segunda-feira, 28 de março de 2011

16

Sou apenas repentista
E se posso em redondilhas
Entranhar onde se assista
Com certeza o quanto trilhas,
Na verdade não resista
Meu amor às armadilhas
Quem me dera ser artista
E seguir-te enquanto brilhas.
Noutro passo, novo rumo,
Mato a minha ansiedade
E se possa e me acostumo
Tanta luz dita a verdade
Deste sonho em raro sumo
Onde a sorte em paz agrade.


17

Nos compêndios do passado
Nas entranhas do futuro
Cada verso engalanado
Todo passo ora inseguro,
A verdade do traçado
Já não molda o que procuro,
Nem viesse lado a lado
Quando o nada eu configuro,
Nunca mais veria o brilho
Que desponta no horizonte
E se tanto a vida aponte
Onde tento e atento trilho,
O meu mundo desaponte
Coração deste andarilho.

18

Nada mais pudesse ver
Nem sentir já que a verdade
Custo mesmo a aparecer
E se surge nos degrade,
O caminho sem prazer
A tolice que me invade,
O meu mundo a se perder
Onde quis felicidade.
Nada mais podendo enquanto
Cada canto representa
A verdade onde me espanto
E no fim a vida atenta
Traça em nós o desencanto
E a palavra me atormenta.

19

Armações da vida eu sinto
Pouco a pouco me tomando,
O meu passo em raro instinto
Noutro rumo desabando,
E se possa enquanto minto,
Traduzir o mundo quando
No cenário onde é distinto
O momento atroz do brando.
Participo a cada engano
Do que possa me alentar,
E se sei quanto me dano
Vasculhando céu e mar,
O final baixando o pano,
Mas não canso de tentar.

20

Ondas tais que sei na areia
Onde o mundo é movediço,
A vontade me incendeia
E o caminho além cobiço,
Nos requebros da sereia,
Emoção explode em viço,
O meu prazo não se ateia
Noutro tom bem mais mortiço.
As palavras sendo assim
Trazem tanta dimensão
Do que trago vivo em mim
Sem saber da direção
Nem sequer enquanto eu vim,
Outros olhos me verão.

21

Apresentas calmamente
O que tanto me afligira
No que possa e não se mente
Mente nega uma mentira.
E demente a vida sente
O que tenta e se retira
No final, impaciente
A verdade sempre gira.
Nada mais eu pude ver
Nem quisera ter de fato,
As loucuras do prazer
Cada dia em que as constato
Busco mesmo merecer
Iguarias no meu prato.

22

Na palavra que se dera
Em sentido tão diverso
Entre a leda e vaga espera
Esperança sempre eu verso,
E se possa a vida fera
Momentâneo tom disperso
No vagar onde esta esfera
Traz o sonho mais perverso,
Invertendo a direção
Nada mais pude fazer
E se trago a solidão
Com certeza me perder,
Entre tal devastação
Nada mais pudesse ver.

23

Régias noites solitárias
Entre tantas que eu buscara,
As palavras sendo várias
Tão somente a velha escara.
As verdades são corsárias
E o caminho se escancara
Busco em raras luminárias
A incerteza, mesmo clara.
O vazio deste verso
Onde verso o meu caminho
Frente e verso desconverso
E tentara noutro ninho
O sentido do universo
Que soubera tão daninho.

24

Esbravejo contra tudo
E não vejo solução
Onde possa e desiludo
Deixo lá meu coração,
A verdade onde amiúdo
O cenário em solidão,
O meu verso mais agudo
Não permite a negação,
Entoando o que pudera
Ser além de uma cantiga
A palavra que se espera
Tantas vezes mais antiga,
Só deixara esta insincera
Relação que desabriga.

25

Outra vez em novo dia
Cada queda representa
O que pude e não havia
Numa luta violenta,
Engajando a poesia
Tantas vezes desatenta,
O caminho não traria
Nem o sonho que o sustenta.
Resumindo cada fato
Noutro tal quando o constato
Expressões diversas, trago.
E os meus dias mais doridos
Entre tantos consumidos,
Aumentando o ledo estrago.

26

Restaurasse do que um dia
Fosse festa e nada mais,
Hoje o tempo mudaria
E talvez sem temporais
A saudade não viria
Nem traria nos bornais
O que possa a fantasia
Traduzindo o nunca mais.
Plagas hoje tão distantes
Horizontes distorcidos,
No caminho não garantes
Nada vês; busco os sentidos
Entre os tantos, desencantes
Em momentos já perdidos.

