quinta-feira, 14 de abril de 2011

Queria simplesmente acreditar
Que tudo poderia ser diverso.
Além do quanto espreita cada verso
A vida se moldando devagar
E crer que um raio calmo de luar
Mudasse num instante este universo
Por vezes doloroso e tão perverso,
Sem ter sequer ao fim algum lugar.
Quisera acreditar noutra esperança
Embora que espera sempre cansa
O sonho se contínuo nos liberta,
Ascendo em pensamento ao meu nirvana
E sei desta ilusão que sempre engana,
Porém mantenho a porta sempre aberta.


2



Acreditar na força que, inerente,
Produza novo sol a cada instante
E mesmo numa noite degradante
Possibilite o quanto já se tente
Eu sei deste cenário que, mutante
Expressa simplesmente o quanto a mente
Ousasse vasculhar ora inclemente
O quanto na verdade não garante.
O rude caminheiro em noite escura,
A luta a cada passo onde perdura
Traduz a maior perda: a da esperança.
Mas vejo e creio mesmo noutro tempo,
Vencendo cada etapa em contratempo,
Meu mundo noutro instante ora se lança.


3

Já tanto desejei algum descanso,
E sei do quanto pude e não teria
Sequer a menor sombra da alegria
Rondando o que pudera ser remanso,
E quando na verdade onde me lanço
Sonega qualquer paz que eu buscaria,
A vida sem saber da sintonia
Marcando com terror o passo manso.
Angustiadamente vejo o vão
Enorme sob os pés, leda cratera,
E apenas o que resta e o tempo espera
Traduz a rude face em negação.
Ouvir o mar distante e perceber
Somente o quanto possa o desprazer.


4

Não tive melhor sorte e nem teria
Apenas quero o tempo aonde o canto
Trouxesse talvez mesmo algum encanto
Embora saiba a vida mais sombria,
Desnudo o que se fora em harmonia,
O medo se apresenta e não garanto
Sequer o que pudera noutro tanto
E a vida renegasse o que viria.
Ausento-me dos passos quando os dera
E sei da face escura ou insincera
De quem por vezes tenta disfarçar,
Nos ermos de minha alma nada tendo
Apenas o que resta, este remendo
E a luta noutro engodo a se moldar.


5



Amar-te e crer possível novo dia
Em eras compatíveis com meu sonho,
O quanto deste encanto ora componho
Pudesse traduzir em harmonia.
A face mais escusa me traria
Um dia tantas vezes tão medonho,
Vagando sem saber onde me ponho,
Apenas a verdade negaria.
O verso sem resumo, o tempo incauto,
Dos sonhos, o meu verso quando arauto
Expressa tão somente o que imagina,
Porém toda a verdade se desnuda
Numa alma que se molda tão miúda
Invés da que eu queria, cristalina.

6


Arcar com meus enganos e poder
Vagar entre os diversos desalentos,
A vida traz em tons de sofrimentos
O quanto mais queria sem se ter.
A noite desenhada num querer
Diverso do que possa em tantos ventos
Marcando com terror os pensamentos,
Na fúria tão diversa a se conter.
O canto sem encanto, e não sutil
Meu mundo quando a sorte não se viu
Trouxera simplesmente a negação
Do sonho que pudera acalentar
Vencendo o que me resta a navegar
Trazendo tão somente um turbilhão.

7


Ocasionando a queda de quem sonha,
A luta não termina e segue em frente
Ainda que meu mundo agora enfrente,
A face se desenha mais medonha.
No quanto poderia e já se oponha,
A vida se moldara onde inclemente
Pudesse desvendar mais claramente
O que neste final em vão componha.
Reparo cada parte deste todo
E vejo tão somente o mesmo lodo
Aonde ao adentrar me entranho e sinto
O pleno lamaçal onde esperança
Sem ter qualquer aporte agora avança
Em tempo tão atroz quando distinto.


8

Já não me caberia qualquer sonho
Apenas recolher os meus farrapos,
E vendo a minha vida em velhos trapos,
O tempo se moldando mais bisonho.
A sorte não traria maior brilho
A quem se fez sem nexo e sem moldura
A vida se espalhando em vã procura
O amor não mais seria um estribilho,
Pilhando-me nas ânsias mais vulgares
Aonde o quanto quis jamais teria
A vida se fizera tão sombria
Ainda que em teus sonhos desejares
Momentos mais suaves; nada vem
Somente o mesmo olhar em vão desdém.


9

Coubesse alguma porta de saída
Aonde o meu desenho se confunde,
O tempo que deveras nos afunde
Transforma toda a dimensão da vida
E sei do quanto pude em despedida
E quando em claro amor, amor redunde
O sonho com a vida ora se funde
E gera outro ponto de partida.
Meu verso se entregando ao quanto quer
E nada mais do sonho, nem sequer
O medo se aglutina junto a mim,
E quando pude crer no pesadelo,
Apenas não consigo mais vivê-lo,
Tortura por acaso chega ao fim?


10


Não tenho outro caminho nem buscara
Ainda que esta vida fosse assim,
A luta desenvolta traz em mim
A sorte sem sentido em tal seara,
Na noite desenhada em trevas, rara
Vontade desvendada até o fim,
E quando mal percebo de onde vim,
A porta sem querer não se escancara.
Rasgando em tom atroz o quanto pude
Viver sem mais querência a juventude
Já morta e sem razões, mero desenho
Do todo que não traz qualquer aceno,
Meu mundo que se fez audaz e pleno,
Agora traz o quanto não contenho.

Nenhum comentário: