sexta-feira, 22 de outubro de 2010

5140

Desse ser que me invade, escuridão,
As horas se passando nas gargantas,
Tomando todo o gosto em arranhão,
Ao ver o meu olhar, tu logo espantas
E busca do que fora a solução
Não vejo nem mais dias, fomes tantas....

Inverno vem chegando de mansinho
Menino quis pião, caiu rodando,
O velho engaiolar de passarinho
Minha alma estilingada no desando
Do que faz esperança ser um vinho
Que tomo sem saber, me embriagando...

Nem mais um novo tempo em que disfarce
A marca desferida em minha face...


141


Dois corpos que se tocam num volteio,
Girando a noite inteira. Como eu quero!
Sentindo coladinhos boca e seio
No ritmo sedutor deste bolero.

Angústia,solidão. Não mais receio,
Encontro junto a ti tudo o que espero
Entregue à maravilha deste enleio
Delícias em desejos, bom tempero.

Vivendo tal ventura, não me canso
Contigo, alcanço espaços siderais,
Nos lábios, sem pudores, sensuais

A busca sem limites por remanso
Que traga no horizonte deste encanto
Estrelas diamantinas, nosso manto...
Marcos Loures


142



Dois corpos que se irmanam e interagem
Formando em harmonia seus destinos,
São como passageiros na viagem
Passando por caminhos diamantinos.

Desejos tão ferozes e ladinos,
Decoram e azulejam a paisagem
Com brilhantes fantásticos e finos.

Santidade voraz, maliciosa,
Colheita divinal, deliciosa,
Sacrários entre sedas e cetins.

Oráculo que há tempos prenuncia
Bendito amanhecer de um claro dia
Ensolarando enfim, belos jardins...



143


Dois corpos entre chopes e conhaques
Assíduos serviçais da hipocrisia
As sinas assassinas; leves baques
Enquanto quem demora não porfia

Usando nos botecos sujos fraques
Arranco a meia noite e crio o dia
À noite nos convida aos roubos, saques,
No meio dos salões, joalheria.

Angélica figura desdenhosa,
Mereço pelo menos tua rosa
Que há tanto resguardada vira espinho.

Bicudos que se beijam, somos nós,
Mortalha da ilusão perdendo o cós
Os pássaros retornam para o ninho...



144



Doída, a minha voz desesperada
Deixando bem distante uma ternura
A marca da tristeza afigurada
Mostrando tão somente a desventura

Restando em nossa vida quase nada,
A noite ressurgida em treva, escura,
A sorte em outros tempos bem fadada,
Agora vai mudando de figura

E traz desesperança como marca,
Naufraga em solidão a minha barca
Em portos tão funestos ancorados

Os gozos de quem sempre quis bem mais,
Distante de teus braços, perco o cais
Remansos em tormentas, alagados...
Marcos Loures



145



Doçura de teus lábios, minha amada!
Promessas de luares sobre a terra.
Tantas vezes sonhei, não deu em nada,
A vida prometeu a paz na guerra.

Amor que traz carinho, também ferra;
Amor que traz aurora e madrugada
Desmaia no luar detrás da serra,
A mão que acaricia anda cansada...

Não quero o sofrimento que vivi
Na ausência da mulher que cedo quis...
A verdade da vida estava em ti.

Ao mesmo tempo inteira e por um triz,
Me trazes tanta mágoa e sou feliz.
No doce de teus beijos, Iraci...
Marcos Loures


146


Doces manhãs, infância vai distante...
Subindo em todas árvores, quintal.
A minha avó, sorrindo nest’umbral.
Meus dias mais felizes; viajante

Do tempo, essas saudades delirantes,
São companheiras santas, festival
Das minhas brincadeiras. No Natal
Os presentes guardados, numa estante

Da memória, trazendo meu sorriso...
Amor passando, célere, preciso.
Quem me dera viver eternamente...

As flores do jardim não mais existem,
As dores entretanto, sim, resistem...
Eu era tão feliz. Hoje, semente...
Marcos Loures



147


Doces lembranças guardo do passado,
Dum tempo tão feliz em plena glória.
Sentindo-me, por ti, tão bem amado,
Jogado nos arquivos da memória...

Trazendo em largos dias, tanta paz.
Vivendo o que queria ser vivido.
O quadro na parede, o sonho traz,
Sabendo que jamais vai esquecido...

Erguendo, das saudades, uma taça;
Num brinde de esperança pro futuro.
Não deixe, meu amor, bolor e traça;
Reacenda esse quadro tão escuro...

E vamos renascer, nosso presente,
Amor que sempre fora mais contente...



148

Dois filhos tão diversos; concebeu
Mater original: Abel, Caim,
Depois de ser expulsa do jardim,
Na inveja do mais velho, padeceu.

A mão de um assassino, fratricida,
Na fúria sem motivo; à traição
Tirando o bem maior de seu irmão
Caim rouba de Abel a própria vida.

E sendo, por castigo, deportado,
Saindo da presença de Jeová
Encontra em Nod aquela que será

A mãe de Henoc que ao ser assim gerado
Distante do Senhor não reconhece
A invocação de Nome feita em prece...


149

Dois corpos que se tocam, turbulências
Benditas num momento inesquecível.
A força da paixão, cruel, incrível
Não admitindo estranhas ingerências.

Jamais verás no amor incoerências,
Um sentimento assim, incorruptível
Cabendo sem limites o incabível
Fazendo ao Paraíso, diligências

Saltimbancos dos sonhos, passageiros
Alados da noturna maravilha.
Amores cultivados, verdadeiros

Espelhos de nós mesmos, carrosséis.
Seguindo pareados esta trilha
Dois loucos andarilhos, mas fiéis...
Marcos Loures


5150

Do sonho de te ter, determinado,
Reféns das emoções maravilhosas,
Depois de tantos erros, no passado,
Aprendo a cultivar perfeitas rosas,

E alçando este infinito, vou ao lado
Das asas deste amor, sempre formosas.
Depois de um rumo incerto, quase errado,
As horas vão passando gloriosas

E a voz que me ordenando, eu obedeço,
Imerso na paixão, não sei tropeço...
E sigo cada rastro desta senda,

Amor que em emoção tudo desvenda
Ao dar a solução aos meus problemas,
Aflora em meu cantar, felizes lemas.
Marcos Loures


151

Do sol que nasce até que a lua chegue,
Promessas radiantes são mentiras...
Nos braços permiti que o dia pegue.
As hóstias que comungo em vão atiras...

Preciso enfim achar quem me carregue
O peso de viver exige liras...
A nuvem vem e cobre, a vida segue.
O tempo se reparte em várias tiras...

Manhã que me deixaste, meu problema
Nas horas solitárias fiz meu verso...
A mansidão das águas, velho tema...

O sol se repartindo traz segredo.
Das torpes valentias do universo
O sol que vai brilhando me traz medo...
Marcos Loures



152

Do sol posso dizer que tem nos ventos
As duras tempestades, fogo intenso.
E nelas muitas vezes quando eu penso
Não posso adivinhar os seus intentos.

Porém a lua mostra por momentos
Um variar freqüente e tão imenso.
Por isso, minha amiga estou propenso
A crer que no correr dos sentimentos

O sol ao encontrar-se com a lua
Deitada esplendorosa, plena e nua
Decerto irá raiar felicidade.

Assim como no eclipse, eu te garanto
Que a terra se embebendo em tanto encanto
Receberá suprema claridade.


153

Do silêncio refaço cada passo
Por horizontes cegos e sem mar.
Carpindo o que me fora, descompasso
Quedando tanto tempo sem falar.
Do corte tão profundo adaga e aço,
O que resta de mim vou te mostrar...

Um cheiro de café refaz do medo
E lembra mãe e filhas tílias, roças.
O gosto da saudade meio azedo
Mostrando quantas lágrimas empoças,
Acordo novamente assim, bem cedo

E parto para o quando sem talvez,
Cadencias meus olhos... perco a vez...


154


Doces lagos; amores e poeta...
Fumaças e fogueiras, esperança!
Vida que em si mesma se completa
No amor, a prometida e bela dança.

Amar sem sofrimento é minha meta,
Repleta de verdades sem lembrança.
Curva determinada pela seta,
Asceta procurei virar criança...

No amor, a solidão é sobremesa;
Teus costumes e vícios, respeitei.
Quem brincava rainha da incerteza

Escadas das estrelas despencou...
Mal sabes o caminho desta grei
O sol da liberdade? Nem raiou...



155 Doce veneno em noite plena traz
Total insensatez, puro hedonismo,
A boca enternecida é mais voraz
Amor não se permite em egoísmo.

Lambendo nossas pernas, mar em ondas
As línguas desvendando tais fronteiras
Os dedos penetrando, loucas sondas,
Estrelas que guardei nas algibeiras

Redomas que rompemos vida afora
Resíduos de nós mesmos espalhados
Nos lumes e no brilho que decora
Espaços toda noite pesquisados.

Farturas entre fátuas esperanças,
Delícias que me dás enquanto alcanças...
Marcos Loures



156

Doce quimera que há tempos me rondando
Descreve em mansas faces, graciosas,
Perfumes soberanos, belas rosas,
E o vento tão suave, calmo e brando.

Aos olhos da esperança se mostrando,
Nas sendas mais sublimes e formosas,
Fugindo das tempestas belicosas
Um novo alvorecer vai se formando...

Assim sonhei em vão durante meses,
Pensara ser feliz, mesmo que, às vezes
As sombras retornavam. Quando esparsas

Matavam plenilúnios por instantes.
Dos passos que hoje sei, cambaleantes,
Apenas tão somente, duras farsas...
Marcos Loures



157

Doce manhã nascendo nas janelas...
Aberto o peito, porta e residência...
Os medos vão usando tais flanelas
Que embalde não me levam inocência...

Nos raios deste sol, cedo revelas,
O brilho que me trouxe essa aparência.
Num vendaval procuro mar e velas,
Nos olhos das montanhas, transparência...

Nas cores deste prisma matinal,
Regente natureza se embeleza.
É mágica serena e principal.

Deslinda-se manhã do meu desejo..
A vida certamente tanto preza,
Permite engalanada um puro beijo...
Marcos Loures


158



Do vinho, o delicado e bom buquê,
O mágico sorriso da menina
Que sabe dominar e desatina,
Sem ter nem perguntar como e por que.

Saber entre as estrelas, de você,
A fonte generosa, a doce mina,
Mudando num segundo a minha sina,
Beleza sem igual na qual se crê.

Folia, fogaréu, festa e reisado,
O velho coração apaixonado
Decifra os seus sinais, estrela guia.

Confirmo esta verdade a cada dia,
Vivendo a poesia do seu lado,
Clarão sobre esta noite vã, sombria...


159


Do vértice, meu salto, sem vertigem...
Nos cumes altaneiros, cordilheiras,
As buscas destruíram paisagem...
Pertuitos que s’abriram nas ribeiras,

Por onde se adentraram, corredeiras,
As mostras do que fomos, u’a visagem!
Os medos enxovalham as bandeiras,
Os tédios retiraram toda aragem...

Nas pedras que carcomo sou voraz,
Nas lutas que derroto meu fantasma,
A boca que semeia Satanás,

É a mesma que devora sangue e plasma,
As tocas que aprofundo sem ter pás,
As marcas que deixei-te d’um cloasma!


5160

Do vento que ora roça os teus cabelos,
Chamados para a noite em festas feita;
Deste amor, obsessão, quase que seita
Sentidos e juízos. Pra que tê-los?

Fantasmas que eu carrego, pesadelos,
Enquanto a poesia nos aleita,
Legando à solidão simples espreita.
Derretem-se as antigas neves, gelos...

Celebro sem pensar no descalabro
Que outrora dominara toda a cena.
As portas da emoção de novo eu abro,

Nem mesmo uma saudade me envenena.
Erráticos temores morrem parcos,
Momentos delirantes, novos marcos...
Marcos Loures



161

Do velho carcará sequer as penas,
O tempo vai mudando devagar,
A gente que namora quer apenas
Que ninguém possa enfim, incomodar.

Sonhando com as tardes mais serenas,
Não quero e nem preciso te contar
De estrelas que brilhando douram cenas
E mostram quão sublime é se entregar

Aos raios deste encanto que não cessa
Viver é muito além de uma promessa
Nas asas deste amor, a liberdade.

Não quero nem ter gota de juízo,
Nos olhos deste encanto eu me matizo,
Seguindo a cada passo, claridade...


162

Do teu caminho conheci segredo
Dos mansos passos luzes, brilhos, paz...
Penas que foste embora logo cedo,
Deixando apenas a lembrança audaz

De uma guerreira impávida, sem medo.
Tanta tristeza minha noite traz!
Na vida eu merecia um outro enredo.
Será que prosseguir, eu sou capaz?

Pois quando enfim chegar o triste inverno,
O coração vazio, quieto e triste.
Amor que merecia ser eterno;

Jóia entre tantas jóias, a mais rara,
À dor da punhalada não resiste
A ausência deste amor que se foi, Iara...



163

Do sonho que se mostra por inteiro
Apenas os detalhes; não recordo,
Seguindo teu perfume, em cada cheiro
Amor vai penetrando e sobe a bordo.
Do barco imaginário e derradeiro,
Nos braços de quem amo; agora acordo.

E vejo que em verdade eu sou feliz,
Não quero e nem consigo disfarçar,
Amor vem clareando um céu tão cris
Derrama sobre nós belo luar.
Do quanto que te quero e peço bis,
Jamais me cansarei, enfim de amar...

Ao ver as folhas secas pelo chão,
Do outono que entranhei, colho o verão...
Marcos Loures



164

Do quase que doía e não dói mais
O prazo terminando, sigo em frente
Erguendo-me diante os vendavais
O amor bateu, correu, se fez descrente.

Os versos que escrevi foram boçais,
Mas nada do que sonho faz contente
Quem tenta e recomeça sem jamais
Fazer o mesmo trilho novamente.

Atalhos procurando, chego a ti,
Arranco cada espinho. Sou sarcástico.
O riso que não quero, este de plástico

Às vezes vem de lá, outras daqui.
Matuto coração apaixonado,
Durante tanto tempo, abandonado...
Marcos Loures


165

Do quanto que me adora mente e jura,
Mas deixa o coração em plena festa;
Na boca que me beija sem tortura
A sorte que se quer e já se empresta.

Colado em tua pele, tatuagem
Vencendo a tempestade que virá
Areia movediça dá coragem
Desejo sempre e tanto desde já.

Saltando sobre colchas de retalho
Bacante se mostrando toda nua,
O grito em fogo intenso; eu logo espalho
E o tempo de sonhar se perpetua.

Serpentes que te entranham e te rabiscam
Desejos e prazeres se confiscam...
Marcos Loures


166

Do quanto nosso amor mal resolvido
Pudesse transformar pedra em carinho.
O quase com certeza e não duvido
Demonstra este vazio em que me alinho.

Teria com vagar um novo ninho
Se o verso fosse ao menos dividido,
As cordas arrebentam-se do pinho,
E o vento vem bater em meu ouvido

Falando do que foste e não teimaste,
Amor quando se mostra em tal desgaste
Maltrata com vigor ingênuo peito.

Mas sei ser minha culpa, nada mais,
Usando subterfúgios tão banais
Os erros que cometo; sempre aceito...
Marcos Loures


167




Do quanto em dividendos nós teríamos
Arfantes madrugadas? Quero bis.
Desejo pelo qual nos debatíamos
Explícita vontade que mais quis.

Folguedos e armadilhas; traz o amor.
Decola e num segundo já nos trai.
Cuidado, companheiro, com o andor,
Que a casa é muito frágil, logo cai.

Dos sonhos de menino, trago ainda,
A bela que pensava adormecida,
Ou mesmo a Cinderela pobre e linda,
Mudando de cenário, a minha vida

Mostrou que, no final, morro burguês,
Prazer? Quando demais, é um por mês...


168


Do quanto é mavioso o meu jardim
Em pétalas diversas, coloridas,
Recebo o benfazejo vento em mim,
E as horas sempre passam distraídas.

As cordas se rompendo até o fim,
Farturas em palavras decididas,
Nas cores tão diversas, vou assim,
Somando as nossas contas divididas.

E esboças num sorriso com fartura,
Um gesto em sincronia, uma ternura,
Fazendo com que a vida, enfim, se arrume.

No cume deste olhar tão emblemático,
O gozo do prazer cego e temático
Adentra o infinito em teu perfume.
Marcos Loures


169

Do quanto amor é nosso; raro emblema
Que mostra a perfeição de um sentir puro.
Rompendo com vigor qualquer algema
Nos braços deste sonho eu me depuro.

A rosa que adentrara na janela.
Modinha que o poeta deslindou
Perfume que eu roubei da moça bela
Durante tanto tempo me entranhou.

Do quanto eu te agradeço Bittencourt
Toda a ternura feita em melodia,
No lusco fusco abaixo este abajur
E a noite vai singrando em poesia.

O sonho pequenino se agiganta
Minha alma enamorada, agora canta...

em homenagem a SÉRGIO BITTENCOURT, CITAÇÃO DE MODINHA


5170


Do porco que comi larva terrível,
Passeia no meu corpo e quer regaço.
O jeito é conviver com dor incrível
Que trago no pulmão. Não me desfaço

Do verme como praga inconcebível
Figura que me mata de cansaço.
Não posso acreditar, mas é tangível
Mantenho desde sempre estreito laço.

Se fosse solitária, tudo bem.
A tênia que carrego agora tem
Mania de grandeza. Que destino!

Comendo como um boi não me sacio,
Sem seca, temporal, inverno estio,
A peste dominou meu intestino!
Marcos Loures


171


Do pico da Bandeira, o coronel
Olhando para os servos idiotas,
Abrindo deste inferno tais compotas
Achando assim divino, o seu papel.

Arrota sobre o povo, rasga o véu
E toma em suas mãos as pobres rotas
Daqueles que buscando suas cotas,
Suportam a cangalha tão cruel.

Os olhos sanguinários deste demo,
Que impera e com certeza nunca temo,
Arreganhados cevam servidão

Balburdia balbucia-se calada
A gente pequenina amordaçada
Entregues ao chicote do leão...



172


Do peito que em tempestas já soçobra
Uma expressão terrível quase agônica
O quanto fui feliz agora cobra
A sorte em nova face arquitetônica.

A tônica do amor repetitivo,
Expressão nefasta agora trama.
Do quanto que já fui de ti, cativo,
A melodia amarga os tons e exclama.

Descendo pelos ralos, esperança,
Esgota-se no mangue da ilusão.
Esgotos e sarjetas, nova dança
Mudando ao fim da noite, este refrão...

Minha alma desdenhada e carcomida,
Nas mãos a fantasia apodrecida...
Marcos Loures



173


Do pecado e veneno que bebemos
Em versos e delírios sem limites
Espelhos onde sempre nós nos vemos
Reféns de outras loucuras e palpites.

Não quero nem impeço que acredites
No fogo deste inferno que teremos
Nem sinto nem desejo que limites
As hóstias que não temos nem comemos.

Só falo deste amor, santo consórcio,
Que é feito de ternura imensidade,
Embora no passado, o meu divórcio,

Demonstre para a falsa santidade
Pecado que envenena quem não ama
Matando em nascedouro a vida, a chama..


Em homenagem ao Papa Bento XVI


174

Do sertão das Gerais trago a saudade
Fazendo madrigais, louvando a lua,
A luminosidade continua
Porém ficou distante a claridade.

Nos portos de um amor pura verdade
Lacustres esperanças, terra nua,
Imagem que se fez em veleidade
Saudade com a noite compactua.

Do sertão destas Minas, meu tesouro,
Na cabocla serena uma malícia
Das bocas esfaimadas, a carícia,

Dos sonhos um perfeito ancoradouro,
Mineiramente chega à minha porta
Saudade mansamente; fundo, corta...


175

Do riso de ironia, o sofrimento
No altar que se professa incandescência
A boca que se oferta em penitência
Transforma qualquer beijo em excremento.

Nos braços deste sonho eu me arrebento
E entranho o que pensara previdência,
A morte em mais sublime providência
Explode em fogo fátuo e violento.

A pele se desfaz; velha carniça
Amor qual fora areia movediça
Em claras ventanias furiosas,

As mãos da fantasia que se frustra
A podridão eterna assim se ilustra,
Nas tramas deste amor, impiedosas...
Marcos Loures



176


Do que talvez pensara ser um fim,
O pleno recomeço desta história.
Seja em Nairóbi, Roma, até Pequim,
A lua tem seus quês de merencória

Convida pro vermute e para o gim,
Perdendo assim a linha divisória
Já não me importa mais por onde vim,
A porta se quebrou, sobrou escória.

Bicudas no lirismo: mato a lua
Moleca que se entrega e continua
Fazendo dos românticos: reféns.

Eu sigo os rastros tolos que deixaste
Que nos condenam sempre a tal desgaste
Não deixam nem mais sombras de onde vens...
Marcos Loures



177

Do micro ao macrocosmos, viajando
Paisagens repetidas; tenho visto,
E nisso e só por isto, sei que existo,
Sabendo desde sempre como e quando.

Retrato insofismável, mesmo brando,
Das tantas expressões que agora listo,
Nós somos vida e morte, um ser que é misto
Não nato, tão apenas transformando

Os átomos que existem no universo
Bem antes de existirmos, água e sal.
Do pó que fomos feitos, tão diverso

Ao mar que dentro do útero carrega
À morte sobre a terra, a pá de cal,
Eterno ressurgir do ínfimo ao mega.



178

Do meu verso piegas fiz o rancho
Aonde poderia te esconder.
O velho coração deveras ancho
Esgota toda fonte de prazer.

Fazendo da emoção a guardiã
Que toma os meus segredos e me salva,
A lua dos meus sonhos amanhã
Virá bem mais bonita imensa e alva.

Saber do doce beijo da mulher
Que o peito enamorado busca e quer,
Macias suas mãos, olhos anis...

Rasgando qual Vinícius rasgaria
O velho coração já se inebria
Medonha fantasia faz feliz...


179


Do menino que fui ainda resta
O sorriso que teima em persistir.
Por mais que a vida mostre-se funesta
Uma esperança doura o meu porvir.

Sem nada que hoje possa destruir
Criança que resiste agora atesta
Sabendo cada passo conduzir
Vencendo os mil perigos da floresta

Das dores e dos medos, desencantos
Espalho pelas ruas os meus cantos
E neles permaneço em franca luz.

Vertendo uma alegria em meu olhar
Buscando em mansidão poder levar
Mais leve, a cada dia, a minha cruz...
Marcos Loures



5180

Do menino que fomos; nada trago,
Perecem os meus sonhos, fantasias.
A vida se mostrando sem afago,
As noites, madrugadas, são sombrias.

Quem dera a placidez tomando o lago
Aonde voam livres, poesias,
Porém tanta aridez de um mundo vago,
Professa sob o sol, palavras frias.

As ânsias de uma vida bem melhor,
Que tanto delirei que sei de cor,
Sucumbem à verdade mais tenaz.

Quem tanto desejou; nada consegue,
Sem ter uma alegria que inda regue,
A seca sem remédio, a vida traz...


5181



Do mel de tua boca eu sempre quero
Voraz, calmo, sereno, audaz... Perfeito.
Sentindo o teu perfume quando deito
Encontro a maravilha que eu espero.

A vida traz um vento às vezes fero,
Mas quando em regozijo eu me deleito
Aguardo que tu venhas ao meu leito,
Assim nesta alegria/amor prospero.

As roupas pelo chão são testemunhas,
Dos sonhos que comigo tu compunhas
Em ritos desejados e carnais.

Destino feito em êxtase divino,
Contigo meu amor eu me alucino
Querendo toda noite sempre mais...



182

Do paraíso em vida eu me avizinho
Sabendo que encontrei felicidade,
Bebendo cada gota deste vinho,
Encontro finalmente a liberdade.

No colo de quem amo eu já me aninho
Deixando para trás a falsidade
Mudando claramente o meu caminho
Eu sinto ser possível claridade.

Mantendo o passo firme, inexorável,
Imerso em fantasia demonstrável
A cada novo dia a dor se esquece.

Apenas lamentando a dura sorte
Que traz no peito amargo e já sem norte
Quem pensa que em amor, cedo padece



183


Do pão que sobrou faça uma mironga,
Assim como do amor eu fiz saudade.
Nos pés deste menino, o velho Conga
Nos olhos do senhor, ansiedade...

Não quero mais olhar de songamonga
Tampouco algum sinal de falsidade.
Ouvindo tão distante uma milonga
Dançando o sentimento, na inverdade.

Sem ter o que dizer de nosso caso
Que chega finalmente ao seu ocaso
No decurso de prazo, se esvaiu.

Na colcha de retalhos que nós fomos
Saudade enaltecendo raros gomos,
De um jeito bem mais nobre e mais gentil...
Marcos Loures


184


Do outono que entranhei, colho o verão
E dele cada fruto em meu quintal.
As aves vão voltando em migração
As roupas vão secando no varal
Por mais que venha agora outra estação
O ritmo deste amor é sempre igual.

Usufruindo sempre deste fogo,
Amor me fortalece e me conquista,
Vibrando tão somente no teu jogo,
A praia do meu barco já se avista
E vendo este farol vou desde logo
Querer do amor bem mais que algum turista.

Não posso resistir à tentação,
Do fogaréu intenso, este vulcão...


185


Do nada que trouxeste; tudo levas;
Deixando para trás o que plantamos,
Distante da emoção que desfrutamos,
Apenas as tristezas sei que cevas.

Por mais que tantas vezes sei que nevas
Quebrando do arvoredo tantos ramos,
Eu sei que na verdade já tentamos
Fugir das solidões, amargas cevas.

A culpa, na verdade está comigo,
Um velho condenado ao desabrigo
Não tem como saber de um manso cais.

A sina deste insano sonhador,
A cada novo dia vem compor
O fato de ter sempre este jamais.


186

Do jeito que pensei e sempre quis
Fazendo das palavras, canivetes
Ao vaso já quebrado me arremetes,
Enquanto a esperança é meretriz.

O quanto necessito ter um bis,
Esconde sob a manga tais confetes
O som que mal ouvindo, tu repetes
Não deixa um ser humano ser feliz.

A lua do sertão, a linda flor
Os riscos costumeiros de quem sonha,
Não tenho mais juízo, o destemor

Arranca qualquer medo do meu peito.
Sem ter montanha, morro de vergonha,
Mas tendo-te ao meu lado. Satisfeito...
Marcos Loures


187

Do gozo faço a minha adubação
Colhendo as flores belas do futuro,
O quanto que se mostra mais escuro
É tudo o que preciso: tentação.

Na ação já tresloucada, a sedução
Que farta; não concebe sequer muro,
Do fogo em explosão eu já em curo,
Negando o meu adeus, arribação.

O prazo de viver não se conhece,
Sequer o quanto temos pela frente,
Por isso não se esqueça de repente

Do quanto a vida, enfim, nos oferece,
Na boca delicada, carmesim,
Recolho o teu perfume de jasmim...
Marcos Loures


188


Do fogaréu intenso, este vulcão
Trazendo o teu sorriso tão ardente,
Promessa calorosa de um verão
No quanto te desejo, amor se sente.
Atenda ao meu chamado, coração
E venha me fazer, bem mais contente.

Somando nossos corpos, infinitos
Expondo num momento o paraíso.
Usando dos prazeres, nossos ritos
Permitem um caminho mais preciso.
Os dias do teu lado são bonitos
Expressam fielmente este sorriso.

Agora que encontrei felicidade
Eu sinto a cada dia mais saudade...
Marcos Loures


189


Do dourado tão límpido que trazes
Neste olhar que me encanta qual farol
Lunar que não disfarça suas fases
E brilha neste astral bem mais que o sol;

Eu quero tal tesouro no momento
Mais feliz que percebo em minha vida
Acostumada a todo sofrimento
Que faz com que esta luz seja querida.

A sorte me enganara em tantas duras
Ilusões. Percebendo o teu olhar
Deslumbrando essas noites tão escuras
Incendiando as águas do meu mar,

Estou agradecido só por essa
Sorte que me deste, amor à beça...


5190

Do corpo mais perfeito e sensual
Vislumbra o coração com mais verdade
Embora seja vária a realidade
Eu teimo na viagem triunfal

No beijo e no carinho ritual
Percebo a mais sublime liberdade
Matando pouco a pouco uma saudade
Do amor eu faço um traço casual.

Amar-te em tal insânia, simplesmente
Não tendo qualquer forma de cobrança
Em ti eu mergulhando plenamente

Não vejo mais fronteiras, somos um.
Amor não se divide em modo algum,
Em ti encontro a minha semelhança...
Marcos Loures


191

Do corpo de quem amo, eu sou grileiro,
Vasculho cada ponto, sequioso.
Sentindo dos desejos cada cheiro,
Invado na procura deste gozo.

Permita que me faça teu posseiro,
Vivenciando o sonho mavioso,
De ser de quem mais quero por inteiro,
Trabalho mais audaz, meticuloso.

Preâmbulos, deixemos pra depois,
Matemos a vontade de nós dois,
Sem medo, sem juízo e sem pudor.

Os rios que se encontram, mesma foz,
Traduzem o que somos, fortes nós,
Atados pelas tramas deste amor...
Marcos Loures



192


Do mármore a dureza delicada.
Esculpis uma estátua majestosa.
Eriges com firmeza engalanada
De forma tão sutil, maravilhosa.

Estátua dedicada ao deus do amor
E feita com total dedicação.
Amada como é bom o teu pendor,
Em cada talhe mostras perfeição.

Assim como brindamos sem temores
Nas horas que restamos mais sozinhos.
Deixando que se morram os pudores,
Usamos um cinzel pleno em carinhos...

Louvamos deste jeito a divindade,
Vasta sofreguidão, lubricidade...


193


Do mar o belo marulho,
Nos olhos da cobra verde
Meu peito carrega entulho
Quero descanso na rede

Da vida, tanto barulho
P’ra nada. Nunca mais hei de
Tentar um novo mergulho.
Água me basta p’ra sede!

Basta de tantas mentiras
Nunca mais me diga nada
Coração? Deixaste em tiras!

Minha voz anda cansada
De tanto destilar liras
Deixadas por minha amada!
Marcos Loures


194


Do mar malicioso este ciúme
Que toma o coração apaixonado,
Lambendo tuas pernas... Azedume
Me tomando, deixando-me de lado.

Sentindo o teu sabor e teu perfume
O mar vai se tomando, extasiado,
Bem mais forte nas ondas que o costume,
E todo o litoral 'stá ressacado...

Eu vejo toda a cena, enraivecido.
Quem dera ter ventura do oceano...
Aos poucos, me sentindo mais vencido

Retiro-me da praia. De repente
Ouvindo a tua voz, mudo de plano,
Mergulho em teus carinhos, totalmente...


195

Do lixo que surgi não mais carrego
Senão a fedentina que te trago.
O passo sem sentido morre cego,
A louca serventia de uma afago...

Quem dera a mansidão de rio ou lago,
Não posso, mas teimoso inda navego,
Bebendo a poesia em cada bago
Às tontas maresias eu me entrego.

E vibro com prazeres mais discretos,
Embora sobre a tenda sei concretos
A casa não suporta um terremoto.

O gesto da milícia aterroriza
Enquanto não sobrar sequer a brisa
O amor fica distante, vão, remoto...
Marcos Loures


196


Do lado que me cabe desta rua

Não há sequer no mundo que convença

Minha alma a desistir, e continua

Até que meu desejo enfim te vença.



As horas se passando, são eternas,

Os raios do luar, te possuindo...

Quisera ser um deles nestas pernas



Marcando de prazer minha morena

Distante, bem distante vou pedindo,

Abra as portas; te juro... Vale a pena!
Marcos Loures


197


Do lado ocidental, fétido lixo...
Das marcas das torturas sem sentido.
As trevas são restolhos, olho fixo.
A fome esmiuçada, sem partido..

O canto de teu povo, mais prolixo,
Traduz a velha forma dum olvido.
Nas paredes do peito, logo afixo
Cartaz, mensagem ,texto nunca lido!

Escuto nas canções tantas derrotas
Destinos se cruzando, tontas rotas,
As vozes que te cantam se esmorecem...

Do lado acidental vidas padecem...
Esperanças transitam noutras cotas;
Do lixo ocidental, as flores crescem!



198


Do labirinto imenso, é a saída
Amor que nos transforma em poesia.
Tomando nossa sorte em harmonia,
Esquece toda a dor da despedida.

A mão que me acarinha traz a vida
A quem não mais pensava em alegria.
É tudo como em sonho eu mais queria,
Tua presença amiga e tão querida.

Vagando por teu corpo, lua e estrela,
Rainha dos meus versos, sedução.
Eu necessito e sempre quero tê-la

No acorde delicado da canção
Que fale deste amor tão verdadeiro,
Guia dos meus desejos, feiticeiro...


199

Do jeito que pudesse não valia
Se a cria não se cria nem faz festa.
Amor quando se dá em revelia
Incêndio declarado na floresta.

Em favos vou bebendo a fantasia
E nada depois disso, ainda resta,
O mar que não me deu Marta ou Maria
Em ondas tão diversas desembesta.

Cantando por cantar apenas isso,
Do mágico momento o teu feitiço
Fez tudo pra que a gente inda sonhasse.

Meu coração não passa de um babaca
Amor quando teimoso sempre empaca
Mostrando em ironia uma outra face...
Marcos Loures


5200

Do barco que se foi, dura inclemência
Tornando este cenário mais sombrio.
O amor se disfarçando em penitência,
Inverna num segundo todo o estio.

Tomado pelas mãos de uma demência,
Um tempo mais feliz não fantasio,
O gozo emoldurando esta excrescência
Das farpas e das grades, mortes fio.

Buscando uma anuência da ilusão,
Vertendo em tantas lágrimas meu Norte,
Apenas aguardando o fundo corte

Que trama num silêncio, a solidão,
Espero, finalmente o salto, o bote
Cravado no meu sonho até que esgote...
Marcos Loures


201

Do banco da pracinha, do jardim,
Memórias de outros tempos. No quintal
As roupas balançando no varal
Da vida que passou dentro de mim.

O tempo foi tornado em temporal
O mundo se nublou demais assim
Calando toda a força do festim
Até que amor, chegaste, no final.

E a ventania dura virou brisa,
A paz veio tão mansa e companheira.
Tua palavra amada sempre avisa

Que tudo renasceu em nossa vida.
A flecha de Cupido tão certeira
Refaz esta alegria, já perdida...


202

Do amor, a mola mestra, luz e encanto
Espalhados pela terra em noite mansa,
No quanto eu desejei já sem espanto
Permite imensidão na qual se lança.

É claro que um disfarce cai tão bem
Em momentos difíceis, eu não nego,
Mas sem esta presença, certo alguém
Caminha pela vida, amargo e cego.

A música que escuto; uma balada,
Falando dos amores impossíveis,
Paixão que é tantas vezes maltratada
Sob olhos bem mais duros, impassíveis,

Diversa do que canta o realejo,
Trazendo a paz sincera que eu desejo.



203

Do amor que tanto quero, estás concorde,
Infindas alegrias tu me dás.
Permita que a teu lado eu sempre acorde,
Sinônimo de glória, luz e paz.

Não deixe que as tristezas eu recorde,
Sabendo da emoção que amor me traz
Outrora um simples pária, agora um lorde,
De ser bem mais feliz, eu sou capaz.

Açoda-me a ventura de sentir
Maravilhosamente o meu porvir,
Nas mãos tão sedutoras da paixão.

Abrindo do meu peito, estas janelas,
Encontro este deslumbre que revelas
Fazendo disparar meu coração...
Marcos Loures



204

Do amor que tantas vezes muda o Norte
Das vidas que se entregam totalmente.
Às vezes mostra a cura ou traz o corte,
Mudando o nosso rumo vorazmente.

Por mais que o rio trague o seu aporte,
Não muda do oceano uma corrente.
Nas mãos do deus menino, a nossa sorte,
Além do que se quer ou se pressente.

Beber da farta fonte, uma ventura,
Que o coração audaz sempre procura
Vencendo os seus temores e receios.

Seguindo, peito aberto, exposto ao vento.
Sorvendo com nobreza o sentimento,
Buscando do infinito, rumos, veios...



205


Do amor que sucumbiu, o mesmo traço
Repete a velha cena, riso e pranto.
Tomado pelo incrível desencanto,
Por vezes, falsamente eu me refaço.

Um gozo já perdido agora eu caço
E bebo do que fora um pouco ou tanto.
Amor que se tomou pelo quebranto
Aos poucos, sem remédio, eu me desfaço.

Porém se assim disfarço, vou em frente,
As contas pra pagar, o riso falso.
Mergulho neste mesmo cadafalso

Não tendo outro caminho que eu invente
Melhor é prosseguir, boca fechada.
Sabendo desde já, não terei nada...
Marcos Loures


206

Do amor que se mostrou ser mais capaz
Eu trago este sorriso franco e belo,
No gozo da alegria a vida traz
Um sentimento calmo e tão singelo.
Somente o amor profundo satisfaz
Portando toda a glória em que revelo

Os sonhos de um mineiro enamorado,
Vestindo esta esperança em fantasia.
Viver o quanto posso do teu lado
Demonstra todo o bem que em que se via
Um canto pelos cantos, encantado,
Forrado pelas mãos da poesia

Mostrando a lua clara plenamente,
Deitando sua prata sobre a gente...
Marcos Loures



207

Do amor que nos tomou, forte e sincero,
Um rito que se mostra encantador.
Viver a plenitude que eu espero,
Colhendo em teus canteiros cada flor.

Tu tens em tuas mãos tudo o que eu quero,
Caminho que é deveras promissor,
Intenso sentimento, outrora mero,
Expressa no meu peito, este louvor.

Teu beijo delicado e tão gostoso,
Teus lábios de um mais vivo carmesim
Desejo deste amor que sei sem fim,

Um templo aonde um deus maravilhoso,
Criou raro tesouro que é só meu,
No amor que, alucinante, concebeu.


208

Do amor que nós tivemos, nem acróstico,
Estúpida quimera que tempera
Um coração que teima em ser agnóstico
Sem óstios, hóstias, beija amarga fera.

Acendo o meu cigarro, bebo o vinho
Entendo cada senda como sanha
A cada passo assolo o sol sozinho
O verde se espalhando na montanha.

Apanho os meus bonés espero esquife
A paz celestial, o que pretendo.
O amor que não se mede vai patife
Em todos os meus poros mel vertendo.

Mas saiba que te quero bem, ainda.
Palavra que me dizes é bem vinda...


209

Do amor que nos promete maravilhas
Deslindam-se momentos tão suaves,
Seguir estas estrelas andarilhas
Fazer dos corações sobejas naves.

Supero com teus lábios os entraves
Sabendo quanto em mim percorro as trilhas,
As esperanças voam como as aves
Os sonhos não respeitam, mares, milhas....

E tudo o que mais quero é ser feliz,
E mesmo que eu me faça trampolim,
O amor que me ofereces traz enfim

O gosto de alegria que eu bem quis.
Se a gente pode ter algum futuro?
Mergulho sem defesas neste escuro...



5210

Do corpo da mulher montes e vales
Colinas deslumbrando paraísos.
Riqueza de prazeres em detalhes,
Uma escultura em toques mais precisos.

Doçuras cristalinas, os sorrisos,
A divindade encontro em tais entalhes
E perco totalmente os meus juízos
No encontro delirante bens e males.

Ao dicotomizar delírio e dor.
A fonte inesgotável a propor
Um pálido desmaio em braços mansos.

No colo desta deusa, flechas, arcos,
Deliciosamente aporto os barcos
Sabendo temporais em tais remansos...


5211

Do beijo com certeza gostarás
Pois dado com amor e com desejo.
Não digo que em amor eu seja um ás,
Porém deste jeitinho que eu prevejo

Com língua audaciosa sou capaz
De tudo pra fazer gostoso o beijo
Numa umidade imensa e bem voraz.
Trazendo pra nós dois louco lampejo.

Descendo pela boca, no pescoço,
Depois vou passear pelos teus seios,
Abaixo da cintura é um colosso.

Num alvoroço intenso sem receios,
Após eu me encantar com a virilha,
Chegar ao ponto mágico, tua ilha...
Marcos Loures


5212

Do barro inerme, surge a poesia
Em toda magnitude, feita amor,
Nas mãos deste absoluto Criador
Que tanto desejou a amada cria.

Momento de suprema fantasia
Aonde com carinho de escultor
Com olhos de um sublime agricultor
Iluminou a Terra antes sombria.

Poeta magistral que assim, em glória
Do vazio transforma toda a história,
Ao ver que a criatura, agora avança

Temerária qual fera a Terra,
Sangrando este soneto a cada guerra,
Guardou no último verso; uma esperança!
Marcos Loures



213

Do amor que emoldurou em ti princesa
A tela mais sublime em gozo e glória,
O corpo se entregando em sobremesa,
Mudando o torpe rumo desta história.

Mergulho no teu colo, esta vontade
De ter o teu amor bem junto a mim,
Razão de poder ter felicidade,
Num sonho que não pode ter mais fim,

Tu tens este poder de seduzir
Deixando-me à feição que tu quiseres
Sem nada na verdade pra impedir
Este banquete é feito em mil talheres.

Adentro em perfeição novos caminhos
Pensando nos teus beijos e carinhos...
Marcos Loures


214

Do amor que em poesia, a vida trilha
Recolho cada brilho extasiado.
A vida sem te ter perdendo a quilha
Naufraga nos meus erros do passado.

De tudo o que eu sonhara há tanto tempo
O amor me permitiu realizar
Vencendo qualquer medo ou contratempo
Ultrapassando a praia invado o mar.

O norte tantas vezes tão distante
Sem bússolas, perdida, a minha nau,
Porém um timoneiro triunfante
Ancora neste porto sensual

E se farta de toda imensidade
Vivendo em plena luz, felicidade...
Marcos Loures


215


Do amor que nos emprenha de prazer
Deixando a solidão audaz tão só,
O canto quando encanta deixa ver
Distante nesta estrada, todo o pó.

Um coração que fora solitário
Ao ter tanto carinho se refaz.
Do quanto o medo foi autoritário
Amor se fez presente e mais capaz.

A paz que ele professa se espalhando
Em todos os momentos, já permite
Viver além de tudo sempre e quando
Um mundo sem fronteias ou limite

A lua derramando argênteo tom
Fazendo rebrilhar um sonho bom.
Marcos Loures



216

Do amor que me domina, simples presa
Que tenta disfarçar em novas cores,
Recebo de teus olhos tal beleza
Emoldurando assim jardins e flores,

A vida vai levada em correnteza,
Deixando para trás os dissabores,
Na senda divinal, dois sonhadores
Que tentam se afastar de uma tristeza.

