quinta-feira, 31 de março de 2011

281

Já não resta quase nada
Nem sequer algum sinal
Desta sorte imaginada
Destroçada em tom fatal,
E se entranho a madrugada
O meu canto atroz e mau.

Nas estâncias mais distantes
Outras tantas; desenhei
E se o quanto me garantes
Estraçalha o que busquei
Minha sorte em tais instantes
Tece em dor a minha grei.

O restante do que tenho;
Na parede, um vão desenho.

282

Nada mais se tendo enquanto
Minha vida fora assim,
O momento aonde espanto
O que resta vivo em mim,
E se tento, o desencanto
Rega as plantas do jardim,

E sem ter uma esperança
Nada mais pudesse ver,
Onde a vida em vão se lança
Não conheço amanhecer,
E sem ter mais confiança
É melhor então morrer.

Nas tramóias da existência
Nada resta em consciência.

283

Jogos tantos, medo vário
Ouço o vento convocando
O que tenha em adversário
Num anseio me tomando,
Erro sempre itinerário
E meu sonho em contrabando,

Nada mais se poderia
Sem ter quase a dimensão
Do que a vida não traria
Nem os dias moldarão,
Acenando em ironia
Mato o sim e vivo o não.

Nada pude e nem se queira
Nesta sanha, a derradeira.

284


Respondendo ao que não veio,
Lacrimejo sem saber
O que possa em tal receio
Desvendar em desprazer,
O meu mundo ora permeio
Nas entranhas do querer.

Conhecendo o que se tente
Após nada conseguir,
O caminho persistente
Renegando algum porvir,
O meu verso desalente
O que tento redimir.

Mas a morte doma e vem,
Depois dela; mais ninguém...

285


Já não quero acreditar
Em diversas fantasias
Onde mesmo ao mergulhar
Ouço sonhos de outros dias,
Após tanto navegar,
Nada mais inda trarias,

A verdade é que não resta
Nem sequer qualquer alento,
Invadindo a mera fresta
Tão somente alheamento,
No falsário que se empesta
Onde inútil, me atormento.

Vago sem saber de um canto
Em completo e vão quebranto.

286



Nesta estrada o fim se vendo
O momento não resume
O que fora mais horrendo
Nesta dor, ledo costume,
E meu mundo se tecendo
Gera apenas vago lume;

Pressentindo o fim do jogo
Presumindo o que não venha,
O meu mundo em vago rogo
A verdade que convenha
A quem sabe deste fogo
E se faz em brasa e lenha,

Nada mais se tendo além
Do tão pouco que convém.

287

As palavras mais sutis.
Os anseios mais diversos,
Entre o quanto se desdiz
Ouso apenas nos meus versos
Caminhando e por um triz,
Vejo os dias vãos, perversos.

Nada resta do que um dia
Pude ver e sem sentido,
Outro tanto não veria
Nem sequer o quanto olvido,
A verdade em agonia,
O meu caos, manso o lapido.

Vejo do abandono as tramas
Envolvido em ermas chamas.

288

Nada mais se vendo quando
O meu canto se perdendo
Deste rústico e nefando
Desejar em ledo adendo,
O passado se tornando
Tão somente algum remendo.

Repetindo a velha história
Nada mais se poderia
Ouso ter em vã memória
O que possa a fantasia,
Hoje sou a mera escória,
Escombros em luz sombria.

Respirando a pestilência
O meu passo em inclemência.

289

Nada mais eu pude ver
Nem sinais de novo espaço
Onde a vida a se perder
Já não deixa qualquer traço
Do que possa ser prazer
E deveras me embaraço.

Resto aquém deste finito
Desenhar em tom maior,
O que busco a cada rito
Transpirando em vão suor
E se enfim eu acredito,
Cada açoite eu sei de cor,

Mas no fundo da questão
Perco a minha dimensão.

290

Nos instantes derradeiros
Nos meus dias mais doridos
Outros sonhos, meus canteiros
Outros passos presumidos
E os cenários costumeiros
Pelo fogo, consumidos.

Resoluta e claramente
O que possa se renega,
A saudade se apresente
Mesmo sendo quase cega,
Mata mesmo mansamente
E ao diabo me carrega.

Verifico o que inda tento,
Trago apenas sofrimento...

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