quinta-feira, 7 de abril de 2011

Presumo após a queda o quanto pude
Vestir a mesma face: hipocrisia
E nada do que sonhe moldaria
Momento mais atroz, porquanto rude,
E sei do quanto a vida me saúde
Ou mesmo desenhando em ironia
O verso sem saber da sincronia
Aonde se deseja uma atitude.
Acordo e nada mais se vendo após
O mundo sem certeza e sei que a voz
Já silencia o sonho que decerto
Expressaria alguma luz ao fundo,
E quando de ilusões ora me inundo,
Apenas o meu mundo ora deserto.

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Saudade destes dias latejando,
Marcando com terror o quanto possa
Trazer a solidão mesmo que nossa
Selando o dia amargo em contrabando,
O verso noutro rumo caminhando,
A luta a cada passo nos destroça
E vejo o que pudera além da troça
Num ato sem sentido desabando.
Abrando cada sonho com a sorte
Que tanto poderia e me conforte,
Mas sei do quanto é duro o ter no olhar
Apenas o vazio e nada mais
Exposto aos mais diversos vendavais
Buscasse no infinito céu e mar.

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Pergunto sem respostas: quanto eu possa?
A vida se anuncia no vazio
E quanto mais o passo eu desafio
A sorte não seria jamais nossa,
E o verso que em verdade já se apossa
Do quanto poderia e ora desfio
Tentando acreditar que este pavio
Traduza o quanto o sonho em paz endossa.
O verso se desenha sem proveito
E o tempo se moldando aonde o pleito
Não traga sequer medo e dor e tédio,
O tempo se presume sem olhar
O quanto poderia imaginar,
E nada traduzindo algum remédio.


4

Qual sombra de um passado mais remoto
Apenas desenhando o quanto fui,
O tempo sem sossego segue e flui
E o quando nada valho já denoto,
O corte se aproxima e quando o noto
Somente o quanto resta ainda influi
E o mundo que eu sonhara agora rui
E toda esta esperança agora esgoto.
Realço com palavras a sombria
Verdade que me toma e não traria
Sequer a menor chance de vitória
Aonde o que se veja não constasse
Na luta aonde o mundo em ledo impasse
Já não trouxera nada de memória.

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Cosmopolita sonho, o ser feliz
Esbarra nos caminhos mais diversos
E sei dos dias ledos e perversos
Aonde o que pudera se desdiz,
O verso traz nesta alma a cicatriz
E bebo dos meus sonhos já submersos
Nos tempos mais audazes e dispersos
Tentando acreditar no que não fiz.
Resumos de outras eras sem sentido
O corpo há tanto tempo apodrecido
Nos ermos de uma vida sem valia,
O quanto se traduz em noite vã
Retarda o que pudesse noutro afã
E a luta se desenha em covardia.

6

Recônditos caminhos onde outrora
Pudesse desejar qualquer alento,
A vida onde se queira; amor que tento
O tempo sem ter porto me devora.
Não posso desejar e sigo agora
O que pudesse mesmo além do vento
Traçar o meu caminho em tal intento
Enquanto a solidão tanto apavora.
Respaldos de uma vida sem proveito,
O quanto deste sonho agora aceito
E vivo sem saber o que seria.
Resumo num momento o que se quer
E sei dos olhos vagos da mulher
Sereia feita em dor e em agonia.

7


Telúricas imagens de um passado
Aonde o que pudesse não teria
Sequer a mesma imagem mais sombria
De um tempo noutro tanto desenhado,
Podendo adivinhar o que ora agrado
Ou mesmo se não resta outra alegria
O verso se desenha em utopia
E o corte a cada engano aprofundado.
Os dados já rolando sobre a mesa,
A vida se desenha na incerteza
De quem jamais pudera ser diverso,
Ainda que se queira uma razão
A sorte noutra rude dimensão
Renega este cenário aonde eu verso.

8

Da escuridão que tanto me segredas
As mesmas faces turvas do que um dia
Tentei acreditar e não podia,
E sei das mais diversas, duras quedas.
Porquanto no vazio onde enveredas
A luta se transforma e mais sombria
Matando o quanto possa e fantasia
Prepara as noites turvas quando sedas.
Os dias sem proveito, o fim de tudo
E sei que quanto mais audaz me iludo
E venço os desafetos e temores,
Seguindo sem saber o quanto venha
A vida quando muito já convenha
Traçando cada passo aonde fores.


9


Substâncias que transformam e deveras
Expressam o que pude acreditar
Nas tramas deste tanto desejar
Expondo o coração em rudes feras,
E quando num segundo destemperas
Matando o quanto pude imaginar
A luta se moldara a divagar
Pousando sobre casas e taperas.
Restando do que tente alguma luz,
O medo noutro tanto reproduz
Somente o que se queira e não se visse,
O amor sem ter por certo quem o alente
O tempo se mostrando impertinente
Repete quase sempre uma crendice.

10


O quanto me equilibra em união
Os dias mais doridos, tempestades
E sei que quando volvem claridades
O mundo traz em si nova emoção,
Assim em tal vital composição
Ainda quando o todo já degrades
Encontro as mais sutis realidades
E nelas outros ermos moldarão.
O verso ou mesmo o canto aonde tento
Vencer o que pudera em sofrimento
Atento desvendar em bote e rastro,
Meu mundo se ancorando no teu mar,
Porém não posso mais ora aportar
Faltando para tal somente o lastro.

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