plena.

Que faço se não traço mais a pausa
E agora antigo lobo em andropausa
Invade a minissaia, pensamentos...

Os olhos vão famintos, sem pra que,
Procuro por meus guias, mas cadê?
Quem dera se estes dias fossem lentos...
Marcos Loures


5130

Desponta a estrela d’alva, tu te vais,
A noite se perdendo, não te tenho...
Bem sei que tudo; sempre fui capaz,
Mas tenho que voltar para onde venho...

Tu és meu esplendor, minha esperança,
Tu és a fantasia que sonhei...
Mas sei que quando o dia já te alcança
À solidão que tinha, retornei...

Amada toda a noite és minha glória,
Amada o nosso dia é de saudade.
Noturna a nossa vida, nossa história,
O sol vem nos matando, em claridade...

Brilhando em raios frios, o luar,
Aquece um belo sonho, faz amar...



131


Despido dos meus medos e pudores
Eu quero-te desnuda em noite mansa,
Num gesto mais audaz a gente alcança
Dos céus que imaginamos, esplendores.

Tramando em poesia estes louvores
Enquanto um Paraíso em esperança,
A boca mais voraz em ti se avança
Querendo desfrutar raros pendores.

Por onde fores guarde este poema,
Pois feito em alegria, eu te garanto,
Além de simplesmente alguma algema

O amor que nos atando é todo nosso,
Trazendo em harmonia cada canto,
Um sentimento lúdico que endosso...
Marcos Loures


132


Despido dos desejos mais ferozes,
De amores e paixões desenfreadas
Matando estes cruéis, duros algozes;
Das sortes sem paz, desencontradas.

Meus sonhos se libertam, vão velozes
Na busca por auroras, alvoradas,
Sem medo dos tormentos mais atrozes
Das dores que se morrem, tão cansadas...

O viço adolescente que refaço
No verso e na esperança de verdade
Por onde meu caminho, amiga, eu traço,

É feito deste brilho que não cessa,
Além de toda a força da promessa,
Todo o poder imenso da amizade...


133


Desperto, e de repente nada vejo.
Minha visão turvada por temor,
Sabendo que não sabes do desejo
Que temo traduzir por novo amor.

Meu peito qual algoz sabe a desfeita
Que sempre todo amor, no fundo traz.
De tanta virulência a tez refeita
Procura por um novo capataz?

Não vejo mais saída ó coração,
Tu gostas de sentir-se amordaçado.
Embarco na armadilha da ilusão,
Embora creia esteja vacinado.

Nas sombras desta noite em que caí,
A sorte é que no fim, sobrevivi....



134


Desperto nos teus braços, doce amante,
Abençoaste a vida em riso manso.
Decoras meu olhar com deslumbrante
Beleza que em ternuras busco e alcanço.

Refém da formosura, num instante
Percebo ser possível um remanso.
Que acolha meus delírios e me encante
Trazendo em paz imensa, o meu descanso.

Viajo por teu corpo, sei teu mar,
Vislumbro quanto é belo o bem amar.
Singrando cada ponto de partida,

Avanço sobre margens, praia, areia,
E de repente o mar já se incendeia
Numa procela insana e tão querida...


135


Despertas meus desejos mais profundos,
Provocas sensações de amor voraz.
Querendo mansamente ter teus mundos
Em beijos, teu carinho tão audaz.

Despertas meus desejos tão insanos,
E mostras num sorriso insensatez.
Vivemos sem temores, sem enganos,
Penetro belas sendas, vez a vez.

Vieste dar razão à minha vida
Salvando o que se fora sofrimento.
A sorte em tuas mãos quer que decida
Em doce sedução cada momento.

Despertas as vontades, meus desejos,
Paixão que me inebria em loucos beijos...
Marcos Loures



136

Desperta, amor, em mim tanto desejo
Em chamas, crepitando, me convida
Ao bailado fantástico que vejo
Sendo a trilha sonora de uma vida.

Perene sensação de uma brutal
Felicidade imensa que me toca
De forma salutar e sensual
No beijo que roubei de tua boca...

Cativas-me e, cativo, sempre busco
No teu colo o perfeito diamante
Lapidado de um sonho onde me ofusco
Ao ver a tua face deslumbrante...

As asas deste amor são verdadeiras
Aliadas. E sempre companheiras...


137

Desta moral burguesa, a falsidade
Se faz a cada dia mais insana.
Distantes dos grilhões, a liberdade
Em versos e nos gestos já se explana
Mostrando que talvez uma amizade,
Verdade que se exprime soberana,

Não possa mais conter hipocrisia
Nem mesmo misturar-se com mentiras.
Ao me lembrar de Amanda que dizia
Dos corpos estirados pelos tiras,
Jogados pelas ruas, carnes frias,
Percebo que também tu logo atiras

Talvez não entendi palavra amiga.
Quem sabe se eu fingir, enfim consiga?

138


Desta cilada tola nós saímos
Deixando a teimosia no passado,
Por quantas vezes temos de bom grado
O rumo que, diverso, decidimos.

Olhando as cordilheiras, vejo os cimos
Aonde o amor se esconde disfarçado,
No vento que nos toca tão gelado,
Os passos tropeçando em velhos limos.

Se for preciso sonhar, siga em frente
Não tema os dissabores que virão
Apenas quem se dá de coração

Encontra o seu caminho, finalmente,
Assim do labirinto tão prosaico,
A vida é tecelã deste mosaico...
Marcos Loures


139

Desta fruta tão doce, coração,
Nascida no pomar de uma esperança
Regado com as mágoas da paixão.
Podado com as dores da lembrança;
Granado com as cores da ilusão
No mel que se faz velho e tão criança.

Desta fruta eu espremo todo o sumo
Experimento goles e mais goles.
Recebo o meu caminho em novo rumo,
Sem dores e sem medos que consoles.
Mergulhos impedindo qualquer prumo
Deixando nossos corpos bem mais moles.

Vem comigo que a festa não demora,
Só come desta fruta quem namora...


5140

Desse ser que me invade, escuridão,
As horas se passando nas gargantas,
Tomando todo o gosto em arranhão,
Ao ver o meu olhar, tu logo espantas
E busca do que fora a solução
Não vejo nem mais dias, fomes tantas....

Inverno vem chegando de mansinho
Menino quis pião, caiu rodando,
O velho engaiolar de passarinho
Minha alma estilingada no desando
Do que faz esperança ser um vinho
Que tomo sem saber, me embriagando...

Nem mais um novo tempo em que disfarce
A marca desferida em minha face...

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