domingo, 27 de março de 2011

Mereceria a paz
Quem tanto quer a vida
E sabe da comprida
Estrada e segue atrás,
O risco onde se faz
Presume a despedida
Abrindo outra ferida
Exposta em tom mordaz,
Acolho cada embrulho
E sei quanto me orgulho
Do entulho que hoje sou,
Não veja cada engano
Qual fosse mais um dano
Que expressa o que restou.

2


Já não mais se pensasse
A vida como outrora,
E sei que desarvora
A sorte em tal impasse
O ser não ser não passe
E o tempo não demora,
Sentir a qualquer hora
A luta onde se trace.
Vestígios de uma senda
Diversa onde se atenda
E estenda o coração,
Não pude conceber
Sequer algum prazer
No imenso e torpe não.

13


Juntando cada caco
Do quanto já não somos,
Unindo velhos gomos,
O resultado é fraco,
E sei que em cada naco
O mundo enquanto o fomos
Trouxesse velhos tomos
E o resto; no buraco.
Acrescentar o nada
E disto em tal mistura
O quanto se procura
Desenha a desolada
Imagem do que um dia
Pudesse fantasia,
Porém só resta o nada.

14

Não veja; amada minha
A vida desse jeito
O quanto mais aceito
Traz senda tão daninha
Somando o que não tinha
Eu sigo satisfeito
E tento – é meu direito-
A noite mais mansinha.
Resplandecendo a lua
Deitada inteira e nua
Na cama e sem juízo,
Assim sem mais temor,
Nos antros de um louvor
Esboças paraíso...

15


Circulo entre meus danos
E tento novamente
Voltar e não desmente
A vida em velhos planos,
Tentando em desenganos
O quanto se apresente
E sinto imprevidente
Cenário em rudes panos.
A peça não termina
Um ato após se vê
E o quanto nunca dê
Para esgotar a mina,
Mas quando chega o fim,
Não resta nada em mim.

16

Louvado seja quem
Soubesse do passado
E tendo desenhado
A vida que convém,
Após o ser ninguém
Mostrando o já moldado
Caminho desolado
Da sorte muito aquém,
Querendo ou não querendo
Apenas sou remendo
E emendo cada parte
Do pouco que se desse
A vida sem tal messe
Jamais em paz comparte.

17

Fizesse da partilha
Apenas mais uma ato,
Mas quando mal eu trato
O tempo em armadilha
Prepara nova trilha
E sinto este retrato
Aonde o desacato
Matasse a maravilha;
Das ilhas e dos ermos
Aprendermos e sermos
São coisas conflitantes?
Armando outra cilada
A vida não diz nada
E nada me garantes.

18

O feto afeto fita
O faz o que se tenta
Na sorte virulenta
A luta mais aflita,
E nada ora reflita
O quanto da tormenta
Pudesse e violenta
Quem não mais acredita.
Apreços e vontades
Aonde tanto brades
As grades não contêm.
O mundo desabando
E o peso em contrabando
Traduz velho desdém.

19

Restaurações diversas
Em prazos mais sutis,
E tendo o quanto quis,
Sonhos em sedas persas.
As jóias tão dispersas
Pudesse ser feliz,
E sei que por um triz
Ao menos desconversas.
Viceja dentro da alma
O tanto que me acalma
Ou traumas de um passado
E quando a sorte trama
Além de qualquer chama
O amor dita o chamado.

20

No caos onde se veja
A luta sem final,
O verso bem ou mal
Anseia o quanto seja,
A vida malfazeja
O rastro até fatal
Guardando no bornal
A mão que se caleja,
Nas tramas deste campo
Aonde não acampo
Nem poupo o coração,
Do tanto que se visse,
Ainda em tal crendice
Procuro a direção.

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