O sol que na manhã cedo fulgura,
Matando as madrugadas ledas, frias.
No toque sensual doce ternura,

As mãos se percorrendo, fantasias,
Tomados pelo encanto da brandura,
O dia traz o sonho por moldura...



217

Do amor que enfim se aflora no meu peito
Cevado com carinho em bela lavra,
Deixando-me deveras satisfeito
Em forma de desejo e na palavra

Que mostra em um momento raro sol
Brilhando em negra noite sem estrelas,
Seguindo estrela guia, meu farol,
Eu posso, simplesmente concebê-las.

Um beduíno encontra em sua tenda
Amor em odalisca mais bonita,
Encanto se transforma em bela lenda
E um coração em chamas já se agita

E vibra a campesina sensação
Da vida que é refeita em cada grão...



218

Do amor que enfim se aflora no meu peito
Cevado com carinho em bela lavra,
Deixando-me deveras satisfeito
Em forma de desejo e na palavra

Que mostra em um momento raro sol
Brilhando em negra noite sem estrelas,
Seguindo estrela guia, meu farol,
Eu posso, simplesmente concebê-las.

Um beduíno encontra em sua tenda
Amor em odalisca mais bonita,
Encanto se transforma em bela lenda
E um coração em chamas já se agita

E vibra a campesina sensação
Da vida que é refeita em cada grão...
Marcos Loures


219

Do amor que a gente quer eu te garanto
Que nada impedirá qualquer desejo
Sabendo que encontrei tamanho encanto
Um dia mais bonito eu já prevejo.

Eu quero que este amor que é tanto, tanto
Resuma todo o sonho que eu almejo
Vivendo esta emoção sem ter quebranto
Teremos muito além de um relampejo.

Por este sentimento, amada eu velo,
O amor é vencedor deste duelo
No qual quem cedo ganha é revoltado.

Encontro a poesia que me trazes
Na lua que mudando suas fases
Mantém o nosso céu iluminado.
Marcos Loures


5220


Do amor eu teço, agora, cada veste,
Queimando o que já fora uma mortalha,
De todo este prazer que tu me deste
As armas para a luta, vil batalha.

Atento a cada passo, vou em frente;
Sem nada que me prenda, solto o sonho,
Preciso que tu saibas claramente
O quanto que te quero e já proponho.

Vencer as mais difíceis cordilheiras
Levado pelas mãos da fantasia.
As almas prosseguindo são romeiras
Bebendo a fonte rara da alegria.

Na visceral vontade de te ter
O quanto é necessário o bem querer.
Marcos Loures


221

Do amor em turbulência, relampejos,
Formando ao mesmo instante a tempestade.
Sem rumo, vou entregue aos teus desejos,
Esqueço de mim mesmo e, na verdade

Os sofrimentos chegam e sobejos
Impedem que se tenha a claridade,
Momentos mais felizes são lampejos
O amor já não traduz tranqüilidade.

Percebo que a tormenta se aproxima,
Deixando em polvorosa o coração
Que segue sem saber da direção

A ser tomada pela nossa estima.
Destino que sonhei segue em aberto,
A chuva torna fértil meu deserto?

Marcos Loures



222

Do amor em plenitude, eu sou amante,
Caminho sem ter dúvida esta estrada
Que segue sem temores para diante,
E forte no meu peito sempre brada,

Mostrando uma alegria a cada instante,
E a vida já trazendo iluminada.
Embora tantas vezes inconstante
Sem ter amor a vida vale nada.

O canto deste amor me contagia,
Clareia em luz intensa cada dia
Numa emoção completa e mais perfeita.

Meu peito enamorado te procura,
Encontra enfim teu rastro em noite escura
E a lua enamorada assim se deita...
Marcos Loures



223

Do Amor em plenitude que proponho,
Eu quero usufruir a cada dia,
Se nele eu posso ver o que eu queria
É realização de antigo sonho.

Quem tanto, ultimamente, foi tristonho
Merece pelo menos a alegria
Que é dada com certeza na alquimia
Do jogo que contigo, ora componho.

Nas torres mais sublimes, catedrais
Erguidas com esmero e precisão,
Amor emite logo os seus sinais.

Quem ama, decifrando estes enigmas
Arranca do passado seus estigmas
Encontrando afinal, libertação...
Marcos Loures


224

Do alpiste da esperança o meu repasto
Por vezes só causou a decepção.
Carrasco deste sonho, sem senão
O tempo em versos tolos se faz gasto.

Não tendo mais sequer algum emplasto
Ferida se transforma. Vejo o não,
E dele vou fazendo o meu refrão,
Matando o coração, outrora casto.

Eu vejo o teu sorriso de ironia,
E nele desfiando a poesia
Novelos de discórdias e temores.

Revolvo o meu passado e nada vejo
Senão o pesadelo de um desejo
Herdeiro das mentiras, dissabores...
Marcos Loures


225



Do alpendre dos meus sonhos vejo a vida
Diáfana expressão tão instigante,
Por vezes dolorida ou fascinante
No carrossel que gira em gozo e lida.

Aprendo a conceber a despedida
Vivendo a fantasia de um instante,
Microscopicamente ou qual gigante
Na luta por vencer ou já perdida.

Refém do meu anseio, medo e dúvida,
Uma alma muitas vezes tola e lúcida
Cumprindo cada etapa sem sentir.

Mergulho dos umbrais dos meus castelos,
Vou ceifando ou lavrando e meus rastelos
Jamais sabem dos frutos do porvir...


226


Dizias desta voz em desafino,
Perdoe o meu ouvido anda entupido,
O peito pelas traças carcomido
Herdou de cada sonho, o desatino.

Se eu vasto ou se pequeno, não domino
Sequer eu adivinho este estampido,
Tem algo com suspiro e com gemido,
Mas cá pra nós deixei de ser menino.

Pergunto a quem já foi se quer voltar,
O espelho não me diz de céu e mar
Apenas desta ruga que não deixo.

O beijo não vingou; somente o soco,
Marcando num momento de sufoco
Quebrando o meu nariz, cortando o queixo...


227

Dizia Jorge Ben sobre um surfista
Que pobre solitário e sem ninguém,
Sabia decifrar sinal que vem
Da noite enluarada. Não desista.

A vida de quem ama é de um artista
Que aguarda na estação pegar um trem
Depois de perceber que nada tem,
Não compra mais à prazo. Só à vista.

Na dança das cadeiras, restou um.
Fui eu que, por perder o foco e o zoom
Fiquei feito pateta nesta espera.

Amiga tua dor me causa espanto,
Banho de arruda quebra este quebranto
Vá logo antes que acabe a primavera!
Marcos Loures


228

Do amor que em perfeição, divino rito
Eterno reviver de uma esperança
No quanto em nosso amor eu acredito
Expresso a cada verso, temperança;

Disperso. Tantas vezes caminhei
Universos distantes, mar imenso.
Agora que em teus sonhos mergulhei
A cada novo dia eu me convenço

Que enfim, depois de tanto agora eu tenho
Um mundo mais pacífico e sincero,
Estrelas no meu peito, eu já contenho,
Sabendo perceber o que mais quero.

A sorte de viver se bendizia
Querida, neste amor com maestria


229

Do amor que em amizade transbordou,
Eu sinto uma harmonia benfazeja,
De toda a paz que em vida se deseja,
Apenas quem amou já conquistou.

Amor em amizade ele ensinou
Trazendo o bem sublime que se almeja
Perdão que tantas vezes demonstrou,
Vontade soberana que assim seja.

Os cânticos divinos de louvor,
O riso bem mais franco da criança
Uma alma é bem feliz se for mais mansa

Entregue, sem limites ao amor.
Pois, Oxalá, Jesus, Brahma ou Tupã
Espalha sobre nós bela manhã.
Marcos Loures


5230

Do amor que assim me dás, amor eu gero
Perpetuando o moto mais sensível.
A vida se apurando com esmero
Proporcionando um gozo tão incrível.

Passível de vencer qualquer porteira
Ateia fogaréus em cataclismos.
Além da insensatez já corriqueira
Mergulha sem temores, mil abismos.

Parceiros em dueto; nada cala
A voz que amor emana em poesia.
A maciez que agora nos embala
Pressente em mansidão um novo dia.

Meu último suspiro num soneto
A ti dedicarei, eu te prometo!


231


Do amor que agora trago, de verdade,
Espalho os seus sinais no mundo afora,
O quanto a nossa sorte revigora
A paz que renasceu, tranqüilidade.

Não quero mais saber de ter saudade,
Deixando uma tristeza já de fora
Percebo que serei feliz agora
Colhendo finalmente a liberdade.,

Sou teu e cada vez mais me convenço
Do quanto descobri tesouro imenso
Nos braços da mulher que eu encontrei.

Singrando os oceanos da paixão,
Um timoneiro encontra a direção
Fazendo da alegria a sua lei.



232

Do amor que a liberdade em versos clamo,
Ocupo o pensamento o tempo inteiro,
É planta que concebo pelo ramo,
Eu amo o teu amor alvissareiro.

Liberto o sentimento e não reclamo,
Pois sei quanto quiseste este janeiro.
Ao ter-te novamente, sempre tramo
Amor que desejei mais verdadeiro...

O amor que sempre canto é todo teu,
A pena mais cruel é a saudade...
Meu coração insano, pois ateu,

Deixou de ser incréu, te conhecendo,
Amor que trouxe o mel da liberdade,
Sentidos mais diversos, percorrendo...



233

Dizendo desta senda de onde eu vim
A voz em alegrias já me ampara
Sentindo o teu respiro junto a mim
Em noite preciosa e sei tão rara,

Percebo esta alegria e vou assim,
Buscando no teu corpo a luz mais clara.
Amor que nos guiando até o fim,
Em versos e desejos se declara,

Percebe quanto é duro ter ciúme,
Espinho que disfarça um bom perfume,
Negando os nossos velhos, mansos credos.

Mas quem em confiança tece a teia
Prefere imaginar a lua cheia
Deixando para trás antigos medos...
Marcos Loures



234


Dizem que esta distância matará
Amor que sei imenso, inesquecível...
Ao fim o nosso tempo chegará
Amor igual ao nosso, assim, incrível.

Todos os pensamentos são pra ti.
Cruzando tantos mares sem naufrágio.
Pois saiba meu amor que estou aqui,
Amor que é sempre forte e nunca frágil...

Estás dentro de mim, mesmo distante,
É tudo o que sonhei a vida inteira.
Por certo em tua luz tão deslumbrante
Encontro esta emoção mais verdadeira...

Não tema nem distância nem saudade,
Te juro meu amor é de verdade!


235

Dizem que a pedra é dura,
mais duro é o teu coração;
ela é dura, na verdade,
mas não faz ingratidão.


Quantas vezes busquei o teu amor
Entre ruas, estradas e caminhos...
Nada encontrei. Restando este temor
De jamais reviver os nossos ninhos...

Eu fui teu companheiro, teu amigo,
Mas logo me deixaste sem ninguém.
Quem dera reviver amor contigo,
Mas nada, nem à noite nunca vem...

Eu sou o que sobrou de quem amas-te,
Apenas um resquício que caminha,
O tempo e a solidão, tanto desgaste,
Pensar que em algum dia foste minha...

Mas resta uma esperança, uma ilusão,
A que tu reconheça ingratidão!

A trova é da região do Nordeste de Minas


236

Divino, sem limites, sedutor,
O canto que me trazes bem amada,
No encanto deste verso eu vou compor
Depois da dura lida, a bela estrada.

Renasce em meu canteiro a rara flor,
Espécie magistral feita em florada
De todo o raro encanto sou gestor
Minha alma se mostrando enamorada.

Anseio por teus seios tão sublimes
E quero que este amor tu sempre estimes,
Pois nele uma verdade transparece.

De ti cativo sigo a vida inteira,
Amor se torna enfim minha bandeira
Teu corpo catedral, canção e prece.
Marcos Loures


237

Divinas fantasias são as lavras
Aonde o puro Amor faz a colheita,
Revelações em forma de palavras,
Nossa alma se permite assim, refeita

Alçar os altos píncaros dos sonhos,
Andina cordilheira, alpinos montes,
Os versos se tornando mais risonhos,
Alvejam antes negros horizontes.

Paixões, altares mágicos de luz,
Aportam tresloucando e nos elevam.
Solares estações; amor conduz,
Constantes emoções que jamais nevam.

Nos fâneros, na tez, erotizados,
Cumes de emoções sendo alcançados...
Marcos Loures


38

Divinas explosões; doces e amenas
Espocam nesta noite maviosa
Aguçam dos vizinhos as antenas
E deixam toda a rua em polvorosa.

Felizes dois amantes, dança e festa
Melindres são deixados porta afora
O fogo que se espalha cedo atesta
Do quanto amor nos cura e revigora.

Chacoalha a nossa cama, arrasta os pés
Bagunça o meu coreto em reboliço.
O barco soçobrando o seu convés
Prenunciando o gozo que cobiço.

Atiro-me em teus braços, trapezista,
Sem ter seque platéia que me assista
Marcos Loures


239


Divina putaria que começa
Num sarro bem gostoso, minha língua
Lambendo o teu pescoço sem ter pressa,
Até te desnudar e em cunilíngua

Atiça e te excitando faz a festa,
A tua bucetinha bem melada,
Abrindo para mim divina fresta
Sugando o meu caralho, penetrada

Me xingas e me mordes, bem sacana
Cavalgas teu corcel e pedes mais,
Até que a porra invada a tua xana
Selando a maravilha em bacanais.

Comer o teu cuzinho, e esta buceta,
E tudo começou numa punheta...


5240

Divina a sensação de recebê-las,
Carícias que me encharcam de alegria,
Vibrando totalmente por contê-las
Tramando esta emoção, pura magia.
As noites prazerosas que revelas,
Permitem vislumbrar um claro dia.

Roçando a tua pele, devagar,
Beijando os seios fartos, rara glória
Invado e vou liberto por teu mar,
Sabendo que trarei nossa vitória,
Descubro em cada ilhota, onde ancorar
Mudando todo o rumo desta história.

Adentro teus caminhos, belas sendas,
Enquanto os meus segredos, sei, desvendas...
Marcos Loures



241

Diversos; os caminhos percorridos
Na busca de somente um beijo teu.
São chuvas, tempestades e alaridos,
Desterros que meu peito conheceu.

O amargo coração de um ledo ateu
Teimando em nossos lábios ter unidos
Num mágico e fantástico himeneu
Desígnios que eu sonhara enfim cumpridos

Vaguei por tantos mares, cordilheiras,
Abismos e soturnas madrugadas;
Além das fantasias costumeiras

As últimas senzalas e correntes,
Palavras finamente desenhadas
Marcadas por cinzéis agora crentes...



242

Dizer-te quanto quero estar contigo
Parece um pleonasmo, redundância...
Amor quando se faz em abundância
É tudo o que desejo e assim prossigo

Vencendo com vigor qualquer perigo,
Realizando os meus sonhos desde a infância.
Minha alma sem ter nada que ora canse-a
Caminha mais altiva em prol do abrigo.

E beijo a doce brisa que me trazes,
Amor fortalecendo nossas bases
Permite que se veja no horizonte

O sol em cujo lume se desponte
O dia que julgara inalcançável.
E agora sei tangível e tocável...
Marcos Loures



243

Dizendo, nos meus versos meu amor;
Cantando essa cantiga que não cansa.
Meus olhos rebrilhando em tal fulgor;
Tão longe, meu querer, por certo, alcança...

Eu quero te encontrar junto comigo,
No tempo que amanhece; no futuro...
É tudo, com certeza, o que persigo.
Amor que se criou com tanto apuro...

Meus versos são tristonhos sem te ter.
Apenas são gemidos e lamúrias.
Revolvo os universos. Te querer
Abranda um coração imerso em fúrias...

Amada, tanta coisa por falar...
Em todas as palavras, uma: amar!


244

Dizendo tão somente por que veio
Amor em nosso peito se deleita,
Vivendo sem destino e sem receio,
A gente se completa enquanto deita.

No quanto assim mergulho amor já sabe
E mostra toda a glória num segundo
Na vida de quem ama sempre cabe
O bem que se irradia pelo mundo.

Do jeito que vier, eu nada temo,
Estampo em meu sorriso, tal vitória
De todos os momentos, o supremo,
Transforma calmamente nossa história.

Assim, a cada dia, nova estrada
Expressa a noite imensa, enluarada


245

Dizendo ser possível, paraíso
Um tempo de sonhar bom e contente,
Amor é um moleque sem juízo
Que tantas vezes grita, impertinente.

Roçando em tua boca, o meu sorriso,
Prevê que a vida traga, novamente,
O mundo sem maldades, que enfim biso
Depois de tanto tempo, finalmente.

Sou teu e te desejo amada amante,
Na força deste amor, tão cativante
Mostrando toda a glória do querer.

Eu tenho esta certeza inabalável
Do amor em fantasia interminável
Tomando em alegria cada ser...
Marcos Loures


5246


Dizendo do que tive, neste trato
Esboço tantas vezes reações
Por vezes calmarias e explosões
Realço em meu caminho inútil fato.

Olhando o que se fez fiel retrato
As águas vão caindo aos borbotões,
As lágrimas expressam os perdões,
Na quebra tão comum de algum contrato.

Riscando de uma agenda tantos nomes,
No escuro do caminho logo somes
E escondes o que fora outrora trilho.

O tempo me ensinando a caminhar,
Permite que uma estrada eu possa achar,
Legando ao meu passando este empecilho.
Marcos Loures



247

Durante tanto tempo, amor guerreiro,
Tomando o coração fez suas leis,
De todos os que eu tive, amor primeiro,
Levando a mais total insensatez.

Nas tramas deste sonho feiticeiro
Perdendo a mais completa lucidez
Ainda estou sentindo o doce cheiro
Daquela que se foi, e assim se fez

Meu último desejo, meu suspiro,
Saudade me cortando como um tiro.
Não deixa que eu respire calmamente

Ardendo sem sequer um lenitivo,
Agora eu me percebo qual cativo
Na chama da saudade, de repente.
Marcos Loures


248


Durante tanto tempo procurei
Em meio a tantas cartas, o endereço
De quem torna mais bela a minha grei,
Por isso, fique aqui, amor eu peço.

Unidos pelo fogo da paixão
Que tanto nos aquece em noite fria,
No amor que é benfazejo, a redenção,
Formada pelo encanto em poesia.

Eu quero ser de ti, como um farol,
Embora saiba ter em ti tal brilho,
No fundo, sou apenas girassol,
Seguindo de teus olhos cada trilho.

Amar sem ter limites nem perguntas,
As almas gemelares andam juntas.



249

Durante tanto tempo indiferente,
Distante, quase mudo, o coração.
Da sorte nessa vida, bem descrente,
Com medo do que fora uma paixão.

Ao ver-te, tudo muda de repente,
Explode dentro em mim uma emoção.
Qual fora um forte sol, vivo e nascente.
A vida se entornou, satisfação...

Um brilho de esperança no horizonte,
Remoça minha vida, em mansa fonte,
Trazendo em teu sorriso, toda a graça.

Não sofra meu amor, querida amante,
Não deixo de querer-te um só instante.
A dor que agora sentes, logo passa...



5250

Durante tanto tempo imaginei
Que o mundo terminasse logo ali.
Tão distantes caminhos que deixei,
De tão grande esse mundo, me perdi.

Pessoas que julgava que existiam
Por trás do grande mar ou da montanha.
Decerto meus caminhos não veriam,
Embora uma vontade assaz tamanha.

Percebo como é bom poder te ter
Amiga que talvez eu nunca veja.
Minha alma emocionada sabe haver
A beleza de outra alma que deseja.

Existimos, portanto isso é real,
Embora, ouça dizer: É virtual!



251


Durante tanto tempo imaginara
Um templo onde pudesse em rica prece
Fazer com que este canto que perece
Ainda permitisse a voz mais clara.

Cenário que ora vejo desampara
E apenas o vazio se oferece,
A flor que solitária, enfim, fenece,
Fornece para o mel, essência amara.

As hastes sem bandeiras nada dizem,
Agrisalhadas vozes negam ecos.
As sanhas se perdendo em ermos becos,

Sem as cores sublimes que o matizem
O céu se torna cinza e vai sem brilho
Tornando inútil prado que ora trilho...


252

Durante tanto tempo eu Te neguei,
Pensando ser possível ser feliz
Distante dos Teus passos, Tua lei
São erros de um estúpido aprendiz.

Decerto em descaminhos eu sangrei,
Tentando ver a luz num céu mais gris,
Porém quem foi na vida Rabi, Rei
Traduz em humildade o que eu mais quis.

Viver a plenitude de um Amor
Que traz a quem se perde Luz e Cor
Fazendo da alegria, eterna prece.

Minha alma tanta vez em rebeldia
Agora em Glória e Paz, santa harmonia,
Te pede mil perdões e Te agradece!
Marcos Loures



253

Durante tanto tempo eu te chamei
Usando subterfúgios, mas não vinhas,
As minha noites foram tão sozinhas
Tornando bem mais grises minha grei...

Castelos da ilusão.... Quis ser teu rei,
Desejos e vontades todas minhas...
Porém em seca, mortas tantas vinhas
Apenas o vazio eu encontrei...

Carrego já comigo há tantos dias,
O amor que tanto eu quis, mas tu fugias,
Esquivando-se de olhos sonhadores

Que miram cada passo que tu dás,
Há tempos esperança tola jaz
Buscando em teu olhar, seus refletores...
Marcos Loures



254

Durma em paz, amada
Que o sonho virá
A alma sossegada
Sabe desde já

Tanto medo enfada,
A fada dirá
Na noite estrelada
O amor brilhará

Neve do passado
Marcas de um inverno...
Estou ao teu lado

Durma em paz, querida,
Vento manso e terno,
Muda a nossa vida...
Marcos Loures



255


Duras as leis do amor e da amizade,
Apenas as consigo adivinhar
Sei que elas não permitem claridade
Ofuscam cada verso que eu cantar.

Meus lábios quando osculam os teus lábios
Convidam para a noite em bom festim,
Segredos dos amores, toscos... Sábios?
Impedem que tu venhas para mim...

Mas, entretanto, quando me desejas,
Eu sirvo-te, cativo deste encanto.
E qual u’a fera louca tu me beijas
Deixando por completo o manso manto.

Quem dera descobrir esses mistérios
Que tecem neste amor, vários critérios...



256

Durante uma balada eu conheci
A moça mais bonita do pedaço,
Aos poucos, de repente eu descobri
Pegadas desta deusa, cada passo.

Chegando num momento, estou aqui.
No verso sem ter nexo que hoje eu faço
Falando do que sinto- amor- por ti,
Pedindo tão somente beijo, abraço.

Botei anúncios tolos nos jornais,
Notícias? Não mais tive, o que fazer?
Somente me lembrar e querer bis

Mas mesmo que eu não veja nunca mais,
Aquele minutinho de prazer
Bastou para dizer: eu fui feliz!


257

Durante todo o tempo, imaginava
Um dia mais feliz que nunca vinha,
Na dura caminhada, vã, sozinha,
O amor se demonstrara como trava.

Porém quando em teus braços, ardor, lava,
Minha alma da alegria se avizinha,
Saber que no final serás só minha
Trazendo em tuas mãos o que eu sonhava.

Cerzindo em esperança cada verso,
Recolho o que sobrou, antes disperso
Refaço a fantasia dos retalhos

Do que no meu passado foi alguém.
Agora que ilusão, aos poucos vem,
Nos solos dos meus sonhos, assoalhos...


258


Durante toda a vida; minha amante
Capaz de revoltar um mar tão manso.
Descubro no seu corpo atroz remanso
Tornando a solidão bem fascinante.

Por mais que em avidez já se adiante
O tempo que jamais vivi, alcanço
A clara nebulosa que afianço
Se torna assim contígua e mais distante.

E mesmo sendo enfim paradoxal,
Nas tétricas imagens, fantasia.
Palavras que carrego em meu bornal

Soando em formas várias, sem sentido,
Buril que ao lapidar carinho e agrido,
Esculpindo do nada a poesia...



259

Durante muitos anos, conta a lenda
Uma índia delicada e mais faceira,
Ao fugir lá da aldeia, encontra a tenda
De um homem se fazendo companheira

Amante tresloucada, que desvenda
A sorte da paixão mais verdadeira,
Que acende em qualquer peito uma fogueira.
De nua se cobriu em seda e renda

Ficando bem mais bela, em mil colares,
Beleza que tão logo já domina
E a fama se espalhando logo medra

Aquela que invejosa, fez de altares
A cama do pajé, pai da menina,
Que em troca transformou menina em pedra.

LENDA DA PEDRA MENINA
REGIÃO DO CAPARAÓ...


5260


Durante muitos anos eu pensei
Ter como fosse um cais ou porto amigo
O colo desta serra em que entranhei
Amor deixando ali o meu umbigo

Às vezes quero crer que tanto errei
Pensando ter em paz, um claro abrigo.
Agora tão distante desta grei,
Visualizo ausência e desabrigo.

O trigo que plantei negando o pão
Esconde totalmente a podridão.
Enfim, nada terei deste lugar.

Apenas o vazio como herança
Arranco dos meus olhos tal lembrança
Olhando para frente, encontro o mar...
Marcos Loures



261

Durante muito tempo qual cometa
Errante que retorna; vai e vem,
Procuro inutilmente por alguém
Não me importando um erro que eu cometa

Rompantes; acumulo e perco a meta
Sem noites desfrutadas com meu bem,
Porém nem mesmo a ausência me contém;
O sonho sempre foi minha muleta

Vassalo das estúpidas estrelas,
Nem mesmo em céu mais claro posso vê-las,
Somente as adivinho e nada mais.

Sendo infortúnio antigo companheiro,
Fronteiras da loucura, enfim eu beiro
Meus versos são inúteis e banais...


262

Durante muito tempo eu tentei aprender
A conjugar o verbo amar, mas não podia
A noite na minha alma em lágrimas dizia
Que nada neste mundo exprime um bem querer.

Porém ao te saber, eu pude enfim rever
Conceitos que eu já tive em total agonia
Mal sabendo que amar é feito de alegria
Embora uma tristeza expresse o não poder

Estar contigo agora e te abraçar querida,
Mas vale sempre a pena o sonho que ele traz
Por isso é que te quero e isso me satisfaz;

Razão que justifica a nossa própria vida
Segredos que contém sua conjugação
Decerto só descobre a quem se dá a paixão...
Marcos Loures


263

Durante muito tempo eu procurei
A luz que me trouxesse a placidez
De um mundo onde o amor sem escassez
Pudesse dar o quanto eu já sonhei.

Em mares tão diversos naveguei,
Ao nada descobrir o amor desfez
Trazendo novamente a lucidez,
Eu digo que em verdade, enfim, cansei.

E quando eu já pensava estar perdido,
Sem lumes que pudessem me guiar,
Encontro, num segundo, o teu olhar

E vejo o velho sonho renascido.
Assim ao te seguir a vida afora,
A noite em farto brilho se decora...
Marcos Loures


264

Durante muito tempo acreditei
Poder te seduzir com belos versos.
Decerto, na verdade eu me enganei,
Vivemos em planetas tão diversos.

Se a luz deste luar eu já roubei,
Teus olhos se mostraram mais perversos,
No mar de tantos sonhos mergulhei,
Porém os meus sonetos vão dispersos.

Constelações em mares siderais,
Imagens que eu julgara magistrais,
Perdidas, vão vagando sempre ao léu.

Não canso de chamar tua atenção:
A cada novo intento, o mesmo não.
Que faço se não sei dançar o Créu?
Marcos Loures



265

Durante tanto tempo eu quis te ver
Entrando pela sala, devagar.
E assim quando vieste conhecer
Aquele que não cansa de sonhar

Vontade tive, até de enlouquecer
Perder-me em cada raio de luar
Num misto quase angústia com prazer
Senti a minha casa iluminar...

Meus braços estendidos te ofertei
Os olhos quase em lágrimas; mostrei.
Porém numa ironia me sorriste

Deixando minha casa, num instante.
E o sonho que eu pensara, triunfante,
Morreu neste segundo, só e triste...


266

Durante tanto tempo eu procurei
Apenas um remanso, tão somente,
No prazer sem sentido, uma semente
Que tolo, inutilmente, assim cevei,

Sabendo perecível esta grei
Por vezes disfarçado num demente
De tanto que se ilude, sempre mente
Castelos que criei; eu derrubei...

A plenitude é mais que simples gozo
Quem foge; no hedonismo nada tem.
O vazio depois tudo desdisse...

Na paz do Meu Senhor, toda a verdade,
A única e real felicidade,
O resto, companheiro é vã tolice...


267


Durante tanto tempo em minha vida
Pensara ser possível nova sorte.
Da estrada em pensamentos percorrida
Mudando num momento, rumo e Norte.

Encaro as tempestades sem guarida
Sem ter uma esperança por suporte.
A mão que me acarinha traz ferida
Aprofundando sempre cada corte.

Nascido nos sertões lá das Gerais,
Em meio aos mais temíveis vendavais,
Nas noites o luar por lampião

Os olhos procurando quem me queira,
Deixando a solidão, velha bandeira
Espero a luz imensa na amplidão...
Marcos Loures


268


Durante tanto tempo desejado
Caminho vislumbrado nos teus braços,
Ouvindo deste amor divino brado
Eu sigo em fantasia nossos passos.

Atravessando noites, madrugadas
Espero do teu lado o alvorecer
Usando nossos gozos com escadas
Encontro a maravilha no prazer

Adentro os oceanos mais temidos,
Velejo em calmarias tão constantes
Amores em sussurros e gemidos
Os pensamentos livres, galopantes

Sentindo este delírio costumeiro
Aporto no teu corpo o meu saveiro.
Marcos Loures


269



Durante tanto tempo a vida em treva,
Na frialdade imensa de um granito,
O passo que tentara já se entreva
E teima em não cumprir nem sina ou rito.

A sorte no meu peito faz a ceva
E mostra em teu olhar, meu infinito,
Amor que prometeste tão bonito,
À doce fantasia sempre leva...

Quem veio de outros dias mais atrozes,
Esquece dos seus medos tão ferozes,
Embarca os sonhos em luxúria e cio.

Entregue às sem limites sensações
De corpos em ferozes convulsões,
No paraíso em terra que desfio...


5270


Durante muitos meses me entreguei
À sórdida missão de um menestrel
Que faz do romantismo o seu papel
Tentando a fantasia ter por lei.

Em tanto pedregulho me espinhei,
Um beijo feito em coice do corcel,
Que aos poucos se apagando o fogaréu,
Romântico lirismo? Eu me estrepei!

Se o verso que hoje eu faço inda capenga
Não posso conceber tal lenga-lenga,
Chamando de meu louro este urubu.

Bonita poesia musicada
Repete esta canção apaixonada:
Diz no seu refrão: VÁ TOMAR NO CÚ!
Marcos Loures



271

Durante a vida inteira sem saber
Se um dia eu poderia ser feliz,
Do malmequer só pude receber
Notícias que quem ama nunca diz.

Cansado de somente conhecer,
Cada mulher que tive falsa, atriz,
Até que no final de tanto crer
Apaguei os meus sonhos, frágil giz.

Procurei pastor, padre, pai de santo
Fiz promessa subindo de joelhos
Os olhos tão tristonhos e vermelhos

Apenas tive em troca, desencanto,
Pensando que o amor foi pro vinagre,
No fim; quando eu te vi, fez seu milagre!
Marcos Loures



272


Durante a tempestade no deserto
Em meio ao temporal feito em areia,
Sob o sol implacável que incendeia,
É o que o meu coração vai mais desperto.

Sempre em dificuldades eu me alerto
Sabendo que terei na lua cheia
A placidez da chama que se ateia
No amor em amizade, peito aberto.

Que venham as procelas, vencerei
Fazendo de um Amor a minha lei,
Enfrento em calmaria o furacão

Usando como leme uma alegria,
Montado no corcel da fantasia
Mantendo sempre o rumo e a direção...
Marcos Loures




273


Durante a noite intensa que sonhara
A lua incandescente atrás dos montes,
Avermelhado sonho em que despontes
Fagulha de ilusão que assim me aclara.

A par desta beleza fina e rara,
Tentando vislumbrar tais horizontes
Usando de emoções, supremas fontes,
Alucinado brilho me antepara...

Mas sei que isso não passa de armadilha
Desta aguardente amarga que alma trilha,
Qual frágil mensageira da esperança...

E quando chegar enfim, o novo dia,
A luz que anteriormente me aquecia
Será tão simplesmente uma lembrança...



274

Durante a noite inteira eu quero ter
Teu corpo junto ao meu, delicioso,
Realce em luz sublime, o bem querer
Profana nossa cama em risco e gozo.

Penetro com firmeza, cada toca
E quero-te inteirinha para mim,
O amor que insanamente nos enfoca
Recende com delícias, vinho e gim.

Dançando nossa dança preferida,
Reféns deste desejo que não cessa.
Amor que nos tomando toda a vida
É mais do que talvez simples promessa.

Façamos o que temos de direito
Deixando para trás o preconceito...
Marcos Loures



275

Durante a noite inteira eu mergulhei
Na doce sensação que reproduz
Beleza sem igual, profana luz
Da Musa que em vermelho, procurei...

Quem dera em seus castelos ser o rei,
Um sonho em fantasia que propus,
Deixando para trás a amarga cruz
De quem fez da tristeza sua lei.

Dançando nos salões das esperanças
A festa recomeça a cada passo.
O amor acompanhando este compasso,

Teus pés divinalmente, quando tranças
Orquestram maravilhas, neste espelho
Reflete o Paraíso, ele é vermelho!


276

Durante a minha vida falsos guizos
Convites para festas da ilusão.
Às vezes obedeço alguns avisos
Porém na maioria, esqueço o não.

Abismos que cavei, sempre imprecisos
Metáforas servidas, vinho e pão.
Omissos sentimentos forjam risos
Do velho diabético o fardão.

Recolho cada parte que cortaste
E nada poderia dar prazer
Senão a solidão, doce contraste

Amiga tão serena e mais constante.
Expondo o que restou, tu podes ver
Percalços deste fútil, delirante...
Marcos Loures



277

Durante a minha vida eu percebi
Que os erros cometidos se repetem.
O mundo seja lá ou mesmo aqui
É feito de idiotas que competem...

É claro que é preciso maestria,
O tempo não perdoa quem se cala,
Porém a cada luz que eu percebia
Mais ofuscada estava minha sala.

Servir aos mais estúpidos prazeres,
Vencido pelo tal lugar comum,
Depois de tantos bens tu receberes
Verás que no final restou nenhum.

Somente o amor liberta, esteja certo,
Sem Deus e sem perdão? Resta o deserto...



278

Dulcíssima presença que me encanta
Daquela que se deu em noite mansa,
A voz da poesia vem e alcança,
Na força que se mostra intensa e tanta.

O amor que nos domina e me agiganta
Trazendo ao sonhador tal esperança
De vida mais tranqüila em temperança,
Por sobre as grises brumas se alevanta.

O olhar que se aproxima, rara conta,
Além de uma ilusão já se desponta
Tornando menos densa esta atmosfera.

Promessa de um belíssimo raiar
De sol que nos domina e, devagar,
Um novo amanhecer, sereno, gera...
Marcos Loures


279

Durante este sufoco que passamos,
Eu juro, aprenderei logo a nadar.
Enquanto em fantasia navegamos
Verdade vem depressa maltratar.

E quando tempestade provocamos,
Mergulho sem juízo em pleno mar.
Depois de certo tempo, quando amamos,
Eu sinto este desejo nos tomar.

Tremendo sem parar um só segundo,
De tantas fantasias eu me inundo
Pensando num orgasmo tão fantástico

Mas logo eu reparei, não foi bem isso,
Mulher que tanto quero e que cobiço
Estava tendo um forte ataque asmático....


5280


Caro Marcos venho dar-lhe as boas vindas
Sua ausência muito nos preocupou
Felizmente sua angústia está já, finda
Sua saúde está bem, tudo acabou

Os seus amigos aqui deste Recanto
Te aguardavam com bastante ansiedade
Pois já faziam falta os encantos
Dos teus sonetos, sua especialidade

Ao vê-los novamente aqui postados
Rendemos graças pelo seu retorno
Ao grande Deus, por ter sua vida preservado

Tu és bem vindo nobre amigo e poeta
Com seus sonetos preenchendo este entorno
De alegria, razão de, estarmos em festa.

COM CARINHO NATHANPOETA
16de abril de 2009

Durante alguns momentos eu pensei
Que inútil fora a minha caminhada
A noite que sonhei ser estrelada
Em névoas tão profundas encontrei.

Da morte; o seu semblante decifrei,
Julgara ter ausente outra alvorada,
De tudo o que busquei, somente o nada
Tomava no horizonte a minha grei.

Mas quando ouvi a voz do seresteiro
Chamando para a vida, eu percebi,
Toda esta maravilha que há em ti,

Meu grande camarada, companheiro.
Luzeiro que permite que se veja
O que minha alma sonha e mais deseja...



281


Durante alguns momentos eu julguei
Que tudo desabava em minha vida,
E quando vi a sorte, assim perdida,
O céu enegrecido em minha grei,

A luz de teu olhar, eu encontrei,
E nela, com certeza uma saída,
E dando a solidão já por vencida
Um tempo mais feliz, imaginei...

Por vezes não consigo acreditar
No tanto que foi bom, comigo, o Pai,
E mesmo quando a noite escura cai

Recebo esta magia num luar
E passo acreditar que sou feliz,
Contendo no meu braço o Amor que eu quis...


282

Dourando então a senda de onde eu vim
O amor ao qual querida me acostumas,
Vicejas bela rosa em meu jardim,
Florindo o meu caminho em que perfumas,

Vertendo o teu amor dentro de mim,
Adentro um mar imenso, alvas espumas,
Bebendo deste lábio carmesim,
Manhã alvorecendo perde as brumas

E vejo o sol imenso a me tocar,
Nos braços da mulher que eu quero amar
Vencendo em alegria, a madrugada.

Num novo alvorecer que assim se cria
Tomando o nosso céu plena magia,
Um sol iluminando a nossa estrada...
Marcos Loures



283

Dourando em harmonia as novas trilhas
Abrindo do passado os vãos sombrios.
As almas antes sós, vãs andarilhas
Feridas fatalmente nos seus brios

Recebem com alento um sonho bom
Aonde se percebe uma alegria
Mudando totalmente o velho tom
No qual a nossa sorte, enfim se urgia.

Surgia neste sonho em plena paz
O riso da esperança, uma ilusão,
Mostrando ser possível e capaz
Nas tramas de um amor, revolução!

Porém ao acordar e ver de perto,
Miragem volta a ser triste deserto...



284

Dourando ao sol teu corpo minha amada
Na pele bronzeada, meu desejo...
Vestida da nudez tão decorada,
Na boca carmesim, ânsia de beijo...

O sol lambendo as pernas; extasiado,
Os seios desnudados, belos montes...
O vento vai roçando sem pecado
Arrepiando todas belas fontes...

Ao ver tal maravilha; não disfarço,
Aos poucos me invadindo uma loucura.
Me enlevo em tal cenário, descompasso,
E beijo tua boca com ternura...

A tarde assim passando, sol e céu,
Me farto da delícia deste mel...



285


Dourando a madrugada em tal beleza,
Um sol em magnitude inebriante
Tomando a nossa noite num instante
Estende sua mão, açoda a presa.

Nas tramas deste amor, rara nobreza,
Trazendo um rumo em paz e mais constante.
Outrora a vida fora tão maçante
Agora, sinto a força em correnteza

Que emana das paixões ilimitadas.
A claridade espalha nas calçadas
Antecipando um dia inesquecível.

Esplêndidas grinaldas desfraldadas
Embora em sentimento perecível
Bandeiras da esperança desfraldadas...
Marcos Loures


286

Dourado que vendias, era cobre.
Não tive tanta sorte em minha vida,
Teu ar de soberana, sempre nobre
Escondia tão somente uma ferida.

Eu continuo alegre e mesmo pobre
Minha alma está lavada e bem curtida,
Prefiro uma aguardente em paz bebida
Do que um vinho caro que soçobre.

Acordo de manhã, lavando o rosto,
Sinal do que eu vivi ainda exposto
Demonstra que em verdade eu fui feliz.

Ao contrário daquela que se fez
Estúpida, boçal, sem lucidez,
Trazendo tão somente cores gris...
Marcos Loures


287

Douradas em loucura e maravilhas
Quebrando estas redomas do passado,
Não vejo em meu caminho mais as ilhas
Distantes deste mar novo e encantado.

A carapaça eu rompo com sorriso,
Tocado pelas mãos de uma amizade.
A cada novo dia mais eu friso
O quanto é necessária a liberdade

Que às vezes se mostrando tão distante
Parece-nos difícil de encontrar.
Enquanto um sol profuso e radiante
Expressa a fantasia em luz solar.

Sabendo e percebendo tal poder,
Na força da amizade eu passo a crer...
Marcos Loures



288


Dourada pelas mãos do bem-querer
A fantasia em paz nos decorando.
Dançando a noite inteira ao bel prazer
Erguemos nossos olhos flutuando.

Do cálice divino eu vou beber,
Na orgástica emoção se revelando
O quanto é fabuloso assim viver,
Desejos e carinhos inflamando

Deitando sobre nós farta alegria
O sol amanhecendo num bom dia
Permite que se veja sempre assim

Raríssima expressão de luz intensa
A marca da esperança é tão intensa
Dizendo desta senda de onde eu vim.
Marcos Loures


289

Dou nó em pingo d’água quando cismo
Em ter quem já se foi e não quer mais.
Se apenas vi restar algum abismo,
O barco não se esquece deste cais.

Não vou dizer que isto é proselitismo,
Tampouco ateio fogo aos milharais,
No amor não caberá mais egoísmo;
Paixões não são momentos vãos, banais.

Embananado sigo a procurar
A moça que partiu com o luar
Deixando apenas sombras, leves rastros.

Eu queimo na esperança de encontrar
E volto novamente a me encharcar
Nas luzes dos amores, fúteis astros...



5290

Dotô então pérdoe esse imbecil
Nascido no sertão lá da Gerais.
O má, que estes meus óio nunca viu
Decérto é muito belo, até dimais.

Criado ao deus-dará, eu sô um bixo,
Bebeno água da mina, sem tratá,
Cumeno o que restô sô quage lixo,
Na terra cumpricada di prantá.

Num aprindi falá cumo os dotô,
Meus versu di impruviso uma bobage,
Só falam do que vi na paisage

Coiendo, as isperança cumo frô
Mais Deus qui deu o sór sem tê bestage
Prantô no coração, perdão e amô!
Marcos Loures


291


Duetos em momentos mais diversos
Versando sobre sonhos, seios, sanhas,
Vencendo as cordilheiras e as montanhas
Vagando tão solícito, universos.

Às vezes são malditos ou perversos,
Em outras delicados, doces manhas,
Enquanto em poesia tu me ganhas
Os olhos da esperança vão dispersos.

