terça-feira, 22 de março de 2011

Navegar e não sonhar
É melhor ficar no cais,
O momento a se traçar
Onde em medos magistrais
Não consiga dominar
Nem os ermos dos cristais
É seguir e não mostrar
Os anseios mais banais.
Resultados de uma vida
Sem razão e sem o leme,
Onde quer quanto decida
O cenário aonde teme
Já não traz sequer saída,
E o meu mundo não extreme.

2

Levo os olhos ao passado
E procuro no horizonte
O que já determinado
Seja mais que mera ponte,
Tramo o dia desvairado
E decerto ora me aponte
O caminho destroçado,
Mas mantendo a mesma fonte
Ouso além do que foi dado.
Negocias com o engano?
Nada disso. Morto está,
Onde viva em novo plano
Ali mesmo é que estará,
E se tanto ora me dano,
O meu dia chegará.


3


Ultrapasse o que viria
E não temas o caminho
Onde a sorte em poesia
Traça um sonho e beba o vinho
Tão sobejo da utopia,
Mesmo quando venha espinho,
O que tanto se queria
Traz no olhar um claro ninho,
Beijo assim a lua imensa
Derramada noutro encanto
E se posso enquanto pensa
Vivo mais do que garanto,
Sei da sorte onde convença
Superável qualquer pranto.

4

No otimismo com fartura,
Mas sabendo de uma sorte
Tão diversa da ternura
Ou deveras sem um norte,
O que possa e se perdura
Grassa além do que conforte,
Marca a vida em amargura
Relegando algum suporte.
Já não tenho o que pensar
Nem sequer outro momento
Onde a noite é de luar
Mesmo quando em forte vento
O caminho a se traçar,
Num segundo agora invento.

5

Lapidando o que se quer
Noutro prazo ou noutra luz,
O momento sem sequer
Produzir a dor e o pus,
No caminho que vier,
Brilho farto nos conduz,
Ao saber rumo qualquer
Mesmo feito em contraluz.
Não pudesse e não teria
Novo encanto se não creio
E modulo a fantasia
Sem saber de algum receio,
Noite afora, dia a dia,
Da esperança busco o veio.

6

Relegar a qualquer ponto
Tão diverso do que vejo,
É trazer onde remonto
Meu anseio num desejo,
E procuro enquanto apronto
Desenhar o que dardejo,
E se andasse mesmo tonto,
Não pudera além do pejo.
Resumindo o verso em rude
Desvendar sem luz e em tédio,
Caminhar bem mais que pude
Tendo o sonho como assédio,
E voltar à juventude,
Enganoso e vil remédio...

7

Bebo as ondas do futuro
Mesmo quando não as sinta
O palácio atrás do muro
Traz a sorte mais distinta,
E o que possa e me asseguro,
Na verdade em luz extinta,
Se eu quisesse e me amarguro
Quando vejo a mão que minta.
Não seria mais quem sou
Nem pudera ser diverso,
Coletando o que restou,
No meu mundo mais disperso,
Mas futuro desnudou
O que agora em sonhos verso.

8

Nas espúrias empreitadas
Entre vaga luz destróis
E devassas as estradas
Derrubando os seus faróis?
Não quisessem desenhadas
Entre nós matando os sóis
Noites rudes; malfadadas
Despedaçam tais lençóis
E da seda prometida
Do caminho onde há cetim,
Inexiste qualquer vida,
Preconizo ali meu fim,
Mas se busco a despedida,
É melhor matá-la em mim.

9


Sigo em frente e nem presumo
Qualquer tom que desatine,
O meu canto noutro rumo,
Onde o tanto me destine,
Sei do verbo e sem perfume
Não há nada que fascine,
Do sopé ao mesmo cume,
O caminho me alucine,
Não queria ver apenas
As loucuras sem proveito,
Dos meus olhos, velhas cenas,
Quando acenas e me deito,
Resumindo noites plenas
Onde em luzes me deleito.

10

Braços fortes, dias tais
E momentos costumeiros
Onde pude sempre mais
Procurar novos canteiros
E deveras demonstrais
Outros tantos, derradeiros?
Não vagasse por astrais
Nem mostrasse os meus ribeiros,
Afluência na esperança
Que jamais será tardia,
O passado ora me lança
Ao que tanto poderia,
Mas pesando na balança
Vivo a imensa fantasia.

11


Desfraldara esta mortalha
Tantas vezes que cansado
Do momento em leda falha
Onde o sonho; além evado,
Na certeza que amealha
O meu pranto noutro prado,
Ouso além de uma batalha
Sem um verso desolado.
Quando além de mim eu cismo,
Mesmo que não mais viesse
O caminho num abismo?
Não queria ter tal messe,
Já me basta o cataclismo
Que este mundo me oferece.

12

Horizontes onde um dia
Mergulhasse em tom mais claro,
E se bebo da ironia,
Na verdade o que declaro
Jamais tanto negaria
O caminho que preparo,
Para além da fantasia
Num cenário bem mais raro,
Ser etéreo e ser eterno,
Convergindo em mesmo tom,
Num momento sem inverno
Onde o clima seja bom,
Nos anseios que me interno
Vicejar é nosso dom.

13


Não pudera ser assim?
O que impede qualquer sonho?
Se este tempo é tão ruim
O caminho é vão, medonho,
Noutro rumo dentro em mim
O que tanto ora proponho
Dita o rumo e já sem fim
Meus remédios eu componho.
Acredito na verdade
Que tal dia proverá
Com total humanidade
O que sempre reinará
E pra tanto o quanto agrade
Delirar e desde já.

14

Dos delírios eu prefiro
Que estas dores conhecidas,
Invadindo a cada tiro
E ceifando tantas vidas,
Não pudera e me retiro
Do caminho aonde acidas,
E se possa ora interfiro,
Cicatrizando feridas.
O meu tempo? Pouco importa,
Não me cabe a decisão,
Anuncio após a porta
Do querer toda expressão
E se a sorte nos aborta
Redimimos no perdão.

15

Ilusões? Versos em vão?
Não queria fosse assim,
Desta sorte a imensidão
Aconchego dentro em mim,
E sabendo do verão
Deixo inverno mais chinfrim,
Navegando sem timão,
O destino sigo enfim,
Onde manda a liberdade
E a vontade de saber
Do caminho e da verdade
Feita em luz, real prazer,
E o que possa e nos agrade
Sagra agora este poder.

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