quinta-feira, 31 de março de 2011

261

Não tento melhor sorte
Nem mesmo poderia
A vida traz na morte
O que me redimia
Do vento atroz e forte
Em leda fantasia

Ourives do vazio
Segredos sei de cor,
O tempo desafio
E sendo em sal suor,
O canto onde desfio
Jamais se fez maior.

Apenas reproduz
A velha e leda cruz.

262


Não quero qualquer rumo
E nem felicidade
O tanto onde resumo
Deveras me degrade
E bebo inteiro o sumo
Ausente liberdade.

Esquento o meu caminho
Em ledos, vários sóis
E quando me avizinho
Deveras tu destróis
O quanto fosse ninho
Em rotos, vis lençóis

E sei do que se tente
Em tom duro e frequente.

263

Acolho o que se fez
Em lenta hipocrisia
A velha insensatez
Matando a cada dia
O que já não mais vês,
Domina a fantasia,

E bebo o que se possa
Em aguardente e tédio
A luta gera a fossa
E sem qualquer remédio,
O mundo não endossa
A vida em lento assédio.

Ocasionando a queda
Aonde a morte seda.

264


Ao emplastar o risco
Em dores e temores
O prazo onde confisco
As tramas em rancores,
O mundo mais arisco
Expressa o que inda fores.

Primaveril vontade
Não traz o que desejo
O mundo se degrade
E nada mais prevejo
Somente a velha grade
E nela inda pelejo.

Restando o que inda leva
Esta alma feita em treva.

265

Andando sem saber
O quanto pude e tente
Vagando a me perder
Inútil penitente,
O marco a se verter
Deveras não me atente,

Acolho cada engano
E bebo o que não vivo
Somente se me dano
Ao ser mero cativo
O passo mais profano
Apenas lenitivo.

Acolho o que recolha
A sorte em leda folha.

266


Não quero nem saber
O que inda mais jazia
Da vida sem prazer
Em tons de hipocrisia,
E passo a recolher
O quanto não havia

Do mundo sem provento
Da luta sem sentido.
E quando me alimento
Do canto aonde olvido
O dia em tal tormento
E nisto dilapido

O prazo sem caminho
Carinho vão, mesquinho.

267


Navego contra a fúria
De um mar que não se faz
Além desta penúria
Enquanto nada traz
Somente cada injúria
Em tom ledo e mordaz.

Espero o que se agita
No encanto sem desejo
E sei desta pepita
Aonde a cada ensejo
O mundo enquanto grita
Proteja o que não vejo,

Apresentando o rude
Caminho onde se ilude.

268

Negociando o fato
Aonde o que se quis
Trouxesse o que constato
Em torpe e vão matiz,
O mundo onde o retrato
Refuga o que já fiz.

Mergulho sem saber
O quanto a cada traço
Diverge do querer
E nada mais refaço
E sei do que irei ter
Em tosco e rude espaço,

Avesso ao que inda venha
O mundo não convenha.


269

Não quero de tal forma
O mundo aonde um dia
Vencendo o que transforma
Gerasse em ironia
Apenas a reforma
Que tudo impediria;

Repare cada engano
E veja o que se quer
Negando onde me dano
Nas tramas da mulher
Em cada novo plano
O quanto Deus quiser,

Mas colho com a morte
O que já me conforte.

270

Não quero e não teria
A sensação completa
Da luta em poesia
A vida mais discreta
Aonde a sintonia
Aos poucos me repleta.

O verso sem sentido
Atento e sem proveito,
O mundo resumido
Aonde em vão me deito,
Já vejo dividido
O que se fez direito.

O caos entremeando
O tempo mais infando.



271


Mal pude acreditar
Nas tramas de um anseio
E sei que devagar
Invado o mundo alheio
E bebo a me fartar
E nisto o meu recreio.

Rescendo ao que não pude
E nada mais teria
Senão a voz que rude
Expresse esta agonia
E quando em magnitude
Matasse o novo dia,

Repito o que não veja
Uma alma em vã peleja.

272

No caos aonde eu possa
Trazer a vida em riste,
A sorte nega a roça
E sei quanto persiste,
Marcando o que se endossa
No verso amargo e triste,

Ainda sem sentir
O quanto pude em vão
Apenas o porvir
Indica a dimensão
Do quanto resistir
Expresse a negação,

E dos porões da vida
A sorte em despedida.

273


Negar o que não veio
Anseio que não tento
Ao menos se receio
Bebendo inteiro o vento,
O mundo segue alheio
Ao vão contentamento.

E possa noutro engodo
No lamaçal desta alma
Ao mergulhar no lodo
A vida não se acalma
E sei que deste todo,
Apenas resta o trauma,

E nada se aproveita
Enfim desta colheita.

274


Debulhando o canto
Envolto em treva e medo
O que pudera tanto
Agora não concedo,
Resumo o desencanto
E nisto o meu segredo.

Evade-se do rumo
Aonde quis um riso,
E sei do que consumo
E nisto me matizo
A vida em ledo sumo
A morte sem aviso

E o passo aonde eu tente
Viver, imprevidente.

275

Não mais se vendo o canto
Aonde vejo o fim,
E bebo o desencanto
Guardado dentro em mim,
O prazo eu não garanto,
Acendo este estopim.

O mundo desabando
A banda apodrecida
O corte desde quando
A carne envilecida
Aos poucos se formando
Em luta sem guarida.

Espero o quanto reste
Do tempo exposto em peste.

276


Mapeio com meu medo
O que não pude ter
E sei deste arvoredo
E o vejo apodrecer,
O mundo sem segredo
O tempo a se verter,

Na fonte mais atroz
Que tanto poderia
Ousar dentro de nós
Em torpe sintonia
Vencido e já sem voz,
Em vão eu morreria.

Marcante derrocada
Traduz o mesmo nada.

277


Anunciando a morte
De quem se fez gentil,
O tempo não comporte
O quanto não se viu,
O verso sem aporte
Aborte o que previu,

O manto se desnuda
E nada possa ver
Senão a dor aguda
E nela o receber
Ausenta alguma ajuda
E mata sem saber.

O medo não se cala
E toma esta senzala.

278

No marco em dor, remendo
O caos se mostra quando
O tanto que desvendo
Presume o mais infando
Cenário me revendo
E nisto desabando.

Reparo cada engano
E bebo o fim de tudo,
Enquanto ora me dano
Eu sei do quanto iludo,
Vestindo o mais profano
Caminho eu sigo mudo.

O verso sem sentido
E o tempo revolvido.


279

Não pude ter no olhar
Sequer algum apoio
E sei do caminhar
E mesmo num comboio
O tempo a se traçar
Expande o velho arroio

E o tempo não se faz
Além do quanto eu pude,
O mundo mais mordaz
A cena atroz e rude,
O canto contumaz
Ausente juventude;

E sei do que se busca
Em noite alheia e brusca.

280

Espero qualquer tom
E nada mais se visse,
Versando em rude dom
O quanto da mesmice
Trouxesse o que foi bom
E nada mais se disse,

Somente o que repare
O canto em desatino.
E nada mais ampare
O que jamais domino,
O marco não separe
O teto e determino

O mundo em vã centelha
E à morte me assemelha.

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