Revejo o que sonhei dentro de ti,
Amar o quanto posso e muito além,
Por vezes se a saudade insiste e vem,

Eu tento resgatar o que perdi,
Agarro tuas mãos e num bolero,
Desfilo no infinito, o que mais quero...
Marcos Loures


292

Duas cruzes cravadas no meu peito.
Amores que jamais esquecerei!
Não tenho nem temi, nem peço o jeito,
Nas ondas do remanso fui teu rei!

Teu vestido dourado está desfeito,
Não quero um madrigal porque já sei,
Teus dentes vão cravados... Fino, estreito
O mundo que levavas , mas roubei!

Terei nos meus fantasmas, fantasias...
Farturas e faturas prá pagar
Fraturas, suas curas, infelizes...

Um gosto amargo, trouxe velhos dias,
Um pôster representa esse luar
As bocas que sangrei... Das meretrizes
Marcos Loures



293

Dourando o acinzentado dos passados
Deitando sobre nós os belos sóis,
Trazendo em teus cabelos caracóis
Brilhantes diamantes derramados.

Nos tons destes mares azulados,
Não quero que sejamos quais atóis.
Colhendo de teus olhos meus faróis
Caminhos tão diversos vislumbrados.

Eu quero e necessito desta luz,
Que aos poucos me domina e me conduz
Ao manto constelar de raro brilho.

Vivendo cada dia mais feliz,
Eu tenho e já recolho o que bem quis,
Calando o coração tão andarilho...
Marcos Loures


294

Dourando nossa vida em amor pleno
Tesouros que encontrei; nosso caminho.
Antídoto perfeito pro veneno
Exposto em cada curva, cada espinho.
O resto de meus dias; vou sereno,
Bebendo do teu corpo o doce vinho.

Carpira por momentos mais diversos,
A vida se mostrando em sortilégios.
Os dias que se foram mais perversos,
Negando para a sorte, os privilégios
Agora a mansidão invade os versos
Em cantos mais suavas, finos, régios.

Não vejo outra saída, nem pretendo,
Nos braços deste sonho, eu vou vivendo...
Marcos Loures



295

Dos sonhos nada resta, nem o dia.
Creria em algum rito se inda houvesse
O olhar emoldurando a mesma prece
Estampa a madrugada amarga e fria.

Enquanto o coração te fantasia
O amor que tanto quis, a vida esquece
Por mais que na alvorada recomece
Não pude mais conter esta sangria.

Jogado sobre as pedras, sentimento,
Espinhos vão formando esta coroa
A voz que do passado inda ressoa

Trazida vez em quando pelo vento
Dizendo do que outrora foi teu sonho,
Matando a poesia que componho...


296

Dos seios vou fazendo o doce ninho
Selando com ternura o nosso caso.
O amor que desconhece frio, ocaso,
Invade o coração, vem de mansinho.

Liberta o sentimento, passarinho
Não sabe respeitar horário ou prazo
E tanto quanto o quero já me aprazo,
Sereno passageiro aqui me alinho

Traçando o meu futuro junto a ti,
Veredas tão fantásticas vislumbro,
Enquanto nos teus raios eu me alumbro

Após a primavera eu conheci
Florada de alegria e de esperança
Que em plena poesia enfim me alcança...
Marcos Loures



297


Dos versos que sem pé fazem cabeça
Tropeços são perfeitas expressões,
Em cristalinas águas, a promessa
Deserta as mais sublimes emoções.

Se a luz em desengano foi caprina,
No fundo não tem graça nem beleza,
Eu quero o colo manso da menina.
O resto que virá, não tem surpresa.

Mas cabra quando berra, em seu ruído
Arruinando a pobre poesia
Vestindo este casaco tão puído
Não sabe discernir se é noite ou dia.

Apenas de orelhada e sem talento,
Vociferando asneiras, pobre vento...
Marcos Loures



298

Dos versos que em loucuras tu compunhas
Diversas fantasias e sonetos,
Nos corpos que se lanham; dentes, unhas,
Nas peles parcerias e duetos.

Riscando o teto estrelas multicores,
Aéreas borboletas vão libertas,
Na cama fecundando belas flores,
As janelas e a porta estão abertas.

Milhares de crisálidas preparam
O amanhecer supremo da esperança.
Enquanto as maravilhas se declaram,
Performática e rara nossa dança.

Embalos repetidos não nos cansam,
Apenas recomeçam sempre avançam.
Marcos Loures


299

Dos velhos botequins da antiga Lapa,
O cálice dos sonhos se explodiu,
Espatifado gozo, o que se viu
Nem mesmo a lua imensa ainda escapa.

Invés de teu carinho, soco e tapa,
Amor vai preparando torpe ardil
E o quase se tornando bem mais vil,
Matando uma ilusão, some do mapa.

Fronteira entre loucura e sanidade,
Abrindo esta janela, a liberdade
Estende o seu tapete, e morre pálida

E quando o tempo diz do novo sol,
A chuva vai tomando este arrebol,
Negando qualquer chance de crisálida...


5300


Dos sonhos, dos amores; catedrais!
Altares de ilusões, templos senis.
Recebo as tempestades ancestrais
E finjo qual em guizo, ser feliz.

Mortalhas que me deste, peço mais,
Dos cânceres floridos quero o bis.
Emergindo do nada invado o cais
E lambo tuas pústulas gentis.

Nos gládios e nas foices riso e tento.
Na cama cada ogiva em explosão
Verter a fantasia ainda tento

Mas nada além dos templos enganosos.
O lábio congelado em podridão
Gargalhas inclemente nossos gozos...



301

Dos sonhos sou um simples cosmonauta
Perdido entre fulgores mais diversos,
Na sôfrega ilusão de um internauta
Vagando por espaços tão dispersos.

Cadenciando o passo; mudo a pauta
E busco naufragar tolos versos
Nas ânsias dos mistérios, universos
De uma alma transparente, mas incauta.

Aquém do quanto quis e nada pude,
Mudando muitas vezes de atitude,
As latitudes dizem mesmo não.

Augusto toma conta dos meus sonhos,
E os olhos apodrecem, são medonhos,
Sem eles; como encontro a direção?


302

Dos sonhos que tramei; tu és senhora.
De tudo o que pensei, és sempre a dona.
Quem sabe vou viver amor que aflora
Depois desta emoção que me abandona...

As fases que, mutantes, me trouxeram,
Tantas lamentações ao velho peito.
Nem sempre em nossas vidas recuperam
Os versos que fizera, satisfeito...

Na forma maviosa das cascatas
Descendo pelos rios do prazer.
De todas as maneiras me arrebatas
Não deixa quase nada sem tecer.

De bálsamos teu corpo se vapora
Não tema meu amor, chegou a hora!



303


Dos sonhos que me tomas e me privas
Refaço as ilusões bem mais selvagens,
Depois de teus senões e negativas
As matas deste amor perdem folhagens.
As horas se passando pensativas
Percebem nos teus olhos, as miragens...

Somamos os vazios, nada sobra,
Vou agonicamente em noite espessa.
Ausência vai sentida e se redobra
Ao mesmo tempo em que a noite recomeça.
Vasculho nos lençóis em cada dobra
Insano a procurar peça por peça.

Teu retrato por sobre a penteadeira,
Gargalha uma ironia corriqueira..



304

Dos problemas que eu já tive
Aprendi uma lição
Quando a gente sobrevive
Força em multiplicação

Quando amor diz de declive
Logo chega a solução,
Reconheço aonde estive,
Hoje sei da direção

Dos passos que irei seguir
Dos compassos que usarei.
Dos caminhos dessa grei,

Da esperança de um porvir
Onde a gente trace o norte,
Bem mais livre e bem mais forte...
Marcos Loures


305

Dos penhascos, jogado, o meu amor,
Rolando pelas pedras da incerteza.
Uma alma tão sincera, de pureza
Repleta, sem saber sequer a dor.

Tormentas e tempestas, o pavor...
Em plena rebeldia, a natureza,
Rebenta com a dura fortaleza
Que em torno desse amor traz o vigor.

Em tudo que fizeste, tanto dano,
Minha alma não conhece mais brandura.
Amor que me dedicas, tão tirano,

Não deixa simplesmente que eu te chame,
A vida que prometes, tão escura,
Que impedes, sem sentir que eu sempre te ame!
Marcos Loures



306


Dos pêlos eriçados, arrepios
Sussurros e gemidos, gozo e festa
Enquanto a poesia reina e gesta
Domínio dos delírios e rocios.

Momentos de loucura, desvarios,
Penetro com furor úmida fresta
E a gente sem pudores sempre atesta
O fogo que percorre sendas, rios.

Numa explosão orgástica, delícias
Volúpias entre chamas e sevícias,
Sem pejos nem pecados noite afora.

Do mundo nem recados nem notícias,
E nesse emaranhado de carícias
À flor da pele a vida já se aflora...
Marcos Loures


307

Dos paraísos transpõe cada alfândega
Amor que traz pureza em alvo cisne.
A solidão entranha leda pândega
Tocada por fuligem, plúmbeo tisne

Ebúrnea insensatez já prolifera
Deixando amor calado e sem domínio.
Nas mãos desta temível, dura fera,
Pressinto o desenlace em assassínio.

Porém amor toando um brado audaz
Perfaz novo caminho, em senda flórea
O quanto este prazer nos satisfaz
Estende a solidão, vã, merencória

Recebo em explosão, ventos solares,
Estrelas em tiaras e colares...


308

Dos Pampas vem a voz de uma menina
Que encantos ela traz a quem deseja
Viver uma alegria tão sobeja
No brilho de um olhar que nos fascina

Reflexos sobre o mar, um raro azul,
Maravilhosamente emoldurado,
Contrasta com o sol claro e dourado,
A pérola mais bela que há no Sul.

Distante, nesta terra capixaba,
O encantamento imenso não se acaba
E torno a te dizer, sigo os teus rastros

Permita que eu te cante em pobres versos,
Que num fascínio intenso; vão imersos,
Sabendo desvendar sublimes astros...



309

Dos Pampas ouço a voz de uma menina
Que nina com carinhos, aqui me exponho
Amiga em cada frase que componho,
Tua palavra acalma e descortina

Um mundo em que esperança já domina,
Tornando este caminho mais risonho.
Do amor que tens demais, em alvo sonho
Divina poesia em rica mina.

Eu quero tão somente agradecer
O fato de poder estar contigo,
E ser mesmo à distância, teu amigo.

Tua alma transparente eu posso ver,
E nela me embebendo de alegria,
Vivendo esta emoção que o sonho CRIA!
Marcos Loures


5310

Dos olhos do poeta, um fogaréu
Incendiando todo este arrebol,
A par da solidão de um girassol,
Procuro a luz ausente do meu céu.

Cansando de seguir, sem rumo, ao léu,
Qual fosse uma falena vendo o sol,
Inebriante sonho, o meu farol,
Girando em minha mente, um carrossel

Palavras se misturam num mosaico,
O verso tão prosaico e sempre arcaico
Infernizando enquanto está guardado.

Ao romper as algemas vai sem nexo,
Tentando decifrar mundo complexo
Sem ter defesas, logo abandonado...
Marcos Loures


311

Dos olhos da morena o meu colírio...
Não sei e nem pretendo tal torrente
Seguindo a procissão atrás do círio
Amor embora audaz é penitente.

Intento contra o tento que não tenho
Queimando os meus incensos derradeiros
Sem senso muitas vezes, fecho o cenho.
Das senhas escondidas meus tinteiros.

Nas sanhas programadas; gramas vejo.
Nos veios são velados os protestos.
O quase se traduz em meu desejo
Os dias sem amores são infestos.

Nos indigestos risos de indigentes
Amor eu trago preso nos meus dentes...
Marcos Loures


312

Dos meus sonhos, a rainha
Que se deu em amor pleno,
Quando a noite fria vinha
Protegendo do sereno

A mulher que eu sei ser minha
Com sorriso mais ameno,
Na vontade em que me aninho,
No seu corpo eu me enveneno

Gota a gota vou sorvendo
Com fartura este rocio,
Os seus braços me envolvendo

Protegendo contra o frio,
Com carinhos eu desvendo
Seu desejo, nosso cio...
Marcos Loures


313

Dos meus sonhos quebro imagens...
São medonhos, ancestrais,
Me perdi nas tais viagens,
Velhos dias medievais,

Vilarejos, estalagens.
Nas cantigas, madrigais...
Minha amante, suas pajens,
Mascarados carnavais...

Queimo meus sonhos terríveis
Nos passos do meu rocim.
Nos castelos mais temíveis...

Nessas pontes levadiças...
Todo velho sonho, assim,
Trazendo essas mãos castiças...
Marcos Loures



314

Dos mares, navegante mais aflito
Mergulho meus delírios tão audazes.
E busco teus olhares no infinito
Com lábios com certeza bem vorazes.

Amar é conhecer de cada rito
Momentos mais felizes e capazes.
Tu sabes deste amor fogo bendito
E nesta sensação me satisfazes...

Quem teve em seu passado mundo insólito
Já sabe valorar nosso desejo,
Nós um só corpo, num monólito

Vagando pelo espaço sideral.
Em flóreas avenidas eu prevejo
Um boulevard de sonhos, sensual...
Marcos Loures


315

Dos rastros deste amor calmo e profundo
Eu fiz a tempestade em copo d’água
Se a sorte noutra foz quer e deságua
No peito sem rancores, me aprofundo.

Redunda-se do fato de não ter
Ao menos um cortejo que me leve
Ao vento que se segue após a neve,
Golfando em gozo, hedônico prazer.

Acrescentando o sal, eis a receita,
Se a gente se conforma e se deleita
Problema de quem tenta crer na glória

Seria o meu reverso se não fosse
A vida sem tempero ou agridoce
A foice muda o rumo desta história...


316

Dos raios do luar, calmas dolências,
Trazendo a dor intensa de um vazio.
Nas marcas entranhadas, penitências,
Um sonho que eu vivi, ora recrio.

Na boca da mulher, claras ardências,
Momentos de emoção que fantasio,
Agora tão somente as inclemências
Mas tenho a sensação de um novo estio.

Relembro de seus olhos, seu sorriso,
Chegando mansamente e sem aviso,
Num átimo tomado em avidez,

Mergulho no passado e sua imagem,
Além de simplesmente uma miragem,
Em mágica alegria se refez...
Marcos Loures


317

Dos raios destes olhos, um poeta,
Vivendo as armadilhas deste amor,
Ferido pelos raios, bela seta,
Agora conhecendo o esplendor.

Seduzes com teus olhos, minha amiga,
Em versos te dedico meu encanto,
A vida sem amor já se periga,
Por isso me encontrei sob o teu manto...

Mimosas tuas mãos que acariciam
Desse divino Deus sacro presente,
Carinhos por demais já me viciam
Amor que sempre mostras, envolvente...

Amada por favor, meu sentimento,
Não cabe mais em si, contentamento...


318

Dos lírios que plantamos no jardim,
Abortos de esperanças os secaram,
Matando o que existia dentro em mim
Tristezas pouco a pouco dominaram

E a gente se perdendo em mar sem fim,
Distante, as alegrias ancoraram.
A sorte sonegando cada sim,
Os olhos, amarguras, marejaram...

O céu agora imerso em fria bruma,
Minha alma, sem apoio não se apruma,
Restando tão somente a decepção.

A noite entre fantasmas do passado,
Não traz jamais o dia anunciado,
Só tenho como amiga, a solidão....
Marcos Loures


319

Dos lagos onde, ninfa, se banhava
Sob os olhares lúbricos, sedentos
De quem de tal paisagem desfrutava
Sonhando com carinhos violentos.

Vulcânica expressão do amor, a lava
Tomando os mais diversos sentimentos,
Maré se anunciando cheia e brava
Procuro em pleno mar, rosa dos ventos.

Sem bússola, sem vela ou astrolábios
O barco ao prosseguir sempre à deriva
Mantendo uma esperança ainda viva

De ter junto comigo, os rubros lábios
Da Musa que desnuda, já se banha,
Aos pés tão indiscretos da montanha!
Marcos Loures


5320

Dos laços que nos atam, bem mais fortes;
Em gestos, em ternura e mesmo em paz,
Mudando num segundo nossos nortes
Além de nossas forças, mais capaz,
Trazendo para os sonhos, boas sortes,
Mostrando o quanto sinto ser capaz,

No gesto mais sereno, teu apoio,
Me dando uma certeza de vitória.
Separa a podridão do triste joio,
Ampara na derrota, sorri na glória.

Ajuda meu caminho, em força plena,
Abrindo meu futuro em claridade.
Tua palavra amiga não condena,
Somente me demonstra uma amizade...


321

Dos idos decididos pelos dedos,
Medos empedernidos nas montanhas,
Meus vasos perfurados pelos medos,
Nas novas valentias, velhas sanhas...

Quem dera se salvassem os segredos...
As bocas que sensíveis sempre arranhas...
Dos tempos que perdi nestes vinhedos...
Os ossos que me deste, tantas manhas...

Dedos acariciam belos seios,
Medos se vão esquecem capoeira...
No que se pode ser serás os meios

Pelos desertos que conflagras da poeira,
Dos idos que não disse meus anseios.
A marca da pantera na soleira....
Marcos Loures


322

Dos grandes sonetistas que ora leio,
Aprendo a maestria feita em métrica.
Cevando a poesia de permeio,
Eu vejo a minha estúpida, vã, tétrica.

A mão desafiando, vai elétrica
Enquanto desafino, mais eu creio
Que a poesia é maga quando obstétrica
Num parto que se mostre sem anseio.

Perdoe então, querida, esta ousadia
Da voz tanto teimosa quão sombria,
Que ao destoar estraga este concerto

Esplêndida sonata em concordância,
Quem dera se encontrasse ressonância...
Do sonho- ser poeta, enfim, desperto...
Marcos Loures



323

Dos gozos e prazeres insensatos,
Deixando tão somente alguma pista,
Por mais que a solidão inda resista
Estendo a minha mão entendo os fatos

Que possam destruir qualquer vestígio
Daquilo que já fomos. Descalabro
Enquanto o coração manda, eu reabro
Buscando dirimir qualquer litígio.

A par dos desencontros desta vida
Propenso a te trazer uma saída
Que possa transformar a velha imagem.

Os rastros que deixaste, tuas sanhas,
Alçando cordilheiras e montanhas
Inundam de poesia esta paisagem...



324




Dos frágeis vagalumes, tênues brilhos
Que sonham enfrentar mar revoltoso,
Seguindo do luar diversos trilhos,
Um andarilho tão voluptuoso

Ultrapassando em glória os empecilhos,
Sabendo ser o sonho caprichoso,
Aperta; da ilusão, ledos gatilhos
E tenta um novo tempo, harmonioso.

Dos gozos mais sutis, segue esfaimado,
E encontra a placidez do imenso prado
Que pode imaginar pós cordilheiras

Ao largo, no horizonte, um vasto campo,
Aonde pôde, enfim, tal pirilampo
Tocar luzes além das corriqueiras...


325


Dos filhos que geraste mais vorazes,
As larvas, os insetos, as serpentes...
Nas bocas e peçonhas não te aprazes,
Os olhos, as mandíbulas, vertentes...

Demonstram toda força, são audazes,
Nos mundos variáveis oponentes
Traduzem mais banais os mais tenazes
As fomes deflagradas, vermes, dentes...

Os falsos mergulhões temem segredos,
Invadem superfícies mais sedentos...
Nas patas tremulantes, ânsias, medos...

Não temo se não sinto ou se conheço...
Reflexos medulares, mortos, lentos...
A morte, p’ra quem vive, é sempre o preço!



326

Dos espaços celestes, bela flor,
Trazendo tanta sorte e tanta paz.
Encontro seu perfume e seu calor
Nos astros que mergulho amor audaz.

Recebo desta vida o meu pendor
Imerso neste brilho que me traz
A flor celestial, seu esplendor...
Quem me dera colhê-la! Sou capaz?

O perfume no lume em tudo espalha,
Recendendo universo em sua malha.
Uma flor generosa pelo astral...

Meus olhos a procuram pelo espaço,
Uma mão divinal desenha o traço.
Em Leilane esta flor, celestial!
Marcos Loures



327

Dos mares um etéreo navegante,
Entranha a cada passo um vil receio,
Bebendo a solidão, quero e permeio
Meu verso com um riso delirante.

Eu sei o quanto o sonho é desgastante,
Realidade toma cada veio,
Da vida tantas vezes eu me alheio
Porém verdade chega num rompante.

A fantasia audaz já desafia
Das lágrimas insana romaria
Proclama em ironia amarga festa.

De toda uma esperança, deserdado,
Reflito cada sombra do passado,
A morte em sedução ora se empresta...
Marcos Loures



328

Dos mares tão mineiros que tramamos
Mergulhos nas montanhas das Gerais,
Macios nossos sonhos decoramos
Com mares que mineiros mostram mais.

Os ares das montanhas e das montes
Das fontes que jorramos nesta cama,
Das tramas que fizemos, do horizonte,
Dos versos verdadeiros, veras chamas...

Eu quero versejar e navegar
Os mares que me deste, por empenho.
Vencido pelas minas deste amar,
Das minas e montanhas cedo venho.

E cedo em teu carinho tal ternura
Que vejo em teu amor, a nossa cura...


329

Dos mares que não sei e não navego,
As ondas me falando da esperança
Quem teima em fantasias, por herança
Encontra o seu caminho amargo e cego.

Não tenho pela vida mais apego,
A treva do vazio já me alcança,
Minha alma por espaços vagos trança,
Depois de tanta luta, enfim me entrego.

Eu sei, sou nada além de um simples zero,
Perambulando à toa pelas ruas,
Nos céus que imaginei, mortas as luas,

Apenas o final ainda espero,
Um coração que segue em rumo fosco,
Traduz este imbecil, amargo e tosco...
Marcos Loures


5330

Dos lírios tu roubaste seus perfumes.
Das rosas tu me deste seus espinhos.
Da noite que invadiste de ciúmes,
Rompantes delirantes, nossos ninhos...

Entrego-te meu ar quando respiro
Entrego-te meu sonho quando queres.
Em busca deste amor, quase reviro,
Os mares, ares, ruas, se quiseres.

Sou frágil se não tenho sua brisa,
Sou fácil quando queres namorar.
Amor quando puder, então me avisa,
Que a noite não se cansa de esperar.

O vão de nossos sonhos, infinito,
Espera em teu calor, amor bendito...


331

Dos ermos desolados de onde vim,
Num último segundo, diluído,
O resto que sobrara dentro em mim
Ao ser tocado veio ressurgido.

Uma esperança tenta até que enfim
Um sonho que deixara já no olvido
Trazendo um bom perfume de alecrim
Apraza num momento tão querido.

Cada minuto agora, em alegria
Demonstra quanto é bom poder amar.
Toda palavra dita, mansa e terna,

Que em lúdica ternura se dizia
Espalha esta canção que solto no ar
E Amor, bem sacrossanto, nos governa.
Marcos Loures


332

Dos colossais desejos que me guiam
Querendo me fartar de tanta luz,
Meus olhos sem juízo, sempre espiam,
A doce maravilha, cura e cruz.

Apalpo teus recantos escondidos,
Encontro nossa mina de loucuras.
Invado estes caminhos proibidos,
Em forma de desejo e de ternuras.

Qual fora um andarilho sem destino,
Embrenho, explorador, matas e grutas;
Mergulho nestas sendas, me alucino,
As mãos tão traiçoeiras quanto astutas...

Nas delicadas dobras passo a ver
As armadilhas belas do prazer...


333

Dos cofres eu encontro cada chave,
Segredos desvendados; já faz tempo...
A vida do teu lado vai suave,
Não temo nos caminhos, contratempo.

Apenas me permito ser feliz,
Roçando a tua pele a noite mansa,
Não quero mais amores tão servis,
Imensa calmaria, assim me alcança.

Amor robotizado sem malícia,
Calor quando amornado traz marasmos.
Mosaico de prazer feito em carícia,
Tramando em nossa cama mil orgasmos.

Sarcasmos escondidos nos mormaços,
Não quero e nem suporto, mesmo os traços...
Marcos Loures



334

Dos céus das ilusões criei meu barco
Que vaga entre procelas e bonanças.
Às vezes universos vãos abarco
Sangrando em oceanos, esperanças.

Quando em ventanias eu embarco,
Aguardo cais em praias bem mais mansas,
Quem dera se eu pudesse ser um arco
E as poesias fossem setas, lanças

Talvez inda tivesse solução.
Mas quando encontro apenas solidão
Eu olho para os Céus, tudo agradeço.

A vida se refaz a cada queda,
Porém não vou pagar, mesma moeda
Reciclo o coração, nego o tropeço...
Marcos Loures


335

Dos escombros de esta alma, algum resquício
Que possa profanar minha carcaça.
Resíduos do que fora fome e vício
Enquanto a vida aos poucos se esfumaça.

À beira do que sei ser precipício
O tempo em solidão quase não passa,
Do amor que fora mote, sonho, ofício
Perdendo a sensatez, o nó se esgarça.

Quem fora, no passado, mais arguto
Já sabe não terá um bom final.
Apenas a bandeira traz em luto

O riso de sarcasmo que me dás.
Do nada que carrego em meu bornal
O beijo em ironia,satisfaz...
Marcos Loures



336

Dos erros que cometo pela vida
Alguns são totalmente imperdoáveis
Por mais que os versos sejam tão amáveis
Lamento, com certeza, a despedida.

Minha alma tantas vezes vai perdida,
Vagando as amplidões inalcançáveis,
Alçando estes grotões insuperáveis,
Na lágrima sincera, assim vertida.

Eu vejo o teu retrato dentro em mim,
E sigo cada passo que deixaste;
O sol que com a noite faz contraste

Iluminando em glória o meu jardim,
Expressa uma esperança de poder,
Voltar a ter em ti, gozo e prazer...
Marcos Loures



337

Dos erros cometidos no passado
A tua ausência agora, maltratando,
Percebo ser somente o resultado
Que aos poucos sem descanso vai matando...

Quem dera se pudesse noutro prado
Seguir o tempo inteiro caminhando,
De tanto que, eu bem sei, andei errado
Castelo de esperanças desabando.

Tu foste minha amiga e companheira
Amada amante, dona dos meus olhos.
Agora que perdi minha esperança

Procuro uma mulher que inda me queira
Depois de caminhar por entre abrolhos
Prometo pra mim mesmo uma mudança...


338

Dormir, sonhar... Vencer as tempestades
Causadas pelas dores do viver...
Retorno aos meus princípios, veleidades,
Espero tantas coisas esquecer...

Que bom seria ter alma liberta
E versejar meu canto em liberdade.
Que bom seria ser, enfim, poeta;
Vencer com versos livres, ansiedade...

Quem dera se, nos sonhos e sonetos,
Vagasse em asas soltas meu cantar.
Falar de nossas dores nos quartetos
Saber, sem ter receios, navegar...

Dormir, sonhar, soul fly, sobrevoar
Sem medo de poder enfim, amar!



389

Dormir tão calmamente no teu braço,
Depois de termos feito esta festança.
Jogando contra a lua uma aliança
O jeito é ser feliz, sem embaraço.

O resto na verdade nem mais traço
E vivo o gozo firme da esperança
Que enquanto nos amarmos sempre alcança
O que se prometeu no antigo laço.

Eu juro, não farei qualquer lambança
O corte do punhal que é feito em aço
Matou o que restou de um ser devasso,

Legando o meu passado pra lembrança
Amor jamais encheu a minha pança,
Porém sempre garante um manso passo...


5390


Dormindo como uma onda em calma praia
Te vejo suspirando, delicada...
Na areia deste sonho, o sol desmaia
Deitado em tua pele bronzeada...

Dormindo com pureza sensual,
Cansaços e delícias desfrutados;
A noite foi sem par, fenomenal,
Meus sonhos se tornaram tão dourados...

Ao ver-te molemente extasiada
Percebo como é bom poder te ter.
Sacias meus desejos, minha amada,
No livro que sabemos, juntos, ler...

Que bom que concebemos nosso caso,
É sol que brilha forte em meu ocaso!


391

Dormindo com pijamas de bolinhas
Pantufas cor de rosa, meu amigo!
As noites de plantão são tão sozinhas,
Correndo na verdade tal perigo

Ao soltar suas frangas as asinhas
Batendo com furor Ah que castigo
Tristezas que são suas não são minhas.
Não posso conceder qualquer abrigo.

Doutor que sempre diz o mesmo não,
Com medo deste bicho, o tal papão.
Jamais pode sentir-se solitário

Ao ver tanta florzinha em seu pijama
Desculpe se não venho quando chama
Apenas meu caminho, é que é contrário...



392

Dormimos nossos cômodos de cal,
Não posso declarar a todo instante,
Que fomos prisioneiros deste astral...
A vida não se fez mais elegante...

Amor que se mentiu, irracional,
Trafego nossos passos adiante...
As roupas vão quarando no varal,
O tempo que restou, vai inconstante...

Não posso ter amor nem paciência,
Jogados sem vontade de partir.
As mãos que apedrejaram, por clemência

Num instante parecem refletir...
Amor por que me juras inocência,
Parede que me ecoa a repetir....
Marcos Loures


393

Dormia mansamente quase nua
À sombra desta noite esfuziante
Beijando o belo corpo, uma alva lua,
Nos raios um desejo inebriante...

Sondando meus carinhos mais profanos,
Sabia que podia me envolver
Não tenho nem teria mais enganos
Amor que sempre ajuda a reviver

A flor que dentro d’alma se perfuma
Invade sem espinhos, o meu jardim,
A dor ao ver a flor logo se esfuma,
Amor que tanto quis, amando assim...

Se tudo o que fizemos, sem demora,
Nos traz a claridade desta aurora...


394

Dorido ritual no fim que ora prevejo
Sangrante tempestade açoda um velho triste.
Apenas o vazio imenso ainda insiste
E mostra-se cruel, temível e sobejo.

Aproveitando assim, não perde um só ensejo,
Do nada que carrega; eu sei que ele resiste
Embora trague o vago, expressa o quanto existe
Da solidão completa, à qual jamais almejo

Mas é a companheira, amiga inseparável.
A vida vai passando- amargura intragável,
E deixa tão somente um rastro feito ausência

Quem dera se eu pudesse alçar este infinito,
Liberto então soltar aos céus um forte grito
Teria ao fim de tudo, alguma condolência...


395

Dorida madrugada em solidão,
Acendo o meu cigarro, tiro um trago.
A tua ausência causa tal estrago
Descompassando logo o coração.

Ascendo ao infinito em emoção
O vento frio beija-me em afago
Quem dera a placidez de um manso lago,
Mas tão somente escuto o mesmo não.

Aguardo mais um tempo e nada vem,
Somente uma saudade inesgotável.
Procuro, vago à toa. Mas ninguém...

Na janela entreaberta do meu peito
A madrugada passa, interminável,
Nem mesmo a tua sombra sobre o leito...



396


Dos cacos que nós fomos eu tentei
Fazer algum espelho, pelo menos;
Momentos antes raros, pois serenos,
Na colcha de retalhos, eu juntei.

O resultado disso, agora eu sei
Tomando a minha vida com venenos,
Matando os sentimentos mais amenos,
Apenas velhas penas, adiei.

O vaso que se quebra, sem conserto,
Uma andorinha só não faz concerto,
Nem mesmo um veranico, não dá certo.

Malhando em ferro frio, num deserto,
O coração teimoso, estando aberto,
Ainda que sem rumo e nexo, oferto...
Marcos Loures


397

Dos beijos que pretendo em tua boca,
milhares de carinhos sem ter fim.
E seduzido em noite quente e louca,
marcado pelo beijo carmesim.

Acordo do teu lado e recomeço
a festa feita em gozos e prazeres.
Virando o nosso corpo pelo avesso,
do jeito que eu mais quero e que tu queres.

Mulher feita desejo, venha logo;
te quero da maneira que puder,
ardendo em nossa cama, tanto fogo,
delícias em formato de mulher...

Vencendo tantos medos e pudores,
misturamos orgasmos e suores...
Marcos Loures


398

Dos amores que tive, foram tantos...
Eu me lembro que fomos bem felizes.
Embora eu te causasse tantos prantos
Tantas noites passadas nas marquises

Esperando dizer, em serenatas,
Dum amor que trazia tantos versos,
Falando desses rios e cascatas
Em dezenas de sonhos, tão diversos...

Mas, se te fiz feliz, disso eu não sei...
Errei tanto, mas tanto que te amava
Mesmo assim muitas vezes machuquei
Quem, em mim, alegria só buscava...

Minha amada desculpe tanto dia
Que deitei noutros braços... Poesia!


399

Dormita em noite vã, fria e nublada
Aquela que se fez minha esperança,
História há tanto tempo mal forjada
Deixando uma poeira na lembrança

Do pó no qual amor ora se fez
O risco de tropeço é inerente.
O fardo tão pesado, insensatez,
É tudo o que se tem; o que se sente.

Estendo ao infinito os meus olhares
Enfronho a solidão neste horizonte.
Aonde eu percebi que tu locares
O sonho; já secou a antiga fonte

Que eu sei, pressagiara uma ilusão,
Amor em amplitude, ao rés do chão...
Marcos Loures


5400

Donde vinha a tristeza tão estranha
Que dominou, por vezes, minha vida?
Subia, em vertical, com dor tamanha,
Deitada tão somente, em voz perdida...

A dor que simplesmente me tomava,
Vertida nas sessões de nostalgia.
Um anti-sol que sempre iluminava,
Formando um só delírio em fantasia...

Minha alma arrebatada, quis fugir.
O campo das estrelas, meu descanso.
Seguido tal cometa sem pedir,
Os olhos infinitos; não alcanço...

Meu lenitivo em forma de ungüento,
O nosso amor, sereno e violento...



401




Donde vem o corcel no qual flutuas?
As asas, unicórnio galopante...
Ao ver-te maviosa, as costas nuas,
O sonho se demonstra radiante...

Sublime e delicada, corres luas,
No céu és como estrela fascinante!
Nas bocas entrelaças, continuas
Cavalgando beleza alucinante...

Quem dera cavaleiro formidável,
Nas frestas destas nuvens que cavalgas,
De tudo que seria imaginável,

Meu mundo esqueceria vil temor,
Nos mares dos amores, tantas algas,
Nos céus das ilusões o nosso amor...
Marcos Loures


402

Donde vem este amor tão desvairado?
O sol vermelho queima tuas coxas.
Mergulho neste mar, extasiado,
As flores da saudade morrem roxas...

Meu doido coração bate depressa
Beijando a carne inteira deste sol.
E sinto que minha alma já se apressa,
Morena, teu amor, meu girassol...

Voluptuosamente te procuro,
Sereia que encantou meu coração.
Teu verso enamorado, sempre puro,
Invade meu viver, louca paixão...

O sol vermelho trama nesta praia
Morena meu amor... Coxas e saia...


403

Dona do claro olhar, por ti estou chorando...
Em toda vida tive o sonho, a fantasia;
De ver aqui do lado, um brilho qual o dia.
Pergunto-me em silêncio : sonharei até quando?

Depressa foste embora, a vida foi passando;
Ao mesmo tempo fui, porquanto já sabia
Que nunca mais aqui, teu brilho encontraria.
Serei feliz? Jamais! A vida se escoando...

O brilho deste olhar não sai do pensamento,
Relembro deste azul em cada vão momento.
A noite dolorida, em sonhos, me revela

O canto da esperança está pleno de enganos.
Jamais hei de encontrar, depois de tantos anos,
Beleza sem igual, olhar de Manoela!
Marcos Loures


404



Domine esta palavra meu amigo,
Receba cada verso que ora faço
Mínimas as chances que persigo,
Fazendo a poesia traço a traço

Solfeje cada nota, sem perigo
Lamento, e te replico sem cansaço,
Simulo outro verão no olhar mais baço
Doendo no meu peito em desabrigo;

Revejo cada dia que vivi,
Miríades de estrelas, luz tão vária
Fatídica verdade queima em fogo

Sol, esta estrela que una chega aqui
Lançada sobre o céu, e solitária
Sinônimo de brilho, Botafogo!
Marcos Loures



405

Dominando em prazer, meu paladar,
O gosto de teus lábios sedutores,
Invadem minha noite, num luar,
Semeia em minha cama, chama e flores.

Prometem em delícias, os albores
Que cedo, na manhã vêm entornar
Em luzes e perfumes tentadores,
Na espreita do calor de luz solar.

Teus beijos, minha amada, paraísos,
Que tanto imaginei ter noutra vida.
Meus passos que antes foram indecisos,

Agora sem temores, decididos,
Mostrando que encontrei uma saída,
Para os meus passos tortos, desvalidos...
Marcos Loures


406

Dominam, tal cenário, as solidões,
Emoldurando as telas, o vazio.
Rolando pelas trevas, amplidões
Fantasmas que imagino, cedo crio.

Arrasto pelos pés, duras correntes,
Estrangulando os sonhos que tivera,
Os gritos desumanos e dementes
Prenunciando a vinda desta fera.

Refúgios renegados já faz tempo,
Apenas o silêncio ainda eu ouço
Reflexos da vida em contratempo
Do parapeito entranho o calabouço

Bem antes que esperança me socorra,
Adentro a profundeza da masmorra...
Marcos Loures


407

Domasse o tempo. Então a eternidade
Pudesse ser além de um simples sonho.
No azul do céu imenso assim componho
Bem mais do que pudesse a liberdade.

Mantendo sob as rédeas, mocidade,
Distante do futuro tão medonho,
De todos os gradis, o mais tristonho.
Vencer tal dissabor, não há quem há de.

Voltar aos dezessete. Ser mais forte,
Beber a juventude novamente.
Decifrar os desígnios, ter na morte

Somente uma distante fantasia.
No fim que se tornasse, assim, ausente
A cíclica visão de noite e dia...


408

Domada pelo amor, divina fera
Entrega-se ao furor desta vontade
De ter a rebeldia em que se esmera
Poder já desfrutar felicidade.

Meu corpo no teu gozo se tempera
Encontra, ao mergulhar, saciedade.
Numa ânsia ilimitada, sem espera,
Adentra no teu corpo com vontade.

Eu quero que porejes fontes, mel,
Zangão, vou procurando uma rainha,
Fecundo com tesão, arranco o véu

Tendo tua nudez fenomenal,
Decoro deste mapa cada linha,
E aporto em teu prazer, sacro e carnal.

409

Dois velhos caminhando pela praça
Futuro nos trazendo um bom passado,
A vida no momento em que se abraça,
Meu braço nos teus braços, apoiado...

Amiga que me deu a vida inteira
Nos braços que me dás, tantas histórias...
De vida que mostrou-se verdadeira
Guardada num recanto, nas memórias...

Aos poucos nos unindo sempre mais,
Tornamos espelhares mas distintos,
Unido sem ser uno, isso, jamais...
Nos sangues tão diversos, todos tintos...

Dois velhos caminhando com ternura,
Depois de tanta vida, uma ventura...
Dois velhos caminhando pela praça
Futuro nos trazendo um bom passado,
A vida no momento em que se abraça,
Meu braço nos teus braços, apoiado...

Amiga que me deu a vida inteira
Nos braços que me dás, tantas histórias...
De vida que mostrou-se verdadeira
Guardada num recanto, nas memórias...

Aos poucos nos unindo sempre mais,
Tornamos espelhares mas distintos,
Unido sem ser uno, isso, jamais...
Nos sangues tão diversos, todos tintos...

Dois velhos caminhando com ternura,
Depois de tanta vida, uma ventura...


5410

Dois pássaros voando para o ninho
Depois de revoarmos emoções
Chegando em teu ouvido de mansinho
Falando do desejo e tentações

Prometo te fazer tanto carinho
Causar em cada veia ebulições
Estar sempre contigo e tão juntinho
Misturar mesmo sangue, os corações...

E em festas repetidas sem enjôo
Fazermos toda noite este revôo
Chegando ao doce altar destes prazeres.

Castelos que sonhamos: nossa cama,
Rainha tome os lábios de um vassalo,
Causando no reinado tanto abalo...
Marcos Loures



5411

Dois meia nove nove quatro cinco,
Foi este o telefone que me deste,
Ligando o tempo inteiro com afinco,
Não tendo nem resposta, isto foi teste?

Telhado em meu barraco, eu sei, de zinco,
Porém meu coração mesmo que agreste
Jamais desbotará, mantendo o vinco
Há quem isso garanta e até ateste.

Eu tento e vem de novo aquela voz,
Numa repetição tão chata atroz.
Dizer que o telefone não existe.

Meu Deus o que fazer do coração
Que teima em se perder, louca paixão,
E toma a minha mão, de novo insiste!
Marcos Loures



412

Dois filhos tão diversos; concebeu
Mater original: Abel, Caim,
Depois de ser expulsa do jardim,
Na inveja do mais velho, padeceu.

A mão de um assassino, fratricida,
Na fúria sem motivo; à traição
Tirando o bem maior de seu irmão
Caim rouba de Abel a própria vida.

E sendo, por castigo, deportado,
Saindo da presença de Jeová
Encontra em Nod aquela que será

A mãe de Henoc que ao ser assim gerado
Distante do Senhor não reconhece
A invocação de Nome feita em prece...


5413

Donzelas tomem cuidado
Com o demo disfarçado
Num poeta sem vergonha,
A figura é tão medonha

Mesmo sendo desdentado,
O bicho endemoniado
Faz do verso uma peçonha.
Pobre mocinha que sonha

Com seu príncipe e castelo,
Caindo na sua lábia
Vida segue em retrocesso,

O seu nome, eu não revelo,
E essa é decisão sábia
Pois senão tomo um processo,



5414

Donzela tão sacana no meu leito
Tirando de repente esta calcinha,
Deixando que perceba a bucetinha,
Depois de um belo monte um vale estreito.

O rabo mais gostoso e mais perfeito,
Aberta e bem raspada, esta xaninha
Tão gostosa, cheirosa e bem lisinha,
Licor que me deixando satisfeito

Produto deste orgasmo esparramando
Entre suspiros mágicos, gemidos.
Potranca que de quatro, requebrando

Engole o meu caralho em seu cuzinho,
Nos teus buracos todos, já fudidos,
Melando com a porra, de mansinho...


415

Em busca de emoções- loucos cometas,
Andei por entre braços languescentes,
Bebendo em vários gêiseres ardentes,
Camas avermelhadas, violetas.

As rosas que eu desejo não prometas;
Apenas me ofereças noites quentes,
Em fome desenhadas; indecentes,
Loucuras que eu imploro – amor, cometas.

Aromas sensuais e perturbantes,
Desnuda insensatez que sem turbantes
Se faz em turbilhão idolatrada.

Que amor não seja fogo manso e breve,
Que uma explosão divina enfim nos leve
À fonte do prazer, escancarada...

