sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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51091

As obras de arte dividem-se em duas categorias: as de que gosto e as de que não gosto. Não conheço outro critério.
Anton Tchekhov

Ou gosto ou não a quero
A vida traz diversa
A imagem que se versa
E nisto sou sincero,
O quanto além espero
O tempo desconversa
E gera a sorte imersa
Em rumo mais austero,
Dizer do que viria
Ou mesmo em fantasia
Já não me cabe agora,
A sorte se transmuda
E quando uma alma muda
Aos poucos desancora.

2

Marido e mulher amavam os hóspedes, porque sem eles acabavam por brigar.
Anton Tchekhov

A luz de vário lume
Permite apascentar
Além deste luar
Aonde o olhar já rume,
Aos poucos me acostume
Caminhos desviar
E tendo outro lugar
Expresso em tal perfume
A sorte variante
E sei que noutro instante
Pudera ter diverso
O mundo sem sangria
E a rude fantasia
Traduz todo universo.

3

Nada une tão fortemente como o ódio - nem o amor, nem a amizade, nem a admiração.
Anton Tchekhov

O quanto nos unisse
O passo que odioso
Transforma em pleno gozo
A vida sem mesmice,
Assim qualquer tolice
Num ato majestoso
Gerando o pavoroso
Momento contradisse,
E negação da sorte?
Enquanto nos comporte
E gere nova face
A mesma sensação
Do amor e do perdão,
Além já se moldasse.

4

Eles são honestos: não mentem sem necessidade.
Anton Tchekhov

Mentira tanta vez
Presume honestidade
Em tal necessidade
O tanto que tu vês
Resume a realidade
E traz a claridade
Em pura sensatez,
Diverso do que pensas
As várias, vãs ofensas
São ditas com firmeza,
Honestamente é fato
Que em vida ora constato
Cartas? Em qual mesa?

5

A felicidade é uma recompensa para quem não a procura.
Anton Tchekhov


Procurar ser feliz
É ter esta certeza
Do quanto em correnteza
O mundo a contradiz,
No passo por um triz,
Na luta sem defesa
A morte sobre a mesa,
O céu pesado e gris,
Porém quando se esquece
Da sorte e da benesse
A vida recompensa
E traz na calmaria
O quanto se queria
Enquanto em nada pensa.

6

Quando temos sede parece-nos que poderíamos beber todo um oceano: é a fé; e quando bebemos, bebemos um copo ou dois: é a ciência.
Anton Tchekhov


Ciência e fé, diversas
Imagens tão iguais
Caminhos pelos quais
Expressas quando versas,
E nestas vejo imersas
Em ledos rituais
Imagens virtuais
Em tais faces submersas.
Medidas diferentes
Em rotas eferentes
Ousando em mesmo tom,
Raro superlativo
De um tempo relativo
Pousando num só dom.

7

Confia no teu cão até o último momento, mas na tua mulher ou no teu marido, apenas até a primeira ocasião.
Anton Tchekhov

O quanto confiaste
Em quem está contigo
Traçando este perigo
No amor feito em desgaste
Apodrecendo esta haste
Aos poucos não consigo
Vencer qualquer perigo
E vejo em tal desgaste
A face mais nefasta
Que tanto ora se afasta
Do quanto poderia,
E assim ao se trazer
Um mundo a se perder
Um pouco dia a dia.

8

Valoriza-te para mais: os outros ocupar-se-ão em baixar o preço.
Anton Tchekhov

A natureza humana
Impede algum planar
Além do que tocar
E nisto desengana,
A sorte mais mundana
O corte sem luar,
A vida a se mostrar
Deveras já nos dana.
E a paz que tanto eu quis
Aos poucos cicatriz
Gerada do vazio
Expressa o quanto pude,
Na farsa em atitude
Enquanto o vão recrio.

9

Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe.
Anton Tchekhov

O ser honesto dita
Momento e na verdade
A frágil claridade
Expressa-se finita
Enquanto se acredita
E mata a realidade,
Ousando aonde brade
A luta em tal desdita
E a vida não traduz
Constante e rara luz,
Apenas num lampejo
Destarte o verdadeiro
É leve e não inteiro
E momentâneo o vejo.

51100

Onde não estamos é que estamos bem. Já não estamos no passado, e então ele parece-nos belíssimo.
Anton Tchekhov

O quanto fora outrora
Agora não se vendo
Num tempo foi horrendo,
Porém noutro se aflora
Gerando sem demora
O tanto num adendo
E aos poucos descrevendo
O quanto nos ancora,
A sorte sendo assim
Traçando além, no fim,
Imagem distorcida
Expressa em tal falseta
Apenas me arremeta
Deixando atrás a vida.

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