terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Trazendo nos meus olhos o cajado
Enfrento estas escarpas, minha vida
E tento no horizonte o que se acida
E molda outro caminho em mesmo enfado,

Inutilmente tento e já me evado
Do porto aonde outrora a presumida
Palavra não me traz, sendo perdida
A luta sem sentido, amargo Fado,

Amar e ter o senso do infinito
É tudo o que decerto eu necessito,
Embora saiba bem deste vazio,

O canto sem proveito, o verso vago,
E quando noutro rumo ora divago,
Apenas nada falo, silencio.


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Somente o que restara e ali ficava
Marcando com dorida intensidade
O quanto se desdenha e na verdade
A vida se presume em mera trava,

O tempo desdenhoso, intensa lava
Que quanto mais venal decerto invade
E gera esta temida tempestade,
E dela uma alma aquém seguindo escrava,

Espero em longa espreita o que viria
E sei que ao fim de tudo esta utopia
Não deixa mais um rastro e sigo em frente,

Ainda quando amar se fez constante
Meu passo no não ser só me garante
A luta que mordaz, já não enfrente.

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Meu coração corsário, qual cigano
Vagando sem ter rumo nem destino
E quando noutro passo me alucino
Aos poucos sem defesas eu me dano,

O tempo noutro tempo é desengano
E o medo se anuncia em desatino,
Apenas o que pude; pequenino,
Vencido pelo medo em cada plano,

Austeridade eu busco e nada vejo
Somente o desandar deste desejo
Apresentando enfim outro momento,

A rústica beleza se transforma
E a fera se desenha de tal forma
Moldando cada passo e me atormento.


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Nas praias tão desérticas do sonho,
As ondas entre tantas penedias,
Amores pelos quais tu já virias,
Mas nada mais do quanto em luz componho.

Cenário se transforma em enfadonho
E trama sem sentido fantasias
Marcando cada espaço em árduos dias,
Meu barco noutro mar então eu ponho.

A luz não mais se vendo aonde outrora
Apenas o temor ainda ancora
Navego contra a fúria das marés

E sei que posso mesmo até sonhar,
Mas quão distante estou do raro mar,
E sinto o meu caminho de viés.


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Ao alongar meu passo nesta areia
Ousando muito mais do que pudesse
A via não trouxera sequer messe,
E apenas a saudade me rodeia,

A luta sem destino que incendeia
Ainda nada além do medo tece,
E o quanto poderia e não viesse,
Moldando a lua aquém atroz e alheia,

Vacante sensação de amor em nós
O tanto que pudesse perde a voz
E o vento espalha o verso em medo e caos,

Os sonhos são deveras pesadelos,
E quando posso enfim, após revê-los
Presumo quão inúteis nossas naus.


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Ao menos poderia em piedade
Trazer algum alento ao navegante
Que tanto mar enfrente, e neste instante
Apenas traz o sonho que o degrade,

Ausente do viver a liberdade,
O manto se mostrara doravante,
Gerado pelo caos e flutuante
Meu tempo noutro tanto já se evade.

Vestindo a mera sombra do que eu fora,
Uma alma tantas vezes sonhadora
Já não se mostra mais sequer enquanto

O tempo se desenha sem proveito,
Destarte cada engodo enfim aceito
E bebo o que pudera e não garanto.


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Das Musas e das Divas nada mais
Que meras excrescências; vejo agora
E quando a solidão invade e aflora
Marcando com temores desiguais,

As horas entre tantas noutro cais,
A sorte sem juízo nos devora
E o parto na incerteza se demora
Ousando contra os tantos vendavais,

Floresce dentro da alma a juventude
E sei do quanto possa e mesmo ilude
Quem sonha com palavras mais gentis,

Não tendo este momento em claro amor,
Buscando aonde arar o agricultor
Enquanto nada encontra se desdiz.

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