quarta-feira, 30 de março de 2011

221

Jamais eu poderia
Ousar noutro momento
A vida é mais sombria
E traz em sofrimento
O quanto dia a dia
Deveras atormento,

Não pude e nem quisera
Pensar no que se tente
Ainda sendo a fera
O que decerto atente
O passo destempera
E torna-me um demente.

Vestígios de uma lenda
Aonde o vão se estenda.

222

Não quero e não pudesse
Apenas bendizer
O que se faz e tece
Aquém o bem querer,
Navego em rude prece
Aguardo enfim morrer.

E sei do meu anseio
Vazio sem proveito
E quando o tempo veio
Num rumo aonde deito
O prazo em devaneio
O corte não aceito,

Esqueço o que se quer
Não tendo alguém, sequer.

223

Na escala que se tenta
Chegar ao infinito
O mundo em foz sangrenta
Presume o que não grito
E sei desta tormenta
E sempre a necessito,

Da nitroglicerina
Ao mundo nuclear
A vida é mais ferina
E canso de lutar,
Sem ter o que domina
Adentro em rude mar,

Jogado para as feras
As horas são quimeras...

224

Não tendo solução
Expresso o que não vejo
Num sonho em dimensão
Diversa do desejo
E sei que a negação
Expõe onde porejo

O prazo se extinguindo
O caos dentro do peito
O mundo não deslindo
E morro insatisfeito,
Do quanto me traindo
Deveras nada aceito,

Esqueço o meu passado
E volto ao velho enfado.

225

Bramisse o imenso mar
E nada mais se visse
Senão poder voltar
E mesmo em tal mesmice
A fúria a me tomar
O rumo contradisse,

Não quero e nem mais pude
Viver a luta atroz
Carpindo o tom mais rude,
Ninguém escuta a voz
Do que em atitude
Traduza os velhos nós

Reparo cada engano
E sei que ao fim me dano.

226

Não permitindo o fato
Enquanto sou assim,
O que sei e constato
Matando o meu jardim
Não deixa este regato
Na foz dentro de mim,

Elementar cenário
Aonde em turbilhão
O verso temerário
Não traz a sensação
Do quanto é solitário
O tempo em negação,

Apressando o final,
O turvo ritual.

227

Acolho com meu medo
Os dias mais venais
E bebo este segredo
Em termos desiguais,
Matando este arvoredo
Enquanto tu me trais,

Repare cada espanto
E nada mais servisse
Senão meu desencanto
Ou mesmo esta tolice
Aonde o que garanto
Jamais alguém ouvisse.

Persisto contra a sorte
Bebendo em paz a morte.

228

Não quero nem sinal
Do velho sentimento
E sei do sideral
Delírio aonde eu tento
Restando outro degrau
Exposto ao rude vento.

Não mais se quer a vida
Em tom diverso e rude,
Ainda desprovida
Do quanto já me ilude,
A luta ora perdida,
Em sórdida atitude.

O caos aonde o rumo
Expressa o que resumo.

229

Bebendo cada sonho
Aonde o nada veio,
E tanto recomponho
A vida em devaneio,
O marco mais bisonho
Expressa o vão receio

Apresentar enfim
O que não mais teria
Matando o meu jardim,
Ausente poesia,
O luto vivo em mim
A sorte em agonia,

O prazo determina
E seca a antiga mina

230

Acendo este vazio
Venal e sem proveito
E quando me recrio
Espero e não aceito
Sequer o desafio
Enquanto em vão me deito.

Reparo cada engano
E bebo o que não traça
A luta onde me dano
A vida em tal fumaça
Restando o velho pano
E nele a imensa traça,

O prazo se findando
E o mundo desabando.

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