quinta-feira, 24 de março de 2011

Minha estrela rodopia
Entre os vários carrosséis
E se tanto em fantasia
Sorve apenas raros méis
No que tenta em utopia
Revertendo tais papéis
Já não irradiaria
Nem em rumos mais fiéis.
Negocias com meus sonhos
Os que eu possa desvendar,
E se trago em enfadonhos
Sóis distantes do luar,
Os meus medos mais bisonhos
Vêm tomando este lugar.

2

Rasgo as tramas de uma vida
Sem sentido e sem proveito
A palavra presumida
Na verdade não aceito,
E se possa contraída
Minha luta em vão direito
Nada traz e a despedida
Ousa além de um mero pleito.
Resumindo o quanto resta
Do meu canto ou do meu verso
Onde a vida quis a festa
Noutra esquina do universo
Abro o peito em leda fresta
E presumo o tom disperso.

3

Presumisse o que não veio
E tampouco se veria,
O meu mundo sem rodeio
Mata cedo a poesia,
E o meu canto em devaneio
Trama além do mero dia,
O sentir já sem receio
O que tanto eu poderia.
Nada mais se adivinhasse
Nem tampouco o sol em mim,
Acredito neste impasse
E marcando de onde eu vim,
A verdade molda a face
Quando a sorte chega ao fim.

4


Ousaria acreditar
Se deveras fosse a vida
Mais diversa do lutar
Sem saber qualquer saída,
O meu canto a se entranhar
Esboçando outra ferida,
Nada mais pudesse amar
Nem sentir tal despedida,
Vasculhando cada ponto
Do que tanto desenhei
Nos cenários, quando apronto
A vontade como lei,
O meu mundo roda e tonto
No vazio eu mergulhei.

5


Mas de tantas dores feita
A esperança ora minguando
O caminho onde a desfeita
Nos promete desde quando
Arremete o que se aceita
Ou disfarça o mais infando
Desenhar onde se deita
Ilusões fugindo em bando.
Restaria muito menos
Do que tanto se quisera
Os meus passos são pequenos
P’ra enfrentar qualquer quimera,
Coquetel feito em venenos,
O que sinto já me espera.

6

Nas angústias mais doridas
De quem tanto desejou
Entre claras belas vidas
O vazio onde entranhou
Não se vendo em despedidas
Muito mais do que sobrou,
Arranhadas e feridas
Estrelas aonde eu vou.
Nada mais se vendo após
O que fora esta emoção
E sangrando dentro em nós
Outros dias me trarão
O momento em leda foz,
Divergindo do verão.

7


Jorram luzes? Mera crença.
O meu passo sempre em falso,
Onde quer que se convença
Pouso aquém de algum percalço
E sabendo a recompensa
No terror onde descalço
Percorria a noite imensa
Num terrível cadafalso.
Apresento com doçura
O que tanto desejara,
A verdade me assegura
Do vazio da seara,
Na esperança esta estrutura
No final nos desampara.

8

Primo pelo sonho em vão
E também pela inocência
De quem busca a solução
E procura a coerência,
Versejando em direção
Ao que possa em penitência
Marco a vida noutro não
E mergulho em inclemência.
Restaria o que inda trazes
Como fosse lenitivo
E sabendo destas fases
Tão somente sobrevivo
E sangrando em tais mordazes
Desejares; vou cativo.

9

Nada mais se vendo enquanto
O meu prazo terminasse
O cenário onde o garanto
Traz a vida em desenlace,
O meu sonho em desencanto,
Minha vida em tal impasse,
Dos meus olhos, rude pranto,
Onde o todo se entranhasse.
Apresento ao menos isso,
Restos vivos do abandono,
E o caminho onde o cobiço
No final já desabono,
O meu canto diz cortiço,
Minha vida nega o sono.

10

Traduzindo o quanto tenha
A verdade sem segredos,
Entre o medo que inda venha
Passos rudes, tantos medos,
Nada mais, ora convenha
A quem traga em desenredos,
A esperança de uma ordenha
Vai fugindo pelos dedos.
Carpideira vida traz
O que tanto não queria.
E se sou tanto mordaz,
Nada disto se veria
Se este mundo for capaz
De render-se à fantasia.

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