416


Em devaneios trago esta esperança
Risonha de intocável majestade…
Tramando para a vida, temperança,
Apenas me tocando, veleidade...

Um sonho que se faz pura fiança
Tal qual fosse um delírio/ realidade.
A mão que quando busca nada alcança
Identifica aqui a liberdade

Os meus olhos procuram pelo corpo
Porém em total éter se desfaz
E qual fosse um fantasma que eu encorpo

Domina minha vida totalmente,
Poder que neste mundo ninguém traz,
Existe em plenitude. É inerente...
Marcos Loures



417

Em desespero busco uma saída
Por entre sombras, gritos, tento a porta
Que sei a tanto tempo destruída
Apenas a loucura ainda aporta

Tantas mãos me agarrando, eu não consigo
Sequer já vislumbrar a liberdade.
No alpendre não pressinto algum perigo
Voar por sobre os prédios da cidade...

O sopro que me toca, glorioso
Redime dos meus erros? Mas quem sabe
Saltando no vazio encontre o gozo
Do pouco que me resta e que inda cabe...

A vida sem valor algum; decerto
Mergulho em desespero num deserto...


418

Em desencanto pleno e sem mortalhas
Vestido de ilusão por ti, querida.
As horas se jorrando; qual navalhas,
Formavam a grinalda dolorida...

Os céus resplandecendo parcas tramas
Em tantas tramas loucas me dizia
Das farpas e dar marcas das escamas
De serpentes marinhas que trazia...

Sem nexo ou talvez sem ser possível,
Amor me derrocava sem ter penas.
Sobrara tão somente a dor incrível,
Entranha em minha pele, morro, apenas...

Mas eis que superar calamidade
Somente necessita da amizade!



419

Em contradança encontro nossa dança
Que trança as pernas plenas num bailado,
Quando alças nossos sonhos mão avança
E toca sutilmente o bem guardado.

Se exprimo o meu desejo de criança
Amanso o coração que cora ao lado,
Meus víveres se fazem da lembrança
Da dança que esqueci, tempo passado.

Mas suo em cada passo com vontade
De ter sem ter disfarces diapasão
Batendo bem mais forte o coração

Que sabe seduzir felicidade.
Menina, fases, frases, fazes festa,
Amor tocando a mente, gozo atesta...
Marcos Loures


5420


Em agonia leva a vida em festa
Imaginário gozo que se dá
Aonde o sol de novo brilhará,
Depois da noite amarga e tão funesta.

Ouvindo a melodia que em seresta
Trazendo uma alegria desde lá
Porém diapasão esquece o lá
E a vida ao desafino já se empresta.

Ao mesmo tempo o beijo e o bofetão,
A chuva se aproxima e em supetão
Transforma o que era seca em alagado.


421

Elípticos caminhos
Vagando sem destino,
Andara tão sozinho,
Sem rumo em desatino.

Um sonho determino
De ter um novo ninho,
Qual fora um passarinho
Que cedo, me alucino...

Apenas amizades
Ajudam a saber
Por certo, as qualidades

Do que pretendo ter,
Nas solidariedades
Encontro tal prazer...


422

Elipse em carrossel, rondando cai,
E a máscara não tapa e nem esconde.
Enquanto a nervo aflito se contrai
Amor perdendo tempo, esquece o bonde.

Aonde fiz a casa de sapê
Tapera não espera mais resposta.
Procuro e tão somente vem cadê
No quê do quanto quero não se aposta.

Tostando nossas costas farto sol,
Soleiras invadindo num mormaço.
Nas brônzeas cercanias, no arrebol,
Rebola essa morena a cada abraço.

Compasso mais perfeito em contradança
O fogo que ela espalha já me alcança...


423


Em brônzeos nimbos, tarde vem caindo
A Natureza em plena rebeldia
Em brumas tantas vai reproduzindo
O que, faz tempo, o coração sentia.

Futuro imaginado, calmo e lindo
Morrendo sem vontades, dia a dia.
Desesperança aos poucos vem agindo
Portando em todo sonho uma agonia.

Mas quando, ao ver amiga o riso franco
Que trazes com ternura e sensatez
O céu de escuro breu torna-se branco

E faz da tempestade, leve brisa,
Num porto de bonança e placidez
Meu céu em belas cores já matiza...



424



Em brancura suave tal qual neve
Minha alma embevecida te suplica.
Num sonho delirante que a enleve
Não tem porque e nunca sacrifica.

Espera pelo altar manso que eleve
Branduras e carícias, se edifica
Trazendo a calmaria. Quem se atreve
A erguer-se contra uma alma que adocica?

Portando as esperanças de mudança
Levando por caminho deslumbrante.
Convida tão festiva à nova dança.

Nossas almas penetram-se, em conjunto,
Tatuam-se de forma inebriante.
Conversam; calmamente, o mesmo assunto!



425


Em belo altar, sonho introduz um deus
De amores e vinganças; soberano.
Teus olhos ao trocarem com os meus
Palavras percebidas, desengano.

Quem teve em seu olhar, brilhos ateus
Nos cardos/ solidão, alça seu plano,
Um sentimento vil e desumano
Deixando por legado duros breus

Ateia num momento dor imensa,
Fazendo deste sonho um pedestal
Louvando na verdade todo o mal

Legando uma tristeza em recompensa.
Porém estreita fresta, claridade,
Adentra com vigor, uma amizade...
Marcos Loures



426

Em auras claras vejo a tua imagem
Caminhas lado a lado com meus sonhos.
Por vezes quero crer numa miragem
Que torne meus caminhos mais risonhos.

Qual rio que se espalha pelas margens
Em tempestades; ventos tão medonhos
Ao ver tua presença são aragens,
Deixando para trás dias tristonhos...

Isenta da maldade e da malícia,
Nos braços da amizade, uma carícia
Permite que renasçam esperanças

Adormecendo em paz, tranquilamente,
Mudando o meu destino, de repente.
Trazendo para a vida, temperanças.
Marcos Loures


427

Em asas mais libertas e felizes,
Angélica figura, mas mecânica
Mudando o seu disfarce, diz satânica
Que apenas foram tolos, seus deslizes.

Os céus que arremessou, agora grises
Demonstram tal vontade quase onânica
Do gozo ensimesmado. Sendo orgânica
No fundo só deixou as cicatrizes.

Na senda, a maravilha em monte cônico
Deixou meu coração audaz, afônico
Sem tônico e sem técnica, sou quase.

Películas diversas que encobriam
A fonte aonde os sãos já se inebriam
Mudando feito a lua em cada fase...


428

Em argênteas doçuras, branca neve,
Quando em trevas noturnas, um oásis...
Aos poucos; com carinho leve e breve
Mudando sua face em tantas fases.

Se das névoas, coberta é fino véu...
Vagando solitária no deserto.
Reina, maravilhosa, no meu céu
Em seus braços - futuro vai incerto...

Eu amo as suas rendas, seu cetim.
Em brancas, alvas luzes, me inundando.
O bom de todo amor que existe em mim,
Nas horas mais tardias, transmudando.

Beleza que me encanta clara e nua...
Deitada em minha cama, amada lua...


429

Em Águas de Lindóia ou num boteco,
Se a roupa é sensual, é puro incêndio,
Não quero ler livreto nem compêndio,
Graças a Deus, contigo eu sempre peco...

Bendita esta explosão de farto muco
Ungida por sussurros e gemidos,
E os gestos costumeiros repetidos,
Espalham nesta cama, doce suco.

Cansaço tão gostoso de se ter...
Iluminando a noite; o teu prazer,
Certeza de que a dose se repita.

Até que a morte ou vida nos separe
Retorna o velho bonde à mesma gare
Na progressão voraz, porém finita...


5430

Egrégio sentimento, nobre amor,
Insigne soberano da emoção,
Nas vergastas inúteis da paixão
Um néscio clama em luzes, o louvor.

Escárnios que provocam dissabor
Sorrisos, ledas chuvas de verão.
Nos beijos, um absinto. Esta ilusão
Profana o que se espera redentor.

Da vala negra, estúpida esperança,
Sorvendo cada gota, pensa ter
Ao menos placidez e temperança,

Faminta, não percebe sobre a mesa,
Imagem decomposta do prazer
Tornando esta alma inútil e tão obesa...
Marcos Loures


431

Egrégias sensações, belos cenários
Em flamas e delírios decoradas
Egresso dos meus sonhos temerários
Em pênseis expressões mal decifradas.

Tetânicos desejos que sectários
Abóbadas há tempos arqueadas,
Nas pétreas ilusões, escárnios vários
Esferas entre nuvens disfarçadas...

Borrascas que, terríveis se aproximam,
Efeverscência em lúbricas promessas,
As tramas que embrenhamos são egressas

Dos ventos que torturam e se esgrimam,
Na luta interminável, mal e bem,
Estrelas, meu farnel, quer e contém...


432

Edinho, veste a calça por favor
A bunda quando exposta ao forte vento
Resfria, depois chega então a dor,
E aí compadre é puro sofrimento.

Um tal de sentir frio no calor,
Decerto te trará tanto tormento
Melhor eu te garanto é recompor
Mesmo que tenha enfim, um outro intento...

Menino, quem provoca e não agüenta
Depois vai reclamar, pedir colinho.
A coça mesmo sendo violenta

Não basta, tu não tomas mais juízo;
Procure tua turma então Edinho
Senão eu não me responsabilizo...
Marcos Loures


433


Ecoa pelos astros, mas sem pressa
A verdade inegável e irrefutável
Sobretudo, na qual já se confessa
Um gozo outrora frágil e improvável.

Eu sei que; muitas vezes, eu menti
Ao falar sobre coisas que não sei.
Se em tantos descaminhos me perdi
Da rota, eu percebi a nova lei.

Estampada, em meu rosto, esta certeza
Buscada em arredios arrebóis,
Ao ver tua presença, com surpresa,
Deitada em minha cama, meus lençóis;

Sem titubear falo em destemor.
A verdadeira força vem do amor.


434


Elevo o pensamento ao Pai supremo
Que sabe distinguir joio de trigo,
E quando, muitas vezes, eu extremo,
Socorre nestas horas de perigo.

Contigo, Meu Senhor, eu nada temo,
Reconfortante colo de um amigo,
Cadáver dos enganos; logo cremo,
Num libertário encanto que persigo.

Saber de Tuas mãos acolhedoras,
As luzes do perdão tão redentoras,
Vivendo esta alegria de ser Teu.

O Pai que entre os irmãos se fez Cordeiro
Salvando com Seu gesto, o mundo inteiro,
Criador que em amor total se deu...



435

Elevaria o tom desta conversa
Se houvesse ainda um rito a se cumprir.
Enquanto sobre o sonho já se versa
Eu mato; sorrateiro, o que é porvir.

Um gole de café; outro cigarro,
E o olhar refém das velhas tradições.
As cordas; lentamente desamarro
Relego antiguidades aos porões.

Mas tanto que inda teimo e nada vem
Sequer algum proveito; não mudei.
Mirando no horizonte, estou aquém
Daquilo que em verdade, procurei.

E sei que, mesmo sendo um antiquário
Ainda busco as chaves deste armário...


436

Elétricas faíscas que irradias
Tomando toda a cena, num segundo,
Na intensa claridade ora me inundo
E vivo as mais sublimes fantasias.

Matizes de neons, belas orgias,
Prismáticas loucuras vagam mundo
E o coração poeta e vagabundo
Decifra em plena noite, fartos dias.

Orgásticos caminhos deslindados,
Desígnios de vitórias lançam dados
Encharcam de beleza a terra e o mar.

Galácticos reféns, bêbados olhos,
As florescências tantas, vêm em molhos
Esplêndidas estrelas. Teu olhar...


437



Elementos que formam a paixão,
O fogo se mistura então com a água,
A lava delicada de um vulcão
Nos lábios de quem ama já deságua
Torrente se transporta em mansidão,
Herança do prazer vertido em mágoa.

A tua voz me chama meigamente
E disso faço o rito mais sublime,
Rondando um cata-vento em minha mente,
A louca sensação de gozo e crime.
Enquanto a maravilha se pressente
A tempestade insana nos redime.

Viver cada momento deste amor,
Mosaico de emoções a se compor..


438

Elejo-te a rainha, mas não queres,
Se nada inda puder fazer por ti,
Seria muito além destes talheres
Banquete que decerto não comi.

Não posso ser talvez teu escolhido,
Embora me julgasse meritório,
A porta que bateste, não duvido,
Impede meu acesso ao escritório.

Deixado na ante-sala, nada espero,
Contratos esquecidos na gaveta
Olhando pela fresta ainda quero,
O que escondeste após, mesma falseta.

Gananciosamente eu te pergunto,
Porque vives fugindo deste assunto...
Marcos Loures


439

Ela, a mulher que sempre desejei...
Entrego meu amor completamente.
Estrela que, nos céus, eu procurei.
Vivendo seus caminhos, minha mente...

Agrado que à natura, fez Bom Deus,
As formas mais perfeitas, formosura...
Quem dera se esses olhos fossem meus.
Teria em minha vida, uma ternura...

Ela, que ao caminhar recende rosas...
Que traz, nas suas mãos, os meus segredos.
Destila em sua boca as olorosas
Manhãs que se prometem sem ter medos...

A luz que dentro da alma se revela,
Mostrando os meus destinos, todos: Ela!


5440


Ela sempre retoca o seu batom
Não deixa nem sequer saber seu nome...
Viaja o pensamento, eleva o tom
O quadro que apresenta me consome,

São tantas as batalhas neste front
Meus olhos a procuram, e ela some
Eu sigo rastreando cada som.
Espero que me dê seu telefone

O bem que me quisesse nunca viu,
Perdi o meu caminho em bem-me-quer
Também a flor, decerto já mentiu

Pois sei que ela também se faz mulher
De coração volúvel, mesmo vil.
E sigo perguntando: ela me quer?

441

Ela esperando a noite que não vem
Do amor mais comportado em que preveja
Tranqüilidade imensa neste bem
Que louco, tresloucado tanto beija

E rouba os seus sentidos. Ser alguém
Além do que queria relampeja.
Na sorte despencada e dorme sem
Trocada por amigos e cerveja.

Deseja que outro dia seja santo,
E o sonho não se mostre pesadelo.
Refeito o rarefeito e manso encanto.

Da saia da menina curta e justa,
No gosto prazeroso de sabê-lo.
Realidade entanto, sempre assusta...


442

Ela chegava, amada e tão silente,
Deixara minha porta escancarada,
Passo a passo, senti que simplesmente
Quase em nada lembrava minha amada...

Os olhos faiscantes do passado,
Agora estavam foscos, parco brilho.
Quiçá o que mudou, atordoado,
Foi o sentido claro do meu trilho.

Talvez aquele ardor que já sentira
Dormita nalgum canto tenebroso.
Embora o fogo queime em mesma pira
Contava nesse corpo o mesmo gozo...

Mas creia, meu amor inda é mais forte,
É meu último trunfo contra a morte!


443

Eis o neto do soneto
Que vivia muito bem,
Escondido em poemeto
Mas agora quer e vem,

Nos meus versos eu cometo
Heresia com meu bem,
Nos vazio me arremeto,
Nem o nada me contém.

Um sujeito sem ter eira
Quer a beira desta cama,
A paixão quer ou não queira

Terminando sempre em drama,
Hasteando esta bandeira
Poesia já me chama...
Marcos Loures


444

E transformando nossa realidade
Em todos os espaços, santo, invade
Não deixa nem sequer algum resquício
Da velha solidão, meu precipício.

O amor que além de sonho é meu ofício,
Nos versos que se tornam quase um vício,
Sem ter melancolia que me enfade,
Tampouco o mel amargo da saudade

Conheço as efemérides, procelas,
E tinjo esmeraldinas minhas telas,
Azulejando o pátio da esperança...

E mesmo que isto seja uma ilusão,
O passo eu não refugo e da paixão
Arqueiro coração faz sua lança...



445


E toma a nossa vida num repente
A festa em amor feita, em que se esbalda
O sonho mais gentil já se desfralda
No qual farta alegria a gente sente.

Amor que em gêiser arde enquanto escalda
Num verso que nos toma plenamente,
Um doce que se faz em farta calda
Encharca nosso sonho em fogo ardente.

Irei contigo amada aonde fores,
Colhendo no caminho raras flores
Extremas emoções são prometidas

A quem em verso e riso faz seu mundo
Vislumbro a maravilha em um segundo
Mudando todo o rumo em nossas vidas...
Marcos Loures



446

E toda esta alegria que se sente
Reflete uma amargura original.
Sorriso de uma dama virginal
Esparso, mas ainda tão presente.

Devoro tua boca, qual demente
Que bebe dos teus mares todo o sal,
Escada que partida, sem degrau
Leva ao despenhadeiro. Tolamente.

Se ao menos eu tivesse um ás, um trunfo,
Sonhando com vitórias num triunfo
Que ao menos me trouxesse alguma glória.

Ceifando o que plantamos,tempestade
Domínio da ilusão, a dor invade
Mudando todo o rumo desta história...


447



É teu aniversário, disso eu sei,
E tenho muito orgulho de poder
Dizer da imensidão deste prazer
Que sempre nos teus braços desfrutei.

Amiga, eu devo muito e posso crer
Que tantas vezes quando procurei
Eu encontrei em ti o que busquei.
Só posso, nesse dia, agradecer.

Espero que inda possa estar contigo
Usufruindo sempre deste abrigo
Contando com palavras carinhosas.

Tu és uma pessoa soberana,
Além de uma figura tão humana,
Derramas quando passas, flores, rosas...
Marcos Loures


448

É teu aniversário minha amiga
E eu tento decifrar o sentimento
Que toma a nossa vida no momento
Em que esta maravilha nos abriga,

No teu abraço a sorte já prossiga
Falando da alegria e deste alento
Que trazes e que aqui, querida eu tento
Traduzir, muito embora eu não consiga.

Festeja o coração de quem conhece
A saga deste encanto feito prece,
Este soneto é pouco pra dizer

O quanto em emoção, sublime data,
Perfeita sensação, medida exata
Numa grata expressão, tanto prazer...
Marcos Loures



449

É terna a sensação de eternidade
Que trazes com teus versos e carinhos.
Estrela que o amor, manso, arrecade
Imprime farta luz nos nossos ninhos

Assim quando emoção; mais forte, brade,
Não ligue, meu amor, para os vizinhos,
Mal sabem desta fúria quando invade,
Sabendo penetrar vários caminhos.

Desejo se mistura com ternura,
Causando comoção num louco incêndio.
O fogo que devora enquanto cura

Num pêndulo de dores e prazeres,
Amor igual ao nosso? Nos compêndios
Jamais eu conheci: sopras e feres...
Marcos Loures



5450


Eclodem-se desejos e vontades
Libidinoso sonho em raro altar,
Na sebe delirante desvendar
Caminhos que eu descubro quando invades

Fronteiras? Não trarão felicidades,
No jogo do prazer, perder, ganhar,
Antônimos que fazem belo par,
Do mesmo naipe irmanam qualidades.

Espalhas teu rocio no meu rosto,
Num vício sem pudores sorvo o gosto
Da lava que se escorre nos lençóis.

E volto ao percorrer sagrados campos,
Envoltos por brilhantes pirilampos,
Espalham-se no quarto cem mil sóis...



5451


E um gozo tão divino se esparrama
Tocando tua boca mais sedenta
Paixão que se demonstra violenta
Acesa com fulgor em nossa cama.

Tua nudez faminta já reclama
Abertas tuas pernas, língua esquenta
E passa a te chupar sedosa e lenta
Até reacender a fúria, a chama...

E sinto tua boca devorando
Lambendo com vontade o duro mastro
Que invade perseguindo cada rastro

Deixado com volúpia e com tesão.
E novamente, sinto-te gozando
Molhando com teu lago, ebulição..



452

E viva a sacanagem, pois é nela
Que encontramos o tudo que buscamos,
Embora sendo escravos, somos amos,
Toda nossa loucura se revela.

Quando no teu corpo o meu se atrela,
Os céus mais variados; navegamos,
Em novas aventuras mergulhamos
Felicidade assim, então se sela.

Falar nos teus ouvidos, de mansinho,
Xingando-te em formato de carinho,
Saber que sendo teu, eu me completo.

Fazer do teu prazer o meu remanso,
E quando este infinito, enfim alcanço,
Deleito-me no prato predileto...


453

É tudo o que pretendo e que cobiço
A boca sensual desta morena
Fazer, se necessário, uma novena,
Teu corpo e teu desejo; quero e atiço.

Mergulho nas vontades e inteiriço
Fartura que esta noite clara acena,
Mereço algum favor em sorte plena?
Com sonhos e delírios, compromisso.

Sinais que talvez tenha algum sucesso
Desordenando tudo, te confesso
O quanto necessito de teus lábios.

Preparo o coração para a viagem,
Acumulando em sonhos a milhagem
Que possa permitir caminhos sábios...
Marcos Loures



454

É triste perceber quanto incomoda
A roda que se faz em alegria.
Na mão sinto a tesoura de quem poda
O sol que não sabia e não queria.

Desculpe se um perfume bom açoda
E traz para as narinas, a magia.
Poeta que se fez fora de moda
Eu canto amor, amigo todo dia.

Nos leves bruxuleios, lamparina,
Vestidos de cetim, rios e riso,
Na saia tão bonita da menina

Vislumbro a perfeição do paraíso.
Um velho coração que descortina
Amor que me tirou, decerto, o siso...
Marcos Loures



455



É transformar o uno; universal,
É não olhar por cima e nem debaixo
Saber que o bem maior, da terra o sal,
E perceber da luz, inteiro; o facho.

É ver no sofredor um seu irmão,
Não suportar calado, uma injustiça.
A todos perdoar, vivo perdão,
Distante da ganância e da cobiça.

É dar tudo de si, sem querer nada,
Estar sempre por perto e consolar.
Não permitir a vida abandonada,
Ainda mesmo assim, para se amar

Ainda falta muito o que fazer.
Precisa; dos desejos, esquecer...


456

É tanta guloseima nesta cama
Amor se bobear: indigestão
O leite condensado ela derrama,
É vinho com cereja em profusão,

Sorrisinho safado; logo chama
Morango misturado com melão,
A camisola bela de uma dama
Na transparência vira tentação.

Até chegar ao prato principal
O quarto revirado, um festival,
Devoro tudo, tudo sem parar...

Porém, empaturrando o meu desejo,
Final da bela história eu já prevejo
Desculpe, mas preciso vomitar...


457

E também a loucura e o sofrimento
Fazem parte do jogo dos sentidos,
Ao acolher os párias desvalidos
Entendo finalmente o bem do alento.

Enquanto em outros braços me apascento,
Destinos tão diversos percorridos,
Os dias já serão por Deus ungidos
Cegando este passado tão sangrento.

Montado nos cavalos da ilusão,
Corcéis que vencem léguas infinitas,
Ourives que se encanta com pepitas

Fazendo com amor lapidação,
Entrega a jóia rara e diamantina
No olhar que reluzindo nos fascina...


458

E surge, renascendo em cada verso
A vontade inerente de poder
Vivenciar um mundo tão diverso
Daquele que pensara conhecer.

Vagando em liberdade no universo
Mergulho num instante no meu ser,
E vejo num retrato mais perverso
Reflexos do que eu quis sempre esconder.

Estampo o meu sorriso, este falsário
E quando for preciso e necessário
Disfarço esta vontade de esganar

Além do que julgara, agora eu sei,
Mirando neste espelho um Dorian Gray
Disforme, não resisto ao meu olhar...
Marcos Loures


459

E sonho com delícias deste mar
Depois de estar sozinho em fria areia,
O vento vem chegando devagar,
Tramando ao fim do dia, a lua cheia.

Sabendo quanto quero o teu querer,
Sereia encantadora me domina.
Vivendo a fantasia em teu prazer,
Encontro com certeza a rara mina.

Na fonte delicada dos teus lábios,
Sacio minha sede, estou feliz.
Meu barco percebendo os astrolábios
Adentra o cais do amor, sabe o matiz.

Depois da tarde cris, vou finalmente,
Deitando esta vontade, claramente...
Marcos Loures


5460


E solto meu desejo em sentimento
Senzalas do passado? Nunca mais!
Herdeiro dos cruéis e vastos sais
A morte não me serve então de alento.

Sem paradeiro busco do tormento
Singrar os violentos temporais,
Fazendo do vazio, porto e cais.
Enquanto um outro mundo ainda invento.

Não sou este excremento que tu pintas,
Tampouco o que pensaste antigamente.
As forças das palavras tão distintas

Tomando em corredeira minha mente,
As luzes do que fomos vão extintas,
Embora o sonho tolo siga, ardente...
Marcos Loures


461

É tempo de viver e de sonhar
Um sonho mais audaz e mais moleque
A vida quando é feita pra se amar
Querida ela nos abre imenso leque.

Não digo que é preciso navegar
Antes que o mar um dia já se seque
Transformado em sertão, e neste altar,
Permita sem demora que se peque.

Galopa mais depressa o pensamento
E toma teus castelos com magia.
Amor, mesmo que faça turbulento

Um rio que vai calmo para a foz
Mercê de uma vontade ou fantasia
Alimenta, querida, a todos nós...
Marcos Loures



462

É teima e nada mais, por isso escuse,
Arestas aparadas, me liberto.
Não tendo os meus cadáveres por perto
Impeço que, do açoite, amor abuse.

Ao aguçar sentidos não mais cruze
Caminho que inda possa ser deserto,
Enquanto em outro braços eu me alerto,
Concebo algum sinal que ora me acuse.

Luzindo sobre nós a lua mansa,
Arejado solar das fantasias,
Marulho se percebe da esperança

Lampreias e moluscos estrelares,
Não nego meus temores e fobias,
Somente apago, à noite, os meus luares...
Marcos Loures



463

É tarde quando o sono me domina,
Envolto em tantos medos e lamúrias.
A sorte que não veio me extermina
O vento se transforma, vem em fúrias...

Quase não reconheço meu sorriso,
De aberto e de tão franco morre triste...
Meu passo vai mais trôpego, impreciso,
Nem Minas que eu amava, não existe...

Restando a solução: morrer de tédio,
Morrer na solidão que eu cultivei.
Quem sabe o quanto é um remédio
Sou eu que tantos males enfrentei...

Mas vejo uma esperança derradeira,
No teu sorriso amigo, companheira...
464

É tanto pé quebrado nesta mesa
Que a gente mal percebe vai ao chão.
Poeta que se mostra em gentileza
Às vezes não consegue a solução

E o verso mesmo embora com beleza
Expressa sem ter métrica a lição
Que um dia disse o velho Gentileza
Fazendo das pilastras seu telão.

Cada macaco fique no seu galho,
Eu me atrapalho, às vezes nunca nego.
Porém na refeição plena e completa,

Amiga, por favor, penduricalho
Que trago no pescoço e que carrego
Jamais tentei dizer que sou poeta...
Marcos Loures


465

É sempre bom poder cantar em versos
O quanto uma amizade nos faz bem,
Por mais que os dias sejam maus, perversos,
O abraço de um amigo nos convém.

Trazendo ao dia-a-dia os universos
Distantes que a verdade em si contém,
Unindo estes pedaços tão dispersos,
Permite-nos saber que existe alguém

Com quem nós poderemos caminhar
Por mais que seja escura e sem luar
A noite tenebrosa que virá.

Amiga, estou contigo, e com orgulho,
Vencer qualquer espinho ou pedregulho
É tudo o que proponho, desde já...


466

E se fosse quem pensas que não é
A mulher que trará felicidade.
Não sabes que na vida tanta fé
Às vezes se traduz em liberdade.

Pois veja na beleza dessa vida
O lume que traçou uma esperança.
Por vezes, nossa trilha vã, perdida,
Renasce num momento de lembrança...

E se fosse a mulher que imaginara
Aquela que ao teu lado sempre esteve.
De tudo que na vida mais sonhara,
Apenas esperança em ti, conteve...

Amigo, tua vida se revela
Nos braços da mulher que sempre


467


E se esbalda num sonho tão feliz
Aquela que se fez maracutaia,
Enquanto o coração tomando vaia
Morreu sem ter no fim o que mais quis.

Um velho se disfarça em aprendiz,
Tomara que ao final, seu mundo caia,
E agente da ilusão não sobressaia
Apenas refletindo o que desdiz.

Liberto-me das tralhas que trouxeste,
Assumo os meus pecados, sigo em frente.
Arranco a garatuja que reveste

A cara que se fez madeira dura.
Do quanto fora gozo, em dor de dente
Termina simplesmente em desventura...



468

É rumo que me perde e que redime
O fato de saber que não virás
Tirando totalmente a minha paz
Enquanto me alivia me deprime.

Andaimes da esperança tramam crime
Aonde a fantasia nada traz
Senão o que vivendo a dor voraz,
Ainda com meus sonhos não me oprime.

Beirando ao suicídio vou capenga,
A vida não permite nova arenga
E acaso se vieres venha logo.

Que teimo ser arrimo da ilusão
O amor que tanto enfarta o coração
Um lago em placidez onde me afogo...


469

É resto deste copo, nenhum trago
Apenas o vazio como herança,
Um espectro tão fúnebre: esperança
Ainda em ironia traz afago.

Do quanto nada tive, o resto eu trago
Tão somente, tristezas por fiança
Enquanto o vento frio nos alcança,
Procuro em vão um sonho audaz e mago

Que possa permitir um novo tempo
Distante do passado em contratempo,
Porém sem ter futuro, perco o sesmo,

E vago noutra grei, ledo destino,
No quanto em desespero, desatino,
Qual triste borboleta; vou a esmo...
Marcos Loures


5470

E quero que tu voltes. Já me atrevo
A ter tua presença, mesmo em sonho.
Um sentimento nobre, se longevo,
Permite esta ilusão que ora componho.

Dos velhos corvos ouço o crocitar,
Rapineiros abutres que nos rondam,
Penetram nos alpendres. Devagar,
Antes que as aves frágeis lá se escondam.

Preparam numa espreita o salto, o bote
As garras afiadas desafiam
Os pássaros que, céticos, confiam

Expondo-se em fatal ingenuidade
Até que a morte chegue e o tempo esgote,
Iludem-se com tola liberdade...
Marcos Loures



471

É querida, o amor é mesmo assim
A noite morrerá em outro dia...
E quem pensar que achou amor sem fim,
Tão tolo... Morrerá na fantasia

De que encontrou a boa sorte, enfim...
Quem quiser ser escravo da alegria
Vai ter o meu destino. A dor em mim
Ecoa refletindo uma agonia...

De tanto que sonhei, nada restou...
Somente uma saudade. O que fazer;
Se eu já nem sei sequer para onde vou?

Eu peço paciência, por favor...
O que eu disse? É melhor já esquecer...
Mesmo com saudade, viva um grande amor!


472


É que de amor, enfim meu mundo inundo
Por isso é que não cabe quase nada
Senão o teu sorriso, amante amada,
Lotando o coração tão vagabundo.

Se a vida já não vale um só segundo
O resto se perdendo noutra estrada,
Permita que eu te mostre esta alvorada
Que toma em maravilha todo o mundo.

Seria muito bom se tu viesses,
Ouvindo com certeza as minhas preces,
Carinhos espalhando pelo chão.

Assim com tal candura me extasio,
Tomado de emoção, num arrepio
Entregue aos desvarios da paixão...



473

É prenda que se faz, voraz e amena,
Morena que demente me enlouquece
O quanto me seduz tanto envenena
Vontade feita em gueixa se oferece,

Bandida que em vazante é minha foz,
Estrela que seduz, sou girassol,
Do todo que se mostra em nada após
Estremecendo assim todo arrebol.

À toa sem ter culpa no cartório
Catando os seus retalhos pelas ruas,
Embora o meu futuro seja inglório
Eu quero os cernes, todos, carnes nuas

Perpétua redenção em noite clara,
O tempo de sonhar marca e declara.
Marcos Loures


474


É pouco, pode ser, mas já me basta
Saber que ainda tens tal sentimento.
As cordas que me prendem, arrebento,
Por mais que a poesia esteja gasta.

Sem credo, sem perdão, resta a vergasta,
E o verbo renascido do tormento,
Pertuito salvador, deveras tento,
Jamais respeitarei nenhuma casta.

Se é caso de tentar, recomeçamos,
Podamos no passado, velhos ramos,
E árvore foi ficando bem mais forte.

Na solidez do solo, a garantia
A fome superando a bulimia
E o sonho sobrevive à própria morte...


475


E sinto o belo sol que vem surgindo,
Trazendo amanhecer tão esperado.
No quanto nos teus braços eu deslindo
O sonho tanta vez anunciado.

Na face oculta lumes mais diversos
Promessa que pensei nunca viesse
Na trama que me entrego alma entre versos
Amor eu sei além de simples prece.

Projetos de alegria que esquecemos
Jogados nalgum canto desta casa
Em teimas com certeza nos perdemos.
Porém a vida segue e não se atrasa

Espaços entre espaços, fogo brando,
Meus dedos andarilhos procurando
Marcos Loures



476



E sinto a chuva mansa e promissora
Tocando minha pele quando cantas,
Vivendo a maravilha desde agora
Promessas e carícias, sempre tantas.

Esquife das tristezas, nosso amor
Um tráfico sublime de emoções.
Porquanto tantas vezes sedutor
Explode sem quaisquer explicações

Percebo nestas lúdicas mensagens
Os mágicos caminhos percorridos,
Depois das mais estúpidas bobagens
Agora tenho os sonhos concebidos

Trazendo realidades tão brilhantes
Nas sendas mais longínquas e distantes.


Marcos Loures


477

É sempre bom poder contar contigo,
Amiga e companheira predileta.
A mão que me protege do perigo,
Futuro que pensei em linha reta.

Palavra mais bonita que persigo,
Um coração que sonha ser poeta,
Teu colo representa sempre abrigo,
A sensação divina e mais concreta

De termos alegria e tanta paz,
Capaz de nos tornar bem mais felizes.
Ao perdoar meus erros e deslizes

Uma certeza enorme já me traz.
Ao impedir que a dor, enfim prossiga,
Fernanda, eu te agradeço. Minha amiga...


478

E perco em teimosia, a direção;
Devastações e guerras são constantes,
Olhando para os sonhos fascinantes,
Endosso os meus pecados sem perdão.

A voz em sortilégio diz do não
Feridas entre noites fulgurantes.
As trevas se espalhando por instantes,
A lua se perdendo na amplidão.

E embora frágil, tosco, um idiota,
A sorte que se mostra tão remota
Rondando a minha mesa, aguarda o sim.

Tal qual um retirante num retorno,
Sonhando superar qualquer transtorno,
Espera florescer o seu jardim.
Marcos Loures


479

E o verde talvez volte- solução,
Nos olhos da morena que deixei,
O quanto desejar já desejei
Só tendo por resposta a negação.

Nas aves da alegria, arribação,
O parto em fantasias procurei
Apenas solução não encontrei
E o tempo vai tomado em viração.

À cântaros chovendo dentro da alma,
A noite vai passando, a lua acalma.
Quem dera se chovesse sobre a terra?

Talvez o mar não fosse mais meu porto.
Do parto que eu queria, sem aborto,
Uma esperança sobe agora a serra.


5480

E o toque dos teus lábios; mais preciso,
Permite que eu me sinta satisfeito
De tudo nesta vida que eu preciso
Amor em paraíso dá seu jeito.

Afeito a tal vontade eu nada falo
Apenas vou sentindo a suavidade
Do beijo dado em forma de regalo
Marcando com carinho esta verdade,

Pela cidade afora, feito um louco,
Não olho para trás, atiço o vento,
E bebo da alegria pouco a pouco
Enfoco sem sufoco o pensamento

E vejo retratada a tua imagem,
Amor que para a vida, dá coragem...


481

E o tempo vai passando soberano...
Por mais que a vida trague a tempestade,
Vivendo tão somente o quanto explano
Estendo no caminho a liberdade.
Não quero mais saber de desengano
Colhendo a flor divina da amizade.

Menina que se fez amante amiga,
Trazendo esta florada ao meu canteiro.
No quanto a vida às vezes desabriga
Eu quero ser amigo e companheiro.
Ao ter em meu caminho a forte viga
Percorro sem temor, o mundo inteiro

Na força da amizade, amor sincero,
Eu tenho o que desejo e que mais quero...
Marcos Loures



482

E o sol abrasador, enfim, aporta
O coração moleque de um poeta
Que tanto já se expôs à fina seta
Jogada por Cupido atrás da porta.

Eu sei quanto a saudade sempre corta
Aquele que sonhando com tal meta,
Na dura fantasia se completa,
Deixando esta amargura quase morta.

No passo quase trôpego de quem
Vivendo por sonhar procura alguém
Que sabe na verdade nunca vem,

Tentando a perfeição não mais contém
As marcas desta noite de meu bem.
Eu abro esta janela. Sem ninguém...


483

E o jogo recomeça em transparências,
A porta se fechando pra tormenta,
Nesta penumbra brilham florescências
Minha alma de teu corpo se alimenta.

Tomados por insânias e torpor
Revoltoso mar adentra o quarto,
Expondo depois disso no langor
Quebrantado, feliz, exausto e farto.

Problemas que enfrentei não vêm ao caso,
Apenas desfrutar deste direito
Antes que venha e chegue o duro ocaso,
Eu posso assim dizer que satisfeito

Vivi tudo o que eu tinha que viver,
Sabendo desfrutar cada prazer...
Marcos Loures



484

E nunca se perdeu, jamais disperso
Aquele a quem amor se deu inteiro.
Exprimo com ternura em cada verso
O sentimento livre e verdadeiro.

Rondando as minhas noites, sonho manso,
Fragrante maravilha que me entranha.
Nirvana desejado; agora alcanço
Lançando o meu olhar sobre a montanha

Encontro, no luar teu brilho intenso,
Espelho de minha alma, constelar
No quanto eu te desejo e sempre penso
Traduz completamente o bem de amar.

Além do entorpecente que vicia,
Amor é soberana fantasia.



485


E nunca mais farás qualquer download
Das minhas fantasias, dos meus versos.
Matando o nosso amor que jamais pode
Vencer os sentimentos mais diversos

De quem tanto deseja e não promete
Ao navegar abrindo outra janela,
Num movimento audaz joga confete
Ao mesmo tempo em que nada revela.

Somemos nossos sonhos e ganhemos
Os infinitos bens que a vida traz.
Eu quero tão somente céus amenos,
Depois de tanta luta, simples paz.

Sou teu e nada disso mais importa,
Apenas peço amor, que abras a porta...
Marcos Loures



486

É noite em plenilúnio dentro da alma,
Em festas meus desejos qual crisálidas
Percebem teu carinho que me acalma
Deitando em tua cama flores cálidas.

Eu tento percorrer o teu sacrário
Sabendo que encontrei a solução
Que mata meu destino temerário
E invade de prazeres a paixão.

Vogando meus carinhos nos teus mares
Na doce sensação destes sargaços,
Entregue aos teus delírios, meus luares,
Encharcam-se na alvura dos espaços

E quero teu amor vivo e noctâmbulo
Que sempre me procura, amor sonâmbulo...


487

E ninguém calará tão grande amor,
O teu semblante estampa esta certeza.
Em cada novo dia te propor
Um passo que se dê com tal firmeza.

Deitando nos teus braços com langor
Depois do principal, a sobremesa,
Deixando-me levar na correnteza
Margeio com magia, sem temor.

Amor que nos tomando; insensatez,
Na luz de uma emoção ele se fez
Tornando nossa vida bem mais clara.

Meu verso enamorado já te diz
Do quanto do teu lado sou feliz,
E em cada novo canto se declara...
Marcos Loures


488

No silêncio que toma as cercanias
Palavras nem precisam mais ser ditas,
Se eu sei reconhecer raras pepitas,
Lapido as mais sublimes pedrarias,

O encontro inevitável; não adias,
Vivendo finalmente o que acreditas
As horas serão calmas e benditas,
Imersas nas mais nobres fantasias.

E por incrível que pareça ecoa
A voz do coração tomando a proa
Do barco que se entrega ao mar revolto.

Por mais que ao soçobrar pense em naufrágio
Escapa das procelas, seguindo ágil,
Sem conhecer correntes, livre e solto...



489



É necessário, saiba muito amor,
Para vencer o medo e todo o tédio,
A vida nos concede este remédio
Que aplaca o sofrimento, e traz calor.

Apascentando a fúria acalma a dor,
Permita então que amor te faça assédio
E adentre o coração e jamais vede-o
Calando a doce voz, matando a flor.

Amar sem ter medidas, simplesmente,
A quem te gosta ou não, traz lenitivo
Secando as mágoas tantas; água o chão

E muda a nossa vida totalmente,
Deixando o coração bem mais altivo.
O segredo do amor? Pleno perdão...


5490


É por que sou teu amigo
Que eu te falo companheiro
Que o amor em desabrigo
Não se faz mais lisonjeiro.

Tendo tudo o que persigo,
Sem enganos, vou inteiro.
Já não temo algum perigo
És dos sonhos, mensageiro.

Dia-a-dia, corriqueiro,
Quando tento e não consigo,
Vou seguindo rastro e cheiro

O farol trago comigo,
Na amizade um bom luzeiro,
Separando joio e trigo!
Marcos Loures



491

É pleno contra-senso, um barco sem destino
Andar nesta procura inútil pelos sonhos.
Eu guardo ainda viva a face de um menino
Que um dia se perdeu em mundos vãos, medonhos...

Agreste coração que busca em desatino
Momento de alegria em meio aos mais bisonhos
Caminhos que inda guardo em vasos cristalinos,
Do diamante falso, os brilhos são risonhos...

Na ausência deste encanto a vida não tem graça,
E mesmo que isso seja apenas ilusão,
É dela que inda tento alguma solução.

Esvaindo-se nas mãos o tempo se esfumaça
E nada restará, senão o meu reflexo
Inexato e disforme, um mosaico sem nexo...


492


É muito bom poder falar dos sonhos
Em plena tempestade; aplaca a dor,
Da vida; quem me dera, condutor,
Talvez os dias fossem mais risonhos.

Enfrento com sorriso os mais tristonhos
Momentos; imagino o bem do amor,
Realidade surge furta-cor
Tornando tais cenários tão bisonhos...

Propondo ao coração alguma trégua,
Errando de medida, perco a régua
E volto ao mesmo tom acinzentado.

O dia não virá trazendo o sol,
Enquanto houver a sombra no arrebol,
Não frutificará jamais meu prado...


493


E mude, num momento, o velho Fado
É tudo o que desejo de um amor.
Do peito tão inglório e sonhador
O sonho possa ser abençoado.

Quebra-cabeças; monto do passado
E sinto que é possível recompor,
Se não houvesse nada a contrapor
O dia nasceria ensolarado.

O peito que se ilude assim se estronda
Porém ao perceber reveses da onda
Na areia, em plena praia se esvaindo.

