segunda-feira, 2 de maio de 2011

1
Já não quero falar de algum futuro
Que em verdade não tenho mais nas mãos
Os meus olhos se perdem pelos vãos
Destes sonhos que tento e configuro,
A saudade transforma o solo duro
Onde tento cevar dos ermos grãos
E sabendo da vida em tantos nãos
A mentira do sonho eu asseguro.
Nada mais poderia quem se tenta
Terminando a versão que qual tormenta
Avassala o caminho de quem ouse
Entender onde a sorte agora pouse
No que vejo meu mundo já termina
Nesta senda que diz carnificina.

2


Tanto tempo e nada veio
Nem sementes nem espaço
O meu muno que ora traço
Traz apenas tal receio
Do momento em devaneio
Do caminho em tal cansaço
Desta ausência de um abraço
A verdade em tom alheio,
O que possa ser diverso
Do cenário aonde eu verso
Há palavras sem proveito,
O que possa divisar
Entranhando a divagar
Onde insone, tento e deito.

3


Meu delírio, voz macia
De quem tanto quis a sorte
Que jamais nada conforte
Que jamais vida recria,
A palavra não viria
Nem falar do que comporte
Novo rumo em novo norte
Desbancando a poesia,
O meu mundo não temendo
Qualquer sorte em risco e adendo,
O caminho mais sutil
Traz o verso mais presente
E se tanto se apresente
Já não tento o que se viu.

4

Meu anseio e minha luta
São palavras, meramente
O que tanto se apresente
Na verdade não reluta,
A saudade mais astuta
A esperança já não mente
E se trama ou se pressente
Mansidão com força bruta?
Noutra senda nada vejo
E se tanto num lampejo
Eu pudesse ser feliz,
O meu mundo se desenha
Tão diverso do que venha
Nesta velha cicatriz.

5


Nada pude e nem tentara
Caminheiro do passado
O meu verso relegado
Ao que possa em sorte amara,
A verdade se escancara
O meu mundo em tal traçado
O cenário desolado,
A palavra nos separa.
O meu verso se anuncia
Noutro tanto que se vira
A palavra diz mentira
Onde nada mais se via,
Pouco a pouco se retira
O que fora fantasia.




6


Quando tive pressa nada eu encontrei
Nem sequer o quanto tanto desejava
A saudade queima; furiosa lava
Que trama deveras o que imaginei
O meu sonho fosse desejosa lei
Onde o que se queira tanto demonstrava
A verdade aonde tudo que buscava
Traduzia sonhos ou quem mais terei
No vazio apenas a certeza corta
Da palavra solta venta em minha porta
Mutação diversa nela me entranhara
E se posso ou tento caminhar em vão
Na incerteza a sorte tão feroz e cara
Demonstra somente medos que virão.


7

Já não tenho nada nem sequer teria
A verdade toca meu sentir mais nobre
E o momento dita quem em dor recobre
Deixando ao passado velha fantasia
O que possa vivo noutro tom faria
E se tento ao menos o que amor descobre
A incerteza trama mesmo que desdobre
A loucura tanta que o verso traria.
No meu desencanto momentos diversos
Os meus dias seguem a buscar nos versos
O quanto se desenha num anseio rude
E deveras trama noite sem sucesso,
O que vago apenas noutro tom ilude
Minha vida encena tanto retrocesso...

8


Não mais tendo quem resgata
O meu sonho deste vão
Imagino a negação
Renegando a luta ingrata
O que possa e me arrebata
Configura a imensidão
Dos caminhos que verão
A verdade sem bravata,
Não tivesse qualquer sol
Nem sequer em arrebol
Onde tente descansar,
A versão que mais se escuta
Refletindo a intensa luta
Neste vago mergulhar.

9


Nada além do que pudera
Noutro fato ou num anseio
O meu barco segue alheio
Nesta sorte dura e fera,
O momento onde se espera
O que tanto em sonhos veio,
O caminho que rodeio
A palavra mais sincera,
O meu medo se traduz
Nesta fonte e sem a luz
Já não posso crer no fato
Solitário navegante
Minha vida se garante
No que possa e ora constato.

10

Nada mais eu tive em vida
A não ser minha verdade
O que possa sem saudade
Refazendo esta ferida,
A incerteza mais urdida
A palavra que me invade
O momento desagrade
A certeza a ser remida
Vagamente quero o quanto
Fortaleza aonde encanto
Já não traz qualquer retrato,
Do meu passo sem firmeza
A palavra sobre a mesa
O momento em que o retrato.

11

Já não tenho na bagagem
Nem sequer o quanto quis
Corro contra esta miragem,
Levo a vida por um triz,
A palavra sem visagem,
Coração segue infeliz
E adentrando esta barragem
Bebo a sorte e peço bis.
O meu mundo se desanda
A verdade anda de banda
E a certeza já se cala
Outro tanto trago na alma
O que agora ora me acalma
Traz a luta e me avassala.

12


Belo em goles fartos, sonho
E pudera ser assim
O caminho dentro em mim
Que deveras mal componho
E se possa ser risonho
Tento crer no meu jardim,
O momento diz enfim
O cenário que proponho.
Vagamente pude ver
O que tanto dá prazer
Ou quem sabe me sacia,
A palavra se negando
Outro tempo mais infando
Mata toda a fantasia.

13


Nada tenho nesta vida
Que permita acreditar
Na certeza da saída
Na vontade do luar,
A verdade que me acida
Outro tanto a desenhar
O que possa em desprovida
Vida sem qualquer lugar,
Navegando sobre as ondas
Onde quer que me respondas
Trazes sonhos mais audazes,
Mas sei bem que nada resta
Vendo a vida pela fresta
Vendo a luta em rudes fases.

14


Jogo a vida de tal forma
Mergulhando no vazio
A verdade se deforma
O momento ora recrio,
E sabendo desta norma
O tormento dita estio,
A semente se reforma
No caminho mais vadio,
Coração não mais sabendo
Quando o tempo mesmo horrendo
Recolhesse cada não,
Sigo apenas o que rege
A esperança quase herege
Num etéreo coração.

15


Mesclo luzes entre trevas
E bebendo a ingratidão
Apresento o quanto cevas
Nesta rude dimensão,
O caminho aonde nevas
Outro tanto em certo chão,
Esperanças mais longevas
Rumam noutra direção.
E embarcando no não ser
Enfrentando o que faz ver
A certeza mais agreste
O meu mundo se aproxima
Do que possa e não se estima
Neste encanto que me deste.

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