terça-feira, 30 de novembro de 2010

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51561

Constelares meus sonhos, vida em paz
O amor já não bastasse por si só,
E renascendo sempre deste pó
O todo noutro instante quer e faz,

Meu canto se traçando em plenitude
Amar e ter nas mãos a direção
Dos dias mais felizes que virão
E toda a realidade agora mude,

Esbarro nos meus erros do passado,
Saudade não traduz o que revela
Minha alma libertária além da cela,
O sonho noutro rumo, desenhado.

Mas tendo esta emoção em vivos tons
Decerto os novos tempos serão bons.

562

As puras emoções da mocidade,
Apenas são resquícios de outras eras,
E quando noutro passo destemperas
A vida traz à tona a realidade,
O quanto poderia e já se evade
As lutas são diversas; tais quimeras
Marcando com horror as vãs esperas
E o tempo se prepara em tempestade,
Audaciosamente quis a paz,
Mas sei que na verdade nada traz
Quem tanto quis a luz e não sabia,
A turva realidade dita as normas
E quando noutro engodo me deformas
O sonho se transforma em agonia.


563

Meus olhos tantas vezes mais sombrios
Procuram um alento onde não há
E o tempo se desenha desde já
Envolto nestes árduos desafios
Pudesse não mais ter tais desvarios
E o mundo noutra face moldará
O quanto se perdera e perderá
As sobras dos meus dias, velhos rios.
Atrocidades várias, solidão,
As horas que deveras moverão
Apenas os meus passos rumo ao nada,
Aquém desta atitude libertária
A mansidão que eu quis, mais solidária
Aos poucos noutro rumo se degrada.

564

Os dias que pudessem mensageiros
De sonhos mais felizes, já não vejo
E o quanto me restara em vão desejo
Não traz sequer a luz aos meus canteiros,
No olhar sem ilusão, velhos luzeiros
O prazo determina e só prevejo
O canto tantas vezes malfazejo
E nele os meus momentos derradeiros,
Ausente do que fora uma esperança
Apenas o vazio agora avança
E gera em destempero o fim de tudo,
Um velho navegante sem o porto,
Somente sobrevivo e quase morto
Aos poucos sem defesas eu me iludo.

565

Ainda que cultive as violetas
E delas imagino várias cores,
A vida não traduz as belas flores
E nisto cada engodo que cometas,
As sortes mais dispersas e arremetas
Aonde quer e sei já não te opores
Apenas revivendo dissabores
As alegrias vagam, são cometas.
Derramas sobre mim tanta ilusão
E sei dos dias turvos que trarão
Somente o quanto pude e não tivera,
A marca da pantera em presas, garras
Dos passos mais audazes já desgarras
O sonho me arremessa em turva esfera.

566


As horas sem porquês e sem delongas
Os medos aflorando em minha pele
E o quanto do vazio me compele
Enquanto descaminhos; sempre alongas,
Acordo vez em quando e sei do quanto
Pudera sem sentir novo momento
E o tanto se desfaz em excremento
E o mundo noutro caos já não garanto.
Expressos onde a vida dita o fim,
Egresso da ilusão nada me resta
A sorte se perdendo em leda fresta
Não deixa nem sinal enquanto eu vim.
O mar se desbravando em vã procela
Amor que não se dá não se revela.

567

As sobras da emoção, noites revoltas
Palavras sem sentido ou previsão
Os tempos com certeza moldarão
As horas sem juízo, mortas, soltas,
Adentro o quanto quis e nada havia
Bebendo cada gole deste infausto
Meu mundo se perdendo em holocausto
O quanto trago na alma é fantasia,
O marco mais audaz, em leda espera
Da parte que me cabe, nada tenho,
Apenas a lembrança de um desenho
Moldando o que pensa em tétrica era
Acordo solitário e sorvo o fel
Tentando descobrir um novo céu.

568

Soltando ao vento as belas cabeleiras
Encontro-te defronte ao mar imenso
E quanto mais em ti, eu teimo e penso
Decerto já bem sei que não me queiras
E desta forma sinto quando esgueiras
Num ato tão venal porquanto tenso
E o mundo se mostrara e sei do intenso
Caminho rumo às sortes derradeiras.
Nefasta realidade dita o mundo
E sei do nada em paz e assim me inundo
Da sensação que apenas desafia
O caos dentro do peito, em ledo fim,
Versando sobre a morte viva em mim,
Encontro algum sentido na agonia.

569

Os meus cabelos todos sendo brancos
Traduzem cada parte de uma vida
Já tanto pelo tempo, destruída
Marcada entre tormentos, vãos arrancos,
E a queda destes tétricos barrancos
A sorte nunca mais foi concebida
E o manto numa face já puída
Os olhos sem sentido, seguem francos.
Assas maravilhosa, a tarde traça
A noite se perdendo em luz escassa
E o canto sonegando o amanhecer
No agrisalhar dos sonhos, nada veio
Somente o meu caminho e sei que alheio
Ao fim se esvairá todo o meu ser.

570

O mundo se desenha amargo e vasto
E o tanto quanto quis não mais pudera
Gerando dentro em mim a leda espera
E o todo se moldando aonde afasto,
Meu passo sem ternura, sem repasto,
O corte na verdade destempera
E a morte noutro rumo eu sei que gera
Somente este momento mais nefasto,
Escusas não permitem novo engano,
E quando no final em vão me dano,
Apenas bebo a trágica loucura
De quem se fez audaz e nada tendo
Resume cada sonho num remendo
E o cais já se sem sentido algum procura.

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