Encontra o mesmo não, como a resposta
Com alma solitária e fria exposta,
O mundo desabando, vou sentindo.
Marcos Loures



494

É mote principal das poesias
O amor, insaciável mandatário
Enquanto muitas vezes fantasias
Realidade muda itinerário.

Mas saiba que estarei sempre contigo
Havendo a tempestade que vier
O vento da esperança abre o postigo
E amor faz a festança que quiser.

Mulher que, redimindo, traz a cura
Livrando a minha vida deste tédio.
Nos olhos com doçura e com brandura,
Expressa com certeza toda a cura.

Antes de perceber este caminho,
Querida, tantas vezes fui sozinho.
Marcos Loures


495

E mostra a claridade em mesmo tom
Aquela se fez amante e amiga,
O verso se espalhando tem o dom
De produzir o sonho que me abriga

Urtigas que colhi em teu jardim
Retratam todo o bem que tu me destes,
Mantendo a fantasia até o fim
Recolho em meu caminho tombos, pestes.

Carcaças carcomidas deste amor
Montanhas de vazias esperanças.
Do nada simplesmente vou compor
Os cantos que tu trazes; tuas danças.

Depois de certo tempo eu percebi
O quanto de amigável resta aqui


496


É necessário ter sempre o apoio
De quem durante a noite nos traz luz.
Por menor que pareça um ledo arroio,
Matando a nossa sede, aplaca a cruz.

O tempo separando trigo e joio
Permite que se veja quem conduz
Ao enfrentar deserto este comboio
Demonstra onde esperança eu sei e pus.

Ao ter tua presença, companheira,
A vida se tornou alvissareira
Colheita prometida, se fez farta.

Do braço que estendeste em alegria,
Eu vejo simplesmente quem me guia
De quem o meu olhar jamais se aparta...
Marcos Loures


497

É necessário o gozo, com certeza;
Prazeres são vitais, mas há quem negue;
Depois não reclamar, se o carregue
O diabo/solidão. Desfeita a mesa,

Ainda esperará por sobremesa?
Depois uma vida oca, à sorte entregue,
Reclama se uma luz, tão frágil cegue,
Tentando desviar a correnteza.

O vento toca a face, um arrepio,
Palavras sussurradas, ereções;
Se a natureza traz desejos, cios,

Não venha me dizer que isto é pecado
Ou outras- me desculpe – aberrações.
Gozar e ser feliz: somente um Fado...



498

É na amizade a força destas crenças
Que possam permitir um novo tempo,
Distante das antigas desavenças
Não vejo mais sequer um contratempo

Que possa nos calar se a voz é forte
Além deste estribilho num coral,
Selando em paz intensa nossa sorte,
Matando em nascedouro todo o mal.

Ascendo em esperança ao que se expõe
Em luzes tão sublimes e magnéticas.
O verso que em justiça se compõe
Tentando usar figuras tão poéticas

Com força e com vontade agora flui
No poder da amizade se conclui...


499

É musa dentre musas, na alegria,
Na dor, no sofrimento e na esperança.
Encharca-se de amor e fantasia,
Ao mesmo tempo mostra a contradança

Maltrata e nos alenta todo dia,
Convida novamente a ser criança,
Num canto deste ator, é melodia,
E traz ao sonhador, elo, aliança...

É quase um sofrimento que se ri,
Transborda mansamente em explosão,
Distante, tudo muda e está aqui...

E mente quando mais é verdadeira,
Do nada faz surgir tanta emoção,
A minha companheira derradeira!


5500


É muito mais que penso, nem espero
Saber deste final, caindo fora,
Quem vive com cuidado não demora
E deixa para trás caminho fero.

Desvencilhar, decerto ainda quero,
Porém quando ameaço, a moça chora.
A jaca que sonhou ser uma amora,
Num gesto gutural procura esmero

Qual rato vou fugindo deste gato
Que mostra em suas garras a potência
Tornando insuportável convivência.

Dizer que estou cuspindo neste prato
Que um dia me serviu pra refeição?
Carregue este estrupício, amigo, então...
Marcos Loures


501

É madrugada fria, estou sozinho,
Sonhando com amor que já partiu.
Revoltos travesseiros neste ninho
Demonstram quanto amor me repartiu.

Amigo me perdoe, companheiro
Se telefono a ti, em altas horas,
Escuta este meu verso derradeiro
Perdi minha esperança, essas escoras

Que tanto me ajudaram a viver,
Agora nada resta senão pranto,
Um corpo que se move sem saber
Sequer se inda tem forças, desencanto.

As estrelas do céu já se apagaram,
Apenas os teus braços me apoiaram...


502

É lúdico brincar com a vontade
Da pobre criatura que agoniza
Fingindo ser suave e mansa brisa
O que sei ser temível tempestade?

Mostrar em face escusa, a liberdade,
Fatídica mortalha que, precisa,
Estampa a realidade em que se avisa
Ao fim da noite o gosto da verdade.

As chagas se aprofundam, corte extenso.
A cicatriz jamais conhecerei.
O ar que se espalhando sempre denso

Nas névoas agrisalham nosso céu
Enquanto a falsidade for a lei,
Justiça nunca passa do papel...


503

É líquido o que falta neste embate
Batalhas entre atalhos e retalhos
Se a vida não permite este combate
Rebotes são momentos e atos falhos.

Pirulito batendo tanto bate
Afasto os teus desejos, dentes d’alhos
Depois a gente inventa um novo engate
Bulindo com prazer, penduricalhos.

Abates com delírios minhas asas
Roçando com furor, divinas brasas
Entraves esquecidos, nova algema.

Os anos que se passam, horas tolas,
Enquanto penetrada mais rebolas
Dos espermatozóides: piracema...
Marcos Loures


504

É lastro que me traz elevação,
O velho sentimento em base forte.
O que seria enfim, sem tal suporte
Apenas o vazio. Negação...

Ao permitir total transformação,
Que a solidão agora, amor aborte
Tramando em mansidão um calmo Norte
Supremo benefício do perdão...

A sólida presença faz com que
Tudo seja mais fácil e a cada dia
Enquanto humanidade rodopia

Minha alma no futuro ainda crê;
Sabendo com firmeza deste arranjo
Quem traz em pleno solo o amor de um anjo...


505

E impede a caminhada pelas ruas
Mais floridas. Os olhos lacrimejam
Distantes desses sonhos que desejam,
Flores despetaladas, quase nuas.

As mãos cevam daninhas e espinhentas
Abrolhos onde eu quis ter meu provento.
Inútil prosseguir, porém eu tento,
Imerso em aridez. Não me apascentas.

E segues cada rastro feito em lava,
A tez que em falsa luz, infâmia grava,
Demonstra, tatuados, pesadelos.

Dos tantos pedregulhos recolhidos,
As farpas invadindo os meus sentidos,
Fantasmas vão rondando; posso vê-los...


506

É hoje que começa a propaganda
Aonde os tais palhaços pedem votos.
Quizumba sem igual, tudo desanda
Enquanto os pensamentos vão remotos.

Ouvindo mais distante a velha banda
Remonto ao meu passado, vejo as fotos
Quem marcha com firmeza já não anda
Jogando uma esperança nos esgotos.

Sorriso sempre falso diz promessas,
Depois vem o poder e tudo muda.
Agora num otário a peste gruda

Depois? Foram somente engodo e peças
No conto do vigário, eu não mais caio,
Ouvindo na tevê tal papagaio...


507


É minha amada, sei o quanto sofres
As tristezas que causam te maltratam,
A vida nos encerra em tantos cofres
Parecendo que nunca mais desatam...

Mas saiba que estarei sempre ao teu lado
Em todos os momentos dolorosos
A mão que nos afaga, manso prado
Perfuma-se nos cardos olorosos,

Ferindo com espinhos, nossos sonhos
Trazendo essas procelas mais terríveis
Não quero que tu tenhas mais medonhos
Pesadelos noturnos tão horríveis...

E saiba que te quero, sou abrigo...
Sou teu, com muito amor, somente amigo...


508

É meu princípio, trama, rumo e fim
O muito que transportas num olhar,
O quanto te desejo, sempre assim,
Divina transparência a nos tocar.

Artemísias, gerânios, meu jardim
Na febre que transtorna a se entregar
Bailando uma esperança sobre mim
Em ondas gigantescas, belo mar.

Navego tua pele, solto as velas,
Desenho o paraíso em aquarelas
E traço a fantasia com meus versos,

Jogado em tempestade o meu saveiro,
Percebe o sonho livre e derradeiro,
Em vagas ilusões, cantos dispersos.
Marcos Loures


509

E Mesmo tão distantes de teu porto,
Meus barcos vão buscando ancoradouro,
Aos dias em que fomos, já reporto,
E sei que em tua pele, o meu tesouro,

Renasce um sentimento outrora morto
Abrir do peito a porta onde me douro
Amor que se transforma em triste aborto
Morrendo mal se fez, no nascedouro.

Da luz do amor imenso, fantasia,
Refém desta emoção, aguardo o dia
Em plena madrugada vou sem rumo.

Eu quero ter ainda uma esperança,
Porém a solidão feroz me alcança
E aos poucos me sugando todo o sumo.
Marcos Loures


510


E mesmo que isso seja uma ilusão
Transporta o pensamento e nos liberta
Amor não reconhece uma hora certa,
Causando em nosso céu transformação.

A seca se espalhando no sertão
Caminhos da esperança; desconcerta,
Servindo tantas vezes como alerta
Adentra em sofrimento, a plantação.

Viola sertaneja canta à lua
Polvilha uma esperança. A madrugada
Ganhando em lusco fusco cada rua

Casais enamorados na calçada,
A fantasia volta e continua
Ponteios da viola enluarada...


511

E mesmo que eu não tenha o privilégio
De ter a suavidade de teus lábios.
Eu não conceberei qual sortilégio
O rumo sem saber dos astrolábios...

Existo e se persisto neste intento,
Mantendo acesa a chama da esperança,
E mesmo com pavio exposto ao vento,
Meu passo destemido não se cansa...

Viajo por ermidas dentro da alma
Colhendo as fantasias e ilusões.
Até mesmo o silêncio já me acalma
Exposto sem temores às paixões

Não me importando, um velho sonhador
Aguarda tenazmente, o seu amor....
Marcos Loures


512

E mesmo quando ausente, esta presença
Que faz da minha vida, um rito nobre
A sombra deste amor que me recobre
Já traz, decerto paz e recompensa.

Não quero mais saber de desavença,
Se a lua enamorada nos descobre
Com raios mais audazes vem e cobre
Deixando a noite mansa, menos tensa.

Aguardo que tu chegues de repente
Mudando o meu destino totalmente,
Portando em teu olhar o alvorecer.

Numa explosão de cores e matizes
Ao superar assim as nossas crises
Colhemos cada gota de prazer...
Marcos Loures



513

E mesmo consumido pelo fogo
Do incêndio que devora o coração
Pensava que teria desde logo
A chama inesgotável da paixão.

Travando nas fogueiras este jogo
Que é feito de loucura e sedução,
Ardia nos infernos, sem ter rogo,
Morrendo, renascia em explosão.

A morte provisória não temia,
Enquanto em fogaréu se desfazia
Nas brasas de seus sonhos, qual lareira

a vida como fátua labareda,
Por mais que algumas vezes nos conceda,
Extingue ao fim de tudo, uma fogueira...
Marcos Loures


514


É me perdendo em ti que mais conheço
Os passos necessários desta vida.
Querer saber se amor, de ti, mereço,
Imagem delicada e mais querida...
Sabendo, o coração; teu endereço,
A sorte que eu queria, decidida...

Revelo; amor, assim, os meus segredos
Desvendo em teus carinhos, meu futuro.
Não quero mais que a vida traga os medos
Nem quero meu caminho mais escuro.
Misturo nossas tramas, meus enredos,
E sonho ter em ti, porto seguro...

Por seres a razão do meu sorriso,
A paz que procurei, meu paraíso....


515


É feita em cicatrizes, descaminhos,
A noite em solidão. Nos temporais
Bebendo avinagrado e amargo vinho
Encontro das tristezas, catedrais.

Ouvindo o antigo blues, peço carinhos,
Apenas dos acordes musicais,
Imagens percebidas, sensuais,
Perdidas entre os velhos burburinhos...

Meu corpo anda distante de minha alma,
Nem mesmo um beijo audaz, agora acalma,
Jogado nas calçadas, cão vadio.

Tantas vicissitudes recolhidas,
Esperanças revoam, vão perdidas,
Deixando em seu lugar, o medo e o frio...
Marcos Loures


516

É feita da verdade deste amor
A luz em que mergulho a cada dia,
Recebo deste imenso refletor
O brilho em que esperança se irradia.

Fazendo do meu verso este louvor,
Um hino em que permito-me alegria
Um templo em que o desejo vem propor
Além de simplesmente fantasia.

Vestindo estas estrelas que me deste,
O amor que tantas vezes nos reveste
Esplendorosamente toma a cena.

Viver esta ventura de ser teu
Aonde luz suprema se verteu
Na fonte inesgotável, clara e plena...
Marcos Loures


517


É feio soltar peido ou arrotar,
A gente aprende desde a tenra infância.
É falta de respeito e de elegância
Melhor sair bem manso do lugar.

Segure esta vontade de cagar,
Se ela vier bem forte, tente e canse-a.
Eu vejo nisto tudo, discrepância
A pança não tem hora pra roncar.

Não venha me dizer: civilidade,
Depois vem defendendo a liberdade
Até chegar quem sabe, no Congresso.

Aí é que uma porca torce o rabo,
Aquilo que era calmo fica brabo
Roubando e até de Deus cobrando ingresso...
Marcos Loures


518

É fato que amizade verdadeira
Derrama farta luz por sobre quem
Sabendo desde sempre deste alguém
Que aplaca ou mesmo acende uma fogueira.

Não quero uma palavra lisonjeira,
A dura realidade, quando vem
Descarrila depressa o nosso trem.
Amizade não se compra nem faz feira.

É como um vinho antigo e valoroso,
O tempo vai tornando mais gostoso
E traz raro buquê a quem persiste.

Rompendo qualquer grade, traz o brilho
Dourando este caminho no qual trilho.
Por mais que a marcha seja amarga e triste

519

E em meio a tantas ondas de prazer
Declino o meu olhar agradecido
Por vezes tão distante, vão, perdido,
Agora recomeço a perceber

Que toda a sapiência do viver
Expressa o tempo em paz amanhecido
No braço sempre calmo e concebido
Em momentos sublimes do querer...

As lágrimas deixadas para trás
Goteja tão somente em placidez
O lago aonde eu possa descansar

Meus olhos bem distantes da voraz
Paixão que se entornando vez em vez
Impede que o ribeiro chegue ao mar...
Marcos Loures


5520

É hoje nesta data especial
Que venho com meus versos te dizer.
Tu és; minha querida, sem igual,
Tua presença sempre a enobrecer

Doçura assim, sem par, fenomenal,
Tão rara de encontrar e de saber.
Tua meiguice sempre natural
Trazendo no sorriso o bem viver.

As tuas homenagens são tão belas
Levando tanto amor a todo mundo.
Agora ao acendermos nossas velas

Na comemoração por este dia,
Desta ternura imensa já me inundo,
Desejando-te amor, paz e alegria.

521

E grito ao mundo inteiro: eu sou feliz!
Outrora vislumbrara a paz suprema.
Pensando ter comigo o que mais quis
Rompendo com passado cada algema.

Correntes e grilhões já esquecidos
Deixados para trás... Pura ilusão
Miragens embelezam os tecidos?
Aos poucos a ruína toma o chão.

Quem dera se eu pudesse. Quem me dera...
Não tenho outro caminho, sigo só.
O vento que trazia a primavera
Estorna a fantasia e deixa o pó.

A vida preparando esta surpresa:
À noite a solidão, trama a tristeza
Marcos Loures


522

E foste me inundando totalmente
Qual fora um maremoto, um furacão,
Incontida vontade em explosão
Tomando minha vida num repente.

Andando pelas ruas qual demente
Sem ter sequer nem rumo ou direção
Perdendo, num momento, todo o chão,
Não tendo ancoradouro que se invente.

Apenas a colheita prometida
Fartura feita em safra, ganha a vida
Causando no final, doce torpor.

Meu ópio ensandecendo enquanto cura,
Na fonte prometida em paz, ternura,
Há tempos conquistaste meu amor.
Marcos Loures


523

É força que em si mesma o bem explica,
Uma amizade feita em plena luz.
Ao sonho realizado nos conduz
Trazendo a senda clara, amável, rica.

Amiga verdadeira não complica,
Um ouro soberano que reluz
A amada liberdade reproduz
E ao mesmo tempo do meu lado fica.

Por mais que à tempestade ela resista
Jamais permitirá ser egoísta
Aquela que se mostra companheira.

Em destemor permite cada passo,
Estreita cada vez mais forte o laço
Tornando uma alegria corriqueira...
Marcos Loures


524



É fim de caso, eu sei; fazer o que?
Se apenas restará uma lembrança
O quanto o coração se fez criança
Uma alma ensandecida não mais crê.

Procuro os seus sinais –Amor, cadê?
A noite tenebrosa vai e avança
Asfixiando assim esta esperança
Que morre a cada dia, sem você.

Sobreviver num tal malabarismo,
À beira deste vão, cruel abismo,
Cismando pelas ruas, solitário...

Quem sabe noutro tempo, noutra vida...
Só sei que minha sina está cumprida,
O amor foi aliado e adversário...


525

É festa que teremos, com certeza,
Com bolo, tantos doces e salgados,
Refrigerantes, risos sem tristeza
Em fogos de artifício demarcados.

Num canto de louvor eu agradeço
A Deus por ter me dado esta amizade.
Que ajuda e nos ampara no tropeço
E traz à nossa vida a claridade.

Por mais um ano, amiga, desfrutamos
De toda esta alegria de poder
Contarmos com carinho que encontramos
Nos braços de quem sei, um bem querer.

No teu aniversário, novamente,
Meu coração se apraz, fica contente...


526

É festa que se faz
A quem queremos tanto,
Que a vida siga em paz,
Tramando seu encanto,
No sonho que se apraz,
Secando todo o pranto.

Quem aniversaria
Merece uma homenagem,
Não só por este dia,
Por toda esta viagem
Que é feita em alegria,
Sem dar pra dor, a margem.

Enfim comemorar,
À vida, sem parar...

527

E deste teu amor, com liberdade,
Bem sei que nada disso foi segredo;
Quem sabe te encontrei, felicidade,
A vida não mais cabe tanto medo...

Eu quero desfrutar de ti,querida,
E conhecer teu corpo, sem pecados.
Eu vejo uma esperança dividida
De ser feliz em meio a tantos fardos...

Recebo teus carinhos, como um vento
Que sopra em meus cabelos, mansamente.
Amor que não me sai do pensamento
Amor que me domina totalmente...

Eu quero dedicar meu canto a ti,
O sonho mais bonito que vivi...


528

E depois, descansar o meu cansaço
É coisa que jamais pretenderei.
Se tanta vez, estúpido eu errei
O resto se perdendo sem cadarço.

O mar que se lotando de sargaço
Impede o que em sonhos naveguei,
O velho desdentado sabe a lei
Mordendo com total desembaraço.

As rotas navegáveis da ilusão
Sofrendo com a vil má digestão
Mudando o meu humor, faz bilioso

Caminho que pensara ser formoso,
Agora se tornando caprichoso
Aderna a minha antiga embarcação...


529

E depois deste muito caminhar
Vagando sem ter rumo, estrelas tantas
Constelo a tua andança e venço o mar
Aonde tu enterras sacripantas.

Gerindo este puteiro feito em lar,
Não quero mais as poses, falsas, santas.
Discórdia que costumas cultivar
Apodrecendo o grão sonegam plantas.

Se a mesa desta sala virou bar,
A sorte há tanto tempo já quebrantas,
Os gozos delicados sempre espantas

Deixaste esta mortalha no lugar
Se a cada novo dia desencantas,
Não tenho mais motivos pra sonhar....

5530

E em luas tão distintas naufragar
Investido de sonhos e de gozos.
Vencendo uma procela ganho o mar
E dias sempre belos, prazerosos.

Correndo no infinito sem parar
Montado em carrosséis voluptuosos
Nos cavalos marinhos galopar
Deitando mil delírios olorosos,

Misturo fantasia e realidade
Embarco num cometa sem destino.
Bebendo de tua boca, na verdade

Varanda dos meus sonhos de menino,
A lua me mostrou felicidade
No corpo da morena, eu desatino...
Marcos Loures


531

É duro perceber cada lamento
Que invade e desentoa a minha voz.
Os dias se passando tristes, sós.
Não tenho mais sequer discernimento

A morte se aproxima e com o vento
Resulta num tormento tão atroz,
Amor que já se foi, feito em algoz
Não deixa mais florir meu pensamento.

E tudo se transforma em triste vaga,
A luz de uma esperança já se paga,
Deixando a solidão, feroz herança.

O frio transtornando a noite imensa,
No bafio da fera esta descrença
Somente insensatez plena me alcança...

532

É duro despedir-me de quem amo,
Parece que metade sai de mim.
De novo a solidão. Mas não reclamo
O dia nascerá de novo, sim.
Amor que em versos, cantos eu proclamo
Trazendo toda a glória eu tenho, enfim.

Vivera tanto tempo em que uma noite
Morria simplesmente sem aurora,
A vida se mostrava duro açoite
Cortando minha pele, mas, agora
Sabendo que depois deste pernoite
Jardim feito alegria, manso, aflora

Em rosas multicores e trará
Outra alvorada; em luzes, chegará...
Marcos Loures


533

É dom que Deus me deu e nada além.
Brincando com o barro das palavras.
Se às vezes descarrilo o velho trem,
A seca não domina minhas lavras.

Antigo coração é sempre o mesmo
Que come da esperança a se fartar,
Mineiro viciado num torresmo
Não vê nem quer saber que irá faltar.

Pacato cidadão, pago os impostos,
E compro falsidades no antiquário.
Não quero ser teu peixe neste aquário

De risos tão canalhas, decompostos.
Resido aonde a luz tem endereço,
E sei cada desprezo que mereço...


534

É cíclica a vontade de beber
Uma aguardente feita em ilusão.
Ao menos me dará qualquer prazer
Embora nunca seja a solução.

Nos olhos da morena eu pude ver,
O rio se perdendo em turbilhão,
A sorte de ganhar ou de perder,
Vagando pelo espaço encontra o chão.

A faca com certeza tem dois gumes,
Assim como são vários os perfumes
Que a moça prometeu em primavera.

Coleto os pedaços do que fomos,
Comendo vez em quando fartos gomos,
Sabendo quão gulosa esta pantera...
Marcos Loures


535

É certo que pequei, eu não discuto.
Errei ao perseguir teus mansos passos.
Tantas vezes, perdido, fui tão bruto.
Outras tantas, busquei-te, vãos abraços...

Ao longe, transtornado, então me enluto;
Por ter, assim, entrado em teus espaços;
Tens razão: destruir um podre fruto,
Rebentará, decerto, falsos laços.

Mas peço, por favor, por caridade,
Não deixes este sonho se acabar!
Em vão, já procurei pela verdade,

A luta se mostrou leda, temprana...
A noite, meu amor, trouxe o luar,
Te espero, minha amada Cassiana!



536

E calço uma esperança
Assanho o pensamento,
Convido para a dança
Não deixo um só momento
Minha alma já se lança,
Em fogo e sentimento.

Amor é ter prazer
E ser felicidade.
Não tendo o que temer,
Aguardo, ansiedade,
Vontade de poder
Amar-te de verdade.

Vem logo, sem temor,
Entregue-se ao amor!
Marcos Loures


537


E cada vez mais tenho essa certeza
De que valeu a pena te esperar,
Por mais que seja forte a correnteza
Eu sinto o vento vindo devagar

Trazendo o teu perfume, e com destreza
Eu sei cada momento desfrutar.
Quem tem amor sincero sempre preza
Colhendo as perlas raras deste mar...

Eu sei que tua estrada foi vazia,
Depois que tu partiste num cometa
Um anjo anunciando em alegria

Ecoa aqui bem perto esta trombeta
Dizendo que voltaste após a espera
Na fúria delicada de uma fera..


538

E busco em cada frase uma maneira
De dizer a quem tanto assim me encanta
Que a estrada mais feliz e derradeira
Se faz nesta emoção que se agiganta.

Eu quero esta paixão tão verdadeira
Que entorna em minha vida, a luz que é tanta
De todas as vontades, a primeira,
O poder me entregar. Minha alma canta;

Mil versos te farei se for preciso,
Apenas pra dizer o quanto eu te amo.
Saudades deste amor, meu paraíso,

Eu quero me entregar de novo a ti.
Amada, esta presença que reclamo,
No coração que chora, eu me perdi!
Marcos Loures

539

“E deles vem surgindo um claro manto!”
Assim pensei um dia, em vão tormento,
Recebo como herança o desencanto
Toando este estribilho em desalento.

Coleto do que fomos; farto pranto,
Um resto de ilusão traz sofrimento,
O quanto se perdeu m frágil vento,
A noite vai restando em negro manto.

Há tempos eu sorria pelas ruas,
Tentando disfarçar antigos medos.
Imagens que carrego, amor são tuas,

Tentando relembrar tanta beleza,
Porém um amargura impõe seus dedos
Rasgando a minha pele esta tristeza...
Marcos Loures


5540

E dela num mergulho alvissareiro;
Estrelas que dominam céu e mar,
O canto de promessa é verdadeiro
O derradeiro gesto diz amar.

Empresto o coração ao sonho leve
De quem em tantas vezes foi sutil,
A mão que te acarinha, que te enleve
E leve o que se mostre mais gentil.

Nas tílias e verbenas, o jardim,
Forrando os nossos sonhos em mil cores,
Vicejam; sobretudo, dentro em mim
As mais divinas belas, raras flores

Espalham tal aroma que inebria
Espelha o nosso amor, plena alegria...
Marcos Loures


541

E de novo, quem sabe, caminhar
Galgando assim espaços mais diversos
Quem planta e só deseja cultivar
Não vê outros tormentos, vãos, perversos.

Meus olhos nos teus olhos quando imersos
Permitem cada sonho a se espelhar
Cevando os infinitos universos
Aonde tantas vezes mergulhar...

As marcas do passado são apenas
Detalhes que em verdade sempre encenas
Tentando algum nuance mais amargo.

Veredas que caminhas, amplidão,
Torrente desejosa da paixão
Vislumbra o Paraíso, sem embargo...


542

É de manhã, o sol brilha no orvalho
Dançando em mil gotículas, cristal...
No quarto refletindo qual retalho
Decora o belo corpo magistral...

Ao ver este convite para a vida,
Levanto o meu olhar para te ver,
E sinto que encontrei a paz perdida
Nesta mulher vestida de prazer.

A chuva que caíra em meu passado,
Dando lugar ao sol maravilhoso,
No amor que pressenti ter encontrado,

Vontade de sair e passear,
Neste calor sereno e tão gostoso,
Certeza de poder de novo amar...

Marcos Loures


543

É como se eu soubesse que virias
Mudando a direção de minha vida,
Em raras filigranas sintonias
Harmonizada luz já percebida.

Além de simplesmente fantasias
Reflexos de uma história não vivida
Retendo em suas mãos, antigos dias
Imagem nalgum canto concebida.

Eu lembro ter te visto, não sei onde,
Tu eras a princesa e eu visconde
Ou quem sabe fugiste de um convento...

Só sei que tanto amei quem amo agora,
Passado novamente já se aflora
Na armadilha sutil do pensamento...
Marcos Loures



544


É claro que eu senti minha querida
Morena tão cheirosa e mais gostosa,
A noite ia ficando sem saída
Sozinho, sei que a vida é caprichosa

Não tendo o teu perfume, minha rosa,
Minha alma vai sem rumo e tão perdida.
Vem logo moreninha tão cheirosa,
Não quero mais sentir a despedida.

Meu verso sem juízo te provoca
E assim vamos brincando em gozo e riso.
Tatu não esquecendo a doce toca

Procura então portal do paraíso.
Sentindo o teu gostinho em minha boca,
Eu tenho, meu amor o que preciso...
Marcos Loures


545

É cíclico o caminho que perfaço
Num carrossel imenso, a minha vida,
Por vezes me tomando este cansaço
Não dando nem mais crédito ou saída.

Arrasto os meus chinelos quando traço
Circunavegação que não me agrida,
Usando a fantasia por compasso,
No fundo não desejo a despedida.

Mas tenho que ir embora, amanhã
Quem sabe voltarei feito um cometa,
Minha alma é suicida, um talibã

Armando uma tocaia para o Tio,
Embora reconheça esta falseta,
Mergulho há tanto tempo no vazio

546

E agora está comigo em harmonia
A dona dos meus sonhos, minha musa.
A vida do teu lado, em alegria,
Distante ela se torna mais confusa.

Nos olhos da pantera eu me vicio
Embora o bote seja assim fatal
Sorvendo do prazer em cada cio,
Amor que sei sem fim, descomunal.

Vencido pelos olhos desta fera,
Eu sinto que encontrei felicidade.
Amor que em amor vida tempera
Permite à vida sempre qualidade.

Eu sou o que tu queres, sabes disso.
Contigo a vida ganha novo viço...
Marcos Loures



547

E a turba seguirá rumo ao descaso
Depois de ter plantado tempestade
Se eu faço o que quiser, não vem ao caso,
Nem bebo este aguardente. Pois me aguarde

Sem guarda preparada, o meu ocaso
Se molda quando a lua teima e invade
Barraco da ilusão, mas findo o prazo
Eu sigo sem juízo, a liberdade...

Imagem de mulher, se a vista turva
Balança desejosa e mostra a curva
Aonde derrapei durante séculos.

Especulando assim o meu destino,
Abrindo este portal já descortino
Beleza que adivinho nos espéculos...



548


É bom viver
No amor intenso
Mas quando penso
No tal sofrer

Sem teu querer
Seguindo tenso,
Num ar tão denso
Penso em morrer...

Seco jardim
Matando em mim
Ternura e flor.

Sozinho eu sigo,
Sonho contigo
Jazigo: amor...


549

É bom sentir o gosto desta festa
Em que nós poderemos ser felizes.
O tempo vai passando e o que me resta
Esconde o que eu já trouxe em cicatrizes.

Versando sobre o canto em que se empresta
A fantasia imersa sem deslizes
Nas sendas tropicais de uma floresta
Belezas se ocultando em mil matizes.

Em sedas e organdi desfilas nua,
Passeias pelo quarto, sedutora;
Reflexos sombreados sob a lua

Em ímpar sensação, a festa feita.
Por sobre alvos lençóis amor se deita
E a noite em raro brilho, enfim se doura...


5550

É bom sentir aqui tua presença
Que me acalenta tanto e me traz paz.
Dotada de ternura tão imensa
Teu canto sempre acalma e satisfaz.

O dia a dia mostra em desavença
Do quanto o ser humano é bem capaz.
Porém tendo o carinho, a recompensa
Em manso amparo – amada, já se faz.

Ao me aninhar contigo nos teus braços,
Percebo uma esperança duradoura.
Se a vida noutra vida assim se doura

Mais fortes, com certeza nossos passos
Na senda tão difícil desta vida,
É bom te ter aqui, minha querida...
Marcos Loures


551


É bom saber querida
Porém o que me importa
Estar em tua vida,
Abrindo sempre a porta

Sem crer na despedida
Meu barco em ti se aporta
Por Deus, palavra ungida
Aos sonhos sempre exorta.

Saudade do carinho
Nas noites de luar,
Chegando de mansinho

Teus lábios oscular,
Percorro este caminho
E volto a te encontrar...
Marcos Loures


552

É bom poder voltar ao teu regaço
Depois de tanto tempo em perdição,
Saber como é difícil a sensação
Da vida sem carinho e sem abraço.

Voltando para a casa, aperto o passo,
Pois sei de uma alegria, a direção,
Durante a vida inteira andei em vão,
Agora a redenção, conheço e traço.

Rasgando os velhos mapas do desejo,
Apenas o tesouro que ora vejo
Valeu pelos milhares que eu buscara.

De diamantes falsos me cansei,
Vassalo dos anseios; cri-me rei
Julgando ser a treva, lua clara...



553

E assim, felicidade bate à porta
Daquela moça amarga que me morde,
Sem ter uma alegria que inda aborde
A vida se mostrou cambeta e torta.

Surtando todo dia, sem vacina,
Veneno de lacraia dói demais.
Pensando que nós somos tão iguais
Enquanto mostra a língua, desafina

A velha caninana não sabia
Falando com sobeja galhardia
Rasteja balançando seu chocalho.

Agora eu aprendi: quem me despreza,
Um crucifixo serve de defesa
Além deste punhal, cabeças de alho.


554

E assim sou vencedor, mesmo vencido
Jogado contra a lona saio rindo.
Amor que me pegara distraído
Agora se tornando audaz e lindo.

Abrindo estes caminhos vida afora
Cercando de loucura estes beirais
Delícia que esfaimada me devora
Deixando este sabor de quero mais.

Convites para festa de hoje à noite
Entrada permitida pra quem quer
Sentindo a tua língua em doce açoite
Penetro os teus desejos, se vier.

Assim nós vamos juntos, não se esqueça
Mergulhe em bel prazer e compareça...


555

E assim nós viajamos loucas sebes
Mudando a direção de nossas vidas
O quanto em maravilhas tu concebes
Permitem afinal, belas saídas.

Eu tenho uma alegria que não cessa
Nem mesmo o tempo irá nos afastar.
Amor que muito além de uma promessa
Tomou a nossa história, devagar.

Amor que se vislumbra, um manso rito
Alvoroçando assim meu coração.
Do quanto nosso amor é mais bonito
Entendo nele glória e perfeição.

Deste cenário feito em claros traços
Ascendo ao infinito nos teus braços.
Marcos Loures


556


E assim eu cantarei a noite inteira
Pensando nesta flor maravilhosa
Que é feita de uma luz mais verdadeira
Beleza em meu jardim, divina rosa.

A sorte em minha vida, costumeira,
Se faz em cada canto gloriosa,
Mostrando que a paixão mais feiticeira
É feita de uma noite tão formosa.

A lua na janela, em pleno amor,
Brilhando no teu rosto divinal,
Esplêndida rainha a recompor

A vida que pensara no final.
Meu verso te agradece em serenata,
Reflexos do luar, da cor de prata...
Marcos Loures


5557

E a sorte de te amar se faz tamanha
Depois dos temporais que eu enfrentei,
As nuvens agrisalham minha grei,
A sorte que buscara ora me entranha

E mesmo que pareça tão estranha,
A treva que cerzira me fez rei.
Tecendo alegoria eu te busquei
O gozo da alegria então me banha.

Qual ninfa desnudada em calmo lago,
Dos olhos prazerosos cada afago
Trazendo a luz suprema me permite

Que tudo seja além de um mero sonho,
E quando a fantasia enfim componho,
O amor não reconhece mais limite.


5558

E a dose sem limites, tu repetes
Pedindo novamente, sempre mais.
Nas camas, nas esteiras, nos tapetes
Meu corpo do teu corpo faz seu cais.

Gemidos e sussurros não poupamos,
Apenas deciframos mais enigmas
Nos poros e nos olhos nós sangramos
Marcando em cicatriz mansos estigmas.

A lua ejaculando raro brilho
Por sobre a imensidão desse oceano,
Aventureiro, estrelas quando trilho,
Enquadro cada imagem: sonho insano.

Enquanto a noite segue em fúria plena
Eu trago esta moldura em rara cena.
Marcos Loures


5559


E a chuva que parara recomeça,
Meus olhos gotejando vida afora.
A lua enegrecida me decora
E a estrela dos meus sonhos vãos, tropeça...

O sol que imaginara não regressa,
A sorte tão distante se demora,
Meu barco num naufrágio não ancora.
Felicidade? Tola e vil promessa...

A morte se aproxima sorrateira
A chama desenhando na lareira
Os espectros macabros de nós dois...

O corte se aprofunda e me incendeia,
Imagem terrifica e bruxuleia
Traduzindo o vazio do depois...

61


Em plena obscuridade em nossa vida,
Assim quando esperança se afastou.
Quando estrada parece mais perdida,
Quando em nossa alma, tudo já nevou.

Quando a luz, se apagando, vai embora,
Quando o tempo demora a transcorrer;
Quando em plena tristeza, tudo chora,
Quando temos vontade de morrer...

A lua se escondendo, negritude...
A vida se perdendo, impaciência...
E quando a solidão, tanta e amiúde.
Surge neste negror, fosforescência...

E resplandece nesta obscuridade,
O brilho verdadeiro da amizade!


62

Em plena madrugada flóreas ramas
Expostas em vestais pressentimentos.
As torres que tivemos, pensamentos,
Nas horas mais silentes tecem tramas.

Se penas e por isso pensas, amas,
Que saiba que não sabes dos tormentos.
Vivendo desfraldados sentimentos,
Refazem nos teus olhos fogo e chamas.

Nos pavilhões das dores que proclamas,
O rumo se transtorna por momentos.
Mergulho meus sentidos tantas lamas.

E salvo sem saber os mansos ventos.
Nas ramas que sentindo não proclamas,
Aguardo esses dilúvios, sofrimentos...


63

Em plena cordilheira um condor alça vôo.
Andina claridade o vento forte e frio.
Meu coração gelado outrora tão vadio,
Olhando lá de cima, amores sobrevôo.

As dores que causaste eu bem que te perdôo,
Do alto da montanha espero um novo cio...
A moça que reparo à beira deste rio,
Corpo delicioso, eu sempre me atordôo.

Nesta pele morena, a boca deslizar!
Amor sempre alucina o meu peito, o luar...
Quem não amou, na vida, embalde teve nada!

Mergulho sobre a moça um vôo magistral,
Nos meus braços, retenho, o sonho genial,
De ter teu corpo aqui promessa de alvorada...
Marcos Loures
]



64


Em plena calmaria, a trovoada
Depois da tempestade, calmaria
A gente sem amor não vale nada
A noite sem você prossegue fria.

Estampo no meu rosto esta vontade
De ter a companhia de quem amo,
Depressa vem querida que a saudade
Não deixa no arvoredo qualquer ramo.

Aroma delicado da morena
Chegando bem juntinho das narinas,
Enquanto a lua tenta roubar cena
Seus olhos iluminam as cortinas

Calando dentro em mim qualquer tristeza
Amor faz o banquete e a sobremesa...



65


Em plácidos caminhos encontrei
Mulher que feita rosa me inebria,
Carrega o bom perfume que busquei
Em noite tão escura, leda e fria.
Imagem soberana que tracei
Uma escultura viva, em fantasia...

Vivendo a cada dia mais feliz,
Vislumbro depois disso, em novo mundo,
Aquilo que sonhara e que assim fiz
Bandeira em que mergulho, enfim me inundo
Neste oceano imenso. Eu sempre quis
Beijá-la nem que seja num segundo

Por isto te convido para a festa
Uma última esperança que me resta...
Marcos Loures


66

Em poses tão gentis e sensuais
A doce transparência traz aos olhos
Os seios que decerto magistrais
Recebem silicone em flor, aos molhos...

Milagres da informática, eu bem sei,
Transformam qualquer forma em perfeição.
Qualquer pilantra agora vira rei
Safadeza virando o ganha pão.

A boçal que bigbroda em belas pernas
Paparozeada num estúdio
Escondendo sutis suas cavernas
Expressa sem temor e sem repúdio

O que nas falsas cenas se recria
Gerando tão somente a fantasia...
Marcos Loures


67

Em pleno paraíso me encontrei
Ao ver tua nudez por sobre a cama.
Sentindo a maravilha de ser rei,
Voltando a reviver perdida chama.

Tocando levemente cada ponto
Do corpo escultural que estava ali.
Sem senso, me inebrio, fico tonto,
E sinto como é bom tudo o que vi.

Não pude me esquecer deste momento
Guardado nas paredes da memória.
O tempo vai passando como o vento,
Mas tenho essa divina, imensa glória.

Depois de tanto tempo se passando,
Tua nudez persiste iluminando...



68

Em pleno azul do mar perdi meus sonhos,
Barcos que em um naufrágio se perderam.
Os dias- solidão- ficam medonhos,
Os lábios da tristeza me lamberam.

Quem teve em sua vida, olhos risonhos,
Mordazes sensações que reviveram
Fazendo dos meus cantos mais bisonhos,
E os passos libertários não imperam.

Vagante, vou sem nexo e sem destino,
Melancolia enorme se acercando.
A fonte dos meus versos vai secando,

E aos poucos – sem ninguém- eu me extermino
E morro pouco a pouco, gotejando,
Sangrando aqui sozinho, eu me alucino...


69


Em plena simbiose, nos unimos
E vamos pelas noites, dois insanos.
Vivendo sem temores, soberanos,
Os nossos passos vencem velhos limos.

Os olhos se perdendo em altos cimos,
Arcando em infinitos sobre-humanos,
Mergulhos em estrelas, noutros planos
Decifras em delírio o que sentimos.

Por mais que a vida trague seus problemas,
Amar e ser feliz, antigos lemas
Que fazem deste encanto, um ritual.

Vencendo as mais temíveis tempestades,
Alçando nos teus braços, liberdades,
O amor que a gente sente, triunfal...
Marcos Loures


5570

Em nome da amizade que nos une
Eu peço mil perdões pelos enganos
A vida, na verdade já nos pune
E impede que sigamos velhos planos

Na fúnebre saudade que hoje trago
De um tempo mais sincero e mais feliz
Amiga, necessito o teu afago,
Não quero mais a morte que prediz

Quem sabe desfiar tantos segredos
Na astróloga vontade de saber
Aonde se encontraram nossos medos
Por onde salvarei meu bem querer.

Eu peço, encarecido, então, querida,
Que salves com perdão a amarga vida...
Marcos Loures

571

Em noites provocantes, vaporosas,
Na pele nívea forma delicada.
Olores penetrantes, flóreas rosas,
Moldando uma beleza imaginada.

As mãos que se procuram, mais fogosas,
Encontram fonte rara disfarçada
Debaixo dos espinhos nas formosas
Flores, já despidas e sem nada.

Pairando pelo quarto, bruxuleia
A luz que em transparências traz o dom
De dar um sedutor tom sobre tom

Na perla que se mostra e que incendeia
Aberta a camisola, sem receios,
Explodem pequeninos, duros seios...


572

Em noites mais perfeitas, estreladas
Percebo a direção de mansos ventos.
Vontades e palavras demonstradas
Além de simples e ermos pensamentos.

Na dança que se faz em glória e riso,
Amiga, irei contigo aonde fores.
Por mais que a chuva chegue sem aviso
Em ti eu já concebo belas flores.

Sementes que plantamos e cevamos
Garantem a colheita que virá,
No quanto desejando respeitamos
A sorte sem limites brilhará.