27

Na vida que possa
Trazer outro sol
Saudade que é nossa
Ditando o farol,
Palavra se endossa
Tomando arrebol
E sei desta fossa
Sendo um girassol.
Risonho caminho
Pudera seguir
E quanto é mesquinho
Decerto o porvir
E quando me aninho
Tento prosseguir.

28

Versasse no fato
De quem tanto quis
E sempre retrato
Vital cicatriz
A vida resgato
E vou por um triz
No tempo constato
O quanto desfiz.
Vestindo o vazio
Seguindo sem fé
O mundo recrio,
E sei por quem é
Num tempo tão frio
Sem bar nem café.

29

Das tramas da vida
As lamas e o medo,
A sorte remida
No velho segredo
A mesma ferida.
No fim meu degredo
A lua sumida,
Matando este enredo
Já não mais comporta
A sorte que eu quero
Abrindo tal porta
Tentar ser sincero
A vida conforta,
E traz o que espero.

30

Marcar com o xis
Questões tão diversas
E ser o que eu quis
E nada dispersas
Aonde feliz
Pudesse e não versas
Vagar por um triz
Em loucas conversas.
Versões de uma vida
Que tanto quisera
A sorte puída
A luta insincera
A cada ferida
Amor desespera.

31

Aprendo com dor
E sei ser assim,
O passo onde for
Trazendo no fim
O quanto em valor
Reflete o que vim
Do sol gerador,
Mais nada há em mim,
O prazo a cumprir
O preço a pagar
O que no porvir
Pudesse tocar,
Amor se o sentir
Eu beba o luar.

32

Não tento outro rumo
Tampouco esta sorte
E quando eu assumo
O risco do corte,
A vida sem prumo
O manto diz morte,
E assim deste sumo,
Mais nada comporte
Somente o vazio
E sei sempre disto,
O quanto procrio
Já nem mais resisto,
O mundo; esvazio
Enquanto desisto.

33

O preço que pago
O dia sem medo,
O tempo em afago
Caminho em segredo,
No mar que divago
O barco eu concedo
E sei deste estrago
Deveras tão ledo.
Relendo o que vejo
E tento e não creio.
O vivo desejo
Audaz sem receio
Trazendo sem pejo
Algum devaneio.

34


Não choro nem temo
O tempo onde viva
Olhando meu Demo
A sorte cativa
O preço onde algemo
A vida que priva
Passado se o cremo
Jamais volta e criva.
O passo sem nexo
O canto destoa,
Encanto onde anexo
A luta tão boa,
E sei do complexo
Tormento onde ecoa.

35

Navego em teu mar
E tanto se faz
O quanto vagar
Procurando a paz,
No mesmo lugar
Deveras tenaz
Não posso deixar
O amor para trás,
Somente a semente
Cevada em cuidado,
O tempo desmente
O quanto alegado
Traduz novamente
O velho recado.

36


Não pude saber
O quanto se quer
O mundo a trazer
No olhar da mulher
O dom do querer
Sem prazo qualquer
O que possa haver
Enquanto vier.
Não tive detalhes
Da vida sem prumo
E sei que batalhes
Ousando outro rumo,
E mesmo que atalhes
Meu medo consumo.

37

Abraço o vazio
E tento o futuro
No gueto onde crio
Enorme este muro,
E sei do sombrio
Cenário e procuro,
Depois deste frio
O canto ora obscuro.
Perpétua vontade
E nada se vendo
Ainda a verdade
Deveras contendo
No que se degrade
Por vezes horrendo.

38

As noites tão brancas
De quem solitário
Procura entre as francas
Verdades, corsário
O mundo onde espancas
Sem ser necessário
Ou mesmo desancas
Num ar temerário
O todo que um dia
Pudesse diverso
E sem alegria
Caminho disperso
E nesta agonia,
Sem rumo hoje verso.

39

Nascendo o que fora
De nós o produto
A voz sonhadora,
O canto tão bruto
Sorte tentadora,
Porém sigo astuto
Da luz redentora,
O passo eu refuto.
Vestindo a quimera
Que tanto me cabe
O quanto da espera
Traduz o que acabe
E já destempera
Enquanto desabe.

40

Da vida este traço
Representa o traste
E quanto mais faço
Nem mesmo notaste
O dia onde passo
A luta negaste
E o canto em cansaço
Remete ao desgaste.
Nascer de uma sorte
Diversa e cruel,
O sonho diz corte
O gosto de fel,
A queda, outra morte
Sem prazos, ao léu.

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