domingo, 27 de março de 2011

101

Na verdade o que se tenta
Após quedas costumeiras
Enfrentando esta tormenta
Onde nada mais tu queiras
Ouso mesmo quando esquenta
A verdade em tais ladeiras
Sobe e nada mais aguenta
Quanto mais as derradeiras
Emoções que não prometo
E se tanto quero a sorte,
Na verdade me acometo
Do momento onde suporte
Refazendo do soneto
O que possa além do corte.

102

Cordoalhas rotas; vejo
E da queda prometida
Nada mais que algum desejo
Traduzisse a torpe vida,
Sem cansaço algum pelejo,
Mas presumo a despedida.
Coração demais andejo
Noutra senda tão comprida
Avenida da esperança
Alameda sem proveito
E se o passo sempre avança
No final não me deleito
E tentando outra mudança
Qualquer sonho em paz, aceito.

103

Nas versões diversas vira
O que pude e mesmo quis,
Mas a sorte, esta infeliz
Tanto dá conforme tira,
E se possa noutra mira
Traduzir o que não fiz,
O cenário se retira
E mergulho por um triz.
Navegando sem destino
Onde a sina não permite
O que tanto determino
E procure sem limite,
O meu mundo eu extermino
E não quero outro palpite.


104

Depois disso que te falo
Nada mais se poderia
Ouso enquanto sou vassalo
Desta festa em agonia,
Mas decerto eu sendo o calo
Que jamais confortaria,
Bebo o quanto ora avassalo
Nesta louca confraria.
Restaurando cada engano
No final nada me resta
Tão somente o mesmo dano
Onde a vida nega a fresta
E o meu sonho soberano,
Pouco a pouco ora me empesta.

105

Nasci contra esta vontade
Que regesse o pensamento
E se tanto a vida agrade
Noutro instante já lamento,
O meu passo se degrade
E produz ressentimento,
No caminho cada grade
Traduzindo o sofrimento.
Mas do pouco que se visse
Noutro rumo desenhado
Escapando da mesmice
Tento quando além evado
Mesmo que ninguém me ouvisse
Jamais ficarei calado.

106

Quando a vida se prepara
Na tocaia a cada espreita
O meu mundo em noite clara
Tanta luz que me deleita.
Mas a sorte desampara
Quem conselho não aceita
E descrente da seara
Bala solta já se ajeita,
E sangria após sangria
Nada mais se vendo enfim,
Noutro sol não nasceria
Nem sabendo de onde vim,
Corpo agora florescia
Nos estercos de um jardim.

107

E da sorte em podridão
Inda resta alguma luz,
Onde sem a dimensão
Mais exata de uma cruz,
Sepultado feito um grão
Outro verso reproduz
E vazando pelo chão
Meu caminho se produz
Oferendas em florais
Entre dias divergentes
Quanto ao frio que tu sentes
Prenuncia os temporais,
Vago em sonhos tão dementes
Não conheço algum jamais.

108

Quando em plena primavera
Florescência determina
O que tanto ora se espera
E deveras rege a mina
Onde outrora uma cratera
Noutro tom já se examina
E vencendo destempera
E decerto te alucina,
Vasculhando com cuidado
Verás solo revolvido
No momento desejado
Onde o caos não dilapido
E por certo um rude brado
Toda noite sendo ouvido.

109

A beleza se espraiando
Outro tom a vida sele
E se veja desde quando
Cada passo se atropele
Onde pude desenhando
Carcomida inteira a pele
Mas o tempo desejando
Noutro engodo me compele
De tal forma me apresento
Entre cores mais sutis
E se toco o pensamento
Vou seguindo ora feliz,
Ao reger o sofrimento
Cada sonho ora desfiz.

110

E da flor que ofereceste
Os espinhos ferem tanto
E deveras percebeste
O que atento ora garanto
Morte apenas recebeste
Ou talvez o desencanto
Onde outrora luz teceste
Resta apenas o teu pranto.
Nada mais se vendo após
A mortalha em flor tecida,
Desdenhando o tom atroz
Desvendando a apodrecida
Incerteza em turva foz,
Renascendo a morte em vida.

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