Que a luz desta amizade nos persiga,
Podendo assim dizer: tenho uma amiga!
Marcos Loures



573

Em minhas mãos contendo a maravilha
De um dia mais feliz que procurara
Deixando bem distante a senda amara,
Adentro o puro amor, e sigo a trilha

Da luz que tantas vezes, andarilha
A minha redenção desamparara.
Cortando bem mais fundo, em dura escara,
Fechando dos meus sonhos a escotilha.

Em cântaros meus olhos se verteram,
Até que finalmente perceberam
Estrela matutina que se alcança

Apenas num segundo, em pensamento,
E o brilho desta estrela num momento,
Entorna sobre nós rara esperança
Marcos Loures



574

Em minha timidez, o medo aflora.
E vagando a minha alma na moldura,
Qual tela que me deste, uma escora
Que possa me ajudar na mata escura

Enfrentando fantasmas. Sou agora;
Do verbo original, a criatura
Que em mar tempestuoso não se ancora
E morre simplesmente, sem candura.

Teus pés já foram bases deste sonho,
Amada sensação de fonte e ponte.
Oriundo dum dia mais medonho

Fantasia proposta não me cabe,
Vislumbro uma esperança no horizonte,
E vou antes que o amor, em ti, se acabe...


575

Em minha alma, velórios e varizes
Recebe tantas gotas de veneno.
Teus lábios; dois sedentos infelizes
Bebendo todo o sangue num aceno.

Mas peço, se vieres logo avises
Num tiro ou explosão, ou algo ameno.
Carinhos penetrantes, lutas, crises,
Em todos, estou certo, eu me enveneno.

Coberto por mentiras, t’as mantilhas,
Não restam deste amor sequer mobílias.
Apenas tanta dor em procissão.

Remendos não resolvem o fiasco,
Tu sabes, não preciso de sermão.
Se a boca que me beija é meu carrasco...


576


Em pétalas divinas, meu jardim
Floresce com perfeita sintonia
Mostrando o que melhor existe em mim,
Forjando com paixão a poesia.

No dia que virá em luz e flama,
O tempo não permite outro final.
O quanto a gente quer e já se inflama
No jogo que não cessa, sensual;

Consensos encontrados, vamos nessa
Que o tempo nunca deixa de passar.
Assim que esta vontade recomeça
O jogo nunca pode terminar.

Refaço este caminho e não me canso,
Deitando nos teus braços meu remanso.



577


Em perfumes e cores misturadas
Mostrando suas faces bem mais belas.
Distantes ilusões foram aquelas
Que a vida nos tomou, suas guinadas.

Por certo são mais finas, delicadas,
As múltiplas facetas das estrelas.
Das rosas, que vermelhas, amarelas,
Rainhas dentre as outras nas floradas.

Assim, uma amizade nos decora,
Deixando nossos passos bem mais fortes.
Curando calmamente tantos cortes,

Apóia meu caminho mundo afora
Não há nada mais rica, alvissareira,
Que uma amizade plena e verdadeira...

578


Em ondas, peixes, mares e marés,
Reféns da fria noite que não vinha,
Atando estes grilhões, cortando os pés,
O corte mais profundo sei que tinha.

Olhando tantas vezes de viés,
Mordazes os sorrisos da avezinha
Pousada no meu barco, no convés,
Migrantes esperanças de andorinha...

O tempo vai passando e nada muda,
Apenas a vontade sempre ajuda,
Porém se resumindo sempre em nada.

O barco tremulando em tempestade,
Nos olhos da andorinha, a claridade
Imita em perfeição uma alvorada...
Marcos Loures


579


Em ondas tão convulsas, explosivas,
Fomentando a fornalha desejosa
As bocas tatuando, corrosivas
Deixando a cicatriz maravilhosa...

Da eternidade túrgida, insensata
Sem ter nem nevoeiros, só trovões,
Embrenhar-me na densa e pura mata
Na busca do prazer, escavações.

Nas incursões sedentas e famintas
Ouvindo tua voz quase gemente,
No corpo que esculpi, as tantas tintas
Vontade de saber-te, isso é urgente!

Em ondas me transtorno, em ti mergulho,
Singrando neste mar, forma um marulho...


5580

Em nossas tardes febres e rompantes
Nos arvoredos viva primavera,
Da sílfide os desejos transbordantes
Vasculho diamantes. Quem me dera!

Esplendorosamente em cada toque,
Aos poucos vou bebendo desta fonte,
Antes que o céu de lumes já se troque
Teus olhos iluminam horizonte.

Eu quero a formosura tão gentil
Que trazes nos sorrisos envolventes,
Neste roçar divino e tão sutil
Felicidades vivem mais urgentes.

No céu em perolado desta lua,
A sílfide em meu colo bela e nua...



581
Em nossa noite, a lua se apaixona
E trama no luar, seu forte brilho.
Trazendo nosso amor, enfim, à tona,
Nos rastros deste lume, maravilho.

Me esperanço de ter um novo dia,
Escapando por fim, deste marasmo.
Ao sentir essa doce melodia,
Mirando teu olhar, fico mais pasmo...

Eu quero nos meus versos, veros mares,
Furtivos, meus desejos são insanos.
Colhendo, nestes céus, os teus olhares,
Vencendo toda forma de abandonos...

Reflexos irisados sobre os rios;
Em meio a tantas luzes, olhos, fios...



582

Em meio à tempestade violenta
Toda dor dentro d’alma se arrebenta.
E invade o velho cais, tomando a praia
Impedindo que o barco tente e saia.

Nem mesmo a fantasia mais me alenta,
Poeira no infinito não se assenta,
A lua que distante já desmaia,
Tornando uma alma tênue por lacaia,

Encontra na neblina, brônzea manta,
Ao léu a poesia desencanta
Inebriante mar da solidão.

Nas tramas tão inglórias da paixão
O verso que buscara; agora inútil
Espelha a melodia amarga e fútil...



583



Em meio à tempestade tanto amei,
Vagando noite e dia pude ver
O quanto neste amor me dediquei
E nada recebi. Quero saber:

Onde foi, meu amigo, que eu errei?
Talvez por ser enorme o bem-querer.
A vida nos mostrando a dura lei:
O fim de quem adora é o sofrer!

Vagando pelas ruas, pelos bares
Buscando em qualquer boca uma ventura,
Nas ânsias tenebrosas tão vulgares

Vivendo tão somente; sem paixão...
Fazendo amor sem gestos de ternura,
Amigo; o que restou do coração?
Marcos Loures


584


Em meio a tantos vates, eu sou mero
Aprendiz de versos tolos e banais,
Viver a poesia é mais que eu quero,
Pois nela encontro bardos imortais.

Mas sei que ao escrever procuro esmero,
E ao lado destes vários magistrais
Usando da palavra, sou sincero,
Expresso ora o que sinto e nada mais.

E quando me aprofundo, enfim concebo
Que aquém do que pretendo, sempre bebo
Das águas cristalinas que porejas

Com teu raro talento e maestria;
Entre as belezas todas que alma cria
As minhas fantasias vãs e andejas...


585

Em meio a tantas chamas nossas tramas
Deitando em mil prazeres, o desejo,
O quanto que te quero num lampejo
Percebo que também já me reclamas.

Delírios sem limites e sem dramas
Um tempo mais feliz ora prevejo.
Do amor que se entregando sem ter pejo,
Atendo ao teu chamado, mal me chamas.

Não quero ser apenas um retrato
Guardado na gaveta do criado.
O amor pra ser sublime e bom de fato

Além da calmaria de um regato,
Precisa deste fogo anunciado,
Com fúria e com carinho deflagrado...
Marcos Loures



586

Em meio a tal nobreza divinal.
M’abriria então, Deus, o seu portal,
Guardaria essa imagem na retina...
À noite tanto amor que me alucina

Morrer de tanto amor, eu sou capaz;
Olhares que te vêm deusa menina;
Em tal momento orgástico de paz,
Te emolduram, amor, luz cristalina!

Adentrando os sonhos mais audazes
Encontro esta presença sensual,
Bebendo em tua pele sol e sal,

Vivendo esta loucura que me trazes
Prazer insaciável me domina,
E o verso sem paragem, desatina...
Marcos Loures


587

Em meio a tais promessas, peço paz.
Percebo que virás ao fim do dia,
Vivendo e revivendo a fantasia
Do todo que se mostra mais capaz

A gota que caindo, satisfaz
E molda uma esperança em poesia.
Do amor que a cada verso me dizia
O sonho que alegria, enfim, me traz.

Girando pelas noites, um cometa
Riscando o céu, trazendo a claridade
Deixando no meu peito, cicatrizes.

Ao quanto em brilho intenso se arremeta
Permitem reviver a mocidade,
Lembranças destes tempos mais felizes
Marcos Loures


588


Em meio a tais festejos na cidade
Percebo uma morena sedutora
Trazendo ao meu olhar, felicidade
Decerto a rua em glória já decora.

No olhar desta menina, a mocidade
Quem sabe faz bem feito e faz agora
Um riso em que se dá sinceridade
Tumultuando tudo não demora

Um corpo tão divino andando nu,
Fazendo este terrível sururu
Não deixa ficar pedra sobre pedra

Meu coração batendo em desvario
Ao ver a moça tenta um assobio,
Porém em timidez, decerto medra.


589


Em meio a mundos tristes vou gelado,
Recebo uma mensagem dolorida.
Dos olhos que tivera imaginado
Serem a solução de minha vida,

De tudo o que sonhara, estou calado,
No gosto tão amargo, despedida
Vivera certo tempo apaixonado,
A força de vontade combalida...

Sou quase inexpressivo, morro breve,
Em busca do infinito, estou vazio.
Nos olhos embotados, pura neve.

O coração sozinho vai sombrio.
Amar como eu amei? Ninguém se atreve,
Inverno devorando todo o estio...



5590

Em meio a meu desejo temo enchente
Embora se secarem os meus olhos,
Alegrias vertendo, como em molhos
Talvez do triste rio, vire gente.

E abrace tão formosa criatura
Fazendo destas luas novos trilhos,
Das lágrimas nascendo nossos filhos,
Minha alma verterá uma água pura.

Amor minha perfeita experiência
De ser feliz ao menos por um dia
Em seus braços meu risco de alegria

Nas suas asas próspera excelência,
Porém neste dilúvio a sensação
De ter enfim, pro amor, a solução...
Marcos Loures


591


Em mil canções te clamo, apaixonado,
Embora isto provoque algum ciúme.
Tem gente que talvez sem ter perfume,
Fica bisbilhotando do outro lado.

Teu corpo divinal emoldurado
Reflete a maravilha feita em lume,
Além do que o desejo de costume
Havia em cada sonho declarado.

Mas fale bem baixinho. A vizinhança
Tá cheia de voyeur mal sucedido,
Ouvindo em plena noite algum gemido,

Binóculos a postos, não se cansa
De tentar perceber como se faz
O amor que em tempestades traz a paz...
Marcos Loures



592

Em meu jardim as flores representam
Amigos que colhi, jóias perfeitas.
Enquanto em fantasias tu te deitas
Palavras tão suaves me apascentam.

Enquanto os descaminhos se apresentam,
As tramas da amizade, tão estreitas
Dizendo da alegria em que me aceitas,
Tristezas e lamúrias afugentam.

Perfumando minha alma solitária,
A voz desta pessoa solidária
Encanta e me permite prosseguir.

Dizendo quanto é belo alvorecer,
Ditando em plena glória este prazer
Que mostra mais tranqüilo o meu porvir...
Marcos Loures


593

Em meio a teus desejos e carícias,
A noite que se passa é benfazeja,
Tocado pelos gozos e malícias,
A pele ronda a pele e assim deseja.

Fartura que se mostra sem cessar,
Reféns desta loucura; vamos juntos,
Deitando nosso amor sob o luar,
Nas bocas que se buscam, mil assuntos.

Trazendo esta alegria, raro dom,
Anunciando assim, a clara aurora,
Debaixo dos lençóis, deste edredom,
Prazer interminável já se aflora.

Rondando pelas noites vaga-lumes,
Encontram no teu corpo estes perfumes...
Marcos Loures


594

Em mágica alegria se refez
A vida num momento de prazer;
Tocados por total insensatez
Dois corpos num só corpo eu posso ver.

Sentindo a morenice dessa tez
Roçando a minha pele, passo a crer
Num Deus enamorado que te fez
Mostrando em farta glória o Seu poder.

Viajo por caminhos deslumbrantes,
Sorrisos em malícia provocantes
Sussurros delicados, mas audazes.

Fronteiras; desconheço, e num momento
Eu creio que entornando o sentimento,
A um tempo satisfaz e satisfazes...
Marcos Loures


595

Em luzes mais dispersas já floria
O corpo que sonhara, raro brilho.
Em mágicas delícias, harmonia;
De todos os prazeres, vivo trilho...

A pele que me toca, em alegria,
Mandando a solidão para um exílio,
Tal qual, em poesia eu pressentia,
Sem ter jamais sequer um empecilho...

Envolto em vibrações extasiantes,
Meus dias são mais doces, cristalinos.
Tomados pelos límpidos velinos,

Satélite que cerca tal planeta,
Vislumbro novos mundos radiantes,
Seguindo as tuas sendas, sou cometa


596

Em meio a furacões,
Tempestas violentas,
Esbaldam-se emoções
As noites passam lentas.

As horas alucinam
Adentram belo cais,
Carinhos me dominam
E peço sempre mais.

Delírios tresloucados,
Saber de mel e fruta.
Nós dois apaixonados,
Amor que se desfruta

E trama em festa imensa
A nossa recompensa...

597

Em meio a fogos fátuos tu surgiste
Fosforescência imersa em negras trevas
Eros com sua seta, sempre em riste
Das glebas mais agrestes, finas cevas.

Insólitos folguedos, no olhar levas,
Nas névoas frias úmidas, o ar triste,
Trouxeste as fantasias, bandos, levas
Provando que o amor ainda insiste

Ascendendo às vertentes, raras fontes,
Os sóis que emolduraste em horizontes
Fascínios que se emergem das neblinas.

Dormir languidamente no teu colo,
Legando à vida um rito que sem dolo
Expõe a claridade nas campinas...
Marcos Loures


598


Em meio a dissabores procurei
Razão para viver e assim sonhar,
Depois de tanto tempo procurar
Apenas desencantos; encontrei.

Vagando sem destino, noutra grei,
Tendo por companheiro este luar
Que chega de mansinho, devagar
Fazendo da beleza norma e lei.

Amor bate na porta, atinge a aorta
E toma o coração; invade tudo...
Divinas peripécias do moleque

Que abrindo as suas asas, vem e aporta;
O rumo ao mesmo instante; logo mudo,
Abrindo da esperança todo o leque...


599

Em magnitude plena, os universos
Desenham raras telas no meu céu
Beleza que se doura em raro véu
Cantando esta emoção, faço meus versos.

Outrora duros passos tão dispersos,
Buscando a cada noite um carrossel
Adentra por Saturno em cada anel
E vence os ventos duros e perversos.

De todos os meus sonhos, o mais puro,
O porto tão seguro que procuro
Depois deste oceano revoltoso.

Acima tão somente esta amplidão
Mostrando com intensa sedução,
Amor assim faminto e desejoso.
Marcos Loures


5600

Em lágrimas meu peito, assim goteja
Ao ver-te tão distante dos meus braços
O gozo mais sublime se deseja
Marcando a nossa noite em bons compassos.

Ouvindo uma guarânia que dizia
Saudades do primeiro amor que tive
Em Ypacarai, a poesia
Nos braços da emoção já sobrevive.

Minha Cunhataí escute o canto
Do amor em labaredas nos tomando.
Numa harpa delicada, tanto encanto
Uma expressiva lua nos banhando.

Beijando a tua boca, amor quiçá
O dia em farta luz renascerá...


601

Em horas tão fagueiras
Convidas para a festa
Na dor damos rasteiras,
Alegria o que nos resta.

Na praia, nas palmeiras
Quem sabe na floresta,
As honras verdadeiras
A sorte enfim se atesta

E mostra, companheira,
Quanto a um carinho vale,
A mão demais certeira

Não deixa que se cale
A tal felicidade
No amor e na amizade


602

Em hiperestesia deslumbrante
Poema à flor da pele, uma pintura.
Incêndio de emoções, que com ternura
Se torna, com certeza, fascinante.

Teu verso, minha amiga, é instigante
A mão que suavemente, nos perfura,
Poesia em forma bruta, bela e pura
Mergulho dentro da alma latejante.

Acordes dissonantes e perfeitos
Rasgando o coração, tu te desnudas
Num nobre caldeirão de sentimentos.

Deitando poesia em raros leitos,
Calando bem mais fundo, deixas mudas
As vozes que se dão em vagos ventos...
Marcos Loures


603

Em glória extasiante nos encante
Deixando no passado um sonho aflito
Solidão se mostrando mais distante,
Acode-nos o canto tão bendito

Moldando um novo sonho deslumbrante,
Ganhando sem limites, o infinito,
Soltando em pleno espaço, num instante
Alçando o paraíso em belo rito.

Amiga não se esqueça de que a vida
Deve ser sempre amada e tão querida.
Estenda em tuas mãos um alvo lenço

E a paz que procuramos; já sabemos
Tomando em nossas rotas, mãos e remos
Da força da amizade eu me convenço...
Marcos Loures


604

Em frente a minha porta escancarada,
Eu vejo este fantasma renitente.
Percebo que o infeliz ainda sente
Vontade de vagar na madrugada.

Cadáver de uma gente amargurada,
Que outrora eu concebera delinqüente,
Mas hoje eu diagnotisco: são doentes
Aos quais a vida nunca legou nada

Restando do que um dia fora um homem
Apenas os espectros que ora somem
Ladrando por ladrar, sem ter proveito...

Na rua sem destino, vagam tolos,
Nem servem mais de adubo, matam solos
Olhando tais figuras, me deleito!
[


605

Em frangalhos, passando na peneira
fantasia deixada para trás.
Imaginei – tão ingênuo- ser capaz
de encontrar amizade verdadeira

ou quem sabe pudesse ter inteira,
alegria que, plena, satisfaz.
Porém o que seria mais audaz
terminou sendo simples brincadeira.

Tantas vezes meu rumo se perdeu
numa busca incessante, mas insana,
um lampejo, somente de esperança.

O meu mundo se fez eterno breu
quem pensei ser amiga, já me engana.
meu olhar tão distante, nada alcança.



606

Em frangalhos fiquei na tua ausência
Repasto para a dor e o sofrimento,
Cheguei à beira, mesmo da demência,
Um velho lobo uivando o seu lamento,

Pedindo pelo menos a clemência,
A solidão tomando o seu assento,
Fazendo no meu peito diligência,
Roubando minha paz em fogo lento.

Mas quando eu recebi a tua carta
Falando em puro amor e confiança,
A dor que me tomara se descarta

A vida passa a ter um novo alento
E agora já refeita esta esperança
Eu quero o teu amor, cada momento...
Marcos Loures


607

Em forma de alegria e de prazer
Nas águas sempre límpidas mergulho,
Viceja sobre nós o bem de ter
Encanto tão fantástico em marulho.

Feitiços dos olhares mais ciganos,
Deitando sobre areia movediça
Sabendo dos amores, desenganos
Porém em flor tão bela amor nos viça.

Sem liças ou batalhas, destemidos,
Vagamos noite afora, sem descanso,
Envolto em profusão, cinco sentidos
Fazendo da emoção nosso remanso.

O quanto em louca sanha se pressente
O amor tomando conta, enfim, da gente...
Marcos Loures


608

Em flocos invernais, meu sentimento...
Desmorona-se a cada tempestade...
O medo que comporta o frio vento,
Amaro gosto, sangra a saudade...

As falhas pressupõem longo tormento.
Meu arrependimento, veio tarde.
Inverno derramando violento,
A morte se mostrando, na inverdade...

Nos pinheirais flocados pela neve;
A sombra estonteante, porém breve,
Me traz as esperanças de viver!

É fronde que promete-se tenaz;
Desejo bem mais forte, renascer,
Desirrée, desejada, traz a paz...


609

Em loucas ventanias, bacanais
Bebendo o teu prazer que não se esgota,
A cama em seus lençóis; fogos anais
Tocando cada gruta, gota a gota.

Ouvindo os teus desejos: - Vem e bota.
Penetro com vontade e quero mais.
Corcel que galopado, não mais trota,
Insana montaria, leites, sais...

Cavalo que tu queres garanhão
Potranca que se entrega sem pudores,
Farturas de desejos, tentação.

Na cama, numa esteira, rede ou chão
No jogo onde ganhar é se perder,
Volúpias de paixão, puro prazer...

5610

Em lírico passeio deslumbrante
Em meio a lírios dálias e jasmins,
Crisântemos, verbenas, num instante
Te vejo rosa plena nos jardins.

A soberana flor que triunfante
Emana nos seus lábios carmesins
O rubro que sanguíneo provocante
Encontra em colibri fogos afins.

Magia que se mostra passo a passo
Entorna na natura o mel mais puro.
Abelha que voando em cada espaço

Recolhe todo o néctar com apuro.
Em versos e carícias, encantados,
Os pares vão cumprindo os doces fados
Marcos Loures


611
Em liberdade plena, uma matéria
Se faz em nossos sonhos peregrinos.
Dos dons imaginados, pois divinos,
Amor exterminando dor, miséria.

A vida se passando deletéria
No peito dos tristonhos, sem destinos.
Refaço uma esperança de meninos
Em paz tão verdadeira, leve, séria.

A dor tão inconstante não mais brama
Refém do puro amor e dos seus passos
Sorriso emoldurando em nova trama

Movendo terras, mares, satisfeito.
Atado ao teu carinho, teus abraços
Percebo: ser feliz é meu direito!
Marcos Loures


612

Em Lesbos, os sonetos mais perfeitos
De amores e de sonhos tortuosos.
Desejos que só foram satisfeitos
Em versos muitas vezes sinuosos.

Mostrando em decassílabos o amor,
Que Safo dedicava em raro tom,
A poesia fez-se em tal valor
Na imensidão do sonho, todo o dom

De quem ao demonstrar o seu talento
Criou legando para a eternidade
Na forma de expressar seu pensamento
Cantando sempre amor ou amizade.

Assim enaltecendo em poesia,
Eu agradeço a lésbica alegria...


613

Em devaneios trago esta esperança
Risonha de intocável majestade…
Tramando para a vida, temperança,
Apenas me tocando, veleidade...

Um sonho que se faz pura fiança
Tal qual fosse um delírio/ realidade.
A mão que quando busca nada alcança
Identifica aqui a liberdade

Os meus olhos procuram pelo corpo
Porém em total éter se desfaz
E qual fosse um fantasma que eu encorpo

Domina minha vida totalmente,
Poder que neste mundo ninguém traz,
Existe em plenitude. É inerente...
Marcos Loures


614

Em desespero busco uma saída
Por entre sombras, gritos, tento a porta
Que sei a tanto tempo destruída
Apenas a loucura ainda aporta

Tantas mãos me agarrando, eu não consigo
Sequer já vislumbrar a liberdade.
No alpendre não pressinto algum perigo
Voar por sobre os prédios da cidade...

O sopro que me toca, glorioso
Redime dos meus erros? Mas quem sabe
Saltando no vazio encontre o gozo
Do pouco que me resta e que inda cabe...

A vida sem valor algum; decerto
Mergulho em desespero num deserto...


615

Em desencanto pleno e sem mortalhas
Vestido de ilusão por ti, querida.
As horas se jorrando; qual navalhas,
Formavam a grinalda dolorida...

Os céus resplandecendo parcas tramas
Em tantas tramas loucas me dizia
Das farpas e dar marcas das escamas
De serpentes marinhas que trazia...

Sem nexo ou talvez sem ser possível,
Amor me derrocava sem ter penas.
Sobrara tão somente a dor incrível,
Entranha em minha pele, morro, apenas...

Mas eis que superar calamidade
Somente necessita da amizade!


616

Em contradança encontro nossa dança
Que trança as pernas plenas num bailado,
Quando alças nossos sonhos mão avança
E toca sutilmente o bem guardado.

Se exprimo o meu desejo de criança
Amanso o coração que cora ao lado,
Meus víveres se fazem da lembrança
Da dança que esqueci, tempo passado.

Mas suo em cada passo com vontade
De ter sem ter disfarces diapasão
Batendo bem mais forte o coração

Que sabe seduzir felicidade.
Menina, fases, frases, fazes festa,
Amor tocando a mente, gozo atesta...
Marcos Loures


617

Em completa ilusão imaginei
Que tudo que sonhara fosse meu...
Agora o tempo passa e eu bem sei,
Que nada disso, enfim, aconteceu...

Amor que tanto quis, nunca chegou,
A lua que brilhava, foi embora...
O canto que tentara não bastou
Minha alma, sem sentido, morta, chora...

Não mais quero saber de tantas cruzes,
O muro das tristezas impedia,
Estradas que passara, puras urzes;
A noite nunca trouxe um novo dia...

Agora que entendi meu canto triste,
Apenas o vazio, o nada, existe...


618

Em cítaras arpejo angelical
Espalha pelas nuvens, céus, estrelas
Aforam as vontades de revê-las
Tocando o corpo lúbrico e venal.

Um gesto mais audaz e sensual
Nas fontes prazerosas, posso crê-las
Em fogo e num braseiro convertê-las
Desejo quase insano e tropical

Num típico verão em tez desnuda,
Amantes procurando pela ajuda
Do deus que sei erótico e fugaz

Morena que arquejando pede bis,
Flameja em doce insânia seus quadris
E pede tanto à frente quanto atrás...


619

Em cataclismo enorme, titânico,
Em busca de frementes espetáculos.
Amor que sempre fora tão tirânico,
Se mostra mais sutil, como em oráculos

Onde premissas: sorte, morte, pânico;
Freqüentam infernais, iguais cenáculos.
Carícias e desejos, conceptáculos...
Sentimento carnal, quase mecânico!

Inebriantes flâmulas, histéricas.
Sacrofagicamente canibal.
Buscando as epopéias quase homéricas,

Transfunde colossais pressentimentos,
Ungindo-se em torpor, qual animal,
Perpassa meus vadios pensamentos.
Marcos Loures


620

Em carne viva sinto a pele solta
Ardente embarcação chamada amor
Singrando esta emoção demais revolta
Expressa ao fim da tarde este fulgor.

A lua se aproxima e faz escolta
Adentra este infinito em esplendor.
E toda a sensação de paz já volta
Como se fosse assim, quase um louvor.

Nos elos que nos atam quais correntes
Que tramam novo tempo em que pressentes
Um porto mais seguro, ancoradouro.

Aonde nós possamos aportar
Estrela que não cansa de guiar
Mostrando qual caminho diz tesouro...
Marcos Loures



621

Em cada passo teu, um bom caminho,
Prenúncios de que um dia serás minha.
Meu coração vagando, um passarinho,
Na busca por teus olhos, avezinha.

Nas luzes que em teus olhos me iluminas,
Guardando o teu sorriso tão sereno,
Banhando em esperanças as retinas,
Num fogo imaginário brusco, ameno.

Eu quero e desse tanto não mais fujo,
Misturo sentimentos, não segredo,
De tudo o que deixei; no amor ressurjo,
Deixando sepultado cada medo.

A vida prometida e renovada,
Na esperança dos olhos, minha amada...


622

Em êxtases sublimes, nossa entrega
Formando uma avalanche, um maremoto,
Nos corpos que se tocam já se esfrega
Amor que se extasia aonde esgoto

A vontade de ter mais perto o céu.
Gemidos insensatos, francos risos,
Vagamos nosso amor em carrossel,
Roçamos e volvemos, paraísos,

Precisos nossos toques e carícias.
Arfantes caminheiros nesta senda,
Que é feita e recoberta de delícias.
Já tendo o bel prazer que se desvenda

Numa nudez faminta, depois lassa,
Satisfação completa, não disfarça...
Marcos Loures



623

Em duros pesadelos, a noite passa
Expondo estas que verdades que eu carrego.
No dia, a claridade já disfarça
E oculto de mim mesmo, mudo e cego.

Porém o que fazer? Expor-me em praça
Pública? Meus temores, quando os nego,
Guardados na gaveta, exposta à traça;
Em falsa sensação à qual me apego,

Ressurgem toda noite a me assombrar.
Latentes, estas dores latejantes
Explodem num gelado e imenso mar.

Tomada sem ter tréguas por terror
Minha alma nas procelas perturbantes
Demonstra-se refém deste pavor...
Marcos Loures


624

Em cada passo encontro estas pegadas
Deixadas pelos pés de quem adoro.
Marcando com amor minhas estradas,
Nas quais a cada dia revigoro

Um sonho generoso de te ter.
Contigo sem disfarce, ganho espaços,
E vivo a fantasia: bem querer.
Percebo nos caminhos, rastros, traços....

Amor que à luz do sol cedo viceja,
Durante a noite vem iluminar
Nos raios deste fogo que poreja
Com eles, bem mais límpido o luar.

O paraíso encontro sem disfarces,
No sol quando dourando nossas faces...


5625



Em cada beijo meu, a deusa goza
Com farta provisão se refestela
Na entrega que se faz voluptuosa
A moça em transparência, mansa e bela.

Revela o que se mostra de soslaio,
Da esguia silhueta em lusco-fusco
De todo este desejo, eu sou lacaio,
A realização completa, eu busco.

E tendo o que pretendo não me canso,
Exploro cada entrada, fonte e mina.
Encontro em placidez, calmo remanso
E a paz em pleno amor se descortina.

Galopas meus prazeres, qual corcel
Amor que em plenilúnio ganha o céu
Marcos Loures


626

Encontro em cada espelho, os teus olhares
E neles o reflexo de meus olhos
Aguando com ternura tais pomares,
Arranco a cada dia mais abrolhos.

E sei do quanto pude ser feliz
Alçando logo os cumes, cordilheira,
Amar quem desejei e tanto quis
Durante a minha vida quase inteira.

Quebraste no final o pote e o doce
Perdido na amargura que lagrima,
Quem dera se eu pudesse e ainda fosse
O amor que nos uniu de rara estima

Teria algum alento para os versos
Que agora soltos, seguem vãos, dispersos...


627

Encontro em bela praia
a tua silhueta,
que o vento não me traia
e deixe-a incompleta,

antes que a noite caia
imagem predileta,
o coração se espraia,
encontra em ti a meta

dos sonhos mais profundos,
emrara fantasia,
vagando por dois mundos,

o sonho me dizia,
da imagem soberana
da lua lusitana.


628


Encontro em bela praia
a tua silhueta,
que o vento não me traia
e deixe-a incompleta,

antes que a noite caia
imagem predileta,
o coração se espraia,
encontra em ti a meta

dos sonhos mais profundos,
em rara fantasia,
vagando por dois mundos,

o sonho me dizia,
da imagem soberana
da lua lusitana,..


629

Encontro do teu lado o paraíso
Inebriadamente o mundo explana
O fogo necessário e mais preciso
Na chama que se faz divina, insana.

Refém deste prazer o amor empresta
Os lumes necessários, desejados,
A cada nova noite a mesma festa
Em sonhos e carinhos perfilados.

Na catedral do amor, a sacra prece
Que é feita em elegância, em alegria
O corpo que se mostra e se oferece
Deleita-se no ardor desta magia

Eu quero estar contigo a cada orgasmo,
Amor que não se permite mais marasmo...
Marcos Loures


5630

Encontro de desejos e volúpias
Em noites, rondas, loucas fantasias
Mil corpos que se vendem; pesos, rúpias
Ciganas, bruxas, magas... Ardentias.

Mentiras deslavadas são sinceras
No encontro de loucura, riso e fé,
Abertas coxas, pernas e crateras
Carne viva vendida; um cabaré.

Fetiches e desejos realizados,
A gargalhada oculta mil esquemas
Lambidas, beijos sáficos trocados
Eternas noites, vivas piracemas.

Quadris esfuziantes: dança e cama.
A lua embevecida nem reclama...


631


Encontro as alegrias, colho em molhos
Deixando os vis espinhos para traz
Colheita que se fez mata os abrolhos
Permite a vida calma feita em paz.

Mas quando ouço esta voz em aflição
Clamando por socorro, eu não consigo
Seguir em calmaria a procissão,
Estendo as minhas mãos, e dou abrigo.

Não sabes quanto eu quero o teu querer
E dele faço o mote mais sincero.
Não posso de teu canto me esquecer
Vem logo, minha amada, eu já te espero

E quero no compasso mais perfeito
Amor que é meu destino e nosso pleito...


632

Encontro aqui, contigo, amor enfim.
E bebendo desta água eu não me canso,
O vento vem trazendo em seu balanço
O jeito de viver gostoso assim.

Tu és o que melhor existe em mim,
Certeza que apascenta o meu remanso
E traz em gesto alegre, vivo e manso
O cheiro da esperança. Quero assim

A vida que se dá pra quem se deu,
Estrela em fantasia se verteu
E trama em minha noite os universos

Longínquos de meus olhos, mas à mão.
No amor que é todo nosso, a comunhão
Trazendo algum sentido pr’os meus versos.
Marcos Loures



633


Encontro ancoradouro d’alegrias
No porto feito em braços, luz e glória
Vencendo as noites frágeis e tão frias
Bebendo com prazer cada vitória

Estendo os meus tapetes da esperança
Ardentes emoções se revezando,
O mar que se mostrou em temperança
Aos poucos minha vida vai tomando.

O quanto eu te desejo e não me canso
De ver a cada sol o teu olhar,
Um dia se prepara cedo manso
Bordando no meu céu lume solar.

Assinas com teus lábios tal promessa,
O tempo de sonhar já recomeça...
Marcos Loures


634


Encontro em nosso amor um doce alento
Do qual renascem forças que eu julgara
Distantes deste encanto que me ampara,
Sobeja maravilha em pensamento.

Refletes, sabes bem, meu sentimento,
E nele a vida fica assim mais clara,
No gozo da emoção que se declara
Exposto à fantasia em bom momento.

Construímos palácios dos delírios
Que suplantando em festa outros martírios
Refazem com ternura o amanhecer.

Alçar o Paraíso nos carinhos
Que tornam mais suaves os caminhos
Que levam sem fronteiras, ao prazer...


635

Encontro em nosso amor a luz primeira...
Em passos bem mais firmes, decididos,
De crer numa esperança derradeira,
As angústias e os medos já vencidos,

Mostrando ser a sorte lisonjeira
E os dias sem espinhos, percorridos.
Impedem que se perca em mil pruridos
Uma esperança além de corriqueira

Amor que se tornando mais prudente
Permite um novo encanto e doma a gente.
Transforma totalmente as nossas vidas.

Amor que em sua ausência, trama o vago,
Vivendo sem carinho e sem afago,
As horas, na distância, tão compridas.
Marcos Loures


636

Encontro em meu amor, a deidade,
Buscada em minha vida, por inteiro.
Sabendo distinguir felicidade
Um sentimento puro e verdadeiro.

Almíscar misturado com um ópio,
Inebriado, tento um novo mar.
Distantes dos meus olhos, telescópio,
Procuro nestes céus, sem encontrar.

Vertendo sobre mim, chamas e fogo,
Queimando em tempestades, sem perdão.
Não ouves nem desculpas, sequer rogo,
Dominas com teus olhos, a paixão.

Megera libertina; teu cativo,
Morrendo deste amor, eu sobrevivo!


637

Encontro a redenção antes perdida,
Na trama que se entranha dia a dia
Não quero mais saber de despedida,
Meu sonho junto ao teu, eu sei se alia.

Refaço minha vida dos escombros,
Do quanto que já tive e assim perdi,
Olhando para o sol por sobre os ombros,
Eu vejo tão somente o que há em ti.

Resquícios das antigas garatujas,
Apenas são cruéis caricaturas.
As noites sem amor, frias e sujas,
As horas na verdade são torturas.

Agora, vivo alerta em louca espera,
Colhendo o que plantei, na primavera...
Marcos Loures



638



Encontro a poesia nos teus sonhos
Legítima expressão do sentimento.
Os dias sem te ter são enfadonhos,
Buscar felicidade, inútil; tento.

Não pude perceber, mas me perdoe,
Que a vida nada vale sem saber
Da voz que noutra voz decerto ecoe,
Porém amor precisa merecer.

E sei que na verdade, errei demais.
Um velho caminheiro sem destino
Lembrando-me de dias magistrais,
Agora um marginal, eu me alucino

E chamo inutilmente por teu nome,
Enquanto uma esperança segue, some...


639

Encontro a perfeição da poesia
Em todos os carinhos que me dás.
Fazendo da loucura, uma alegria,
Querendo sempre amor... cada vez mais...

Não rimo nosso amor, pois sei que um dia
Virás deitar comigo. A vida traz
Além do que pensamos; fantasia
Que é feita de maneira mais audaz

No gozo que se explode feito em chama
Depois de tantos beijos. Sedução...
Amor que a gente faz logo nos chama

A todo este prazer que não tem fim.
Encontro no teu corpo, a perfeição,
Da rima que nos faz princípio e fim...
Marcos Loures


5640

Encontro a lua imensa em minha cama,
Deitando seus prazeres e vontades.
Em meio a rituais; felicidades,
São versos e palavras, clara chama.

Ao mar a que se deu em louca trama
A lua se envolveu, intensidades,
Deixando em alvo rastro, claridades
Nas quais; noite absoluta já se inflama.

- Encantos e luxúrias em que invades-

Meu mundo. Um solitário trovador,
Um aprendiz que tenta, em madrigais,
Louvar em cada verso o santo amor,

Trazendo em sonho ledo, a fantasia.
Mal sabe dos segredos, mas quer mais,
Fazer dos seus enredos, alegria...
Marcos Loures


641

Encontrei-te nos ócios desta vida,
Bebendo da sarjeta, o mesmo bom,
Na paz que nunca fora construída
No gosto apodrecido de um bombom,
Por isso é que te adoro, amor, querida....
Roubamos sem saber o mesmo tom...

Fica comigo, amiga, camarada,
A noite se promete em mil relances
Fazer amor debaixo de uma escada,
Sentindo os passos todos nos seus lances,
Transar a luz de cada madrugada
Tomando com prazer estes romances

Do gosto do quem fora, mas se fez,
Nos trapos colorindo insensatez...


642

Encontrei um Deus livre, sem riquezas...
Andando sem calçado nas calçadas...
Um Deus manso, sensato... Das tristezas
Fazia um novo canto, madrugadas!

Um Deus mais solidário. De certezas
Rígidas e macias. Sem espadas,
Sem pensar em tais templos, realezas...
Um Deus Vivo caminha nas estradas!

Pobreza aliviada, miseráveis...
As dores mitigando com sorriso.
Um Deus amigo, brilho cristalino...

As palavras mais doces, mais amáveis...
Esse Deus verdadeiro, mais conciso,
Andava disfarçado de menino...
Marcos Loures


643

Encontrei em ti tudo o que eu sonhara
Poder achar, mulher bela, ideal.
Um cálice perfeito de cristal,
A jóia desejada, pois mais rara.

Nem a beleza da lua se compara
À tua formosura sem igual,
Desculpe, sou assim sentimental
Ao ter em minhas mãos perla tão cara.

E por ti, minha amada, eu faço tudo.
Nas tuas mãos macias, tal ternura
Que encontro no cetim e no veludo,

Promessa deste sonho encantador
Volvendo em minha vida uma ventura
Fazendo relembrar primeiro amor...


644

Encontrei em ti grande fortaleza,
A proteção divina nesta estrada,
Palavra sempre dita com franqueza,
Noite mais bonita e iluminada,

De uma amizade imensa, tal certeza
Permite que eu prossiga na alvorada
Lutando contra toda correnteza.
Fazendo dos problemas minha escada

Mais forte e mais feliz, nunca sozinho,
Contando com sorriso sempre amigo
Vencendo qualquer dor, medo ou perigo,

Mineiramente eu sigo de mansinho
Sorvendo cada gota de alegria.
Das intempéries faço poesia...
Marcos Loures


645

Encontrei em teus braços tanta paz,
Amor e imensidade, sonho e riso.
Decerto desvendei um paraíso
Que sempre com carinho satisfaz,

A noite em mil estrelas sempre traz
Imagem delicada de um sorriso,
Em atos e palavras, mais conciso
Afirmo quanto amar nos faz capaz

De termos mais libertos nossos sonhos,
Voarmos amplidões em alas soltas.
Amor que tem arcanjos em escoltas

Permite que sejamos mais risonhos,
Usufruindo sempre da alegria
Sob as bênçãos divinas da poesia.
Marcos Loures


646

Encontro amor, oásis num deserto
Um beduíno sonho em caravana
O tempo de viver se faz liberto
Enquanto uma esperança me engalana.

No quanto te desejo e nada sei
Da solidão que outrora fora imensa.
Vivendo nosso amor, adentro a grei
Aonde uma alma em luz agora incensa.

Espectros do passado não mais rondam,
Deixando em liberdade o meu caminho,
Já se procuram mãos, fronteiras sondam
Sabendo vasculhar prazer e ninho.

Bebendo com vontade cessam sede;
Meus lábios nos teus lábios fazem rede
Marcos Loures


647

Encontro a tempestade dia-a-dia
E bebo com vontade cada gota,
Minha alma prosseguindo boquirrota
Roubando do meu verso a fantasia.

Encontro tão somente a caquexia
Aonde o bem querer agora esgota,
Uma ilusão guardada na compota
Expõe o quanto sinto e o que eu queria

Um cão ladrando à lua suas dores,
Horríveis os jardins que não tem flores,
A boca não encontra dentição.

O verso que te fiz, morreu sozinho,
Quem dera se eu tivesse o teu carinho
Fazendo do meu peito um turbilhão.
Marcos Loures



648


Encontro a solução pra minha vida
Nos braços de uma amiga sem igual.
Por vezes minha estrela distraída
Vagando sem destino pelo astral

Não vendo mais um rumo, sem saída
Naufrágio em mar profundo, dor fatal,
Quem teve uma esperança assim perdida
Numa amizade vê-se triunfal.

E sabe cultivar, decerto, a flor
Brotada nos jardins de uma esperança,
E o sonho que deseja, agora alcança.

Nesta expressão maior do pleno amor
Meus passos se confundem com os teus
Deixando para trás um triste adeus...


649

Encontrarei a névoa menos densa
Ao aportar o meu saveiro em ti,
Desfrutarei em plenitude intensa
De tudo o quanto tanta vez; pedi.

Não temerei os vendavais audazes
Da solidão não sentirei o vento,
Sabendo o manso e puro amor que trazes
Meu verso canta o mais sublime ungüento

Trazido pelas mãos do bem querer
Abençoado, o teu encanto raro,
Que assim permite em alegrias ver
O amanhecer que nos trazendo amparo

Transforma em solução tal contratempo
Que a vida já nos trouxe há tanto tempo.
Marcos Loures


5650

Encontrar a mim mesmo, um desafio
Que embalde tantas vezes me tortura.
A vida sempre traz doença e cura.
Nem sempre a alma congela-se de frio.

