quarta-feira, 30 de março de 2011

191

Não quero outro momento
Tampouco busco a paz
Ainda se me alento
O verso tão mordaz
Tomando o sentimento
Deveras nada traz.

Soubesse deste fato
Ainda quando vivo
Pudesse e não constato
O quanto fora altivo
E vejo este retrato
Enquanto em vão me privo.

Nas sendas mais vorazes
Os dias vagam fases.

192

Marcando em descompasso
Potencializando
O medo onde em traço
Num ato mais nefando,
Negando cada espaço
Ou mesmo desolando

O verso sem sentido
O tempo sem proveito
E quanto mais divido
E nada então aceito
Esqueço o desprovido
Momento em rude leito,

Apressando o meu verso
Apenas me disperso.

193

Não quero e não pudesse
Tramar nova esperança
A vida não se esquece
Da rude temperança
E vaga enquanto tece
A sorte e em vão se lança;

Resulto deste incauto
Momento em dom temível
Quem dera fosse lauto
O prazo inatingível
Do tempo onde me assalto
Vagando em dor incrível

E turbulência eu vejo
No sonho a cada ensejo.

194

Não quero e não se veja
A luta sem a paz
No fim desta peleja
O rumo se desfaz
E quanto mais se almeja
O mundo antes tenaz

Encontra o sonho vago
E mata o que se quis
Vivendo em tal afago
O jamais ser feliz,
E sei quando divago
Apenas aprendiz.

Resumos de outras eras
E nelas desesperas.

195

Não pude ter no olhar
O quanto se transforma
E bebo a divagar
A ausência de reforma
E quando navegar
Espero o que deforma.

Meu mundo nada imune
Ao que se faz tormento,
A vida que me pune
Também dita o fomento
E sei do que desune
Em todo vão momento.

Respaldos de um passado,
Já tanto desolado.

196

Não pude ter por perto
Sequer o que inda reste
Da vida em tal deserto
Em mundo mais agreste,
E quando assim desperto
Não vejo o que se empreste

Ao sonho mais sutil
E tanto não se quer
No vento onde se viu
O anseio da mulher
Que a vida não previu
Sem ter sonho qualquer,

Reparo em todo caos,
Momentos rudes, maus.

197

Não pude acreditar
Nas tramas do caminho
E vejo sem lutar
O mundo mais mesquinho
E sem qualquer lugar
A morte se faz ninho.

O preço que se paga
A vida não presume
E o tempo em cada plaga
Repara em ledo lume
E a sorte não afaga
Sequer qualquer costume.

Proventos sem ternura
A luta em vão perdura.

198

Escrito nas estrelas
Os nomes, esperanças
E quando pude vê-las
A vida traz em lanças
O quanto não detê-las
E nada tu alcanças.

Reparo cada engano
E vejo o que se quis
O mundo onde me dano
Traduz a cicatriz
E o passo soberano
Não dita o ser feliz.

Respaldos do passado
No verso derrocado.

199

Na sorte sem sentido
No olvido que se dera
O tempo revolvido
Ausenta a primavera
E o mundo resumido
Na face mais austera.

Esqueço de onde vim
E vigorosamente
A vida morta em mim
Expressa imprevidente
Cenário e sei que o fim,
Enfim já se apresente.

Reparo com meus erros
Os claros, vãos desterros.

200


Esqueço quaisquer medos
E sigo contra a fúria
Dos velhos desenredos
E sei desta penúria
E tento nos segredos
Apenas a lamúria.

Resplandece no peito
A luz que não mais veio
E sei do quanto aceito
E sinto o toque alheio
Ao todo onde me deito
E marco em tal receio

Somente esta verdade
Que tanto desagrade.

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