quarta-feira, 30 de março de 2011

71

Já não cabe ao caminheiro
Ter certezas sobre o quando
De roseira e de espinheiro
Neste passo se moldando,
Onde outrora fora brando
Vejo agora o derradeiro
Desenhar já desabando
E tentando outro canteiro.
Navegar é necessário
E deveras mais um dia
Poderia solidário
Transbordar em alegria,
Mas amor sendo um corsário
Cada sonho impediria.

72

Não pudesse ser além
Do que tanto quis e, nada.
A verdade não convém
Desviando a velha estrada,
E se o passo traz desdém,
Esta sorte maltratada
Tanto quanto possa e tem
No final já depravada.
O meu canto se aproxima
Deste imenso paroxismo,
E se possa neste clima
Caminhar, viver o abismo,
A palavra não estima
E decerto em vão eu cismo.

73

Na medida do possível
Vou levando cada engano
E se possa ser mais crível
No final somando o dano,
Meu momento indivisível
Expressasse o soberano
Caminhar em novo nível
E por certo nada explano,
São palavras, atos, rumos
E se tento destes cantos
Outros dias em resumos,
Jogo a sorte em desencantos,
E dos claros, doces sumos,
Sobram ermos em vis prantos.

74

Nada mais se aproximando
Do momento tão agudo
O meu dia desde quando
Noutro passo me transmudo,
A verdade diz do infando
Caminhar onde me iludo,
E se possa deformando
No final percebo tudo.
Deposito uma esperança
Onde a lança penetrasse
A incerteza já nos lança
Sem saber do quanto trace
E se a vida em aliança
Gera apenas vivo impasse.

75

Não pudesse ser assim,
Ou quem sabe até devesse,
O meu mundo chega ao fim
Sem que a sorte eu merecesse,
Do cenário de onde eu vim,
Com certeza não vivesse
Florescência de um jardim
Onde a fúria me envolvesse.
Recebendo de tal sorte
O que nunca mais teria
A verdade não conforte
E nem trame a fantasia,
O meu canto já sem norte,
Só a morte enfim veria.

76

Largo os olhos no infinito
E procuro alguma luz
No horizonte mais bonito
O cenário reproduz
O que tanto necessito
E deveras me seduz,
Mas sabendo deste rito,
Meu caminho em dor o pus.
A certeza do que um dia
Mostraria novo canto,
A saudade ora me guia
E transforma em desencanto
Esta aguda sintonia
Onde aprazo e não me espanto.

77

Vicejasse toda rosa
Neste tom primaveril,
A verdade é caprichosa
E deveras sei que é vil,
O que traz a melindrosa
Sensação que se previu,
Espalhando pedregosa
Emoção num tom sutil.
Restaurando o que se fez
Resumindo o meu cansaço,
Esta dura insensatez
O momento onde desfaço
O que sinto já não vês
E não tramas novo traço.

78

Esbravejo contra a sorte
Que pudera ser bem mais,
O meu mundo não comporte
Outros dias tão iguais,
E se possa ser mais forte,
Resumindo em rituais
Onde adentra o fino corte,
Vejo os passos tão venais.
Invernando dentro em nós
O passado noutro estio,
Entremeio a cada voz
Um momento onde recrio,
Caminhando logo após,
Envolvendo em desafio.

79

Não mereça qualquer verso
Quem se fez em tal clausura
A verdade eu desconverso
E traduzo esta amargura,
Quando vejo o monstro emerso
Paisagem me tortura,
Mas pudesse ser diverso,
Quem me dera, com brandura.
No farnel nada carrego
Senão sonhos e promessas
O meu passo em rumo cego,
Onde as dores, tu não meças
O meu canto onde trafego
Embaralha velhas peças.

80

Na palavra mais audaz
Na esperança que se tenta
Se a verdade ora desfaz
Bebo as sagas da tormenta,
E o meu canto nada traz
Só a fonte virulenta
Onde vivo este tenaz
Delirar que me sustenta.
Restaurando o que se fez
Sem saber da precisão,
Nesta mansa insensatez
Enfrentando outro leão,
O caminho enquanto vês
Traz do sonho, exposição.

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