Um peito solitário em pleno estio
Tentando a claridade em noite escura,
Minha alma pecadora e sempre pura
Vagando pelo espaço mais vazio.

Tantas vezes procuro meu espelho,
No brilho de meu sol eu me avermelho
E morro sem saber nova alvorada.

Meus versos não me deixam a resposta,
A mesa do meu peito está disposta
Mas nada encontro, vago e não sei nada...
Marcos Loures


651

Encontrando, num brilho, tanto amor
Eu sei que sou feliz, isso me basta,
Um dia amanhecendo em tal vigor
De toda uma tristeza nos afasta.

Compondo a fantasia mais sublime
Não tendo mais temores, vou em frente,
O quanto em farto amor, amor se estime
Mudando a nossa vida de repente.

Vivera, no passando, esta agonia
De ter leda e distante uma emoção,
O canto em esperança me dizia
Da força inestimável da paixão.

Às margens de um amor, vivia tenso
Qual náufrago de um sonho em mar imenso.
Marcos Loures



652

Encontrando esmeraldas e rubis
Quem sabe um Eldorado faça a festa
Do velho coração tão infeliz
Que ainda de teimoso, a boca testa.

Querendo desfazer o que alma diz
Não pode caminhar nesta floresta,
E enquanto a fantasia desembesta
Quebrando numa queda o meu nariz.

Fazendo da ilusão o que eu bem quis,
Apenas o vazio inda me resta.
Amor uma mentira que, indigesta

Deixa a felicidade por um triz.
A moça se mostrando bela atriz
O sonho de um babaca sempre infesta...



653

Encontrando afinal, libertação,
Entrego-me ao poder extasiante
Vivendo a nossa vida a cada instante
Percebo bem mais forte esta emoção.

Na soma em que se dá composição
De seres tão diversos na constante
Certeza, eu me sentindo um navegante
Que faz do amor a sua embarcação.

A música se espalha pelos ares,
Embalando decerto os meus sonhares
No peito harmonizando os batimentos.

Alvissareiro sonho em que se dá,
A força mais sublime que, quiçá;
Apascentará mares violentos...
Marcos Loures


654


Encontrando afinal felicidades
Depois de tanto medo que eu sentia
De perceber insanas claridades
Dourando nossa vida em fantasia.

Nos montes e nos campos, nas cidades,
O sol que em maravilhas irradia
Vencendo assim quaisquer dificuldades
Dois corpos se entrosando em alquimia.

As bocas que se querem, doces, rubras
Amor que tanto quero que descubras
Cobrindo de vontades nosso leito.

Sabendo deste jogo cada lance,
Menina venha logo e não descanse
Com coração fogoso. Amor, espreito.
Marcos Loures



655



Encontrando a saudade, dê lembranças...
Faz tempo que não vejo essa quimera.
A vida transtornada que me dera,
Há muito adormecida. Nas crianças

Que ressuscitei; sempre esperanças!
Foram tantas as vezes, besta fera,
Corroendo-me, cria uma cratera.
Encontrei minha paz nessas andanças

Pelos tempos passados. Fui feliz,
A criança adormece mas não morre!
Ressuscita a trazer felicidade!

E rio novamente, no petiz,
Que nas difíceis horas me socorre.
Não deixando morrer a tal saudade!



656


Encontram perfeição em céus abertos
Palavras benfazejas, carinhosas,
Olhares e sentidos vão despertos
Selecionando flores sabe rosas.

Canteiros da esperança, amor cultiva
Colhendo depois disso um bom perfume.
Minha alma permanece mais altiva
Enquanto esta alegria, cedo assume.

Sentidos aflorando, sigo em frente
Vivenciando o sonho prometido.
Uma emoção perfeita que se sente
Destino: ser feliz; está cumprido.

Porém se deste barco eu perco a vela
Amor em ondas traz uma procela.
Marcos Loures



657

Encontram no teu corpo estes perfumes
As flores que plantei no meu canteiro,
Ao lardo das tristezas e queixumes,
Encontro o doce bem alvissareiro

Forjando uma emoção que nunca pára,
Raríssima beleza sem igual,
A mão que me conduz, também ampara,
Da deusa tão sublime e magistral.

Reinando sobre todos os mortais,
Trazendo o doce alento de um sorriso,
Vencendo estas saudades infernais,
Promete toda a glória em paraíso.

Eu quero ter e ser o teu desejo,
Eternidade em sonhos, que prevejo...
Marcos Loures



658

Encontram neste amor, rumo e saída
Perguntas que não posso mais calar.
A sorte em nossas camas estendida
Não vê qualquer problema em se mostrar.

O céu contaminado que deitara
A escuridão por sobre nossos passos,
Tornando uma alegria quase amara
Perdeu, há tanto tempo seus espaços.

Vencendo o vendaval, amor se encanta
Ludibriando os medos, peito em riste
Sabendo da emoção que é farta e tanta
Não deixa mais a vida seguir triste

Seguimos nosso rumo em destemor,
Atados pelos elos deste amor




659


Encontre o seu aprumo e siga em frente,
Ganhando a eternidade em manso beijo
O amor que se procura se pressente
Num mundo mais gentil que em ti prevejo...

Meu verso vasculhando, ganha o céu,
Procura por pegadas, cada rastro
Deixado pelos passos de um corcel
Nos seios da mulher, puro alabastro,

Estendo as minhas mãos, alvejo o gozo
Aonde eu possa em paz, adormecer.
Por vezes o destino é caprichoso
E impede o mais sublime amanhecer.

Mas quando tem o sopro da alegria,
Sossega, calmamente, a ventania..


5660

Encontrarei no Amor liquidação?
À vista é mais barato? Tem desconto?
Às vezes, imbecil, me desaponto
Gato por lebre eu compro. Vou ao chão...

Pior disso é tentar devolução
Produto com defeito quando aponto,
Percebo, do Vigário o velho conto,
No rosto de quem vende: negação.

Satisfação garante quem oferta,
Ao perceber a casa sempre aberta
Empurra qualquer coisa para mim

Dizendo ser produto de primeira,
Vou ver e no final, já fiz besteira,
Amor sem ter conserto é tão ruim...
Marcos Loures



661



Encontrarei o amor, disso estou certo
Batendo na janela do meu quarto,
Se quando do teu lado, amor desperto
Eu vejo o quanto o tempo se faz farto.

Não quero e nem me aparto deste rumo
Que é feito com certeza em luz divina.
Tocando no teu corpo eu sempre assumo
O quanto esta fornalha me alucina.

Tristezas são deixadas ao relento,
A vida se transforma e me entontece,
Sentindo a profusão em sentimento,
Na pele da mulher o sonho tece

Bordados em mosaicos, traduzindo
A perfeição do amor deveras lindo...


662

Encontra a mais sublime e bela vista,
Quem sobe o sacro amor em cordilheira.
Planície sem igual dali se avista
Mudança muito além da corriqueira,
Nos mares, fortes ondas, clara crista,
O manto da esperança verdadeira.

Cadáveres de sonhos espalhados
Nas praias onde morrem, desde cedo,
Teus olhos nestes mares espelhados
Desvendam do amor qualquer segredo.
Risonhas transparências nestes prados
Afogam num segundo, dor e medo.

Maravilhosamente sou teu par,
Nas ânsias e alegrias, sei te amar...
Marcos Loures


663

Enchentes de florais na primavera
Certeza de um perfume inesquecível,
Amor quando se mostra indivisível
Já torna bem mais mansa a louca fera.

Deitando o seu luar sobre a tapera
A lua traz no amor o seu fusível
E mostra, na verdade ser possível
O sonho que se quer e que se espera.

Temperos que encontrei nos lábios teus,
Adoçam ilusões, matam adeus
E põem tal fartura em nossa mesa.

De tanto que te quis e te esperei
Agora grito ao mundo que encontrei
Uma esperança feita em fortaleza.
Marcos Loures


664

Enchendo a minha pança de lombrigas
Comendo a carne podre dos bordéis.
Assisto toda noite a tantas brigas
Dos homens que se enfronham nos tonéis

Vizinha fuxiqueira faz intrigas
E mostra a qualidade de seus féis.
As coxas, sobre-coxas são antigas
Abelhas dão picadas, já sem méis.

Se encampo pirilampos e corujas
As pernas da morena estão mais sujas
E cheias de perebas e bexigas.

Intrujices matando os esturjões
Os sapos vão virando mil balões
E as horas que passamos são urtigas...


665

Encharcam nossa vida em poesia
Os versos que compões, divina dama,
Se neles reconheço a maestria
Embevecido bebo cada trama.

Quasímodo que busca em Esmeralda
Beleza que já sabe não terá,
Meu peito enamorado assim desfralda
O encanto que procuro sempre e já.

Nas sendas mais divinas reconheço
O quanto a vida é nobre e disso faço
Após a caminhada sem tropeço
A força que se emana em cada traço

De todos os poemas que tu fazes,
A lua de meus sonhos muda as fases...



666

Encontra o Xangrilá que em sonhos vi
O pensamento sempre enamorado,
Deixando a solidão lá no passado,
Adentro a perfeição que existe aqui.

O medo que deveras eu perdi,
À simples sensação de ser amado
A rota deste rio desviado
Desanda até chegar em foz, a ti,.

Teimando no meu peito esta emoção
Permite assim sonhar transformação
Poeira vai tomando em mim assento,

Amor traz em leveza tal encanto
Deitando sobre nós suave manto
Qual pluma; vai bailando com o vento
Marcos Loures


667

Encontra o seu futuro, mais risonho,
Aquele se fez do amor, refém,
Cansado do que fora tão medonho,
Meu barco nos teus braços logo vem
Trazendo o quanto quero e te proponho,
Vivendo eternidade em nosso bem.

Nos copos cristalinos, aguardentes
Tomadas com loucura, insensatez,
Cravando em nossas costas, garras, dentes,
Amor em fantasias já se fez.
O medo de seguirmos penitentes,
Permite que este amor venha de vez

Mudando, de repente, o nosso rumo,
Amor inesgotável, eu assumo.


668

Encontra o cais perfeito em teu desejo
O amor que tantas vezes vagou só.
Bebendo a claridade que ora vejo,
Da saudade não sinto nem o pó

Deixado nas estradas que passei,
Em fartas ventanias levantado.
Agora que o caminho eu encontrei
Tristezas já são coisas do passado.

Retrato deste amor que me liberta,
Fornalhas em carinhos e prazeres.
A lágrima em meus olhos já deserta
A sorte está; querida onde estiveres.

E sinto ser possível, num sorriso,
Sentir a mansidão de um paraíso.
Marcos Loures


669

Encontra este vazio, o quase nada
Após a tempestade em que se deu
Amor que há tanto tempo percebeu
Da vida a sorte grande, derramada.

Desejo que se fez somente teu
Morrendo enquanto mata; noutra alçada
Mudando num segundo nossa estrada
Estende na calçada, apenas breu.

Durante tua ausência eu percebi
Que todo este caminho leva a ti,
Nem mesmo uma esperança inda me abrasa,

Desculpe tantos erros e pecados
Durante os dias tensos noutros prados
Quantas vezes; pensei voltar pra casa
Marcos Loures


5670

Encontra esta rainha, perla rara,
O velho cavaleiro em seu corcel.
A poesia mostra o seu papel
E em sonhos pelo menos, sempre ampara.

Aquele que o desejo já declara.
Mergulho neste insano carrossel,
Desfio dos sentidos, carretel
E a boca que não beijo sana, sara...

Sorrir mesmo na vaga tempestade,
Vibrar com a possível claridade
Fazer de cada verso um hino à vida.

Assim, sem ter os ranços do passado,
O peito pela lua iluminado
A sorte da vitória concebida!
Marcos Loures


671


Encharca a nossa vida em esperança
O gotejar do amor que nunca pára.
Convite à fantasia em pura dança
Estende a maravilha, bela e rara.
Nos olhos tão brilhantes da criança
A vida que faz tempo; imaginara.

Espelha o doce encanto do festejo,
Trazendo para nós um belo sonho.
No amor que tanto eu quero; o meu desejo
Nas asas libertárias cedo ponho,
Final em apogeu; decerto almejo,
Fazendo o amanhecer bem mais risonho.

Alvíssaras ao peito que se entrega,
Vivendo sem temor, calmo, navega.
Marcos Loures


672

Encarecidamente eu já te peço
Que deixes, eu ao menos respirar.
O amor que tantas vezes te confesso,
Tomou todo o meu corpo, devagar.

Imerso em tais imagens eu tropeço,
E vivo tão somente por teu ar
Não sei se inda restou meu endereço,
Ou dentro de teus olhos fui morar.

Não sou apenas parte do teu ser,
Tu és a referência, rumo e norte,
Na tua ausência, a vida é quase morte

Não posso mais sequer sobreviver.
Nem sei se assim desejo a liberdade,
Um pássaro à procura de uma grade...


673

Encare assim qualquer adversidade
E o tempo mudará, tenha a certeza,
Em ti vivendo o Deus que é de verdade,
Terás bem farta a sorte em tua mesa.

Quem sabe conquistar felicidade
Não deixa-se levar pela destreza
Da falta de carinho e liberdade
Que mata, pouco a pouco, sem surpresa...

Refaça cada passo se preciso,
O amor tem por sinônimo a vitória
Ao fim do temporal verás a Glória

Troféu que é feito em paz, luz e sorriso.
E saibas que estarei sempre a teu lado
A cada novo tempo desbravado...


674

Encantos que talvez eu não soubesse
Que a noite nos traria em festa nobre,
Amor quando em tal sorte se descobre
Percebe enfim valor de cada prece.

Um mundo mais feliz assim se tece
Dourando uma existência, outrora pobre,
Transforma em ouro tudo o que foi cobre
Quem ama, com certeza, se padece

Encontra uma esperança mais dileta
No dia que virá, uma alegria,
Mostrando todo o bem em que nutria

Quem dera se eu pudesse ser poeta
Assim talvez cantasse com louvor
A imensidão perfeita desse amor...


675


Encantos que este amor tanto me causa,
Vivenciar a tenra mansidão
Das dores e dos medos, mais que pausa,
Final de toda amarga solidão.

Guardando dentro em mim tua lembrança
Eu sei que poderei seguir meu rumo.
A voz que acaricia e que me amansa
Permite que este barco encontre o prumo

E siga sem temer vicissitudes,
Usando como Norte o teu carinho,
E com toda a firmeza de atitudes
Iremos pareados; bom caminho.

Atento aos espinheiros, pedregulhos,
Destemidos e mágicos mergulhos...


676

Encantos deste amor que me transtornam
Em vestes delicadas, véus de seda.
Os olhos empolgados se contornam
Passeio por teus braços, noite enreda

E forma a bela tela dos anseios,
Numa aquarela imensa; mil matizes,
Deitando meus desejos nos teus seios,
Fazendo-nos amantes mais felizes...

Na poesia entorno meus desejos,
Que são bem mais reais do que imaginas,
Seguras meus cabelos, bocas, beijos,
Sou seu corcel, me prendes pelas crinas.

E galopamos nus pela cidade,
Mostrando o que é sentir felicidade...
Marcos Loures


677

Encantos de teu canto, uma sereia,
Chegando aos meus ouvidos, conquistando..
Deitado sob o sol em plena areia
Ouvindo-te e com isso me enlevando,
Teu fogo delicado me incendeia
Cada vez mais estou me apaixonando

Pela mulher que sei maravilhosa,
Pela menina meiga, encantadora.
Um colibri procura pela rosa
Tenha certeza, amada, ele te adora,
Pois tu és dentre todas mais cheirosa
Eu quero te sentir, comigo, agora...

Entregue totalmente ao teu cantar,
Só penso, sem descanso, em namorar...


678

Encanto em profusão, nossa aliança
Pressupõe risos francos, fartos gozos,
Trafego por espaços prazerosos
E à terna fantasia, amor alcança.

Olhar enamorado por léguas trança
Invade os arvoredos mais frondosos
Grileiro enfrenta os riscos tenebrosos
Até chegar à senda bela e mansa.

Caminhos que desvendam meus segredos
Permitem vislumbrar novos enredos,
Pujantes esplendores da esperança.

Envolto pela luz em que tu brilhas,
Por mais que sejam duras nossas trilhas
Quem ama de verdade não se cansa.
Marcos Loures


]679

Encanto de uma vida, só prazer,
Espalhas maravilhas aonde andas
A lua se deitando nas varandas
Em farta claridade a recolher.

O verso se encantado passo a crer
Em noites mais poéticas e brandas
Dançando fantasias em cirandas
Louvando a cada sonho o bem querer.

Cevando a minha sorte em teu abraço
Riscando em ilusão eu me embaraço
Nos pés de quem conheço a perfeição.

Cuidando do canteiro da esperança
Felicidade plena amor alcança
Colhendo as flores raras da emoção.
Marcos Loures


5680

Encantam-me teus olhos sedutores
Com jeito de farol por sobre o mar.
Nas pedras, nos atóis, nos estertores
Das ondas que se quebram, preamar...

Meus dias são dos teus adoradores,
Certeza tão gostosa de sonhar.
Nos beijos, nos olhares sedutores
Mergulho e sempre quero naufragar.

Olhar em azulejo rouba o céu,
Em prismas multiplica tons, matizes.
Um arco íris formando um raro anel,

Roubado de teus olhos moça bela,
Curando tanta dor em cicatrizes,
Futuro em girassol, já se revela..


681

Encantam pintassilgos na gaiola,
Da mata que cantavam nada resta,
O mártir que ensinaram lá na escola,
Depois do feriado, vem a festa...

Nas feiras que investiste uso estola,
Os versos que me encantas não contesta,
Não quero teu carinho como esmola,
Amor que não se dá nunca mais presta....

Cabeleira alourada e perfulgente,
Nos brilhos deste sol fazem reflexo,
Amparos que me dás, impertinente,

Os olhos que me trazes são quimeras...
Te quero meu amor, delírio e sexo.
Não posso penetrar essas crateras...
Marcos Loures


682

Encharca o meu viver, pura alegria
E mostra um novo rumo mais audaz.
Ao ter o bem enorme que eu queria
A vida num momento satisfaz

E mostra ser possível novo dia
Imerso em plenamente em rara paz.
Vivendo livremente a poesia
Uma esperança a mais o sonho traz.

Eu sinto o seu bafejo, amor imenso,
E bebo cada gota desta fonte,
O sol raiando belo no horizonte

Ao invadir meu quarto forte e intenso
Trazendo em cada raio o teu calor
Expressa a maravilha feita amor.


683

Encharca nossa noite em tentação,
Volúpias entre seios, coxas, pernas.
Carícias em delírio, sempre ternas
Explodem em delitos, furacão...

Pecados em total profanação
Vestígios de desejos entre chamas,
Mergulhos em lençóis, divinas tramas
Mostrando na nudez, provocação.

Chegando de mansinho, palmo a palmo,
Rezando no teu corpo cada salmo
Venero em doce altar, gozo supremo.

Roçando tua pele, não me canso,
E quando ápice louco eu alcanço
Num fogo sem limites eu me extremo..
Marcos Loures


684

Encaixado em teu cálice perfeito,
Percorro eternidade em cada toque.
Amor que se entregando é satisfeito
Trazendo para a vida um novo enfoque.

Amores cultivados, sem estoque
Permitem a loucura no meu peito,
Estrelas carregando de reboque
Deitadas, reluzindo no meu leito.

Amores que se foram já faz tempo,
Quem dera se somente passatempo,
Feridas mais profundas me causaram.

Os dias tão sangrantes sem ninguém,
Apenas a lembrança amarga vem
Nos olhos que em teus sonhos mergulharam...

685

Emudecendo a voz do coração
Depois que tu partiste e me deixaste,
A vida maltratando grita o não
Uma esperança é quase uma fina haste
Que enverga-se ao poder de um furacão,
Sofrendo em violência tal desgaste,

Há tanto tempo a voz emudecera,
E o peito em agonia, tão cansado,
Matando em tanto frio, a primavera,
Apenas solidão foi meu legado.
O medo de seguir, terrível fera,
Atando a minha vida no passado.

Porém ao perceber uma amizade
Recuperei a paz, eis a verdade...



686

Empoeirados olhos tão distantes,
Nas marcas mais ferozes da injustiça.
Nas cicatrizes fundas, penetrantes.
Dessas batalhas tantas; tanta liça...

Recordo-me de quando o conheci,
Nos ermos dos sertões dessas Gerais.
Aos poucos, lentamente descobri
Que a vida em amizade vale mais...

Ao ter a sensação da fortaleza
Da alma deste cabra sertanejo.
Eu falo da grandeza da pureza
Do grande companheiro que em ti vejo...

Te devo tanto, amigo, e nada diz...
ESPERO que tu sejas mais FELIZ...


687


Emplaco no teu corpo mil vontades
De ter teu gozo pleno em tal luxúria
Que a noite satisfaça as ansiedades
Das peles que se buscam, santa fúria.

E sinto em cada orgasmo, nova senda,
Caminho divinal ao paraíso,
E aos poucos tesa boca já desvenda
O rumo que se mostra mais preciso.

Aloco meus prazer conforme queres,
Recendes aos delírios incontidos.
Bendita com certeza entre as mulheres,
No império deste amor, em mil sentidos.

Além do que sonhávamos, querida,
Ao êxtase supremo, a nossa vida...


688

Empalideço, tremo quando escuto
Falar nessa mulher que eu amo tanto.
O medo se formando tão astuto
Nunca impede que eu veja seu encanto.

As folhas sussurrando sempre chamam
Por ela que se encontra tão distante.
Meus sonhos, nas lembranças, já se inflamam
E quer seu amor mesmo inconstante.

Nesse beijo partido que carrego,
O gosto inda se encontra em minha boca,
Eu amo, sempre digo e nunca nego,
Pra tanto amor, decerto, a vida é pouca.

Num oceano imenso sou a ilha
Gaivota, se voltar... Que maravilha!


689

Emoldurando assim divinas flores,
Tornando mais sublime o meu jardim,
O céu em fantasia ganha cores
Reflete esta ilusão dentro de mim.

Contigo caminhando aonde fores
Convites para a festa sem ter fim,
Nos lábios mais macios, refletores
Tocados pelo lume carmesim.

Ser teu e nada mais, eis meu destino,
No quanto sou feliz, eu já me atino
E vivo tão somente esta alegria.

Na radiante estrela matutina
Reflexo de teus olhos de menina,
Trazendo a claridade ao belo dia...


5690

Emites, solitária este suspiro
Vagando em pensamentos pela rua.
Ao vê-la, extasiada assim, deliro
Imaginando a deusa, a diva nua.

Aos braços do infinito eu já me atiro,
Minha alma tresloucada continua
Versando em ilusões o que prefiro
Estar mesmo em delírio frente à lua...

Expresso em versos tolos a emoção
De ser imaginário companheiro
Que siga junto a ti, o tempo inteiro

Roubando sutilmente o teu clarão.
Expondo o coração, milhas e léguas
Navego em fantasia sem ter tréguas...


691

Emerge entre lençóis, seda e cetim
Estrela que pensara já perdida
Sentindo o teu perfume em meu jardim,
Recendes ao perfeito amor, querida.

Paixão vai entranhando dentro em mim,
Mudando todo o curso de uma vida,
Eu tenho tanto amor, e sei enfim
Da sorte neste amor já concebida,

Encontro nos meus dias, finalmente,
Motivos para estar bem mais contente
Toando em alegria esta canção.

A vida se mostrando por inteira
Não deixa que se tenha e nem se queira
Saber o que se fora precaução...
Marcos Loures



692

Embromas quando diz que inda virás
Não vejo solução para este caso,
Amor que se perdeu vai ao acaso,
Eu sigo e vou correndo sempre atrás

Às vezes sou insosso outras voraz,
Porém já me condeno ao mesmo ocaso
Que outrora ponteara além do prazo
O templo que busquei, não fui capaz.

Capacho dos teus sonhos, rastejante,
Fotografia inútil, fascinante
Jogada nestes álbuns do passado.

Forjando da ilusão uma picada
Unindo o nada ter ao ter mais nada,
O rei sem ter rainha, destronado...
Marcos Loures


693

Embrenho-me voraz em bela senda
Adentro maravilhas, sigo em frente.
Enquanto maga trilha se desvenda
A tarde se derrama mais ardente.

Vislumbro, extasiado este tesouro
Guardado a sete chaves, rara jóia...
O barco procurando ancoradouro
Qual fosse pra Odisseu vencer em Tróia.

Depois de tanto tempo, tantas lutas
Vencendo as mais temíveis tempestades
Encontro finalmente as raras grutas
Que possam traduzir felicidades.

Orgástica loucura, festa plena,
O sol emoldurando toda a cena...
Marcos Loures


694

Embrenho meu desejo mais incrível
No sítio umedecido por prazeres.
Querência em que se mostra os meus quereres
Cadência com furor quase intangível...

O amor se faz perfeito, incorruptível
Servido com tesão, fartos talheres,
Do jeito e da maneira que vieres,
Farei o que puder, mesmo impossível.

Usando desta alquímica loucura,
Amor não intimida quem o ceva.
Depois do caminhada em plena treva

Na noite quase ascética em tortura
Eu posso desfrutar de tal delícia
No caldeirão, poção feita em malícia...
Marcos Loures



95

Encanta-se e se mostra mais feliz
Meu coração ao ver no calendário
A data que eu queria houvesse bis,
Anotada em meu peito, num fichário

E toda uma alegria já me diz.
Meu passo que jamais se fez sectário
De toda uma amizade, um aprendiz
Comemorando o teu aniversário

Traduz em alegria o bem supremo.
Contigo nem tempestas jamais temo,
Alvissareiro dia se aproxima

Nos brilhos das estrelas, tanta festa
Uma esperança em vida agora gesta
Aquela por quem tenho rara estima.
Marcos Loures


96


Encaixo os meus quereres na lembrança

Do tempo em que nós éramos felizes,

Agora só restaram cicatrizes

Do que morreu sem dar uma esperança.



Um dia ao me lembrar com temperança

Daquilo que inda em sonhos tu me dizes,

O céu modificando seus matizes,

Gerou em belo invólucro, a mudança.



Assim depois da longa caminhada

Vazia sem destino por aí,

O amor que a gente tem redescobri



Dando em minha vida uma guinada,

Ouvindo a tua voz, eu posso crer,

Na volta soberana do prazer...
Marcos Loures



97


Encaixe
Perfeito
Na praxe
Do leito
Abaixe
Com jeito

Espero,
Pois gosto
Sincero
Recosto
Sem fero
Desgosto

Contigo
Me abrigo...
Marcos Loures



98



Embora te pareça brincadeira,
Amor que trago assim é mais sincero,
Durante minha vida quase inteira
Amor só se mostrara triste e fero.

Depois de ter amor como bandeira,
Somente um grande amor é o que mais quero.
Estrela radiante em luz primeira
É tudo o que preciso e tanto espero...

Amada, não percebo esta ironia
Pois sei o quanto estás bem mais feliz
Vivendo em cada dia esta alegria

De ser a companheira mais constante
Do amor, que nos faz sempre um aprendiz;
Da vida que nos toma por amante...
Marcos Loures


99


Embora tantas vezes sei do espanto
Que toma a nossa vida em incerteza,
Por mais que nos maltrate a vil grandeza,
Um puro sentimento quase santo,

Moldando nosso dia em tal encanto,
Que enfrenta as duras trevas com certeza,
Nos braços de quem temos, sem vileza,
A sorte de encontrar divino manto.

A voz de uma pessoa gloriosa
Que em nossa voz se torna ressonante,
Transforma a nossa vida num instante,

Floresce em cada senda com vigor,
Mostrando o bom caminho, industriosa;
Fazendo da amizade sacra flor...


5700


Embora tantas vezes fui sozinho
Em busca desta estrela luminosa
Cansado de viver sem teu carinho,
Perceba a solidão em que esta glosa

Deixou o meu cantar sem ter caminho,
Não sei por que tu foste vaidosa
Legando só o relento ao passarinho
Que voa, colibri, beijando a rosa.

Minha alma espedaçada e sem futuro,
Partida quando foste em despedida,
Agora que tu voltas da partida,

Acostumado ao vil e triste escuro,
Ao ver tal claridade me ofuscando
Eu sinto que inda estou demais amando.
Marcos Loures


701

Embora tantas vezes fui feliz
Não pude nem sequer saber da paz
Que apenas mansidão conhece e traz;
Na verdade vivi só por um triz.

A esperança, esta arcana meretriz,
Aos tolos com certeza, satisfaz;
Porém o seu olhar feroz, voraz,
Ao mesmo tempo alenta e já desdiz.

Alimento com tabaco, o câncer. Sinto
Que meu tempo se encontra quase extinto,
Nem mesmo algum instinto que preserve.

À deriva, o naufrágio não demora.
Em portos turbulentos a alma ancora,
A roupa que vesti já não me serve...



702

Embora, com prazer e liberdade,
A vida não se mostra como eu quis.
Posso dizer que estou bem mais feliz,
Mas isso não comporta uma verdade.

A chama que se mostra em falsidade
Condena à leda treva. A sorte, atriz
Engana o coração, pobre aprendiz
Trazendo no final, a impunidade.

Parceiro do teu sonho? Não sou mais,
Eu sei que o pesadelo sobrepõe
E aos poucos nosso amor se decompõe

Perdendo pouco a pouco os seus sinais.
Angústia; eu sei, virá depois de tudo,
No amor que era de vidro, eu não me iludo...
Marcos Loures



703

Embora uma saudade demonstrasse,
Guardando esta lembrança do passado,
Muitas vezes, talvez já disfarçasse
O medo de um momento delicado

Aonde nada enfim já recordasse
O tempo que perdera; um desgraçado
Que deseja somente um desenlace
Num mundo com certeza mais amado.

Tocado pela mão da triste inveja
Que apenas a mortalha, inda deseja
Caminho em trevas tantas pela vida.

Não tendo mais a sorte como guia
Encontro em teu abraço uma alegria,
Quem sabe, no final, uma saída...
Marcos Loures



704

Embora um sem-noção, sou mais teimoso
Do que tu pensarias se não fosse
O verso que moldei quase agridoce,
No fundo o que me importa, cais, repouso.

Sereno não chegou, nem mais o gozo,
A vida não tomou do amor, a posse,
Sem nada que me diga que inda posse
Falar de um sentimento tão gostoso.

Eu vivo em passatempos e galáxias,
Termômetro da vida é liberdade.
Paragem que visito, na verdade,

Quebrando o sentimento em neuropráxias,
As praxes mais constantes soam falsas,
Meus sonhos aos teus sonhos, mais que balsas...



05


Embora tu não creias, eu te adoro!
E vivo tão somente pelo amor
Fazendo de meu canto, este louvor.
Perdoe se distraio ou me demoro.

A cada novo encanto revigoro
O sentimento feito em tanto ardor.
Regando com carinhos, colho a flor
Meu barco nos teus braços; cedo ancoro...

Não quero que tu sigas tão distante
Dos olhos e dos lábios que te querem.
Sonhando com teu corpo a cada instante

Saudades me maltratam e me ferem.
Ser teu é minha sina, meu destino,
Contigo, um claro dia, descortino...
Marcos Loures



06


Embora teus carinhos, sei aos molhos,
Não posso desfrutar integramente.
Esmeraldinos, belos os teus olhos
Brilhantes a tocar, tão inocentes.

Futuros que me mostras são zarolhos
Rancores demonstrados, tolamente,
Tu serves de repasto a tais piolhos
Que vagam no teu cérebro, t’a mente.

Percebo a fetidez de cada flato
Que emanas em locais bem mais diversos.
Desculpe se descrevo este mau fato

Bendito quem não mente, salvador
De olfatos. Mas perdoe estes meus versos
Que enaltecem, por certo cada odor...


07

Embora tenha pressa em te querer
Espero se preciso mais mil anos.
Um desejo ardoroso invade o ser
E toma meus sentidos. Soberanos

Momentos onde vívido prazer
Tomava nossos sonhos, sem enganos,
Permita que eu prossiga em me perder
Nos braços que embalaram os meus planos...

Porém sofreguidão, ânsia e desejo
Misturam-se nos olhos de quem ama,
Delírios em teus seios, quando arquejo

Na angústia de te ter e não tocar,
A pele se desnuda, em lava e chama,
E clama ansiosamente, busca o ar...


08


Embora te pareça ser feliz,
Eu, na verdade sofro imensamente
Distante de quem amo; de repente,
Teu corpo em minha pele, cicatriz.

O quanto eu te desejo, o verso diz,
Porém vago tão só. Neste inclemente
Deserto em que o vazio já se sente
Negando o que decerto, eu sempre quis.

Permita-me falar desta tristeza
No causticante vago que legaste,
Sorriso que hoje trago por defesa

Apenas um disfarce, esteja certa
Que em todo grande amor resta o contraste
Do sonho com o frio sem coberta...
Marcos Loures


09

Embora se prometa um fino gozo,
Em bocas venenosas, ira acesa...
A tempestade invade o meu repouso
Nas coxas mais roliças da princesa...

Um fogo tão voraz, delicioso
Rebenta na fogueira da incerteza
Bebendo deste mar, maravilhoso
Cedendo a seus desejos: natureza...

Porém contrapartida miserável
Mostrando-se em respostas tão funéreas.
Roubando toda a cena, leda, instável.

Serpente me encantando em seu disfarce
Das noites as heranças vis, venéreas
Escondidas decerto em bela face...



5710

Embora o medo trame gargalhadas,
Eu sinto que não posso mais deixar
As mãos tão delicadas, tão amadas
Daquela que me trouxe esse luar.

Se do infinito surge nova lua
No plenilúnio devo te seguir.
Abstração sideral formosa e nua
Deitada nesta cama a me cobrir.

Possuis encanto raro e desejado
Vejo colares, pérolas em ti.
Recendem a teu corpo tão amado,
Luares, tantas jóias, tenho aqui.

E sinto que meu mundo te pertence;
Sem lutas, teu amor, mais cedo, vence...


11

Embora noutros lábios me encontrei,
Eu guardo o teu sabor junto comigo,
Tempo indeterminado em que nevei
Ausente de choupana e sem abrigo.

Se tanto eu aprendi quanto ensinei,
Vencer os vencedores já consigo,
Roubando o milharal encontro o trigo
Colhido por engano noutra grei.

Acaso se vieres tu terás
O quanto não foi meu e não será
Daquela que jamais soube me dar

O pouco que mereço, amor e paz.
Por isso é que te digo desde já
Que nada do que fomos vai voltar...



12


Embora nossas almas vão contrárias
Em rumos tão diversos, outros fados,
Palavras e paixões imaginárias
Deixando corações tão maltratados.

As nuvens vão passando em cores várias
Porém em duros céus, todos nublados,
A noite se perdendo em noites párias
Legando em seu rastilho, secos prados.

Porém em belos sonhos, junto a ti,
Concebo este prazer que não vivi,
Apenas esperança me consola.

Quem sabe, num momento em viração,
Virás com teu amor ou compaixão,
Dar-me pelo menos uma esmola..

13

Embora não percebas quanto eu quero
Estar sempre contigo o tempo inteiro,
Do quanto que este sonho já venero
O meu amor foi sempre verdadeiro.

Por vezes eu me calo e nada mais,
É meu jeito, querida tão somente.
Sem ter tua presença eu perco o cais
e o rumo não encontro novamente.

Não deixe que este sonho chegue ao fim,
A seca em que se fez nossa lavoura
Talvez na irrigação encontre enfim
A chama que nos queima e que me doura.

Vencer as tempestades e quimeras
Deixando renascer as primaveras...



Marcos Loures



14


Embora não perceba novidade
- O cheiro dos cadáveres persiste-
Os gestos tão iguais, deslealdade,
O podre em nossa história sempre insiste.

O vento em que se buscam liberdade,
Morrendo pouco a pouco inda resiste.
Aos vermes a total saciedade
Um sonho de esperanças inda existe

Ao fim de toda liça, mesmo inglória
Nos gestos ilusórios de vitória
Resquícios de um amor em olhos mansos

Daquele que, explorado não explora,
Nos dedos de quem sonha e sempre implora
Sem nojos, sem maldade e sequer ranços...


15

Embora não deseje, eu sinto que vou tarde,
O gosto da saudade, o cheiro deste incenso,
O mar sem claridade, o meu amor imenso...
A vida me maltrata e corta fundo, me arde.

Bem sei do meu destino, aqui estão as chaves.
Depois de tanta treva aguardo, enfim, a luz
Que sei que não virá, pois nada mais reluz
E nem nestes meus céus, o revôo das aves...

Nas hordas sou falena em busca do luzeiro
Mas nada mais me resta, os olhos tristes nevam...
Aos céus em pouco tempo os braços já me levam

E tendo em minhas mãos o gosto verdadeiro
Deixando bem distante o bem da poesia,
A noite se aproxima e traz tanta agonia...


16

Embora não consigas compreender
Não nego e nem neguei o nosso amor,
Apenas procurei me convencer
De que eu seria, assim, merecedor

De todo o sentimento que dizias
Naquele dia frio e desolado.
Guardando-te nas minhas fantasias,
Te digo, também vou enamorado..

E quero ter t'a boca carmesim,
O gosto mais suave deste beijo
De tanto amor que tenho; amor sem fim,
Eu quero me entregar ao teu desejo

E, juntos caminharmos vida afora,
Espero o teu amor, mas vem agora...



17

Embora me negasse teu amor
Não me sinto, por isso, derrotado.
Nem sempre se encontrou um vencedor
Deixando um sentimento bom de lado.

Guardando esta verdade aonde for
Quem perde pode ser recompensado.
Distante de quem vive em desamor,
Uma esperança brota do passado.

E saibas que isso tudo me faz ver
Que a vida traz lições, querida amada,
O dia sempre irá, pois, renascer,

No brilho de outro sol, noutra alvorada.
Quem tudo nesta vida pensa ter,
Depois de certo tempo, vai sem nada...


18

Embora idealizada; verdadeira,
A sensação do amor que tanto aflige,
Queria ser a loa derradeira,
E ter a perfeição que amor exige.

A noite tão distante do teu colo,
Expõe cada pedaço do que sou.
Arando tantas vezes, duro solo,
Apenas cardo, espinho, o que brotou.

Ternura que se dá e desabriga,
Pranteia o coração vagando ao léu.
De lágrimas minha alma já se irriga
Buscando um azulejo em cinza céu.

Meu canto se tornando, agora triste
Pergunta se esta estrela ainda existe..



19


Embora fugidio, eu quero e espero,
O gozo de um momento mais feliz.
Se o velho coração já me desdiz,
Entrego o meu olhar, manso e sincero.

Vivendo tão distante do que quero
Serena madrugada ou tarde gris,
Exposta a mais antiga cicatriz,
O tempo se moldando com esmero.

Refaço antiga trilha em esperança,
E quando ao infinito, amor me lança,
Demarca com cuidado novas trilhas.

Verei, quem sabe, a luz de teu olhar,
Tramando em calmaria este luar
Que há tanto prometera maravilhas...


5720

Embora eu saiba, não terei um cais
Persisto sempre na viagem tola,
Enquanto o vento em tempestade assola
Percebo o quanto eu não terei jamais.

O amor não traz as chaves dos portais
É necessária a mão que em vão controla
Uma alma audaz que num amor decola
E se perdendo em sonhos magistrais

Não poderá reconhecer a face
Da solidão que nos disfarces trace
Seus descaminhos penetrando em nós.

O solitário beijo diz pantera
A vida em dor ao postergar espera
Já sabe: não virá mais nada após
Marcos Loures


21

Embora tantas vezes bem escuro,
Caminho que busquei foi sem espanto.
Além desta verdade que procuro
Em cada novo dia, novo canto.
O chão que sem promessas se fez duro
Agora não suporta mais meu pranto.

Enquanto simples rumo que eu trilhava
Mostrava mais percalços que alegria,
Inútil meu olhar se ensangüentava
Na sombra mais cruel do dia a dia,
Vulcão que se perdeu sem ter nem lava
Não deixa fumegar a poesia.

Minha alma incandescente vai, soturna,
Embrenha sem ter rumo em negra furna...


22

Embora destruído tantas vezes,
Sem ter na vida apoio, sem ter hastes,
Cansado de enfrentar vários reveses
No peito o sofrimento em vis desgastes,

Não posso defender antigas teses
Nem mesmo usufruir o que legastes
Distante de teus olhos, vou há meses
Na busca do que em sonhos me deixastes.

Procuro, na verdade por defesas,
Que possam permitir passo preciso,
Amor não se concebe e longe dele,

Tentei deixar as costas quase ilesas,
Somente na amizade, e em seu sorriso,
À verdadeira paz, amor compele...
Marcos Loures



23

Embora adoentado não cansava
De ter uma esperança de voltar
A mão bendita enfim já me tocava
Trazendo esta vontade de entregar

Um coração exposto em quente lava
Distante, muitas vezes, do luar.
Minha alma se renova quando lava
Meus olhos nos seus braços, velho amar.

Retorno e te encontrando amada amiga,
Percebo quanto a sorte me é tão grata
Por vezes solidão quando maltrata

Não vê quão forte amor já nos abriga.
Bebendo desta luz argêntea prata
Permite a sorte enfim, que assim prossiga...
Marcos Loures



24

Embevecido olhando tal beleza,
Decifro os teus sinais, encontro a luz.
Amor quando em amor se reproduz
Supera qualquer forma de defesa.

Dos sonhos e delírios, como presa,
Não trago mais as pedras; largo a cruz,
De toda esta alegria se deduz
Um tempo que o prazer tanto se preza.

O amor vem renovando com seu viço
O olhar antes tristonho e até mortiço
Fazendo da emoção, lugar comum.

Aos poucos, não reparas, mas eu vejo,
Tomado pelo incêndio do desejo
Espelhos de nós mesmos; somos um.
Marcos Loures


25

Embebo meu desejo no teu vinho,
Que em todos os momentos inebria.
Na música suave dum arminho,
Teu vinho me sacia e me vicia...

Momentos sem temor, pudor tão vago;
Nos tragos que me fazem delirar...
Nos lagos resultantes dos afagos,
Sem medo, sem segredos, mergulhar...

A noite em fanatismo se procria
E cria nossos versos em dueto.
De tanto que eu desejo desvaria.
Aos loucos pensamentos, me remeto...

E quero teu amor, manso e dolente.
Na noite que traçamos, envolvente...



26

Embebedo-me deste espetacular vinho
Na lucidez completa insanamente eu vou
Tragando gole a gole o que se fez espinho
Ausências contemplando, entrego-me ao quem sou.

No verdejante olhar o rumo em descaminho,
A carne em frenesi, aos poucos demonstrou
O risco que se corre um louco passarinho
Que para bem distante insano, debandou.

