sexta-feira, 26 de novembro de 2010

51081/90

51081

A devota crê nos devotos, a não-devota crê nos filósofos; mas ambas são igualmente crédulas.
Antoine Rivarol

A crença, uma constante
Presume o caminhar
Aqui, noutro lugar,
O tanto que garante
Embora variante
Expressa algum luar,
De brilho a se moldar
Por certo provocante.
Os ângulos diversos
Os vários universos
E a sensação de ter,
Aonde na verdade
O que sempre me invade,
É vontade de crer.

2

Os reis continuarão a perder a cabeça enquanto trouxerem a coroa mais sobre os olhos do que sobre a fronte.
Antoine Rivarol.

Soberba superando
O quanto o pensamento
Pudesse sem tormento
Gerar um mundo brando,
E quando além eu tento,
O mundo transformando
O calmo em mais infando,
Adentro o sofrimento,
Meu passo sem certezas
Entregue às correntezas
Traçadas pelo anseio
De ter em minhas mãos
Domínios mesmos vãos,
Em tolo devaneio.

3

Há virtudes que só se podem exercer quando se é rico.
Antoine Rivarol

Virtudes ilusórias
Trazidas por poder
Gestando o parecer
Moldando vãs histórias
E delas as vanglórias
Aonde o pertencer
Supera o próprio ser
E reina sobre escórias.
Virtudes sem valia
E nelas me faria
Além do que em verdade
A vida me arremete,
E o quanto se promete
No fundo desagrade.

4

Quando uma pessoa má pratica o bem, pode avaliar-se por tal esforço todo o mal que prepara.
Antoine Rivarol

Serpente acaricia?
O bote se prepara,
E o fim desta seara
Em cena mais sombria,
Do quanto em agonia
A vida se escancara
Mostrando logo a cara
Atroz, audaz e fria.
O mundo se transforma,
Mas quando em mesma forma
Com prismas diferentes
Apenas um mosaico
Em ar bem mais prosaico
Do que decerto atentes.

5

Um pouco de filosofia afasta-nos da religião; muita filosofia faz-nos voltar a ela.
Antoine Rivarol

O pensamento dita
Diversa direção,
E quando em profusão
A sorte esta infinita
Além já se permita
Mudando uma estação
Nos dias que virão
O todo não repita.
E vendo deste jeito
Enquanto em vão me deito
Distante de uma crença,
Mas quando me aprofundo
E invado o raro mundo,
No Eterno amor se pensa.

6

O avaro faz troça do pródigo, o pródigo do avaro.
Antoine Rivarol

Tocando-se os opostos
Em face desigual,
Caminho pelo qual
Refazem velhos postos,
E os ermos da distância
Transportam para o centro
E nisto me concentro
Gerando a minha estância,
Do quanto poderia
Diversa realidade,
Aonde o que te agrade
Não mais me agradaria,
No fundo, o mesmo engodo,
Idêntico tal lodo.

7

Quando os povos deixam de ter estima, deixam de obedecer. Regra geral as nações que os reis reúnem ou consultam começam por votos e acabam por vontades.
Antoine Rivarol

Ao fim de certos anos
Aonde houvera estima
A sorte noutro clima
Provoca em desenganos
Puídos, rotos planos
E nada mais se prima
Sem força que redima,
Expondo velhos danos,
Destarte o que se vira
Nos olhos da mentira
Gerando a falsa imagem,
E o quanto pôde outrora
Agora desancora
E gesta esta miragem.

8

Existem duas verdades que nunca podem ser separadas neste mundo: 1ª que a soberania reside no povo; 2ª que o povo nunca deve exercê-la.
Antoine Rivarol

O povo sendo o dono
Do seu próprio destino,
Enquanto não domino
O traço em abandono,
Aos poucos desabono
O que tanto fascino
E mato em desatino
Retorno ao vão carbono,
E sei do quanto pude
Ou possa desde então
A minha plenitude
Matando esta visão
Que tanto desilude
E torna o mundo vão.

9

É mais fácil para a imaginação compor um inferno com a dor, que um paraíso com o prazer.
Antoine Rivarol

O ser mais otimista
No fundo é mero sonho,
O mundo que proponho,
O tempo não resista
E sempre enquanto assista
O fato mais bisonho
Presume o quão medonho
Cenário ora se avista,
O caos gerando em nós
A solidão por foz
Na voz em tal constância
Grassando no vazio
Matando em desafio
A sorte em leda estância.

51090
Não ter feito nada é certamente uma grande vantagem, mas não se deve abusar.
Antoine Rivarol

O quanto nunca fiz
Evita os desalentos
E sei que os pensamentos
Gerando a cicatriz,
Transformam por um triz
E vagam pelos ventos
Roubam pressentimentos
E o nada tanto diz.
Vestindo este vazio
O quanto ora desfio
No fio da navalha
Expressa a solidão,
E os dias que virão
Pensar tanto atrapalha.

Nenhum comentário: