segunda-feira, 28 de março de 2011

Poderia ter além
Do que tanto imaginei
Nada mais já me convém
Nem sequer o que busquei,
O vazio me detém
Outro tempo, mesma lei
Onde vale o que se tem,
E jamais quanto sonhei.
Só me resta a leda estada
Nas tormentas da ilusão
Desta sorte deflagrada
Vejo apenas solidão,
E quem fora sempre nada
Nega sorte; árido chão.


2


Resplandece dentro em nós
O momento mais gentil
E quem dera ter na voz
O que tanta gente ouviu,
O sentido mais feroz
E deveras o mais vil,
Traz em si diversas mós
E o meu mundo já puiu,
E punindo com vazios
Os anseios mais sublimes
Onde quer teus desafios
Nada além decerto estimes,
Os enredos, velhos fios
Desfilando antigos crimes.

3

Na palavra que se expresse
Novo tempo ou mesmo até
No que pude em rara prece
Desenhar a minha fé,
O momento onde se esquece
O tormento por quem é,
No final nada merece
Quem deseja e não dá pé.
O versar entre as paredes,
Os momentos mais sutis,
E se tanto sei das sedes
Bebo a sorte e quero em bis
Mesmo embora noutras redes
Descansar e ser feliz.

4

No cantar amanhecendo
Entoando a liberdade
O meu canto ora desvendo
Quando o sonho em paz invade,
E o que possa obedecendo
A suprema claridade,
Onde fora atroz e horrendo
Um momento em paz agrade.
Quem se fez ou não pudera
Apresenta em regozijo
O que possa e mata a fera
Muito além do quanto exijo,
A verdade se tempera,
Quando o rumo; enfim, alijo.

5

Sordidez tendo limite
O que tanto a vida traz
Na verdade necessite
Pelo menos desta paz,
Onde o tempo se permite
E viver sempre é capaz
De traçar o que acredite
Noutro rumo ou tanto faz.
Já não tendo qualquer chance
De saber o que me espere,
Onde a vida não alcance
O caminho destempere
No cenário onde se lance,
Cada engano o degenera.

6


Navegar e ter no olhar
O cruzeiro nos guiando,
Onde tanto imenso mar
Poderia ser nefando
Na vontade de chegar
Ou no gozo delirando,
O que possa se mostrar
Quero agora e sempre, quando.
O meu prato predileto
O meu canto em tom maior,
Minha vida hoje eu repleto
Ignorando este suor
E se possa ser discreto,
Cada passo eu sei de cor.

7

Redondilhas num soneto?
Ou quem sabe noutro enredo.
O que tanto não prometo
E deveras mal concedo,
Gera apenas novo gueto
Onde sigo desde cedo,
Ao vagar quando cometo
Outro passo em vão procedo.
O segredo da existência
O momento sem sentido,
O que possa em previdência
Noutro passo eu dilapido
E se quero em evidência,
O meu sonho é desvalido.

8

Nas tramóias de uma vida
Avidez já se desenha
E o que possa em tal ferida
Traduzir o quanto venha,
E preparo em despedida
A verdade que a contenha,
Nada mais já se lapida
Na escalada desta penha.
E se possa em ar mais fresco
Desejar a liberdade,
Do passado tão dantesco
Vejo a rara claridade,
E no quanto em quixotesco
Desenhar a sorte invade.

9

Sendo a vida de tal forma
Intratável e inconstante
O que possa e se transforma
Muda a face num instante,
A verdade sem ter norma
Novamente não garante
O que faça da reforma
O vazio doravante,
Esquecendo cada passo
Ouço os mares dentro em mim,
O meu mundo não mais traço
E percorro cedo o fim,
Já me expondo a tal cansaço,
Explodindo este motim.

10

Embarcando noutra luta
Na incerteza da colheita
A verdade não se escuta,
Quando ouvida não se aceita,
E a saudade mais astuta
Toma e bebe e se deleita,
Passo novo se reluta
E o vazio em nós se deita.
Jazigos desta esperança
Sem saber do que teria,
No momento onde se lança
Outro tempo não viria,
Nem sabendo da pujança
Muitas vezes: ironia.

11

Na palavra que me expresse
O momento mais sutil,
Ao sentir em reza e prece
O que o tempo não previu,
Minha vida ora se tece
De um anseio quase vil,
E o que aos olhos se oferece
Na verdade ninguém viu.
Ouso acreditar no fato
E se pude ou mesmo quis,
O caminho onde o constato
Traz em versos mais gentis
Cada curva do regato
Desenhada em cicatriz.

12

Basta mesmo do que possa
A saudade sem sustento,
A verdade não é nossa,
Nem tampouco o frio e o vento,
Mas se tanto se faz troça
Onde o passo audaz eu tento,
No caminho nada endossa,
Tão somente o sofrimento.
Aumentando o velho corte
Nada mais se vendo aclara
O que traz decerto a morte
Aprofunda tal escara,
A incerteza toma o norte,
E o vazio se escancara.

13

Libertário companheiro
Entre os ermos de uma vida
Sem saber do verdadeiro
Desenhar onde divida
A incerteza num ligeiro
Caminhar em despedida,
O meu mundo, o derradeiro
Diz da sorte repartida.
Não vencendo o que se fez
Nem tentando outro cenário
A verdade, insensatez,
Meu amor é solitário
E o delírio não mais vês
Num desenho temerário.

14


Levaria desde cedo
O que tens dentro do peito,
E se tanto amor concedo
No final jamais aceito.
O tormento diz segredo
A verdade nega o pleito
E se tento novo enredo
Sigo mesmo satisfeito.
Apresento ao fim de tudo
O vazio que repassas
Nos anseios eu me iludo
Invadindo velhas praças
E se possa eu me desnudo
E também além já passas.

15

Não seria mais quem és
Se no fundo fosses tanto,
O meu passo de viés
No final não mais garanto,
E do barco sem convés
O naufrágio, não espanto,
Meu momento diz galés
O teu passo busca encanto.
Divergindo e de tal forma
O que tanto não se visse
Poderia e se deforma
Ou talvez, mera tolice,
No que possa em vã reforma
Com certeza nunca ouvisse.

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