A lua vai se abrindo e neste abrir se despe
Embrenha um arvoredo e faz-se libertária
Na imensidão do mar que em ondas já se encrespe

Perigos de naufrágio, o quanto inda bem sei
Da sensação audaz, intensa e temerária
No amor que conhecia e louco despenquei.

27


Embarque nos teus sonhos, sem temores.
Acalentando em paz, as maravilhas
Que a vida nos permite em raras trilhas,
Deixando no passado os amargores.

Levando a poesia aonde fores
Verás que, qual farol, mais forte brilhas
Nas trevas e em distantes, frágeis ilhas
Com a delicadeza imersa em flores.

Que as sombras do passado não impeçam
O livre caminhar do sentimento.
Teu coração esteja sempre atento,

Senão teus passos trôpegos tropeçam
Negando a claridade do arrebol,
Mal reine sobre a Terra, imenso sol...
Marcos Loures



28

Embaralhei as cartas da esperança,
Jogando na fogueira o teu retrato.
Se o velho coração desaba, ingrato,
A moça desdentada já me alcança.

Não teimo noutro encanto por vingança,
Apenas não cuspi mais em teu prato.
Rompendo desde agora este contrato
Minha alma assim vadia, é minha herança.

Tempero com medonhos risos falsos,
Os pés já permanecem vãos, descalços
Abraços em percalços e ladeiras...

Não tenho mais porquês. Nem quero o rosto
Do louco sentimento sem recosto
Desabo entre as estrelas derradeiras...
Marcos Loures



29

Embaraço a visão quando te vejo
Nas ruas caminhando, passos lentos.
Demonstro, de repente meu desejo
Tomando para mim teus pensamentos

Na maçã destas formas, relampejo,
Nos azuis de teus olhos, por momentos
Sinto o poder celeste do azulejo
Num fascínio divino, tantos ventos.

Nos teus lábios trajetos para o céu,
Neste rubor delitos prometidos.
Sangrando meu fascínio abelha e mel,

Fome extasiante desde agora,
Tomando e lacerando meus sentidos,
Eu peço: por favor, vem e devora!


5730

Embalos que não faço pedem calma,
Na dança que fingi nunca aprendi.
Amor velho goleiro que me espalma,
Pretende ser herói, mas nem aqui.

A quina desta porta trouxe trauma,
Na flâmula bandeira me esqueci.
Um beijo de mulher é que me acalma
Por isso meu amor, eu te perdi...

Frestadas as fenestras e soleiras,
Nos êmbolos seringas nas agulhas.
Amor que não produz tantas fagulhas,

Por certo não completa brincadeiras.
Em lágrimas meu rosto se avermelha,
Das dores não deixei sequer centelha...
Marcos Loures


31

Embora eu não perceba uma mudança
Real depois de guerras e batalhas
Talvez inda persista uma esperança
Na ponta dos fuzis e das navalhas,

Aquele que propaga a velha dança
Já sabe que entranhando estas fornalhas
Carrega bem distante a temperança
E sabe do poder as suas falhas.

Um vendilhão que veste paletó
Um outro se disfarça na batina,
O morto que se finge sempre só

Depois de certo tempo descortina
A glória que trará tal liberdade
Guardada nos escombros da amizade...


32

Embora em agonia, eu sou feliz,
Um paradoxo expresso neste amor
Ao mesmo tempo brando; num torpor
Explode em emoções qual chafariz.

Carinhos que se fazem bons e vis,
Olhares traduzindo o sonhador
Titubeante passo a me compor
Negando enquanto traz o que mais quis.

Amor que sonegando faz a glória,
Ao mesmo tempo exclui numa vitória
Marulhos em deserto, em preamar.

Estrela que se deu em céu e mar,
Deste ostracismo surge a jóia rara,
Enquanto claudicante, me antepara...
Marcos Loures



33


Embora diabético eu garanto
Que o mel de tua boca me conquista,
No corpo da morena tal encanto,
Delicioso gozo em bela vista.

O amor que a gente quer não tem quebranto,
Por mais que a tempestade ainda insista
Eu sei que eu te desejo sempre e tanto,
Nas ondas de prazeres, vou na crista.

Errático, o meu peito tanta vez,
Perdido sem ter nexo ou lucidez,
De amores enganosos se proveu.

Porém depois de ter te conhecido,
Agora vou inteiro e não duvido,
Meu coração somente quer ser teu...
Marcos Loures


34

Emano tanto amor por cada poro
Sempre, quando te vejo louco fico.
Nos olhos que me mostras, me demoro,
Em tanto amor que tenho me edifico.

Mas sabes que não volto sem perdão
Por isso te proponho nova vida.
Abrindo com certeza o coração,
Pedindo, por favor, não mais divida.

Se nada saberia te dizer
Pedindo-te que fiques por aqui.
Achando-te começo a me perder
De amores que mais livre, me prendi.

Por Deus, abençoada a minha sorte.
Eu te amarei querida até na morte!


35


Embale-me nos sonhos que tu sonhas...
Nos braços que ofereço minha sorte.
As noites porventura são risonhas
O canto deste amor é bem mais forte...

Eu quero tua boca me roçando
De leve, nos momentos cruciais.
Aos poucos perceber que estou amando,
Bem mais do que eu amei, assim, jamais...

Não sinto mais o frio que teimava
Nem mesmo a solidão, velha ameaça.
Enquanto nosso amor deliciava,
Dançando de alegria, em plena praça.

Agora que eu já tenho o que eu quis
Eu falo aos quatro ventos: sou feliz!



36

Embalde, tantas vezes procurei
Seguir algum caminho que me desse
Além de simplesmente reza ou prece,
Certeza de viver tão nobre grei.

Dos homens, conhecendo cada lei,
Do tanto que esta vida me oferece,
Meu coração cordato que obedece
Tentando decifrar o que não sei.

Rondando pelas ruas e sarjetas
Vielas e favelas, botequins,
Em meio a fartos nãos e raros sins

As pernas da esperança vãs, cambetas.
Porém a luz suprema ergue-se em breus,
No amor e no perdão, encontro Deus!
Marcos Loures



37

Embalde tantas vezes procurei
Pelas ruas e estradas, o meu rumo...
Por vezes acredito que acostumo,
Mas sempre que puder eu lutarei...
Esse caos que em meu mundo foi a lei
Não pode permitir meu novo aprumo,
Em espinhos fatais já me perfumo.
Porém deste seu rosto esquecerei!

Não me venha falar inda me quer.
Eu busco cegamente uma mulher
Que me traga essa luz que já vivi.
Por certo irei buscar a claridade,
Embora na cegueira da verdade,
É nela que estará o que perdi!

38

Embalde tantas vezes procurei
Pelas ruas e estradas, o meu rumo...
Por vezes acredito que acostumo,
Mas sempre que puder eu lutarei...

Esse caos que em meu mundo foi a lei
Não pode permitir meu novo aprumo,
Em espinhos fatais já me perfumo.
Porém deste seu rosto esquecerei!

Não me venha falar inda me quer.
Eu busco cegamente uma mulher
Que me traga essa luz que já vivi.

Em Sheila irei buscar a claridade,
Embora na cegueira da verdade,
É nela que estará o que perdi!
Marcos Loures



39


Embalde procurei-te, movediça...
Nas vezes em que busco nunca estás
A vida me permite tanta liça
Às vezes sem querer, perdendo a paz...

Nas noites que emergi, farta cobiça.
O tempo não voltou nem volta atrás
Saber teus rumos, nunca fui capaz...
Nos sonhos,meu delírio nunca viça.

Sem brilho, o meu olhar não te retrata
São as flores e espinhos da paixão.
Loucura se transforma em obsessão.

À lua companheira que insensata
(Pois sempre ouviu a voz do coração)
Hoje procura te encontrar: Razão!



5740


embalas os meus sonhos, acalantos
que fazes às estrelas noite afora,
desejos que se somam e são tantos
enquanto a poesia não demora

e traz em nossas vidas tais encantos
nos quais a fantasia revigora,
cevando esta harmonia, nossos cantos
forrando de belezas desde agora

os astros que nos miram desde o céu
belezas num cortejo em carrossel
decoram com seus raios, fantasias.

o amor ao espalhar seus adereços,
cevando em alegria os recomeços
espalha em nossas vidas, melodias...
Marcos Loures



41


Embalam-me teus versos; melodia
Assaz maravilhosa que ora escuto,
Embora eu te pareça, às vezes bruto,
Tua palavra trama a calmaria.

Metáfora que esculpes, sonhos cria,
Não deixo de querer nem um minuto
E em plácido recanto eu me transmuto,
E chego mesmo à beira da euforia...

Utópica paisagem? Não mais creio,
Percorro desde sempre o raro veio,
Nas margens percorridas, flóreas sendas;

Destilas farta luz na qual me guio,
Deixando no passado o ressabio,
Seguindo ao Paraíso que desvendas...


42

Emaranhando em nós, todo o prazer
O jogo vai chegando a um termo bom.
Apaziguados, ambos podem ver
O céu se matizando em manso tom.

Aromas que penetram as narinas
De flores tão diversas, perfumosas.
Enquanto tu seduzes, já dominas
Cevando noites belas, maviosas.

Amor em total brilho e com presteza
Não deixa mais sequer que alguém duvide
Da força que ao vencer a correnteza
A sorte em um momento assim decide.

Expresso em cada verso esta verdade:
Amor em plena paz traz liberdade.


43


Emaranhados vários, congruências
Nos mosaicos diversos; entrelaces
Misturas de delírios, nas essências;
Deslumbre mimetiza tantas faces.

Tomados por totais luminescências
Estrelas divinais em que tu grasses
Nos jogos mais audazes, as demências
Encontram complementos sem disfarces.

Neste caleidoscópio de emoções,
Voluptuosamente aos borbotões
Sangramos entre atos e vontades,

Cadenciando a vida? Não consigo...
Mal distinguindo o gozo do perigo,
Ainda posso ver as velhas grades.,.



44

Em ventos convulsivos que se agitam
Um sentimento duro, mais altivo;
Distantes, ermos, mundos quando fitam
Não deixam, na verdade, nada vivo.

Os medos tão insanos já palpitam
E deles, minha amiga, quando esquivo
Percebo que doridos sempre gritam
Aqueles dos quais, fujo e assim me privo.

Dilacerantes ventos da maldade,
Atando humanidade qual rebanho.
Trazendo em gesto opaco, ledo, estranho

A morte do que sonho, liberdade.
Porém valor mais forte em que me entranho
É feito com firmeza em amizade...


45


Em vendavais intensos, a paixão
Mais forte que as tempestas, traz bonança.
Vestindo uma alegria, em festa dança,
Enchendo um embornal, pura emoção.

É quase um maremoto em tentação
A boca que promete e que se alcança.
Não sabe nem pretende a temperança,
Rasgando todo o peito, um furacão.

Amar é ser feliz? Por certo não.
Porém o que fazer se a vida lança
As garras bem mais fortes da ilusão

E sem temor, o dia assim se avança
Cravando uma semente neste chão,
Frutificando a vida em esperança...
Marcos Loures


46

Em vagas ilusões, cantos dispersos
Galgando a liberdade sem igual,
Na cama, um verdadeiro festival
Permite estrelas tantas. Universos...

Desejos em desejos quando imersos
Transbordam num divino ritual
Sem ter um vencedor, a triunfal
Beleza contagia assim os versos.

Românticas sonatas noite afora,
O corpo que se entrega e me decora
Fartura de emoções vivo contigo.

E o gozo repetido em glória insana,
Na voz uma deidade soberana,
Prepara ao fim da noite o nosso abrigo.
Marcos Loures


47

Em tudo o que fizeres, a alegria
Será tua bandeira, com certeza,
Quem sabe ter na vida esta destreza,
Um templo em sonhos fartos já recria.

Noites entre luares, fantasia,
Nas bocas que se tocam com pureza,
Rompendo dos temores, a defesa,
Impedem toda sorte de sangria.

Palhoças entre matos, barco e vela,
O amor quando demais sempre revela
O cheiro do jasmim de nossas almas

As horas do teu lado, madrigais,
O vento balançando os milharais,
Negando do passado velhos traumas...


48

Em tuas mãos macias, afiladas,
Carinhos são mensagens divinais.
Tuas mãos, meu destino, são traçadas...
As portas que me deste, meus umbrais!

Tuas mãos são certezas alcançadas,
Companheiras dos velhos carnavais.
Obras primas por Deus imaginadas,
Esplendores dos Céus... Universais!

Em tuas mãos, riachos e nascentes,
Os mares, oceanos se envergonham
Por não terem beleza que compare...

Tuas mãos carinhosas, envolventes.
As ondas que vivemos vem e voltam,
Peço que em tuas mãos a vida ampare!


49

Em tuas mãos amigas eu me entrego
Não disfarçando nunca este prazer
Que sempre está comigo e nunca nego
De um dia ter a sorte de saber

Que tu és companheira tão dileta
Disposta a repartir tua amizade
Fazendo minha vida mais completa
Trazendo toda a paz, tranqüilidade

Nesses momentos duros, complicados,
Onde tudo parece terminar
Em tristes descaminhos maltratados

Sem ter sequer um tempo de alegria
Que possa, em nossa vida, clarear;
Gerando tanto mal em agonia...

Marcos Loures


5750

Em tua voz suave me ensinaste
Que a vida deve ser plena em amor.
No coração tão simples rara cor,
Tua pureza é desta vida uma haste.

O quanto, com certeza me legaste
Permite que hoje eu faça este louvor,
Colhendo mansamente a rara flor
A qual perfuma eterna, sem desgaste.

De todas as belezas, a mais rara,
Aquela que por si só, se declara
Mudando a direção de nossas vidas.

Quem tem a alma tão pura vive em Deus,
Ensina-nos seguir em plenos breus
Nas luzes dentro da alma concebidas...

PARA CARMITA LOURES,
RITA REIS
E CIDINHO CARVALHO.
PESSOAS QUE COM A ALMA PURA ENSINARAM
O VERDADEIRO SENTIDO DO AMOR E DO CRISTIANISMO



51


Em vôos delicados, já se espraia
A pomba da aliança prometida.
Lutamos neste amor por toda a vida
Antes que a solidão final nos traia.

Jogados numa areia em vaga praia,
Nós buscamos opção, outra saída
Que impeça nossa estrada estar perdida
Sem que o pano final da peça caia...

O medo de perder é tão intenso
Qual fora um nevoeiro negro e denso.
Porém a sorte imensa e verdadeira

Se faz em cada gesto de carinho.
Qual ave que constrói um novo ninho
Mesmo que seja enfim, a derradeira...


52

Em versos maldizentes e profanos
Talvez fosse mais fácil decifrar
Caminhos que perdidos, em enganos
Não deixam um cristão já caminhar.

Passando sem pudor por muitos anos,
A quem deseja assim mais enganar?
Os reis, ritos papais, por soberanos
Levaram às ovelhas falso mar

Aberto sobre aqueles que pensavam,
Na adaga que encostada no pescoço,
Podres poderes sempre demonstravam.

Agora a fera mostra-se em colosso
Retroagindo ao tempo sem razão.
Só falta renascer a inquisição!


53

Em volta desta lâmpada, a falena,
Se perde e se queima, morre cedo,
Assim desconhecendo este segredo,
Também minha alma louca já se acena,

Na fantasia atroz, mesmo serena,
Enlaça-se contigo neste enredo.
Caminho tão difícil que enveredo,
Trazendo tal feitiço em noite plena.

Se morrerei ou não, isso não sei,
Apenas eu deixei me seduzir,
Não tenho mais vontade de partir,

Contigo o tempo inteiro eu estarei.
No final, machucado, até ferido.
Mas vale sempre a pena ter vivido!



54

Em versos o reverso da medalha
Amor em solidão ou solidez?
No amor não posso ver esta mortalha
Sacrário onde não reina a sensatez.

Embora se borrando, a vida falha,
No canto tanto encanto quanto fez
Espero que este sonho, uma navalha
Não corte nossa sorte dessa vez.

As cinzas do cigarro alçando o céu
Em nebulosa tarde se transforma.
Azeda de repente o doce mel,

Quem veio deste sonho se deforma
Amor sem ter limites, não quer norma,
Apenas se entregar, em carrossel...
Marcos Loures



55


Em versos desconexos, malfadados
Distante de teus olhos me perdi,
Lançados com certeza, novos dados,
A sorte finalmente eu conheci

Caminhos maltrapilhos desviados
Encontro a plenitude sempre em ti.
Ao vislumbrar assim divinos prados
Decerto tanto amor estava aqui.

O amor faz necessária cada rega
Floresce então em rara maravilha.
A glória que essa luz ora engatilha

Por mares mais tranqüilos já navega
Ceifeiro da esperança, o verso agora,
Percebe quando amor intenso aflora...
Marcos Loures



56


Em versos dedicados
Perfaço meu caminho,
Amores delicados,
Se encontram no meu ninho,

Dos sonhos destroçados
Andava tão sozinho,
Por sorte, tantos Fados,
Trouxeram teu carinho...

Assim,amada amiga,
Meu canto transformou,
A noite que se abriga

Nos versos me mostrou,
Que a vida em forte liga,
Enfim, iluminou...


57

Em trilhos bem mais fortes da esperança
Após espinhos tristes, pobre rosa,
Convido-te querida, para a dança,
Da vida em nosso amor, maravilhosa.

Um sonho tão gostoso não se cansa
Deixando quem se adora um tanto prosa.
Fazendo esta magia uma aliança
Da noite tão divina que se goza.

Eu quero sempre estar, amor, contigo;
Galgando nossos olhos, infinito.
Envolto nos teus braços, sempre em viço.

Tu és além do sonho que persigo,
Refletes novo mundo mais bonito.
Tomado pelo amor, doce feitiço...


58

Em tramas mais perfeitas, magistrais
Amor já reconhece uma saída.
Adentro por espaços siderais
E vejo em força plena decidida

A sorte de quem ama e quer bem mais
Que um simples sentimento em sua vida,
Mergulhos em vazios colossais
Impedem esta sorte concedida

A quem sabendo sempre da tristeza
Percorre em labirintos, solidão.
Tramando o renascer, amor então

Estende com vontade e mais firmeza
A corda que nos salva da tempesta,
Trazendo ao nosso peito, plena festa...
Marcos Loures


59

Em torno de uma lâmpada meus sonhos
Estúpidas falenas vão morrer.
Há tanto que não pude percorrer
Metaforicamente decomponho-os.

Quando estrondosamente são bisonhos
Ainda teimam ver algum prazer
Rastejando nos vãos do entardecer
Demônios deglutindo mais medonhos.

Pesando em minhas costas tal falácia
Permite ao versejar qualquer audácia
E mesmo que isso impeça o poder vê-los

Ao lado das promessas não cumpridas,
Estrias de minha alma corrompidas,
Anúncios dos mais torpes pesadelos...
Marcos Loures


5760

Em todos os sentidos que nos prendem
Atentos entre lábios e mordidas,
As mesmas emoções que se pretendem,
Carinham, mansamente, nossas vidas...

Vencendo as tão temidas tempestades
Que tramam toda vez, sempre nos tentam.
Buscando, neste amor, felicidades,
Sabendo que estas dores atormentam..

Eu quero nosso amor sem mais esperas,
Roçando nossas bocas, nossos lábios;
Desejos com desejos tu temperas,
Nesta mistura intensa, somos sábios...

Amor que nunca foi remanso casto,
Tramando em nossa chama, seu repasto...


61


Em todos os momentos,
Ternuras são divinas,
Adoçam sentimentos
Em luz que descortinas,

Todos os pensamentos
Na paz em que dominas,
Esqueço os sofrimentos
Descubro tuas minas...

Na cor do meu desejo,
Decoro o meu pecado,
Já tenho a faca e o queijo

Quando estou do teu lado,
Vem logo, dê-me um beijo
Com força, apaixonado...


62



Em todos os momentos mais difíceis
Que passamos na vida, companheira;
Nas guerras que nos trazem bombas, mísseis,
Na luta mais cruel e verdadeira,

Fazendo da esperança nosso ofício,
Sem medos que me impeça de seguir,
Andando nos beirais de um precipício,
Adivinhando sempre um bom porvir.

Ascendo ao infinito em teu regaço,
Crisálidas se tornam, pois, libertas,
Ao termos mais firmeza a cada passo,
As portas estarão bem mais abertas

E enfim, eu poderei falar que a sorte
Do amor mudou pra sempre sina e Norte..


63

Em todos os estúpidos altares
Voando em asas falsas, alvos anjos,
Nas hóstias todas brancas, lupanares.
Nos olhos de quem trama seus arranjos

Distintos elementos nos olhares.
Ao perceber terríveis desarranjos
Apodrecendo as frutas dos pomares.
Nas cítaras, violas, liras, banjos

Uníssona canção para entoares.
Nas serpes os venenos são iguais,
Assim também encantos e louvores

Não devem distinguir nem raça ou cores,
Embora estes meus versos tão banais
Pressentem esta dura insensatez
Levando a diferenças pela tez...
Marcos Loures


64

Em todos os desertos que já tive,
Sonhei com este oásis, tua boca,
Um resto de esperança que inda vive
A vida sem te ter é muito pouca

Floresces no meu peito em raridade,
Morena sedutora lá do sul,
Meu céu vai encontrando a claridade
Tão distante do mar, perto do azul.

Teus lábios com doçura em pleno mel
Procuram por meus lábios, num desejo,
O sol já descortina tira o véu
Das nuvens neste claro e manso beijo.

Nascendo na beleza desta flor,
Reinando para sempre o nosso amor...


65


Em todos os caminhos o perigo
Se esconde em cada curva, em cada risco.
Te quero, companheira e já nem ligo
Se tenho que ficar assim, arisco.
Depois da caminhada o meu abrigo
Debaixo desta lua, argênteo disco.

Um sonho que se torna uma quimera,
De tudo o que mais caro possuíra,
O amor que, sei, embalde já quisera,
Morrendo entrelaçado com mentira,
Amiga, tu bem sabes desta fera
Do amor quando em rancor afinal vira,

Mas tendo o teu carinho, um braço forte,
Amiga não temi nem mesmo a morte...


66


Em todos os aspectos que se forje
Com sensibilidade, amor e encanto,
Carrego dentro da alma como alforje
Uma esperança audaz em riso e canto.

Mesmo depois de alguma tempestade,
Querendo expectativa de bonança,
Fluindo com total imensidade,
A par do que me toca e assim me alcança

Nas lágrimas ferinas e vorazes,
Restituindo um sonho outrora inglório
Embora renegasse luz que trazes,
Sou quase mesmo ingênuo até simplório,

Mas digo e não me farto de sonhar,
Eu te amo, e creio até no teu amar...


67

Em tua carne doces opulências,
Belezas delicadas, mil delícias...
No brilho de teus olhos, florescências,
Sorrisos que inebriam, as malícias.

Tomando de teu corpo as inclemências,
Nos tentadores sonhos, as sevícias,
Propostas que traduzem indecências
Em lagos de carinho, tais carícias...

Teus seios, tentações maravilhosas.
Tomando a minha boca, quais romãs,
As horas que passamos, tão gostosas,

Em plena sensação de gozo e riso,
Entornam nossos fogos nas manhãs,
Abrindo em tuas sendas, paraíso...



68

Em tua boca encontro tal delícia
Que cedo me vicia e me conquista,
A sorte que se mostra sempre à vista
Formada pelo toque da carícia.

Amor que satisfaz requer perícia
Mas sabes dos caminhos, cada pista
Deixada pelas marcas, com malícia;
Por isso não concebo que eu resista...

E sei quanto te quero a cada dia,
Fazendo deste amor, com maestria,
O rumo que eu sonhara há tanto tempo.

Não vejo no caminho, contratempo,
Encharco-me de luz e de alegria,
No canto em sedução, pura magia...

69

Em toda tua vida, em tudo foste eleita,
No sonho que me embala, intensa claridade.
No tempo que me resta, a plena eternidade.
Minha alma ao te saber, se eleva e se deleita.

A mão tão delicada, a boca mais perfeita...
O lume d’uma estrela imensa intensidade,
Espírito de luz, total imensidade!
O dia em que chegaste, a vida satisfeita!

Meu verso te procura em cada pensamento,
O medo que tortura, esparsa-se no vento.
Ao ver-te, me imagino, alçando pleno vôo...

Quanto mais alto estou, mais perto estou de ti.
Emoldurou-te Deus, no sonho que perdi.
Nádia, desde que foste, eu nunca me perdôo!
Marcos Loures


5770


Em toda sua glória, a formosura
Que se mostra, porém, tão perecível
Por mais que nos pareça ser incrível
Bem menos do que pensas, ela dura.

Um dia a noite chega e sem brandura
Irá matando um sonho. Tão falível
Esta ilusão que doura, indefinível,
Não tem eternidade, e não perdura...

Porém tua alma límpida querida,
Decerto manterá toda a beleza.
Tua amizade sempre põe a mesa,

E nela uma razão pra nossa vida
Mesmo sem mocidade, já perdida,
Manterás juventude, com certeza.


71


Em toda essa emoção que já procuro
Nas loucas aventuras pela noite
Recebo com doçura e já te curo
Com beijos e desejos, meu açoite.

Não sabes como é bom sentir veneno
Em boca tão suave e tão macia,
Amor que me devora onde enveneno
A boca que te morde, todo dia...

Prossegues neste jogo, sedução,
Sabendo que te quero tanto enfim...
Viver é se saber em emoção
Tão plena de loucura até no fim.

Eu quero essa emoção que tu carregas,
Nas horas mais gostosas me navegas


72

Em toda a natureza, tanto brilho,
Vibrando nossa luz, nossa alegria.
Ao ver tanta beleza, maravilho,
E penso que virá um novo dia...

Repleto de esperança, sem tristezas.
Nas flores e nos campos, primavera...
Findando com terríveis incertezas,
Trazendo um novo sonho de nova era...

Nos bailes que vivemos a dançar,
Nas valsas, nos sorrisos, debutantes;
A vida recomeça e faz lembrar,
Os nossos tempos loucos e mutantes...

Vivendo nos teus braços, sempre quis,
Eu posso, enfim, dizer que estou feliz!


73


Em ti, o meu delírio, uma morfina
Tu és fantasmagórica e demente...
Nos versos que me mentes, amofina
A porta que fechaste vilãmente,

Abriram-se mil olhos na menina
Respeito tuas dores fielmente.
Mesmo que nada trague, já domina
Transforma a minha vida totalmente.

Nas pás com que cobriste as esperanças,
Dormindo retornei sem ter lembranças .
Não foste nem sequer a liberdade...

às vezes vou negando a claridade
e luto contra toda esta engrenagem.
Reflito em ti, portanto, a minha imagem...


74

Em ti, querida eu vejo a maestria
Que tanto procurei e não consigo,
Por isso e tão somente é que te digo
Do belo amanhecer da poesia

Nos braços desta estrela, bela guia,
Eu posso me esquecer de algum perigo,
E ser com alegria, um bom amigo,
Perdoe se parece uma ousadia.

A luz que toma os prados doma a rima
E sabe quanto a tenho em grande estima,
Tomado por fantástica emoção

Ao ler cada soneto que tu fazes;
Desculpe-me por versos tão audazes,
Não pude mais conter esta explosão.


75

Em ti tenho a certeza deste cais
Que um dia fora sonho tão somente.
Vivendo estas promessas magistrais
Eu sinto que serei bem mais contente.

Juntando os pedacinhos do que somos,
Unindo nossos passos, posso crer
Que a fruta saborosa em tantos gomos
Agora no pomar vou recolher.

Bebendo deste sumo inigualável
Matando a minha sede neste pote.
Além do que pensara imaginável
Refaço em alegria um velho mote

Colando nossos corpos, o desejo
Guiando nossas vidas num lampejo...



76


Em ti tão entranhado não consigo
Nem mesmo disfarçar tal sentimento.
Qual sombra passo a passo eu te persigo,
Não tiro o teu olhar do pensamento...

Queria muito além de ser amigo,
Viver em plenitude e sem tormento,
Contando com teu colo, meu abrigo,
Talvez tivesse enfim algum alento

Depois de tanta inútil tentativa
Minha esperança agora sempre viva
Espreita de tocaia e pede mais.

Sabendo, timoneiro, da ancoragem
No amor que é muito além de uma miragem,
Saveiro da esperança encontra o cais...


77

Em todo o teu passado tanta glória.
Os que mares distantes navegaram
E seus feitos, amores, registraram
São páginas perdidas desta história...

Tantos deuses, em vão, te cortejaram
A dama de beleza assim notória,
Guardada, por milênios, na memória
Nos livros, alfarrábios se contaram...

Os templos se erigiram em teu nome,
Tua glória ninguém no mundo tome;
Da beleza e bondade és um exemplo.

Depois de tantos anos, te encontrei.
Permita-me sonhar ser o teu rei,
Reinando em nossa vida, te contemplo...


78

Em todo grande amor da juventude
As marcas indeléveis, cicatrizes...
Amei por tantas vezes, mais que pude,
Acertos que cometem aprendizes...

Não quero ter limites para amar,
Porém as chagas vivas da paixão
Impedem a minha alma de voar,
Contendo meus desejos sobre o chão...

Quem dera ter a força de vencer
O medo que transtorna e que detém,
Sabendo que esse amor pode doer,
Essa barragem louca se retém...

Só peço neste amor intensidade
Que tinha há tanto tempo; mocidade...


79

Em teu retrato vejo essa tua alma
Nos oráculos gregos, minha amada,
Na casa d’Eros lendo em tua palma
Em meu amor serás banhada...

A tua aura lerei sem saber sina,
Dessa não quero ter nenhum sabor...
Só quero te ter, toda, na menina,
Sedenta onde encontrei total calor...

Te farei poesias do instantâneo
A sorte te trarei em cada verso,
Das orlas desse mar mediterrâneo
No carinho e no sonho mais diverso...

Dispondo do prazer com vivo ardor,
Nas tramas de Cupido, todo amor!


5580

Em todo esconderijo; refugia
A perspicaz saudade. Julguei morta,
Mas vem, revigorada a cada dia...
E sempre que tentar fechar a porta,

Escapa por milagre, alvenaria...
Forte aço de seus dentes, fera, corta,
Transforma todo amor, feitiçaria...
Quem sobreviverá, u’a moura torta!

Refuta a liberdade, quebra os ossos,
Marcada cicatriz a ferro e fogo.
Irônica, gargalha meus destroços...

Penetra, vai rasgando a minha pele...
Não perde, sempre ganha o triste jogo,
À morte, ao suicídio, me compele!
Marcos Loures


81

Em teu corpo escrever mil poesias,
Usando minhas mãos; firme caneta,
Marcando com desejos, ardentias,
A boca vai trilhando qual cometa

Penetra cada ponto, nas magias
Que fazem nossa noite mais completa
Promessa de delícias, tantos dias,
Assim quem sabe, sinto-me poeta...

Relaxas, tranqüilizas, nem te moves...
Apenas um sorriso breve aflora,
Cicatrizes? Bem sei que assim removes

E deixa a poesia te invadir...
Querida, este terceto feito agora,
Não cansa de implorar. Quer repetir...


82



Em teu corpo brinquedos e folguedos,
Viagens, gozos, sonhos e delícias.
A boca que te explora traz primícias
De um jogo a desvendar os teus segredos.

Penetram, te acarinham, sábios dedos
Audazes descortinam em carícias,
Sorrindo, sutilmente, com malícias,
Os cofres se ofertando em tais enredos.

As águas escorrendo nas montanhas,
Entregas cada cofre e seus mistérios
Esfregas com loucura, tuas sanhas

Desvendam-se em luxúria e sedição.
Tu sabes que no amor não há critérios
Apenas puro instinto em explosão...


83


Em tanto estardalhaço eu não mais tardo
E tento ser enfim, tão pontual,
Amor quando sonega um ritual
Parece pra quem ama algum petardo.

Quem dera se eu pudesse ser um bardo
Cantando o teu molejo sensual,
O sonho feito em paz, consensual,
Fingindo recolher espinho e cardo.

Mas nada das manadas da esperança
Em bando as andorinhas se arribaram
A corda arrebentando do meu lado

O vento em dissabor, chegando alcança
Aqueles que em loucura se entregaram,
O coração ainda disparado...


84


Em ti eu encontrei veneno e mel,
Ao mesmo tempo adoça e me inebria
Estrela que se deita em fogaréu,
Deixando que se pense em alegria.

Galopo esta esperança, meu corcel,
Que foge mal renasce o claro dia.
Nublando neste instante, todo o céu
Melífera expressão feita agonia...

Do bote da serpente que se ri
O mundo que sonhei e que perdi,
Enquanto me sacia, assim devora

Marcando com teus dentes minhas costas,
Cortando a fantasia em frias postas,
De todos os meus versos, a senhora...

Marcos Loures


85


Em ti encontro a minha semelhança,
Reflexos que se perdem num espelho,
Tão grande a perfeição desta aliança
Ao teu olhar eu quero e me assemelho.

Amor não necessita de conselho,
Premissa de uma vida em aliança
O quanto em nosso amor, eu já me espelho
Expressará no que perdi; mudança.

Um verso enamorado já diz tudo,
Sentimento jamais será escudo
A par dessa verdade nada temo.

Vida que mostra o barco traz o remo
E assim caminharemos sem temores.
Sabendo dos espinhos, ganho as flores.
Marcos Loures


86

Em ti amada amiga, eu me completo
Teimosamente nada me segura,
No colo em que percebo esta ternura
O laço, com firmeza, predileto.

A ti em plenitude me arremeto
Com lealdade em laivos de candura
Amor que em placidez já se perdura,
Expressa um bom caminho em paz, aberto.

A fonte inesgotável da esperança
Dessedentando uma alma em temperança
Ressalta uma alegria. E desde agora

Sabendo deste amor inigualável,
Na flama intensamente demonstrável,
A luz que é libertária, assim se aflora.
Marcos Loures


87

Em ti, querida, encontro a minha luz;
Abelha-mel que adoça e que maltrata.
No mel desta colméia se produz
Enigma que me educa enquanto mata.

Desejo de deslumbre, de alcaçuz.
Na picada feroz amor retrata,
Carinho de guerreira, de um obus...
Em cada verso que faço, me destrata...

Beijando e me mordendo sem pudores
Amante desejada, quero o mel!
Vasculha por destinos, fossem flores...

É manto que me caça e que me alcança.
Amor que num momento traz o céu
Pacto que fiz com Deus, nossa aliança...
Marcos Loures


88


Em teus lábios vorazes um veneno
Que traz em agridoce tal prazer
Da sorte que eu desejo; um leve aceno
A fome que é gostosa de se ter.

Vontade de beber da fonte e pleno;
Inebriadamente me perder
No fogaréu divino, em brasa e ameno
Numa avidez insana, um bem querer.

No rastro de teus olhos sou falena
Num louco suicídio, a claridade
Que em chama e labareda já me acena

Chamando para o gozo mais cruel
Fartura em que se dá felicidade,
Pecado que me arrasta para o Céu...

89

Em teus braços persisto sempre imerso...
Tu és vulgar, terrível ser ególatra.
Compartilho caminhos, vou disperso.
A boca que beijei, por certo idólatra!

Idolatrada amada. Cadafalsos
Reconheço através de teu delírio!
Os medos que possuo, todos falsos,
Não cabem nem sequer no meu martírio!

Quem me dera saprófita esperança.
Vivesse nos meandros da saudade...
Nos olhos mais sutis nunca se avança,

Quem fora mais criança, nunca há de!
Em teus braços resisto merencório!
Amor te reconheço tão notório!
Marcos Loures


5790

Em teus braços desejo e temperança
Mistura que permite andar em paz.
Do quanto nosso amor me satisfaz
É feita a cada noite esta festança.

Amor que se promete em aliança
Felicidade e glória sempre traz
O beijo em tua boca, mais audaz
Expressa o nosso sonho riso e dança.

Não tendo em meu caminho uma ameaça
A vida em mansidão sublime passa
Mudando a direção torta dos ventos.

Agora que consigo vislumbrar
Ao fim da tarde um mágico luar
Solto as rédeas, liberto o pensamento...
Marcos Loures


91

Em teu rosto vermelhas açucenas,
Na verdade transmudam-se douradas...
Buscando formosura morrem plenas.
No brilho de teus olhos, madrugadas...

Nas barcas dos meus sonhos, tantas cenas
Me levam ao sabor das alvoradas.
Borboletas chegando: cem, centenas,
Repetem tuas mãos tão delicadas...

Traduzo meus amores em teu nome.
Trazendo tantas flores tua pele...
A fonte dos desejos me consome...

Quem dera fosses minha, és tão formosa...
A teus braços, a vida sempre impele.
As urzes, os espinhos... Perco a rosa!


92

Em si denota a sacra eternidade,
A tradução perfeita que se busca
Trazendo fantasia à realidade,
Um cais que em sossega a antiga busca.

Amor em harmonia, um bel concerto
Em lúdicas estâncias versos, som.
Ao pressupor caminho em paz, aberto,
Expressa a divindade em raro dom.

Gravada em nossa pele, tatuada
Em líricas palavras, sentimento.
Arando uma esperança em foice e enxada
Espalha sobre a terra o bom ungüento

Calando dentro em nós a redenção,
Bendita e benfazeja floração...
Marcos Loures



93

Em seus braços eu vivo uma ilusão,
Seu amor me defende e nisso sonho.
Pois tudo nessa vida a que proponho
Encontra em seu carinho, proteção...

Não sei o quanto custa uma paixão
Sem ser correspondida. Trago a sorte
Bendita e benfazeja do seu norte.
Em seu nome, a perfeita tradução...

Mas, quando a madrugada traz o frio,
O medo de perder, um calafrio,
Abraças-me em perfeita sincronia.

Sandra eu viverei sempre do teu lado
Sem temer a saudade nem o Fado
Em nossa cama reina essa alegria!
Marcos Loures



94

Em rios de prazer à noite aflora
O corpo que se entrega sem juízo.
Nudez quando em nudez já se decora
Permite vislumbrar um paraíso.

Eu quero o teu desejo desde agora
No toque mais sutil e mais preciso,
O gozo tão sublime revigora
Nesta aquarela rara eu me matizo

Vagando cada ponto, porto e cais,
Em teus ancoradouros, quero mais
Sentindo esta explosão de amor orgástico.

O mar que nos invade em fogo e fúria,
Tomado pelos ventos da luxúria
Num vendaval divino e tão fantástico.


95

Em seu castelo dorme uma princesa,
No reino mais bonito destas plagas;
Rainha da alegria e da beleza,
Dona de mãos tão belas quanto magas.

Montado em seu corcel, um cavaleiro
Que veio de distantes terras quentes,
Sozinho sem sequer um companheiro
Na busca de sorrisos mais contentes

Encontra este castelo/fantasia
Depois de tantos dias caminhando.
Ao ver essa princesa que dormia,

Percebe como a vida foi tão grata.
E como se estivesse assim sonhando,
Nos braços a rainha ele arrebata...


96

Em raro brilho, o sol de primavera
Adentra a nossa casa, na manhã;
Matando a solidão – terrível fera –
Amor já vai cumprindo o seu afã.
Essa mulher bonita que me espera
Sorrindo na beleza da manhã

Convidativamente toda nua
Por sobre estes lençóis de seda pura.
O brilho no meu quarto continua
Tomado por carinhos e ternura.
Nesta união perfeita, minha e tua,
Jamais conheceremos noite escura.

Na eterna primavera que vivemos
Somente frutos, flores, recolhemos...


97

Em praias e desertos mais longínquos
Amor fez seus castelos e reinados,
Os passos se bem dados são profícuos
Irmanam tantos sonhos, laços, Fados.

Dos píncaros aos vales mais profundos,
Amor é portador de um bem maior.
Ao amainar tempestas, ganha os mundos
E mostra novamente a se compor

Uma existência outrora tão sofrida,
Que num momento torna-se mais forte.
Amor; o vencedor; emana vida,
E deixa mais distante a triste morte.

Nos braços deste deus, menino arqueiro,
O poder de mudar o mundo inteiro.
Marcos Loures


98

Em tantas solitudes me desfaço
Rompantes entre risos e carícias.
O sol vai ocupando cada espaço,
Da dor não quero nem saber notícias.

As luas que se foram, tão fictícias
Não deixam no meu quarto sequer traço.
Já não suportarei tolas milícias
Escrevo o que quiser. Bye! Um abraço.

Se pego no flagrante, nem disfarço,
Desamarrei dos sonhos, seu cadarço,
Embaço o refletor dos olhos teus.

Amasso os meus poemas, velhos tolos,
Receitas diferentes de outros bolos
Deixando o doce gosto de um adeus....


99


Em tantas ilusões e desafogos,
Meu verso te buscou vagando a esmo.
Soltando de alegria tantos fogos,
Vivendo esquecido de mim mesmo.

Agora que te encontro, sem ter medo,
Agora que te toco, minha amada.
Descubro que viver não traz segredo
É simples a manhã, nossa alvorada...

Preciso de teu colo, sem perguntas,
Preciso desta boca junto à minha,
As noites divididas andam juntas,
Não sei mais com que pernas tu caminhas.

Apenas não concebo solidão,
Aramos, em conjunto, o mesmo chão!


5800



Em tal enleio trazes teu carinho
Que me remeto aos tempos mais antigos,
Procurando encontrar talvez um ninho
Que proteja de males e perigos...

Farturas onde encontro os arremedos
Do tempo em que vivemos mais distantes
Trazíamos quimeras, tantos medos,
Por vezes nossas vidas degradantes...

Na poda destes sonhos, cabisbaixo,
Mendigo teu perdão, mas nada fazes,
Por vezes ao te ver, cedo me abaixo,
E cedo conhecendo as tuas fases...

Amor que quase sempre lembra a lua,
Nas vestes, tua pele, exposta e nua...


5801




Em tais primores, sigo em novo Fado,
Alçando em fantasia uma esperança,
No corpo da mulher, extasiado,
A noite em calmaria, logo avança,
Quem teve seu destino alvoroçado
Pelo corte profundo desta lança

Pressente que terá um novo aspecto
A vida que no amor, fronte levanta,
No sonho mais divino me completo,
A dor se amaldiçoa, enfim se espanta,
E sinto-me, deveras mais repleto,
Nesta emoção que eu quero, rara e santa

De poder conceber mesmo ilusão,
Frondosos arvoredos da paixão...


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Em sonhos alvos, belos me perdi,
Pensei que um dia fosse mais feliz.
Distante deste sonho, estou aqui,
Obedecendo amor que um dia eu quis

E vejo se escondendo atrás da porta,
Fugindo de meus braços, dos meus olhos.
Uma esperança frágil, velha e torta,
Recolhe em meus caminhos, tais abrolhos.

Porém ao persistir dentro de mim,
Balbuciando o sonho que eu tivera,
Restolho do que tive, mesmo assim,
Apascentar o amor, terrível fera,

É ter uma ventura em fio d’água,
Nascendo de um olhar, pleno de mágoa...

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