sábado, 9 de abril de 2011

No meio da jornada, eu vi o fim
Aproximando célere e temível
Ainda que pudesse no implausível
Tentar uma saída, nada em mim.
O tempo se desenha e sei que assim
O mundo se mostrando ora impassível
Gerasse tão somente o medo incrível
De quem já sabe aceso este estopim.
Mas que se dane a vida de tal forma,
O quanto o dia a dia nos deforma
Rompendo tais barreiras, proteções.
Na nua exposição de quem sou eu
O quanto imaginara e se perdeu
Ensinando a viver tais negações.

2


Noctívago movido à cafeína,
Durante a minha vida quis apenas
Viver o quanto possa e se serenas
Deveras outra sorte me domina.
Porém quando a verdade é cristalina
E gera dela mesma em velhas cenas
As dores tão comuns onde envenenas
E o passo num tropeço desatina.
Eu vivo do que pude e mesmo após
A luta desenhando vagos nós
Desnuda os descaminhos, variantes.
O tempo já perdido não retorna,
A vida transcorrendo calma e morna,
Sem ter momentos raros e brilhantes.


3


A vida tenebrosa em brumas feita,
Durante meus anseios nada traz,
E a sede de viver, tanto mordaz
Porquanto no final já nada aceita.
O verso se expressando numa espreita
Ao mesmo tempo rústica e tenaz,
Aonde se pudera ter na paz
A força aonde a sorte se deleita.
Jogado sobre as rocas, o navio,
O tempo sem ter cais eu desafio
E morro no abandono de quem sonha,
Ainda quando a luta, esta enfadonha
Vertente do que nada mais nos guia
Trouxesse em desalento a poesia.

4


Estrada da esperança já perdida,
Jogada pelos ermos de um caminho
Aonde fiz meu sonho, campo e ninho
Marcando com terror a podre vida.
Não pude desvendar qualquer saída
E neste delirar eu me avizinho
Do fim deveras duro e tão mesquinho
Sabendo desde já tal despedida.
Resplandecente sol que não me veja,
A vida se desnuda em tal peleja
E molda o sentimento amortalhado,
O verso sem proveito, os meus lençóis
Encantos que de fato tu destróis
E o tempo noutro canto, abandonado.

5


A sorte tantas vezes tão penosa
De quem se procurara e nada vira,
As sendas mais doridas da mentira
O tempo sem sentido as antegoza.
O medo que pudera noutra prosa
O canto aonde o sonho se retira,
E o fogo se aplacando, rude mira,
Saber quanto esta vida é caprichosa.
Açoda-me o não ser e o nada ter,
O mundo noutro passo a recolher
Os cacos do que fomos; num passado.
Ouvindo a voz do vento a nos clamar,
Aonde se pudesse imaginar
Quem sabe, sem razão alguma um brado?

6


Na dura asperidade de um caminho
Envolto em tantas pedras e lombadas,
Aonde procurara algum carinho
As rudes e diversas madrugadas,
E quando no vazio ora me alinho
Seguindo sem sentido tais pegadas,
O preço que se cobra, tão daninho
As horas noutras tantas deflagradas;
Restando o que realço, mas não faço
O tanto se perdendo a cada traço
O escasso desejar de um novo dia.
A morte numa espreita, a vida teima,
E o quanto desta fúria ora me queima,
Apenas o meu mundo saberia.

7


Cuidando da memória de quem tanto
Ousara acreditar numa saída
Da mais complexa rota, sem encanto
Sabendo desta senda ora perdida.
E quanto mais se brada, mais duvida
Do que deveras tento e até garanto,
No prazo aonde a velha despedida
Gerasse sem saber um raro espanto.
O preço a se pagar, o corte na alma,
O vento sem sentido, nada acalma
Meu acalanto perde a direção.
E o vértice dos sonhos, num instante
Ao auge dos meus sonhos se garante
E molda a mais complexa dimensão.

8


Acerba companheira de viagem,
O tempo não pudera ser diverso
E quando se percebe tal miragem,
O meu olhar; a ti, procuro e verso.
Galgando com ternura esta paragem
Ainda que pudesse desconverso
E traço o que se possa em tal aragem
Vivendo o meu caminho mais disperso.
Não poupo nem sequer o que inda tenha
E vejo transformada em rude penha
A louca fantasia que não vem,
O jogo não termina e nem procuro
Num tempo mais atroz e mesmo escuro,
Saber do quanto é vida sem ninguém.

9

Ao ter me deparado com as cenas
Temíveis onde a sorte se previra.
A bala acerta sempre a sua mira
E também ao final tu me condenas,
E quando com certeza me envenenas
E nisto cada passo se retira,
Marcando o que pudesse quando gira
Procura talvez luzes, mais amenas.
O rústico caminho feito em medos,
Os dias se aproximam bem mais ledos,
Segredos do passado sem proveito.
E quanto deste pouco ou quase nada
Trouxesse ao perceber que a velha estrada
Perdera a direção em triste leito.

10


Apenas a verdade nos liberta,
Mas sei quanto é difícil tal franqueza
Expondo as rotas cartas sobre a mesa
A porta que trancara, agora aberta,
O medo já nos serve qual alerta
E sigo sem sentido a correnteza,
Marcando cada passo com surpresa
E tendo a minha fronte descoberta.
Não vejo o que viria, nem talvez
O quanto inda me resta e não mais vês
Expressa outro caminho e sendo assim,
O tempo diz do tempo que não veio,
E sigo sem sentido, mesmo alheio
Ao quanto resta vivo dentro em mim.

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