terça-feira, 29 de março de 2011

41

Quando nada eu poderia
Procurar em meio ao sonho
O meu mundo em ironia
Tantas vezes recomponho
Na esperança rota e fria
Outro termo onde me enfronho
Esperança não viria
Transformar algo enfadonho.
Rutilantes caminhadas
Pelos ermos de que tanto
Na poeira das estradas
Desenhassem tal encanto
E não vendo iluminadas,
As searas: desencanto.

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Rente ao chão vagando em tons
Tão diversos, versa a vida
Entre os tantos raros dons
A esperança descumprida
E se escuto acres sons,
Na verdade não divida
Minha sorte em vãos neons
Uma estrada ora perdida.
Respirando com ternura
O que pude e não se fez,
Onda além já se procura
Neste mar da insensatez
E o que fosse clara cura
Desde outrora não mais vês.

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Ao versar sobre o que resta
De uma vida sem proveito
Aprendendo em cada festa
O que possa ter direito,
No momento onde se empresta
Quanto mais eu me deleito
Raro amor adentra a fresta
Quando infesta inteiro o peito.
Jamais pude na incerteza
A verdade que não veio,
Sigo contra a correnteza
Neste passo mais alheio
Ao que possa sendo a presa
Desenhada em devaneio.

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Bebo as tramas do passado
Vejo o sonho que não tende
Sem caber no desolado
Delirar onde se estende
O meu mundo eu deixo ao lado
E meu passo não desprende
Nem sequer o anunciado
Sonho enquanto o vão remende,
Atendendo ao que pudera
Noutro rumo ou mesmo enquanto
O meu verso traz na espera
O que possa e tento ou canto
A saudade mais sincera
Produzida em desencanto.

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Acordando o que não vira
Desde o tanto quanto possa
A verdade se prefira
Sendo a história imensa e nossa,
Depois disso o quanto roça
Do passado o que retira
Expressão que sempre endossa
Dia a dia em vã mentira.
Emoldura nesta tela
O meu tempo sem proveito
Meu caminho se revela
Tanto enquanto eu sempre aceito,
A verdade imensa e bela
Naufragando em duro leito.

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Bravamente quis o dia
Onde nada pude e, nisto
O meu passo não se adia
Mesmo quando ora desisto,
A verdade em ironia
Tento e mesmo mal despisto
Procurando em agonia
O cenário onde persisto.
Localizo cada ponto
Neste mar tenso e bravio
E se possa estando pronto
Provocando o desvario,
O meu canto sem desconto
Traz o quanto o desafio.

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Traços outros, vida soma
E permite em cada queda
O sentido deste coma
E se tanto a sorte veda,
O meu rumo tenta Roma,
Na verdade não enreda
O tormento aonde doma
O momento em dores seda.
Aventuras entre as tais
Ousaria muito mais
E teria esta certeza
Do infinito sem proveito
Caminhando enquanto aceito
Não ser mais a tua presa.

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Calorosa e tolamente
O meu prazo determina
O que a vida tanto mente
E deveras nesta mina
A verdade se apresente
Muito além do que domina
Esperança esta nubente
Que sem nexo me alucina,
Vivo em tramas tão complexas
E se possa estar contigo,
Minhas luzes quando anexas
Desprezando o que persigo,
Coração exposto às flechas
Delirante e bom perigo.

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Mergulhando no vazio
E sem ter onde apoiar
Quem me dera ter o rio
E beber inteiro o mar,
O que possa em desafio
Já nem tente navegar,
Ouso mais que o calafrio
Na vertente a me levar.
Vagamente o quanto resta
Noutro encanto, nosso passo,
Adentrando cada fresta
O meu mundo sem cansaço
Procurando clara festa
Outro sonho em ti o traço.

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Levaria para além
O versar em mansos dias,
E se tanto o tempo tem
Noutros tempos, ventanias,
E o que possa sem ninguém
Na verdade sempre adias,
Marco os olhos com desdém
Onde quis tais fantasias;
Redimindo o que se traz
Num engano contumaz
Mais que eu tente; o nada resta
O meu canto se perdendo
Onde o todo diz remendo
E o futuro se detesta.

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